Coletânea de Cordéis de Antônio Serafim Abreu

Page 1

Coletânea de Cordéis Antônio Serafim Abreu

Axixá do Tocantins 2016 1


SUMÁRIO Serafim e sua história em poesias .....................

05

Animais da Criação ............................................

12

Mulheres e seus nomes .....................................

14

Recordações ......................................................

15

As Mulheres e o Zodíaco ...................................

16

As Facetas do Homem ......................................

20

O Bode Vereador ...............................................

23

Vida de Caçador.................................................

26

Axixá do Tocantins .............................................

29

Dádivas de um idoso ..........................................

33

Enchente Rio de Janeiro ....................................

37

Alô Goiânia .........................................................

40

A municipalidade de Axixá do Tocantins ...........

43

Conselhos: Por Antônio Serafim Abreu .............

45

2


Coletânea de Cordéis Esta Coletânea reúne as obras do escritor cordelista, Antônio Serafim Abreu, criadas no período de 2008 a 2012, que relembram histórias de sua vida, fatos marcantes e ficção humorística. A minha história eu contei Me sinto realizado Fiz com muito cuidado Para as pessoas que mais amei Eu nunca esquecerei De abrir outros caminhos Aviso todos os velhinhos Que tenha mais alegria E faça uma poesia Pra eu não fazer sozinho. Antônio Serafim Abreu

3


A coisa que eu mais queria É que os velhos da minha idade Mais ou menos a metade Fizessem uma poesia Pra ter mais alegria Ter um pouco de conforto Que estão velhos mais não estão morto Procure se divertir Fazendo os amigos sorrir Bebendo vinho do porto. Antônio Serafim Abreu

4


SERAFIM E SUA HISTÓRIA EM POESIA

Antônio Serafim Abreu Fevereiro de 2004

Eu nunca relei um trato sempre fui bem resolvido, procuro no meu sentido eu nunca quebrei um prato Já comi carne de rato Lacei boi no corredor Montei burro pulador Digo e não peço segredo eu nunca corri com medo nem nunca gemi de dor. Eu nasci no Ceará Por lá mesmo me criei Muito pouco eu estudei Porque o tempo não dá Não podia nem passear Porque meu pai não deixava No lugar que eu pisava Sempre havia confusão Cabra respeitava o chão No lugar que eu passava. Quase não pude estudar Meu saber foi muito pouco Cresci arrancando toco No sertão do Ceará Para as terras cultivar Plantei milho no roçado Para ver o resultado Para nunca faltar nada Estudei tabuada No mato tangendo gado. Me criei no Ceará No sertão de Crateú

Fui te o Iguatú Vê os vaqueiros de lá Lá vi mulher dançar Que a barriga se sacode Na festa só entra quem pode E não existe cara feia Sai com a barriga cheia Só de buchada de bode. Eu quero a sua bença Oh Deus da poesia Com a sua sabedoria Me dê muita paciência O Deus de tanta clemência Que me de capacidade Com toda a minha vontade Aumenta a minha memória Pra contar a minha história De Deus quero a liberdade. Poeta tem liberdade, Segundo o dom da natura Depende da literatura Escreve o que tem vontade É como a propriedade Que é preciso o homem ter Pelo menos eu vou dizer Sim, o meu espírito não mente Poeta também é gente Também precisa viver. No lugar que eu morava Eu era muito respeitado Eu ficava admirado 5


Do jeito que me tratava Coisa que eu nuca esperava Tanta dedicação Até mesmo meu patrão Falava para os fazendeiros Este é o melhor vaqueiro De todo este sertão. Sinto saudade imensa Do sertão de Tamburil Tem terra da cor de anil Fui até Independência O povo tem muita crença Na Nossa Senhora Santana Passei uma semana Para ver a padroeira Fui até a Ipueira Terra de gente bacana. Eu saí da Ipueira Fui até o pé da serra E gostei daquela terra Que tem muita brincadeira Tem muita moça solteira Procurando namorado Porém saí com cuidado Fui a Monsenhor Tabosa Gostei muito da prosa Dos cabras falando em gado. Já matei porco do mato Também matei punaré Do couro de um jacaré Fiz um para de sapato Também do couro de um rato Fiz um para de perneira Gostei da brincadeira Vou fazer o povo rir Do casco de um jabuti Fiz um pela pulseira. Eu conheço Juazeiro Fica bem perto de Crato Onde tem gado barato Dali até o Limoeiro Tem muito fazendeiro Que mora em Cachoeirinha Terra de muita farinha E plantio de mandioca Até mesmo tapioca Tem o nome de rainha.

Eu conheço Madalena No pé da serra da mata Tem uma lua da cor de prata Uma terra tão serena É uma cidade pequena De um povo hospitaleiro Tem caboclo caceteiro E muita criação de bode Quase todo mundo pode Ter criação no terreiro. Terra do Zé de Alencar É a nossa Fortaleza Existe grande riqueza Lugar bom de se morar Vou até o Quixadá Perto de Baturité Tem plantio de café Fartura de mandioca Vou até Itapipoca Bem perto do Canindé. Estava em Sobral E tive um grande prazer De conhece Massapé Numa época de carnaval Lá eu vi um animal Caído numa barroca Tem roça de mandioca Na beira da estrada Fui pra vaquejada Na serra da Meruoca. Eu saí da Meruoca Fui até o Parazin Bem perto do Camucim Fui até Jejoca Depois fui a Uruoca Assisti uma grande feira Lá tem peixe de primeira Depois fui Acaraú Bem longe de Parambu Bem perto das Cabaceiras. Eu tava em Buriti Nunca ficava sozinho Depois vim para o Parazinho Viajei para o Piauí Cheguei em Piri-Piri 6


Uma cidade natural Tem criação de animal Tem também uma grande feira Viajei para Ueiras Foi antiga capital. Saí de Ueiras Parei em Pedro Segundo De todo lugar do mundo É fora de brincadeira O que vi muito na feira Foi farofa de cari No estado do Piauí Sua capital Terezina É uma cidade menina Palácio do Buriti. Vou voltar do Piauí Para o Estado do Ceará Pois eu não podei deixar O sertã de Aracaté Terra de muito pequi E plantação de macaxeira Vou até Maria Pereira De lá vou para o Salgueiro Naquele mesmo roteiro Quero ir até a Fronteira. Eu estava em Livramento E tive uma grande astúcia Fui até Nova Rússia Montado no jumento Tomei muita chuva e vento Por todo aquele sertão E vi muita criação Gostei daquele lugar Vou sair do Ceará E viajar para o Maranhão. O rio Acaraú Nasce na serra das matas Eu fui uma serenata Quando cheguei no Ipú Viajei para o Crateú Vi uma égua corredeira Era um animal de primeira Fui até a Serra Grande Por favor ninguém me mande Vender banana na feira. Mumbaça e Serra Talhada

Senador e Novo Horizonte Terra de gente descente E não se troca por nada Sempre vão pra vaquejada No sertão do Iamum Vi muito ninho de anum Por dentro das capoeira Montar égua puladeira Não ficou pra qualquer um. Eu fui uma seresta Na casa do tal Feitosa Só por causa de uma prosa O cabra virou a molesta Fez eu correr da festa As duas da madrugada Topei uma onça pintada Umas duas horas eu briguei Por sorte eu acordei Com a calça toda molhada. Eu estava no bom jardim Viajei mais de cem légua Amontado numa égua Fui ficar em Camucim Depois vim para o Parazim Tem muito canaubal Depois fui até Sobral Um dia de sexta-feira Tamburil e Oliveiras É a minha terra natal. Eu nunca me esquecerei Do dia do meu casamento Também fiz um juramento A mulher que eu mais amei Meu compromisso honrarei Com toda satisfação Me casei no Maranhão Na cidade de Pedreira O tempo passa na carreira Aonde existe união. Eu sei que foi aprovado Por Deus eu tenho certeza Falo com tanta clareza Eu sei que fui castigado Por desconto de pecado A minha casa queimou Ainda vivo eu estou Tenho certeza que eu não erro 7


Uma panelinha de ferro Foi só o que me restou. Tudo o fogo levou Até a minha esperança Eu chorei como uma criança Quando nada ali ficou Minha mulher me aconselhou Tudo isto é uma luz Que trouxe o Senhor Jesus Que não tem num um pecado E morreu crucificado Nos braços de uma cruz. Muito tempo se passava Mas eu não me esmorecia Trabalhava todo dia Muitas coisas me faltava Quando menos eu esperava Adoeci muito decadente Desgostoso da vida Foi a Virgem Aparecida Que me deu este presente. Eu sempre vivo contente Nada mais me atrapalha Minha caneta é uma navalha Pra falar pra muita gente Eu sou um velho valente Não tenho medo de nada A minha casa é fechada Pra qualquer desconhecido Pois não faz sentido Se dá apoio a gente errado. Quero dar continuidade A minha pequena história Jesus é o Senhor da Glória É a luz e a verdade Falo com sinceridade Muito feliz eu estou Porque Deus me ajudou A fazer a minha rima Aquele que está lá em cima É o nosso Criador.

