NACIONAL DORPER
PÉ NA ESTRADA
PANORAMA
Evento movimenta a Fenagro 2016 em Salvador/BA
Mais de 20 mil km rodados em 6 estados brasileiros
Leiloeiras rurais avaliam os resultados de 2016 e projetam o futuro para 2017
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ANO XI • Nº 94 Fevereiro 2017
Projeção recorde de grãos traz expectativa de dias ainda melhores para o agronegócio brasileiro
PERFIL:
SILVIO DORIA
A história do homem que deixou a tradição familiar na caprinocultura e foi em busca de novos desafios na agricultura irrigada Caderno
€ 6,10
Exclusivo:
SAFRA 2016/17
R$ 12,90
Entrevista com o Ministro da Agricultura
Blairo Maggi
LÃ: Produção x Preço
Período de tosquia do rebanho gaúcho movimenta o mercado de lã, que busca equilíbrio entre câmbio, oferta e demanda
• Novo teste de Prenhez pode aumentar os lucros • Ultrassonografia como ferramenta para avaliação da Janeiro/Fevereiro | 2017 1 carcaça de ruminantes • Potencial de retorno econômico pelo uso de touros melhoradores em monta natural
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EDITORIAL
O agronegócio “salvou” o Brasil
O
que podemos esperar para 2017? No campo político, com certeza o ano ainda será de ajustes e indefinições. Na economia, o índice oficial da inflação fechado em 6,29% - abaixo do teto da meta fixada pelo Banco Central, que variava entre 4,5% e 6,5% - dá uma mostra de que dias melhores virão, embora o caminho ainda seja longo. Mas e no agronegócio, qual a perspectiva? A julgar pela previsão otimista da produção recorde de grãos para a Safra 2016/17, é possível dizer que, se em 2016 atuamos como protagonistas, em 2017 o dinamismo do setor rural deve mais uma vez impulsionar o País e “salvar” a balança comercial. De acordo com o terceiro levantamento da safra brasileira de grãos, realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira para a Safra 2016/17 é estimada em 213,1 milhões de toneladas, com crescimento de até 14,2% em relação à safra anterior. Mais uma vez o agronegócio deve ser o pilar que sustenta a economia brasileira. Veja detalhes em nossa matéria de capa. Outros números também mostram a relevância do setor para a economia nacional ao longo de todo o ano passado. De janeiro a outubro de 2016 o agronegócio respondeu por 40% das exportações brasileiras. E mais... O superávit no período somou US$ 38 bilhões. O PIB do setor cresceu 3,43% nos primeiros oito meses de 2016, em comparação com o mesmo período de 2015. Tais indicadores são, sem dúvida, um alento para quem depende de uma economia sólida para tocar o negócio de compra e venda de animais. É o caso das principais leiloeiras do País, que por conta da safra menor e também por problemas relacionados ao clima, política e economia, amargaram em 2016 uma queda no faturamento, mesmo vendo aumentar o índice de liquidez nos remates. Sobre esse tema, trazemos para esta edição um balanço do setor em 2016 e a projeção para 2017. Ainda nesta edição, contamos também a história do produtor Silvio Doria, uma referência da caprinocultura nacional que deixou a atividade familiar de quase 140 anos para se dedicar à agricultura irrigada na região do Vale do São Francisco, na Bahia. Aliás, dados divulgados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram que a produção estimada de frutas para 2017 é de aproximadamente 44 milhões de toneladas! Falando em boas notícias... começamos mais uma temporada do nosso Pé na Estrada - Amarok. Em 2016 nossa equipe rodou mais de 20 mil quilômetros (só de estrada, sem contar as viagens de avião), visitando exposições e criadores em seis estados brasileiros. Este ano, a bordo de nossa nova Amarok 2017, certamente vamos viver – e contar, muitas boas histórias. Nos vemos por esse Brasil afora! facebook.com/revistacabraeovelha youtube.com.br/revistacabraeovelha twitter.com/cabraeovelha
Denis Deli Editor
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ASSOCIAÇÕES
POLÊMICA NO PARQUE DA ÁGUA BRANCA
LÃ
TEMPORADA DE TOSQUIA NO RIO GRANDE DO SUL CONTRAPÕE PREÇO E PRODUÇÃO
NOTA - CORDEIRO PAULISTA 2016
ASPACO DIVULGA RESULTADO FINAL DO CAMPEONATO
CAPA
PROJEÇÃO RECORDE PARA A PRODUÇÃO DE GRÃOS NA SAFRA 2016/17 TRAZ EXPECTATIVA DE DIAS AINDA MELHORES PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
NOSSA GENTE
PIRACICABANO: A VOZ QUE DÁ VIDA E EMOÇÃO À LOCUÇÃO DE RODEIOS
ENTREVISTA BLAIRO MAGGI
CONVERSAMOS COM O MINISTRO DA AGRICULTURA, SOBRE TRÊS AÇÕES PRIMORDIAIS DE SEU MANDATO PARA ALAVANCAR AINDA MAIS O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
NORDESTE
ESTUDOS DA EMPARN LEVAM ESPERANÇA AO PRODUTOR RURAL DO SEMIÁRIDO NORDESTINO
PÉ NA ESTRADA
MAIS DE 20 MIL KM RODADOS EM 6 ESTADOS BRASILEIROS
LEITE
RANCHO IVAMA: TRADIÇÃO FAMILIAR NA PRODUÇÃO DE LEITE E QUEIJOS FINOS
PANORAMA
LEILOEIRAS RURAIS AVALIAM OS RESULTADOS DO MERCADO EM 2016 E PROJETAM O FUTURO PARA 2017
PERFIL – SILVIO DORIA
O HOMEM QUE DEIXOU A TRADIÇÃO FAMILIAR NA CAPRINOCULTURA E FOI EM BUSCA DE NOVOS DESAFIOS NA AGRICULTURA IRRIGADA
EVENTO - 29ª FENAGRO
NACIONAL DORPER E WHITE DORPER: O CHÃO TREMEU EM SALVADOR
TRANSPORTE
EXPECTATIVAS POSITIVAS PARA O AGRONEGÓCIO EM 2017
GASTRONOMIA
PERNIL DE CORDEIRO COZIDO LENTAMENTE EM VINHO TINTO
CADERNO TÉCNICO & CIENTÍFICO
NOVO TESTE DE PRENHEZ PODE AUMENTAR OS LUCROS • ULTRASSONOGRAFIA COMO FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DA CARCAÇA DE RUMINANTES • POTENCIAL DE RETORNO ECONÔMICO PELO USO DE TOUROS MELHORADORES EM MONTA NATURAL
ASSOCIAÇÕES
por Régis Nascimento Fotos: Régis Nascimento e Divulgação
Polêmica no Parque da Água Branca Governo de São Paulo anuncia reajuste do aluguel e associações agrícolas reagem pedindo diálogo
Além da relevância para o setor agropecuário do Estado, o parque é também espaço de lazer dos paulistanos
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O
Parque Dr. Fernando Costa, conhecido dos paulistanos como Parque da Água Branca, além de ponto turístico da capital paulista, sempre foi um importante símbolo da agropecuária no Estado de São Paulo. Em seus mais de 136 mil m² de área, funcionam as sedes de importantes associações de criadores de raças equinas, bovinas, caprinas, entre outros. No último dia 15 de outubro, o Governo do Estado, por meio da Secretaria do Meio Ambiente (SMA), publicou no Diário Oficial do Estado (DOE) a Resolução SMA 82, que trata do aumento no aluguel cobrado das associações, provocando reações das entidades e fazendo com que antigas queixas se tornassem públicas. À época, a diretriz publicada no Diário Oficial do Estado estabelecia que o uso de áreas do parque por associações e outras entidades só seria permitido mediante o pagamento de preço público de “2 UFESP” (Duas Unidades Fiscais do Estado de São Paulo) por m². O preço estabelecido para a última UFESP divulgada pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz/SP), abrangendo o período de 01/01/2016 a 31/12/2016, havia sido fixado em R$ 23,55, o que
atualiza o aluguel para R$ 47,10 por m². Em relação a 2015, quando o valor da UFESP era de R$ 21,25, o percentual de aumento foi de 10,82%. A partir da publicação no DOE, a medida passaria a valer em 45 dias. As associações ainda teriam outro prazo de 30 dias para manifestar-se, por escrito, sobre o interesse em continuar ocupando ou não as instalações do parque. A continuidade ficaria condicionada à quitação de possíveis débitos existentes. No documento havia uma especificação de que, em caso da não manifestação de interesse ou a não quitação das dívidas, os permissionários teriam prazo de 30 dias para desocupar o local.
Falta de diálogo A medida pegou de surpresa as associações, que passaram a questionar não apenas o aumento dos valores, mas
Romeu Tuma Jr.
O que as entidades oferecem como contrapartida é a promoção de eventos, voltando a realizar exposições e fazer as devidas melhorias como forma de substituir o valor desse aluguel também a forma como a decisão foi tomada. Por conta disso o advogado Romeu Tuma Jr., que já foi deputado estadual em São Paulo, secretário nacional de Justiça durante o governo Lula e já exerceu diversas funções administrativas na Assembleia Legislativa Paulista, aceitou a incumbência de ser o interlocutor oficial dos permissionários junto ao governo estadual. Segundo Tuma Jr., a raiz dos problemas entre os permissionários e o governo vem da falta de diálogo, algo deixado como herança pela
administração anterior. “Várias vezes as associações tentaram conversar visando até projetos e parcerias com o governo do Estado, mas nunca tiveram um ponto focal para discutir modelos de eventos ou mesmo melhorias para o parque”, afirmou. Tuma Jr. disse ainda que as entidades reclamam da forma como vem sendo tratado o reajuste nos valores do aluguel. “A questão financeira é outra reclamação porque antes se tinha uma forma de reajuste nos valores cobrados pelo termo de permissão de uso, que nunca havia sido implementado. Só que agora veio um aumento que todos entendemos que está acima do que havia sido estipulado no termo. Além do mais, este novo valor, para muitos, é impraticável. Então o que estamos buscando junto à secretaria é que se chegue a um termo de reajuste que seja justo e que dê a todos condições reais para pagar”, disse ele. O advogado lembrou que as entidades não questionam a cobrança em si, mas sim a forma como ela tem sido feita. Ressaltou também que as associações fazem um importante trabalho de registro genealógico dos animais,
Unidade Fiscal do Estado de São Paulo (UFESP) A Unidade Fiscal do Estado de São Paulo (UFESP) é utilizada para atualização de contratos (fechados para prestação de serviços com empresas privadas) e tributos Estaduais. Ela é definida e atualizada anualmente segundo a variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) da Universidade de São Paulo (USP) relativo à última aferição da 2ª (segunda) quadrissemana de cada mês, conforme artigo 603 do RICMS/2000-SP. Seu valor é expresso em moeda, atualmente Real, em vez de percentual.
“TRABALHE COM LEILOEIROS SINDICALIZADOS NOS SEUS LEILÕES” DJALMA BARBOSA DE LIMA ODEMAR COSTA NILMAR IGNACIO GOMES DANIEL BILK COSTA JOSÉ AILTON PUPIO NILSON FRANCISCO GENOVESI TRAJANO ANTONIO DE LIMA E SILVA ANTONIO CARLOS PINHEIRO MACHADO JOÃO ANTONIO GABRIEL JARBAS LUFF KNORR MARCELO INDARTE SILVA LUCIANO CURY GUILLERMO GARCÊS SANCHEZ JUNIOR FRANCISCO S. V. DE CARVALHO – ( KIKO ) LOURENÇO MIGUEL CAMPO JOSÉ LUIS LOBO NETO CLAUDIO JOSÉ PAGANO GASPERINI BRÁULIO FERREIRA NETO ANDERSON MORALES
MARCELO CRUZ MARTINS JUNQUEIRA ANIBAL FERREIRA MARCELINO JUNIOR OMAR FAYAD CARLOS EDUARDO VAZ DE ALMEIDA GUILHERME MINSSEN WELLERSON JOSE SILVA NILMAR IGNACIO GOMES JOÃO BATISTA DE OLIIVEIRA ANDRÉ MEGELLA LUCIANO PIRES AGNALDO AGOSTINHO ROBERTO SIQUEIRA MOACIR NAVES EDER FLAVIO BENITT CLEONIR MIGUEL DOS SANTOS SILVA CRISTIANO DOS REIS LUCIANO ALMEIDA VIANA ADRIANO APOLINÁRIO LEÃO OLIVEIRA AUREO RODRIGUES FILHO – ( TICO )
ADRIANO MARCOS BARBOSA FERREIRA ANTONIO PEREIRA DE LIMA – ( TONHÃO ) RODRIGO GOMES COSTA NIVALDO DEGANELLO LUIS CARLOS MOREIRA VITOR TRINDADE JUNIOR PAULO MARCUS BRASIL VILSON DE OLIVEIRA SILVA MARCELO PARDINI DEVANIR RAMOS AFRÂNIO MACHADO SOARES CAROLINE DE SOUSA TATIANA PAULA ZANI DE SOUSA GILSON CARDOSO JOSIAS VITORINO DO NASCIMENTO FABIO LUIZ MARTINS CRESPO LUIZ CARLOS MACIEL LEONARDO BERALDO MARIO CEZAR DE AQUINO ROLÃO
LEILOEIRO CREDENCIADO E SINDICALIZADO, GARANTIA JURÍDICA NO SEU LEILÃO !
JHONNI BALBINO DA SILVA ALEXANDRE MOHERDAUI BARBOSA JOEL SANTA ROSA DE MEDEIROS CRISTIANE BORGUETTI MORAES LOPES MARCELO MOSCHIM RICARDO GUIMARÃES ÁVILA EDUARDO GOMES NAELSON ALVES FARIAS JUNIOR ROBERTO LEÃO EDIMAR RODRIGUES DE CARVALHO JR HEBER SANT’ANA MAURO LEITE DE ARAUJO RAFAEL VILELA PAULO SERGIO DE MELLO SILVA
AV. Francisco Matarazzo, 455 • Pq. Água Branca • Pavilhão 11 São Paulo - SP • 05001-900 • (11) 3871-9149 e-mail: leiloeirosrurais@terra.com.br
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Entidades querem ficar Fernando Fabrini, presidente da Capripaulo - Associação Paulista dos Criadores de Caprinos “O intuito da Capripaulo e de sua diretoria é de permanecer no parque desde que a entidade consiga pagar um aluguel menor e eventualmente ter uma redução de área. Essa redução, aliás, foi uma proposta do próprio governo, que sugeriu dividir o espaço com outra associação para que o aluguel fosse menor.” Otávio Bernardes, vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos “A nossa expectativa é de que o governo do Estado de São Paulo reconheça a importância do agronegócio e também a importância das associações no desenvolvimento do setor. O que esperamos é que o governo tenha maior sensibilidade com essa questão.” Fábio Amorosino, presidente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe “O que nós esperamos é que o bom senso prevaleça e que nós consigamos chegar a um bom termo com as autoridades, porque o nosso grande intuito é permanecer no Parque da Água Branca por conta de toda nossa história. Então para nós o mundo ideal é que consigamos continuar fazendo nossa história no Parque, mas sempre dentro de um bom senso.” Fábio Pinto da Costa, presidente da ABQM - Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Quarto de Milha “Compartilhamos nossas atividades no Parque da Água Branca desde 1969 e é também muito prazeroso permanecer nessas novas condições decididas pelo governo do Estado, abertos ao diálogo conosco. Ao longo desses anos, sempre mantivemos essas instalações que ocupamos em perfeito estado de conservação, fazendo grandes reformas para preservar esse belo patrimônio público e também permitir melhores condições de trabalho e uso para os nossos colaboradores e associados. E assim continuaremos empenhados.”
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o que auxilia o Estado no combate de doenças e na preservação do meio ambiente. Segundo ele, essa é uma contrapartida que as associações querem ampliar e complementar. “O que as associações querem é criar parceria com o Estado para cuidar do parque, visando o bem comum. Nós sabemos que hoje os parques não são prioridade orçamentária como é a Saúde, a Segurança Pública ou a Educação. O que as entidades oferecem como contrapartida é a promoção de eventos, voltando a realizar exposições e fazer as devidas melhorias como forma de substituir o valor desse aluguel que está sendo proposto. Isso beneficiaria diretamente a própria secretaria e também a sociedade”, finalizou.
