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2° Edição JUN/ 2019
Os Encantos do Candomblé
Nação de Angola
Tata Mutakalange do Nkissi kabila Alexandre Macedo
O Tombensi era comandado por Mametu Tuhenda dia Nzambi (Sra. Maria neném, imagem 1), que nasceu para o Candomble das mãos do escravo angolano José dos Barros Reis (Tata Kinunga). Mametu Tuhenda dia Nzambi foi iniciada para o Nkissi Nsumbo, ainda muito jovem, permanecendo pelo menos 21 anos dedicada integralmente aos ensinamentos da religião. De Mametu Tuhenda dia Nzambi no Tombenci nasceu Tata Nlundiamungongo (Sr. Ciriaco. Imagem 2) e por obrigação de 7 anos Tatetu Ampumandenzo (Manoel Bernardino. Imagem 3) que foi iniciado na nação Kongo com um africano conhecido como Manoel Nkosi. Tatetu Nlundiamungongo fundou o Tumba Junssara e Tatetu Ampumandenzo fundou o Bate Folha na mata escura. Claramente outros nasceram e formaram família de santo e assim foram disseminando o Angola pelo Brasil a fora.
Os primeiros escravos negros a chegarem ao Brasil, eram provenientes de Angola e do Kongo, foram separados de suas famílias e misturados entre si para que não tivessem ímpeto de escapar e ir atrás da família. Esta mistura geográfica ocasionou também uma mistura linguística e cultural. Por isso no Brasil o Candomblé de nação angola é na verdade Kongo-Angola e há quem diga que é Angola-kongo. O certo é que o povo Bantu trouxe para o Brasil suas crenças, culturas, fetiches, comidas e costumes. No nosso atual “dialeto brasileiro” ou seja a língua portuguesa do Brasil, existem muitas palavras de origem e influência Bantu: Bunda que em Kimbundo, um dos dialetos bantu, é Bubunda e que tem o mesmo significado, outro exemplo é a palavra Capenga, que no dialeto bantu se escreve Kapenga ou Kapeanga e significa, falta de uma perna, manco, O recém nascido só dorme e por isto se chama "MULEKI > M'LEKI > NLEKI", que é adjetivo do verbo LEKA [= dormir], que quer dizer "dormidor" e foi deste termo que herdamos a palavra Moleque1. O Brasil teve nos primórdios da abolição da escravatura, quando assim os escravos puderam em fim praticar sua religião com liberdade, o surgimento do Candomblé do Tombensi, sendo este o primeiro candomblé de Angola organizado nos moldes do Brasil.
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Informativo Além do que, outras casas foram fundadas provindas de outras ramificações, como o Candomble do kalabetan que foi onde Sr. Benzinho (Tata Embe Kisangane), que mais tarde recebera o cargo de Tata Kodiandembo no Tumba Junssara, foi iniciado. O Kupapa Nsaba, por sua vez, foi fundado por Tatetu Lesenge, primeiro Muzenza iniciado por Tatetu Ampumandenzo no bate folha e depois foi para o Rio de Janeiro onde conheceu um Kongolês que lhe ajudou dali em diante e assim nasceu o Kupapa Nsaba. No Brasil existem ainda várias raízes de Angola, como o Amburaxó, o Bate Folhinha foi fundado por Mametu Oloya que era filha de Tatetu Ampumandenzo e irmã de barco de Lesenge, dentre outras mais.
Imagem 2: Tata Nlundiamungongo (Sr. Ciriaco) iniciado pela Mametu Tuhenda dia Nzambi. Tata Nlundiamungongo foi o fundador do Tumba Junssara. Imagem orientada por Tata Mutakalange (Imagem pública disponível na internet).
Imagem 1: Mametu Tuhenda dia Nzambi (Sra. Maria neném) iniciada por Tata Kinunga (Srº José dos Barros Reis) sacerdotisa do primeiro Candomblé de Angola nos moldes brasileiro. Imagem orientada por Tata Mutakalange (Imagem pública disponível na internet).
Imagem 3: Tatetu Ampumandenzo (Manoel Bernardino) fundador do Bate Folha. Imagem orientada por Tata Mutakalange (Imagem pública disponível na internet).
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Hoje já encontramos casas de Angola que falam 100% língua Bantu, até mesmo as matrizes buscam esta apuração e a tendência é que o Angola se fortaleça a cada dia. Falando um pouco da minha história: Sou Tata Mutakalange do Nkissi kabila (nome civil: Alexandre Macedo), fui iniciado em 17/06/2006 por Mametu Kitula (Sra. Terezinha Flecha dourada) em Belo Horizonte, ela era Filha de Mametu Oloya e foi iniciada na casa de Tatetu Nepanji (Imagem 4). Primeiro barco de iniciados do Terreiro do Bate Folha BA. Imagem orientada por Tata Mutakalange (Imagem pública disponível na internet).
Hoje somos no Brasil uma vasta família de Angola espalhada por quase todo território brasileiro, a sua maioria, mantendo as tradições, cultos e culturas. O Candomblé de Angola tem por essência a pouca oralidade, antigamente os mais velhos não admitiam que se tomasse a benção falando Mokoyu em público, se falasse eles diziam, “de onde tirou isso menino, seu doido” por isso a dificuldade em se falar de Angola, e as tantas formas de dizer uma palavra, ou cantar uma cantiga, falava-se muito pouco sobre a nação. Outra influência que o Angola sofreu por muitos anos foi o sincretismo a nação ou a pelo menos os nomes e expressões da nação ketu. Em sua totalidade os mais velhos de Angola se utilizavam destes nomes e expressões para preservarem os nomes e segredos da nação. Exemplo: Nkosi era Ogum, Mutalambo era Oxossi e por aí vai, lá dentro na hora das rezas tudo era falado na língua Bantu, mas no barracão sob os olhares e ouvidos do público eram usadas as expressões e nomes do ketu. Já a algum tempo, a nação de Angola realiza uma grande corrida para mudar tudo isso, a busca da identidade de um povo por ele mesmo é a maior expressão de legitimidade que existe.
