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Agenor Almeida Filho
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de partes do mesmo, sob quaisquer meios, sem a autorização expressa do autor. (Este livro segue as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa) Autor Agenor Almeida Filho Diagramação Nayana Gatinho da Silva Coordenação Técnica e Capa Ricardo André Santos Ilustração Ribamar Martins
FICHA CATALOGRÁFICA ALMEIDA FILHO, Agenor Caldeirão da Cultura Mirinzalense: Causos de Agenor Almeida Parte I. Coletânea Agenor Filho - Livro 09. São Luis: Edição do Autor, 2019. 1. Cultura; Causos; Sabedoria Popular; Estórias. Prefixo Editorial: 900115 ISBN: 978-65-900115-0-3
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Prefácio Primeiramente, destacar a grande honra e satisfação de apresentar esta obra, que para mim representa algo muito especial, pois compreende aspectos culturais da terra que me viu nascer e pela qual tenho um amor muito grande e, ainda mais, por evidenciar as contribuições de Agenor Almeida (in memorian). Mas com responsabilidade e alegria, escrever resumidamente sobre este livro não é nada fácil, pois falar de Mirinzal e dos seus “causos” é, como diriam os mirinzalenses em um de seus bordões mais usados, “é pra macho”! O que você vai ler e apreciar nesta Parte I, são “causos”, histórias e estórias, pesquisadas pelo autor, referentes a Agenor Almeida, no entanto, está por vir um numeroso e variado repertório, cujos personagens são Tonó, “Molhas Plantas”, “Zé Vaqueiro”, Nhô Dico e muitos outros. As toadas e os sambas dos nossos conterrâneos também não serão esquecidos. Nossa terra é um celeiro de grandes compositores! Não devo me alongar, pois só no Prefácio pude me pronunciar...A vontade que tenho é de todo o livro contar. Por favor, leia e deleite-se com as histórias do nosso lugar...falei com o coração e com alma, também para rimar! E pra finalizar, agradeço a deferência do autor, filho do nosso lugar. AGENOR FILHO, um abraço querido primo! Ribeirinho Almeida, de Mirinzal.
Causo é uma história que relata fatos verídicos ou não, contada de forma engraçada, com objetivo lúdico. Muitas vezes apresenta rimas, trabalhando assim com a sonoridade das palavras. São conhecidos também como causos populares e já fazem parte do folclore brasileiro.
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Foto de Agenor Almeida, o homenageado.
“Ninguém morre enquanto permanece vivo no coração de alguém”
Introdução Conceituar Cultura, talvez seja um dos maiores desafios daqueles que se propõem a fazê-lo, pois trata-se de um conceito de múltiplas e variadas acepções. Em razão dessa complexidade é que surge a árdua tarefa de pesquisar, entrevistar e coletar informações sobre a cultura de Mirinzal e conceber o “Caldeirão da Cultura Mirinzalense”. No começo fazia referências apenas e tão somente aos “causos” de Mirinzal, pois sabemos o quanto o nosso povo é pródigo neste aspecto. Inclusive, esses mesmos “causos”, inevitavelmente, se fazem presentes em encontros, reuniões e bate-papos, nos quais alguém de Mirinzal esteja presente. A propósito, encontrei em DA SILVA (2009) ou, mais precisamente, na lavra da Baiana Valdinéia Maria da Silva, a melhor definição de “causo”, senão vejamos: “Causo é uma história que relata fatos verídicos ou não, contada de forma engraçada, com objetivo lúdico. Muitas vezes apresenta rimas, trabalhando assim com a sonoridade das palavras. São conhecidos também como causos populares e já fazem parte do folclore brasileiro”. Na perspectiva de fazer algo mais robusto e que pudesse resgatar outros aspectos culturais de Mirinzal, o então “Livro de Causos”, cede lugar a algo mais amplo, compreendendo também as toadas, sambas-canção, marchinhas, danças, folguedos, teatro, gastronomia, etc. Um trabalho “de fôlego”, sem dúvida! Seria um descaso muito grande de minha parte não poder caminhar nesta direção, pois estas informações até então dispersas, onde muitos dos atores e verdadeiros protagonistas não estão mais entre nós, têm de ser catalogadas e publicizadas, preservando a nossa memória cultural. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, muito ao contrário, que esta obra seja o ponto de partida para que outros estudiosos possam ampliá-la. Publicar os “Causos de Agenor Almeida” é, sem dúvida, a “ponta do iceberg”, de uma obra que está só começando a mostrar a sua “cara”. 7
Sumário 01. Buscopan, não, vai buscar o pano é que é, pequena!!! ......... 11 02. Da tua idade aí, só Chacrinha ............................................. 13 03. Onde está tua mãe, Wilmar? ............................................... 15 04. Prepara a bunda, seu Miécio!!! ........................................... 17 05. Tu é leão, besta!!! ................................................................ 19 06. Nêgo Velho, mataram o prefeito de Goiânia ........................ 21 07. Eu só digo ai!!! .................................................................... 23 08. Não sei como alguém tem coragem de pular daquí! ............ 25 09. Vitória, nós já temos, nós queremos mesmo é dinheiro pra campanha ..................................................................... 27 10. Quem passou no sinal vermelho foram vocês, pra vir aqui me atentar ................................................................... 29 11. Com a cara envergonhada, mas com a tripa aliviada .......... 31 12. Escassa era ela ..................................................................... 33 13. Pedro, por que tu não chegou mais “cedo” .......................... 35 14. Eu não consigo me livrar de ti ............................................. 37 15. Mas tu trouxe logo o cupim? .............................................. 39 16. Na verdade doutor, é de se divertir com o litro .................... 41 17. Por que tu não cospe, Neta? ................................................ 43 18. Pra ler essa letra, só se botar de molho! ............................... 45 19. Então, tu só ajudou. Botou um em cima e o outro embaixo .............................................................................. 47 20. Bota em cima da mesa que eu te ajudo a arrumar! .............. 49 21. Embaúba é remédio pra preguiçoso que não quer trabalhar ............................................................................. 51 22. Mas eu não tô aplaudindo ele! ............................................ 53 23. Nunca mais eu como ovo .................................................... 55
24. Como é que eu vou provar, se tu comeu tudinho! ................ 57 25. Tu vai é com Chocho, não é com Dison .............................. 59 26. Foi de amor ou foi de ódio, minha filha? ............................. 61 27. Então dê uma caçamba pra ele. Ele não tem água! .............. 63 28. E esta aqui, em que terreno ia parar? .................................. 65 29. Anda por onde tu andar, mas não esquece de mundinho ..... 67 30. Mas tu estava empaneirado ................................................ 69 31. Bicicleta empenada. Então tá bom, porque tu vais voando! ... 71 32. Ave Mari Iá, Ave Mari Iá... .................................................. 73 33. Eu também estou sentindo falta de Iá .................................. 75 34. Minha filha evita de vir aquí! .............................................. 77 35. Eu te dou, mas é uma chinelada! ......................................... 79 36. Mãe Chiquita, a senhora não está atrás de mim, a senhora está aqui na minha frente ....................................... 81 37. O plano é atravessar a rua e depositar na minha conta ....... 83 38. A ajuda que eu vou dar pra vocês, é seguir nesta direção ...... 85 39. Mas tu não parou, né Natão!? ............................................ 87 40. Mas quando “ela” chegar o senhor me avisa, meu compadre. “Ela” quem? Necessidade! ................................ 89 41. A diferença é que neste olho tem remela e no outro não ....... 91 42. Mãezinha, se tu que tá sabendo há muito tempo, não está preparada, imagina eu que estou sabendo agora! ......... 93 43. Uma ponta vai te machucar, meu filho! ............................... 95 44. Tu já ‘panhou”, mas foi dela! .............................................. 97 45. Então, deixa “nisso”! .......................................................... 99 46. Nunca vi ninguém reclamar do calor balançando a calça ...... 101 47. ... Melhoradinho!!! .............................................................. 103 48. Eentão, chama aí um que não morde!!! ............................... 105 49. Não estamos nem no período natalino, tu já queres presente!? ............................................................................ 107 50. Seu Agenor, ele socorreu a vítima? Dr. ele só correu.... ........ 109 9
Buscopan, não, vai buscar o pano é que é, pequena!!!
