Aspectos reprodutivos do touro teoria e prática

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Aspectos Reprodutivos do Touro

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Faculdade de Agronomia Departamento de Zootecnia

NESPRO – NÚCLEO DE ESTUDOS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE E CADEIA PRODUTIVA Av. Bento Gonçalves, 7712 - Bairro Agronomia CEP 91540-000 - Porto Alegre - RS - Brasil www.nespro.ufrgs.br nespro@ufrgs.br Fone: (51) 3308-6958 / 3308-6048

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Silvio Renato Oliveira Menegassi Júlio Otávio Jardim Barcellos

Aspectos Reprodutivos do Touro Teoria e Prática

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© Silvio Renato Oliveira Menegassi, Júlio Otávio Jardim Barcellos e autores

(Dados Internacionais de Catalogação na Fonte – CIP) A838 Aspectos reprodutivos do touro : teoria e prática / coordenadores Silvio Renato Oliveira Menegassi e Júlio Otávio Jardim Barcellos. – Guaíba : Agrolivros, 2015.

280 p. : il. ISBN 975-88-98934-22-8

1. Gado de Corte. 2. Reprodução Animal. 3. Touro. 4. Puberdade. 5. Espermatogênese. 6. Exame Andrológico. 7. Doença Animal. 8. Melhoramento Genético. 9. Sistema Reprodutivo. 10. Comercialização. 11. Manejo Animal. 12. Nutrição Animal. I. Menegassi, Silvio Renato Oliveira (coord.). II. Barcellos, Júlio Otávio Jardim.

CDU 636.2.02

Bibliotecária Responsável: Débora Dornsbach Soares CRB-10/1700 Classificação CDU – edição-padrão internacional em língua portuguesa

Referência: MENEGASSI, Silvio Renato Oliveira; BARCELLOS, Júlio Otávio Jardim (coords.). Aspectos Reprodutivos do Touro : Teoria e Prática. Guaíba: Agrolivros, 2015. 280 p.

Edição: AGROLIVROS – Edição e Comércio de Livros Ltda. Av. Ivo Lessa Silveira, 562 – Chácara das Paineiras 92500-000 – Guaíba/RS – Fone: (51) 3403-1155 Site: www.agrolivros.com.br E-mail: agrolivros@agrolivros.com.br Capa: Alexsandro Bertoncello Revisão: Daniela Silva de Bittencourt Vanessa Peixoto Reis Projeto gráfico, editoração Luiz Fonseca Impressão: Editora Evangraf evangraf@terra.com.br

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Prefรกcio

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O pressuposto fundamental para o uso adequado do touro é assegurar, de antemão, que ele esteja apto para a monta sob os pontos de vista físico, comportamental e fisiológico. Para isso, vários métodos foram desenvolvidos para a avaliação andrológica. Assim, é crível afirmar que, em teoria, a probabilidade de utilizar touros inaptos na estação reprodutiva é uma falácia. No entanto, as evidências empíricas, agora consubstanciadas por meios científicos, comprovam uma situação contraditória, que demonstra uma participação elevada de touros inabilitados para a reprodução atuando em rebanhos de vacas. A conclusão é óbvia: os pecuaristas não estão realizando o exame andrológico de seus touros antes de utilizá-los; nem os veterinários estão sabendo como convencê-los. Cabe, portanto, uma indagação: quais são as razões para isso? Essas respostas e tantas outras, os autores do livro apresentam por meio de informações, conhecimentos e sabedoria que lhes são peculiares a partir de suas vivências. Assim, o livro aborda e propõe um método mais amplo e detalhado para avaliação reprodutiva do touro, factível de execução, respeitando as condições de produção do Brasil. Portanto, cumpre um papel importante para o esclarecimento de veterinários que atuam no setor. Além desses aspectos, os autores conseguem demonstrar, com clareza, o impacto econômico da realização prévia à monta do exame andrológico dos touros e a eliminação inquestionável de touros inaptos. Com isso, possivelmente despertará outro grau de convencimento nos usuários da tecnologia, agora pelo lado econômico, pois avaliar touros traz benefícios econômicos. Gostaríamos de expressar a nossa sincera gratidão às associações das raças Angus, Charolesa, Hereford e Braford; à Agropecuária JMT, pela qual a raça Brangus é representada, e aos seus presidentes e diretores, pela compreensão, incentivo e apoio financeiro para a efetivação deste livro. Também gostaríamos de agradecer à Editora AGROLIVROS, por sua experiência inestimável na leitura de provas dos manuscritos e pela correção do idioma. Finalmente, o nosso profundo agradecimento a todos os autores que aceitaram o desafio de preparar uma referência detalhada e abrangente de seus trabalhos, descrevendo extremamente um importante tópico de pesquisa que, anteriormente, recebeu menos atenção do que realmente merece. Assim, prefaciar um livro com o conteúdo ora abordado é transitar pela ciência aplicada, e mais, com uma perspectiva futura promissora para a pecuária brasileira. OS AUTORES