Peço a Nossa Senhora E um Deus de tantas virtudes Que me dê vida e saúde Aumenta a minha memória

Pra contar a minha história É essa a minha esperança Sou velho, não sou criança Graças a um Deus criador, Assim diz Nosso Senhor: O homem é minha semelhança. Tenho certeza que eu não era O pai que vocês queria Nunca usei da covardia Também não fui uma fera Sempre falo de Vera Foi um dom que Deus me deu De lutar pelo que é meu Por toda minha peleja Tem muitos filhos que deseja Ter um pai igual a eu. Foi embora a mocidade Estou velho decadente Na boca não tem um dente Uma perna me falta a metade Cheguei a terceira idade Ainda tenho prazer Me sinto feliz porque Deus me deu uma grande trilha Graças a minha família Me dá forças pra viver. Trabalhei enquanto pude Hoje nada mais faço Dói minhas pernas e meus braços Já não tenho mais saúde Um Deus de tantas virtudes Me deu forças de vencer Me sinto feliz porque Deus me fez tão corajoso Sei que sou muito teimoso Muito tempo vou viver. Hoje estou velho cansado Já passei dos setenta Minhas pernas já não aguentam Sinto meu corpo pesado Neste meu tucum rasgado Lembro a história de Dimas Estou fazendo a minha rima Um pouco da minha história Quem refresca minha memória É aquele que está lá em cima. 8


O homem quando envelhece No corpo aparece cansaço Afina também seus braços A força desaparece Logo a barriga cresce Por nada fico cansado Com o seu bornal de um lado Com um cachimbo e o isqueiro Ele entra no banheiro Sai com o fumo molhado. Sinto dor no espinhaço Não posso ficar parado Fui caminhar vexado Caí e quebrei um braço Mas eu sinto até cansaço Quando fico sem fazer nada Olho para minha enxada E fico até desgostoso Jesus é o homem bondoso Minha caneta é minha espada. Penso nesta mocidade Que não pretende ter filho Não querem sair do trilho E perder a liberdade Só pensa na vaidade Não para para pensar Que a velhice vai chegar E fica no abandono Feito cachorro sem dono Não tem por quem chamar. Sempre existe um ditado Pra tudo precisa sorte Ter quem tem um braço forte Pra dar conta do recado Meu Senhor obrigado Por esse sofrimento meu Foi um dom que Deus me deu Mais estou de bem com a vida Graças a minha mãe querida Foi Jesus quem escreveu. Estou terminando a minha história Sem nenhum constrangimento Todo meu sofrimento Eu tenho como uma vitória Jesus é o Senhor da glória Que me fez compreender Não posso me mal dizer

Todos nós tem uma cruz Sei que não foi só Jesus Que nasceu para sofrer. Não importa o que o povo fala Da minha grande pobreza Eu tenho certeza Que isto não me abala Chego na minha casa Vejo filhas, netos e uma esposa Escrevo na minha lousa São estes desejos meus Tenho certeza que para Deus Eu serei alguma coisa. A verdade nem que doa Tem que ser bem contada Mentira não vale nada Quem mente só vive a toa Hoje estou numa boa Tenho casa pra morar Uma rede pra deitar Graças a Deus tenho um abrigo Pra receber meus amigos Pra nós juntos conversar. Porém existe um ditado Que eu não acho interessante Aonde tem gente importante Também tem muito coitado Pois eu fico indignado E fico muito aborrecido Tanto dinheiro perdido Mais do que folha de boldo O sal nasce para todos A sombra só para os sabidos. Eu conheço muita gente Que nunca tem respeito Trata mal de qualquer jeito Mesmo que seja parente E sendo um velho doente Seja tio ou padrinho Podia tratar com mais carinho Mas trata com rebeldia Não se lembra que um dia Ele pode ficar sozinho. Eu tenho muitos parentes Que se esqueceram de mim Eu não posso achar ruim Por abandonar a gente 9


Eu não fico descontente Para mim não falta nada Tenho uma família estimada E as minhas sete filhas Que completa minha família Com a minha netarada. A fama é que faz o nome O nome é que traz a rima Jesus olha lá de cima Vê tanta gente com fome Tudo por culpa do homem A sua ganância por dinheiro Corre atrás com desespero Não se importa com ninguém Rouba até o que o pobre tem Vai guardar no estrangeiro. Não posso ficar calado Existe muita Josina Que tem chácara boa e piscina Muita terra e muito gado Com seu assalariado De setecentos reais Ela tira muito mais Lá dentro do INSS Os velhos é só os que padece E vão ficando para trás.

Me sinto feliz demais Por Deus me dá consentimento De renovar um casamento De cinquenta anos atrás Jesus é que traz a paz Junto com a Virgem Maria Eu tive muita alegria Foi este acontecimento Quem renovou meu casamento Foi o padre da freguesia. O saber já vem do berço Não há quem pode tirar O saber que Deus me dá De coração eu agradeço Apesar que não mereço Ter tanta sabedoria Peço a Deus todo dia Para nos livrar da guerra A superfície da terra É a nossa geografia.

Eu quero pedir licença A Deusa da poesia Com a sua sabedoria Tenha muita paciência Quero a vossa presença Pra senhora me ajudar Eu moro no Axixá Sou um pequeno brasileiro Aqui sou pioneiro Mas nasci no Ceará. Nesta minha poesia Eu entrei de cabeça Por favor não se esqueça Que eu não tenho sabedoria Não estudei geografia Porque o tempo não deu O pequeno estudo meu Estudei cinco meses somente Pra mim foi o maior presente Que Jesus Cristo me deu.

Caros admiradores Eu digo muito obrigado Não faço verso errado Nem pelo um milhão de flores Foi a Senhora das Dores Que me deu este saber Agora vou escrever Ninguém queira ficar a toa O trabalho das pessoas Dá bem para se manter. Entre netos e bisnetos Eu já tenho quase setenta Não tem paiol que aguenta O mundo é dos mais espertos Minha história é um livro aberto Pra minha vida eu contar Deus vai me ajudar O Senhor olha para mim Vou até o Camucim No estado do Ceará. Terminei minha história Eu quero ser desculpado Se teve algum verso errado Foi falta da minha memória Tive uma grande vitória Por Jesus me ajudar 10


A minha vida eu contar Sou um velho pioneiro Preciso ganhar dinheiro Pra poder me sustentar Essa história eu ofereço A toda minha irmandade Eu sinto muita saudade Deles eu nunca me esqueço Eu sei que não mereço Um dia ser desprezado Confio no meu pai amado Que me trouxe essa luz Eu espero que Jesus Fique sempre do meu lado.

Aviso a toda família Que cuide bem de seus pais Que Jesus da muita paz Saúde e sabedoria Trate bem e com alegria Que o velho já foi homem Zele bem este nome De um arrozinho com feijão

Ou um pedacinho de pão Mais não deixe passar fome. A coisa que eu mais queria É que os velhos da minha idade Mais ou menos a metade Fizessem uma poesia Pra ter mais alegria Ter um pouco de conforto Que estão velhos mais não estão morto Procure se divertir Fazendo os amigos sorrir Bebendo vinho do porto. A minha história eu contei Me sinto realizado Fiz com muito cuidado Para as pessoas que mais amei Eu nunca esquecerei De abrir outros caminhos Aviso todos os velhinhos Que tenha mais alegria E faça uma poesia Pra eu não fazer sozinho.

11


ANIMAIS DA CRIAÇÃO

Antônio Serafim Abreu Fevereiro de 2005 Eu nunca relei um trato Sempre fui bem resolvido Procuro no meu sentido Eu nunca quebrei um prato Já comi carne de rato Lacei boi no corredor Montei burro pulador Digo e não peço segredo Eu nunca corri com medo Nem nunca gemi de dor Eu estou velho cansado Muito janeiro se foi Nossa vida vale ouro Eu fui muito gratificado Não faço verso errado São boas minhas poesias Não tenho sabedoria Sou velho não sou criança Toda minha esperança É de ser feliz um dia. Vou falar da bicharada Que a natureza criou Assim diz nosso Senhor Venha o peixe e a passarada E fez a mata fechada Para servir de abrigo Pra ser livre do inimigo Que mata sem piedade Quem mata sem necessidade Merece levar castigo. Jandaia maracanã

Marreca e pato de mato Jaburu do bico chato Frango d’água e a jaçanãs Na mata canta a coam Tem a canção e o cupido Socó tem o bico comprido Para fazer a pescaria Logo ao romper do dia Os peixes estão escondidos. O carão grita na lagoa O caboré de orelha Nas noites de lua cheia A coruja voa atoa Embarquei numa canoa Pra fazer uma pescaria Logo ao amanhecer do dia Avistei um jacaré Banhando no igarapé Com toda a sua família. O rato nasce pelado Quem nasce barbado é gato De todo bicho do mato O mais veloz é o veado Um capelão pendurado Pra tocar uma seresta Guariba dança na festa Um tamanduá de batina Também vi um galo campina Com uma fita na testa. Vi um veado sapateiro Dono de uma sapataria 12


