Textos Críticos
ERRO Grupo Entre a performance e o teatro Afonso Nilson
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Fotos de Júlia Amaral dos espetáculos Escaparate, Desvio e Enfim um Líder.
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Texto crítico sobre a trajetória do ERRO Grupo. Publicado originalmente no Caderno Plural, Jornal Notícias do Dia, no final de semana dos dias 28 e 29 de maio de 2011.
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Poucos grupos de teatro em Santa Catarina podem ostentar um repertório de espetáculos tão variado como o ERRO Grupo. São mais de vinte obras nesses quase dez anos de estrada. Por sua trajetória e pesquisa estética o grupo ganhou ano passado um dos principais prêmios de artes cênicas do país, o Prêmio de Manutenção de Grupo do Programa Petrobrás Cultural. Pelo projeto, seis dos espetáculos do Erro voltam a ser apresentados em Florianópolis e região, o que para um público interessado em participar de um tipo de manifestação artística capaz de transformar o cotidiano da cidade, e alargar o conceito que se tem de artes cênicas, é uma grande oportunidade. Esse público que for às montagens do ERRO Grupo poderá perceber que há uma linha comum nos espetáculos, algo que vai além da inquietação política e estética que movem muitos dos artistas contemporâneos. Todos os temas, todo discurso a ser apresentado por meio das intervenções, passa antes por um crivo de apreensão muito peculiar, muito próprio do ERRO Grupo: o fato de
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lidar com a rua de modo a provocar uma perturbação de fluxo, uma apropriação do espaço, ou mesmo, uma invasão. Não ocorre, como em muito do teatro de rua que habitualmente é montado na cidade, a construção de um enredo fechado, ou de uma história a ser contada usando a rua como cenário ou como plataforma de encenação. Os espetáculos do ERRO Grupo caracterizam-se antes por provocar um deslocamento de sentido, uma espécie de apropriação da rua e das situações da rua como partes integrantes de uma intervenção que se transforma e desloca rumo à exposição de uma temática ou situação. Espetáculos como Escaparate, de 2008, que põe em cena as relações amorosas e seus conflitos públicos, não se utiliza de um enredo ou história para expor o assunto. Antes, as projeções gigantes, a invasão das agências bancárias, a utilização de veículos, e os atores misturados ao público narram de maneira descontínua
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uma série de situações cujo encadeamento pode ou não apresentar um sentido. Entretanto, os temas estão ali, sem uma lógica ou determinação aparente, mas com tal intensidade e força que é praticamente impossível passar incólume à intervenção. Já Enfim um Líder, de 2007, aborda temas tão urgentes, principalmente em uma época em que religiosos corruptos ocupam cargos políticos de alto escalão e governos populistas assumem ares de liderança divina, que a clareza das relações e associações com a realidade imediata ou histórica acaba por se tornar contundente. Não é apenas a situação do instante em que o espetáculo tem o seu desfecho, mas toda a expectativa que se cria à espera do líder que irá chegar que mobiliza a cidade. Como um messias, o líder prometido e anunciado à exaustão nos três dias de duração do espetáculo, assume um patamar de liderança sobrenatural que não raro prenuncia o exercício dos déspotas.
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Novamente sem um enredo fechado, mas com uma clareza de metáfora e ação que potencializa relações de sentido, a apropriação do espaço através de toda a divulgação da chegada do líder mobiliza público e pessoas que inicialmente sequer sabem que estão vendo uma encenação, mas acabam por participar de modo decisivo do desenvolvimento do espetáculo. Assim, também os outros espetáculos que participarão do projeto de manutenção, Adelaide Fontana, Buzkashi, Desvio e Carga Viva, se utilizam dessa apropriação ou invasão do espaço urbano de modo a deixar menos claras as convenções do que é ou não teatro, e os limites entre artes cênicas e intervenções de artes visuais. Essa diluição das categorias artísticas, o trânsito entre performance e atuação, o deslocamento como interrupção do fluxo, a ocupação e a invasão do espaço público são procedimentos presentes em todos os
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trabalhos do ERRO Grupo, e operam como uma linha estética que potencializa a transformação do cotidiano através das encenações. Pedro Bennaton, Luana Raiter e Luiz Henrique Gomes, que integram o núcleo de criação dos espetáculos, e os dez colaboradores que atuam e produzem o ERRO Grupo, constituem algo que para o panorama local das artes cênicas se destaca como uma espécie de confluência de estéticas e procedimentos contemporâneos em teatro. Tanto na maneira como são criados quando no modo como vem à cena, as intervenções, performances e espetáculos provocam no público aquele tipo de estranhamento e surpresa característico não apenas do inusitado, mas de um novo olhar, ou um olhar mais atento para o que antes, na rua, não passava de uma paisagem cotidiana.
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