O contrabaixo bate um tempo que habitua E o nosso pé encaixa bem o seu bater Há algo novo que o meu corpo insinua Tu, ao meu lado, ai agora é que vai ser
Ai Arreda a mesa e vem daí Já somos nós quem manda aqui Vamos lá pôr isto a cantar
Ai Arreda a mesa e vem daí Já somos nós quem manda aqui Vamos lá pôr isto a cantar
A melodia levantou muita suspeita mas entrou e ficou bem o seu dizer Felicidade é ver gente satisfeita e a saudade ainda está para nascer
Ai E quem não canta e está praì a fazer tempo pra sair que nos dê espaço pra dançar
Já a voz procura outra poesia e até parece o soalho balançar Vamos lá que ainda mal nasceu o dia e nós ainda temos muito pra contar
Quem aqui passa vê que a festa continua e cada um de nós tem algo a decidir Eu, contigo, hei-de pôr isto na rua que eu também sinto que o melhor está pra vir
Ai E quem não canta e está praì a fazer tempo pra sair que nos dê espaço pra dançar
Eu sou um pronome, um pronome pessoal Sou a primeira pessoa do sujeito, singular Ele é um pronome igualmente pessoal e quer que eu me junte a ele numa relação plural
Mas onde está o meu substantivo? E que verbos posso ambicionar? Chamem-me nomes, maus adjectivos Se é pra pior eu não vou mudar
Mas eu não sou artigo indefinido nem um colectivo, nem um numeral Eu tenho nome e pra mim exijo mais concordância gramatical
Sou um sujeito, procuro um verbo e um bom complemento directo Quero frases afirmativas e não viver em voz passiva
Somos sujeitos, queremos verbos, bons complementos directos Queremos frases afirmativas e emoções superlativas
Tu não gostas de mudar porque o mundo é todo mau e tu adoras ficar só a criticar e no fundo nada fazes nem melhoras
Tu já não gostas de mim de quem fui, de quem serei, quem sou agora Já não gostas do que fiz, e o que faço e o que farei, tu já não gostas Tu não gostas do que vês Tu não gostas do que ouves nem no que tocas Já não gostas onde estás e quem tens à tua volta, tu não suportas
Tens muito gosto em ser assim mas a mim o que me choca e me revolta é saber que é de ti perceber que é de ti que tu não gostas e por gostar tu já nem te esforças
Tu não gostas do que tens e o que não tens é sempre pouco e não te empolga E o que é bom é sempre aquém e o melhor é sempre o outro ou vem de fora
Tens muito gosto em ser assim mas a mim o que me choca e me revolta é saber que é de ti perceber que é de ti que tu não gostas e por gostar tu já nem te esforças E se eu não gostar de ti Se ninguém gostar de ti é que tu gostas E eu gosto tanto de gente torta
Tenho vontade de seguir uma outra via mas eu desisto Tenho vontade de mudar a minha vida mas não arrisco E deixo-me andar deixo-me andar aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me estar que esta vontade, um dia... há-de passar!
Tenho vontade de dizer aquilo que penso mas tenho medo Tenho vontade de exigir o que mereço mas nem me atrevo E deixo-me andar deixo-me andar aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me estar que esta vontade, um dia... há-de passar!
Tenho vontade de que me levem mais a sério mas não consigo Tenho vontade de berrar um impropério mas só me sai isto E deixo-me andar deixo-me andar aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me estar que esta vontade, um dia... há-de passar!
Há-de passar, aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me andar E esta vontade, agora... já passou!
Quando me queres incluir e me pões a dormir num bairro qualquer por aí E a lição de bem-estar é não incomodar quem veja incómodo em mim
Por mais passos que eu dê mesmo sem querer irei sempre bater ou esbarrar contra ti É teu o meu espaço e p´lo teu embaraço pelas portas d´aço eu já percebi: Tens medo de mim Tens medo de mim Tens medo de mim
Quando me vens revistar só porque dou ar de não ser daqui nem dali E para me proteger impões um poder que não olha a meios prò fim
Todo o gesto que eu faça é vil ameaça que anulas e esmagas e vejo assim que a força que empregas é injusta e cega não vê em quem acerta e acertas em mim
Tens medo de mim Tens medo de mim Tens medo de mim Quando me culpas e prendes tudo porque entendes que isso é melhor para mim
Eu, mesmo inocente, sou sempre diferente porque não sou igual a ti Agora, não entendo, porquê este medo brutal e tão extremo que a ninguém faz crer
que estou na cadeia porque a tua carteira caiu, apanhei-a, e quis devolver Tens medo de mim Tens medo de mim e eu medo de ti
Está tudo morto, não não há motivação Nada acontece Está tudo à espera Está tudo encerrado, não não há mais vibração Ninguém se mexe Que grande seca
Pois já que a ninguém espanta ver que isto já não anda põe a musiquinha e abana essa anca Já que a ninguém espanta ver que isto não avança ouve a musiquinha e abana, abana, abana
Está tudo em ruínas, não não há renovação Ninguém s´inquieta Tudo embrutece
Está tudo inquinado, pá Não temos salvação E esta conversa já me aborrece E já que a ninguém espanta ver que isto já não anda põe a musiquinha e abana essa anca Já que a ninguém espanta ver que isto não avança ouve a musiquinha e abana, abana, abana
Abana quem pode, abana quem deve, abana quem sabe, abana quem esquece, abana quem pensa ou evita pensar abana-o bem até se pôr a abanar
Abana o pai, abana a mãe abana o velho e o novo também Abana por bem, abana por mal abana quem diz que abanar é banal Abana o da frente, abana o detrás abana os dali, abana os de cá Abana também e se me vires abrandar Abana-me bem para eu te abanar!