1. Buscopan, não, vai buscar o pano é que é, pequena!!! Era uma manhã em que o então Prefeito Agenor Almeida, como costumava fazer, foi ao hospital de Mirinzal visitar os enfermos. E todos nós sabemos o quanto as visitas fazem bem aos doentes. Diante de um dos leitos, onde uma paciente gemia, ele perguntou para acompanhante: — Mãezinha, o que ela tem? — Acho que comeu alguma coisa e lhe fez mal — retrucou a acompanhante. — Ela deve estar com muita dor! E este vômito aqui no chão, ainda não vieram limpar!!! Chama a auxiliar de enfermagem e a pessoa da limpeza, por favor! — Pois não, seu Agenor! — disseram as servidoras que haviam sido chamadas. Agenor Almeida, então, vendo a situação, e sentindo um odor desagradável de vômito e de fezes da paciente, perguntou para auxiliar de enfermagem: — Mãezinha, o que o médico “passou” para esta senhora?!! — Buscopan! Em cima da bucha o velho Nôca, como era conhecido Agenor Almeida, voltou-se para a Auxiliar de Limpeza e disse: — Mas primeiro tu vai BUSCAR É O PANO para limpá-la, pois ela está toda cagada e o chão tá todo vomitado!
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Da tua idade aí, só Chacrinha
2. Da tua idade aí, só Chacrinha Agenor Almeida estava assistindo ao Programa do Chacrinha com sua esposa Iadine. Ela percebendo que ele estava muito mais interessado nas “Chacretes” (dançarinas) do que no programa, disse-lhe: — Agenor, não te ilude com essas mulheres, pois isso é só maquiagem. Essa que tu não tiras o olho, – a famosa Rita Cadilac — por exemplo, é da minha idade. — Minha mulher, da tua idade aí, só Chacrinha!!!
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Onde estรก tua mรฃe, Wilmar?
3. Onde está tua mãe, Wilmar? Acordar bem cedo, sempre foi uma rotina na residência de Agenor Almeida. Inclusive, este costume é cultivado até hoje! Um belo dia, meu pai ao levantar, a fim de puxar conversa com os filhos, perguntou para Wilmar, seu primogênito: — Wilmar, onde está tua mãe? Wilmar respondeu ainda sonolento: — Meu pai, o senhor é quem dorme com minha mãe, no mesmo quarto, e eu é que vou ter que saber onde ela está!? Durma com um “barulho” desses!!!!!
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Prepara a bunda, seu MiĂŠcio!!!
4. Prepara a bunda, seu Miécio!!! Uma outra característica marcante de Agenor Almeida, era não gostar de ver ninguém parado, ou seja, ele sempre “inventava” alguma atividade para a pessoa fazer, que popularmente em nossa terra convencionou-se chamar de “gostar de mandar”. Na época em que era Prefeito, conseguiu algumas “pipas”, que eram colocadas na carroceria de caminhões, com a finalidade de levar água para os bairros e povoados mais distantes ou para aqueles que não dispunham de água, tão facilmente. Fazia parte de um Programa de Combate à Seca, do Governo Federal. Numa das “pipas” colocada em cima de um caminhão, em São Luís, onde elas eram recebidas, nosso pai observou que se a “pipa” fosse empurrada um pouco mais para frente, sobraria um lugar razoável para levar outras coisas na viagem. Então, ele disse: — Seu Miécio, vamos ajudar os trabalhadores a fazer uma forcinha aqui. Vamos chegar essa “Pipa” um pouco mais para frente. Miécio, discordando dele, falou: — Meu pai, essa “pipa” é muito pesada para chegar para frente, e tem mais, eu dou meu cu para cachorro se vocês conseguirem arrastar ela. Meu pai então recomendou que fosse feito um esforço de todos ao mesmo tempo. À medida em que todos faziam força, a “pipa” ia sendo arrastada para a frente da carroceria. Quando meu pai viu que o objetivo tinha alcançado, soltou a “pérola”: “Prepara a bunda, Seu Miécio, prepara a bunda, Seu Miécio”. 17
Tu é leão, besta!!!
5. Tu é leão, besta!!! Comecei a perceber que meu pai, Agenor Almeida, levantava-se cada vez mais cedo, em função da idade, mas não gostava de ficar sozinho. Por esta razão, ele acordava todo mundo, logo depois de fazer a sua higiene pessoal. Num desses dias, ele chegou na porta do meu quarto, e começou a me chamar insistentemente: — Nêgo velho, Nêgo velho.... — HUUUUUUUMMM, HUUUUUUMMM!!! — Nêgo velho, Nêgo velho.... — HUUUUUUMMM, HUUUUUUMMM. Ele já emputecido por conta da minha resistência em atendê-lo, disse: — Abre a porta rapaz, TU É LEÃO, BESTA???
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Nêgo velho, mataram o prefeito de Goiânia
6. Nêgo Velho, mataram o prefeito de Goiânia Um dia, Agenor Almeida à procura de algum assunto ou de algum “furo” de reportagem que me fizesse levantar cedo da cama, saiu-se com esta: — Nêgo Velho, — como carinhosamente me chamava — não é que cassaram o Prefeito de Goiânia. — Mas meu pai, o que eu tenho a ver com o Prefeito de Goiânia. Ele, meio sem jeito, respondeu: — Eu pensei que esse tipo de notícia te interessasse. Ele havia alcançado o seu objetivo: me acordar.
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Eu sรณ digo ai!!!