Negociações Por meio de nota, a Secretaria do Meio Ambiente se manifestou respondendo às queixas apresentadas pelos permissionários do Parque da Água Branca. De acordo com o comunicado oficial, o secretário Ricardo Salles se reuniu com representantes de todas as entidades e procurou solucionar da melhor forma possível o impasse instaurado.
Ricardo Salles, secretário do Meio Ambiente de São Paulo
Outro ponto esclarecido foi em relação à inviabilidade de realizar projetos e estabelecer parcerias para a melhoria do parque. No documento, o secretário Ricardo Salles diz que “as parcerias são todas bem-vindas, mas que elas não excluem a necessidade de se cumprir as normas de responsabilidade fiscal, conforme a orientação do Tribunal de Contas do Estado”. Sobre a cobrança da UFESP, a secretaria afirmou que o aumento foi determinado com base na avaliação da Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), e que, inclusive, várias associações já haviam firmado um novo termo de acordo, visando a solução e o entendimento. Ainda segundo a nota de esclarecimento, a SMA diz que “a cobrança da UFESP no aluguel de instalações no parque é algo inexorável”. O governo esclareceu também que a cobrança visa melhorar a arrecadação para fazer a reforma e a manutenção do parque, que tem essa opção de receita. A SMA lembrou ainda que a medida é importante porque diminui o peso no orçamento da CPU (Coordenadoria dos Parques Urbanos), o que faz com que sobrem recursos para a manutenção de obras prioritárias.
Bandeira branca Em novembro último, no dia 21, um encontro entre o representante das associações e a Secretaria do Meio Ambiente colocou panos quentes na
polêmica. Desse encontro saiu uma resolução publicada no Diário Oficial do dia 22 de novembro onde o secretário Ricardo Salles anunciou duas medidas como contraproposta de negociação. Na primeira, ele prorrogou em mais 30 dias - a contar do dia 22 de novembro - o prazo dado para que os permissionários manifestassem o interesse em permanecer no Parque da Água Branca, deixando, inclusive, a cargo das associações a livre escolha do tamanho da área a ser ocupada. As associações por sua vez
se manifestaram dentro desse prazo e atualmente está em curso a formalização do termo de permissão de uso. Na segunda medida apresentada, e que atende a uma reivindicação antiga das associações, discutiu-se a revogação de um decreto que proíbe a realização de leilões nas dependências do parque. Essa proposta, em especial, já foi regulamentada e, segundo nota de esclarecimento enviada pela SMA, a medida consta da Resolução 92/2111-2016. A implementação de mais este
acordo servirá de importante fonte de renda tanto para as entidades quanto para o parque. Outra novidade do encontro foi em relação à forma de cobrança dos contratos de aluguel. Foram feitas novas propostas pela secretaria de contratos mais extensos e um teto de valores que seriam divididos anualmente. Com isso as associações teriam um fôlego maior no início de cada ano e depois arcariam com um reajuste de preços gradual ao longo do período.
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LÃ
por Régis Nascimento Fotos: Divulgação
Produção x Preço no Rio Grande do Sul
Período de tosquia do rebanho gaúcho movimenta o mercado de lã, que busca equilíbrio entre câmbio, oferta e demanda
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e setembro a janeiro o sul do Brasil vive um período intenso de tosquia das ovelhas. O Rio Grande do Sul detém o maior rebanho de ovinos do país, concentrado principalmente na região da Campanha Gaúcha, sendo esta responsável pela maioria absoluta da produção de lã brasileira. A tosquia das ovelhas é uma atividade com forte identificação local, mas que exerce importante função social quando o assunto é geração de renda e trabalho. Estimativas dão conta de que a cada temporada de esquila, são criadas diretamente 2 mil vagas de trabalho e até 5 mil indiretamente. Com rebanhos formados principalmente por ovinos das raças Merino Australiano, Ideal, Corriedale, Romney Marsh e Border Leicester, o Rio
Ovinos Corriedale na Fazenda São Sebastião
Grande do Sul responde por 95% de toda a produção nacional de lã. Porém essa representatividade não se aplica quando o cenário é a produção brasileira em relação ao restante do mundo. Nesse quesito, o Brasil produz apenas 1% de toda a lã mundial. Internamente o consumo desse subproduto gira em torno de 20%, enquanto que os 80% restantes dessa produção têm como destino o mercado externo. Uma parte expressiva do que fica no país é absorvida por praticamente uma única grande indústria, a Paramount, que tem uma de suas unidades instaladas em Bagé/RS e responde pela divisão de tops, que são grandes rolos destinados à exportação. A empresa produz anualmente até 4 mil toneladas de tops de lã, que são enviados à Europa, Extremo Oriente e Ásia.
Observando a lã no próprio animal
Exigência por qualidade Antes de ganhar o mundo, essa lã passa por alguns processos até chegar à indústria. Primeiro a esquila é feita ainda na propriedade rural. Depois, a cooperativa recebe e classifica essa lã, para só então acomodá-la em fardos, que seguem direto para a indústria, onde a lã é novamente selecionada antes de ser lavada. Após o processo de lavagem, é feita a cardeagem ou o desembaraçamento dos fios. Só então é convertida em tops. Na classificação a espessura da lã conta muito. A medida é feita em micras - que vai da mais fina, considerada a melhor, até a mais grossa – e é ela quem vai definir o preço a ser pago pelo quilo do produto. É por isso que em uma criação de ovinos, a lã de melhor qualidade é retirada de animais adultos, após um ano de crescimento. Das raças lanadas criadas na região, a que possui o preço da lã mais valorizada, justamente devido à sua micronagem mais fina, é o Merino Australiano. Para a presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Merino Australiano, Sônia Silveira, o diferencial
desta raça em relação às demais é que a lã merina permite que se diminua o grau de espessura conforme o tempo. Ela diz que com isso é possível trabalhar com animais que irão fornecer produtos de 14 e 15 micras. “Lãs de 14, 15 e até 16 micras são altamente valorizadas porque atendem o mercado de alta costura na Europa. Eles fazem tecido com essa lã, numa parceria com a Paramount aqui no Brasil, e confeccionam ternos de 130 s e 150 s, que são produtos feitos com lã de Merino de baixa micronagem e alto valor agregado”, explica Sônia. O mercado que rege a compra e venda da lã tem regras específicas. Uma delas é o parâmetro dos preços, que são cotados em dólar, o que garante ao produtor maior ou menor lucro, conforme a valorização da moeda norte-americana. Sônia Vieira, que também cria Merino Australiano, diz que a micronagem média da lã obtida com o seu rebanho no geral é de 18 micras, e que conseguiu vender os 6 mil quilos de sua última produção a US$ 7,00 o quilo. Mesmo assim ela entende que a volatilidade desse mercado é um risco associado à atividade.
Trabalhadores em frente ao galpão de recebimento da barraca Branca Lã
Venda em “barracas” O comerciante Sérgio Romildo Santos, 44 anos, é proprietário da barraca Branca Lã, localizada em Santana do Livramento/RS. Na sua “barraca” nome dado aos estabelecimentos que compram lã diretamente dos produtores locais para revender na exportação - ele trabalha com lãs de diversas raças, como: Merino, Ideal, Corriedale e Texel. Ele diz que não trabalha com uma ou outra raça específica, e que a compra de lã é determinada pela demanda do mercado. “Em 2015, por exemplo, nós só exportamos lã grossa, de Texel e Corriedale, atendendo a forte demanda do mercado chinês. Já no ano passado, a procura maior foi por lã fina, que atende especificamente o mercado europeu. Trabalhamos de acordo com a necessidade do mercado. Com base nisso é que compramos dos produtores a lã de uma ou de outra raça”, explica Sérgio Romildo Santos. A temporada de esquila no sul costuma render à Branca Lã um volume médio de 1,2 milhão de quilos de lã. Embora esse número se mostre vultuoso, Santos diz que a cada nova temporada o montante
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Nairo Osvaldo com seu rebanho de Corriedale
das entregas vem diminuindo gradativamente. Em sua opinião, o motivo desta redução é a proliferação de javalis nas áreas de fazenda, que já fez diminuir em 50% a criação de cordeiros. O javali, visto como “praga” local, ataca as ovelhas trazendo prejuízos ao criador já desanimado com a atividade laneira. Isso faz com que a cada temporada esse produtor diminua sua entrega de lã nas barracas. Se para o produtor a insatisfação com a atividade é motivada por diversos fatores, no cenário atual de preços as coisas não são tão diferentes. Como a definição do valor a ser pago pelo quilo da lã é baseada na cotação do dólar, a queda de preços em 2016, na comparação com o ano anterior, foi algo preocupante. Na barraca Branca Lã paga-se ao produtor local de acordo com o preço acertado para a exportação, repassando para esse produtor as taxas e encargos impostos à barraca. Na última semana de novembro, com o dólar cotado a R$ 3,41, o preço médio pago pelo quilo da lã Merina era R$ 16,50; do Ideal R$ 13,50 enquanto que para o Corriedale pagava-se R$ 7,75 no quilo. Em dólar os preços eram de U$ 4,84 para lã Merina; U$ 3,96 para a lã de Ideal e o menor preço, U$ 2,28 para a lã do Corriedale.
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Estratégia de tosquia aumenta a produtividade Na fazenda São Luiz, localizada no município gaúcho de São Gabriel, o produtor Nairo Osvaldo Pinto cria ovelhas da raça Corriedale para a produção de lã em um espaço de 1.072 hectares. Também faz cruzamentos com a raça Hampshire Down pensando em cordeiros para a produção de carne. As cerca de 450 ovelhas que compõem o seu rebanho, e que a ele dão carne e lã, antes passam por um rigoroso processo entre a criação e a tosa. Segundo o produtor, a tosquia dos animais é feita em duas épocas do ano: a primeira em maio e a segunda em dezembro. “Em maio a ovelha está inseminada, depois ela segue para uma pastagem especial onde vai parir. É nessas condições que ela produz um cordeiro mais saudável e lã de melhor qualidade”, explica o criador. Com produção média anual de sete quilos de lã por ovelha esquilada, Nairo Osvaldo Pinto diz que todo o trabalho de tosquia das ovelhas é feito com ‘tesoura elétrica’, nome utilizado para se referir
à máquina de tosar. Ele diz que viu sua produção quase dobrar depois que passou a realizar a tosa em dois períodos. “Depois que comecei a fazer tosquia duas vezes por ano tive um aumento considerável na produção de lã. Quando essa tosquia era feita apenas uma única vez, tirava uma média de 4,2 quilos de lã por ovelha/ano. Agora com duas tosquias, passei a produzir até 7,0 quilos de lã”, comemora. A preocupação em realizar duas tosquias por ano não influencia apenas na produção. Segundo o produtor, a vantagem dessa estratégia está no fato de que ao parir, e com o pelo mais curto, o animal sempre estará com o ubre limpo e com isso poderá alimentar melhor o cordeiro. Bem alimentado, esse filhote terá melhores condições de enfrentar períodos de climas mais rigorosos, como o inverno gaúcho. O pelo alto atrapalha o animal em dias de chuva porque ele chega a ficar mais de 24 horas com a lã molhada. A umidade excessiva do pelo tem reflexos negativos na qualidade da lã, além de ser prejudicial para o animal. “Com a ovelha esquilada, evita-se que a lã retenha umidade, diminuindo também a proliferação de fungos, que, se ocorrer, irá depreciar a qualidade da lã na hora de vender ao mercado”, completa. O produtor diz que os preços praticados no mercado de lã em 2016 tiveram uma baixa considerável na comparação com o ano anterior. Consciente de que
Rebanho de ovinos Corriedale na Fazenda São Sebastião
o sobe e desce do dólar exerce influência direta no preço final do produto, ele lembra que em 2016 o preço da lã do Corriedale ficou em torno de R$ 9,00 o quilo. Um ano antes ele chegou a receber até R$ 10,20 por quilo produzido. São esses “desmandos” do mercado que deixam o produtor um tanto inseguro quando o assunto é a expectativa em relação aos preços praticados no mercado de lã para 2017. Na falta de perspectiva, sobra desconfiança. Nairo Osvaldo espera que os preços melhorem em 2017, mas faz uma ressalva: “Todos os subprodutos agropecuários tiveram aumento do preço pago ao produtor, menos a lã e a carne de ovinos”, lamenta.
Mão de obra uruguaia O produtor Flávio de Augusto Abreu Lauriano, da Fazenda São Sebastião, localizada no município de São Gabriel, é dono de um rebanho aproximado de 900 ovelhas da raça Corriedale que são criadas em uma área total de 1.015 hectares. Além de produzir lã, assim como o seu colega Nairo Osvaldo, ele também realiza cruzamentos com Hampshire para abate. Em outras palavras, cria as ovelhas a pasto e depois as vende jun-
tamente com seus cordeiros. “Primeiramente eu tenho ovelhas que são inseminadas e outras que são encarneiradas. O encarneiramento é feito de janeiro a fevereiro, e depois elas vão parir entre junho e julho, quando já estão na pastagem. Os cordeiros quando atingem entre 38 e 40 quilos já vão direto para o abate, em geral com quatro meses de idade”, explica o produtor. Outra semelhança com o produtor vizinho é a periodicidade na esquila. Ele também faz a tosquia duas vezes por ano. Segundo Flávio, por estarem tosquiadas, as ovelhas sentem mais o frio e com isso, quando vão parir, procuram lugares mais quentes, secos e limpos. Para ele, isso faz toda a diferença ao cordeiro que vai nascer. Na Fazenda São Sebastião, o período da primeira tosa começa em outubro e depois, em abril, é feita a segunda esquila antes da parição. Todo o trabalho de tosquia é mecanizado, evitando perdas na produção e maus tratos aos animais. Na
média, são retiradas de 2,8 quilos a até 3 quilos por animal. Isso rende ao produtor um volume médio aproximado de 3 mil quilos de lã por período de tosa. E na hora em que é preciso pôr a “mão na lã”, é de fora que vem a ajuda especializada. “Aqui na fazenda o trabalho de tosquia dessas 900 ovelhas é feito por quatro trabalhadores que vêm do Uruguai especialmente para isso. Eles são ‘feras’ e muito bem treinados. Levam no máximo dois dias para tosquiar todo o rebanho. No final de cada período de tosquia, quando a produção é boa, chego a ter na média até 4.500 quilos de lã”, comenta o produtor.
Mas nem sempre produzir mais significa ganhar mais. Flávio diz que em relação a 2015 o valor do preço pago pelo quilo da lã no ano passado apresentou queda. O produtor lembrou que ainda em 2015 chegou a receber até R$ 12,00 pelo quilo, enquanto que em 2016 o valor pago caiu para R$ 9,00. Segundo ele, o motivo para essa baixa no preço foi a queda na cotação do dólar. Se com a lã a trajetória de preços foi de queda, em relação à carne de ovinos o movimento foi o inverso. Os preços pagos pelo quilo ao produtor ficaram mais altos em 2016 do que no ano anterior. Flávio lembrou que em 2015 vendia o quilo do cordeiro por R$ 5,50 enquanto que no ano passado chegou a comercializar a carne por R$ 6,50. Para 2017, tanto na produção de lã quanto de carne, as suas expectativas são antagônicas. “Para este ano acredito que tudo vai depender de como o dólar vai se comportar. Se a moeda reagir, melhora também o preço da lã. Agora em relação à carne, vejo que vai melhorar de qualquer jeito, pois o rebanho está diminuindo. Com isso a oferta vai cair e o preço sem dúvida vai subir”, diz.