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Sumário Introdução .................................................................................................................... 13 Capítulo I Puberdade em machos bovinos – endocrinologia e desenvolvimento sexual .............................................. 15 1.1 Puberdade ......................................................................................................... 19 1.2 Curva do crescimento testicular ............................................................... 20 1.3 Puberdade por idade, peso ou perímetro escrotal ........................... 23 1.4 Características seminais no período peri-pós-puberal ................... 26 1.5 Comportamento sexual e puberdade .................................................... 28 1.6 Fatores que influenciam a puberdade ................................................... 29 1.6.1 Genética .................................................................................................... 29 1.6.2 Nutrição .................................................................................................... 29 1.7 Maturidade sexual .......................................................................................... 31 Referências ............................................................................................................... 31 Capítulo II Espermatogênese ...................................................................................................... 35 2.1 Espermatocitogênese ................................................................................... 36 2.2 Espermiogênese .............................................................................................. 37 2.3 Espermatogênese ........................................................................................... 38 Referências ............................................................................................................... 40 Capítulo III O impacto econômico da avaliação reprodutiva do touro ................. 41 Referências ............................................................................................................... 43 Capítulo IV Exame Andrológico .................................................................................................. 45 4.1 Anamnese .......................................................................................................... 45 4.2 Exame clínico geral ........................................................................................ 46 4.3 Exame clínico especial externo ................................................................. 52 4.3.1 Escroto ....................................................................................................... 52 4.3.2 Testículos .................................................................................................. 53 4.3.3 Biometria testicular .............................................................................. 57 4.3.4 Epidídimos ............................................................................................... 62 4.3.5 Prepúcio .................................................................................................... 63 4.3.6 Pênis ........................................................................................................... 63 4.4 Exame clínico especial interno .................................................................. 65 7

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4.4.1 Glândulas acessórias ............................................................................ 65 4.5 Colheita e avaliação seminal ...................................................................... 66 4.5.1 Colheita de sêmen ................................................................................ 66 4.5.1.1 Vagina artificial ............................................................................. 67 4.5.1.2 Massagem das glândulas acessórias .................................... 69 4.5.1.3 Eletroejaculador ........................................................................... 69 4.5.2 Espermiograma ...................................................................................... 71 4.5.3 Exame imediato ..................................................................................... 71 4.5.3.1 Volume ............................................................................................. 71 4.5.3.2 Aspecto ............................................................................................ 72 4.5.3.3 pH ...................................................................................................... 73 4.5.3.4 Turbilhonamento ......................................................................... 73 4.5.3.5 Motilidade ...................................................................................... 74 4.5.3.6 Vigor ................................................................................................. 75 4.5.4 Exame mediato ...................................................................................... 75 4.5.4.1 Concentração ................................................................................ 76 4.5.4.2 Morfologia espermática ............................................................ 78 4.5.4.3 Interpretação da morfologia espermática ......................... 80 4.5.4.4 Avaliação da integridade da membrana espermática .................................................................................................. 86 4.5.4.5 Avaliação da integridade da membrana espermática por sondas fluorescentes .............................................. 87 4.5.4.6 Métodos computadorizados de avaliação de qualidade do sêmen ........................................................................... 90 4.5.4.7 Teste de compactação do DNA .............................................. 91 4.6 Exame comportamental ............................................................................... 92 4.7 Diagnóstico e conclusão .......................................................................... 101 Referências ............................................................................................................ 103 Capítulo V Avaliação da termorregulação escrotal por meio da termografia infravermelha .................................................... 109 Referências ............................................................................................................ 117 Capítulo VI Avaliação ultrassonográfica do potencial reprodutivo de touros .................................................................... 119 Referências ............................................................................................................ 123 Capítulo VII Proteínas do plasma seminal ........................................................................... 125 7.1 aSFP (proteína ácida do fluido seminal) ............................................. 127 7.2 Albumina ........................................................................................................ 127 8