Era grande a freguesia Ganhava muito dinheiro Mas um peba cangaceiro Entrou lá embriagado Atirou pra todo lado Disse só tem uma saída É eu melhorar de vida As custas desse veado. Vi um tatu lavrador Vi um peba motorista Fazendo racha na pista Vi um bode professor O burro promotor Vi um macaco letrador Um capelão pendurado Pra tocar uma festa Vi a guariba na festa Dançando um forró pesado. Vi um quati marceneiro Vi um furão lavrador Um porco procurador Um tipu velho ferreiro Um veado sapateiro Punaré fazendo fuso Mucuim locando buso Aranha telando em pátio Vi um besouro alfaiate Contando roupa de uso. Vi um peixe de chocalho Formigão de gramadeira Vi lagartixa na feira Comprando queijo de coalho Um calango no trabalho Ensopado em mel de furo Vi duas brigas no muro Conservando em monarquia Vi um embuá na freguesia Tomando dinheiro a juro. Vi um peba fogueteiro Saltando fogo no ar Vi o papa vento mandar Pra rua trocar dinheiro Carrapato gondoleiro

Comendo farofa pura Um bando de tanajura Empregada no café Vi um percevejo em pé Com um costal de rapadura. Vi um menino chorando Escutei outro gritar Ouvi a ovelha berrar Um macaco assoviando Vi um bebo montando No seu cavalo manco Vi duas noivas de branco Passeando pela rua Também vi duas negras nuas Dançando em cima de banco. Ema não pode voar Mas tem pera para correr Que pode se defender Ela pode se apressar E pode até chegar E corre se tem demora Ele faz mais de sessenta Se duvidar chega até oitenta Quilômetros por hora. Tenho um metro de altura Moro dentro do mato Eu nunca usei sapato Gosto de mata escura Se quiser um dia me procura Gosto de andar só Me balançando no cipó Pra ouvir o grito da tona Na mata do Amazona Na ilha de Marajó. Vou dar meu endereço Da rua que eu moro Bem perto do seu Tenório Pertinho do Zé Travesso De muito até me esqueço A dona Maria Severa Tem um filho do Ludugero O número do meu telefone É zero, zero, zero, zero.

13


MULHERES E SEUS NOMES...

Antônio Serafim Abreu Fevereiro de 2005

Vou falar da mulher Joana, Maria, Salomé Joaquina, Rosa e Raquel Cada qual tem o seu jeito Pra mulher que tem respeito Vamos tirar o chapéu. A mulher chamada Ana Mora lá na sua choupana Trabalhando o dia inteiro Faz roça de mandioca Planta milho de pipoca Pertinho do seu terreiro. Mulher chamada Tereza Eu tenho quase a certeza Que com ela ninguém pode E tendo um nó no pescoço Começando a falar grosso Enquanto cresce o bigode. A mulher chamada Sandra Gosta de cabra malandro Sendo bonito ou feio Seja preto ou seja branco Sendo assaltante de banco Para ela e um prato cheio. Mulher magra e beiço grosso Tendo um palmo de pescoço Usando blusa amarela Gosta muito de folia

Tendo o nome de Luzia Eu passo bem longe dela. Mulher chamada Raimunda Tem primeira e tem segunda Quer trabalhar de frentista No posto de gasolina Lava carro na oficina Conquistando o motorista. Se você quiser se casar Cuidado pra não se enganar Ninguém tem escrito na testa Mulher safada é igual a jumento Procura no meio de um cento Pode achar alguma que presta. Eu gostava de seresta Beber cachaça na festa No meu tempo de rapaz Mulher da cintura fina Com o nome de Alexandrina Eu procurava demais.

Mulher chamada Zulmira Fuma cigarra caipira Enquanto costura o pano Trabalha de costureira Vendendo roupa na feira Toda semana do ano.

14


RECORDAÇÕES

Antônio Serafim Abreu Fevereiro de 2006 Eu nunca tive infância Trabalhei desde criança Toda minha esperança De um dia eu ser alguém Sou feliz sou brasileiro Sou um velho pioneiro Eu queria ganhar dinheiro Pra ajudar a quem não tem. Digo e não peço segredo Eu levantava bem cedo Um frio de fazer medo Muitas vezes passava mal Pastorando a bezerrada Naquela lama molhada Na porteira do curral. Meu maior divertimento Era montar no jumento E entrar de mato a dentro E correr atrás de gado Filho de pobre é sofredor Um homem trabalhador Vai relembrar o passado. Quem trabalha Deus ajuda A maldade é uma coisa aguda Só Jesus sabe o que faz Todo homem neste mundo Com o seu saber profundo Sempre o rei dos animais. Uma cigarra falou Tu és muito sofredor Confia em nosso Senhor Também na Virgem Maria Por se um moço direito Trata o povo com respeito

Sorrindo bate no peito E faz tua poesia. Quando eu tinha 14 anos Quase eu entro pelo cano A filha de um velho tirano Me acusou de culpado Pois ela tinha um amante E dele saiu gestante Era um parente distante Com certeza era casado. Para não perder a fama Jogou meu nome na lama Ele mesmo fez a cama Pra nela ficar deitado Eu era um rapaz Gravado por muita gente Como eu era inocente Por isso fui perdoado. Já cacei ninho de jacu Atirei muito nambu O esturro da cangussu Deixa agente apavorado Ninguém diga que é mentira Já rocei muita juquira Também queimei macambira Pra fazer raça de gado. Cavalo relincha no lote Grita o mocó no serrote A cobra pega no bote Eu pego touro no laço Gonzaga é o rei do baião O Imperador do sertão Virgulino Lampião Que é o rei do cangaço. 15


As Mulheres e o Zodíaco

Antônio Serafim Abreu Fevereiro de 2006

Vou falar sobre as mulheres Que é a rainha do lar Uma mãe de muitos filhos Faz a família aumentar Mulher sempre zela o nome Como ficaria o homem Se a mulher acabar Vou dar uma volta no mundo Com meu vocabulário Minha renda é muito pouca Quero aumentar meu salário Pego na minha caneta Vou falar sobre os planetas No signo do planetário. Vou começar pelo signo Da mulher aquariana Seja branca ou preta Maria Zilda ou Mariana Costumam ser carinhosa Apesar de ser teimosa Os sete dias da semana. Quem tem signo de peixe É do mês de fevereiro Para ter a sorte grande Precisa chegar primeiro E gostam de viajar Andar de navio no mar Conhecer o mundo inteiro.

Quem tem o signo de peixe Sendo bonita ou feia Costuma ser gorda e alta Quem nasce na lua cheia São alegres e tem paixão Costuma ter devoção A senhora das Candeias. Os rapazes de hoje em dia Só imagina em ficar Com a mulher é diferente Começa se apressar Tem noite que não curte Mesmo já fazendo aquilo Precisamos se casar. Quem nasce no mês de março É a mulher ariana Gosta de viver na roça Morando numa choupana Ela não tem vida boa Também trata das pessoas Com a magia cigana. A mulher ariana Tem poder natural Elas são muito sujeitas Ser mordida por animal Cuidando da obrigação 16


Cuidado com escorpião Quando varrer o quintal. A mulher muito pequena Quase todas são preguiçosas O que importa mesmo É ela ser caprichosa Ela tem paz e saúde E bastante que Deus ajuda Pra ter uma vida de rosa. A mulher que nasce em Abril Tem uma saúde perfeita Seja branca ou morena Vivendo bem satisfeita Ela tem signo de touro Não aguenta desaforo Nem suporta desfeita. Quem tem o signo de touro Tem uma bela formosura É alegre e simpática É bem feita de cintura Sempre é bem vaidosa Gostam de andar cheirosa Mas tem medo de altura. Gostam de viajar Conhecer terras estranhas Sempre são mulheres alegres Mais não gostam de façanha As que nascem no Brasil Dia primeiro de abril Tem uma mentira ganha. Quem tem o signo de gêmeos São mulheres sadias Gostam de viver na sombra E banhar com água fria São muito vaidosas Gosta de andar cheirosa Quando bonita e vadia. Gosta de sair de casa E não diz para onde vai Não pede licença a mãe E nem fala com o pai Se ela for mulher solteira Vai pra festa a noite inteira Só volta quando o sol sai.