Cooperativa, elo importante da cadeia produtiva Com 60 anos de atividade e abrangendo produtores de lã de aproximadamente 90 municípios gaúchos das regiões Central e Campanha, onde se concentra praticamente toda a produção do Estado, a Cooperativa de Lã Tejupá se coloca como importante elo da cadeia produtiva laneira. Localizada no município de São Gabriel/RS, a entidade congrega cerca de 4 mil associados. Ela também classifica e comercializa a lã, além de financiar a venda de reprodutores e insumos. O tamanho aproximado do rebanho em todo o Rio Grande do Sul, que hoje fornece lã para a Tejupá, gira em torno de
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Carlos Cléber observa a tosquia na cooperativa
3,5 milhões de cabeças e de acordo com o presidente da entidade, Carlos Cléber, 10% desse rebanho são de sócios da cooperativa. A Tejupá recebe lã de criadores de Merino Australiano, Ideal, Corriedale, Romney e de raças carniceiras como Texel, Ile de France e Hampshire Down. Em cada período de tosquia, a cooperativa costuma receber uma produção média de até 500 mil quilos de lã, sendo que uma parte desse montante (200 mil quilos) segue direto para o exterior, sobretudo para os mercados da China e da Europa. Alemanha e Itália são os maiores compradores da Tejupá. Já o vizinho Uruguai é o destino de boa parte da lã recebida pela cooperativa. Em um ano de fortes oscilações, tanto na política como no cenário econômico, a atividade laneira teve menos motivos para se queixar. Pelo menos em se tratando de produtividade. Segundo Carlos Cléber, em relação a 2015 a produção
de lã no ano passado não apresentou queda ou crescimento. “Vem apenas se mantendo”, resumiu o presidente. Sobre os preços praticados no mercado em 2016 ele diz que no geral houve queda de 15% na comparação com o ano anterior devido à desvalorização do dólar. Para este ano é o cenário externo que dita a expectativa da cooperativa, quando o assunto é a produção de lã e os preços a serem praticados nesse mercado. “Para 2017 acredito que tanto em produção como em relação a preços, estaremos diretamente atentos ao mercado externo. A lã tem estoques mundiais baixos, mesmo assim a China domina o mercado. Também dependemos da cotação do dólar, e isso afeta diretamente os preços praticados. No mercado europeu, vemos que o continente mostra sinais de recuperação, porém, ainda lento”, finalizou Carlos Cléber.
por Redação Fotos: Divulgação
Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp - Araçatuba/SP
O Cordeiro Paulista 2016 ASPACO divulga resultado final do campeonato
criador de ovinos da raça Suffolk, Bruno Garcia Moreira, da Cabanha Leone, foi o vencedor do Campeonato Cordeiro Paulista de 2016, CCP-2016. O resultado final do CCP- 2016 foi divulgado pela Associação Paulista dos Criadores de Ovinos (Aspaco) no dia 12 de novembro. O certame tem como objetivo conhecer o desempenho das diferentes raças na engorda em confinamento, além de promover o consumo de carne de cordeiro. O evento é organizado pela ASPACO, com o apoio do Núcleo de Criadores de Ovinos de Araçatuba e região e da Universidade Estadual Paulista de Araçatuba, (Unesp - Araçatuba). Desta edição participaram 35 lotes, num total de 140 cordeiros. A primeira etapa foi realizada no dia 23 de setembro e o encerramento do torneio foi em 7 de novembro, nas dependências da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp - Araçatuba. Na primeira fase do campeonato, a média geral de ganho de peso foi de 0,353 g por dia e peso médio de 38,8 kg. O primeiro lugar ficou para o criador Bruno Garcia Moreira – Cabanha Leone – Platina/SP, com cordeiros cruza Suffolk. A segunda colocação
NOTA
ficou com Paulo Pastana - Sítio Santa Catarina – Paraguaçu Paulista/SP, com cordeiros Suffolk e, em terceiro lugar o criador Eli Alves da Silva - Fazenda Guarany - Itapetininga/SP, com cordeiros cruza Dorper. Na segunda etapa os cordeiros foram abatidos no frigorífico Dom Pig em São Manuel/SP e a avaliação das carcaças foi realizada pelo médico veterinário Tarcísio Bartmeyer nas dependências do entreposto Langeli Alimentos, em Areiópolis/SP. Nesta segunda etapa foi avaliado o rendimento de carcaças que em 2016 foi de 49,24%, espessura de gordura, uniformidade, conformação e acabamento. O primeiro colocado desta segunda fase foi o criador Francisco M. N. Fernandes – Fazenda Borborema – São Manuel/SP, com cordeiros cruza Ile de France; o segundo lugar ficou para Arnaldo dos Santos Vieira Filho - Fazenda Boizendinha - Araçatuba/SP, com cordeiros cruza Suffolk. Em terceiro lugar apareceu o criador Kosuki Arakaki - Fazenda Arakaki -Fernandópolis/SP, com cordeiros Dorper x Santa. A somatória das etapas resultou na seguinte classificação geral: melhor lote: Bruno Garcia Moreira – Cabanha Leone - Platina/SP cordeiros cruza Suffolk, segundo e terceiro melhor lote: Francisco M. N. Fernandes - Fazenda Borborema - São Manuel/SP com cordeiros Ile de France e cruza Ile de France. Como nas edições anteriores, o evento contou com o apoio da Revista Cabra & Ovelha – Agronegócio.
Janeiro/Fevereiro | 2017 17
CAPA
por Camila Cechinel Fotos: ShutterStock
SAFRA 2016/17
Produção de grãos
pode chegar a 213,1 milhões de toneladas Expectativa do setor é de crescimento superior a 14% com relação à safra anterior
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A
estimativa da produção de grãos para a safra 2016/17 é de 213,1 milhões de toneladas, crescimento de até 14,2% em relação à safra anterior, de acordo com o terceiro levantamento da safra brasileira de grãos, realizado em dezembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo o relatório, também haverá aumento da área plantada na comparação com 2015. Prevista para ocupar até 59,2 milhões de hectares, a extensão do campo este ano será de aproximadamente 1,4% maior. De maneira geral, o novo território será destinado ao cultivo de soja, milho e feijão, em função da maior liquidez, rentabilidade, menor custo, bons preços e incentivos locais. O gerente de Levantamento e Avaliação de Safra da Conab, Kleverton Santana, disse em entrevista à Revista Cabra & Ovelha – Agronegócio, que tanto o aumento da produtividade quanto o das áreas plantadas são consequência de condições climáticas melhores do que as que acabamos de enfrentar, uma vez que o El Niño impactou diretamente no rendimento das colheitas.
Santana explica ainda que produtores que antes trabalhavam apenas com a soja, por ser um produto rentável, hoje estão investindo também em outras culturas, o que faz com que haja uma nova divisão na área de cultivo. “O milho primeira safra perdia espaço para a soja. Esse ano as coisas mudaram e ele está com um bom preço de comercialização, motivando os agricultores a apostarem na produção”. É o que vem ocorrendo, por exemplo, em Santa Catarina. Para esta safra, o estado reduziu em aproximadamente 2% suas áreas de cultivo da oleaginosa para redistribuir com a plantação do cereal. O Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Santa Catarina (Aprosoja – SC) diz que a rotatividade de culturas é característica no local e que, em 2015, os agricultores só diminuíram o plantio do milho por conta do elevado custo de produção. “Agora o cenário mudou. Com o bom preço do milho no mercado, voltamos com a semeadura e as lavouras estão bem desenvolvidas. Hoje, temos cerca de 360 mil hectares para a plantação do cereal e 350 mil hectares para a soja”, concluiu.
Safra da soja é revisada para 101,8 milhões de toneladas Mato Grosso do Sul é o primeiro estado a encerrar a semeadura do grão no país O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja: a oleaginosa é a espécie com maior área de cultivo no país, sendo superior a 33 milhões de hectares. Para este ano, a expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que a produção do grão ultrapasse os 102 milhões de toneladas. Mato Grosso do Sul é o estado que primeiro encerrou sua semeadura, conforme relatório semanal divulgado pela AgRural Commodities Agrícolas. No entanto, os agricultores estão redo-
• Araçatuba • Araraquara • Bauru • Birigui • Franca • Piracicaba • Ribeirão Preto • São Carlos • São José do Rio Preto
brando a atenção nas lavouras, principalmente no sul, uma vez que a falta de chuvas e as altas temperaturas podem prejudicar o andamento da colheita. Para o analista de agricultura do Sistema Famasul, Leonardo Carlotto Portalete, ainda é cedo para falar em quebra de safra, mas os agricultores estão preocupados com uma possível redução na produtividade, uma vez que a região ficou 20 dias sem chuva no final de 2016. “A média do estado é de 52 sacas de soja por produtor, o que pode cair para 50 sacas se as tempestades não aparecerem”, explica. Segundo o levantamento da Conab, haverá aumento de 2% na área plantada do grão, em relação ao ano passado. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Bahia estão entre as regiões que mais ampliaram suas áreas de cultivo. A Bahia, por sinal, estima forte crescimento, variando de 3,5 a 7% em relação aos 1.526,9 mil hectares na safra passada. O técnico da área de Avaliação de Safras da Conab, Eledon Oliveira, diz que a soja é a principal cultura plantada na Bahia, e que o aumento do espaço para a semeadura já era esperado. “O preço do grão no mercado está muito bom e os produtores estão apostando em melhores condições climáticas para este ano. O aumento das exportações e maior demanda interna incentivaram o plantio”, relata.
Ferrugem Asiática é identificada em lavoura de soja na safra Em dezembro, o Consórcio Antiferrugem relatou a quarta ocorrência de Ferrugem Asiática em lavoura de soja na safra 2016/17. O primeiro caso da enfermidade foi detectado no dia 15 de novembro, em Taquarituba, interior de São Paulo. A doença, em estado inicial, foi identificada durante monitoramento realizado pelo pesquisador da Fundação ABC, Alan Cordeiro Vaz. As plantações contaminadas devem receber os devidos cuidados, com o uso de fungicidas para evitar o comprometimento da colheita. “O manejo da Ferrugem Asiática tem que ser feito preventivamente, ou quando aparecem os primeiros sintomas, senão a produtividade da plantação é muito afetada”, explica. Ao contrário do que se possa imaginar, a lavoura de Taquarituba foi cultivada dentro da lei, ou seja, após o vazio sanitário. O principal motivo que fez com que a doença aparecesse foi a presença de esporos na região, aliado às condições ambientais (calor e umidade) favoráveis. “Os esporos da doença são levados pelo vento até as lavouras. Se a Ferrugem Asiática encontra as melhores circunstâncias para se desenvolver, o processo é muito rápido, agressivo para a cultura da soja”, finaliza o pesquisador.
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Milho primeira safra volta a fazer parte da agricultura brasileira
Agricultura não deve sofrer impactos do La Niña Não há outra saída: para quem vive e trabalha nas lavouras do país, ficar de olho na meteorologia é fundamental para planejar a nova safra de grãos que vem por aí. Se em 2015 os agricultores sofreram com o El Niño, que impactou as mais variadas culturas e trouxe instabilidade na produção do Centro-Oeste do Brasil, na safra 2016/17 a preocupação é outra: a ocorrência do fenômeno La Niña, quando as águas do Pacífico resfriam próximo à América do Sul e o tempo fica firme e seco. Favorável às chuvas nas regiões Norte e Nordeste e desfavorável no Sul, nos meses de verão e outono, quem planta grãos em estados como Rio Grande do Sul precisará ter cautela, uma vez que há riscos na produtividade devido à possibilidade de seca. Mas, segundo a meteorologista Danielle Barros Ferreira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), não há motivos para alardes: “o La Niña vai ocorrer com uma intensidade fraca e de curta duração, com alta probabilidade de o Pacífico entrar em fase de neutralização até a segunda metade do verão 2017”, explica. Segundo o Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Rio Grande do Sul (Aprosoja - RS), Décio Lopes Teixeira, os produtores ainda não estão pensando nas consequências do La Niña para a região. “Essa preocupação não pode interferir no rendimento da plantação. Estamos confiantes, fazendo o serviço direito e acreditando em Deus para que tudo dê certo”, disse. Teixeira também comentou que o grande volume de chuva que caiu no estado em outubro e começo de novembro, com queda de granizo e vendavais, atrapalhou um pouco a colheita de inverno, como o arroz, e atrasou em alguns dias o plantio de soja, mas nada que trouxesse prejuízos. “Novembro é o melhor período de semeadura, o mais favorável. O solo ainda está úmido e há indícios de que temporais caiam para nos ajudar na produção”, finaliza.
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Os bons preços do milho no mercado fizeram com que produtores de todo o país passassem a investir na cultura para a safra 2016/17. Este ano, a expectativa é de que a área plantada aumente 3% em relação à safra anterior, o que influenciará no crescimento da produção do cereal, estimada para até 28,4 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entre as regiões que estenderam as áreas de plantio, encontra-se o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul, que irá ampliar os hectares entre 7,7 e 13%. Mato Grosso do Sul é o estado com maior expressividade no aumento das lavouras: cerca de 60% a mais em comparação com o ano passado, o que representa um ambiente de até 25 mil hectares destinados para a plantação do cereal. No estado, porém, não foi apenas o bom preço do milho que incentivou a plantação. “Na safra passada, a produção foi muito baixa e estamos com falta do produto no mercado. A região Norte do estado, onde o cereal vem sendo semeado, é uma área de alto potencial produtivo, sendo inclusive mais rentável que a soja”, explicou Leonardo Carlotto Portalete, analista de agricultura do Sistema Famasul. Portalete comenta também que em 2015 o milho primeira safra chegou a 18 mil hectares, área de plantio considerada inexpressiva para a região. “Usamos a primeira safra para consumo interno,
destinada a granjeiros e confinamentos. A plantação está encerrando agora, mas pouco será usado para a exportação”, finaliza. De acordo com o relatório semanal da AgRural, o plantio de milho primeira safra já terminou no Sul do país. No Centro-Sul, o plantio chegou a 96% da área no dia 8 de dezembro. Para o milho segunda safra a expectativa na produtividade ainda não foi estimada.
Produção de feijão deve crescer 24,1%, comparada à safra passada O Brasil é o principal produtor e consumidor de feijão do mundo. Com os bons preços no mercado nacional, que refletem as perdas de produção ocorridas na última safra devido às más condições climáticas, produtores de todo o país estão expandindo sua área de cultivo. De acordo com o terceiro levantamento da safra brasileira de grãos, realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a expectativa é que haja um forte incremento na área plantada, estimada em 1.105,4 mil hectares, 13%,a mais que na safra passada. Entre os estados que mais irão ampliar suas áreas de cultivo encontram-se: Bahia, Paraná e Minas Gerais, apesar de ser cultivado em vários dos estados brasileiros. No Paraná, inclusive, a área encontra-se 100% plantada e o espaço reservado ao feijão cores foi responsável por um aumento de 34,8% em relação à safra anterior.
por Régis Nascimento Fotos: Divulgação
NOSSA GENTE
Piracicabano
I “O dom da comunicação é uma dádiva de Deus” Títulos conquistados
Durante sua carreira, Piracicabano recebeu vários prêmios, dentre eles o troféu Arena de Ouro (o Oscar do Rodeio) como melhor locutor do ano (1992). O Certificado Orestes de Ávila, entregue em Barretos ao Locutor de destaque. Em 2016, foi nomeado Embaixador do HC (hospital do câncer) de Rio Verde/GO e ganhou o título de Cidadão Rioverdense por ser o único locutor que narrou por 20 anos consecutivos a mesma festa. Além disso, Piracicabano coleciona vários troféus, fivelas e outras honrarias.