Imagem 4: Tatetu Nepanji - imgem orientada por Tata Mutakalange. (Imagem pública disponível na internet).
Com o falecimento de Mametu kitula permaneci na raiz Bate Folhinha pelas mãos de Mametu Talandere (Imagem 5) e posteriormente passei pelo candomblé Angola-kongo na Nzo Kuna Nkosi dirigida por Tatetu Nepanji, que com o falecimento de Mametu Oloya, teve suas obrigações com Mametu Tulembura (imagem 5) do Tumba Junssara. Meu zelador nesta casa era Tatetu Italembu (imagem 6) filho de Tatetu Nepanji. Hoje em dia, além de cumprir meu papel de filho e de Tata, pois meu pai Tatetu Nlundiassu, filho de Mametu 4
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Orojabufan e neto de Mametu Kanjuvanssu, possui uma casa de candomblé Angola em Belo Horizonte, Nzo Kuna Kavungo, faço parte da Nzo kewala Mukongo dia Nzambi, dirigida por Tatetu Kewala do Nkissi Kabila, (Imagem 8) que é filho de Tatetu Nkasumbire (imagem 7) do Nkissi Nkasute. A Nzo fica em Taubaté – SP e tocamos o candombe KongoAngola.
Imagem 7: Tatetu Nkasumbire do Nkissi Nkasute . Imagem cedida pelo Tata Mutaka-lange. Tata Mutakalange. (Imagem pública disponível na internet).
Imagem 5: Mametu Talandere. Imagem orientada por Tata Mutakalange. (Imagem pública disponível na internet).
Imagem 8: Tatetu Kewala do Nkissi Kabila, que é filho de Tatetu Nkasumbire dirigente do Nzo kewala Mukongo dia Nzambi. Imagem orientada por Tata Mutakalange. (Imagem pública disponível na internet).
________________________________ Texto e pesquisa: Tata Mutakalange do Nkissi kabila Alexandre Macedo Imagens: orientada pelo Tata Mutakalange do NkissiKabila – Alexandre Macedo disponível em redes sociais e site na Web. 1
imagem 6: Tatetu Italembu filho de Tatetu Nepanji. Imagem orientada por Tata Mutakalange. (Imagem pública disponível na internet).
- informação apurada por Salakiaku Nzitusu-ama, postada em suas redes sociais.
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A Religião e suas barreiras
Ogan Marcos de Odé RELIGIÃO: TOLERÂNCIA OU RESPEITO?
A Lei federal 11.065/07 institui 21 de janeiro, como o Dia de Combate a Intolerância Religiosa. Isso não nos alegra, pois para isso acontecer tivemos que perder uma grande sacerdotisa da nossa Religião de Matriz Africana, Mãe Gilda de Ògún (O limite da intolerância – Em outubro de 1999 o Brasil testemunhou um dos casos mais drásticos de preconceito contra os religiosos de matriz africana. O jornal Folha Universal estampou em sua capa uma foto da Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos – a Mãe Gilda – trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso
e a vida dos clientes”. A casa da Mãe Gilda foi invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro foi depredado por evangélicos. Mãe Gilda não suportou os ataques e, após enfartar, faleceu no dia 21 de janeiro de 2000). Por isso, eu, enquanto militante do movimento negro, movimento de moradia, movimento da pesca, movimento comunitário e em especial movimento de Matrizes Africana, venho propor aos meus companheiros e irmãos leitores, que devemos extinguir a palavra INTOLERÂNCIA RELIGIOSA dos nossos encontros e eventos principalmente de porte nacional. Ninguém tem que TOLERAR a opção religiosa do outro e sim RESPEITAR. Sem falar da forte conotação submissa que ‘Tolerar’ dispensa a religião do outro, enquanto que o respeitar traz o sentido de igualdade. Esta data é para refletir. Até quando vamos ficar a mercê de uma bancada política religiosa que apoia sandices como a que levou a morte de Mãe Gilda? Até quando vamos ficar batendo cabeça sem ter números de representantes políticos nas cadeiras públicas de governos das três esferas? Se a arma é a política, vamos nos municiar para a
guerra. Vamos mostrar que somos capazes, vamos sair dos muros de nossas casas religiosas e combater esses facínoras fundamentalistas religiosos. Vamos cobrar o benefício da Lei. Vamos municiar nosso povo (que muita das vezes simples) de informação sobre essas Leis e benefícios. Vamos lutar para formarmos bons políticos que realmente defendem a nossa tradicional religião milenar. Nós temos que minimamente seguir o que está dito na bíblia. E lá não há nenhuma imposição religiosa, nenhuma religião declarada. Lá apenas diz sobre o respeito, amor, fraternidade e união por um bem comum. No dicionário a palavra religião significa: re·li·gi·ão Substantivo feminino 1. Culto prestado à divindade. 2. [Por extensão] Doutrina ou crença religiosa. 3. [Figurado] O que é considerado como um dever sagrado. 4. Reverência, respeito. 5. Escrúpulo. 6. Comunidade religiosa que segue a regra do seu fundador ou reformador. Como podemos observar, religião não tem linha de culto específica. O nosso Povo de Matriz Africana tem uma religião, sim. Assim como todas, devemos respeitar e garantir que a recíproca é verdadeira.
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MARCO CONCEITUAL. RESISTÊNCIA E TRADIÇÃO
Vinculada à intolerância, ao preconceito, e ao fato de as religiões afro serem estigmatizadas em seus rituais de abate”, disse ela em seu destaque. Ministro Fachin, coloca em seu momento de fala: “especial proteção às culturas que foram sempre estigmatizadas”. E cita ainda passando a reporta ao Estado uma proteção mais especial a nossa cultura devido as várias formas de racismo para com os povos tradicionais de matriz africana “fruto do preconceito estrutural” dentro da sociedade. Diz ele. Prestemos a atenção em nosso posicionamento político de fato. Temos que rever nossas falas quanto sujeito de direito nesta orgia fascista e racista. Passamos por uma angústia durante alguns anos com relação a este julgamento, ficando nós em uma posição delicada no sentido de perder nossa liberdade de professar o sagrado como os nossos vem nos ensinando e sendo repassado para perpetuar nossa cultura. Todos podemos observar em todas as falas os ministros faziam referência a nós como POVOS DE MATRIZ AFRICANA. Não ouvimos RELIGIÃO DO CANDOMBLÉ ou UMBANDA. Temos que nos posicionar no conceito de POVOS TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA que somos. Nós do FONSANPOTMA (Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana), estamos pelo Brasil conscientizando nosso povo que temos tradição como o pomerano, índio, judeu, ciganos e outros. Vejam o que nos dá a garantia, o que nos define.
