Revista Missão Salvatoriana (Abr/Mai/Jun) 2022

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/testemunho

Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir.” (Jr. 20,7)

Foi-me solicitado um breve relato do ‘porquê’ de eu hoje ser padre e salvatoriano. A minha reação foi repentina e disse que ‘não faria’, pois me sinto sem graça de expor algo que é muito pessoal e íntimo, principalmente quando alguém pede para dar um testemunho. Perdoem-me, eu acho (não é o famoso achismo) que o testemunho é algo vivencial, faz parte do dia a dia da vida, do jeito e modo de ser de cada vivente nesta terra. Basta apenas perceber a rotina da pessoa. Às vezes os testemunhos que eu tenho ouvido e visto, são muito lindos e emocionantes diante de uma plateia ansiosa para bater palmas. Mas, e depois, o chão da vida irá confirmar ou não a veracidade dos fatos de um testemunho. E nem sempre são harmoniosos. Diante desta minha colocação, peço desculpas por minhas inconsistências e contradições ao tentar manifestar a gênese do meu itinerário vocacional. Tentarei ser sincero e real aos fatos que, muitas vezes, o tempo os fez empoeirar no esquecimento. Os meus pais José Retore e Assumpta Sonda Retore, netos de italianos, eram agricultores sobre as terras lindas e maravilhosas nas escarpadas montanhosas da Linha Travessão Bonito, comunidade pertencente à Paróquia Santo Antônio de Nova Pádua, cujo pároco era o Pe. Antonio Alessi, de Flores da Cunha, RS. Ali nascia um menino do recém casal José e Assumpta, o ‘piazinho’, Bruno. E lá fui batizado em 06/10/1948.

O testemunho de vivência religiosa do seu José e Assumpta é marcante em todos os sentidos para mim e para os meus irmãos. Haja vista que o meu pai foi seminarista diocesano por alguns anos, isto vim a saber depois de padre. A lida na colônia, trabalhar nas terras rústicas, cheias de mata virgem, tudo a ser feito, sem recursos mecânicos, não era nada fácil iniciar quase do ‘nada’. As sementes eram escassas, lembro-me que das melhores espigas de milho ou de trigo e arroz, ou mudas de mandioca e vinhas, faziam-se reservas para o próximo plantio na primavera ou no frio do inverno. Nós, ainda crianças, quando começavamos a andar, já íamos com o pai para roça aprender a manusear o cabo da enxada ou o arado tracionado por uma égua e um burro. Outros iam com a mãe aprendendo a lidar com as coisas de casa, isto é, cuidar dos animais, da horta e outros serviços. Vivi com eles até que, com 11 anos, entrei no Seminário de Videira. Até então, nunca, jamais havia sonhado em ser um dia padre ou coisa parecida. É verdade que o meu pai sempre foi contra eu entrar no seminário de Videira, ele achava que devia ser padre secular, que ele chamava de “circular”, e eu não entendia o porquê. Hoje entendo.

Sob promessas de terras mais planas em Videira, SC, meus pais colocaram num caminhãozinho todo o patrimônio material, eu e o meu segundo irmão Rosalino no ventre da minha mãe aos 6 meses de idade. Vieram com dois dias de viagem para se fixarem nas terras de Rio Tigre até o dia de hoje. Ano após ano a família Retore crescia em número de filhos até completarem 11 irmãos e 4 irmãs. Infelizmente tenho 4 irmãos falecidos e os meus pais. P R O V Í N C I A S A LV AT O R I A N A B R A S I L E I R A

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