A voz dos rodeios
magine assistir a um rodeio em que o valente peão monta o touro e precisa se aguentar em cima dele, sem o aplauso do público..., sem a contagem do cronômetro oficial..., sem a locução vibrante e forte ecoando dos alto-falantes na arena. Que emoção teria o espetáculo nessas condições? Essa é a importância e a analogia que faz de sua profissão o locutor de rodeios Edson Fuzaro de Castro, o Piracicabano, que, em novembro de 1986, na cidade de Campina da Lagoa/PR, iniciou a sua missão de transmitir ao público, com sua voz, aquilo que somente as imagens talvez não fossem capaz de expressar. “A simplicidade das palavras ditas de uma forma que todos entendam é muito importante. Seria o mesmo que você ligar sua televisão para assistir a um jogo de futebol sem ouvir o narrador. Comparando ao futebol, no rodeio um lance simples pode se tornar valioso na voz do narrador. Estamos transmitindo o que o peão está passando naquele momento sobre o animal, além do que, tudo que está em sua volta se transforma nas palavras do locutor”, explica. Piracicabano leva as emoções de sua narração Brasil afora, mas não é vinculado a nenhuma empresa ou campeonato. Formado em Rádio e Televisão, sua longa trajetória de 30 anos como locutor de rodeios começou por acaso. “Na verdade o que eu queria era ser peão, pois já trabalhava em uma companhia de rodeios. Só que na ocasião o locutor da empresa estava doente e o proprietário pediu que eu narrasse o rodeio e ‘segurasse a onda’. Como ninguém conhecia ninguém, narrei os seis dias de evento. Tudo aconteceu de repente e sem nenhum tipo de preparação, foi na cara e na coragem”, relata. Ele conta que a atividade já foi uma
carreira cheia de glamour, sobretudo na década de 90, mas que nos dias atuais o locutor é simplesmente o apresentador do espetáculo. É uma profissão que, assim como qualquer outra, é suscetível aos ônus e bônus. De bônus, as amizades e os fortes laços criados ao longo de uma temporada. De ônus, Piracicabano relata com amargor a “desvalorização do profissional que ali está para ser o transmissor das emoções, além de egos e vaidades de colegas que tentam atrapalhar o seu trabalho”. Nessa extensa jornada de 34 anos no mundo dos rodeios – 30 deles empunhando o microfone - Piracicabano já viveu diversas situações que foram do trágico ao cômico na mesma velocidade com que projeta a sua voz. Diz ter tido a infelicidade de presenciar duas mortes na arena de rodeio (uma de um peão e outra de um salva-vidas), mas que também viveu muitos momentos de alegria e irreverência. Num desses momentos, o locutor diz que chegou a prestar homenagem póstuma a uma pessoa que estava viva. Erros de início de carreira, que trouxeram muito aprendizado, mas que hoje são motivos para risos. Ser locutor de rodeios é também uma profissão de fé. E como fé não se explica, para o filho de Campina da Lagoa não há uma receita pronta para ser um bom narrador. “Na verdade não existe uma fórmula mágica que faça uma pessoa ‘virar’ locutor. Creio que o dom da comunicação é uma dádiva de Deus, mas o importante é a interação com o público, mesmo nos mostrando ‘sertanejos xucros’ devemos ter, no mínimo, um pouco de cultura e conhecimento, estar sempre atento aos fatos cotidianos para poder fazer bom uso disso em nosso favor”, ensina o locutor.
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ENTREVISTA
por Régis Nascimento Fotos: Divulgação
Blairo Maggi, Ministro da Agricultura “O Brasil tem uma das agriculturas mais sustentáveis do mundo” Em entrevista exclusiva à Revista Cabra & Ovelha - Agronegócio, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, destaca o sucesso de três ações primordiais de seu mandato para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro em 2017
H
á pouco mais de oito meses no comando do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi enfileira uma lista com os principais avanços e metas alcançadas sob sua gestão. Das bandeiras defendidas por seu ministério, três em especial fazem os olhos do ministro brilhar: a questão da agropecuária sustentável, a abertura do mercado asiático para a carne brasileira e o projeto para a desburocratização do agronegócio, denominado Plano Agro+. Junto ao desafio de tornar a nossa agricultura mais sustentável, com a busca por compensação (e reconhe-
Revista Cabra & Ovelha – Agronegócio - Como garantir que os produtos agropecuários sustentáveis dos produtores brasileiros tenham preferência no mercado global e o que o Mapa tem feito para incentivar e ampliar o sistema Integração Lavoura, Pecuária e Florestas (ILPF’s)? Blairo Maggi - Um dos trabalhos que temos feito pelo mundo é para mostrar que, apesar das inúmeras críticas, o Brasil tem uma das agriculturas mais sustentáveis do planeta e isso precisa ser reconhecido. Um estudo da Embrapa
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cimento) internacional para os nossos “eco-produtores”, está a preocupação com o atendimento das metas estabelecidas no Acordo do Clima de Paris. Para o agronegócio do Brasil, em 2016, esse foi um dos cartões de visitas lá fora, mas não o único. À revista Cabra & Ovelha - Agronegócio, o ministro falou sobre o que esperar para a indústria brasileira de carnes em 2017 após a abertura de um novo horizonte na Ásia, estipulou a meta de aumentar a participação do País no mercado mundial de carnes de 7% para 10% em cinco anos e explicou como o agronegócio brasileiro sairá ganhando com os objetivos traçados pelo projeto Agro+ que visa destravar o setor.
Imagens mostrou que 61% do território nacional está preservado. Continua igual a quando Cabral chegou aqui. Além disso, o Código Florestal obriga que os produtores mantenham áreas de preservação em suas propriedades. Na região Norte o percentual exigido é de 80%. No Centro-Oeste esse percentual é de 35%, e assim vai de acordo com cada região. É importante frisar também que somente 8% do território nacional são usados para agricultura, 19% para pecuária e 13% destinados aos povos
indígenas. Nenhum país do mundo tem um ativo ambiental como esse e não pode fazer igual. Temos que ser compensados por isso. Estamos mostrando isso lá fora e dizendo: ‘quando você compra um produto brasileiro está comprando muito além de alimentos, está comprando junto um pacote ambiental e social’. Em relação ao programa Integração Lavoura, Pecuária, Floresta (IPLF) temos uma outra pesquisa importante da Embrapa mostrando que o Brasil incorporou 11,5 milhões de hectares com o IPLF, ultrapassando a meta estabelecida no Acordo do Clima em Paris, em 2015. Esse resultado é fruto, acima de tudo, do esforço do produtor rural. Isso é um ativo que temos que mostrar ao mundo. Somos muito cobrados, criticados, tratados como vilões, mas a verdade não é bem essa. C&O Agro - Após a viagem feita pelo senhor em junho, para a expansão do mercado brasileiro de carnes para a Ásia, o que a indústria nacional de carnes bovinas, suínas e de aves pode esperar para 2017? B. M. - Espero que o mercado cresça no próximo ano. O governo não compra e nem vende nada, apenas abre as portas garantindo a segurança sanitária e a abertura de mercado. Quem tem que vender são os empresários. O setor precisa se movimentar, ser mais agressivo. Da nossa parte, além da abertura de mercado, estamos tentando desburocratizar os processos no Ministério para facilitar o acesso ao mercado internacional. O nosso foco é aumentar a participação do Brasil no mercado mundial de 7% para 10% em cinco anos. É uma meta ambiciosa, mas temos que focar naquilo em que o Brasil é bom. Vamos trabalhar para tentar agregar valor aos nossos produtos e atingir a maior fatia de mercado possível.
NOTA DE REPÚDIO Quando você compra um produto brasileiro está comprando muito além de alimentos, está comprando junto um pacote ambiental e social C&O Agro - Em linhas gerais, o quanto o Plano Agro+ pode incrementar no ganho de eficiência entre o setor privado e o governo? Em valores, o quanto esse projeto pode render para o faturamento anual do agronegócio brasileiro em 2017? B. M. - O foco do Agro+ é facilitar os processos internos no Ministério da Agricultura para estimular o crescimento dos produtores. Não temos como mensurar os ganhos porque na prática não serão repassados recursos aos agricultores e pecuaristas. Eles apenas deixarão de gastar dinheiro com a ineficiência da burocracia para poder investir em seus negócios. No lançamento do programa, em agosto, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) fez um cálculo em que dizia que a economia com as primeiras 70 medidas anunciadas seria de quase R$ 1 bilhão. O importante é que muitos Estados estão aderindo ao plano como o Rio Grande do Sul, que já lançou o seu Agro+, Mato Grosso, Tocantins, São Paulo, entre tantos outros. Além disso, estamos trabalhando em parceria com o Banco do Brasil, que pretende desburocratizar o financiamento para os produtores rurais.
A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) repudia, com indignação e veemência, o samba-enredo e as demais peças publicitárias divulgados pela escola Imperatriz Leopoldinense para o Desfile de Carnaval de 2017. Ao criticar duramente o agronegócio, o grupo mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do país. Antes de mais nada, é preciso esclarecer e reforçar que o país do samba é sustentado pela pecuária e pela agricultura. Chamados de “monstros” pela escola, nós, produtores rurais, respondemos por 20% do PIB Nacional e, historicamente, salvamos o Brasil em termos de geração de renda e empregos. Com o tempo e com o nosso talento de produzir cada vez mais – e de forma sustentável – trouxemos para nossa nação o título de campeã mundial de produção de grãos e de proteína animal. Inaceitável que a maior festa popular brasileira, que tem a admiração e o respeito da nossa classe, seja palco para um show de sensacionalismo e ataques infundados pela Escola Imperatriz Leopoldinense. O setor produtivo e a sociedade não podem ficar calados diante dessa injustiça. É preciso que o Brasil e os brasileiros não só enxerguem e reconheçam a importância do nosso setor, como se orgulhem dessa nossa vocação de alimentar o mundo. Com a responsabilidade que lhe cabe, a ABCZ vem a público reforçar o compromisso de seus 21 mil associados de produzir cada vez mais carne e leite com práticas sustentáveis e seguras. E, assim, enaltecemos, também, o nosso empenho em zelar pela preservação do meio ambiente. Arnaldo Manuel Machado Borges Presidente da ABCZ
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NORDESTE
Por Luiz Alberto Brito Mendez Fotos: Luiz Alberto Brito Mendez
A EMPARN e a produção de conhecimento no semiárido
O Nordeste brasileiro tem 1.600.000 km², sendo 62% no Polígono das Secas, com pluviosidade histórica secular menor que 600 mm/ano
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N
este cenário de semiárido, as explorações de caprinos e ovinos para produção de carnes, peles e leite são vistas como atividades pecuárias indicadas para essa região, fundamentadas na criação de caprinos e ovinos nativisados e deslanados. Os criadores têm como um importante suporte forrageiro o bioma Caatinga, que apresenta uma grande diversidade de plantas de uso forrageiro, tanto em regime de pastoreio ou em fenadas. O Rio Grande do Norte é o estado brasileiro localizado mais ao nordeste do Brasil. Conta com um rebanho caprino estimado em 264,5 mil cabeças, distribuído em 8.764 estabelecimentos rurais regulares, e 450,7 mil cabeças de ovinos, distribuídos em 14 mil estabelecimentos rurais regulares, de acordo com dados do IBGE.
As cabras e as ovelhas nordestinas são a mais formidável ferramenta de redenção desta região atormentada por secas periódicas, gerando renda, prosperidade e dignidade para a população local. Porém, para tanto, é necessária a multiplicação da produção de carne, leite e peles por meio da criação de animais adequados, aumento do suporte forrageiro disponível e capacitação de toda a cadeia produtiva, com base no conhecimento e fundamentação científica. Atenta a este cenário, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN-RN), em parcerias com EMBRAPA, Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA-PRONAF), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Secretaria de
Estado da Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do Norte (SAPE), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-RN) e Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (FUNDECI/ETENE), vem produzindo importantes estudos e pesquisas, gerando e disseminando conhecimento, animais e vegetais adequados e melhorados, preservando o patrimônio genético de raças nativas, integrando importantes atividades como a lavoura, a pecuária e o reflorestamento no bioma Caatinga. Na Estação Experimental Terras Secas, no município de Pedro Avelino-RN, estão localizados alguns desses experimentos, como o Centro de Manejo de Caprinos e Ovinos; Produção Intensiva de Forragem Irrigada; e o Projeto de Avaliação de Sistemas de Produção de Palma Forrageira e Adensada no Rio Grande do Norte. Com área total de 1.600 hectares, a fazenda está dividida em quatro módulos de 400 hectares cada, um deles específico para criação e manejo de caprinos e ovinos, com chiqueiros, centro de manejo, colônia de trabalhadores, residência e centro de treinamentos. Os outros três módulos destinam-se à pesquisa e produção de forrageiras como leucena, capins (buffel e elefante) e palma forrageira das variedades miúda e gigante, e sempre em perfeita harmonia com uma caatinga íntegra, preservada e com introduções do capim buffel.
Segundo o pesquisador Aurino Simplício, condutor dos experimentos, todo o manejo de rebanhos obedece à lógica de partos a cada oito meses, planejamento das coberturas de modo a concentrar os nascimentos nos meses mais úmidos, seleção de fêmeas de melhor habilidade materna, permanecendo no rebanho apenas até o oitavo parto. Aos seis meses de idade todos os cabritos e cordeiros nascidos vão para os campos de caatinga, onde se destacarão os mais aptos e resistentes. O rebanho de caprinos da raça Canindé, estabilizado em 100 matrizes, obtêm três parições a cada dois anos, com índices de 85 a 90% de fertilidade e índice de natalidade por parto de 1,5 a 1,6. Até março de 2016 já haviam nascido 86 cabritos. O rebanho de ovinos Morada Nova, estabilizado em 200 matrizes, segue a mesma lógica estabelecida, três partos a cada dois anos, com 85% a 90% de índice de fertilidade e índice de natalidade de 1,4 a 1,5. Dentro desse projeto, até março já tinham nascido 88 cordeiros. Nos ensaios desenvolvidos pela EMPARN, em Pedro Avelino, com a produção de Palma Miúda ou Doce e com a Palma Gigante, arquitetados por seu presidente, o agrônomo Dr. Alexandre Wanderley, (pioneiro e introdutor dessa cultura de manejo adensado e irrigado em sua propriedade em Angicos/RN) foram definidas 50 mil plantas por hectare e irrigação por gotejamento em fileiras simples de pequena intensidade, sendo cinco litros de água por metro linear a
cada 15 dias. Além da fertilização orgânica e química,- o rendimento médio foi de 250 toneladas de matéria verde/hectare/ano para a Palma Gigante e 240 toneladas/hectare/ano para a Palma Miúda, isso após a estabilização dos palmais até os 18 meses de idade. Os cortes subsequentes obedecem à necessidade dos rebanhos, afinal, é uma reserva estratégica de forragens para o semiárido. As demais culturas, capim elefante e leucena, obedecem a essa mesma lógica, adubação orgânica permanente, correção química dos solos, irrigação por gotejamento e cortes periódicos para suprir as necessidades alimentares dos rebanhos. Os campos de Caatingas permanecem íntegros, preservados e com algumas introduções de capim buffel, exploradas em pastoreio extensivo pelos rebanhos da Estação Experimental Campos Secos. Os estudos demonstram que o uso dos organismos animais e vegetais nativos e os plenamente adaptados ao bioma de semiárido realizam saldo positivo no balanço de custo/benefício, gerando renda, prosperidade e dignidade nas regiões de semiárido. Periodicamente esses estudos conclusivos são publicados pela EMPARN-RN, cujos resultados podem ser consultados no site: www.emparn.rn.gov.br
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PÉ NA ESTRADA
2016: Um ano
sem fronteiras
,
E
m 2016 a equipe do Pé na Estrada não tomou conhecimento do que é fronteira... Rodou este País de uma ponta a outra... Esqueceu completamente o que é sentir cansaço. Em nossa missão de levar a você, amigo leitor, todas as informações sobre as principais feiras e exposições agrícolas espalhadas pelo Brasil, desbravamos como bons aventureiros e com muita dedicação tudo o que o universo agro tem para oferecer. São Paulo foi o nosso ponto de partida e nossa base de visitações dos principais eventos durante todo o ano. Visitamos cidades importantes para o agronegócio brasileiro, como: Guararapes, Araçatuba, Indaiatuba, Lençóis Paulista, Itapetininga, Valparaíso, Bragança Paulista, entre outras. Mas, também, levantamos poeira por outras regiões deste imenso Brasil. Porteira adentro conhecemos de pertinho todas as etapas da produção cafeeira de Guaxupé, no Sul de Minas Gerais, acompanhando desde a colheita do fruto até a sua classificação e armazenagem. Na terra que é do café, mas também do pão de queijo, visitamos ainda um dos principais eventos da raça Nelore no Brasil, a Expoinel, realizada na cidade mineira de Uberaba. Descemos um pouco no mapa para marcar presença na Agroleite, que é um dos maiores eventos da cadeia leiteira do Brasil e que foi realizado na cidade de Castro/ PR. Ainda mais ao Sul fomos conhecer os segredos de quatro principais vinícolas gaúchas, grandes exportadores não apenas de bons vinhos, mas também de tradição e história. Nas cidades serranas de Bento Gonçalves, Garibaldi e região do Vale dos Vinhedos, vimos o quanto é forte a identidade cultural das famílias descendentes de italianos situadas na Serra Gaúcha. O Rio Grande do Sul, aliás, foi destino certo de nossa
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Nossa experiência a bordo da Amarok tem sido extraordinária. O carro é fácil de dirigir, tem a robustez de uma camionete e o conforto de um carro de passeio. Em nossas viagens, os criadores pedem para ver o carro... dar uma volta... conhecer sua tecnologia e a sensação é sempre a mesma: um carro que aguenta o trabalho duro, mas que atende aos anseios de um motorista exigente. Estamos ansiosos para ver as mudanças no modelo 2017. Acompanhe nossas aventuras e fique por dentro das novidades! Denis Deli, editor da Cabra&Ovelha
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EU E MINHA
Quer nossa equipe visitando os eventos da sua região? Mande seu convite para: penaestrada@cabraeovelha.com.br
equipe que visitou o maior evento do agronegócio da América Latina: a Expointer. Saindo da região Sul do País e pulando para o Nordeste, 2016 ficará marcado como o ano de participação efetiva do Pé na Estrada em feiras e eventos locais. Em solo nordestino estivemos em Salvador/BA na Exporural e na Fenagro 2016, e em Parnamirim/RN acompanhamos a realização da 54ª Festa do Boi, uma das mais representativas festas agropecuárias da região. De norte a sul, de leste a oeste, o Pé Na Estrada procurou trazer um pedacinho de cada região visitada. Foram mais de 20 mil km rodados, passando por 15 cidades de seis estados, cada uma com uma cultura própria, com histórias diferentes, mas todas de igual maneira conectando o Brasil do campo com o Brasil urbano. A nossa missão foi mostrar as diferentes realidades e explorar as infinitas possibilidades desse nosso rico mundo rural. Conseguimos!!! E em 2017 iremos ainda mais longe. Os amigos que nos acompanham vão conhecer de perto as mudanças da nova Amarok 2017 e ver que o já era bom... ficou ainda melhor. Esse é o nosso projeto e nossa missão! Nos vemos por esse mundão afora!