Nossos espaços e continuidade da tradição com isso está para além de um terreiro, roça barracão. Estas referências temos que manter, mas em momentos nossos. Nossos espaços é uma Unidade Territorial Tradicional de Ketu, angola, Jeje ou Efon. Quando tomarmos consciência e nos empoderarmos dos conceitos políticos, poderemos partir para posicionamentos diversos contra aquele inimigo que está lá fora dos nossos muros. PORQUÊ POVOS? Temos Língua própria; Soberania Alimentar; Cultura; Vestimenta; Valor Civilizatórios. PORQUE TRADIÇÃO? Temos Relação própria com o sagrado e a natureza; Memória através da oralidade; Ludicidade nas expressões culturais; Visão de mundo / Cosmovisões próprias; Saberes naturais. PORQUÊ MATRIZ AFRICANA? Identidade / Origem étnica África: Bantu, Jeje e Yorubá Mudimbe corrobora com a visão deste conceito. TRADIÇÃO - Aqui, a noção de tradição está afirmada para fazer notar que há um variado conjunto de experiências culturais em África que foi atravessado pela experiência da colonização, de modo que há também culturas coloniais em solo africano. E não é com essas experiências culturais coloniais/modernas que estabeleceremos nosso diálogo, mas com as experiências que resistem, se modificam, se rearticulam, apesar da colonização. 7
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Tradicional, portanto, não é apenas o antigo, mas aquilo que se manteve em movimento, conservou-se em mudanças, diante das forças coloniais que construíram a África, tal como, de modo geral, a conhecemos hoje MATRIZES- Apesar do entendimento de que existe uma matriz de princípio invariantes que foram repassados neste contínuo com a África, abortamos a ideia de uma única matriz reproduzida em seguida e sim a idéia de que este princípio foi repassado através de 454 diferentes ações que serviram também de matriz na Diáspora. AFRICANA - Aqui levamos o conceito radical de que África é um continente e que o processo de escravidão fez e refez esta África original dentro de cada um e uma, somou-se a outras culturas e aqui são considerados aspectos mesmo que somados a outras tradições desde que reconhecida pelos sujeitos como oriundos deste continente sua maior influência. (MUDIMBE, 1988). Nosso amigo BàBàbálòrísá e professor Dr. Sidinei Baretto, coloca muito bem as palavras quanto a nossa cultura e religião. Diz ele: "Temos na nossa cultura e nossa religião. Não apenas religião. Não, não somos apenas “isso”, no sentido ocidental da palavra – creio que nenhuma religião seja “só isso” conceitualmente - somos um Quilombo Urbano, Quilombo Contemporâneo, somos guardiões dos saberes ancestrais africanos, somos negros, somos seres-humanos unidos para resistir à segregação que se apresenta por meio dessas mentiras, somos homens, mulheres, jovens e crianças, somos um espaço privilegiado que reproduz valores ancestrais da África Negra; somos o lugar do corpo e da palavra, somos o amor e a vida que se volta ao criador por meio da natureza e da humanidade.
Temos valores civilizatórios e culturais. Temos que partir para os enfrentamentos engajados e unidos. Podemos até não aceitar detalhes religiosos e pessoais do outro. Mas contra o inimigo que está lá fora juntemo-nos. Não devemos perpetuar a máxima escravagista eurocentrista que agora tem novas caras, que foi DIVIDIR PARA COMQUISTAR. Se nos dividirmos, perdemos. Vamos pensar e agir conforme a filosofia UBUNTU que pode ser traduzido como “o que é comum a todas as pessoas”. A máxima uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas. O que significa que uma pessoa precisa estar inserida numa comunidade, trabalhando em prol de si e de outras pessoas. No culto a Ifá aprendemos dentro do odu OWORIN MEJI: “SÍBÀ LÉ MI KÍ N SIBÀ LÉ O BÍ YÈRÈPÉ TI SÍBÀ LÉÈSÙN KÁ JO SÍBÀ LÉRAA WA” TRADUÇAO: Apoie-se em mim eu me apoio em você. Uma urtiga se apoia no mato ao seu redor para crescer. Nós devemos nos apoiar uns nos outros! INTERPRETAÇÃO: Ninguém é alguém sozinho! Em alguma altura da vida, sempre precisamos de alguém. Fica aqui estas palavras para os irmãos e irmãs meus mais velhos e mais novos e iguais. Aború aboye Asé
Enviado pelo Ogan Marcos de Odé 8
Orixá e o Meio Ambiente
Sagrado e Meio Ambiente Em várias culturas a natureza ganhou o aspecto animista a qual as divindades se correlacionam com os elementos naturais do meio físico e o meio espiritual se completam tornando a proposta da dualidade cartesiana do filósofo René Descartes (sec. XVII e XVIII) totalmente rejeitada, já que prioriza a idéia da dicotomia do corpo da mente, entretanto a correlação da natureza física como organismo vivo e possuidor de alma se completa na proposta Lovelock (1972) com a teoria de Gaia. O animismo religioso presente no continente africano estabelece o alicerce de numerosas religiões já que o panteão de divindades presente em quase todas as etnias (exceto ceticistas e as islâmicas) refletem perfeitamente a visão dual do meio físico com o divino em que ambos se completam e as ações divinas promovem o equilíbrio do planeta em todos seus aspectos.
