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MLC: sustentável e eficiente
Klik Photography
Credit Valley Hospital, Ontario, Canadá. Farrow Partnership Architects. Estrutura em MLC: Timber Systems.
Muito tem se falado na adoção de técnicas sustentáveis no ramo da construção civil. Nunca se falou tanto em sustentabilidade bem como a sustentabilidade nunca teve um papel tão importante no projeto de arquitetura. Muito usada na Europa e nos Estados Unidos, a MLC (Madeira Laminada Colada) tem ganhado espaço nas construções brasileiras, já que a madeira é um bem natural totalmente adequado aos princípios da construção sustentável.
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e acordo com a arquiteta e urbanista, a madeira é um material que requer pouco consumo energético, tanto em sua fase de formação como durante seu processamento. Apresenta boa resistência mecânica comparada ao seu peso próprio proporcionando a execução de estruturas leves, além de ser durável quando utilizada corretamente dentro de um sistema construtivo adequado e aliado a novas tecnologias de produção e
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conservação. “O Brasil apresenta uma grande disponibilidade de madeira proveniente de florestas tropicais e de reflorestamento, porém cabe ressaltar que com a diminuição de espécies nativas disponíveis, faz-se necessário desenvolver alternativas viáveis para a utilização racional da madeira proveniente de florestas plantadas e a madeira laminada colada é uma das formas de racionalizar o uso da madeira para fins estruturais”, explica.
Mônica Duarte Aprilanti Arquiteta e urbanista pela EESC-USP, Mestre em Tecnologia de Produtos Florestais pela ESALQ-USP.
Por que usar Quando comparada a peças sólidas, a MLC oferece muitas vantagens. Além da grande capacidade dimensional e da possibilidade de obtenção de uma grande variedade de formas arquitetônicas, por meio do processo de curvatura e da utilização de seções transversais variáveis, há uma redução considerável da ocorrência de defeitos típicos de grandes peças maciças, tais como nó e medula, devido à classificação das peças componentes que também permite uma disposição mais eficiente em função de diferentes propriedades mecânicas. “É uma tecnologia que possibilita a racionalização do uso da madeira, e aqui podemos falar do grande potencial para a utilização
da madeira de reflorestamento, já que por meio dessa técnica se produzem peças de dimensões muito maiores que as suas peças componentes. Sua fabricação envolve a laminação da matéria-prima; nesse caso as lâminas compreendem tábuas de até 5 cm de espessura e a colagem das lâminas em forma reta ou curva. As lâminas podem conter emendas longitudinais, utilizadas para obter maiores comprimentos, ou transversais, empregadas para obter larguras superiores às das tábuas disponíveis. Dessa maneira, a MLC é um produto de grande versatilidade criativa na arquitetura e especialmente adequado para vencer grandes vãos já que suas dimensões são limitadas apenas pela capacidade da planta produtora e do sistema de transporte”, explica Mônica.
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Segundo a arquiteta, ao longo de toda a história a madeira sempre foi um material muito utilizado pelo homem em suas construções. No século 19, a investigação de outros materiais, como o aço e o concreto, acabou minimizando a utilização da madeira especialmente no campo estrutural, onde a impossibilidade de vencer grandes vãos era um fator altamente limitante. As primeiras construções com madeiras unidas com cola datam do início do século 20 quando Otto Hetzer propôs, na Alemanha, um método de fabricação de madeira laminada colada que representou o nascimento da técnica no campo estrutural. Em 1901 e 1906, na Suíça e Alemanha respectivamente, Hetzer obteve as primeiras patentes do método construtivo em MLC, que a partir de então se espalha por vários países da Europa industrializada. Na década de 30, os americanos incorporaram esse sistema construtivo por intermédio do alemão Max Hanisch, ainda sob a influência de Hetzer. O amplo desenvolvimento da construção em MLC nos Estados Unidos nas décadas de 30 e 40 direcionou a atenção de arquitetos e engenheiros para um novo produto altamente adaptável a uma grande variedade de usos, o que efetivamente lançou a nova indústria. Os fatores que favoreceram a rápida aceitação da construção em madeira laminada, ao lado das ilimitadas possibilidades arquitetônicas, foram o expressivo aperfeiçoamento dos adesivos e o desenvolvimento de pesquisas relacionadas a dados necessários para o projeto de engenharia. “A primeira indústria de MLC no Brasil foi fundada em 1934 em Curitiba, Paraná, a Esmara Estruturas de Madeira Ltda, também por descendentes de alemães. Hoje a indústria está estabelecida no Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, algumas empresas iniciaram a produção de MLC no Estado de São Paulo, entre elas a Ita Construtora e a Art Pine”, ressalta Mônica.