Assista aos nossos vídeos no site:
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LEITE
por Redação Fotos: Divulgação
Tradição familiar na produção de leite e queijos finos
No mercado de laticínios há mais de 25 anos, o Rancho Ivama expande e diversifica sua área de atuação tendo como base central a produção de leite de cabra e seus derivados
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U
Pedro Paulo Vasconcellos Leite na entrada da propriedade
tilizando receitas francesas na produção dos queijos, mas com a peculiaridade mineira e sabores que atendem ao paladar do brasileiro, o Rancho Ivama tem ampliado seu leque de produtos atendendo à demanda de mercado. É nesta escala que são produzidos os queijos tipo FETA, os maturados CHEVROTIN e CAPRINO ROMANO, e os de massa dessorada (Boursin) MACHEVRE, petit, l`huille, FRESCAL. Localizado às margens da BR 369, KM 170, no município de Alfenas, região sul de Minas Gerais, o Rancho Ivama – Viscon Lacteos produz queijos finos de leite de cabra com a marca Caprivama há mais de 25 anos. Em franco crescimento, o produto tem conquistado, cada vez mais, consumidores de paladar refinado, sobretudo aqueles que apreciam queijos finos e buscam produtos diferenciados e de boa procedência. Conhecido por seu sabor único, os queijos de cabra contam com outros diferenciais como a excelente cremo-
sidade e paladar peculiar, sendo, inclusive, considerado um produto gourmet muito apreciado em ocasiões especiais. “Produzimos nossos queijos em escala artesanal, dentro dos mais rígidos controles de qualidade e normas sanitárias de produção, tendo certificação de órgãos oficiais. Industrializamos mensalmente 10 mil litros de leite de cabra para atender ao mercado, sendo que 10% desse volume em leite fluido é pasteurizado, embalado em 1 litro. Os 90% restantes são transformados em queijos finos, destinados aos clientes dos grandes centros, principalmente para área gastronômica: restaurantes, buffet e hotelaria, além de alguns empórios especializados e delicatéssen”, explica Pedro Paulo Vasconcellos Leite, proprietário do Rancho Ivama. “Nos últimos anos temos verificado o aumento de consumo dos derivados de leite de caprinos, principalmente os queijos. Apesar de ser considerado um produto gourmet, para consumo em ocasiões especiais, os queijos finos têm público consumidor crescente, que de-
seja conhecer, e consumir nos eventos, a qualidade dos nossos produtos que equivale a dos importados. Isso tem feito a diferença na conquista de novos consumidores”, diz Pedro Paulo.
Capril Caprivama: origem da boa matéria-prima A dedicação e o investimento em tecnologia para o desenvolvimento da atividade refletem diretamente no resultado final do produto que sai da fazenda e chega à mesa do consumidor. Tendo como missão e visão corporativa, a iniciativa que estabelece o manejo, eficiência e bem-estar animal, a postura adotada no criadouro de cabras leiteiras do Capril Caprivama considera padrões ecologicamente corretos visando desenvolver animais produtivos, longevos, com excelente sanidade de úbere e fertilidade. Pedro Paulo Vasconcellos Leite trabalha com toda a sua família no capril, que hoje produz 450 litros de leite por dia (com projeto para atingir 1000 litros). Cuidando da área de produção e reprodução atua Ivan Silveira Vasconcellos Leite, Médico Veterinário, inspetor de Registro Genealógico de Caprinos da Associação Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC) e responsável pelo controle zootécnico dos animais. Seu trabalho consiste em avaliar o desempenho de cada animal visando melhorias das espécies e
padrão de raça. Além disso, cabe a ele a coleta de embriões de suas matrizes para comercialização no mercado de criadores interessados nesse tipo de investimento. “Uma boa conformação funcional e principalmente confiabilidade para a garantia das exigências relacionadas aos padrões de nossas raças. Essas são prioridades para sustentar, além das atividades desenvolvidas pela criação no Capril Caprivama, qualidade superior para o produto leite e seus derivados”, diz Pedro Paulo. Trabalhando com animais PO da raça Saanen com linhagens francesa e canadense, o Capril Caprivama vem conseguindo a cada ano aumentar a média de produção do plantel e atualmente possui animais com lactações superiores a 1.800 litros em 305 dias. A atividade de laticínios destina-se em parte para a produção de leite de cabra pasteurizado e produção de queijos finos como os tipos Chevrotin e Feta. O
consumo dos derivados possui mercado específico e a expectativa do produtor é de crescimento para os próximos anos. Outra atividade desempenhada pela Caprivama é o oferecimento de assessoria técnica para novos produtores. O estabelecimento ajuda a quem pretende iniciar nesta área com a instalação e manejo, reprodução, inseminação e análise de viabilidade econômica para a atividade de criadouro dentro das seguintes modalidades: Indução e sincronização de cio; Transferência de embrião; Controle zootécnico do rebanho; Treinamento de pessoal para manejo em geral; Viabilidade econômica e Desenvolvimento de projetos de instalação e manejo.
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PANORAMA
por Régis Nascimento Fotos: Divulgação
Leilões apresentaram
liquidez em 2016
No ano, fatores externos como clima, política e economia tiveram influência direta nos resultados das principais leiloeiras rurais do País
C
omeça 2017. É hora de fazer as contas, trazer tudo para a ponta do lápis e pôr no papel um balanço do que de mais importante aconteceu no ano passado no mercado bilionário dos leilões rurais. Uma estimativa aproximada do faturamento anual desse setor mostra que a
atividade leiloeira arrecada, em média, R$ 1,3 bi. Porém, em 2016, turbulências no campo político e socioeconômico sacudiram fortemente as sólidas estruturas desse setor no Brasil. Não apenas isso. A alta excessiva nos preços de importantes commodities causada pela instabilidade climática, sobretudo no Nordeste, foi determinante para a queda de faturamento em algumas empresas. Clima, economia, política e até proibição da vaquejada… 2016 foi um ano cheio. Para avaliar os resultados de um ano atípico, a Revista Cabra & Ovelha - Agronegócio conversou com dez importantes dirigentes das principais empresas leiloeiras do País para: saber como foi 2016 e o que esperar para 2017? O panorama do que foi o mercado e as expectativas para este novo ano você confere agora.
Leonardo Beraldo Diretor da Embral Leilões
Leonardo Beraldo e a esposa Viviane Beraldo diretores da Embral Leilões
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Com 36 anos de experiência em comercialização de animais, equipamentos de leite e implementos agrícolas, a Embral Leilões defende a marca de mais de 1,5 milhão de animais comercializados em 4 mil leilões realizados. Segundo Leonardo Beraldo, as raças que mais se destacam em negócios de genética e
Leilão Divas do Girolando
produção são o Girolando, Holandês e Gir Leiteiro. Porém, em 2016, a empresa assistiu ao salto nas vendas de muares na região Nordeste do País. “Tivemos uma média de 97% de liquidez nos eventos e criamos uma base de vendas on-line para disponibilizar a quebra de 3%, obtendo 100% de retorno”, explicou Beraldo. Ele diz que no ano que passou o mercado de leilões observou as mesmas dificuldades que foram enfrentadas por muitos setores da economia brasileira, mas que mesmo em momentos de crise foi possível realizar bons negócios. “Nossos leilões continuaram mantendo bons preços médios e alta taxa de liquidez,” destacou. Leonardo Beraldo lembrou também que, na comparação com os últimos dois anos, o número de liquidações totais de rebanho e a saída de empresas agropecuárias da pecuária leiteira tiveram ligeiro aumento. De acordo com o executivo, isso pode ser explicado pela pressão da crise econômica. “Como nosso negócio é um B4B, intermediação comercial entre empresas, nosso papel é equacionar o melhor retorno financeiro para ambos os parceiros - comprador e vendedor”, explicou. O diretor da Embral Leilões acredita que a tendência para 2017 seja de alta no consumo de leite, o que trará reflexos diretos no mercado de leilões. “A pecuária leiteira, assim como qualquer setor da economia, cresce em período de forte consumo ou
exportação, e sente o desafio quando o consumo cai e a concorrência externa deprime o preço interno. Nossa expectativa é que o consumo em 2017 aumente, promovendo investimentos nos setores de produção e genética. Essa recuperação será percebida também no mercado de leilões”, finalizou.
Marcelo Andrade – diretor da MBA Leilões Especializada em leilões de equinos da raça Quarto de Milha, a MBA Leilões diz não ter do que reclamar do mercado de leilões rurais em 2016. Segundo Marcelo Andrade, o ano consagrou os animais de produção por conta das melhorias genéticas implementadas. “Os leilões de equinos da raça Quarto de Milha, realizados pela MBA em 2016, apresentaram liquidez muito boa. Tivemos também valorização nos animais de produção em função das melhorias genéticas e de criação. Já os animais de genética comum apresentaram dificuldade maior nos valores, mas também tiveram liquidez”. Sobre as previsões e perspectivas para 2017, o diretor da MBA Leilões diz não esperar maiores impulsos nos resultados. Segundo ele, nos anos anteriores o comportamento do mercado foi o mesmo que em 2016, e por isso acredita que ao longo deste ano o setor deverá se manter igual.
Leilão de cavalos Quarto de Milha da MBA Leilões
José Eduardo Matuck – Diretor da Nova Leilões A empresa Nova Leilões realiza leilões de gado de corte quinzenalmente em Itapetininga/SP (animais para cria, recria e engorda), além dos leilões de Elite de gado Holandês, Wagyu, Nelore, Canchim e ovinos das raças Dorper e Suffolk. Segundo José Eduardo Matuck, em 2016 a empresa obteve um aumento nas vendas em torno de 30% em relação a 2015. O motivo apontado foi a boa reação do mercado leiloeiro, havendo oferta maior em virtude da necessidade do produtor fazer caixa. Isso acabou elevando também a liquidez. Ele diz que a empresa teve uma surpresa muito grande com relação ao Holandês, que apresentou liquidez total nos leilões e aumento de 10% nas médias em comparação a 2015. Outra boa surpresa do ano foram os ovinos. “Realizamos leilões com 100% de liquidez e aumento de 20% nas vendas em comparação a 2015. Por conta disso, acreditamos que a tendência para 2017 é de melhora no mercado, tanto na oferta como na liquidez”, finalizou.
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Política, economia e clima pesaram contra
Naélson Jr. – Assessor técnico veterinário Para Naélson Jr., 2016 foi um ano de queda. “Tivemos uma queda geral de faturamento, que foi até menor do que esperávamos, mas que ainda assim se fez presente. Muito dessa baixa se deu em função da questão do clima, principalmente no Nordeste, e isso é algo que influencia diretamente no nosso negócio porque o que segura o mercado de leilões é pastagem, preço de soja e tudo o que está diretamente ligado à quantidade de chuvas”, explicou. Apesar de um faturamento menor, quando comparado com 2015, o leiloeiro diz que 2016 foi o ano em que o agronegócio, de maneira geral, caiu menos que outros setores da economia, principalmente na área de compra e venda de animais. “Neste ano a nossa média nos leilões foram boas, atingindo marcas acima de 90% de liquidez, tanto nos leilões virtuais como nos eventos em recinto. Em quantidade de eventos realizados e também nas maiores médias registradas, as raças de ovinos que mais se destacaram foram o Dorper e Santa Inês”, afirmou. “Para 2017 a nossa expectativa é de crescimento, pois já temos uma boa
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programação para leilões de caprinos e ovinos, além de novos leilões. Ficamos apenas no aguardo dos desdobramentos no campo político e também do comportamento na questão climática”, diz.
nhamos de ter em queda já ocorreu em 2016. Eu não acredito em alta, pois, com certeza, teremos um ano difícil também em 2017. Melhora mesmo nos números eu só enxergo a partir de 2018”, prevê.
Carlos Guaritã - Presidente da Leiloboi
Marcelo Silva - Diretor-presidente da Trajano e Silva Remates
Carlos Guaritã diz que os leilões de reprodutores em 2016 foram muito firmes e com boa liquidez, mesmo não tendo preços muito elevados. Já o gado geral, que é o gado de corte, apresentou uma queda acentuada no preço com a retirada de dinheiro do mercado. “Tivemos, por exemplo, o bezerro Nelore com queda de 30% e machos com queda de 20%. Foi um ano de liquidez total, porém com os valores caindo bastante graças ao preço do boi gordo que não subiu por conta de um mercado consumidor retraído pela crise econômica”, explicou. Na comparação com 2015, Guaritã diz que no ano passado não houve crescimento em preço, porém houve uma total liquidez. Com relação ao gado magro, que é o gado de reposição, a queda foi expressiva, com bezerras fêmeas caindo de 20% a 25% e machos de 15% a 20%. “Eu acredito que neste novo ano o mercado será estável, pois o que tí-
A Trajano e Silva Remates trabalha com cavalos da raça Crioulo e bovinos de genética. Em se tratando apenas de bovinos, em 2016 a empresa obteve um faturamento total de pouco mais de R$ 13,3 mi, com 2.423 animais comercializados. Mesmo assim, nem tudo foi motivo de comemoração. “Em 2016 tivemos uma movimentação financeira menor, principalmente pelo número reduzido de leilões de cavalo Crioulo, que é o nosso forte. Por conta dessa crise econômica, os animais da raça foram diretamente afetados e isso impactou também o nosso negócio”, disse Marcelo Silva. Segundo ele, para 2017 a expectativa da empresa é bastante otimista, pelo menos no que diz respeito aos bovinos. “Esperamos crescimento de até 5% em quantidades de animais vendidos e também em médias alcançadas. Já em relação ao cavalo Crioulo, acredito que 2017 será exatamente igual a 2016”, finalizou.
