Monstruário Brasileiro em Cordel - Vol. 1

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Monstruร RIO BrasilEIRO EM CORDEL

O pequeno catรกlogo de seres, entidades e mitos brasileiros.

volume primeiro


MONSTRVÁRIO BRASILEIRO EM CORDEL O PEQVENO CATÁLOGO DE SERES, ENTIDADES & MITOS BRAZILEIROS.

VOL. I As mais escabrosas criatvras do folclore das terras tvpiniqvins apresentadas em cordel com pvlqvérrimas gravvras dos aprendentes do cvrso para o ofício de projetista de artefatos gráficos da Escola Superior da Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina. Organizado & paginado pelo excelentíssimo mestre catedrático RAFÆL HOFFMANN

FACULDADE SATC CRESCIUMA - CAPITANIA DE SANTA CATHARINA - BRAZIL AGOSTO - MMXVIII Com todas as licenças necessárias


MONSTRUÁRIO BRASILEIRO EM CORDEL Esse material é resultado de uma atividade da disciplina de Materiais e Processos I do curso de Design com habilitação em Design Gráfico da Faculdade Satc. O nosso monstruário é inspirado pelos bestiários, catálogos produzidos por monges católicos que reuniam informação sobre animais reais e fantásticos, e pelo livro Monstruário – Invetário de Entidades Imaginárias e de Mitos Brasileiros, de Mário Corso. A proposta, além de trabalhar o processo xilográfico, estimula os alunos perceberem e aproveitarem a estética gráfica vinda da impressão artesanal como alternativa criativa. Além do fim primário, a atividade também tem como objetivo estimular a pesquisa sobre a cultura popular brasileira através do cordel, intitulado Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro em 2018, e seus seres imaginários. Seres nascidos da mistura da cultura europeia com a indígena e negra. Convidamos você a conhecer um pouco dessa pesquisa. Se tiver coragem.

Prof. Rafael Hoffmann

Todas as ilustrações contidas nesta edição foram produzidas através de xilogravura e os versos datilografados em máquina de escrever. Ilustrações e textos tem os direitos reservados aos alunos que os produziram. É expressamente vedada a cópia ou reprodução ou modificação destes materiais para uso ou distribuição comercial, bem como qualquer outra forma dispor de tais materiais sem a devida autorização, estando sujeito às responsabilidades e sanções legais.

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ANHANGÁ Texto e gravura por GABRIEL NASPOLINI SCHLINDWEIN Anhangá é uma figura mítica do folclore indígena brasileiro, mais especificamente do folclore amazônico, descrito como um demônio, muito temido e respeitado pelos índios que por vezes faziam oferendas a entidade. Diz a lenda que pode assumir várias formas, sendo a mais conhecida a de um veado branco, com fogo nos olhos e uma cruz no meio da testa, chamada de Suacú-anhangá. Suas outras formas também conhecidas são a de humano (Miraanhangá), boi (Tapira-anhangá) peixe (Pirarucu-anhangá) e de um tatu (Tatu-anhangá). Protege a floresta contra a devastação e caça destrutiva; causando alucinações, febre e fazendo com que os caçadores se percam na mata. Ao se ouvir um som forte de assovio é anunciada a sua chegada, logo em seguida protege o animal em perigo fazendo com que ele desapareça da visão dos que o ameaçam. Há uma maneira de pedir ajuda caso seja necessário, basta que grite ”Valha-me Anhangá!”, isso só se aplica caso quem o chamar tenha uma relação de respeito para com a fauna e a flora. Existe também uma forma de oferenda, a oferta de tabaco a entidade, em troca de uma boa caça e proteção.