7. Eu só digo ai!!! Uma coisa que meu pai não suportava era homem com cabelo grande. Quando questionado acerca dessa aversão, ele sempre respondia, porque associava cabelo grande a gente desocupada ou pouco chegada ao trabalho. E essa aversão não se dirigia apenas aos seus filhos, cansei de vê-lo pagando corte de cabelo para pessoas conhecidas que estavam com cabelo grande. Por conta da família numerosa, pois somos oito filhos, incluindo Wagner, que não está mais entre nós, ele acabou comprando uma máquina de cortar cabelo. Quando íamos cortar cabelo, fazia aquela fila de meninos do nosso bairro, o Tungo e de outros bairros. Numa dessas vezes, a máquina não estava amolada e como esta corta de “arrepio”, ou seja, no sentido contrário do cabelo, todos reclamavam ou até choravam. Numa certa altura, Ribeirinho, ainda adolescente, que não estava cortando cabelo só criticava o comportamento daqueles que estavam na “cadeira da tortura”: — Êita, bando de menino frouxo!! Os populares que estavam por ali também ficavam “metendo fogo”: — Eu acho que Ribeirinho não vai chiar, ele é mais macho que essa turma todinha!!! Ele então decidiu se submeter à tortura. E ao começar o “corte de cabelo” e já sentido as primeiras dores, Ribeirinho não teve outra alternativa: segurou o que pôde e quando não suportava mais, disse: — Tio Agenor, eu não vou chorar, eu só digo ai!!!!! 23
Não sei como alguém tem coragem de pular daquí!
8. Não sei como alguém tem coragem de pular daquí! O pai de meu pai, meu avô, Pedro Almeida Júnior, soube que o seu filho Agenor Almeida estava pulando do galho mais alto de uma das fontes, como eram chamados os rios caudalosos de outrora de Mirinzal. Desconfiado da veracidade da informação, vovô Pedro foi até ao local costumeiro do banho recreativo, e ficou escondido, observando se a informação procedia ou não. Meu pai subiu na árvore e se posicionou no galho mais alto para efetuar o pulo. Antes de pular, porém, ele se deu conta da presença do vovô Pedro no local, e sem que ele percebesse, disfarçadamente, olhou para baixo e começou a descer, resmungando: — Eu não sei como alguém tem coragem de pular desta altura, deixa eu ver um galho mais baixo, e foi descendo: — Daqui, eu ainda não pulo também, e foi descendo: — Daqui também, ainda não. Quando estava perto da água, no galho mais baixo, ele disse: — Daqui, eu pulo! Vovô Pedro, percebendo a malandragem, esperou ele sair da água e deu-lhe uma pisa.
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Vitória, nós já temos, nós queremos mesmo é dinheiro pra campanha
9. Vitória, nós já temos, nós queremos mesmo é dinheiro pra campanha Mais uma campanha eleitoral acontecia e os candidatos a Deputado faziam reuniões com as lideranças. E nós sabemos como são as campanhas. Se não tiver minimamente algum recurso para as suas despesas básicas, a coisa não funciona e os resultados – os votos – não aparecem. Um dos candidatos sem ter ou sem querer investir dinheiro na campanha, pediu empenho, engajamento de todos e muita luta, para os resultados aparecerem e assim conseguirmos a VITÓRIA. Agenor Almeida, como bom mirinzalense que é, que não deixa “almoço pra janta” e sempre tem uma boa e pronta resposta, respondeu: — Candidato, VITÓRIA, nós já temos, que é a mãe de Rubem Amorim (que também estava no grupo de apoio ao candidato), o que nós queremos mesmo é dinheiro para fazer a campanha.
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Quem passou no sinal vermelhO foram vocĂŞs, pra vir aqui me atentar
10. Quem passou no sinal vermelho foram vocês, pra vir aqui me atentar Dirigindo o seu carro pela cidade de São Luís e desenvolvendo sempre baixa velocidade, Agenor Almeida ultrapassou um dos sinais, que no seu entendimento estava no “amarelo”. Logo depois que ele cruzou o sinal, uma viatura da polícia encostou ao lado do seu carro e o passageiro, um policial, pediu que ele encostasse o carro, no que foi atendido. Ele saltou e perguntou a Agenor Almeida se ele sabia que estava sendo multado, por ter avançado o sinal, no “vermelho”. Em resposta Agenor Almeida disse: eu passei no “amarelo”, quem passou no “vermelho” foram vocês, que passaram depois de mim e vieram aqui me atentar.
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Com a cara envergonhada, mas com a tripa aliviada
11. Com a cara envergonhada, mas com a tripa aliviada Mais uma campanha eleitoral acontecia e os candidatos a Deputado faziam reuniões com as lideranças. E nós sabemos como são as campanhas. Se não tiver minimamente algum recurso para as suas despesas básicas, a coisa não funciona e os resultados – os votos – não aparecem. Um dos candidatos sem ter ou sem querer investir dinheiro na campanha, pediu empenho, engajamento de todos e muita luta, para os resultados aparecerem e assim conseguirmos a VITÓRIA. Agenor Almeida, como bom mirinzalense que é, que não deixa “almoço pra janta” e sempre tem uma boa e pronta resposta, respondeu: — Candidato, VITÓRIA, nós já temos, que é a mãe de Rubem Amorim (que também estava no grupo de apoio ao candidato), o que nós queremos mesmo é dinheiro para fazer a campanha.
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Escassa era ela
12. Escassa era ela No período em que foi Prefeito de Mirinzal, Agenor Almeida, quando vinha a São Luís trazia consigo os Secretários ou seus representantes, para a peregrinação pelas Secretarias Estaduais em busca de recursos e/ou materiais diversos para dar vazão às diversas demandas do município. Numa dessas viagens, veio a Secretária de Educação que conseguiu levar muitos itens para Mirinzal. Diante da quantidade e diversidade de materiais conseguidos, a Secretária disse ao Prefeito que a Prefeitura não precisaria comprar por muito tempo os diversos materiais necessários ao bom andamento das ações. Não demorou muito tempo, a Secretária foi despachar com o Prefeito e falou da necessidade de comprar alguns itens, entre os quais, escarcela, necessária para a realização de um grande evento no município. O Prefeito sem entender, perguntou-lhe: — Mãezinha (forma usual ao tratar com as mulheres), tu estás me pedindo escarcela? Tu não pediste esse item lá em São Luís para a Secretária, sabendo que teria esse evento? — Prefeito, eu até pedi, mas ela não me deu. Agenor Almeida não perdeu tempo e disse: — Então, escassa é ela, referindo-se à Secretária de Educação do Estado, da época.