Sebastião Pereira Júnior - Diretor da Leilonorte Alta e queda em um mesmo ano. Esse foi o caminho trilhado pela Leilonorte em 2016, segundo explica Sebastião Pereira Júnior. “Em 2016, a Leilonorte teve até o primeiro semestre um ano relativamente bom, depois disso, tivemos queda, um pouco em função da economia. Em termos percentuais, neste ano não houve aumento no número de leilões realizados, porém a nossa liquidez apresentou crescimento”, disse o executivo. Esse efeito “gangorra” fica mais evidente nos números divulgados. Em um dos últimos leilões realizados, por exemplo, a Leilonorte conseguiu vender um único carneiro da fazenda Dorper Campo Verde, de São Paulo, por R$ 61.200,00. O remate foi recorde na Exposição Nacional do Dorper, realizada durante a Fenagro 2016, em Salvador/BA. “Quando comparamos o mercado de 2016 em relação ao ano anterior, vemos uma considerável mudança, principalmente por conta de fatores externos, que influenciaram negativamente, como por exemplo, os desdobramentos na política. No nosso caso, mesmo com a empresa tendo liquidez nos leilões realizados, em faturamento a queda foi de 30%”, enfatizou. Para 2017, Sebastião Pereira diz que a expectativa na Leilonorte é de que o mercado volte ao normal. “Esperamos isso principalmente em função da estabilização política e também da recuperação da economia”, diz.
Rodrigo Cansanção Loureiro Diretor-presidente da Agreste Leilões A Agreste Leilões é uma empresa de agenda bem eclética, onde o carro-chefe é o cavalo
Quarto de Milha, mas que também conta com espaço para o Nelore, o gado de leite, ovinos e caprinos. “Para nós 2016 foi um ano extremamente difícil, muito em função da forte recessão econômica. O primeiro semestre se mostrou pior que o segundo. A partir de outubro, com a polêmica envolvendo a vaquejada, houve grande redução na realização de eventos de faturamento, como é o caso dos leilões”, disse Rodrigo Loureiro. Segundo ele, na comparação com 2015, a Agreste Leilões teve queda em torno de 20% tanto em faturamento quanto em liquidez. “Acredito que o ano de 2017 será de muitos desafios, porém creio também que no decorrer do período iremos notar uma leve melhora na comparação com o que foi 2016. Mesmo assim, ao meu modo de ver, tudo vai depender da conjuntura econômica e política para que este prognóstico se confirme”, finalizou.
Roberto Fabrizzi Lucas Diretor da MF Rural A MF Rural realizou mais de 180 leilões em 2016. “Em 2016 tivemos um crescimento em torno de 45% de pessoas querendo realizar um leilão virtual pela internet”, afirma Roberto Fabrizzi Lucas. Na comparação com 2015 o crescimento em faturamento da empresa foi da ordem de 62%. Isso porque, de acordo com Roberto Fabrizzi, em 2016 a MF Rural entrou diretamente em leilões de alto faturamento. “Antigamente a internet fazia apenas leilões de R$ 100 mil a R$ 200 mil.
Agora estamos trabalhando em eventos de até R$ 3 milhões, ou seja, antigamente a internet era vista apenas para o leilão pequeno. Só que agora todo mundo já começa a perceber que esta ferramenta também funciona para os grandes leilões de alto resultado” explicou. Para 2017, a expectativa da MF Rural é de aumentar o faturamento em 50%.
André Assumpção – Assessor técnico Com média de 20 leilões realizados em 2016, André Assumpção diz que o mercado se manteve firme tanto nos eventos com oferta de ovinos da raça Suffolk e Dorper, como no de caprinos da raça Boer. Entre todos os eventos realizados no ano, de 80% a 90% dos leilões foram de ovinos da raça Dorper. “Na parte de liquidez tivemos praticamente 100% para o ano de 2016 com médias aproximadas de R$ 4,5 mil por animal vendido”, diz. Na comparação com 2015 o leiloeiro destaca que a entrada de novos criadores no mercado foi o que mais chamou a atenção. Segundo ele, são esses novos criadores que têm dado a sustentação devida à atividade do comércio de compra e venda de animais. “Entendo que 2017 não irá assustar tanto, justamente pela constante entrada de pessoas novas neste ramo. Como já temos visto essa movimentação de novos criadores desde o início do ano passado, eu acredito que 2017 será, no mínimo, semelhante a 2016”, finaliza ele.
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PERFIL
por Régis Nascimento Fotos: Divulgação
Silvio Doria
Personalidade de destaque na caprinocultura, Silvio Doria não tem medo de mudanças bruscas ou viradas repentinas. Com elas até já se acostumou, com a mesmice, não...
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Da caprinocultura à agricultura irrigada
N
ão ter medo de arriscar. Mudar a trajetória em curso sempre em busca de novos desafios. Estar sempre disposto a aprender e ver a vida por novas perspectivas. São esses os fatores que movem o produtor rural e doutor em Zootecnia Silvio Doria de Almeida Ribeiro. Nascido em 1964, na cidade de São Paulo, ele veio ao mundo numa metrópole por mera coincidência. Sua ligação mais forte desde sempre foi o campo, os bichos e as coisas da terra, uma herança “genética” que recebeu da família de agricultores da cidade de Andradas, no sul de Minas Gerais. Na juventude o meio acadêmico norteou uma importante parte dos rumos
de sua vida. Foi em meio a aulas e livros que conheceu a então futura esposa, Anamaria Cândido Ribeiro. Foi também nesse ambiente, durante o curso de agronomia, que iniciou o seu envolvimento com a caprinocultura. Ao término da faculdade, em 1985, se dedicou exclusivamente à propriedade rural da família por um período de três anos. Em 1992 um grave acontecimento quase interrompeu sua trajetória. Após um acidente de carro, na volta de uma despedida de solteiro, Silvio Doria acabou fraturando uma vértebra da coluna, comprometendo parte de sua mobilidade da cintura para baixo. Sua recuperação lhe exigiu um período de descanso de quase dois anos. Nesse meio-tempo, a antiga colega de
Com o pai no torneio leiteiro de Resende/RJ em 1995: primeiro lugar em 3 categorias, além de Grande Campeã e a Reservada Grande Campeã
Com Anamaria, sua esposa, comemorando seu aniversário de 50 anos às margens do Rio São Francisco
faculdade virou esposa. Silvio Doria e Anamaria Cândido Ribeiro se casaram em 1993. Na esfera acadêmica, sua carreira seguiu uma trajetória retilínea. Fez graduação em agronomia, partindo para o mestrado (1995) e doutorado em Zootecnia pela Unesp de Jaboticabal/ SP (1999). Foi coordenador do Curso de Engenharia Agronômica “Manoel Carlos Gonçalves”, da Unipinhal em 2011 e Coordenador do Curso de Especialização em Produção e Reprodução de Caprinos e Ovinos da Fundação de Ensino Otávio Bastos – UNIFEOB, de 2006 a 2012.
Tradição na caprinocultura A história da família de Silvio Doria com a caprinocultura é longa. Seu bisavô já criava cabras desde 1879. Seu pai, José Maria de Almeida Ribeiro, mais conhecido como "Zé Maria", pavimentou com o Capril Serra de Andradas, na cidade de Andradas/MG, o caminho por onde passou a quarta geração da família na atividade. Em 1977, então com 13 anos, Silvio participou de sua primeira exposição com caprinos como ajudante do pai. Já na época da faculdade e um pouco mais envolvido com a caprinocultura, ele conduzia a atividade em paralelo com os estudos. E mesmo depois de formado, juntou as funções de produtor e pesquisador unindo os elos entre
No manejo com caprinos Anglonubiano
ensino, pesquisa e extensão com a caprinocultura. No Capril Serra de Andradas ele e o pai trabalhavam com cabras leiteiras, produzindo e comercializando leite, queijos e derivados. “O nosso rebanho era de elite nessa época, com animais de alta produção que nos serviam como estratégia de divulgação da atividade e também da nossa própria em especial. Assim foi de tal modo que rodamos uma boa parte do Brasil participando de exposições e acumulamos uma quantidade de prêmios que é bastante considerável”, explica. Das premiações mais importantes, o Capril Serra de Andradas levou o título de melhor criador e expositor da raça Saanen do Estado de São Paulo no ranking da Capripaulo em 2007.
Os animais também eram destaque e recebiam premiações que atestavam a qualidade e seriedade do trabalho. O Big Bode da Serra de Andradas, por exemplo, foi eleito o melhor reprodutor Saanen do primeiro Sumário de Caprinos Leiteiros do Brasil pela Embrapa. A atividade da caprinocultura ainda lhe abriu outras portas à medida que aumentava o seu envolvimento com o meio acadêmico. Silvio Doria passou a ser chamado para ministrar palestras, cursos, se credenciou como inspetor de registros e exerceu funções que iam muito além de ser apenas criador. Em 2004 participou como palestrante na "9th International Conference on Goats", promovida pela International Goat Association - IGA, em Querétaro, no México.
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Capa do seu livro sobre caprinocultura
Capritec em Espírito Santo do Pinhal/SP
O ponto alto Assim como toda carreira de sucesso, sempre há um momento específico em que se atinge o auge de um bom trabalho. Esse momento em geral quase sempre é coroado com um grande acontecimento. Para Silvio Doria dois marcos históricos assinalaram o ápice do seu trabalho com caprinos. O primeiro aconteceu em 1997 quando lançou seu primeiro livro, intitulado Caprinocultura: Criação Racional de Caprinos, pela editora Nobel. O segundo momento que ele considera fundamental em sua trajetória aconteceu em 2010, quando passou a trabalhar com caprinos da raça Anglonubiano. A notícia de que a Capritec mudava 100% de seu consagrado plantel de Saanen para Anglonubiano agitou os bastidores da caprinocultura brasileira. Naquele mesmo ano Silvio Doria foi apontado como o único brasileiro homenageado pela Federación de Ovejeros y Cabreros de América Latina – FOCAL, com a inclusão no “Salón de la Fama”, em Cuba, pelos serviços prestados à caprinocultura brasileira. Porém, tão importante quanto os dois marcos de sua atividade, foi o projeto Capritec, que teve início em 1998 e foi o primeiro site brasileiro especializado
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em caprinos. Este projeto específico foi crescendo e num determinado momento passou a congregar num único lugar todas as atividades do pesquisador. Consta dessas atividades a realização de cursos especializados e treinamentos, consultoria e assistência técnica, além da criação de caprinos e a divulgação de todos subprodutos comercializados. “A partir de 1998, quando nós criamos a Capritec, até 2013, tudo isso se dava dentro desse projeto. Se formos pensar não numa coisa pontual, mas sim numa parte importante, podemos seguramente afirmar que o essencial da nossa vida na caprinocultura está atrelado ao projeto Capritec”, lembrou Silvio Doria.
Novos desafios Em 2012, aos 48 anos, Silvio Doria percebeu que sua vida caminhava com relativa tranquilidade. Dava suas aulas na faculdade, tocava os negócios com o projeto da Capritec… E nesse ritmo as coisas seguiam “incomodamente” (para ele) de maneira bem satisfatória. Em vez de tranquilidade, isso o preocupava. Achava que ainda era muito cedo para que as coisas estivessem tão sossegadas. Foi a fagulha que faltava para
que fosse acesa a chama da mudança. E ele mudou. A primeira vez em que esteve em Juazeiro/BA foi em 2011, quando havia sido convidado para palestrar em um evento local. Em vez da remuneração pela palestra, Silvio Doria pediu para que os organizadores indicassem alguém que lhe apresentasse a região. Ele queria conhecer mais do lugar com fama de ter o maior número de caprinos do Brasil. Gostou tanto do que viu que voltou à região outras oito vezes, ainda no mesmo ano. Nessas idas e vindas percebeu o quanto era preciso desenvolver ainda mais a caprinocultura local. Quando retornou a São Paulo, aproveitou para tirar licença de um semestre de todas as atividades que exercia e foi passar esse “período sabático” em Juazeiro. Era para ser algo temporário, porém, no início de 2013, ele e a esposa Anamaria se mudaram de vez para a região. Ao longo dos primeiros meses na nova terra Silvio Doria foi desenvolvendo trabalhos relativos a caprinos e ovinos, como palestras e consultorias técnicas. Continuar na caprinocultura, aliás, foi o objetivo principal da mudança para a Bahia. Atuando no cenário baiano, em pouco tempo se
Palestra na Fenagri 2011 em Juazeiro/BA: O ponto de partida para a mudança
Bananas: Um novo caminho
tornou diretor técnico da ACCOSSF Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Sertão do São Francisco.
Política partidária Aos poucos Silvio Doria foi percebendo que os ciclos que envolviam os trabalhos com caprinos quase sempre se repetiam sem apresentar alguma novidade significativa. Percebeu também que a caprinocultura da região tinha uma força política muito grande. Só que para ele era o pior tipo de política para se trabalhar com animais: a partidária. “Eu não me envolvo com política partidária. Meu trabalho é técnico. Se para desenvolver esse tipo de trabalho preciso estar vinculado a um político de ofício, então eu prefiro não trabalhar. Eu até me relaciono com a política partidária para as coisas acontecerem, mas eu não me envolvo com ela”, comentou. Não se envolver com a política partidária em Juazeiro significava não se envolver com caprinos e ovinos. E assim foi. Após se dar conta de como funcionava nos bastidores a caprinocultura local, Silvio Doria decidiu pelo seu afastamento. Rompeu – temporariamente – com a atividade na qual
sua família já estava há quase 140 anos. “Muita gente costuma dizer que caprinocultura é desorganizada. Eu digo o contrário: ela é bastante organizada, só que não do jeito que deveria ser. Essa atividade movimenta bastante dinheiro por aqui. Ninguém nessa região tem prejuízo com caprinos e ovinos. O problema aqui não é resultado econômico, mas sim distribuição de renda. Ou seja, alguns ganham muito, enquanto outros ganham pouco. Está desse jeito porque as pessoas não querem que mude”, desabafou.
Silvio Doria aproveitou o período de “andanças” pela região de Juazeiro para observar todo o tipo de propriedade rural. Seu projeto visionava propriedades que tivessem características próprias de área irrigada, de perímetro irrigado ou de margem de rio. A procura levou dois anos e contabilizou em torno de 200 locais visitados. Em setembro de 2013 essa busca enfim terminou e a Fazenda Jaraguá, de 98 hectares de área, passou então a fazer parte da vida da família Ribeiro. Durante o tempo em que buscava uma propriedade, Silvio Doria foi analisando o forte potencial produtivo vegetal da região. Nessas análises se deu conta do quanto o clima era favorável ao cultivo de qualquer cultura, desde que se tivesse água para irrigação. Logo viu que tendo uma irrigação regular, ele poderia produzir tanto mangas, quanto bananas ou capim para pastagem dos pequenos ruminantes. A diferença não estava na capacidade produtiva ou nos custos de produção, mas sim na receita gerada. Essa foi sua grande sacada. Nova rotina, agora na agricultura
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“Se vou ter uma atividade intensiva, com área irrigada, produzindo caprinos, ou fazer irrigação para produzir bananas gastando a mesma coisa, só que com uma perspectiva econômica maior, então porque eu vou gastar o mesmo tanto pra ganhar menos? Não é que a caprinocultura não seja rentável. Ela apenas não é tão competitiva com outras atividades de agricultura irrigada que temos por aqui”, justificou. A opção pela produção de banana se deu após uma série de fatores e considerações importantes. A primeira delas é que seu ciclo produtivo não é o mais rápido, mas também não é o mais lento. A segunda foi a questão da dinâmica de produção, que comparada ao cultivo de melão ou cebola não apresenta tanta intensidade de manejo, ou seja, mais trabalho em menos tempo. Silvio Doria considerou ainda a questão climática da região, que por ser mais quente e seca, é pouco favorável ao surgimento de duas pragas típicas da banana: a Sigatoka-negra e o Mal-do-Panamá. Isso o libera do uso de defensivos agrícolas, o que também foi um ponto a favor. Saindo um pouco da teoria e partindo para a prática, ele precisou implementar algumas ações para que seu projeto de fato começasse a funcionar.
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Realizou o levantamento do plano altimétrico da fazenda, levantamento do tipo de solo, além do planejamento de irrigação, produção e drenagem. Desse trabalho, que já tem quase dois anos, a fazenda conta hoje com 19 hectares de banana plantada em produção. Cauteloso com os números, ele evita quantificar a média produtiva obtida com o cultivo de banana do tipo Prata-Rio. Diz apenas que os maiores investimentos feitos até o momento foram na preparação da terra e que o retorno só virá em longo prazo. Nesse horizonte futuro, ele diz que a sua expectativa e a meta principal da fazenda é produzir em termos de valores o equivalente a R$ 1.000,00 por mês/hectare plantado. Dados divulgados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) dão respaldo aos projetos do produtor. A produção estimada de frutas para 2017 é de aproximadamente 44 milhões de toneladas (IBGE, 2016). Esse volume mantém o Brasil como terceiro maior produtor de frutas do mundo, atrás apenas da China e da Índia, respectivamente. Os números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que frutas como a banana e o mamão terão crescimento de 10% na produção, até 2025.