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BARBA RUIVA Texto e gravura por ANTHONY LEVI DA SILVEIRA Conta-se que no passado havia uma viúva que tinha três filhas, uma delas esperava um menino no seu ventre, mas seu namorado acabou morrendo antes de se casar com ela. Certo dia a moça ficou doente, pensativa e triste e foi descansar no mato, onde acabou concebendo o menino. Confusa com o que lhe ocorreu, colocou a criança em um tacho de cobre e a abandonou em uma lagoa. O tacho desceu na água e subiu de volta nas mãos de uma Mãe-d'Água (talvez sereia Iara) que, com raiva amaldiçoou, a mãe da criança que chorava. As águas da lagoa foram enchendo e subindo cada vez mais, alagando tudo seu redor. A lagoa ficou amaldiçoada e ninguém quis morar perto, pois toda noite se ouvia choros de um bebê. De manhã alguns avistavam uma criança, ao meio dia viam um moço de cabelo e barba ruiva, ao entardecer, já sem luz, viam um senhor de barba branca. Quando o Barba Ruiva é avistado, se for por um homem, acaba desorientando, fugindo e desaparecendo no fundo da lagoa, mas quando uma mulher o vê, ele mostra sua barba, unhas e corpo coberto de lodo e limo e tenta agarrá-las e beijar. Depois desaparece novamente para o fundo da lagoa.

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BOTO-COR-DE-ROSA Texto e gravura por RAFAEL FRITZEN A lenda conta que na noite de festas juninas, quando se depararmos com um homem bonito e arrumado, todo de branco, é porque o boto cor de rosa saiu do rio, ele usa um chapéu para esconder o seu bico. Ele sai nas noites em busca de mulheres lindas, solteiras, com seu jeito galanteador, dançador, simpático, alegre, as seduz, colocando as numa emboscada, ele as leva para um passeio noturno perto do rio, as coloca na água e lá fazem amor, deixando-as gravida. De dia ele volta na sua forma normal. As mulheres ficam loucas porque não sabem depois quem é o homem misterioso, mas afirmam que é filho do boto. O boto também possui um truque, geralmente com homens, ele vai até um bar, desafia outro homem, cada um paga a sua metade da conta. Quando, o outro que terminou descobre que esqueceu a carteira no bote, volta lá para pegar, o boto se oferece junto para então cair na gargalhada e ver o homem nunca mais voltar para a superfície.

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CAIPORA Texto e gravura por NORTON DE SOUZA CORRÊA Segundo muitas tribos, principalmente as de origem tupiguarani, Caipora é uma entidade que possui como função a guarda das florestas e de tudo o que nela habita. Após o contato com outras civilizações não-indígenas, essa divindade foi bastante modificada quanto a sua interpretação, passando a ser vista como uma criatura maligna. Seu poder é maior em dias santos e em finais de semana. Segundo as pessoas que já viram Caipora, as características da mesma variam: suas feições podem modificar-se dependendo se sua intenção é perturbar ou ajudar a pessoa. Muitas pessoas afirmam que Caipora é um menino moreno, parecido com um indiozinho, com olhos e cabelos vermelhos e com os pés virados para trás. Outras pessoas a veem como uma figura feminina guerreira, com pinturas corporais e orelhas pontiagudas. Há, também, aqueles que veem Caipora como uma entidade andrógena, podendo variar entre um corpo verde e vermelho. Esse ser mitológico tem o poder de ressuscitar qualquer animal morto, bastando apenas uma ordem para que este ressuscite. Por ser muito veloz, algumas pessoas apenas sentem Caipora como se fosse uma rajada de vento no mato.

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CORPO-SECO Texto e gravura por JOÃO LUCCAS GOMES ROCHO Corpo-seco é um ser humano que foi negado ao seu eterno descanso e atormentado ao eterno sofrimento. Não podendo morrer o corpo-seco é atormentando com dores extrema em todo o seu corpo podre, sua pele arde como se fosse queimado vivo, seus órgãos pulsam de dor como se fossem apunhalados a cada segundo, porém, o maior sofrimento dos sofrimentos que essa criatura sente é relembrar todos os acontecimentos ruins de sua vida passada. Só existe um modo para ele aliviar todo esse sofrimento, ele necessita consumir humanidades, que só são encontradas no coração humano. Para se tornar um corpo-seco basta ser uma pessoa terrível, uma pessoa que machuca as outras uma pessoa ser amor ao próximo. Essa criatura é muito comum encontrada em cemitérios abandonados e possui hábitos ao anoitecer, então tome cuidado com o corpo-seco e cuidado para não se tornar um.