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Pedro, por que tu não chegou mais “cedo”
13. Pedro, por que tu não chegou mais “cedo” Uma coisa que o saudoso Agenor Almeida gostava era de dar carona. Numa das centenas de viagens para Mirinzal, pelo Cujupe, ele já saía de São Luís com a lotação do carro completa. Era muito comum os viajantes da Baixada ficarem preocupados com a travessia da Baía de São Marcos, sobretudo, quando não dispunham de passagem de ônibus, ou porque não tinha mais lugares disponíveis ou por uma “aventura econômica”, faziam a viagem de ferry-boat até o Cujupe ou mais remotamente de barco ou lancha. Nos tempos em que o Porto ou desembarcadouro era no Itaúna, “arriscavam” uma carona do outro lado. Foi o que aconteceu com um amigo de Agenor Almeida, de nome Pedro Macêdo. Este ao descer do ferry-boat olhou seu amigo e não conteve a emoção: — Seu Agenor, ainda bem que o encontrei, pois eu tô sem a grana pra ir pra Mirinzal e não tem mais nenhum transporte pra lá. Com o carro lotado, mas sempre com o sentimento de solidariedade, Agenor Almeida dirigiu-se aos passageiros da seguinte forma: — Pessoal, nós não vamos deixar um conterrâneo, vamos ter que fazer uma nova arrumação do carro. Em meio à dificuldade, mas com o desejo de servir, teve que dizer das suas: — Pedro, vai ser difícil, mas por que tu não chegou mais cedo? 35
Eu nĂŁo consigo me livrar de ti
14. Eu não consigo me livrar de ti Agenor Almeida sempre teve uma memória privilegiada, característica importante de um político longevo. Ao visitar a comunidade de Santana, em Mirinzal, deparou com um senhor falante e proprietário de um Engenho, que atendia pelo nome de Zé Livrade. Ambos começaram a conversar, com a assistência de populares do lugar, sobre assuntos variados, até que veio o convite para caminharem juntos na próxima eleição. Zé Livrado, talvez com a intenção de “testar” Agenor Almeida e, consequentemente, de deixá-lo em situação difícil, diante de várias testemunhas, disse: — Agenor tu estás falando comigo, mas não sabe nem meu nome. Sem perder tempo, Agenor Almeida, atalhou o seu “oponente”: Zé, eu não consigo me livrar de ti.
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Mas tu trouxe logo o cupim?
15. Mas tu trouxe logo o cupim? Um rapaz se apresentou na porta do comércio de Agenor Almeida, denominado “Casa Iadine Almeida”, com matriz no bairro Tungo e filial na “Beirada”, antiga denominação do Centro de Mirinzal e ofereceu ao mesmo algumas dúzias de tábua. Agenor Almeida, perguntou ao vendedor: — Essas tábuas são de qual madeira, meu filho? O vendedor, respondeu: — São de Urucurana, Seu Agenor. Sem pestanejar, Agenor Almeida, disse, do alto de sua experiência e conhecimento da matéria: — Mas tu trouxe logo o cupim, meu filho (numa referência à madeira, que era muito frágil e de qualidade inferior)?!!!
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Na verdade doutor, ĂŠ de se divertir com o litro
16. Na verdade doutor, é de se divertir com o litro Marinaldo era um morador do bairro Tungo e muito chegado a uma cachaça. Em uma visita ao hospital de Mirinzal, ele na companhia de Dr. Valter, médico da época, de muito bom conceito, foi visitando leito por leito e deparou com Marinaldo em um deles. Agenor Almeida cumprimentou Marinaldo e fez a seguinte pergunta ao médico: — Doutor, o que tem o Marinaldo? Dr. Valter, respondeu: — Seu Agenor, ele está com Diverticulite. Agenor Almeida, com a presença de espírito que lhe era peculiar, disse: — Doutor, eu não sei se é Diverticulite, mas eu acho que é de se divertir com litro, numa referência ao gosto diário que ele tinha em ingerir bebida alcoólica, sobretudo, cachaça.
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Por que tu nĂŁo cospe, neta?
17. Por que tu não cospe, Neta? Uma outra coisa que dava prazer para Agenor Almeida, era passear com os netos e netas. Numa dessas voltas, levou as netas Rayssa, Talyssa e Naélia. Esta última, que estava próxima de alcançar a maior idade, já fazia planos para aprender a dirigir e “tirar” sua habilitação, ao perceber que seu avô havia emparelhado o seu carro ao de uma autoescola, disse: — Pôxa vô, quando eu vejo esse carro me dá “água na boca”!!! — Por que tu não cospe, Neta?
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Pra ler essa letra, sรณ se botar de molho!
18. Pra ler essa letra, só se botar de molho! Ao requerer uma Certidão em um Cartório, Agenor Almeida disse ao serventuário que tinha uma certa pressa em recebê-la. O rapaz disse para ele pagar a taxa e aguardar, pois iria providenciar o documento. Naquele tempo a informatização ainda não havia chegado. Na presença do requerente, o serventuário começou a redigir a Certidão. Quando, Agenor Almeida observou a letra muito pequena, dificultando a leitura, disse: — Meu filho, do jeito que tu estás escrevendo, para ler essa letra, só se botar de molho, pois vai inchar e aumentar!
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Entรฃo, tu sรณ ajudou. Botou um em cima e o outro embaixo
19. Então, tu só ajudou. Botou um em cima e o outro embaixo A casa de Agenor Almeida, em São Luís, era como a casa de grande parte dos políticos do interior. Normalmente, acomodava pessoas que vinham à capital pelas mais variadas razões. Era uma casa de sobrado, situada na Rua Armando Vieira, no Apeadouro, onde moravam além dos filhos, uma adolescente que era “criada” pela família, que viera estudar e ajudar no serviço da casa. Dentre as pessoas que vinham do interior e costumavam se hospedar na casa, tinha um rapaz com fama de ser “pegador”. Agenor Almeida, com malícia e experiência, recomendou que colocasse o rapaz para dormir num quarto distante do quarto da adolescente, e por isso, minha mãe, D. Iadine o taxou de maldoso. Feitas as recomendações, Agenor Almeida desligou-se do “problema”. O rapaz ainda permaneceu por mais alguns dias e retornou para Mirinzal. Depois de um certo tempo, correu o boato que o dito rapaz havia “dormido” com a adolescente. Ao tomar conhecimento, Agenor Almeida perguntou para D. Iadine o que ela tinha decidido em relação ao que ele recomendara, durante o tempo que o rapaz permanecera na casa. Ela disse: — Coloquei um para dormir em cima e o outro para dormir embaixo. — Então, tu só ajudou, botando um em cima e o outro embaixo, concluiu. 47
Bota em cima da mesa que eu te ajudo a arrumar!
20. Bota em cima da mesa que eu te ajudo a arrumar! Agenor Almeida foi chamado por sua esposa, D. Iadine, porque estava lá um rapaz que queria falar com ele. Ao chegar na sala, ele deparou com o rapaz que o aguardava pacientemente sentado e que ao notar a sua presença disse-lhe: — Seu Agenor, eu quero falar com o senhor. — Você já está falando. Em que posso ajudá-lo? O rapaz meio deslocado, disse o seguinte: — Eu vim aqui pro senhor arrumar um dinheiro. Sem perder o bom humor, Agenor Almeida falou: — Bota o dinheiro, aqui, em cima da mesa, que eu te ajudo a arrumar.
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Embaúba é remédio pra preguiçoso que não quer trabalhar
21. Embaúba é remédio pra preguiçoso que não quer trabalhar Um rapaz aparentando estar gozando de boa saúde e com fama de preguiçoso abordou Agenor Almeida e pediulhe dinheiro para comprar remédio. Ele disse ao rapaz que passasse mais tarde em sua casa. Quando o rapaz chegou, Agenor Almeida entregoulhe uma folha de embaúba – alimento predileto do bichopreguiça. Sem entender o que estava acontecendo, ele perguntou-lhe para que era aquilo. — Esta embaúba é remédio pra preguiçoso que não quer trabalhar, respondeu-lhe.
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Mas eu nĂŁo tĂ´ aplaudindo ele!
