Catálogo Bienal - História da Arte

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A IMINÊNCIA DAS POÉTICAS



ÍNDICE

INTRODUÇÃO.................................................................................1

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO..............................................2

ALAIR GOMES.................................................................................4

F. MARQUESPENTEADO............................................................6

NINO CAIS.........................................................................................8

TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO


TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO

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TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO INTRODUÇÃO Considerando a poesia como uma espécie de ressignificação. Seja ela sonora, textual ou visual. De uma mudança de arranjo até a compreensão de um grupo de artistas como uma constelação. Destoando ou concordando. Explodindo ou apontando. Mantendo ou trocando. O espectador, podendo-se dizer leitor, tem uma linha e uma agulha nas mãos para costurar o seu caminho de percepção ao seu modo, desprovido de seu dedal de proteção. Pronto para se ferir, sangrar, e mesmo assim abrir novas portas, janelas ou um simples buraco na porta que permita novas visões e linguagens.

Como faria William Blake, pegamos as portas da percepção e a abrimos - mais do que isso - tentamos arrancar a porta e o batente também, para que tudo fique escancarado. Arte é destruir anteparos. A ideia de constelação, nesse catálogo sobre a trigésima Bienal de São Paulo, é tentar identificar alguns artistas brasileiros que orbitam Arthur Bispo do Rosário, o centro dessa mostra, afirmando-o ou negando-o. Os artistas escolhidos foram Alair Gomes, Fernando Marques Penteado e Nino Cais. Alair e Arthur se aproximam no aspecto libertário, Bispo com sua necessidade de transcender sua

repressora realidade, Alair dando vazão a algumas histórias, meios e, talvez, até alguns desejos. As obras de Marques Penteado se aproximam esteticamente das obras de Arthur Bispo do Rosário, uma vez que ambas contam com a forte presença da sobreposição de tecidos e imagens, tecidos e palavras. Além disso, as obras têm uma organização espacial semelhante: a idéia do catálogo, dos objetos organizados. A semelhança estabelecida entre Nino Cais e Bispo do Rosário é que tanto para um, quanto para o outro, a vida é a própria arte, e tudo pode ter um significado diferente se bem explorado.

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TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO Arthur Bispo do Rosário, nasceu em Japaratuba, Sergipe, em 1909, e morreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1989. Considerado gênios por alguns e louco por outros, Bispo do Rosário trabalhava com objetos oriundos do lixo e da sucata. Após a sua descoberta, seus trabalhos foram classificados como arte vanguardista e comparado às obras de Marcel Duchamp. Nota-se a presença de navios, tema recorrente em sua obra, por ter sido marinheiro na juventude, alguns estandartes, faixas e objetos domésticos. Seu trabalho mais conhecido é o Manto da Apresentação,

que ele deveria usar no dia do Juízo Final.

partir de códigos privados.

Nesse contexto excludente, Esses restos da sociedade Bispo driblava as instituições, de consumo, nas mãos de recusava-se a receber seu Bispo do Rosário, foram re- suposto tratamento e retirava utilizados como registro do subsídios para elaborar sua cotidiano dos indivíduos, ar- obra. Sendo marginalizado ranjados com preocupações e isolado do mundo, ainda é estéticas, onde se percebem consagrado como referência características conceituais da arte contemporânea bradas vanguardas artísticas e sileira. das produções elaboradas a partir da década de 1960. Para o artista, a palavra pulsava. Recorrendo a uma linguagem, manipulava signos e jogava com a construção de discursos, tornando sua comunicação em pedaços, a

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TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO ALAIR GOMES Alair Gomes nasceu em Valença, Rio de Janeiro, em 1921 e morreu na cidade do Rio de Janeiro em 1992. O artista tinha um quê único, ao retratar o corpo masculino. Da janela de seu apartamento, montava longas composições em sequência, num caráter voyeurístico, como espectador daquela dança, analisando cada movimento e montando uma espécie de stop-motion.

simplicidade e pluralidade de significados.

A seu modo, vemos uma semelhança com Bispo do Rosário. De dentro pra fora, escondido do mundo, contemplando a paisagem e fazendo arte com o que sua janela lhe proporcionava, organizando suas sequências do mesmo modo com que Bispo cadenciava seus apetrechos. A arte dos dois serviu para fugir da triste realidade em que se vive, são devaneios poético-expressivos, ao mesmo tempo de uma

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TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO F. MARQUESPENTEADO Fernando Marques Penteado, conhecido como f.marquespenteado, nasceu na cidade de São Paulo em 1955. O artista trabalha intensamente com a mistura de materiais (tecidos, telas) e com os bordados, criando uma poética bastante pessoal. Por meio de suas obras, o artista tece linguagens e histórias, e reflete sobre a perda de conexão das pessoas com o que mais lhes caracterizam e definem como um ser humano: sua história e sexualidade. Além disso, Marques Penteado critica o papel da masculinidade na sociedade dos dias de hoje. Marques Penteado e Bispo do Rosário são dois artistas, que, cada um na sua época e à sua maneira, criaram obras de arte que hoje estabelecem um diálogo entre si. O encontro de duas mentes brilhantes é a prova de que a arte não tem um tempo certo.

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TRIGÉSIMA BIENAL DE SAO PAULO NINO CAIS Nino Cais nasceu em São Paulo, em 1969. O que o artista possui de mais belo é seu olhar diferenciado, atento, curioso e, às vezes, irônico. Ele é capaz de encontrar arte deslocando coisas do cotidiano como plantas, móveis, objetos e dando um novo valor a elas, transformando-as em coisas novas com diferentes funções e significados. Ele constantemente funde seu próprio corpo a esses objetos, criando diversas combinações poéticas. É possível observar algumas semelhanças entre Nino Cais e Bispo do Rosário. Ambos partem de objetos que já existem, que conhecemos e utilizamos em nossos cotidianos, e os deslocam, dando assim um novo significado.

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Aléssio Perez Bárbara Sarquis Rafaella Blasotti Vítor Guimarães CSO2C Este catálogo foi produzido por ocasião da 30ª Bienal de São Paulo, 7 de setembro a 9 de dezembro 2012 - Pavilhão da Bienal Parque do Ibirapuera



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