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GORJALA Texto e gravura por LEONARDO MICHELS MELLER Gorjala é um ser assustador, rude e feroz, de apenas um olho no meio da testa, com estatura de um gigante que chega próximo ao topo das arvores. Vive escondido nos altos das montanhas, dizem por aí, que por conta de tamanha estatura consegue atravessar colinas e penhascos com apenas um passo, deixando um rastro, como árvores derrubadas. Se engana quem acha que ele é um bicho ou coisa parecida, sua aparência se espelha ao de um homem negro e muito peludo, com uma tremenda força, que se iguala a sua fome, pois vive pelo seu estômago. Costuma carregar suas presas embaixo dos braços e aprecia muito a carne humana, também bebe muita água. Tem-se relatos dessa tal criatura feroz em algumas regiões do Brasil, tendo pequenas variações. Porém onde se tem maiores relatos de ataques desta criatura é na região nordeste especificamente no Ceará. Diz a lenda que muitos homens ao longo da história, entravam na floresta para desbrava-la e acabavam desaparecendo. Tendo relatos que foram devorados por uma criatura enorme, forte e faminta.

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IARA Texto e gravura por FERNANDA MARCELINO MILIOLI A lenda da Iara, ou Mãe d’Água, tem origem indígena. Mais precisamente, é oriunda da região amazônica. Seu nome traduz-se para “aquela que mora nas águas”. Segundo a lenda, Iara era uma mulher com muitíssima beleza – com pele negra, cabelos longos e pretos e olhos castanhos – e uma guerreira muito corajosa, considerada por muitos a melhor de sua tribo e, por isso, vivia recebendo elogios de todos – incluindo seu pai, que era o pajé. Isto fazia com que Iara fosse muito invejada em sua tribo, principalmente por seus próprios irmãos. Em uma noite, estes planejaram matá-la enquanto dormia. Mas foi exatamente por suas habilidades de guerreira que Iara conseguiu escutá-los chegando, virar a situação ao seu favor no momento do combate, e acaba por mata-los. Com medo da reação de seu pai, ela foge. Mesmo assim, ele consegue acha-la e a castiga jogando-a no encontro entre os Rios Negro e Solimões. Alguns peixes a encontram e resolvem salvá-la, levando-a para o fundo do rio e a transformando em uma linda sereia. Desde então, sempre que um pescador encontra Iara tomando banho nas margens do rio, ele fica completamente encantado com a sua beleza e seu canto, sendo hipnotizado a se jogar na água para encontrá-la.

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LOBISOMEM Texto e gravura por BRUNA NAZÁRIO PACHECO A lenda do lobisomem é uma das mais populares do mundo. Seus primeiros indícios foram encontrados na mitologia grega, a maior parte de sua história se desenrolou na Europa. Mas aqui no Brasil também teve suas versões se tornando um dos contos sobre monstros fictícios mais conhecidos do folclore brasileiro. Reza a lenda que quando uma mulher tem sete filhas e então um ter tido um filho homem, esse será o lobisomem, o homem que se transforma em lobo.

