Anvfeb na imprensa o estado ms 18 feb 2017

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B4 oMatoEstado Grosso do Sul Campo Grande-MS | Sábado, 18 de fevereiro de 2017

Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul Avenida Calógeras, 3.000 - 67 3384-1654 - www.ihgms.org.br

Monte Castello

Maria Madalena Dib Mereb Greco

Porque hoje é sábado! O dia de sábado, por si já é especial. Para as crianças da vila, espaço limitado em quadras conhecidas e de pessoas reconhecíveis, era o suficiente para ser feliz. Aliás, palavra que os pequenos não sabem o sentido; isso é coisa que adultos inventaram para demonstrar que cresceram e passam a buscar nos consultórios dos terapeutas a sensação que perderam: a de serem livres. Criança precisa de espaço para brincar, se sujar, pegar minhoca, amarrar içá no barbante para fazer helicóptero. Cavar no chão e fazer pocinho de lama com latinha de massa de tomate, contar quem vê mais formatos de coisas nas nuvens. Comer também é importante; se for fruta colhida no pé mais ainda. Fiapo de manga no dente tira depois que a barriga está estufada, laranja madura é ótima, o perigo é a semente; se engolir nasce uma árvore dentro da barriga; goiaba tem coró, mas a gente só vê quando já começou a comer, então fica sem saber se já foi algum para dentro. A mãe manda lavar a mão antes de almoçar, jantar e tudo mais. É frescura de adulto, toda criança sabe como limpar o pão que cai no chão: dá uma batidinha, um beijinho para o anjinho limpar e pronto. Depois toma licor de cacau, erva-de-santa-maria com leite, mezinhas feitas pela mãe ou avó e cura tudo, de verme a mau-olhado. A vida da criança é simples. Só uma coisa podia melhorar ainda mais o sábado. O movimento começava lá pelo lusco-fusco da noite no paredão da escola das freiras. Muro alto, chapiscado de cimento, o único na região onde a maioria das casas era cercada com balaústres de madeira ou simplesmente não tinha nada, mostrando que aquele morador era provido de liberdade das posses. Ali, o lençol branco era estendido como num varal, o morador em frente do muro cedia a energia elétrica e começava a sessão de cinema. Era uma vez ou outra que o senhor dos filmes, assim era chamado, aparecia para o deleite das crianças e também dos adultos, que, com a desculpa de levar os pequenos, se deliciavam com os mesmos filmes, repetidos. O problema era o dia seguinte! Criança dormia cedo, pulava tanto, brincava o dia todo que mal escurecia, jantava e logo dormia. Em sábado com cinema iam dormir bem depois das dez da noite, isso quando dormiam. O filme ficava povoando a imaginação por horas ou dias, seguidos, e domingo era dia de missa. Quem já tinha feito a primeira eucaristia deveria ficar sem comer até a comunhão ou a hóstia viraria sangue de Cristo e era um pecado mortal. Quanto sofrer por ter comido uma lasquinha do pão que estava sobre a mesa e ficar esperando que a cor rubra te denunciasse. Voltar da missa, comer sem remorsos e voltar a brincar, subir em árvores, levar lambida de cachorro na cara (sabia que passar banha de porco no rosto e deixar o cachorro lamber é bom para tirar sardas? Se tirava não lembro, mas fazia cócegas e o companheiro canino adorava!), brincar de balança-caixão, garrafão, camade-gato, pular corda e tantas outras que nos faziam ser magros, espigados, sem remorsos ou culpas, sem traumas, apenas crianças, e usando a palavra dos adultos: felizes!

Sem remorsos ou culpas, sem traumas, apenas crianças

A autora é historiadora e associada efetiva da cadeira n° 34 do IHGMS

A conquista dos pracinhas que a Itália nunca esqueceu No dia 21 serão completados 72 anos da luta heroica em solo italiano Acervo IHGMS