22. Mas eu não tô aplaudindo ele! Agenor Almeida, dentre os inúmeros compadres, teve um que se chamava Plaudino. Plaudino tinha um Jeep, que, volta e meia, apresentava um problema mecânico, e ele recorria sempre ao seu compadre Agenor, porque ele tinha um veículo da mesma marca. Tendo estado na casa de Agenor, na parte da manhã, para conseguir uma peça, imaginava-se que iria retornar somente alguns dias depois. Ocorre que um outro compadre seu, que conversava com ele, na tarde do mesmo dia, disse: — Compadre, o senhor nem sabe quem está vindo ali. — Quem compadre? — Plaudino. — Mas eu não tô aplaudindo ele.
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nunca mais eu como ovo
23. Nunca mais eu como ovo Agenor Almeida numa tentativa em vão de convencer o amigo Marinaldo a deixar de beber cachaça, colocou um ovo dentro de um copo da bebida e pediu que ele acompanhasse a reação que iria acontecer. Após alguns minutos, o ovo foi ficando roxo, e Agenor Almeida reforçou que aconteceria o mesmo dentro do seu estômago e fígado. Marinaldo observou atentamente a reação e chegou a seguinte conclusão. — Seu Agenor, nunca mais eu como ovo, disse gaguejando.
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Como ĂŠ que eu vou provar, se tu comeu tudinho!
24. Como é que eu vou provar, se tu comeu tudinho! Na repartição da herança deixada por Pedro Almeida Júnior, pai de Agenor Almeida e demais irmãos, seu irmão Tonó sempre se auto taxava de injustiçado, pois desconfiava que alguém havia ficado com a sua parte e pagaria por isso. Alguém dissera para ele, sem nenhuma prova, que tinha sido Agenor Almeida. Ao ficar sabendo que Tonó andava fazendo tal comentário aos quatro cantos da cidade, mandou chamá-lo. E quando Tonó chegou, foi logo lhe perguntando: — Meu irmão, eu fiquei sabendo que tu andas espalhando por toda a cidade que eu fiquei com tua parte da herança. Tu provas? Tu provas? — Como é que eu vou provar, se tu comeu tudinho?
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Tu vai é com chocho, não é com dison
25. Tu vai é com Chocho, não é com Dison No período em que foi Prefeito de Mirinzal, Agenor Almeida tinha dois motoristas da sua confiança que dirigiam caçambas: um chamava-se Dison e o outro Chocho. Numa das viagens para os povoados, a quantidade de pessoas que aguardava era muito grande e dificilmente caberia em apenas uma única caçamba. Só que a caçamba dirigida por Dison estava atendendo a uma outra demanda e restava apenas a de Chocho. As pessoas começaram a subir na caçamba que já estava aparentemente lotada. Um passageiro ao perceber que não daria para ele ir, foi ao encontro de Agenor Almeida e reclamou: — Seu Agenor, desse jeito não tem condição. — Eu não já te disse que tu vais é com Chocho, não é com Dison, respondeu, prontamente.
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FOI DE AMOR OU FOI DE ÓDIO, MINHA FILHA?
26. Foi de amor ou foi de ódio, minha filha? Numa das idas ao hospital de Mirinzal, Agenor Almeida encontrou uma mulher cheia de hematoma no rosto e no restante do corpo. Questionada sobre o acontecido e se ela havia feito um BO, na Delegacia, ela lhe respondeu que ainda não havia tomado as devidas providências, mas que nos próximos dias isto poderia acontecer. E quanto ao autor da agressão, Agenor Almeida perguntou: — Mãezinha, quem fez isso contigo foi teu marido. Quem é ele? — É De Amor, Seu Agenor! Mesmo sem entender exatamente o que havia acontecido, ele respondeu: — Foi de Amor ou foi de Ódio, minha filha!?
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Então dê uma caçamba pra ele. Ele não tem água!
27. Então dê uma caçamba pra ele. Ele não tem água! Esta aqui também é do período em que ele foi Prefeito de Mirinzal. Todos sabem as dificuldades financeiras pelas quais as prefeituras passam e esta situação se complica ainda mais nas de pequeno porte, como é o caso de Mirinzal. Solução: vir com “pires na mão”, até a capital do Estado e a Brasília, na busca incessante por recursos. E Agenor Almeida fazia muito bem esse trabalho, através de uma boa articulação política. Buscou junto ao Governo Federal recurso para amenizar o sofrimento das comunidades mais afastadas da Sede do município. A “distribuição” de Pipas, para serem colocadas em cima de caminhões, era acompanhada de um recurso para pagamento de diárias dos trabalhadores que preparavam os açudes para acondicionar a água no período invernoso, para serem utilizadas no período seco. Uma boa estratégia para amenizar o sofrimento de muitas famílias, sem sombra de dúvidas. O recurso era do Governo Federal, mas supervisionado pela Secretaria do Interior do Maranhão. Agenor Almeida tomou conhecimento que uma nova etapa dos recursos ia chegar e retornou à Secretaria. Como eram muitos os Prefeitos presentes, o Secretário resolveu fazer uma reunião conjunta. O Secretário começou dizendo que a prioridade era as prefeituras que ainda não haviam sido contempladas. “Um dos Prefeitos presentes, querendo livrar-se dos concorrentes pediu a palavra e disse: Sr. Secretário, o Prefeito Agenor, de Mirinzal, já recebeu uma Pipa e nem era pra ter recebido, pois em Mirinzal tem muita água”. Temendo não alcançar o seu objetivo de conseguir mais uma, Agenor Almeida disse: — Secretário, eu não sei qual é o município do Prefeito que disse que no meu município tem água. Mas é porque tem água, que eu estou pedindo uma Pipa. Agora, se no município dele não tem água, ele está pedindo no lugar errado, pois deveria pedir uma caçamba. 63
E esta aqui, em que terreno ia parar?
28. E esta aqui, em que terreno ia parar? Esta aconteceu na primeira casa onde Agenor Almeida morou com a sua família, quando chegou a São Luís, no ano de 1973. Ficava no bairro Jordoa, mais precisamente, Conjunto Caiçara, Casa 8. Estávamos jantando na copa, quando eu, ainda adolescente e sem maldade alguma, confesso, vi uma osga no alto da parede e não me contive: — Eita meu pai, se aquela osga pular dali, ela vai cair certinho neste terreno, apontando para a sua careca, que àquela altura, já estava bem definida. Sem perder tempo, Nôca disse: — E esta aqui, em qual terreno vai parar? Mostrando a palma da mão levantada. Escapei de uma boa surra.
