O Ascensorista

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O A SCENSORISTA Afonso Nilson


Sumário O Ascensorista Sobre o autor Ficha técnica Site


O Ascensorista Personagens: O ascensorista, o velho, a moça, o adolescente, o executivo, a velha, o professor, o aluno, o médico, a enfermeira, a velhinha. Em um elevador, o ascensorista aperta botões enquanto as pessoas sobem e descem ao toque de uma sineta, que soa quando o elevador chega aos andares solicitados. Na primeira parada sobem cinco pessoas: o velho, a moça, o adolescente, o executivo, a velha.

Ascensorista Sobe. Velha: (mecanicamente) Cinco Adolescente Três, cara. A moça O quatro, por favor. (o ascensorista aperta os botões dos andares. Quando chega ao terceiro andar soa uma sineta, desce o adolescente, no quarto descem o velho e a moça e entram o professor e o aluno). Professor Nove. (para o aluno) Porque como eu ia dizendo, essas profissões em que não se precisa pensar para trabalhar só tendem a degenerar os homens... Ascensorista Cinco. (descem a velha e o executivo e entra o médico). Médico Quatro. Professor Seria muito melhor que todos fossem substituídos por máquinas. Aluno Mas existem profissões simples que precisam do raciocínio. Professor Ora faça-me o favor. Até um macaco é capaz de passar um dia amassando a bunda num banquinho apertando os botões dos andares. Ascensorista


Nove. (descem o professor e o aluno e entra a enfermeira). Enfermeira Cinco. Médico E então? Como está o homem da emergência do 969. Enfermeira Está melhor, mas passou um aperto. Médico Esses vírus de lugares fechados são terríveis. Enfermeira Quem poderia imaginar que num simples ambiente fechado, como um elevador por exemplo, pode se pegar um vírus fatal pelo ar. Que medo que dá. Ascensorista Cinco. (a enfermeira sai despedindo-se do médico) Médico (malandro para o ascensorista) Se bem conheço essa daí, quem passou por um aperto foi ela na mão daquele velho safado do 969. Ascensorista Quatro. (sai o médico e entra de novo o executivo) Executivo Térreo. (se demora um pouco em silêncio e quando está quase chegando ao andar solicitado um cheiro estranho se apossa do ar). Ascensorista Térreo senhor. (entra uma velhinha que cheirando o elevador olha com nojo para o ascensorista) Velhinha Cinco.


(o elevador para e entra a moça. A velhinha vai saindo). Ascensorista Não, senhora. Este é o andar quatro, a senhora desce um andar acima. (A Velhinha volta em silêncio) Moça Nove. Ascensorista Cinco. (desce a velhinha. O elevador fecha e sobem sozinhos ele e a moça. Pela primeira vez ele se desvia do trabalho e olha a moça) Nove senhorita. Moça Obrigada. (Desce sozinho até o terceiro andar onde entra o adolescente). Adolescente Dez, velho. (tira um chiclete do bolso) Qué a metade? Ascensorista Não, obrigado. (O elevador para no quatro e entra o médico). Médico Cinco. Ascensorista Cinco. (desce o médico) (O elevador sobe até o nono, onde entra a moça). Moça Térreo, por favor. (O elevador segue até o dez) Ascensorista Dez. (desce o adolescente. O elevador fecha. É como se o tempo estendesse) Você é linda. Moça


Eu sei. (Com a resposta ambos permanecem em silêncio até que soa a sineta no quatro e entra o Velho) Velho Cinco, meu jovem. Você me deixou no andar errado. O congresso da terceira idade é no cinco. Ascensorista Desculpe senhor, não acontecerá novamente. (pausa) Térreo. (sai a moça e entra o executivo, que olha para o traseiro dela). Executivo Dez. Velho (apontando para o ascensorista e falando com o executivo) Esse moço me deixou no andar errado, você sabia meu jovem? Executivo Está cada vez mais difícil conseguir bons ascensoristas hoje em dia. Ascensorista Cinco. (sai o velho) Executivo (espera um tanto e pouco antes de chegar ao andar, solta um peida fragorosamente). Ascensorista Dez. (Sai o executivo, o adolescente entra fazendo uma careta, olha para o executivo e este aponta discretamente para o ascensorista). Adolescente Térreo, seu porcão. (espera um pouco) Espera! Me deixa no nove que cê cagô no mundo. Ascensorista Nove. (sai o adolescente e entram o professor e o aluno) Professor


Térreo. (olha pro ascensorista) Se você tem vontade de ir ao banheiro, meu filho, pode ir que qualquer um sabe apertar os botões dos andares, não precisa você se defecar só para cumprir o horário. Que coisa? Aluno Isso é um comportamento típico das classes inferiores. Não ter controle nem sobre suas funções fisiológicas. Professor É uma questão cultural. Veja bem, como você quer que alguém que passa o tempo todo sentado apertando os botões dos andares possa ter o mínimo de boa educação e respeito? (O elevador para no cinco, entram a velha, velhinha e o velho. O professor e o aluno fazem menção para sair, mas o ascensorista os impede) Ascensorista Não, este é o quinto andar. O térreo é depois. Velha (para o velho) Viu? Eu disse para você que o congresso era no outro prédio. Velho É, mas a gente não teria perdido tanto tempo se esse ascensorista tivesse me deixado no andar certo desde o primeiro momento. Ascensorista Térreo. (descem todos e entra a moça). Moça Cinco. Ascensorista (o tempo parece estender-se) Achei mesmo você linda, mas agora não me parece tanto. Moça A principal diferença entre nós é que eu sei muito bem o meu lugar.Quanto a você, nesse uniformezinho ridículo, nesse trabalho de gente retardada, não deveria sequer me olhar nos olhos, quanto mais se dirigir a mim. Estamos entendidos? Ascensorista Cinco.


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Sobre o autor

Afonso Nilson Barbosa de Souza nasceu em Joinville, Santa Catarina, em 1977. Trabalhou como redator para publicidade, fotógrafo, músico de orquestra, produtor e gestor cultural. Como dramaturgo tem mais de dez peças encenadas. Mestre em teatro pela Udesc, atualmente trabalha na logística de circuitos e turnês de espetáculos em Santa Catarina.


Ficha técnica Edição, revisão, e capa: Afonso Nilson. Registro Biblioteca Nacional: 248.739/442/399 Contato com o autor: afonso.nilson@gmail.com Primeira encenação no XIII Festival Internacional de Teatro Universitário de Teatro de Blumenau, pelo grupo Entretantos (Brusque/SC), com direção de Luciano Mafra, Julho 1999.


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