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7.3 BSP (Bovine Seminal Plasma) .................................................................. 7.4 Clusterina ........................................................................................................ 7.5 Espermadesinas ............................................................................................ 7.6 Fosfolipase A2 ............................................................................................... 7.7 Osteopontina ................................................................................................ 7.8 P25b .................................................................................................................. 7.9 Prostaglandina .............................................................................................. 7.10 Proteínas anticongelação (AFPs) ......................................................... 7.11 Proteínas de ligação à heparina .......................................................... 7.12 Transferrina .................................................................................................. 7.13 HSP (Heat Shock Protein) ...................................................................... 7.14 Considerações finais ................................................................................ Referências ............................................................................................................

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Capítulo VIII A essência do estado redox celular: implicação para a qualidade de sêmen ...................................................... 8.1 Estado redox e espécies reativas ........................................................... 8.2 Espécies reativas de oxigênio (EROs) ................................................. 8.2.1 Ânion superóxido (O2•-) .................................................................. 8.2.2 Peróxido de hidrogênio (H2O2) ..................................................... 8.2.3 Radical hidroxil (•OH) ....................................................................... 8.2.4 Espécies reativas de nitrogênio (ERNs) ..................................... 8.2.4.1 Óxido nítrico (NO•) .................................................................. 8.2.4.2 Peroxinitrito(ONOO-) .............................................................. 8.3 Defesas antioxidantes ................................................................................ 8.3.1Enzimas antioxidantes ....................................................................... 8.3.1.1 Superóxido-dismutase (SOD) .............................................. 8.3.1.2 Catalase (CAT) ............................................................................ 8.3.1.3 Glutationa-peroxidase (GPx) ................................................ 8.3.1.4 Peroxirredoxinas (Prx) ............................................................. 8.3.1.5 Tiorredoxinas (Trx) .................................................................... 8.3.1.6 Glutarredoxinas (Grx) .............................................................. 8.3.1.7 Metabólitos redox-ativos ....................................................... 8.3.1.8 Glutationa reduzida (GSH) .................................................... 8.3.1.9 Ácidos graxos poli-insaturados .......................................... 8.3.1.10 Vitaminas ................................................................................... 8.3.1.11 Carotenoides ............................................................................ 8.4 Estresse Oxidativo .......................................................................................

141 141 143 143 145 146 147 147 149 150 151 151 151 152 152 153 153 154 154 154 155 156 156 9

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8.4.1 Oxidação de lipídeos ........................................................................ 8.4.2 Oxidação de proteínas ..................................................................... 8.4.3 Oxidação de ácidos nucleicos ....................................................... 8.4.4 Oxidação de carboidratos .............................................................. 8.5 Estado redox: implicação para a qualidade de sêmen ................. Referências ............................................................................................................

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Capítulo IX Doenças reprodutivas .......................................................................................... 9.1 Introdução ...................................................................................................... 9.2 Campilobacteriose genital bovina (CGB) ........................................... 9.2.1 Histórico ................................................................................................ 9.2.2 Taxonomia ............................................................................................. 9.2.3 Agente .................................................................................................... 9.2.4 Introdução ............................................................................................ 9.2.5 Habitat .................................................................................................... 9.2.6 Consequência econômica ............................................................... 9.2.7 Epidemiologia ..................................................................................... 9.2.8 Etiopatogenia ...................................................................................... 9.2.9 Diagnóstico .......................................................................................... 9.2.9.1 Laboratorial ................................................................................. 9.2.9.2 Exame direto ............................................................................... 9.2.9.3 Exame molecular ....................................................................... 9.2.10 Prevenção e controle ..................................................................... 9.2.11 Tratamento ......................................................................................... 9.3 Tricomonose/tricomoníase genital bovina (TGB) ............................ 9.3.1 Histórico ................................................................................................ 9.3.2 Agente .................................................................................................... 9.3.3 Consequência econômica ............................................................... 9.3.4 Transmissão .......................................................................................... 9.3.5 Diagnóstico clínico ............................................................................ 9.3.6 Diagnóstico laboratorial .................................................................. 9.3.7 Tratamento ............................................................................................ 9.3.8 Controle ................................................................................................. 9.3.9 Imunização ........................................................................................... Referências ............................................................................................................