Se ela for casada É briguenta com o marido Gosta de usar sapato. Com o salto bem comprido O marido não enfrenta Ela que não aguenta Gritar no seu ouvido. A mulher que nasce em junho Seja rica, ou seja, pobre. Sempre são estudiosas Com pensamento nobre Coisa que não tem sentido Não fazem nada escondido Porque os outros descobrem. Toda mulher deste signo Tem uma vida comprida Gostam de negociar Sempre são bem sucedidas Sempre são estudiosas Se for mãe é carinhosa Por todo mundo é querida. Toda mulher deste signo Tem uma vida comprida Gostam de negociar Sempre são bem sucedidas Sempre são estudiosas Se for mãe é carinhosa Por todo mundo é querida. Quem é do sétimo mês Seja Cassandra ou Socorro Sendo da cidade grande Ou da favela do morro Nunca são bem sucedidas São sujeitas a ser mordida Por jacaré ou cachorro. Chegou o mês de agosto Mexeu com minha memória Serão mãe de muitos filhos É bonita esta história Anda bem distraída Com o nome de Margarida Ana Maria ou Vitória. Todas elas têm tendência De cair de animal Leva queda de jumento 17


Ou de ponteira de curral De cima de uma parede Evite queda de rede Pois esta é mais fatal. É bom vocês adotarem Esta minha recomendação Nunca queira se casar Com homem chamado João Passe longe de Vicente Reze pra Santo Clemente E mártires Santo Sebastião. Já cheguei no nono mês Tem um signo diferente A mulher que nasce nele É alegre e sorridente Não aguenta pau no ouvido Muitas batem no marido Estas mulheres são valentes. Os homens que acreditam Querendo se arriscar Tem que andar direito E pisar bem devagar Tratar bem com muito jeito Qualquer falta de respeito A chibata vai cantar Se a mulher for pequena Muito cuidado com ela Não querendo ir parar no chão E dormir bem longe dela Vão aguentar muito mais Se tirar da casa dos pais Ainda moça donzela. Recomendo estas mulheres Não casar com violeiro Porque elas vão sofrer A vida de pensar que estão no cativeiro Diz que a mulher só presta Pra lavar roupa de festa E pegar cisco no terreiro. Vou falar sobre as mulheres Do signo de escorpião Sempre são pessoas boas Humildes de coração Elas façam o que quiser

Mas se livre de mulheres Das que chamam sapatão. Quem nasce sobre este signo São mulheres decentes Serão mães de muitos filhos São sujeitas a dor de dente Sempre são bem respeitadas São também bem amadas No trabalho são valentes. As que nascem em sagitário Cuidado! desde já esteja avisada O homem que casar com elas Pode ficar preparado Elas lavam roupa sem sabão Quando cozinha o feijão Ou sai insosso ou salgado. As mulheres deste signo Gostam de ler pensamento Tem medo de trovoada Quando vem com muito vento São muito trabalhadoras Muitas vezes da lavoura Pra tirar o sustento. Seja branca ou morena O pensamento é igual Gostam de viver na roça Tratando de animal Vive de agricultura Também tem muita verdura Nos canteiros do quintal. Peço desculpas às mulheres São pessoas de toda raça Pra agradar este meu povo Eu faço tudo de graça Estas mulheres fofoqueiras Nem que o marido não queira Não pára nos bancos da praça. O povo conta piadas De coisas que as loiras fazem Eu não sei se é certeza O povo aumenta mais Não sei se é por sorte Quando pega um transporte Sentam no banco de trás. 18


Gosto de todas mulheres Deste meu Brasil querido Me acho feliz por ter respeito Por ser bem compreendido Pois todos pensem o que quiser Se não fosse a mulher Eu nunca tinha nascido. As mulheres de capricórnio Gostam de falar sozinhas Fala no caminho da roça No trabalho da cozinha Sofre muita agitação Pra não dizer palavrão Enche a boca de farinha. Finalmente cheguei Na minha grande jornada Quero pedir desculpa Para aquelas que estão zangadas Peço para toda senhora Se não gostar vou embora Nunca mais escrevo nada

.

19


As facetas do homem

Eu sou de família pobre Me criei dentro da roça Trabalhando de alugado A terra não era nossa Em uma casa de taipa Dava o nome de palhoça.

Antônio Serafim Abreu Junho de 2008. Falo a respeito do homem Desde o pequeno ao mais graúdo Qual é o macho, o valente Pelo sinal se vê tudo Quem é bravo, o moderno Quais são os mais linguarudo.

Minha mãe era Francisca O meu pai Sebastião Trabalhava de vaqueiro Para nos dar sustentação Trabalhava na roça Era ordem do patrão.

Vou falar logo de mim Não sou grande e nem pequeno Só vou plantar o milho Quando preparar o terreno Eu não tenho medo de cobra Tenho medo é do veneno.

Quem mora nas terras alheias É igual estar no relento Num sertão muito esquisito Só se vê chuva e vento Mas graças minha inteligência Eu arranjo meu sustento.

Homem de cabeça grande Este sim tem bom juízo Quase não dorme de noite Pensando no que é preciso Mais em negócio com ele Quem fizer tem prejuízo.

Com os meus 80 anos Tenho memória de elefante Esta minha inteligência Brilha igual um diamante O homem sem inteligência É cego, surdo e ignorante.

Homem calvo sim senhor Sempre são bem sucedidos Costuma fazer política São vaidosos e sabidos Mas em mil tratar que faz Cem por cento são esquecidos. Homem que olha zaroio Sempre tem a perna torta Olha e faz que não vê Com olhar de cobra morta Toma chegada nas casas Pra escutar atrás da porta.

Já escrevi versos em dez linhas Agora vou escrever em seis Vou falar a respeito dos homens Que são bons ou mal freguês Quais são bonitos ou feios Como a natureza fez.

20


Homem da barba vermelha O peito bem cabeludo Este é homem destemido Passa por cima de tudo Mas em negócio com ele Quem fizer leva canudo. Homem que tem queixo chato Dividido com o rego Não pode ser bom vizinho Deixa outro sem sossego É vigilante e velhaco É chupão igual morcego. Homem baixo quase anão Esse da barba pouquinha É mesmo de qualidade Sempre com ninguém vizinha Ele tem pena das penas Que se contém numa galinha. Homem da cara redonda Com a venta de papagaio Costuma ser falador Conversa de cair raio Mais é fraco numa luta Corre em ver qualquer ensaio. Homem do mocotó grosso Todo ele tem defeito Vive como estar zangado Com tudo insatisfeito Quase não paga o que deve Não pode ser bom sujeito. Homem da barba falhada Costuma ser justiceiro Ele faz qualquer coisa Afim de ganhar dinheiro Se tiver oportunidade Pode ser bem violeiro. Homem que fala sozinho Por qualquer coisa zanga Gosta de andar no mato Com a camisa sem manga Um badogue é sua arma E sua calça de tanga. Homem que trata e não cumpre Merece ser castigado

Fica sem confiança Só faz as coisas mandado Não pensa nem de casar Não dá conta do recado. Homem que vive de festa Pra trabalhar é cansado Só anda se sacudindo Penteia o cabelo de lado Dança balançando a bunda É fraco, fresco e safado. O homem sobrancelhudo Tendo os olhos repuxados Nunca que sofre desfeita Gosta de ser suspeitado É domador de cavalo Gosta de lutar com o gado. Homem que fala sorrindo Tem um coração sem maldade Somente da gente que Não causaste falsidade Não pega nas coisas alheias Vai para onde tem vontade. Homem que rouba não pensa De um dia ser descoberto Tudo que faz errado Acha que dá tudo certo Galhofa de todo mundo Pensando que o céu é perto. Homem que joga e bebe Não dá conta do recado Não tem crédito nas quitandas Ninguém quer vender fiado Só anda com os pés descalços E a calça toda rasgada. O homem magro demais Se parece um esqueleto As canelas uma taboca Os braços são um graveto Pra completar a paisagem Monta num jegue zambeto. Homem namorador Sempre anda bem vestido A moça que casar com ele Pensando ser bom marido 21


Coitada quebrou a cara Antes tivesse morrido. Homem muito calado Nunca pensa coisa boa Gosta de passear sozinho Em qualquer igarapé ou lagoa Quando viaja por água De qualquer pau se faz uma canoa. O saber já vem do berço Não é dote nem herança A deusa da sabedoria Passa perto das crianças Sei que Deus me ensinou Esta é minha esperança. Peço desculpas aos leitores Se eu maltratei alguém Todo homem tem defeito Coitado de quem não tem Aviso a todos vocês Não disfarça de ninguém.

22


O BODE VEREADOR

Antônio Serafim Abreu Setembro de 2008. Faz mais de sessenta anos Que voto em candidato Tem político neste mundo Da consciência de rato Também existe prefeito Que tudo que faz é mal feito E o povo é quem paga o pato. Senhor Juiz eu sei que pode Quero candidatar um bode Pra ser vereador No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Os maus administradores. De votar já estou cansado Nunca fui recompensado Nem pelo meu direito No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Essa falta de respeito. Acho ser uma grande afronta Pegar os livros de contas Jogar debaixo da mesa No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Essa tal sem-vergonhesa. Tem muita gente que jura Que lá dentro da prefeitura Roubam até a bolsa família No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Toda essa covardia.

Quem dá voto por dinheiro Não pensa no desespero Não espera coisa boa No rancho da piaçaba O bode comendo acaba As pessoas que vivem atoa. Muita gente que não pensa Nem pesa na consciência Trocar voto por bebida No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Esta falta de comida. Quem dá voto por cachaça Nunca pensa na desgraça Que trás pra sua família No ranho da piaçaba O bode comendo acaba Esta falta de moradia. Não dou nome de ninguém Eu vou dar a nota cem Pra mulheres que tem valor No rancho da piaçaba O bode comendo acaba O macho conquistador. Caro amigo eu lhe digo Merece ter um castigo Pra quem votar por dinheiro No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Estes cabras fuxiqueiros. 23


O bode foi bem votado Todo povo animado Foi eu que fiz esta jura No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Os ratos da prefeitura.

Agora caro leitor Veja se eu não tenho razão Não posso ficar calado É esta minha questão Falo sobre o desrespeito Que tenho pelo cidadão.