Wellington Corlet dos Santos No Brasil, nos dias posteriores ao dia 21 de fevereiro de 1945, as manchetes dos jornais apareceram cobertas de elogios à FEB (Força Expedicionária Brasileira) e aos seus valorosos soldados, por terem realizado na guerra uma notável façanha: conquistar o Monte Castello. Monte Castello é uma montanha com 970 metros de altitude, existente na Cordilheira dos Apeninos, no norte da Itália, que, no contexto da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), possibilitava a quem o dominasse o controle e domínio de todo o tráfego da Rodovia 64 e do rio Reno e, por este motivo, ele fazia parte do sistema defensivo nazista chamado Linha Gótica. Os tiros realizados de Monte Castello alcançavam a rodovia e a margem oposta do rio, impedindo que as tropas aliadas passassem. Conquistar o Monte Castello significava, literalmente, no jargão militar, desalojar os soldados nazifascistas inimigos que o ocupavam, para possibilitar a chegada das tropas aliadas à cidade de Bolonha, que era um importante nó rodoferroviário. Mais do que isso, a conquista do Monte Castello havia se tornado questão de honra porque, pelo menos, três outras tentativas realizadas em fins de 1944 já haviam fracassado, o inverno estava chegando ao fim e porque, exatamente na véspera daquele dia, havia morrido o frei Orlando, um dos capelães da FEB que viria, posteriormente, a se tornar o Patrono do Serviço Religioso do Exército Brasileiro. Apesar das muitas dificuldades, inclusive um frio que chegava aos 15ºC negativos e das 478 baixas sofridas, entre mortos e feridos, os pracinhas conseguiram derrotar as tropas nazistas que dominavam o Monte Castello. No fim da tarde daquele dia, Joel Silveira, repórter dos “Diários Associados”, que atuava como correspondente de guerra, ao ouvir do general Cordeiro de Farias a informação “Castelo é nosso”, expressou-se da seguinte forma: “São mais de sete da noite quando seguimos, eu e o fotógrafo Horácio, pela estrada deserta e fria a caminho do nosso jipe. É um morro brasileiro, e amanhã estarei lá em cima, junto com os pracinhas vitoriosos com sua arrogância domada”. A conquista de Monte Castello viabilizou aos aliados

Imagem mostra o monumento em homenagem aos expedicionários no cume do Monte Castello, na Itália

a expulsão dos alemães dos montes Apeninos e a conquista da região norte da Itália, o que possibilitou o fim dos confrontos naquele país. O dia em que os brasileiros conquistaram Monte Castello reverberou na história do Brasil e, para que se tenha uma noção mais exata do significado que esse feito teve naquela época, evitando anacronismos e falsas interpretações, basta que se pesquisem os noticiários e as manchetes daquela época: “Conquistado o Morro do Castello” (“O Cruzeiro do Sul” – 25/2/1945); “Realizam a sua maior façanha na guerra as tropas do Brasil – Vitória”; e “Dia glorioso para o Brasil – Os nossos bravos patrícios conseguem a sua maior vitória na guerra com a conquista de Monte Castelo” (“O Globo” – 24/ 2/1945), entre outras.

Contribuição dos pracinhas para a nossa democracia Por estes motivos, os soldados da FEB, conhecidos como “pracinhas”, tornaram-se motivo de orgulho nacional, por sua contribuição em prol da liberdade e da democracia. Em parte, essa vitória se deve ao fato de que, talvez, tenham esquecido de dizer para eles que a Wehrmacht, ou Exército Alemão do Füher, era o exército mais poderoso da época. Se naqueles dias, a conquista de Monte Castello representava um grande obstáculo a ser superado em meio às crises geradas pela guerra, hoje, 72 anos depois, persiste no tempo como um monumento histórico que encerra magníficos exem-

plos de perseverança, de determinação, de planejamento, de organização, de liderança, de fé, de união, de coragem, de superação e de gerenciamento de crises, que devem ser sempre lembrados e cultuados. Hoje, vemo-nos, mais uma vez, diante de dificuldades crônicas que minam e desestabilizam o nosso destino histórico como Nação, o que gera desunião, incertezas e medos. Se em 1944 tínhamos como inimigo um simples partido político que, por meio da ideologia nazifascista, dominava pela força países inteiros, hoje, 2017, temos problemas muito menores porque são, na sua maioria, internos e cuja solução depende apenas da capacidade de reação e da credibilidade dos nossos representantes, e do comprometimento de todos os brasileiros, ou seja, depende apenas de NÓS. Conhecer a nossa história, dignificar os nossos antepassados, exaltar os nossos verdadeiros heróis são deveres cívicos de cada um de nós, de todos os brasileiros, a fim de que juntos encontremos os caminhos para edificar um grande Brasil. O Brasil não acontece simplesmente, mas ele é construído por nós, dia após dia. O Brasil, ou seja, NÓS, seremos tão grandes ou tão pequenos, conforme a nossa união e o nosso esforço. Ele existe porque, como Nação, nos unimos e nos organizamos, fizemos uma Constituição, fizemos as nossas leis e constituímos um governo, que são parte dos elementos constitutivos do Estado, sem os quais o Estado deixa de existir.