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Capítulo X Papel dos touros no melhoramento genético de bovinos de corte .............................................................................................. 201 10.1 Introdução ................................................................................................... 201 10.2 Contribuição dos touros para o progresso genético .................. 202 10

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10.3 Como identificar e escolher os touros superiores ....................... 10.3.1 Mérito genético dos touros ......................................................... 10.3.2 Marcadores moleculares ou genéticos ................................... 10.3.3 Sumários de touros ......................................................................... 10.3.4 Registro genealógico ..................................................................... 10.3.5 Idade dos touros .............................................................................. 10.3.6 Avaliação morfológica ................................................................... 10.3.7 Exames andrológicos e sanitários ............................................. 10.3.8 Ambiente de criação ...................................................................... 10.3.9 Facilidade de parto ......................................................................... 10.3.10 Quanto vale um touro? ............................................................... 10.3.11 Catálogos de touros para inseminação artificial (sêmen) ............................................................................................ 10.4 Dicas para melhoramento de rebanhos comerciais .................... Referências ............................................................................................................

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Capítulo XI O tamanho do touro e sua relação com o sistema produtivo .............................................................................................. 219 Referências ............................................................................................................ 222 Capítulo XII Adaptação do touro ao ambiente de produção ..................................... 12.1 Introdução ................................................................................................... 12.2 Aspectos envolvidos com a adaptação ............................................ 12.3 Desafios naturais dos sistemas de produção ................................. 12.4 Novas áreas de produção ...................................................................... 12.5 Adaptação, manejo e eficiência produtiva ...................................... 12.6 Apontamentos finais ............................................................................... Referências ............................................................................................................

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Capítulo XIII Uma abordagem aplicada à comercialização de touros de corte ................................................................................................. 235 13.1 Introdução ................................................................................................... 235 13.2 Formas de comercialização ................................................................... 236 13.2.1 Leilões .................................................................................................. 237 13.3 Fatores que afetam o preço do touro................................................. 239 Referências ............................................................................................................ 241 11

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Capítulo XIV Manejo dos touros no rebanho de cria ....................................................... 14.1 Vacas .............................................................................................................. 14.2 Novilhas ........................................................................................................ 14.3 Touros ............................................................................................................

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Capítulo XV Comportamento e bem-estar de touros: importância, problemas e soluções ............................................................. 15.1 Alojamento .................................................................................................. 15.2 Ambiente térmico ..................................................................................... 15.2.1 Reflexos do estresse pelo calor na atividade reprodutiva de touros ................................................................................. 15.2.2 Alternativas para mitigar o estresse pelo calor/frio ......... 15.3 Grupo social ................................................................................................ 15.4 Saúde e procedimentos dolorosos .................................................... 15.5 Manejo animal e interação humano-animal .................................. 15.5.1 Manejo racional: reduzindo riscos e maximizando o bem-estar ..................................................................................................... 15.6 Seleção genética ou uso de animais naturalizados? .................. 15.7 Considerações finais ................................................................................ Referências ............................................................................................................

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Capítulo XVI Princípios aplicados à alimentação de touros ........................................ 16.1 Considerações iniciais ............................................................................. 16.2 Exigências nutricionais de touros ....................................................... 16.3 Sistemas de alimentação de touros ................................................... 16.3.1 Alimentação no período pré-monta ........................................ 16.3.2 Alimentação no período de monta .......................................... 16.3.3 Alimentação no período pós-monta ....................................... 16.4 Apontamentos específicos da alimentação de touros ............... 16.4.1 Nutrição mineral .............................................................................. 16.4.2 Ingredientes e manejo da alimentação .................................. Referências ............................................................................................................