Diversificar e expandir Além da plantação de bananas, que por enquanto é a sua única atividade dentro da agricultura irrigada, Silvio Doria diz que sua meta para 2024 é ter 75 hectares de área plantada em plena produção. Para isso, pretende diversificar o tipo de cultura trabalhada, aproveitando todo o potencial natural que a região oferece. Dos seus planos constam outras duas atividades além da banana. Uma é a fruticultura perene, que ele diz poder ser tanto de goiaba, quanto manga ou coco. A terceira atividade seriam culturas de ciclo curto, que poderiam ser horticultura como abóbora e cebola ou fruticultura, como melão e melancia. Enquanto esse futuro não chega, o que já se vê em fase de desenvolvimento na fazenda é a produção de ração animal. Para ele a ração é um produto caro para se comprar e que por conta disso, uma boa alternativa seria produzir essa comida para explorar também a sua venda. Procurando aproveitar melhor essa alternativa, hoje a fazenda se prepara para o plantio de milho, visando a produção de silagem.
“A nossa ideia é chegar a três atividades: banana, uma fruticultura e área de ciclo curto. Com a banana queremos chegar de 20 a 30 hectares; com a fruticultura também de 20 a 30 hectares e para a área de ciclo curto de 10 a 20 hectares”, resumiu Silvio Doria.
Ovinos: integração produtiva Uma das coisas que o produtor sempre fez questão de ressaltar, desde que mudou o foco de sua atividade, era de que para ele as portas para os caprinos e ovinos não haviam se fechado por completo, mas que estavam apenas “encostadas”. E assim como tudo que está relativamente aberto, há sempre a projeção de novas possibilidades. É com essa mentalidade que dentro dos projetos futuros para diversificação das atividades ainda sobra espaço para o ovino de corte. Silvio Doria sabe que para que essa fruticultura funcione conforme o planejado, mais do que nunca o que ele precisa (e que hoje tem que comprar) é de esterco. Então porque não produzir esse material que é tão importante e caro? Tratando desse tema como peça fundamental na engrenagem produtiva da Fazenda Jaraguá, Silvio diz que pensa hoje no pequeno ruminante primeiro
como produtor de esterco. Nesse planejamento o ovino ganha a devida importância, sendo inclusive considerada a hipótese de se ter um rebanho maior para consequentemente se ter uma produção maior de esterco. “Esse ovino poderá, por exemplo, integrar com a produção de coco, pastando naquela área, vai comer a sobra
da bananeira, vai comer parte dessa silagem de milho e por aí vai. A ovinocultura terá um papel importante na integração dos projetos. Ele consome parte do que eu produzo, pasteja embaixo das fruteiras, fornece o esterco e, lógico, fornece carne como fonte de renda. Então é uma integração completa de agricultura e pecuária”, finalizou.
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EVENTO
por redação Fotos: Marco Gouveia
29ª FENAGRO 2016
Nacional das raças Dorper e White Dorper: o chão tremeu em Salvador
A
Nacional das raças Dorper e White Dorper movimentou os principais criadores e expositores do País presentes no Parque de Exposições de Salvador/BA durante a realização da 29ª Fenagro 2016. Quem foi ao evento pôde ver de perto animais com excelente qualidade genética e ótima conjuntura física. No total, 34 representantes de nove Estados levaram ovinos da raça Dorper, enquanto outros 19 expositores de seis Estados apresentaram animais da raça White Dorper. A ABC Dorper, organizadora oficial do evento, deu uma atenção especial para os julgamentos em pista. Para avaliar os animais, foram convidados juízes internacionais vindos da África do Sul e Namíbia. Estiveram presentes os jurados Phillip Strauss (Namíbia), Dan Bosman e Dawid Krieul (ambos da África do Sul).
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“A Nacional é o evento maior das nossas raças, onde a soma de um conjunto de fatores faz com que todos os criadores esperem ansiosos pela sua realização. É o momento em que aproveitamos para conviver com nossos parceiros e amigos, aprendemos com o julgamento e, o mais importante, obtemos parâmetros para ao voltar a nossas cabanhas, fazermos uma boa avaliação do caminho que estamos trilhando com a raça”, destacou a presidente da ABC Dorper, Vilma Gomes. Além de premiar os melhores animais e apresentar ao público o que há de mais relevante em termos de melhoramento genético, a Nacional evidenciou também o trabalho feito por profissionais da ovinocultura nos principais criatórios do País. Neste quesito, o mais premiado no evento foi a Cabanha Interlagos, de Valinhos/SP, que levou o título de melhor Criador e Expositor das Raças.
Outro evento de destaque dentro da cadeia da ovinocultura, realizado paralelamente a Nacional, foi a final do ranking baiano da raça Santa Inês. Para esta última etapa os julgamentos ficaram a cargo dos juízes Weaver Braga, Edmilson Lúcio e Claudio Adriano. Sucesso em vendas - Mesmo com o grande campeonato sendo decidido apenas no sábado (03/12), os criadores interessados em adquirir os melhores animais vistos em pista puderam arrematar os lotes ofertados através da realização de três importantes leilões: Leilão Connection & Convidados (01/12), Leilão Nacional Dorper Show (02/12) e Leilão Dorper Brasil (03/12). O sucesso deste tipo de evento pôde ser mensurado pelos números: apenas o Leilão Connection & Convidados obteve um faturamento total de R$ 460 mil com média de R$ 12 mil por lote. Já o Leilão Nacional Dorper Show alcançou a marca de pouco mais de R$ 369 mil e média por lote de R$ 9.483,08. No Leilão Dorper Brasil o faturamento chegou a mais de R$ 300 mil, com média por lote de R$ 6.999,07.
Fenagro 2016: importância do tamanho do Nordeste
“Já é fato o sucesso das raças no cenário nacional da ovinocultura, inclusive com expectativa de crescimento para os próximos dez anos. Os três leilões realizados na Nacional de 2016 bateram recorde de vendas e média por animal, indo na contramão do conturbado cenário econômico do País. Isso não nos deixa nenhuma dúvida quanto ao sucesso da Nacional de 2016 realizada em Salvador”, comemorou Vilma Gomes. Reconhecimento - Antes do início do Leilão Nacional Dorper, o Presidente da ABCC – Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos, Arlindo Ivo, pediu a palavra para fazer uma pequena
Torneio leiteiro - O torneio de cabras leiteiras foi uma atração à parte realizada durante a Fenagro 2016. Com promoção da Secretaria de Agricultura da Bahia (Seagri), a ação faz parte do Programa Cabra Produtiva, Rota do Leite, que teve como grande campeã suprema a cabra Adriele, da
homenagem em comemoração aos 40 anos da entidade. Foram homenageados pelos serviços prestados à caprinocultura nacional Guilherme R. Radel (prêmio que foi entregue a seu filho e ex-presidente da ABCC, Thomas Radel, Joselito Barbosa e Luiz Alberto Britto Mendes. Porteira Azul, de propriedade do Capril Porteira Azul. O animal alcançou a produção de 21,368 litros de leite, com média diária de 7,123 litros. A sua Reservada Campeã foi a cabra Joara, de propriedade do Capril Santa Clara, com uma produção de 20,821 litros de leite e média diária de 6,940 litros.
Realizada entre os dias 26 de novembro e 4 de dezembro, o Parque de Exposições de Salvador recebeu a 29ª edição da Feira Internacional da Agropecuária (Fenagro). Com o tema “Agropecuária da Bahia, Celeiro de Boas Oportunidades”, a feira considerada uma das mais importantes da região Norte e Nordeste se destacou por gerar oportunidades de negócios e ações de fomento ao setor agropecuário. De acordo com dados oficiais divulgados pelos organizadores, os nove dias de evento geraram movimentação financeira em torno de R$ 98 milhões em negócios entre leilões, venda de maquinários e outras atividades. Mesmo estando um pouco abaixo da estimativa inicial de renda, que era de R$ 100 milhões, a feira foi considerada um sucesso, com público total confirmado de 100 mil visitantes atendendo à expectativa dos organizadores. A quantidade de animais inscritos na Fenagro 2016 foi de 4.500, entre caprinos, ovinos, bovinos, equinos e pequenos animais. No setor de compra e venda destes animais, neste ano foram realizados 16 leilões das raças Nelore e Girolando (bovinos), Pampa, Mangalarga, Mangalarga Marchador e Campolina (equinos) e Dorper (ovinos). Entre os grandes campeonatos realizados, a Fenagro 2016 recebeu o Campeonato Brasileiro de Marcha Picada Mangalarga Marchador, que, nesta edição, envolveu boa parte dos quase 500 animais da raça participantes. A competição nacional aconteceu no período de 29 de novembro a 4 de dezembro, e seu julgamento teve como base a análise da morfologia e marcha do animal. Ainda durante o evento, o Governo da Bahia lançou a feria Bahia Farm Show 2017, que irá ocorrer entre 30 de maio e 3 de junho. O evento será promovido pela Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia (ACCOBA), em parceria com o Governo do Estado por meio da Secretaria de Agricultura (Seagri).
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TRANSPORTE E LOGÍSTICA
por Geasi Oliveira de Souza* Foto: Divulgação
Expectativas positivas para o Agronegócio em 2017
O
agronegócio brasileiro continua sendo o principal responsável por suportar a gravíssima crise imposta ao Brasil nestes últimos três anos. Cenário que sem as tão esperadas reformas essenciais (limitação dos gastos públicos, reformas da previdência e trabalhista) não irá representar avanço no próximo ano. Neste momento de incerteza, setores como o da indústria de transformação e do comércio varejista reduzem investimentos e a atividade econômica é afetada de modo substancial, gerando sucessivos resultados como: PIB negativo e quadro recessivo. Na outra vertente, vemos o agronegócio brasileiro contando com a extrema capacidade técnica de todos os profissionais atuantes no setor e suportados pela altíssima tecnologia adotada nas diversas etapas da cadeia de abastecimento, equação que garante um setor forte, apresentando crescimento, quando avaliado com períodos anteriores. O ano de 2016 foi muito afetado pelo cenário econômico e marcado pela retração na produção de 2,5% quando comparado com o ciclo anterior. As secas registradas e a excessiva oferta de chuvas em determinadas regiões são apontadas
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como responsáveis por esse cenário. De outro lado, vemos a elevada valorização de cadeias produtivas como a soja, algodão e pecuária registrando recordes históricos em termos de valor quando cotados em US$. Porém, esta valorização cambial tem que ser avaliada com precaução. De um lado traz oportunidades, de outro eleva indiretamente os custos do setor, já que os principais insumos são indexados na mesma moeda e a sua variação representa sempre maior percentual que o valor agregado ao preço do produto. O setor produtivo vê mais um ano sendo encerrado sem a tão esperada intervenção federal na infraestrutura logística para o escoamento da produção agroindustrial. Os resultados obtidos na etapa de produção (dentro da porteira) são facilmente desperdiçados com a irracionalidade no planejamento da infraestrutura logística para o setor no Brasil. Uma das mudanças almejadas, dentro de uma visão de curto prazo, é o destravamento da Lei Geral dos Portos (Lei 12.815/13), pois tornaria o nosso setor portuário ágil e competitivo, já que este processo representa 96% das exportações brasileiras. Outro aspecto que, no curto prazo poderia aumentar a com-
FOTO: Alf Ribeiro / Shutterstock, Inc.
petitividade, são as mudanças visando melhorias na operação do transporte rodoviário de cargas, pois este modal é responsável por 58% do volume total. No setor do agronegócio ele transporta 85% de tudo que produzimos no campo. Para tal precisamos da liberação dos editais de privatização das obras de infraestrutura, pois as baixas taxas de investimento nessa área, registradas nos últimos anos, vêm acelerando o apagão logístico. Os excessivos aumentos de custos nas cadeias do agronegócio elevam o gargalo a ponto que a nossa malha viária - já sobrecarregada - seja um verdadeiro campo de guerra onde, anualmente, são dissipadas mais de 40 mil vidas. Sabemos que grande parte dos acidentes são promovidos por excessiva jornada de trabalho, excesso de peso e frotas que já deveriam, há muito tempo, ter passado por um programa sério de renovação de ativos, este último, um dos grandes desejos do setor. Segundo as previsões para 2017, a estimativa é que teremos uma safra de 209,4 milhões de toneladas, se confirmado este número teremos um crescimento de 13,9% superior ao total obtido em 2016, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Neste cenário estima-se que todas as regiões devem mostrar aumento na produção: Norte (7,0%), Nordeste (51,0%), Sudeste (10,3%), Sul (5,5%), Centro-Oeste (18,7%). Avaliando as culturas, a soja deve ter aumento de 7,6% na produção, número que pode representar crescimento de 7,3 milhões de toneladas quando comparado a 2016. De outro lado, a questão do crédito para o fomento da produção agroindustrial torna-se uma preocupação devido à deterioração das finanças públicas, reduzindo a capacidade de investimento do governo federal, pois linhas de custeio são essenciais para a manutenção da atividade, principalmente no segmento de agricultura familiar. As boas notícias aparecem ainda no setor de máquinas e equipamentos que demonstra a pujança do setor e registra forte alta quando comparado
com período anterior. Este cenário garante mais uma vez a perspectiva que o agronegócio irá contribuir com a redução dos déficits de PIB e demais indicadores macroeconômicos do País. Ainda na linha das boas notícias, vemos cada vez mais a consolidação do corredor de escoamento Norte com a integração rodovia-hidrovia nos portos localizados no Estado do Pará. Os terminais de embarque intermodal localizados no município de Itaituba apresentam elevado crescimento nos volumes; este modelo operacional reduz os custos logísticos de produtores da região. A ferrovia norte-sul vem firmando a sua posição em terminais localizados no Estado do Tocantins, tornando-se uma realidade dentro das novas fronteiras agrícolas do País no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região denominada de “MATOPIBA”.
*Geasi Oliveira de Souza é vicepresidente de especialidades do Agronegócio na NTC&Logística
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GASTRONOMIA
PERNIL de cordeiro cozido lentamente em vinho tinto Ingredientes • 40 g de manteiga sem sal • 300 g de cebolinha descascada • 15 g de alecrim fresco • 4 pernis de cordeiro • 4 colheres (sopa) de farinha de trigo • Sal e pimenta • Vinagre balsâmico 150 ml • 500 ml de vinho tinto • 60 ml de purê de tomate • 3 colheres (sopa) de açúcar • Você vai precisar de uma caçarola de fundo grosso com tampa
Modo de preparo • Aqueça o forno a 150 °C. • Derreta 20 g de manteiga lentamente na panela, adicione as cebolinhas inteiras, descascadas e deixe amolecer por 15 minutos. Adicione o alecrim e os outros 20 g de manteiga. Mexa bem, enquanto a manteiga derrete. Em uma tigela, adicione a farinha, o sal, a pimenta e o cordeiro. Passe o cordeiro na mistura de farinha. Retire o alecrim e as cebolinhas da caçarola e coloque em um prato de
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reposição. Aumente o fogo sob a panela e coloque o cordeiro para selar, virando várias vezes até que cada lado doure ligeiramente. Reduza o fogo e coloque as cebolas e o alecrim de volta para a panela e adicione o vinagre balsâmico, vinho tinto e purê de tomate. Leve para ferver, depois coloque no meio do forno preaquecido, com a tampa. • Depois de 1 hora e 50 minutos tire a panela do forno e acrescente 3 colheres (sopa) de açúcar. Deixe no forno, com a tampa, por mais 40 minutos.
• Após este tempo, retire do forno, coloque o cordeiro em um prato separado, mantendo-o quente, e coloque a panela de volta ao fogão para reduzir e engrossar o molho. Você pode fazer isso aumentando o fogo e agitando continuamente o molho. Faça isso por 10 minutos e prove o molho para ver se precisa engrossar e adoçar. Coloque o cordeiro de volta para a panela por dois minutos para substituir qualquer perda de calor e sirva com polenta ou purê de batatas e espinafre cozido no vapor.
