Entrevista para Valor Econômico em 6 de março de 2015
O Ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), propõe um percentual das verbas do petróleo para as atividades de Ciência e Tecnologia que, injustificadamente, ficaram marginalizadas do benefício quando o Congresso regulamentou o pré-sal. Reabriu a discussão sobre o uso desses recursos em fóruns de autoridades e especialistas da área, para enviar brevemente ao Congresso uma proposta de emenda sobre o assunto. No projeto em que trabalha pretende indicar quanto deve ser destinado do petróleo para os Fundos setoriais que financiam a pesquisa. Aldo Rebelo, ex-lider do governo, ex-ministro da Articulação Política, ex-ministro do Esporte e ex-presidente da Câmara, tem um plano de gestão para a Ciência e Tecnologia com uma prioridade clara à inovação. Com a experiência na coordenação das relações entre os poderes, o ministro analisou também, nesta entrevista exclusiva ao Valor, a crise política. Embora não veja saída fora das coalizões amplas, Aldo Rebelo afasta a possibilidade de ruptura. Reconhece que a atual aliança partidária ainda procura seu rumo mas não nega que é preciso liderança firme para contornar crises políticas como a atual. A seguir, os principais trechos da entrevista: Valor Econômico: O gigantismo da coalizão que elegeu a presidente Dilma e seus interesses diversos são a causa dos problemas políticos atuais? Aldo Rebelo: A tradição do Brasil é de frentes heterogêneas. Foi assim na Independência, na República, foi assim que redemocratizamos o país, com amplas coalizões que envolvem desde dissidências de grupos dominantes, como a Casa de Bragança com dom Pedro e José Bonifácio. Com os fazendeiros de São Paulo, os militares e os republicanos para fazer a República e a abolição. Mais recentemente, (José) Sarney e Antônio Carlos (Magalhães) confraternizaram com os moderados do PMDB, com Tancredo (Neves), Ulysses (Guimarães) e os populares em volta de Lula, para democratizar o país. É um erro atribuir os males e a nossa morbidez às coalizões. Valor: O sr. foi ministro da coordenação política do governo Lula que soube tratar com o PMDB. O governo está estranhando o partido? Aldo: O PMDB foi um partido importante para a redemocratização, começando pelo próprio Sarney, que teria tido um governo muito pior sem o PMDB para ajudar. O Collor, que não tinha coalizão nenhuma, deu no que deu. Itamar fez uma composição. Fernando Henrique foi coalizão do começo ao fim. No primeiro governo Lula tivemos dificuldade no Congresso porque não tínhamos o PMDB. Valor: O governo Lula conseguiu aprovar reformas no Congresso. Agora falta liderança?