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Introdução É senso comum que o baixo desempenho da pecuária de corte bovina é consequência de vários fatores, entre os quais se destacam a deficiente nutrição dos animais e o manejo com que é conduzida. Esses problemas nutricionais são particularmente graves no caso de vacas primíparas com cria ao pé, por estas serem animais mais jovens, que podem ainda não ter completado seu crescimento e desenvolvimento. Em relação à disponibilidade de forragem das pastagens naturais, sobre as quais se realiza a maior parte da criação bovina, podemos ter crises alimentares hibernais, fundamentalmente energéticas, de diferentes magnitudes conforme o ano, geradas por variações sazonais. Assim, a bovinocultura de corte é considerada como atividade que perde participação na composição da renda do setor primário e de área ocupada na exploração agropastoril. É fator decisivo a busca de um diferencial competitivo para os pecuaristas que pretendem ter sucesso na atividade de cria. E, para alcançá-lo, um dos pontos determinantes é a eficiência do manejo reprodutivo, que passa por adequações da carga animal, da alimentação disponível, dos índices biológicos de produção e do manejo sanitário. Isso torna essa atividade de alto risco dentro do sistema. A reprodução deve ser considerada o principal processo da cadeia produtiva da carne, pois dela tem origem sua matéria-prima: o bezerro. O processo produtivo da bovinocultura de corte não tem tido avanços significativos em seus índices zootécnicos, pois existe uma grande dificuldade de implementar as melhorias reprodutivas. Os ganhos aditivos de algumas características para esse sistema de cria, principalmente a genética e a fertilidade, têm sido fatores limitantes nesse processo, e aproveitar esses ganhos de fertilidade, como a precocidade dos machos e das fêmeas, é imprescindível nessa atividade. Para aumentar a eficiência em um sistema de produção de cria, devem-se buscar adequadas taxas de desmama, elevado peso dos bezerros e das vacas de descarte. Outra variável que demanda decisão é a que aborda a utilização de touros com garantias a servir o maior número de vacas possíveis, pois, 13

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além de ser atendida a eficiência (biológica), também será atendida a eficácia (econômica). Aliás, é esta a função principal de um touro em um sistema de cria: cobrir o maior número possível de vacas em um menor tempo. Portanto, o touro deve ter, necessariamente, aptidão reprodutiva avaliada e aprovada antes de ser utilizado, além de ter características genéticas de adaptação adequadas à região onde está localizada a propriedade. Muitos criadores têm pouca ou nenhuma informação sobre a fertilidade de seus touros, pois os utilizam de forma conjunta, dificultando a identificação dos inférteis ou subférteis. A identificação destes touros é imperiosa, pois, quando não identificados, podemos observar uma elevada taxa de vacas vazias na época do diagnóstico de gestação ou na época da parição. O potencial reprodutivo de um touro, por mais subjetivo que possa ser, é um conjunto de fatores que precisa ser analisado, no mínimo, uma vez por ano, antes da temporada de monta, através da realização do exame de aptidão reprodutiva, sendo fundamental para se obterem as informações prévias que irão estabelecer o destino e a forma de utilização do touro. OS AUTORES

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Capítulo I

Puberdade em machos bovinos – endocrinologia e desenvolvimento sexual

Marc Roger Jean Marie Henry

Med. Vet., PhD, Prof. Titular do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias – Escola de Veterinária – UFMG.

Ana Maria Loaiza Echeverri

Med. Vet., D.Sc., Reprodução e Genética Animal, Escola de Veterinária – UFMG.

Mayara Ferreira Brito Med. Vet., Candidata a Doutorado em Reprodução Animal, Escola de Veterinária – UFMG.

O controle endócrino da reprodução começa na fase inicial do desenvolvimento fetal. Passada a expressão dos genes que inicialmente controlam a diferenciação sexual, todas as atividades ligadas ao desenvolvimento do sistema genital e posteriormente à maturação dos processos reprodutivos de um macho passam pela função controladora do hipotálamo, localizado na base do cérebro, alojado na região denominada diencéfalo. Dentre as múltiplas funções das células nervosas do hipotálamo, que estão organizadas em núcleos, estão aquelas responsáveis pela produção de vários hormônios. O hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) produzido no hipotálamo é o hormônio diretamente ligado à reprodução e o responsável pela liberação de gonadotrofinas pela hipófise anterior. Mesmo estando no início do desenvolvimento fetal, o hipotálamo produz e libera GnRH, que, nessa fase, é responsável pelo estímulo necessário para maturação dos gonadotrófos localizados na hipófise anterior, futuras células produtoras de hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH). Próximo à metade da gestação, ocorre a liberação transitória de LH e FSH em quantidades mais expressivas. Esses hormônios irão, nessa fase, atuar na programação da capacidade reprodutiva do macho adulto, participando na proliferação e maturação das células testiculares. Passado esse período, os hormônios placentários e andrógenos 15

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