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Anda por onde tu andar, mas nĂŁo esquece de mundinho
29. Anda por onde tu andar, mas não esquece de mundinho Esta pérola vem do tempo em que meu pai era Representante Comercial. Diga-se de passagem, um excelente vendedor, premiado nacionalmente. Ele sempre dizia com orgulho, que havia criado uma numerosa família, dando condições para que todos pudessem se encaminhar bem na vida. Estava ele com um amigo, também representante, conversando amenidades e fazendo a digestão na porta do hotel de uma cidade qualquer. Falavam da saudade da família e do duro trabalho, pois vender depende, sobretudo, do poder de persuasão e convencimento do vendedor, quando não se tem um produto não muito competitivo. No entanto, se você tem um produto bom, tudo fica mais fácil. Mas voltando à conversa entre os dois, o amigo pediu a palavra e disse: — Agenor, mas tem o lado bom dessa profissão. Fazemos muitas amizades, nos divertimos quando sobra um tempinho e aí a gente esquece até do mundo! Só que, Agenor Almeida sabia que esse colega devia um dinheiro para seu irmão Mundinho Almeida, que morava na cidade de Pinheiro, há muitos anos e evitava ir ao município, em razão dessa dívida. E Mundinho Almeida sempre pedia ao irmão Agenor para lembrá-lo desse débito, quando o encontrasse. Então, Agenor Almeida arrematou a conversa da seguinte forma: — Anda por onde tu andar, mas não te esquece de Mundinho, meu irmão!! O colega constrangido, então disse: — Agenor, eu tenho esse débito com ele, mas vou pagar, meu irmão.
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Mas tu estava empaneirado
30. Mas tu estava empaneirado Agenor Almeida gostava muito de crianças e sempre foi ídolo da garotada. Não por acaso, nas suas campanhas eleitorais as crianças sempre estavam por perto e tornaram-se símbolos delas. O Dia das Crianças era sempre uma festa! Na porta da sua casa de Mirinzal, no bairro do Tungo, estava sempre cheia de crianças. Numa dessas vezes, Agenor estava sentado na porta e viu um menino lourinho, que se destacava, na brincadeira com os demais, predominantemente moreninhos, queimados pelo sol. Agenor Almeida se aproximou dele e perguntou: — Como é teu nome, meu filho? — Meu nome é Cláudio, mas sou conhecido como “Loida”. — Tu és filho de quem? — De “Farinha Velha”, siô. — Então está explicado. Ele não o conhecia, porque esse tempo todo “ele estava empaneirado”, numa referência ao seu pai, que tinha o apelido de “Farinha Velha” e nome de batismo João Fernandes. Detalhe: a farinha no interior tem como forma clássica de acondicionamento, o paneiro. Garante a qualidade do produto por mais tempo.
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Bicicleta empenada. Entรฃo tรก bom, porque tu vais voando!
31. Bicicleta empenada. Então tá bom, porque tu vais voando! Nos momentos de dificuldades de toda ordem, Agenor Almeida sempre foi um ponto de apoio para seus amigos. Certo dia, um rapaz foi até a sua casa e pediu-lhe uma calha de bicicleta. Agenor perguntou: — O que aconteceu com a tua calha, se tu estás andando normalmente na tua bicicleta? — Não, Seu Agenor, estou andando nela, porque não tem outro jeito. Eu tô querendo trocar, porque a calha está empenada. Agenor não perdendo a oportunidade de brincar com o rapaz, disse: — Meu filho, então agora a coisa ficou melhor. Se a calha está empenada, tu vai, agora, é voando.
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Ave mari iรก, ave mari iรก
32. Ave Mari Iá, Ave Mari Iá Agenor Almeida enquanto vida teve foi católico. Um dia, quando participava de uma conversa entre amigos, começaram a discutir sobre religião. O bom manual determina que religião, política e futebol não devem ser discutidos, pois é muito difícil ou diria, impossível o consenso. A conversa tomava o rumo que todos já sabem, seguindo o protocolo: discussão, acirramento e até as vias de fato, raro de acontecer, mas acontece. Percebendo o clima carregado, Agenor Almeida interveio da seguinte forma, para amenizar a situação: - Pessoal, um minuto da atenção de vocês. Todos nós temos o nosso ponto de vista em relação à religião e à igreja. Já faz algum tempo que não vou à missa, mas quando cantam a música da minha esposa Iadine, eu fico muito contente. O momento de tensão foi se dissipando e um dos presentes, perguntou: — E qual é a música, Seu Agenor? Sem perder tempo, ele cantou assim: — AVE MARI IÁ, AVE MARI IÁ, MÃE DE JESUS!, numa referência à forma como se dirigia carinhosamente à sua esposa Iadine: Iá.
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Eu tambĂŠm estou sentindo falta de iĂĄ
33. Eu também estou sentindo falta de Iá Uma servidora da Prefeitura de Mirinzal chegou ao gabinete do então Prefeito Municipal, Agenor Almeida, para tratar um assunto de saúde. Ela começou dizendo que estava muito doente, já há algum tempo e que a coisa estava piorando a cada dia e que se ela não se tratasse, já estava pensando no pior. Agenor ouviu pacientemente a servidora e perguntou: — Tu queres tirar uma licença médica? — Não, meu velho, eu quero apenas uns dias pra ir a São Luís fazer umas consultas e não demoro, pois o que está me matando é esta “falta de A”. Deixa que a esposa do Prefeito Agenor, D. Iadine, estava viajando e ele acompanhou o raciocínio dela, dizendo: — Ah, milha filha, Iadine está viajando e eu também estou sentindo uma “falta de Iá”.
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Minha filha evita de vir aquĂ!
34. Minha filha evita de vir aquí! Com a proximidade de quaisquer das eleições, é natural a visita cada vez mais frequente dos eleitores. No entanto, tem aqueles que, em razão de morarem no mesmo bairro ou em bairros próximos são mais frequentes. Esse era o caso de Vita, pessoa muito querida por Agenor Almeida. Ao começar o atendimento diário, volta e meia Vita aparecia com alguma demanda, inclusive, tirando a oportunidade de atendimento de outras pessoas. Tal fato começou a chamar a atenção das pessoas que aguardavam a sua vez, pois Vita normalmente furava a fila. E a notícia correu rápido. No dia seguinte, ao começar o atendimento uma pessoa estava reclamando com Agenor sobre o comportamento de Vita. Coincidência ou não, a dita cuja foi entrando na sala, mais uma vez furando a fila. Antes mesmo de ela falar alguma coisa, Agenor saiu com esta: — Vita, evita vir aqui, pelo menos por uns dias!
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Eu te dou, mas ĂŠ uma chinelada!