Faço porque sei A humilhação que passei Procurando os meus direitos No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Estes cabras sem respeito.

O mundo está mudado As coisas estão deste jeito Se o avô fala com o neto Responde e fale direito Mesmo não vai escutar Este velho sem respeito.

O bode foi bem votado Vou esperar o resultado Nossa luta continua No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Os malandros da rua.

Tem muita gente que nasce Cria-se sem trabalhar Quer viver de brincadeiras Nunca parou pra pensar Não pensa no sofrimento Quando a velhice chegar.

Colegas vão votar Pra este bode ganhar Um voto bem caprichoso No rancho da piaçaba O bode comendo acaba O político mentiroso.

Graças a Deus dei valor Ao meu pequeno estudo Eu nunca fui fazendeiro Nem tive dinheiro graúdo Fui mesmo corajoso Não moleque pançudo.

Tem que votar no bode Qualquer cidadão pode Pra gente ter mais sossego No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Esta falta de emprego.

Respeitei sempre meu pai Gosto muito do meu jeito Só entro onde me cabo Por todos tive respeito Sou pobre mais gabado Por pessoas de respeito.

Diz a mulher do seu Louro É até um desaforo Um bode na prefeitura No rancho da piaçaba O bode comendo acaba Todo mal que não tem cura.

O namoro de hoje em dia É uma imoralidade Não respeita pai nem mãe Pode ter menoridade Tem um tal de chupa-chupa Que a língua entra a metade.

O bode foi bem votado Todo mundo admirado Não é um bicho do mato Estudou a medicina Descobriu uma vacina Pra acabar a febre do rato.

A vovó fala para a neta Eu quero falar contigo A neta fala zangada Será que isto é meu castigo Detesto cabelo branco É coisa do inimigo. 24


Agora caro leitor Nosso mundo está mudado Filho não dá benção aos pais Compadre está tudo errado Tirar conta na caneta Isto é coisa do passado. Estou velho não me acostumo Com esta tal civilidade Eu me criei na roça Muito longe da cidade As barrigas estão de fora E as cochas mais da metade. O vovô fala para o neto Mais podemos conversar O neto respondeu Mas não venha gaguejar Não tenho tempo a perder Com este velho gagá.

Agora vou terminar Falando da juventude Rogo a Deus pedindo paz Boa memória e saúde Respeite sempre o idoso E tenha boa atitude. Para escrever esta história Eu pedi inspiração Ao Deus da poesia Que me deu a vocação Minha letra está ruim Por ter defeito em minhas mãos. Obrigado minha neta Por ter ajudado eu Com a tua educação Que me compreendeu Perdão ao pobre poeta Antônio Serafim Abreu.

25


VIDA DE CAÇADOR

Antônio Serafim Abreu Junho de 2009.

Eu sou de família pobre, Meu pai era agricultor, Criou a família só, Sem precisar de favor, Pois o homem, quando nasce, É pra ter força e valor.

Quando eu era pequeno Gostava de aventura Andava pelo mato Fazia muita travessura Subia nos paus mais alto Não tinha medo de altura.

Não tinha dia e nem hora Pra fazer minhas caçadas Um dia sem esperar Eu caí numa emboscada Topei com a onça pintada As duas da madrugada.

Eu gritei fasta pra lá, Ô, seu gatinho atrevido, Vai procurar tua mãe Já que você anda perdido, Brigar com bicho pequeno, Para mim, não faz sentido.

Eu pensava de ser um dia Engenheiro ou professor Como não pude estudar Vejam em que se tornou Comprei uma cartucheira Transformei em um caçador.

Fui caçador destemido Não tinha medo de nada Enfrentei bicho valente Briguei com onça pintada Na serra da Meruoca Eu, matei porco queixada.

Eu sabia quando saia Não sabia quando voltava Pois as surpresas da mata Todo dia se transformava As coisas mais perigosas No mato me procurava.

Eu recebi uma carta Do prefeito Zé Leitão Pois ele era o prefeito Da cidade Riachão Dizendo que uma onça preta Era o terror no sertão.

26


Na carta dizia assim Amigo por caridade Venha logo que meu gado Já perdi quase a metade De um jeito nessa onça Que mata sem piedade.

Pra procurar esta onça Eu entrei bem preparado Com a minha cartucheira E meu facão amolado Com meu cigarro de palha E meu cachorro pintado

No mesmo dia encontrei A tal onça matadeira Estava bebendo água Na queda da cachoeira Eu disse, chegou teu dia Da tua hora derradeira.

A tal onça tinha Três metros de comprimento Foi o animal maior Que vi até o momento Matava touro Zebu E levava de mato adentro

Eu fui uma caçada No riacho das piranhas Era uma mata fechada Lugar de muita façanha É proibido caçar No porto das ariranhas

A vida de caçador É uma vida de pobreza Falta o pão e o café Falta comida na mesa Quando chega a velhice Sente abandono e tristeza

Não tinha mais espingarda Nem destreza, nem facão, O meu cachorro pintado

Perdeu-se num boqueirão A minha rede rasgou-se, Estou dormindo no chão.

Cacei veado mateiro La no sertão de Goiás Coisas bonitas que vi Agora ninguém vê mais O homem sempre destrói As coisas boas que deus faz

Fui capturar uma onça, Na serra do caldeirão, Eu e José de Abreu, E o Chico do pezão Quando viram a onça correram Foi a maior confusão

Mas eu ficando sozinho Não fiquei esmorecido O meu cachorro pintado Com olhar arrependido Puxei o meu facão É nós dois, gato atrevido.

Vi a voz de um caçador Há tempo tinha saído, Tanta caça que ele matou Hoje chora arrependido Ele embrenhou-se no pelo mato Passou um ano perdido.

Se o passado voltasse Eu sabia dar valor Conservar as coisas boas Que Jesus cristo deixou Graças a minha família Hoje, eu sou o que sou.

Tanto bicho que matei, Estou velho, não tenho nada Com o peso da idade, A minha vista cansada, Até a minha velha Fala comigo zangada. 27


Caçador em velhice Na vida nunca fez nada Com o poso da idade, As pernas ficam cansadas Até a velha que eu tenho Fala comigo zangada.

Eu nunca me esqueci De uma caçada urgente Na serra das sete varas Era eu, João Demente, Zé Chico e Zé Jeraquim, Zé Calado e Zé Vicente.

Eu nunca me esqueci Do meu tempo de criancinha, O povo tinha respeito E não tinha tanta ganancia Não tinha letra assinada Não existia desconfiança.

Como o tempo está mudado Nós temos que mudar também Não fazem coisas erradas, E conservar o que tem Se não confiar em mim, Eu não confio em ninguém.

Meu amigo caçador Vou dar um conselho a você Não mate o resto da caça Deixe as bicharadas viver Se você fizer o que digo Jesus vai te agradecer.

O meu recado eu já dei Não adianta teimar Se duvida Deus castiga No dia em que for caçar Não mate por caridade O bicho vai te pegar.

Aceite este recado De um velho caçador Que queria ser engenheiro Ou então um professor Não foi uma coisa nem outra O destino não deixou.

Assim é a história De um caçador cansado Eu parei de matar caça Hoje vivo sossegado Aprendi escrevendo versos Meu Senhor muito obrigado.

28


AXIXÁ DO TOCANTINS

Antônio Serafim Abreu Agosto de 2009

Peço licença a Jesus Pra esta história eu contar Do dia em que eu cheguei Neste querido Axixá De tudo eu fiz um pouco Neste Brasil de caboclo Eu cheguei pra ficar.

Existia muita fartura Do milho, arroz e feijão A safra do babaçu Era grande exportação Plantei milho de pipoca Fiz roça de mandioca Também colhi algodão

No dia dois de julho Do ano de sessenta e dois Eu cheguei em Axixá Onde moro até hoje Lembro do dia e a hora O que tenho que fazer agora Eu não deixo para depois

Eu aqui já fiz de tudo Eu nunca matei ninguém Também nunca cobicei As coisas que os outros tem É pouco o meu estudo O rico tem de tudo O pobre de tudo é sem.

Já tem quase meio século Que cheguei no Axixá Com a cara e coragem E a força pra trabalhar Seja o que Deus quiser Era eu e a mulher E quatro filhas para criar.

De tudo já tive sem Sem roupa para trocar Sem sapato e sem chapéu Sem cama para me deitar Sem cueca e sem calção Só não me falta o facão E terra pra trabalhar.

Para sustentar a família Trabalhei a semana inteira E nos dias de domingo Eu vendia farinha na feira E nas noites que não tinha lua Pra clarear a rua Era com muita fogueira.