Sentada no puff ela relia Proust Ele fazia bluff no bridge Ela ouvia Bach Ele curtia The Clash Entre os dois não havia clique
Ela fazia step Ele comia num snack Ela citava o Brecht Ele, nicles Ela vestia Dior Ele, uns ténis Reebok Entre os dois não havia clique
Ela ia ao Lux e bebia uma flûte E ele, de Super Bock num strip Ela morava num loft Ele orientava um spot Entre os dois não havia clique
entre os dois houve carinhosamente entre os dois houve apaixonadamente entre os dois houve apenas e somente BUUUMMM!
Nós havemos de nos ver os dois ver no que isto dá ficar um pouco mais a conversar Ter a eternidade para nós quem sabe, jantar, Se quiseres pode ser hoje Tem de acontecer, porque tem de ser e o que tem de ser tem muita força E sei que vai ser, porque tem de ser Se é pra acontecer, pois que seja agora
Nós havemos ambos de encontrar um destino qualquer ou um banquinho bom para sentar Vai ser tão bonito descobrir que no futuro só quem decide é a vontade Tem de acontecer, porque tem de ser e o que tem de ser tem muita força E sei que vai ser, porque tem de ser Se é pra acontecer, pois que seja agora
Que seja agora Que seja agora Se é pra acontecer Pois que seja agora! Que seja agora Que seja a hora Se é pra acontecer que seja agora!
Sempre a mesma esplanada copo de água e café Se o mundo me irritava ele dizia: ah, pois é Pois é, pois é, pois, pois, pois é
Entre o cigarro que fumava e a conversa habitual Se o país me indignava ele nem baixava o jornal Pois é Pois é, pois é, pois, pois, pois é
E a rotina assim passava e acenava infeliz Se eu a vida criticava ele coçava o nariz Pois é Pois é, pois é, pois, pois, pois é
30 anos e eu tão farta Se lhe falava de mim ele passava a mão na barba e lá me dizia assim: ah, pois é Pois é, pois é, pois, pois, pois é
Um dia viu-me, espantado, acompanhada no café Perguntou: é namorado? E eu respondi: pois é Ah, pois é Pois é, pois é, pois, pois, pois é...
Dorme bem, meu menino Fecha os olhos a sonhar No teu mundo pequenino nada te vai acordar nem a crise, nem os bancos nem as contas e os avisos Aproveita o meu balanço que dormir eu não consigo
Dorme bem, meu menino no embalo da mamã que há esperança no destino e no dia de amanhã já sem crise, já sem bancos já sem contas, nem avisos Aproveita o meu balanço que dormir eu não consigo
Ele diz que o corpo não é uma culpa é sim uma festa que se quer na rua É doido! Ele diz que o corpo não se privatiza e só com desejo é que se realiza É doido! Mas pouco a pouco vou na cantiga que isto do corpo tem que se diga Por mais que eu tente recusar a sua força volta e meia eu fico... doida!
Ele diz que o corpo não é trabalho não é um produto nem é um fardo É doido! Para ele o corpo é a divindade e em cada corpo cabe a eternidade É doido!
Ele diz se o corpo não goza nada mais tarde ou mais cedo a cabeça é que paga É doido! Mas pouco a pouco vou na cantiga que isto do corpo tem que se diga E porque corpo há só um e dura pouco vamos lá então ser... doidos!
Parece que ele, coitado, até vai viajar Se alguém perguntar eu não disse nada
Diz que foi ele quem traiu e agora está só Fica entre nós eu não disse nada
Por isso até vou com ele para ele não ir só Fica entre nós não ouviste nada
Parece que a relação já não andava bem Eu não te contei não ouviste nada Parece que ela cismou que ele andava a trair com uma outra qualquer uma outra mulher que por vê-lo infeliz dele se apiedou É aquilo que se diz já nem sei quem contou Não está cá quem falou
Parece que ela cismou que ele andava a trair com uma outra qualquer uma outra mulher que por vê-lo infeliz dele se apiedou É aquilo que se diz já nem sei quem contou Não está cá quem falou Não está cá quem cantou
Há-de ser muito melhor, há-de em cada bocadinho haver espaço para nós na estreiteza do caminho E cada passo será nosso e é início de outro caminho maior, sem um fim, sem um sentido Apenas ir ao sabor de estar contigo
Quem tenha pressa que vá andando Esta viagem é uma vida É uma vida e a minha urgência é gozar a vista e a companhia
Se me perguntas, eu respondo Eu nem vou pelo destino Vou apenas pelo gozo que me dá este caminho Que me dá este caminho e vá ele aonde for Se um dia vieres comigo, há-de ser muito melhor
E vou nas calmas devagarinho Que o gozo disto é ir andando É ir andando com um sorriso Quem tenha pressa que vá andando
Agradecimentos Família e amigos, Joana Sá, Leonor Tenreiro, Maria João Leitão, Jerry Boys, João Bessa, Vasco Sacramento, Márcia Costa, Inês Cristóvão, Pedro Abrunhosa, António Zambujo, Sérgio Nascimento, António Serginho, Luís André Ferreira, Rui Pedro Silva, Daniel Schvetz, João Fazenda, Vivóeusébio, Sérgio Milhano, Ângelo Lourenço, Fred Rompante, Sérgio Pires, Gonçalo Rodrigues, Universal, Boom Studios, Sons em Trânsito, Silvina de Sousa, Óscar Cardoso, Carlos Jorge Pereira Rodrigues, Paulo Marchã, Ricardo Preto, Clementine Bunel, Magali Berardo, Frank Abraham, Bill Smith e Sinan Ufuk Nergis.
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