35. Eu te dou, mas é uma chinelada! Tornou-se cultural nos municípios brasileiros, sobretudo nos menores, onde há uma relação mais próxima entre candidato e eleitor, este condicionar o voto a alguma conquista material. A quantidade e a qualidade dessa conquista variam de eleitor para eleitor. O conhecimento, a relação de amizade, o compadrio e a importância no contexto da época, são determinantes. Uma determinada eleitora condicionou o seu voto ao atendimento de um pedido feito a Agenor Almeida. Um pedido mais ou menos oneroso, que fugia da média. Agenor Almeida marcou com ela o dia para ela vir buscar o que havia pedido. Quando as visitas dos eleitores à casa dos adversários são comentadas, inevitavelmente, tira a credibilidade e a confiança do voto. Foi o que aconteceu com essa eleitora. Ao frequentar a casa do adversário, tendo já firmado um compromisso com Agenor, fragilizou a relação entre ambos. No mínimo, era um voto duvidoso, pois a notícia que “corria” é que ela já havia se comprometido com o adversário. Mesmo assim, ela foi até a casa de Agenor, no dia e hora marcados. Quando Agenor, disse a ela que sabia que ela já estava comprometida com o candidato adversário e com seus vereadores, ela desconversou e ficou sem jeito, como se diz popularmente. Ao perceber que tinha perdido a oportunidade de conquistar o que havia pedido, disse: — Então, pelo menos me dá uma “ordem”, pra eu pegar um chinelo novo, pra eu votar. — Eu te dou, mas é uma chinelada. 79
Mãe chiquita, a senhora não está atrás de mim, a senhora está aqui na minha frente
36. Mãe Chiquita, a senhora não está atrás de mim, a senhora está aqui na minha frente A madrasta de Agenor Almeida, a quem ele chamava de Mãe Chiquita, depois de muito procurar por ele, finalmente o encontrou. — Mas, Agenor, eu estou a um tempão atrás de ti. Por onde tu andavas? Sem perder tempo, Agenor assim respondeu: — Mãe Chiquita, a Senhora não está atrás de mim, a Senhora está aqui na minha frente.
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O plano ĂŠ atravessar a rua e depositar na minha conta
37. O plano é atravessar a rua e depositar na minha conta O comerciante Aderaldo Santos, conhecido por Seu Dé, que também não está mais entre nós, negociava com Agenor Almeida, no transporte de mercadorias no atacado. As mercadorias eram adquiridas a um custo abaixo do mercado, mas o pagamento tinha que ser à vista. Seu Dé estava recebendo uma carrada de cimento, que vinha sendo transportada pelo caminhão de Agenor, quando o telefone tocou. — E o cimento já chegou? — Sim, Barão! – era como Seu Dé se dirigia às pessoas. E agora, Barão, qual é o plano? — O plano é tu atravessar a rua, entrar no banco e depositar na minha conta, agora! (Como o pagamento era à vista e Seu Dé morava em frente a agência do então Banco do Estado do Maranhão, essa foi a solução dada por Agenor Almeida para solucionar o caso).
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A ajuda que eu vou dar pra vocês, é seguir nesta direção
38. A ajuda que eu vou dar pra vocês, é seguir nesta direção Como já foi dito aqui, em um Causo anterior, a “garagem” da Prefeitura de Mirinzal era embaixo da mangueira, situada na frente da casa de Agenor, no bairro do Tungo. Os carros ali parados representavam uma tentação para aqueles que queriam se deslocar para povoados e outros municípios, e tornou-se muito comum Agenor Almeida fomentar essa ação social. Um time de futebol de adolescentes se apresentou na casa de Agenor Almeida, e o responsável pelo time, disse: — Seu Agenor, nós viemos aqui pro senhor dar uma ajuda para gente ir pra Cedral, jogar. A ajuda era o transporte, claro! Mas, antes de liberar o transporte, Agenor Almeida, brincou com a turma, dizendo: — A ajuda que eu vou dar pra vocês é ensinar o caminho. Cedral fica nesta direção, apontando com o dedo indicador.
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Mas tu não parou, né natão!?
39. Mas tu não parou, né Natão!? Depois de receber alta hospitalar, curado de uma Pancreatite, Agenor Almeida ficou mais caseiro. Além de ter que tomar remédios na hora certa, ele praticamente substituiu a água comum por água de coco, que ele mantinha na geladeira da sala onde assistia televisão, no andar de cima do sobrado onde morava, na Rua Armando Vieira, Apeadouro, em São Luís. Retornando de uma viagem a Mirinzal, onde era Prefeito, fui diretamente fazer uma visita para meu pai. O motorista da prefeitura era Nonato Costa, conhecido por Nonato Gordo, a quem meu pai chamava de Natão. Ao chegarmos em casa, logo depois de cumprimentar meu pai, Nonato Gordo foi a geladeira tomar água. Sem saber o conteúdo, encheu um copo grande. Tomou o copo todinho e no final, disse: — Eita, Nôca, era água de coco! — Mas tu não parou, né Natão!? — respondeu na bucha.
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Mas quando “ela” chegar o senhor me avisa, meu compadre. “ela” quem? Necessidade!
40. Mas quando “ela” chegar o senhor me avisa, meu compadre. “Ela” quem? Necessidade! Por ser muito fiel aos seus amigos e às centenas de compadres que tinha, uma coisa que Agenor de Almeida não abria mão era cobrar reciprocidade e consideração. Um desses compadres em que ele botava muita fé falhou com ele, mas não deixou de ser repreendido. Agenor Almeida pediu a ele que estivesse num determinado horário para fazer a ele um grande favor. O compadre compareceu, mas somente no dia seguinte. Não tendo outra opção, senão, “agradecer” ao amigo, ele disse assim: — Compadre, eu precisei do senhor e não fui servido, mas quando “ela” chegar o Senhor me avisa. Sem entender nada, o compadre perguntou-lhe: — Ela quem? — A necessidade, meu compadre. Referia-se ao fato deste compadre sempre recorrer a ele nos momentos em que estava necessitando de algo.
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A diferença é que neste olho tem remela e no outro não
41. A diferença é que neste olho tem remela e no outro não Agenor Almeida recebeu em seu comércio a visita de um compadre que ele não via já há algum tempo, apesar de morarem em Mirinzal. - Compadre, seja bem-vindo. Eu não o via há muito tempo. O Senhor estava pra onde? - Fui à capital fazer uns exames e acebei fazendo uma pequena cirurgia no olho. A conversa se prolongou e o compadre fez suas últimas considerações: — O certo é que os avanços da medicina estão muito grandes. Por exemplo, eu operei uma vista e não dá pra perceber nada, meu compadre. Não tem diferença nenhuma, de uma vista pra outra. Olha aqui, meu compadre — aproximando-se ainda mais de Agenor Almeida. — Diga, meu compadre, o Senhor nota alguma diferença deste olho pra este outro, depois dessa cirurgia que eu fiz? Agenor Almeida correndo o risco até de sacrificar a amizade com o compadre disse: — Tem sim, meu compadre. Este olho, — apontando pra um deles — tem remela e o outro não tem!
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Mãezinha, se tu que tá sabendo há muito tempo, não está preparada, imagina eu que estou sabendo agora!
42. Mãezinha, se tu que tá sabendo há muito tempo, não está preparada, imagina eu que estou sabendo agora! Estando no exercício do mandato de Prefeito Municipal ou não, a família de Agenor Almeida é procurada para solucionar os mais variados problemas. É sempre um ponto de apoio, para as pessoas mais necessitadas, a maioria da população de Mirinzal. Um desses pedidos chamou a atenção e merece registro. Uma menina gestante, aparentando entre 18 e 20 anos, um dia procurou Agenor Almeida. — Seu Agenor, eu vou ganhar um filho, no próximo mês, e não estou preparada. Por isso, eu vim aqui pro senhor me ajudar. Agenor Almeida, sem perder tempo, disse: — Mãezinha, se tu que tá sabendo há muito tempo, não está preparada, imagina eu que estou sabendo agora! Com certeza, ele a ajudou dentro de suas possibilidades no momento, mas ela não deixou de ouvir mais uma de suas “tiradas”.