Gaia é considerada a deusa da Terra. Na teoria de Gaia proposta por Lovelock, Gaia é a o planeta Terra onde tudo presente na superfície compõe a um único organismo. Fonte da imagem: http://mgimortal. blogspot.com/2015/01/ gaiagaia-geia-gea-ou-ge-edeusa-da.html
O culto destas divindades evidencia com excelência a relação do sagrado e meio ambiente em que os elementos naturais estão presentes a todo momento na ritualística dos devotos e a dependência dos mesmos em seus rituais que varia dos mais simples até os mais complexos, a qual sem esses elementos nada pode ser feito. Para os povos atuais mais tradicionais o contato com o meio que lhe cercam, extravasa os limites da cultura à beira do sagrado permitindo as mais diversas formas de compreensão do natural e isso claro, oferece-lhe um olhar diferenciado para a vida. Mesmo os organismos invisíveis a olhos desprovido de lente específicos, protagonizam a maravilha da homeostase ecológica promovida pela natureza que insiste em colocar tudo em sua devida posição e ordem, mesmo que isso leve a desfazer de algo que por décadas ou até milênios foram estruturados minuciosamente, mas o equilíbrio deve ser mantido. O ar, vento, folha, água, terra e fogo, todos esses são elementos sagrados dentro do culto as divindades africanas e a relação desses com o meio ambiente natural deve ser estreita e contínua para que a comunicação ocorra entre o físico e o espiritual. Com o passar do tempo, percebe-se que o progresso e o desenvolvimento devem ocorrer a qualquer custo, mesmo que isso venha a trazer consequências severas para nosso futuro e dos nossos descendentes, logo, aquilo que é cultural e sagrado se transforma em indiferença e descrença. 9
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Diferente disso, objetos como alguidares, copos e taças, garrafas, pratos e outros, além de demorar até dezenas de anos para serem decompostos (que ocorre por ação física ou química, raramente biológica) causam degradação ao ambiente natural e risco de acidentes. Segundo a Iyalorixá Lis Maria, pequenas mudanças de hábitos podem ser inseridas nas práticas cotidianas com grandes resultados, já que o respeito ao sagrado, transcende as orações e a cantigas. Para a Iyalorixá, o alguidar pode ser substituído por folha de mamona, por vimes ou em caso que seja indispensável a louça, o prato laminado embora não biodegradável, ainda sim, deteriora em menos tempo que a louça, não quebra e não tem risco de cortes e machucados. Ela exemplifica em rituais de “Ebós” em que são entregues como presente, isso pode ser feito sem a necessidade do alguidar. Apenas um papel de presente já é suficiente para a realização do trabalho. Para a entrega que envolve bebida, Mãe Lis defende que o despejo In locu da bebida
assim como o uso de cabaça ou “cuieté” (parte rígida da casca do coco) atende a necessidade dos trabalhos e é muito mais ecológico. Em trabalhos que se use lençóis, a substituição pelas esteiras passou a fazer parte dos rituais da sacerdotisa e o uso de velas apenas no barracão e não mas em ambiente natural, pois o risco de incêndio é grande e desnecessário. O cuidado com meio ambiente é talvez a melhor forma de se cultuar o sagrado, pois é de lá que extraímos a energia viva de nossas divindades e é a ela que recorremos quando precisamos. O desrespeito com o meio ambiente é sem dúvida um afronto aos nossos sagrados, já que são eles a representação viva do meio ambiente. Observe quanto tempo se demora para degradação de alguns objetos entregue no ambiente natural. Pano: 6 meses a 1 ano Filtro de cigarro: mais de 5 anos. Metal: mais de 100 anos. Vidro: mais de 1000 anos.
No dia 27 de março foi comemorado o dia Nacional do Sacerdote e Sacerdotisa e o Informativo Orixás e Cultos aproveita a oportunidade para parabenizar todos eles (as) das diferente religiões de matriz africanas que com muito amor e paciência se esforça em prol da comunidade religiosa. É com muito amor e carinho que agradecemos por tudo que fazem por nós.
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IMPACTO SOBRE O MEIO AMBIENTE
Imagem 1: Resto de oferenda deixado em uma cachoeira: Imagem: https://fabiopont es.wordpress.com/2011/04/08/pre feitura-demangaratiba-faz-limpeza-em-cachoe iras-de
Imagem 2: resíduo retirado da praia após uma festa de Iemanja. Imagemhttp://www.bah iadestaque.com.br/2016/ 02/colocaram-umebo-macumba-no.html
Tendo em vista, a extinção dos recursos naturais necessários para realização dos nossos cultos religiosos, surge uma nova preocupação. Hoje precisamos além de utilizar os benefícios do meio ambiente, cuidar para que o mesmo não acabe. Sendo primordial para o desenvolvimento de nossos cultos e conexão com nossos orixás. Partindo do princípio que garrafas, vasilhas, utensílios, velas e etc. causam danos ao meio ambiente, podemos pensar em algo para substituir como por exemplo a utilização de folha para substituir os alguidares, a utilização apenas do líquido para as bebidas, a vela apenas em locais seguros para prevenir incêndios, objetos jogados ao mar Texto: Ogan Junior
Imagem 3: Oferenda depositada em via pública. Imgem: http://www.bahiadestaque.co m.br/2016/02/colocara m-um-ebo-macumba
Imagem 4: resíduos deixado em local onde pode causar acidente tanto em pessoas e animais. Imgem: http://www.bahiadestaque .co m.br/2016/02/colocara m-um-ebo
Quanto tempo demoraria para decompor esse alguidar e garrafa? 11
África e seus Mistérios
Babalorisa Marcelo Benykan Existe um itan entre os povos Nagôs que conta talvez, porque motivo Exú foi sincretizado com o Diabo pelos portugueses aqui no Brasil, e esse itan fala muito do aspecto de orixá Exú também chamado de Bará, e de suas peculiaridades, talvez não muito vista pelo povo. Quando Exú ainda era pequeno, Exú era chamado de Iyanguí. Iyangui era um menino muito esperto e brincalhão, e odiava ser rejeitado por todos, pois Iyanguí tinha uma perna só e seu rosto era deformado, então as outras crianças não queriam brincar com Iyanguí, muitos por medo, outros por repugnância. Iyanguí era alegre, porém sempre chorava sozinho, pois nenhum de seus colegas queriam brincar com ele. Sua mãe, chamada de Iyegbirú, sempre acariciava o menino com suas mãos macias e delicadas, e preparava para Iyangui uma farofa especial com o fruto favorito dele, chamado de Orô-Pupá, ou como Amêndoa de Dendê. Iyanguí se alegrava muito quando sua mãe Iyegbirú lhe fazia o prato favorito, e enchia a barriga com tamanha