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Caderno
Técnico Científico
1
Novo teste de Prenhez
pode aumentar os lucros
2
Ultrassonografia como ferramenta para avaliação da carcaça de ruminantes
Potencial de retorno econômico pelo uso de
3 touros
melhoradores em monta natural
CADERNO
Técnico Científico
1
Novo teste de Prenhez pode aumentar os lucros
Por redação
Método da IDEXX pode ser feito com amostras de sangue diretamente no campo
Técnicos e produtores comprovam a facilidade do método: teste pode ser realizado em qualquer local, com resultados em 21 minutos.
C
ada vez mais os produtores brasileiros de ovinos e caprinos estão adotando uma nova tecnologia capaz de aumentar a produtividade de seus rebanhos. O Teste Rápido de Prenhez com Leitura Visual, da empresa norte-americana IDEXX, possibilita aproveitar ao máximo os ciclos reprodutivos, aumentando a produtividade do rebanho. “Quando não se tem certeza se uma fêmea está ou não prenha, pode haver a perda de, pelo menos, um ciclo estral na estação de monta, prejudicando economicamente a atividade. O novo teste resolve este problema detectando de forma prática e barata as fêmeas que estão prenhas ou vazias”, explica Fernando Pardo, Especialista em Gestão Reprodutiva da IDEXX. “Grandes, médias e pequenas propriedades do interior de São Paulo, Paraná , Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e todo o Nordeste mudaram para este método devido à grande facilidade de manejo e alta precisão. A adaptação é imediata por parte dos produtores e veterinários”, complementa.
OTIMIZAÇÃO DE TEMPO E MÃO - DE -OBRA O método detecta as PAGs (Glicoproteínas Associadas a Prenhez) em amostras de sangue, plasma ou soro, essas PAGs são secretadas na corrente sanguínea da mãe pelos monócitos binucleados somente quando a formação das carúnculas e cotilédones da mãe e o embrião, isso torna o teste muito específico e também por se tratar de um método de ELISA (Ensaio de Imunoabsorção Enzimática) é muito sensível como observamos na tabela abaixo para os seguintes ruminantes: cabras, ovelhas e vacas.
Com o Teste Rápido de Prenhez com Leitura Visual IDEXX é possível testar ao mesmo tempo quantos animais forem necessários. Os resultados ficam prontos em apenas 21 minutos e têm a mesma precisão que um teste de ultrassom. A interpretação visual dos resultados é muito fácil e não deixa dúvidas. Além disso, a leitura não requer uso de equipamentos, trazendo economia para o produtor e para o veterinário. Para saber mais: Entre em contato com Fernando Pardo, Especialista em Gestão Reprodutiva da IDEXX Brasil. Fone e whatsapp: (11) 99257-4714 E-mail: fernando-pardo@idexx.com
Tabela 1 – Precisão do teste de Prenhez IDEXX por espécie -
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CADERNO
Técnico Científico
2 Ultrassonografia como ferramenta para
avaliação da carcaça de ruminantes * Autores: Luís Gabriel Alves Cirne, Pedro Veiga Rodrigues Paulino, Greicy Mitzi Bezerra Moreno, Gleidson Giordano Pinto de Carvalho e Jalison Lopes
A
pecuária de corte nacional é uma atividade importante para a economia e o desenvolvimento do País em virtude do Brasil possuir o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, com aproximadamente 208 milhões de cabeças; ser o segundo maior produtor de carne bovina, com produção em torno de 9.600 milhões de toneladas equivalente carcaça; e, também, devido ao posto de segundo maior exportador mundial deste produto. Entretanto, embora, os números pareçam animadores, a produtividade nesta atividade ainda não é das melhores quando comparamos com países que apresentam maior eficiência de produção, como por exemplo, os Estados Unidos, que têm um rebanho bovino de aproximadamente 89 milhões de cabeça
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e produção em torno de 11.389 milhões de toneladas equivalente carcaça. Além ainda da baixa produtividade apresentada pelo rebanho nacional, a carne do Brasil é considerada de baixa qualidade, carne commodity, devido, principalmente, à elevada idade de abate dos animais e à escassez de gordura de acabamento, sendo esta última característica importante no processo de conservação da carcaça, evitando, em parte, a perda de maciez da carne pelo encurtamento das fibras e o rendimento da carcaça por desidratação, o que compromete a remuneração do produto final. Uma técnica que vem crescendo no Brasil, e que é importante na busca pela maior produtividade da pecuária de corte e qualidade da carne, é a ultrassonogra-
fia. Por meio desta ferramenta é possível selecionar os melhores indivíduos para produtividade e qualidade da carcaça e da carne, mediante avaliação da carcaça no animal vivo. Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre a utilização da ultrassonografia como ferramenta para avaliação da carcaça de ruminantes. As mensurações da carcaça do animal in vivo por meio da ultrassonografia possibilitam presumir a capacidade que o mesmo tem para precocidade, musculosidade, espessura de gordura de acabamento na região dorso-lombar e garupa, assim como o rendimento de cortes comerciais e o grau de marmorização da carne. O termo ultrassom se refere às ondas de som ou vibrações numa frequência acima da amplitude audível pelo ouvido humano (Tarouco, 2004). O aparelho de ultrassom basicamente mede a reflexão das ondas de alta frequência que ocorre quando estas passam por meio dos tecidos (Suguisawa, 2002). As características de carcaças que podem ser mensuradas e avaliadas por meio da ultrassonografia no animal vivo são a área de olho-de-lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS) e garupa (EGG) e o marmoreio (MAR), além de um importante músculo localizado na região da garupa, a alcatra. Essas medidas permitem predizer a composição da carcaça, sobretudo no que tange ao acabamento de gordura; o crescimento de determinados músculos; e o rendimento de cortes comerciais, assim como as características qualitativas da carne, relacionadas à quantidade de gordura intramuscular. Após o transdutor, que é o dispositivo
responsável por gerar as ondas ultrassônicas, ter sido colocado em local apropriado no animal (Figura 1), o aparelho converte os pulsos elétricos em ondas de alta frequência (ultrassons), que ao encontrar diferentes tecidos corpóreos dentro do animal promove uma reflexão parcial (eco) em tecidos menos densos, ou total em tecidos de alta densidade como ossos. Mesmo após a ocorrência do eco, as ondas de alta frequência continuam a se propagar pelo corpo do animal e o conjunto de informações enviadas pelas reflexões transmitidas ao transdutor é projetado em uma tela como imagem (Figura 2), em que as mensurações são realizadas (Suguisawa, 2002).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANCP. [2016]. Ultrassonografia de carcaça. Disponível em: <http://www.ancp.org.br/pagina/17/ medidas-por-ultrassonografia#.V86yXfkrLIU>. Acesso em: 10 set 2016. FARIA, M. H. Ultrassonografia como critério de abate em bovinos de corte. Pesquisa & Tecnologia, v. 9, n. 1, 10 p., 2012. SAINZ, R. D.; ARAÚJO, F. R. C. Uso de tecnologias de ultra-som no melhoramento do produto final carne. In: V Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, Uberaba, Anais... Uberaba: ABCZ, 2002. SUGUISAWA, L. Ultrassonografia para predição das características e composição da carcaça de bovinos. 2002. 70 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal e Pastagem) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 2002.
Figura 1: Locais das medidas ultrassônicas no animal vivo. Fonte: Sainz & Araújo (2002).
Considerando as regiões anatômicas de avaliação, a área de olho-de-lombo (AOL) é caracterizada como sendo uma secção transversal do músculo Longissimus dorsi, entre as 12ª e 13ª costelas, e frequentemente utilizada como medida indicadora de musculosidade. A espessura de gordura subcutânea (EGS) também é mensurada no mesmo local, indicando o grau de acabamento da carcaça e a qualidade de carne. A gordura intramuscular (GIM), denominada de marmoreio, também é medida na mesma região da AOL, entretanto com o transdutor colocado paralelo ao músculo. A espessura de gordura na garupa (EGG) ou EGP8 situa-se na região entre o íleo e ísqueo, na junção entre os músculos Biceps femoris e Gluteus medius, e é uma medida avaliada na posição longitudinal e sua deposição normalmente inicia-se mais cedo que o
Figura 2: Imagem da AOL e EGS. Fonte: ACNP (2016).
das costelas, indicando a precocidade do animal. E, por fim, a avaliação de um músculo importante localizado na região da garupa, também mensurada no mesmo local da EGP8, que, assim como a AOL, é um indicativo para estimar o rendimento de cortes comercias e, consequentemente, a produtividade animal, é a profundidade do músculo Gluteus medius (alcatra) (Veiga, 2010; Faria, 2012). A ultrassonografia como ferramenta na avaliação da carcaça de ruminantes é uma técnica que permite obter informações antecipadamente e de forma confiável sobre os atributos inerentes à produtividade e qualidade dos animais, auxiliando na seleção dos rebanhos e na eficiência dos sistemas de produção, além de melhorar a comunicação entre os elos da cadeia produtiva da carne.
TAROUCO, J. U. Utilização do ultra-som para predição de características de carcaça em bovinos. 2004. 189 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. VEIGA, P. Avaliação e tipificação de carcaças bovinas. Viçosa: CPT, 2010. p. 161 - 175.
AUTORES* Luís Gabriel Alves Cirne - Doutor em Zootecnia, Docente do curso de Zootecnia da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, e-mail: lgabrielcirne@hotmail.com Pedro Veiga Rodrigues Paulino - Doutor em Zootecnia, Gerente Global de Tecnologia de Bovinos de Corte, Nutron/Cargill Nutrição Animal Greicy Mitzi Bezerra Moreno - Doutora em Zootecnia, Docente do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Alagoas - UFAL Gleidson Giordano Pinto de Carvalho - Doutor em Zootecnia, Docente do curso de Zootecnia da Universidade Federal da Bahia – UFBA Jalison Lopes - Doutor em Zootecnia. Docente do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Roraima - UFRR
Janeiro/Fevereiro | 2017 49
CADERNO
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Técnico Científico
Potencial de retorno econômico pelo uso de touros melhoradores em monta natural
C
Autores: Antônio do Nascimento Ferreira Rosa, Roberto Torres Jr. e Fernando Paim Costa*
onsiderando-se um único acasalamento, reprodutor e matriz têm o mesmo valor, uma vez que cada um contribui com a metade do seu genoma para a formação de um novo indivíduo. No entanto, ao longo da vida reprodutiva, enquanto a vaca pode deixar até oito-dez filhos, o touro pode ser pai de dezenas. Além disto, por demandar menor número de animais para reposição, a pressão de seleção de touros é muito maior do que a de fêmeas. Por estas razões pode-se demonstrar que o touro proporciona de 84% a 88% do ganho genético de todo o rebanho, para relações touro/vaca de 1:20 e 1:40, respectivamente, e características de 20% de herdabilidade. Desta forma, a escolha dos reprodutores é decisiva para o sucesso do sistema de produção. O retorno econômico de um touro pode ser avaliado de maneira simplificada pela análise do peso à desmama de bezerros que, além de apresentar parâmetros genéticos acurados, dispõe de valor comercial bem estabelecido pelo mercado. A partir da avaliação genética da raça Nelore lançada pelo Programa Embrapa-Geneplus em novembro de 2015, estimou-se em 4,26 kg a Diferença Esperada na Progênie (DEP) para o peso e a desmama, envolvendo machos superiores possivelmente ativos e com produtos desmamados em 2015. Por outro lado, a comercialização de mais de 80 mil animais realizada de janeiro a dezembro deste mesmo ano apontou em R$ 6,16 o valor médio do kg de bezerro desmamado. Assim, com base na definição de DEP, o retorno econômico de cada filho de um touro superior pode ser estimado em R$ 26,24, quando comparado aos filhos dos demais touros no âmbito do referido Programa. Outra consulta à mesma avaliação genética acima referida permitiu observar que a média do peso à desmama ajustada para a idade de oito meses nos plantéis de seleção, ao longo do ano de 2015, foi de 217 kg, entre machos e fêmeas. Nos rebanhos comerciais, por outro lado, ob-
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servou-se, na categoria de 8 a 10 meses de idade, a média de 173 kg, considerando ambos os sexos. Embora esta categoria envolva animais de até 10 meses, a maioria deles apresenta idade próxima de oito meses, semelhante à idade padrão adotada nos rebanhos puros. Admitindo-se esta aproximação, mesmo assim, verifica-se uma "defasagem" da ordem de 44 kg entre os dois rebanhos. Dessa diferença total, parte é ambiental, ou de manejo, e parte é devida à própria "defasagem genética" dos rebanhos comerciais em relação aos plantéis puros. Na falta de uma avaliação mais precisa de quanto dessa defasagem é devida aos fatores genética e ambiente, pode-se supor que cada um deles seja responsável por metade dessa diferença. Assim sendo, a "DEP realizada" de um touro superior, quando utilizado em um rebanho comercial, seria igual ao valor da DEP no rebanho de seleção + ½(defasagem genética), ou seja: 4,26 + 1/2(22) = 15,26 kg. Desta forma, o valor de um único produto de um touro superior seria, nestas condições, R$ 94,00 acima da média dos bezerros comerciais. Em rebanhos comerciais, com relação touro/vaca de 1:40, taxa de desmama de 75% e módulo de 200 matrizes, para exemplo de reposição anual de um touro, pode-se verificar que a renda extra devida a este pequeno incremento de peso à desmama produz receita suficiente para a reposição deste touro no valor de até R$ 10.340,00 – equivalente a 71 arrobas de boi gordo (média da @ em 2015: R$145,42), mesmo após a reserva de fêmeas para a reposição de 20% das matrizes. Somando-se o valor dos bezerros comercializados ao do touruno descartado (média de R$2.595,39 / animal), a receita total seria suficiente para cobrir os custos de reposição com a aquisição de reprodutor ao valor de até R$ 12.935,39. Para o alcance destes resultados, é necessário que se estabeleça uma estratégia de desembolso de modo que, em um ciclo máximo de cinco anos, se tenha em ativi-
dade reprodutiva apenas touros geneticamente superiores. Obviamente, o retorno econômico baseado apenas no peso à desmama está muito longe de representar o real impacto de um touro melhorador no rebanho. Uma avaliação mais precisa deveria incluir os reflexos até o abate (machos e fêmeas descartadas) e sobre o rebanho de cria, considerando-se os ganhos relativos a peso corporal, qualidade das carcaças e das fêmeas de reposição. Considera-se, portanto, que o investimento em touros geneticamente superiores apresenta elevado potencial de retorno econômico, podendo contribuir decisivamente para a melhoria da produtividade e da renda das fazendas de pecuária de corte.
* AUTORES: Antônio do Nascimento Ferreira Rosa - Engenheiro Agrônomo (1974) e Mestre em Zootecnia (1977) pela Universidade Federal de Viçosa, MG, com Doutorado em Ciências Biológicas - Área de Concentração em Genética pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (1999), onde também atendeu a cursos de Administração e de Formação e Liderança de Equipes, com os Professores A. T. Urdan e G. T. Shinyashiki. gado-de-corte.imprensa@embrapa.br Roberto Torres Jr. - Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (1993) com mestrado em Genética e Melhoramento pela mesma universidade (1996) e doutorado em Animal Breeding pela Cornell University (2001). Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária lotado na Embrapa Gado de Corte. Atua como (co)orientador na área de Melhoramento Animal nos programas de pós-graduação da Universidade Federal de Viçosa, da Universidade Estadual de Maringá, da Esalq-USP e da Unesp de Jaboticabal, além de ser professor efetivo do mestrado em Ciência Animal da UFMS. gado-de-corte.imprensa@embrapa.br Fernando Paim Costa - Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1975), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1979) e doutorado em Administração Rural / Sistemas Agrícolas pela University of Reading (1998). Atualmente é pesquisador III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração da Produção, atuando principalmente nos seguintes temas: custos de produção da pecuária de corte; ferramentas de gestão para a pecuária de corte. gado-de-corte.imprensa@embrapa.br
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fernando-pardo@idexx.com Janeiro/Fevereiro | 2017 51
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