No ano de sessenta e quatro Teve a primeira eleição Axixá virou cidade Foi uma revolução Entre senhoras e senhores Mil e setecentos eleitores Foi toda essa votação. 29


Aí começou a briga Um queria, outro queria No ano de eleição É a pior baixaria Todo empregado é patrão Quando ganha a eleição Dana a fazer covardia No ano de sessenta e cinco Foi feita a igreja matriz A gente já festejava São Francisco de Assis Padre Carmelo Estanislau Viajava de animal Pra fazer o povo feliz. Criei a minha família Trabalhando no roçado Talvez elas não gostem Deste velho fracassado Não dei o que elas queriam Mas não foi por covardia Sou pobre mas sou honrado. O pobre de tudo tem sem Sem calça e sem camisa Sem dinheiro pra comprar As cem coisas que precisa Sem saber o caminho da roça Sem mulher das pernas grossas E sem mulher chamada Eliza O prefeito da cidade Com muita disposição Conseguiu uma pista Pra aterrissar avião Para nossa cidade Com força de vontade Trouxe iluminação. Com quatro anos de mandato Trabalhou bem na cidade Fez uma prefeitura Obra de boa qualidade Fez muitas coisas boas E ajudava as pessoas Que tinha necessidade. Com quatro anos de mandato Na segunda eleição Pois o seu sucessor

Teve boa votação Porém ele se enganou Vou falar do sucessor Fez a maior confusão. Vou mudar de assunto Vou falar em coisa boa Nunca dei valor a malandro Nem gente que anda à toa Sou um velho de respeito Ser pobre não é defeito Sei respeitar as pessoas. Trabalhei enquanto pude Mas nunca fui enxergado Carreguei pedra e tijolo Todo serviço pesado Só tem oportunidade Quem tem boa propriedade Ou uma fazenda de gado. Axixá foi governado Por mais de dez pessoas Quando entra na política Fala muita coisa boa Mais depois de ser eleito Confiado de ser um prefeito Vai gastar dinheiro à toa. Se eu tiver mentindo Me digam por caridade Com minha força de luta Foi aumentado a cidade Eu fiz o novo Axixá Jesus vai me recompensar Porque só falo a verdade. Não me envergonho de contar As coisas que eu já fiz Viajando a pé Deixando gente feliz Já falei pra muita gente Pisando na areia quente No caminho de Imperatriz. Ia e vinha no mesmo dia Não me achava cansado As coisas que é bom pra gente É relembrar o passado Eu não gosto de mentira Já rocei muita juquira 30


Sou velho não sou cansado. O homem pra viver Tem que ter força e coragem Não ser um fora da lei Nunca mancha sua imagem Quem não tem o que fazer Começa se aborrecer Só porque falta coragem. Foram grosseiros comigo Mais eu nunca me esqueci Os tempos foram passando Até que envelheci Já passei perto da morte Mas eu tive muita sorte Graças a Deus que não morri. Faz quarenta e quatro anos Que Axixá é cidade Precisamos de um prefeito Que tenha força de vontade Axixá vai melhorar Se o prefeito que entrar Tiver mais capacidade. Nos tempos de eleição Os políticos fazem palestra Pra todo lugar que vai É recebido com festa São mansos igual um cordeiro Quanto vê muito dinheiro Logo, logo desembesta. Coisa que nunca gostei Nunca adulei ninguém Eu nunca fui fazendeiro Nem fui dono de armazém Eu sou velho direito As pessoas de respeito Só dá valor a quem tem. Nunca corri com medo Fui caboclo valente Surrei onça maçaroca Arranquei dente por dente Já bebi muita cachaça Fiz isto pra fazer graça Mas sou um velho descente. Ninguém viu o que eu fiz

Por ter muita gente cego Quem quiser saber de tudo Me pergunte que não nego Dão valor a vagabundo Cabra do orco do mundo Que não tem valor de um prego. Escrevi aqui um pouco Das coisas que me lembrei Eu não acuso ninguém Só conto as coisas que sei Falo com muito respeito Ajudei a eleger prefeito Foi o pior passo que dei. Aqui tem muita gente Que merece a nota cem Gosto muito do respeito Eu não maltrato ninguém Seja rico ou seja nobre Não é pecado ser pobre Sei dar valor a quem tem. Axixá foi o lugar Que escolhi para viver Criei minha família Era este o meu dever Falo com sabedoria Eu juro que não queria Mais um dia terei que morrer. Quando eu completar cem anos Eu quero ser festejado Observe este livro Leia com muito cuidado Seja o que Deus quiser Aonde eu estiver Ficarei gratificado. Escrevi esta história Meu Senhor muito obrigado Eu só escrevo o que sei Para não sair errado Deus me deu vida e saúde Por esta boa atitude Meu Senhor muito obrigado. Não posso me maldizer Porque Deus pode confiar Ninguém pode confiar Em tanta gente ruim 31


Quem paga o bem com o mal Eu levo tudo no pau Palavra de Serafim. Escrevi este livrinho Que fiz com muito cuidado Por favor me perdoe Se tem algum verso errado A gente escreve o pensa Ponham a mão na consciência Nunca queiram ser mandado. Peço desculpa aos leitores Desculpe ao erro que tem Também peço desculpa Se eu maltratei alguém Quero que Deus me ajude Com paz, vida e saúde Na paz de Deus amém. As pessoas que fazem o bem Sempre vivem mais feliz

Fazer o bem e não olhar pra quem História que o povo diz Falo com muito respeito Já ajudei a eleger prefeito Foi a pior coisa fiz. Nem todos são assim Falo com os que merece Porque um prefeito bom Depressa a cidade cresce Eu não escrevo besteira O mundo é cheio de ladeira Enquanto um sobe o outro desce. Isto é um desabafo De um velho que não mente Não escrevo o que o povo fala Escrevo o que ele senti Que dá valor às pessoas Que praticam coisa boa Sou pobre mas sou descente.

32


DÁDIVAS DE UM IDOSO

"Saber envelhecer é um privilégio. Muitos já nascem idosos e outros jamais envelhecem." Hildegardes W. Ruppental

Antônio Serafim Abreu Maio de 2010.

O meu caro leitor Quero a vossa permissão Para escrever esta história E leia com muita atenção Vou falar sobre o idoso Quero que me dê razão.

Um pai para criar a família Só comer fora de hora Os filhos vão crescendo E vendo o mundo lá fora Quando o coitado envelhece Todo mundo vai embora.

Eu comparo a vida humana Como a vida dos passarinhos Quando começa voar Procura novos caminhos Bate as asas e vai embora Deixando seus pais sozinhos.

O que estou escrevendo É uma verdade pura Os filhos foram embora Os netos nunca procura Fica um casal de velhos Chorando suas amarguras.

Sou satisfeito com a vida Os anjos digam amém A vida de um homem pobre Eu sei contar muito bem O que já sofri na vida Não digo pra ninguém.

O neto procura os avós Quando ele está com fome Chega na rua que eles moram Procurando por um homem Ele está bem velhinho Mais não sei dizer o nome.

33


Muitos filhos vão embora Dos velhos pais se esquece Fica os velhos sozinhos sofrendo O que não merece Com o peso da idade Nem os parentes conhece.

Caro leitor agradeço Sua colaboração Não faça da vida alheia Um prato de refeição Com o peso da idade Tu vai andar de bastão.

Tem muito homem vadio Alegre e moribundo Não gosta de trabalhar Perambulo pelo mundo Quando volta para casa É velho, sujo e corcundo.

Eu era muito pequeno Meu avô chegou e disse Não pegue as coisas alheia O alheio nunca cobice Vai guardando enquanto novo Para comer na velhice.

Eu trabalhei de vaqueiro Já lutei muito com gado Montei cavalo brabo Amarrei touro zangado Mais o peso da idade Deixa o velho fracassado.

Homem de 60 anos Que mora de alugado Não pensa na moradia Acho um velho coitado Nunca fez uma casinha Para morar sossegado.

Neste mundo tem homem Com fama de valentão Nunca respeita ninguém

Quer ser dono da razão Com peso da idade Só encontra solidão.

Não vou falar só nos velhos Falo nas velhas também Mesmo estando bem velhinha Trata a gente muito bem Com peso da idade Perde o cachimbo que tem.

Se você estiver viajando Sempre olhe para trás Faça o que um velho ensinar Não o que os outros faz Com o peso da idade O velho não levanta mais.

Tem gente neste mundo De qualquer jeito sofre Um porque nunca estudou Não escreve o nome seu Com o peso da idade Tem o que Deus prometeu.

Vou falar sobre os defeitos Das pessoas quando envelhece Faltam os dentes na boca Os seus cabelos embranquece O rosto fica engiado E a força desaparece.

Escrevi este livrinho Com muita perseverança Pego na minha caneta Todo cheio de esperança Com o peso da idade Volto ao tempo de criança.

Se um velho tiver recurso Tempo bem apreciado Se possui casa boa Tendo uma fazenda de gado Os parentes vem de longe Todo ano é festejado. 34


Veja caro leitor O que eu estou escrevendo O velho que não tem nada Não é mais e nem menos Quando se levanta treme Quando se deita é gemendo.

Todo velho aposentado Pode viver muito bem Sempre andar limpo Sem precisar de ninguém Também deve lembrar De ajudar a quem não tem.

O homem velho demais Sofre tanto e padece Os filhos brigam com ele Coisa que ele não merece Vai banhar, veste a camisa Porém das calças se esquece.

E assim saiu do banho Dali saiu caminhando Olhou para um lado e outro O povo todo mangando E viu que estava nu Voltou para casa chorando.

Existe muito menino Mal mandado e preguiçoso Porém quando fica homem Só fala bem vantajoso Com o peso da idade É rabugento e teimoso.