gulodice que ele tinha. Certa vez, Iyanguí foi para fora de sua humilde casinha para brincar, e mais uma vez, Iyanguí foi rejeitado pelas crianças. E Iyanguí se pôs a chorar novamente. Vendo isso, sua mãe pensou em lhe fazer um prato especial, e precisava ir à beira do vulcão para pegar uma erva para fazer um certo tempero das típicas culinárias iorubás, e se colocou a ir, mas antes, entregou à Iyanguí duas dessas pedras vermelhas chamadas lateritas vermelhas para que se Iyanguí precisasse de ajuda, riscasse uma pedra na outra e a ajuda lhe seria concebida. Iyegbirú foi, e Iyanguí ficou ali com as duas pedras. Sua mãe demorou muito para voltar e, quando voltou, viu seu filho deitado ao pé de dendezeiro dormindo tranquilamente, então não quis acordá-lo e foi para a cozinha preparar a comida de Iyanguí. Mas, os meninos que antes rejeitaram Iyanguí viram ele dormindo e pegou suas pedras vermelhas e se esconderam atrás da casa onde Iyanguí e Iyegbirú moravam. Os menino queriam pregar uma peça em Iyanguí, dizendo que se chocasse as pedras,, sairia ouros e diamantes dela e Iyanguí seria rico. Então acordaram Iyanguí e lhe disseram que aquela pedra era muito valiosa, era mais valiosa que o próprio ouro, era mais valioso que os Kaurís (moeda na época dos orixás hoje sendo os búzios) e que se ele chocasse as duas pedras uma na outra, Iyangui tornaria ele e sua mãe podres de rico. Pobre Iyanguí, acreditou, e desesperadamente riscou uma pedra na outra várias vezes sem parar e enquanto isso os meninos davam gargalhadas da cara de Iyanguí. Então Iyanguí percebeu que era tudo uma farsa e que os meninos estavam mentido e pregando uma
peça nele . Foi quando uma das pedras começou um fogo descontrolado, um fogo com tamanha força e rapidamente o fogo aumentava e consumia com fervor tudo ao seu redor, Iyegbirú vendo aquilo disse que não era para Iyanguí riscar as pedras atoa e muito menos desesperadamente, pois as pedras, continham o poder de fogo e como Iyanguí as riscou várias vezes, o fogo não parava de sair. Foi quando sua mãe num ato de desespero tentou parar a ira do fogo, mas acabou se queimando, e o fogo consumia rapidamente o corpo de sua mãe, os meninos viam tudo com arrependimento e surpresos, pois não haviam visto tamanho poder. Iyanguí gritava e chorava com dor e angústia, e no meio do fogo se jogava para encontrar sua mãe. O fogo consumiu tudo ao seu redor matando assim sua mãe e todos na tribo queimados. Nada restou, somente Iyanguí todo queimado e ferido e suas duas pedras na mão. Iyanguí tentou se livrar das pedras, mas as pedras faziam parte de sí. Então abandonado, sozinho, Iyanguí se pôs a virar uma laterita vermelha e se escondia no fogo para que jamais destruísse mais nada, e sendo uma pedra de fogo, Iyanguí não se queimaria e do mundo se isolaria. Passando pela estrada estava Orúnmilá, e não acreditou quando viu toda aquela destruição carbonizada ao seu redor, foi correndo para uma caverna e abriu seu jogo de Ifá (sistema advinhatório usado por babálawos e babás-ojés de culto iorubá e fon, funcionando como oráculo) e viu no seu jogo que uma criança dotada de uma inteligência incrível mas de um coração cheio de mágoa, arrependimento e desprezo
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havia feito tudo aquilo e, que essa criança estava escondida por alí em forma de uma raríssima pedra vermelha de fogo. Orúnmilá o encontrou, e se colocou a ajudar o menino, Iyanguí que estava ferido, estava com ódio de si próprio e se julgava a todo momento, então Orúnmilá mostrou que aquilo não foi culpa dele e que Iyanguí tinha o coração puro e cheio de amor, aquilo tudo não era por sua culpa. Então Orúnmilá adotou Iyanguí e lhe curou, lhe deu de beber, lhe deu de comer, lhe deu abrigo e carinho. Ensinou tudo para Iyanguí e de presente, lhe concebeu o instrumento mais poderoso chamado de Opá-Ogó. Dizendo-lhe que aquele instrumento seria capaz de controlar o tempo e o vento, o futuro, o presente e o passado, seria capaz de transformar qualquer coisa em qualquer coisa, lhe faria um
mágico, um feiticeiro e principalmente em um mensageiro, assim Orúnmilá concedeu-lhe o cargo de mensageiro do céu e da terra, lhe deu o direito de se teletransportar de qualquer lugar para o outro e lhe deu vários dons que, auxiliaria nas funções de Orúnmilá e nas funções que exerceria no orún e no aiyê, entre eles a comunicação, a alimentação, o dom da visão, o bem e o mal, o ruim do bem, o fogo e todos os quatro elementos. Lhe concebendo 7 cabacinhas que carregaria pós, feitiços, segredos, enredos e fundamentos, e, por fim lhe deu nome de Exú do iorubá Èșù que significa "Esfera", seria ele aquele que estaria em todos e quaisquer lugares do universo, seria aquele que rodaria e faria tudo andar, seria aquele que em formato de esfera, faria tudo pairar sobre ele e tudo se movimentar, seria aquele que antes de tudo, seria o primeiro, seria Exú em forma de uma esfera de fogo que todos iriam se sustentar, e dele se criaria a água, a terra e o ar, seria dele que viria todo o sustento, todo o alimento, todo o caminhar. Tudo servido à qualquer outro orixá, seria servido primeiramente à Exú, mas também conhecido como o núcleo da terra. Aquele que de uma pedra chamada laterita-vermelha criou uma grande bola de fogo e fez aos poucos, tudo nele se juntar, criando assim o princípio no áiyê. Aquele que se fez Akesán e se dividiu em nove para cada parte governar. Aquele que faria tudo por volta dele girar, aquele que de tudo participar e de tudo terá, aquele que que não define o bem do mal, somente faz jus ao que é persuasivo à evolução do mundo. Este chamado de Exú, o senhor de todos os caminhos, todas as energias, senhor que tudo come, senhor que tudo vê, senhor que tudo sente. O guardião de tudo e o mestres dos reis. Seu nome batizado de Exú, fez de Iyanguí o orixá primário.