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MULA-SEM-CABEÇA Texto e gravura por ÉLEN DA SOLER O mito da mula-sem-cabeça nasce da ideia de que é um pecado grave sentir algum sentimento amoroso por um padre, ou ter um relacionamento amoroso com um padre. As mulheres que frequentavam a igreja, não poderiam olhar o padre com olhos de mulher, mas apenas como uma “divindade”, por sua vida ser dedicada a Jesus Cristo. Caso a mulher quisesse namorar com um padre, ela se tornaria uma mula-sem-cabeça, que vaga apenas pela escuridão da noite, especificamente nas quintas e sextas, relinchando muito alto, que se pode ouvir de longe. No lugar de sua cabeça, existem chamas de fogo, mas muitos ainda tem dúvidas se é a cabeça ou o rabo que está incendiada, por ela aparecer apenas a noite se torna difícil de identificar, e pela sua alta velocidade. Nos seus cascos, acredita-se que as ferraduras são feitas de prata ou de aço, muito afiadas prontas para matar sua vítima. Mas existem duas formas de acabar com o encanto, uma dela é retirar os seus freios, mas como ela talvez não possua cabeça, seja difícil encontrá-los, e a outra é furá-la com uma agulha virgem e retirar pelo menos uma gota de seu sangue. Assim, a mula se tornaria uma linda mulher. Essa forma de mula-semcabeça é flamejante, é cogitado o fato de que a mulher se tornaria a criatura apenas após a sua morte, pagando pelo pecado pela eternidade, e não a pagando em vida.

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SACI PERERÊ Texto e gravura por GIANA MARANGONI MARTINHAGO O Saci é um dos personagens mais populares do Folclore Brasileiro. É um menino travesso e brincalhão, de cor negra e uma perna só. Usa um gorro vermelho (carapuça) e fuma um cachimbo. Apesar de ter uma perna só, tem muita agilidade para locomover, também pode aparecer e desaparecer misteriosamente. O comportamento travesso é a marca do Saci. Passa o tempo todo aprontando travessuras nas matas e nas casas. Ele não quer o mal, apenas se diverte em atrapalhar quem cruza seu caminho. Assusta os viajantes, esconde objetos, assusta animais, apaga o fogo... É conhecedor de plantas e ervas medicinais. Se alguém tentar pegar algumas de suas ervas sem autorização, se torna vítima das suas brincadeiras. É também, protetor da natureza. Ele se desloca rapidamente dentro de redemoinhos de vento, girando sobre si mesmo. Para captura-lo deve-se jogar no redemoinho uma peneira de palha em cruz, após é preciso retirar rapidamente sua carapuça (fonte e segredo do seu poder), onde ele se torna vulnerável e prendê-lo dentro de uma garrafa tampada com uma rolha com uma cruz desenhada. Assim, ele irá obedecer a pessoa que o prendeu.

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VITÓRIA-RÉGIA Texto e gravura por DANIELA ANZOLIN GODINHO A lenda conta a história da índia Naiá, que morava na Amazônia e se apaixonou pelo reflexo da lua Jaci. Esta costumava encantar as índias virgens e bonitas da região, iludi-las e transformá-las em estrelas. Naiá ouvia muito sobre a lenda que era contada pelos indígenas e sonhada por esse momento. Apesar de ser muito avisada pela tribo do risco que corria, ela sabia que, se fosse ao seu encontro, deixaria de ser uma índia, mas ainda assim não foi o suficiente para fazê-la mudar de ideia. Todas as noites, saía de casa e ia observar a lua, aguardando sempre o momento de ela chegar ao horizonte para ir ao seu encontro. E assim se repetiu por um tempo, até que em uma bela noite, a lua refletiu lindamente na água e a índia ficou hipnotizada pelo reflexo. De forma inconsciente, ela resolveu ir ao encontro de Jaci para dar um beijo. Quando caiu na água, despertou da ilusão e tentou se salvar, mas já era tarde demais e acabou morrendo afogada. Jaci ficou sabendo do ocorrido e ao invés de transformá-la em uma estrela, como havia feito com as outras índias, ele fez de Naiá uma flor, Vitória-Régia, que ficou conhecida como a estrela das águas e abre suas pétalas com a luz do luar.

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