Tem velho neste mundo Briga e faz desmantelo Dança, joga e bebe pinga Gente assim não tem apelo Briga com qualquer pessoa Zangado puxa os cabelos.

Não paga as coisas que deve É velhaco e insolente Por qualquer coisa se zanga

Se mete até a ser valente Quando bebe uma cachaça Costuma ser bom de gente.

Gosto de me divertir Falo com muita franqueza Jogo carta de baralho Jogo sinuca na mesa Velho que não se diverte É besta por natureza.

Muito obrigado Senhor Por me dar boa atitude Para eu escrever meus versos Mesmo com pouca saúde Quando eu tiver bem velhinho Só quero que Deus me ajude.

O velho que não se zela Só anda com pés inchados Nunca usou sapatos O calção todo rasgado Nunca que paga o que deve E quando paga é zangado.

Tenho oitenta e dois anos Tenho memória de elefante Este é meu pouco saber Brilha igual diamante Velho que não conta história É cego, surdo e arrogante.

Minha bisavó era índia Eram duas irmãs somente Carolina e Iracema Tão bonita e sorridente O seu pai era um cacique Guerreiro muito valente.

Quando foram domadas Começaram a estudar Primeiro começaram a rezar Pra poder se batizar Uma casou com Tomás Lima A outra com Zé de Alencar. 35


Matei mocó no serrado E matei caititu na trincheira Fiz farinha de mandioca Pra ir vender na feira Bebi água fria da chuva Aparando na biqueira.

E assim foi a história De um velho que tanto peleja Igual um cachorrinho Que atrás da caça rasteja Fiquei velho e não sabia Que gosto tinha cerveja.

Agora eu estou velho Qualquer pessoa me oferece Alguns foram meus alunos Diz: este velho merece Quem lê o livro que ele escreve Fica velho e não esquece.

É esta a minha história Que agora chego ao fim Essa é uma recompensa Que Deus deixou para mim Perdão ao pobre poeta Este velho Serafim.

Este livro foi escrito Por um poeta letrado Que fala sobre o idoso Cada um tem o seu lado Os pretos ficam cinzentos Os brancos ficam pintados.

O poeta tem liberdade Segundo a dona da natureza Com a sua literatura Escreve a quem tem vontade E com uma propriedade Que precisa o dono ter Pelo menos eu vou dizer Que o meu espírito não mente Poeta também é gente Também precisa comer. 36


Enchente Rio de Janeiro

Antônio Serafim abreu Maio de 2011. Ajuda-me Senhor Jesus Preparar o meu terreno Viajei por esse mundo E vi que o mundo é pequeno Se fizer caminho no mar Eu quero passa correndo. Quem anda despercebido Passa por cima e não vê É bom evitar o mal Antes da raiz crescer Se o mal for muito grande Procure se defender. Quem corre fica cansado Quem caminha sempre alcança Não existe tanta pobreza Aonde existe esperança Feliz de quem envelhece Com o coração de criança. Este mundo está mudado A coisa tá ficando feia Tanto malandro na rua Roubando as coisas alheia Advogado de ladrão Tem que parar na cadeia. Vou mudando de assunto Procurar outro roteiro Vou falar do naufrágio Lá do Rio de Janeiro Tanta gente morrendo Gritando com desespero.

Jesus está castigando Até os cegos estão vendo Muitos estão brincando Sem pensar no que está acontecendo As pedras descem dos morros Em lama se derretendo Vamos parar para ver Que Jesus está castigando Tanta gente morrendo Outras ficam brincando As pedras grandes caindo As serras se desmanchando. Muita gente perdeu tudo Não tem dinheiro no caixa Olha em volta e não vê nada Fica de cabeça baixa Até o próprio cachorro Procura o dono e não acha. Era grande o desespero Uma gritaria, outros gemendo A terra cobrindo tudo E tanta gente morrendo As pedras caiam da serra A terra se derretendo. Muita gente não esqueceu Este grande acontecido Pensando nos seus parentes Que podiam ter morrido Quase mil pessoas morreram E muitos desaparecidos. 37


Jesus está castigando É apenas um aviso Não faça muita maldade Façam o que é preciso O carnaval neste mundo Pra muitos é um paraíso. Feliz de quem escapou O nosso bem é a vida Quem perdeu todo dinheiro Acha que não tem saída Pense num Deus verdadeiro Tem tudo: família, casa e comida. Tem quatro coisas no mundo Que é preciso agente aprender Primeiro saber amar Segundo saber sofrer Terceiro aprender lutar Quarto saber vencer. No naufrágio lá do Rio Morreram centenas de gente De muitos que escaparam Ainda hoje estão doentes Se quiser se divertir Rogue a Deus primeiramente. Se agente for pensar No que está acontecendo Vamos olhar com carinho Para aqueles que estão sofrendo Enquanto uns se divertem Centenas estão morrendo. Muitas famílias morreram Por não achar saída Feliz de quem escapou Com seu maior bem que é a vida Que confia em Jesus Tem paz, roupa e comida. Muitas pessoas lastimavam A triste situação Pior foi quem morreu Ficou debaixo do chão Felizes foram as pessoas Que Jesus pois sua mão. Muitas ruas foram cobertas De terra, pedras e madeira

As pessoas pelos mortos Era grande a choradeira As pedras desciam dos morros A terra parecia cachoeira. Era grande o desespero Uns gritavam, outros gemiam As pedras grandes descendo Enquanto as casas caiam As ruas que eram bonitas Logo desapareciam. Eu assisti bem de longe Aquela fatalidade A terra cobria tudo Desapareceu a cidade Os ricos ficaram pobres Sofrendo necessidade. Amigo vamos pensar O dinheiro não é tudo O filho do rico se orgulha Com seu dinheiro grande Filho de pobre também Se forma com pequeno estudo. Portanto vamos rezar Pra alma do que morreram Muitos foram soterrados Por lama, terra e balseira Quem saiu vivo nesta história Digam que nada perderam. Foi um fato comovente Para o Brasil inteiro Tanta gente se acabando Era grande o desespero Não queiram morar na serra Lá do Rio de Janeiro Escrevi esta história Foi grande esta surpresa Quem perdeu parentes lá Hoje chora de tristeza Vamos confiar em Deus Que nos dar força e certeza. Se entre os desaparecidos Tiver algum sobrevivente Por favor escreva uma carta E mande para seus parentes 38


Que a morte de um filho Deixa um pai e uma mãe doente. Assim aconteceu A tragédia inesperada Que vai servir de exemplo Até pra quem não sofreu nada Nunca façam invasão Nestas áreas arriscadas. E assim leitor amigo Escrevi o que eu sabia Vamos pensar neste povo Que sofreu tanta agonia Escrevi esta história Mas não foi com alegria. Assim terminei esta história Vou em outra direção Viajei para o Mato Grosso Junto ao meu irmão Pra conhecer as matas A gente, mata e sertão. Viajamos duas semanas Cada um com uma maleta De longe avistamos Uma camionete preta Era de um grande fazendeiro Cujo nome é Zé Capeta Ele parou o seu carro E falou: oi seus velhinhos Vocês andam perdidos Por estes grandes caminhos Entrem no carro que não Posso deixar sozinhos.

Com uma hora de viagem Eu fiquei admirado Chegamos na fazenda Do berranteiro afamado Disse ele estão em casa Pode ficar sossegado. Amanhã bem cedo Vou atender um chamado E vou fazer um show Para o governo do Estado Podem comer e dormir E ficar bem sossegado. Eu falei ao patrão Nos precisamos trabalhar Estamos sem dinheiro E precisamos viajar Disse ele tenham calma Amanhã quando eu chegar Porém quando chegou Chamou um dos seus rapazes Vá levar estes velhinhos Pra Capital de Goiás Entregue para a família deles Pois estão velhos demais Quem mora perto de Pedro Também fica mentiroso Acha que numa mentira Há um paladar gostoso Homem que mente demais Não pode ser bom esposo.

39


Alô Goiânia

Antônio Serafim Abreu Setembro de 2012

Goiânia cidade linda Cheia de muitas surpresas Neste cerrado Goiano E obra da natureza No coração do Brasil Surgiu com grande beleza.

Esta cidade é completa De arvores florescentes Para todo lugar que eu vou Vejo coisa diferente De todo lugar do mundo Todo dia chega gente.

Hoje com grande prazer Vou escrever sua historia Só quero que Deus me ajude E não me falhe a memória Se os goianos me ajudarem Vou contar muitas vitorias.

Goiânia dentro da mata Fica muito mais bela Com condomínio fechado Com portão chave e tramela Se Goiânia fosse noiva Eu queria casar com ela.

Tem mais de setenta anos Que Goiânia e Capital Com muitos governos bons Todos governaram igual A favor do crescimento Todos pensaram em geral.

Tenho oitenta e quatro anos Não sei quando vou parar Para escrever esta historia Tenho que me preparar A se governo me desse Uma casinha pra eu morar.

Duzentas e cinco reservas De mata lá do cerrado Tem dentro desta cidade As belezas do estado Para escrever esta historia Me acho mais animado.