Casa Praia do Félix, Ubatuba-SP. Vidal &Sant’Anna Arquitetura. Estrutura: Carpinteria Estruturas de Madeira. Fran Parente
Onde usar A arquiteta garante que a MLC pode ser usada em uma ampla variedade de estruturas tais como edifícios, pontes, aviões e barcos. É empregada ainda na produção de esquadrias e revestimentos. Sua versatilidade se deve ao fato de poder ser construída sob medida sem as limitações de tamanhos padronizados ou de comprimentos disponíveis no material sólido. “A MLC é um material de grande resistência ao fogo e a agressões químicas. Seu uso é apropriado para estruturas sujeitas a riscos de incêndio, pois apesar de ser um material de reação inflamável, queima rapidamente a camada superficial da peça que atua como um isolante, e em seguida diminui consideravelmente a velocidade de propagação do fogo para seu interior, guardando alta resistência mecânica e garantindo a estabilidade da estrutura. Em contraponto, uma estrutura metálica que é de reação não inflamável perde sua resistência mecânica mais rapidamente quando em presença de temperaturas elevadas”, explica. DEZEMBRO 2011
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Angus Glen Community Centre and Library, Ontario, Canadá. Shore Tilbe Perkins + Will Architects. Estrutura em MLC: Timber Systems. Divulgação
Manutenção e custo A possibilidade da utilização da madeira tratada em autoclave também confere à MLC grande eficiência contra o ataque de fungos apodrecedores e insetos xilófagos. Ao longo do tempo, mantém suas propriedades inalteradas requerendo baixa manutenção sendo que seu uso em ambientes externos, expostos à ação climática, requer apenas a reposição da camada protetora. No Brasil ainda é uma tecnologia pouco utilizada e de baixa competitividade no mercado em função de seu alto custo. Porém, o aumento da oferta de madeira de reflorestamento para serrarias no mercado brasileiro impulsionou a produção de vigas laminadas coladas fabricadas a partir de diferentes espécies de Eucalyptus e Pinus o que provavelmente resultará, num futuro próximo, em um custo mais competitivo em relação à madeira sólida e a outros materiais estruturais.
Kid’s shop Cincinnati Zoo and Botanical Garden, Ohio, USA. Glaserworks Architecture & Urban Design. Estrutura em MLC: Timber Systems.
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Vantagens Para Mônica, a pré-fabricação é um fator que se traduz na racionalização da construção. A simplificação no processo de montagem resulta em ganho de tempo na obra e menor desperdício de material. Em comparação com estruturas de madeira feitas com peças maciças, os elementos em MLC exigem um menor número de ligações já que são concebidos para grandes dimensões. “Quanto às vantagens ambientais, várias análises têm mostrado que a renovabilidade da madeira, sua capacidade de armazenamento de carbono e a sua reciclabilidade a colocam em patamar de superioridade sobre outros materiais. Inúmeras são as qualidades que aliadas à sua indiscutível beleza natural fazem da madeira um referencial de aconchego e bem-estar! Infelizmente, fatores como a forte tradição construtiva em alvenaria de tijolos, a falta de conhecimento por parte daqueles que projetam, constroem, especificam e a utilizam têm contribuído para o descrédito da madeira e o uso inadequado dos recursos florestais”, conclui.
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