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ÒRÌSÀ ÒGÚN ( TÓBI´ODÉ ) Babalorisa Marcelo Benykan
Há muito tempo, Ororinna e Tabutu casaram-se e juntos eles tiveram um filho conhecido como Tóbi´Odé. Temos duas traduções, tais como: Tóbí Odé (caçador qualificado) ou Tóbí Odé (grande caçador). Tóbí Odé foi o primeiro dos Òrìsàs a fazer a viagem de Orun (reino dos antepassados) até Ayè/ aiyé (mundo). Os Òrìsàs que o seguiram, viram que o Ayé estava coberto com igbó (floresta densa) sendo impossível viajar por terra. Obàtálá (rei de branco) decidiu seguir um caminho pela floresta com seu àdá fàdákà (espada de prata) para abrir caminho pelas matas. Seu àdá fàdákà não era resistente o suficiente para a tarefa a ser realizada, sendo assim a mesma ficou toda retorcida. Tóbí Odé descobriu o ìrín awo (mistério do ferro), a partir daí ele fez um àdá ìrín de ferro e abriu um caminho na floresta para que os Òrìsàs pudessem fazer a viagem por aiyé. Foi neste dia que Tóbí Odé ficou conhecido como Ògún (Òrìsà de ferro). Os Òrìsàs ficaram tão impressionados com a força de seu àdá ìrín de ferro que deram a Ògún o
título de Osín Imolè, que significa o primeiro entre os antigos. Ògún não se importou com a fama que ganhou de Olórí Òrìsà (chefe dos imortais) de Ilè Ifè e preferiu viver sozinho em igbó. Usando seu àdá irìn, Ògún abriu um caminho na floresta que levava até as montanhas. Vivendo em terras altas, Ògún tinha uma vida de satisfação podendo caçar, e etc. O dia em que Ògún decidiu visitar seus amigos em Ilè Ifè, seguiu por um longo caminho pela floresta que o levou da montanha até o vale. Enquanto vivia na floresta, Ògún se vestia de màrìwò (franjas de palmeira) que lhe davam a aparência de um selvagem. Quando ele chegou ao fim do caminho, estava cansado pelas dificuldades da viagem e tinha uma cicatriz em seu rosto. A primeira cidade que ele chegou se chamava Írè. Enquanto descansava em Írè, Ògún ajudou o povo da aldeia a derrotar seus inimigos. Desde então ele ficou conhecido como Ònírè (o chefe da cidade de Írè).Ògún decidiu continuar sua viagem até Ilè Ifè ainda coberto com o sangue da batalha. Quando chegou a cidade sagrada, as pessoas de Ilè Ifè se assustaram ao verem um selvagem vestido de màrìwò (franjas de palmeira) e com cicatrizes da guerra. Pediram então que ele se fosse. Mas Ògún não deu atenção aos pedidos, foi lavar-se e apareceu no centro da cidade como Osín Imolè (primeiro entre os antigos). Quando as pessoas de Ilè Ifè se deram conta de que o selvagem a quem tinham destratado era seu chefe, os mesmo lhe imploraram seu perdão e pediram para que ele ficasse na cidade. Ògún recusou o pedido e decidiu que não queria ser o primeiro entre os Òrísàs. A partir deste dia, Ògún decidiu voltar para floresta onde vive até hoje dançando entre as árvores. Ògún Ìkòlé a je’gbin, Ògún Ìkòlé ni jo ti ma lana lati ode.Ògún Ìkòlé oni’re onile kángun – kángun òde Òrun ègbé l’ehin,Ògún Ìkòlé, Olumaki alase a júbà. Ase.