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Uma ponta vai te machucar, meu filho!
43. Uma ponta vai te machucar, meu filho! Agenor Almeida contratou um trabalhador para cavar um poço e o acerto do valor do serviço ficou para o final. Depois de concluir o trabalho, para o qual havia sido contratado, o trabalhador foi tomar banho e aguardou a chegada do contratante, para fazerem o acerto. Agenor chegou e foi fazer a vistoria para verificar se tudo havia sido feito como ele recomendara. Feita a vistoria, ele perguntou ao trabalhador: — Quanto é o serviço? — Nôca, me dá só uma “ponta”. Agenor Almeida arrematou: — Não vou te dar uma “ponta”, porque vai te machucar, meu filho!
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Tu já ‘panhou”, mas foi dela!
44. Tu já ‘panhou”, mas foi dela! Agenor Almeida estava resolvendo algumas coisas no centro da cidade de São Luís e levou para ajudá-lo um sobrinho, que morava em sua casa. Mais um jovem trazido por ele, para a capital do Estado, para estudar e trabalhar. O sobrinho querendo mostrar para Agenor Almeida que era “bom de mulher”, ou seja, namorador, ao avistar uma determinada mulher, a cumprimentou e percebendo que a mesma havia sido receptiva ao seu cumprimento, disse pro tio: — Olha, Tio Agenor, essa aí eu já “panhei”, numa referência atual a “ficar”, “transar” ou coisa semelhante. Agenor Almeida percebendo a pouca convicção do sobrinho ao dar a informação, retrucou: — Tu já “apanhou”, mas foi dela!
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Então, deixa “nisso”!
45. Então, deixa “nisso”! No período em que foi Prefeito de Mirinzal, dois filhos o ajudavam lá no município: Henrique e Nilson. Enquanto estavam em casa, invariavelmente, surgiam demandas a serem resolvidas e os dois filhos, sem falar nas pessoas que trabalhavam na casa, eram, volta e meia, acionados. Numa dessas vezes, ele queria que o filho Nilson resolvesse uma determinada pendência e se danou a chamar: “Nilson, Nilson, Nilson!” Não obtendo êxito em seu intento, ele perguntou para um compadre seu, que estava em sua casa, naquele momento: — Compadre, o Senhor não viu Nilson? — Compadre Agenor, ele tá lá no quarto dele como uma mulher. Agenor Almeida, com a aparência de aprovação, disse: — Então, deixa “Nisso”.
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Nunca vi ninguém reclamar do calor balançando a calça
46. Nunca vi ninguém reclamar do calor balançando a calça Com a fama de excelente vendedor, Agenor Almeida, construiu um repertório fabuloso de situações, as mais variadas possíveis. Tem história para ser contada! Quando alguém queria enaltecer essa sua condição de vendedor, premiado nacionalmente sempre dizia: “Agenor é tão bom vendedor, que ele vende pano vermelho pra luto!”. Uma dessas situações hilárias merece ser destacada aconteceu quando ele percebeu em uma determinada visita a um cliente, que ao oferecer-lhe um determinado produto, ele foi logo falando: — Não, Seu Agenor, fica pra uma outra oportunidade. Após, Agenor ter insistido em mostrar a ele as novidades da fábrica de confecções, sem compromisso nenhum, o cliente aceitou. O primeiro desafio fora vencido. Apesar da má vontade em sequer olhar o produto, pelo menos topara olhar as novidades. Na sequência, o cliente começou a botar defeito nas peças, no tecido e aquela situação foi tirando um pouco a paciência e bom humor habituais no nosso vendedor. Por último, e já sabendo que o cliente estava decidido a não comprar, mesmo, Agenor mostrou-lhe uma calça, que era um dos itens mais vendidos. O cliente sem ter o que dizer, mas decidido a não comprar saiu com esta: — Seu Agenor essa calça é calorenta! Agenor, quase já sem paciência, arrematou: — Me desculpa, mas nunca vi ninguém reclamar do calor balançando a calça!!?? 101
... Melhoradinho!!!
47. ... Melhoradinho!!! Agenor Almeida tem um sobrinho de nome Joaquim Pedro Almeida Ribeiro, também conhecido por Ribeirinho que, inclusive, é o Prefaciador deste livro. O primeiro filho deste, José Yuri, deu-lhe o primeiro neto, chamado Álvaro, em homenagem ao Sr. Álvaro Peres, espôso de sua Tia Onofrina, com quem morou no Rio de Janeiro. Agenor sabia que Alvinho havia nascido, no entanto, não o conhecia. Numa reunião familiar ele viu o sobrinho Yuri carregando uma criança e foi logo perguntando: “Na Úra” – era como ele o chamava -, esse é o teu filho? Yuri respondeu: É, Tio Agenor!......Não é a minha cara? O velho Nôca, não perdeu tempo e disse: Melhoradinho!!!
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Então, chama aí um que não morde!!!
48. Então, chama aí um que não morde!!! Agenor Almeida, fez uma ligação telefônica para a casa de sua irmã Nerine, naqueles tempos em que não se falava em telefonia móvel. Ao atender do outro lado da linha, ele percebeu que não se tratava de seu sobrinho Ribeirinho ou outra pessoa que ele reconhecesse a voz. Vamos ao diálogo: Agenor, diz: Alô A pessoa do outro lado da linha, responde: Alô Agenor, diz: Quem está falando? A pessoa do outro lado da linha, em tom de brincadeira, responde: É O MORDOMO!!! Percebendo a brincadeira de mau gosto, no entendimento de Agenor, ele arremata: Meu filho, então, chama aí um que não morde!!!!
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NĂŁo estamos nem no perĂodo natalino, tu jĂĄ queres presente!?
49. Não estamos nem no período natalino, tu já queres presente!? Agenor Almeida, à época Prefeito de Mirinzal, conversava com amigos sobre vários assuntos. Entre esses amigos estava um prestador de serviços, que tinha contrato com diversas Prefeituras, que começou a reclamar da falta de pagamento de um Prefeito de nome Natalino. Dizia enfaticamente: Eu não sei como vou fazer pra receber o dinheiro de Natalino. O que eu faço, Agenor? Sem perder o bom humor, Agenor responde: Agora, nós não estamos nem no período natalino, tu já queres presente!?
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Seu agenor, ele socorreu a vítima? Dr. Ele só correu....
50. Seu Agenor, ele socorreu a vítima? Dr. ele só correu.... Agenor Almeida foi arrolado num processo, na condição de testemunha de um acidente de trânsito. Dada a impossibilidade de acordo, a parte que se achou prejudicada ingressou em juízo, na intenção de buscar ressarcimento do prejuízo. Na Sala de Audiência o Juiz, depois de fazer as advertências de praxe, perguntou: Seu Agenor, o Sr. presenciou o fato aqui descrito? Sim senhor, respondeu Agenor. O magistrado continua a fazer várias perguntas e Agenor ia respondendo, uma por uma, até que ele fez a seguinte pergunta: Seu Agenor, e ele socorreu a vítima? Agenor, “em cima da bucha”, responde: Dr., ele só correu......
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