É importante lembrar que o Estado começa pelas pequenas atitudes individuais de cada cidadão na sociedade e isso implica uma diferença de percepção e postura que os indivíduos devem ter em relação ao seu papel na sociedade, em relação ao Brasil e em relação a sua vida pessoal. Não devemos apenas nos ajoelhar e rezar ou orar, mas nos levantarmos, arregaçar as mangas e trabalhar. O povo brasileiro já fez muito em sua história, e se quiser continuar fazendo precisará reiniciar pela palavra NÃO. Diziam que a Força Expedicionária Brasileira NÃO iria para a guerra, mas foi. E quando o comandante da FEB (Força Expedicionária Brasileira) recebeu a ordem para conquistar Monte Castello, ele NÃO perguntou, nem lhe foi dito, se era ou NÃO possível: a FEB foi lá e simplesmente conquistou a montanha. Por fim, concordo que ficaria meio impopular utilizar por diversas vezes a palavra NÃO em um texto, mas justifico dizendo que, entre os “Dez Mandamentos”, a maioria deles começa por um NÃO e, se isso não fosse tão salutar, Deus não a teria utilizado para estabelecer as regras do seu povo, e essas regras não estariam aí até hoje. Nós não devemos apenas esperar um futuro incerto, nós devemos fazê-lo conforme a nossa vontade e necessidade, e os pracinhas fizeram. O autor é coronel da reserva, ex-integrante das Missões de Paz da ONU em Angola (1997) e no Haiti (2011/2012). Integra a Associação Nacional dos Veteranos da FEB.

sala de escritor Tempo de Crise

Por Que as Nações Fracassam

Por Que os Líderes Mentem

A Leveza: Rumo a Uma Civilização sem Peso

Autor: Michel Serres Editora: Bertrand Preço: R$ 27,90

Autor: James Robinson e Daron Acemoglu Editora: Elsevier Preço: R$ 67,90

Autor: John J. Mearsheimer Editora: Zahar Preço: R$ 39,90

Autor: Gilles Lipovetsky Editora: Manole Preço: R$ 59,40

No século 19, o diplomata britânico sir Henry Wotton definiu um embaixador como um enviado honesto para mentir no estrangeiro pelo bem de seu país. A afirmação de Wotton vai ao encontro do senso comum de que política e mentira são indissociáveis na sociedade de hoje. John J. Mearsheimer, neste livro, garante: os políticos mentem pouco quando confrontados com questões internacionais. A razão é simples, mentir para outro estadista em assuntos cruciais é muito arriscado, e quase sempre traz resultados negativos inesperados. E assegura que, durante momentos de crise, a mentira pode ser um instrumento estratégico.

O leve invadiu nossa rotina e transformou nosso imaginário, tornando-se um valor e um ideal. Na sociedade pós-moderna, o elogio à magreza e a consagração do bem-estar triunfam. O mundo virtual, os dispositivos móveis, os nanomateriais estão mudando o dia a dia das pessoas. Do mesmo modo, a cultura midiática, a arte, o design, a moda e a arquitetura exprimem o culto contemporâneo à leveza. Por todos os lados, a ordem é conectar, miniaturizar, desmaterializar. O livro mergulha nas utopias do desejo em que viver melhor não se separa da leveza de ser.

A mais recente crise capitalista ocorreu em razão da crescente discrepância entre as grandes transformações sociais e as instituições que permanecem inalteradas desde a Segunda Guerra Mundial. Michel Serres escreve: “Destruir, matar, explorar não valem mais. Coisas que significam, no fim das contas, destruir-nos”. A população mundial cresceu de forma a esgotar os recursos naturais e exige-se o repensar das dinâmicas culturais, sociais e políticas. E acredita que geopolítica e economia não serão mais encenadas por dois atores —Ocidente e Oriente– mas por três: a Terra será o terceiro.

“Por Que as Nações Fracassam”, responde à pergunta que há séculos instiga diversos estudiosos: por que algumas nações são ricas e outras são pobres, divididas por riqueza e pobreza, saúde e doença, comida e fome? Neste livro, Daron Acemoglu e James Robinson tratam das diferenças de receita e padrão de vida que separam os países ricos do mundo, como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, dos pobres, como os da África subsaariana, América Central e do Sul da Ásia. Eles demonstram o que está por trás desse enigma.


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