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Umbanda Querida
UMA BREVE REFLEXÃO HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO DA RELIGIÃO DE UMBANDA A Umbanda está estruturada em três grandes pilares a qual sua base sócio-religiosa se fundamenta para produção das práticas culturais e sacras sincretizando os principais elementos desses grupos. Os referidos pilares ganham aspecto étnico religioso quando tratamos dos elementos socioculturais a qual a religião está espojada e se caracteriza por expressar a brasilidade comum da Umbanda. A Umbanda é a fiel (não única) representação da cultura Brasileira quando reúne em sua estrutura teológica a africanidade por meio dos (as) Pretos Velhos (as), os nativos (as) tratados como indígenas representados pelos caboclos flecheiros e os europeus pelo catolicismo. O aspecto religioso também fundamenta a base sociorreligiosa da Umbanda por meio dos cultos as divindades africanas tratadas em sua maioria por Orixás (Orişa), os indí-
Imagem representando as principais entidades que se manifestam na Umbanda. Fonte: https://umbandaeucurto.com/ materias/textos/guias-de-umbanda/
genas por meio da pajelança e os europeus através do cristianismo que se consolidou com a conversão romana e a criação da igreja católica. A palavra Umbanda, já foi definida de diversas formas com diversos significados chegando a ser proposto uma origem do antigo grupo linguístico e dialético idolátricos sânscrito de origem do Norte da Índia que teria como significado “Conjunto das leis divinas” ou “Deus ao nosso lado”, entretanto quando buscamos a origem da palavra no grupo linguístico kimbundo, tradicional para alguns grupos étnicos de origem Banto, referese ao sacerdote que utiliza espíritos e a magia para a prática da cura. Tal associação é encontrado na religião afrocapixaba talvez extinta no Espírito Santo “Cabula" onde o sacerdote recebe o nome de Embanda. Se a origem do nome Umbanda ainda é um mistério, a origem da religião umbandista também não é totalmente clara. Ainda que o movimento Umbandista reconheça o fundamento (criação) da Umbanda por meio do Caboclo das Sete Encruzilhada (Mentor espiritual do senhor Zelio Fernandino de Morais), estudos indicam que a prática de rituais semelhante a Umbanda, já eram praticadas muito anterior ao advento do Caboclo das Sete Encruzilhada, que para esses estudiosos o supracitado teve a nobre função de anunciar a Umbanda, mas não foi ele que criou a religião. Muito embora algumas entidades são consideradas símbolos da Umbanda, seu surgimento não teve início na religião. Anterior a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas as religiões conheci15
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das como Catimbó ou Adjunto da Jurema, o Candomblé de Caboclo e até mesmo as Macumbas Cariocas (essa última bem descrita por João do Rio em sua obra intitulada As religiões do Rio. 1906) já cultuavam entidades como Caboclo (as), Pretos (as) Velhos (as), Exus, Pombagiras e etc. No culto da Jurema, entidades comuns na gira de Umbanda, são tratados de mestres Catimbozeiros como o Mestre Zé Pelintra (não tem o arquétipo de boêmio como apresentado na Umbanda), o Mestre Martim Pescador, Caboclo Malonguinho entre outras entidades. No Candomblé de Caboclo também era comum a manifestação de guias como Caboclo Cobra Coral, Tupinambá, Arranca Toco, além dos Exus Tranca Rua, Caveira, Marabo, Tiriri e etc. Como é possível perceber, a Umbanda reúne elementos de várias etnias religiosa e adapta para as giras de trabalho. A principal característica que é atribuído a Umbanda que para muitos fundamenta a organização espiritual nas linhas de trabalhos é o que Pai Zélio definiou como as “Sete Linhas de Umbanda”. A primeira publicação que trata as Sete Linhas de Umbanda (não confundir com linhas de trabalho também chamadas de giras) veio a luz por meio do escritor e jornalista Leal de Souza em 1924 através da obra intitulada de “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, porém só a partir do primeiro congresso de Umbanda ocorrido em 1941 na cidade do Rio de Janeiro, as Sete Linhas que na ocasião recebeu o nome de Linha Branca ou Grau de Iniciação, foi considerada oficial.
Com a evolução da Umbanda, várias outras propostas foram surgindo e tornando aceita para a comunidade Umbandista da época, entretanto, a proposta trazida na obra de WW. Matta e Silva em 1951 com o título de “Umbanda de Todos Nós” foi que reuniu o maior número de apoiadores, porém com o passar dos tempos, outras versões foram ganhando força. Com a preocupação de como era estruturada as Sete Linhas e não o que era as Sete Linhas, Pai Linares (Sacerdote e fundador do Vale dos Orixás SP) procura Zélio e o indaga sobre o assunto, e o mesmo explica metaforicamente comparando as Sete Linhas de Umbanda com a fragmentação da Luz Branca (que ele atribuía a originada por Deus Uno) em um prisma que cada cor da luz branca decomposta representava uma das Sete Linhas.
Essa imagem ilustra a proposta do Pai Zélio quanto a definição das Sete Linhas de Umbanda. Baseado no experimento de Isaac Newton (1672) quando ocorre a refração (mudança de velocidade de uma onda por meio de barreiras mecânicas) da Luz branca, essa é decomposta em sete cores que para Zélio representava as sete vibrações oriundas de Deus. Fonte da imagem: https://www.tkde signer.com.br/escolhendo-uma-paleta-de-coresperfeita/
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Contudo, as propostas de como estava estruturada as Sete Linhas de Umbanda continuou e a única proposta diferente das demais feitas anteriormente, foi pelo Sacerdote Rubens Saraceni que empossado do saber de Zélio sobre o assunto e tendo como Sacerdote o Pai Linares, apropria-se da metáfora de Zélio e propôs que as Sete Linhas fossem na verdade sete vibrações de Deus, não importando se está organizada em orixás, santos, cores, planetas ou qualquer que seja a relação, o importante era o que de fato se tratava as Sete Linhas de Umbanda. A Umbanda está organizada em várias vertentes e cada uma das vertentes constitui de forma característica bem peculiares aos rituais e os costumes. As mais conhecidas são; Umbanda Tradicional a mais aproxima da proposta pelo Caboclo das Sete Encruzilhada, a Umbanda Esotérica proposta por W.W. Matta e Silva e reúne elementos de ordem iniciática, Umbanda de Mesa, as vezes confundida com a Umbanda Tradicional, mas que na verdade está mais próximo do Kardecismo, Umbanda Traçada também conhecida como Umbandomblé caracterizada pela forte influência com as religiões de nação principalmente a de Angola e Nagô, Umbanda Omoloko que reúne elementos do Candomblé de Caboclo na Bahia, Umbanda Popular que talvez seja a mais popular e difícil de definir as influência embora possa se diferenciar de acordo com a região e atualmente a Umbanda Sagrada proposta por Saraceni. A Umbanda ao longo das décadas, passou por diversas mudanças principalmente de ordem social. A eugenia instituída no Brasil na três primeiras décadas do séculos XX e a perseguição das religiões de matrizes africanas nesse mesmo período, levaram os adeptos da Umbanda claramente a mascarar e até negar atributos
