Composição Visual

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Através da Análise da Composição Visual aprendi a primeira grande lição que o estudo do Design de Interiores tem me proporcionado. Na primeiro dia de aula, enquanto o professor falava sobre Arte, ecoava em minha mente uma entrevista que havia assistido dois meses antes, onde uma especialista em Arte discorria sobre obras consideradas geniais – dentre elas, o urinol que Marcel Duchamp submeteu à exposição da Sociedade dos Artistas Independentes, em Paris, 1917. Em menos de cinco minutos, julguei como certa a dificuldade que teria com a disciplina e só conseguia pensar: “hum, isso não é pra mim!”. A exposição do professor, no entanto, era muitíssimo interessante e me lembrava a peça que tinha visto uma semana antes, cujos ingressos havia comprado antes de sequer imaginar que estaria cursando Design de Interiores dentro de poucos dias. Trata-se da peça Arte, de Yasmin Reza, sobre a qual escrevi uma resenha disponível na publicação Design em Letras. Embora tratasse de amizade, a peça tinha a Arte como background e, por isto, algumas questões ali discutidas já haviam começado a despertar o meu interesse em relação ao tema. Ainda assim, meu raciocínio ainda me parecia cartesiano demais e, portanto, pouco propenso a qualquer habilidade artística. Naquele instante, não poderia imaginar que gratas surpresas estariam por vir. Uma dessas surpresas foi retomar o contato com a Geometria, talvez minha área preferida da Matemática. Pela falta de uso, eu de fato já havia me esquecido de como eu gostava de brincar com as formas geométricas. Não me lembrava, portanto, que através de exercícios essencialmente simples é possível desenvolver lógicas complexas que resultarão em formas novas e às vezes surpreendentes. Esse gosto pela Geometria foi reacendido através do desenvolvimento de uma malha própria, apresentada na página 7, que teve como origem a inserção de um triângulo equilátero em um círculo de diâmetro 12. A intenção inicial desse exercício era identificar formas abstratas, mas meu já mencionado raciocínio cartesiano foi


logo identificando formas já conhecidas dentro daquela complexa malha. Apesar de fugir um pouco ao propósito do exercício, a identificação dessas formas revelou-se igualmente produtiva, além de prazerosa e surpreendente – e surpreendente não apenas pela descoberta das formas, mas por me ver, de repente, dando nomes a elas, como se de fato fosse possível promovê-las ao status de Arte. Haveria alguma esperança para minha atrofiada veia artística? As composições originadas de polígonos em proporção áurea deslocados sobre malhas geométricas, bem como de processos de adição e subtração, foram trabalhos igualmente prazerosos e instrutivos. Impressionou-me perceber que a partir de formas e movimentos simples pode-se chegar a composições complexas e, sobretudo, que algumas formas aparentemente elementares podem ser resultantes de uma lógica complexa, como é o caso da simplória árvore de natal apresentada na página 21. Essa imagem, em especial, me trouxe dois dos maiores aprendizados já proporcionados pelo curso: (1) entender que um resultado aparentemente óbvio pode ter sido atingido a partir de uma construção complexa (em outras palavras: fazer o simples é complicado!); e (2) aprender a, mesmo não apreciando, reconhecer o valor que existe por trás de uma obra de arte, pois, conforme argumenta um dos personagens da peça de Yasmin Reza, “tem um pensamento por trás de si; é a conclusão de uma trajetória”.

Longe de qualquer pretensão artística, as composições apresentadas a seguir formam meu primeiro memorial de um aprendizado de valor inestimável, que, embora não tenha anulado por completo meu lado racional, refreia, significativamente, meus instintos de olhar para determinadas obras e indagar: “mas isso é arte?”. Ao professor Luís Otávio, que tirou minhas veias artísticas de um estado irreversível de atrofiamento, minha sincera e eterna gratidão!




O exercício proposto era criar uma malha a partir da inserção de um polígono de livre escolha em um círculo de raio 12. Minha primeira escolha foi o pentágono, mas acabei não gostando dos resultados iniciais. Decidi-me, então, pelo triângulo equilátero que, além de se encaixar melhor na minha “filosofia” de que “simpler is better”, representaria, sobretudo, uma referência à Trindade Cristã, onde Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo formam uma unidade composta por três partes igualmente divinas. Como eu não queria que o desenho ficasse muito “certinho”, inclinei o triângulo através de uma lógica tão complexa que, ao redesenhar no computador para montar este portfólio, custou-me horas para entender e reproduzir novamente. A partir dos três eixos principais e do círculo central, uma série de traços e movimentos resultaram na malha final, onde várias formas, aqui apresentadas na seção “Pesquisas”, foram identificadas. Algumas delas foram trabalhadas em lixas e papéis monocromáticos, a fim de que a força das cores não interfira na análise das formas e o resultado pode ser conferido nas próximas páginas.


“WHAT DO YOU SEE?”


“TEMPESTADE DE AREIA”


A pesca maravilhosa Certo dia Jesus estava perto do lago de Genesaré, e uma multidão o comprimia de todos os lados para ouvir a palavra de Deus. Viu à beira do lago dois barcos, deixados ali pelos pescadores, que estavam lavando as suas redes. Entrou num dos barcos, o que pertencia a Simão, e pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia. Então sentou-se, e do barco ensinava o povo. Tendo acabado de falar, disse a Simão: “Vá para onde as águas são mais fundas”, e a todos: “Lancem as redes para a pesca”. Simão respondeu: “Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”. Quando o fizeram, pegaram tal quantidade de peixe que as redes começaram a rasgar-se. Então fizeram sinais a seus companheiros no outro barco, para que viessem ajudá-lo; e eles vieram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase começarem a afundar. Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus e disse: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!”. Pois ele e todos os seus companheiros estavam perplexos com a pesca que haviam feito, como também Tiago e João, os filhos de Zebedeu, sócios de Simão. Então Jesus disse a Simão: “Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”. Eles então arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram. (Lucas 5.1-11)

Quando identifiquei incialmente a imagem dos três peixes e a chamei de “A pesca maravilhosa”, ainda não havia me dado conta de que, replicando o desenho, a imagem resultante se assemelharia a uma rede de pesca – logo, pode ser verdadeiramente compreendida como uma rede carregada de peixes. Para um uma malha cujo conceito de criação é a Trindade Divina, não é de se surpreender que tamanha “coincidência” pudesse ser revelada...


“A PESCA MARAVILHOSA”


“A PESCA MARAVILHOSA”


“BORBOLETA”


“TULIPAS”




“CHUPETA”


“MICROFONE”


“SORVETE”


“PICOLÉ”


“PIRÂMIDES”


“ÁRVORE DE NATAL”


“DISQUETE”


“PESOS LEVES”




Malha criada a partir de ret창ngulo din창mico da raiz quadrada de 3


Esquadria em malha de ret창ngulo din창mico da raiz quadrada de 3


Malha criada a partir de ret창ngulo din창mico da raiz quadrada de 5


Home theather em malha de ret창ngulo din창mico da raiz quadrada de 5




“BOLAS”


“BOLAS”


“VENTILADORES”


“VENTILADORES”


“VENTILADORES”


“OLHARES”


“VESTUÁRIO”


“DIAMANTE”

“ALIENÍGENA” “VÍRGULA” “CATAVENTO”

“ÁRVORE DE NATAL”


“RECIPIENTES”


“SERES VIVOS”


“BORBOLETA”


“BORBOLETA”


MALHAS
















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