Goiás teve bons governos Pedro Ludovico Teixeira Governou com mão segura Governador de primeira Para mim foi outro exemplo Otavio Lajes Siqueira.

Tem mais de cinquenta arvores Para cada um habitante Uma cidade sombria Fica mais interessante Para escrever esta historia Amigos vamos adiante.

Para mim Otavio Lajes Foi grande governador No bico do papagaio Grande ele visitou A prefeitura da minha cidade Foi ele que inaugurou. 40


Doutor Ari Valadão Foi governo de Goiás Quando tem uns que trabalha Tem outros que só desfaz Seis anos que governou Podia fazer muito mais. Doutor Ires Rezende Ex-governador do estado Conheci a muito tempo Quando era deputado E o saudoso Rezende monteiro Homem muito respeitado. Axixá de Goiás Como era antigamente Hoje Axixá do Tocantins E uma cidade carente Por causa de muitos prefeitos Quase todos incompetentes.

E assim foi a historia Escrevi o que sabia Faço verso porque gosto De escrever minhas poesias Dou muito graças a Deus Por me dar sabedoria. Goiânia é cidade boa Pra gente ganhar dinheiro Para as pessoas que tem arte Pelo menos de pedreiro Ser segurança de hotel É para homem solteiro. Sou poeta e faço rima Faço boa poesia Sou um velho analfabeto Mais tenho sabedoria O saber vem do berço Para as pessoas que Deus confia.

Obares Ferreira Lá do balanço geral Um grande jornalista Trata o povo com respeito Porem não é por igual Que os políticos mentirosos ele leva tudo no pau.

Em Goiânia tem de tudo Tem tourada e dança caipira Vi tanta coisa bonita Coisas que a gente admira Pelas praças de Goiânia Tem contador de mentira.

E assim a historia Que escrevi de Goiás Ouvi em Goiânia Muitos anos atrás Com pequena poesia Que os goianos não faz

Goiânia é a historia Da nossa geografia Tem um pessoal descente Povo que a gente confia Tem busca de trabalho Chega gente todo dia.

Quem morre na juventude Não sabe nada da vida Chega na terceira idade Existe uma saída Caderno e caneta boa E uma mulher sabida.

Este cerrado goiano Terra de muita fartura Da cana se faz o mel Do mel faz a rapadura Do leite se tira a nata Da nata tira a gordura.

Agora caro leitor Vejam se estou errado Escrevi esta historia Feita com muito cuidado Sou velho, sou repentista Sou um poeta letrado.

No setor Estrela Dalva Tem uma pracinha bacana Eu sempre ando por lá Todo dia da semana Para vender meus livros Pelo preço de banana. 41


Eu nunca entrei num campo Porque não sei jogar bola Aprendi fazer repente Mas não sei tocar viola Vou vender meus livros Mais não vou pedir esmola.

Finalmente terminei A historia desejada Escrevo tudo o que eu penso Não me esqueço de nada Faço rima porque gosto De escrever de madrugada.

Não posso mais trabalhar Em algum serviço pesado Por isso faço repente Sou um poeta letrado Quando pego minha caneta Sai verso pra todo lado.

Para escrever minha rima Eu nunca me atrapalho Possuí quatro cabrinhas Todas elas tinham chocalho Também comprei uma vaca A custa do meu trabalho.

Quase não tive escola Não estudei quase nada Tangendo gado no mato Estudava a tabuada Lia pedaço de jornal Que achava pela estrada.

Vou falar desta vaca Quando estava parida Zangada escondia o leite Eu dizia: vaca atrevida Se tu não me dá o leite Também não te dou comida.

Eu não conheço a letra Lia jornal para fazer graça Até ganhava moedas Naqueles brancos da praça E muitas vezes eu tomava Um copinho de cachaça.

Poeta tem liberdade Segundo o dom da natura Depende a literatura escrever o que ele tem vontade É como a propriedade Que precisa o dono ter. Pelo menos eu vou dizer Se meu espírito não mente Poeta também é gente Também precisa comer.

E assim é minha história Não é mais e nem menos Quero que aprecie O que estou escrevendo A força da juventude Todo dia se desfazendo.

42


A municipalidade de Axixá do Tocantins

Axixá do Tocantins é um município brasileiro do Estado do Tocantins, criado em 1963. Localiza-se a uma latitude 05º36’59” sul e a uma longitude 47º47’10” oeste, estando a uma altitude de 210 metros. Sua população estimada em 2004 era de 8.314 habitantes, em 2010 passou a 9.275. Possui uma área de 104,89 Km2. Segundo Antônio Serafim Abreu, durante muito tempo era jurisdição de vários povoados da redondeza como: 1. Santa Helena, os habitantes eram o velho Feliciano e família, Luiz Baiano, Luiz Pernambuco, etc. 2. Bom Jesus, os primeiro moradores foram Simplício, Raimunda Bertola, Augusto Coelho e outros. 3. IUS tendo como moradores Joaquim Boa Vista, Manoel Borá, Manoel dos Reis e outros. 4. Garra, os moradores José Tiú, José Cearense, José Adidia e Basilão. 5. Lagoa do Paraibano, os habitantes foram João Paraibano e família Lau e outras. 6. Pequizeiro e seus habitantes. 7. Centro do Capela e seus habitantes. 8. Alto do Bode da família Carneiro. 9. Alto do Zumbi e moradores. 10. Passagem Franca, habitantes Cor de Rosa, Chico da Eva e outros. 11. Centro do Momédio, habitantes família Nogueira e outros. 12. Santa Luzia, moradores a família Cupá. 13. Morada Nova, habitantes foram a família Alves e outras famílias. 14. Centro dos Quirinos e famílias 15. Barreiro da Onça e moradores. 16. Taúba, como habitantes tinha o senhor Otávio e o senhor Crispim e família. 43


17. Centro dos Pedras e moradores. 18. Lagoa do Juvenal e habitantes. 19. Camarão e moradores. 20. São José e habitantes 21. Trecho Seco e moradores. 22. Lagoa Verde e famílias. 23. Boa Esperança e muitas famílias. 24. Olho D’Agua e habitantes. 25. Bacuri 26. Grotão e famílias. 27. Centro do Barroso. 28. Boa Sorte e habitantes. 29. Palestina e habitantes. 30. Tábua Melada e habitantes. 31. Grota D’Agua e moradores como o senhor Valentim, velho Dico, Augusto Gameleira. 32. Cocau do Meio, famílias do José Epifânio, Domingo Ribeiro e outros.

44


CONSELHOS Por Antônio Serafim Abreu

Antônio Serafim Abreu Setembro de 2016 Peço ao meu Senhor Jesus, Para me dar força e luz Para minha história contar Assim como diz São Gabriel Que a terra minaria leite e mel Se o homem souber aproveitar.

Planto milho de pipoca, Deito ovo em galinha choca Para os pintinhos tirar Crio porco no chiqueiro Assim nunca falta dinheiro Para o homem que sabe aproveitar.

Eu fazendo a minha rima. E Jesus olha lá de cima E manda me avisar Que o pão não cai do céu Mas a terra minaria leite e mel Se o homem souber aproveitar.

Planto milho e mandioca, Da farinha faço a paçoca Para poder merendar Da terra se tira tudo Cria bode e porco graúdo Se o homem souber aproveitar.

Caro amigo eu aviso Faça o que é preciso Não pare de trabalhar Pense bem e tire o chapéu Que a terra minaria leite e mel Se o homem souber aproveitar.

O homem mora na roça Olha e faz vista grossa Não se lembra de plantar Este é o pobre homem Vê a vaca morrer de fome Não tem nada pra dar.

Na terra planto a cana, Arroz, milho e banana Enquanto posso trabalhar Da cana faço a rapadura Da terra vem a fatura Se o homem souber aproveitar.

Aviso todos os homens, Tenham cuidado na fome, Que a fome tem cara feia Se a coisa aperta demais Quase todo homem é capaz De pegar nas coisas alheias. 45


Planto pimenta de cheiro E cebola para tempero Pra comida ficar boa Eu gosto de panelada Também aposto na rabada Me desculpa minha patroa.....

A malandragem aumentou O velho, o homem e o rapaz Muitos falam que trabalha Só bota agente para trás Quem não trabalha janta e almoça Por isso eu saí da roça Pra fazer o que os outros faz!

Cedo levanto da rede Para matar minha sede, Bebo um pouco de aguardente Da roça eu tiro a comida Da cana eu faço bebida Que derruba muita gente.

Agora caro leitor Me escute por favor E preste bem atenção Que cansei de te avisar Quando a coisa arruinar Não é brincadeira não.

Aviso toda esta gente Escolha boa semente, Para na terra semear Não use só o chapéu Que a terra minaria leite e mel Se o homem souber aproveitar.

Quem lê esta história Pode guardar na memória Não é historia fiada Segure as coisas que tem Não dê nada para ninguém Senão vai ficar sem nada.

Plantei milho, arroz e feijão Uma grande plantação A semente não nasceu Fiquei apavorado Não fui mais no roçado Neste ano não choveu.

Com esse pequeno livro Quero ser premiado A coisa vai arruinar E todos estão avisados Falo com todo respeito Sou um velho cheio de defeito Mas sou um poeta letrado.

46


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.