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tidos na época como “Africanismo” e o congresso de 1941 teve como principal motivo promover um fenômeno que mais tarde passou a ser chamado de “embranquecimento” da Umbanda, pois os religiosos Umbandistas aboliram o máximo que podiam dos elementos africanos e a largos passos, foram se aproximando do Kardecismo que na ocasião era muito mais aceito e de certa forma até requisitado nas classes sociais de maior ascensão. Com o passar do tempo, a religião ganha força e a perseguição diminui reunindo adeptos de todo o Brasil. Em 1961 e posteriormente em 1973 houve o segundo e o terceiro congresso de Umbanda ainda na cidade do Rio, em 1968 a praia de Santos em SP recebe mais de 50 mil pessoas na festa a Iemanjá, alguns famosos passaram a demonstrar publicamente a fé na Umbanda e em outras religiões de matrizes africanas que por meio da arte apresentavam a Umbanda para diversos públicos como fez Clara Nunes em seus repertórios musicais evidenciando a cultura e práticas religiosas das populações tradicionais de matrizes africanas, também muito contribui para o cenário religioso, Gal Costa, Maria Bethânia, Bezerra da Silva, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Angela Maria, João Nogueira, Toquinho e Vinicius, Leci Brandão, Zeca Paleiro, Fundo de Quintal entre outros. Alguns desses artistas chegaram a musicalizar cantigas de Umbanda como o Martinho da Vila
Recorte da edição publicada pelo jornal folha Universal (1999) em que abaixo da matéria “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida de cliente” havia a imagem de Mãe Gilda com uma tarja preta na face. Após esse evento mais a invasão do seu barracão por fanáticos neopentecostal Mãe Gilda não resistiu e semanas depois veio a óbto decorrência de um infarto. No dia 21 de Janeiro de 2007 foi promulgado a lei 11.635 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva de combate a Intolerância religiosa. Fonte: https://www.brasildefato. com.br /2019/01/21/dia-de-combate-a-intoleranciareligi osa-completa-12-anos-com-terreiros-sob-ataque/
no LP especial intitulado Festa de Umbanda (1974) ou de Candomblé por Leci Brandão em alguns álbuns. No início da década de 80 até os primeiros anos do século XXI resultado do surgimento e o crescimento exponencial dos templos neopentencostal as religiões de matrizes africanas volta a ser perseguida de forma intensiva. Vários estudos apontam que inicialmente, o principal objetivo dessa vertente cristã era o processo conhecido atualmente como “Endemonização” das religiões tradicionais de matrizes africanas que em cultos realizados nos templos, programas de rádio e televisão e até mesmo em ações direta promoveram o assédio em vários casos com extrema violência física e moral aos praticantes e simpatizantes das religiões afrodescen-
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Imagem da reunião na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, primeira templo de Umbanda fundado pelo Zélio de Moraes . Na visão do movimento Umbandista, a religião de Umbanda surge a partir da manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas na Federação Espírita na cidade do Rio no dia 15 de novembro de 2008. No dia seguinte, no bairro das Neves no Rio de Janeiro é fundado a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade com a proposta de receber espírito com os mais diversos arquétipos com a finalidade de promover a caridade e a evolução espiritual. Fonte da imagem: https://www.bbc.com/portuguese/brasil -44297088
dentes. O caso mais conhecido foi da Iyalorixá baiana “Mãe Gilda” que após ter sua imagem publicada em um jornal popular de uma igreja neopentecostal em 1999, com o anúncio “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes” somado a uma invasão de outra igreja neopentecostal em seu templo religioso onde foi obrigada a passar por tentativa de exorcismo levaram a Mãe Gilda a falecer de um infarto agudo. Embora esse caso não tenha ocorrido com uma praticante da Umbanda, o fato afeta a todas as religiões afrodescendente já que se tratava de uma ramificação das religiões afrobrasileira e para a população todas são iguais por cultuarem divindades e entidades diferente da cultura judaico-cristã. Em 2007 foi promulgado a lei 11.635 pelo então presidente da republica Luiz Inácio Lula da Silva de combate a Intolerância religiosa. No dia 08 de novembro de 2016 a Umbanda entrou na lista dos patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro. No estado do Espírito Santo o historiador Cleber Maciel relatou em seu livro intitulado de ”Candomblé e Umbanda no Espírito Santo” (1992) que desde 1920 já havia Umbanda no Estado, contrariando a idéias de alguns estudantes da religião de Umbanda que defende o surgimento da Umbanda a partir do advento do Caboclo Sete Encruzilhada. Aparentemente, a Umbanda Capixaba é uma mistura da religião antecessora conhecida como Cabula mais a influência da Umbanda e da Macumba Carioca do Rio de Janeiro, do Candomblé de Caboclo da Bahia, da Umbanda e o Candomblé de Angola de Minas Gerais, tudo isso graças ao grande número de imigrantes dessa região para o estado. Estima que em todo o Espírito Santo tenha mais de 2000 templos de Umbanda, porém menos de 60 templos são registrados dificultando a confirmação desses dados. E poucos conseguiram durar por tantos anos como a Fraternidade Tabajara fundado em 1940 no bairro hoje chamado de Tabajara em Cariacica, Centro Espírita Santa Clara de Assis fundado em 1º de dezembro de 1941 e o Centro Espírita Paz, Amor e Caridade Canabibi fundado em 1951 ambos no bairro de Fradinhos em Vitória. Texto e pesquisa: Alan C. Moreira
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Equipe orixás e Cultos Capa Alan Christian Moreira Ogan Junior Os Encantos do Candomblé: - Nação Angola. Página 2, 3, 4 e 5. Tata Mutakalange do Nkissi Kabila – Alexandre Macedo. A Religião e suas Barreiras: - Tolerância Religiosa ou Respeito. Página 6. -Marco Conceitual. Resistência e Tradição. Página 7 e 8. Ogan Marcos de Odé. Orixá e Meio Ambiente: - Sagrado e Meio Ambiente. Página 9 e 10. -Impacto Sobre o Meio Ambiente. Página 11. Ogan Junior.
Seleção de Conteúdo: Ogan Junior. Alan Christian Moreira. Correção: Iyalorixá Lis Maria. Coluna: Ogan Marcos de Odé. Babalorisà Marcelo Benykan Pesquisa Alan Christian Moreira. Ogan Junior. Babalorisà Marcelo Benykan Iyalorixá Lis Maria.
África e Seus Mistérios: -A lenda de Iyanguí. Página 12 e 13. -Òrìsà Ògún (Tóbi’ Odé). Página 14. Babalorisá Marcelo Benykan Umbanda Querida - Uma breve reflexão histórica do desenvolvi-mento da religião de Umbanda. Página 15 a 19. Alan Christian Moreira Edição Geral: Iyalorixá Lis Maria. Ogan Junior. Alan Christian Moreira.
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