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Você acredita em anjos?
de galinha e quatro ovos caipiras. Conversamos um pouco, conheci sua vida sofrida, viúva desde jovem, vários filhos, ao mesmo tempo cheia de esperança, temente a Deus. Logo despediu-se e saiu.
Por Pe. Fernando Sartori, sds Missionário Salvatoriano
Depois que ela se foi, me pus a refletir: esta mulher, depois de anos sentindo a presença de Deus, perseverando em suas lutas diárias, converteu-se em um anjo, uma mensageira de Deus. Recentemente passou pela Covid-19 e continua firme, preocupada com a comunidade de fé, bem como com os padres Salvatorianos. Anjos são mensageiros de Deus, temos anjos que nos visitam, que nos recebem em sua casa, que se preocupam com os enfermos, que zelam pela Eucaristia, que se alegram com nossa visita e principalmente que nos ensinam a rezar. Mesmo diante da nova realidade e de outros desafios, seguimos motivados a continuar a missão, porque realmente é verdade: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20).
Dentro da nova realidade da Covid-19, começamos o ano retornando às atividades pastorais, porém com cuidado, pois nesta segunda onda vários paroquianos foram contaminados, houve algumas vítimas e a precariedade do sistema de saúde agravou a situação. Nossas comunidades indígenas foram as que mais sofreram, ações solidárias foram feitas e arrecadamos alimentos, remédios e materiais de proteção, mas mesmo assim muitos nativos morreram. Os atendimentos pastorais se tornaram mais desafiadores, porque depois de um longo tempo sem as reuniões nas comunidade as pessoas deixaram de participar, sentem medo, outras se foram com a família para as montanhas, mas em cada comunidade existem sinais da presença de Deus e gostaria de partilhar uma delas: Uma senhora vem caminhando pela rua de terra, naquele momento cheia de barro porque havia chovido, em direção à nossa casa. Da varanda, a vejo de longe, magra, de baixa estatura, curvada pelo peso da idade, 96 anos. Caminha com o apoio de um bastão de madeira, numa das mãos carrega uma pequena sacola. Se aproxima de nossa casa, humildemente vestida, corpo sofrido pelo trabalho duro, rosto marcado pelo tempo, sorrindo, me chama: “hermano!”. Desço as escadas rapidamente, abro a porta e logo depois da saudação, vem o pedido: “posso rezar em sua capela?”, respondo: “claro, entre!”. Então vejo aquela senhora, Adelaide, com passos lentos, entrar em nossa capela, em seu rosto um sorriso, o bastão deixou na porta. Aquela mulher curvada agora estava de joelhos em frente ao Santíssimo Sacramento, ouço sua voz baixa que dizia: “bom dia Jesus, vim te visitar” e então começou um diálogo entre dois amigos de longos anos. Lembrei-me de Ana quando estava rezando no Templo, “derramei a minha alma na presença do Senhor”. (1Sm 1,15). Deixei a capela para que eles tivessem privacidade e fiquei esperando ela sair. Depois que terminou, voltou para a sala e ofereceu-me a sacola: “Padre, não é muito, mas trouxe para vocês fazerem o almoço”, era uma coxa
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R E V I S TA M I S S Ã O S A LV AT O R I A N A