Brasil protagonista: os desafios dos pr贸ximos passos
1
“Talvez eu esteja complemente errado. Talvez todos estes anos no Brasil tenham distorcido minha visão a ponto de agora eu ver as coisas com o otimismo típico dos brasileiros e ser insuficientemente cético. Talvez a velha piada que diz ‘o Brasil é o país do futuro, e sempre será’ esteja correta. Mas as políticas macroeconômicas que o Brasil adotou desde que pôs em prática o Plano Real, em 1994, primeiro com Fernando Henrique Cardoso e agora, com apenas variações menores, com Lula, combinadas com a base científica e tecnológica que tem construído gradativamente, criaram uma oportunidade única nos quinhentos anos de história do Brasil. Só podemos torcer para que a sociedade brasileira consiga aproveitar esta conjuntura tão favorável. Um Brasil próspero e confiante só pode ser um fator positivo em um mundo dividido pelo ódio, pela pobreza e pela desigualdade”. Larry Rother, jornalista americano, em seu livro “Deu no New York Times”. Rother morou muitos anos no Brasil e voltou aos EUA, onde atua no The New York Times.
2
3
Que país é este?
O
Brasil começou 2011 com uma mulher na presidência da República pela primeira vez em sua história e na condição de oitava maior economia do mundo. Além disso, o País usufrui a confortável condição de gestor de grandes reservas de petróleo, possui um dos maiores volumes de reservas cambiais do planeta (mais de R$ 300 bilhões em janeiro de 2011) e, ao mesmo tempo em que atrai investimentos internacionais, ostenta um nível respeitável de avanços na área social. O Brasil exercita agora um papel de liderança incontestável na América Latina e um protagonismo inédito no cenário global, o que lhe abre perspectivas ainda mais estimulantes, mas também lhe impõe novas responsabilidades – cuja parte mais visível talvez seja o comando das forças de paz da ONU no Haiti. Trata-se, em resumo, de um momento que exige da sociedade como um todo (governo, classe política, agentes econômicos e sociais) atitudes compatíveis com os desafios a serem enfrentados nos próximos anos, e que não são poucos. Eles vão da manutenção do crescimento e da inserção social à exploração da camada do pré-sal, passando pela organização da Copa do Mundo de futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Incluem também os inadiáveis avanços nos campos da educação, saúde e segurança, bem como a tão esperada guinada na qualidade da infraestrutura do País, cujas conhecidas limitações hoje penalizam a
eficiência do setor produtivo e a competitividade dos produtos made in Brazil. Nesse contexto, a inovação, seja na gestão pública ou na gestão privada, será um combustível fundamental para garantir os novos patamares pretendidos. Alguns números ajudam a refletir sobre essa questão. O Brasil, embora represente 3,5% do PIB mundial, responde por apenas 0,2% das patentes, resultado que ilustra o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento no País. Somente 14% dos jovens entre 18 a 24 anos fazem curso superior no Brasil, sendo que apenas 30 mil engenheiros se formam por ano, número muito baixo para as necessidades de uma economia em expansão (a Coréia do Sul forma 80 mil engenheiros anualmente, com uma população quatro vezes menor que a do Brasil e um Produto Interno Bruto inferior). A qualidade de nossa educação básica também é sofrível: o Brasil ocupa a 127ª. posição em um ranking de 139 países elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. Já no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), fica em 53º. lugar numa lista de 65 nações emergentes, espelhando o baixo nível de desempenho e aprendizado nas salas de aula. Todos esses números negativos significam menos mão de obra qualificada do que seria desejado e um País menos engajado em processos de inovação tecnológica, sinônimo de menor nível de competitividade frente a outras economias emergentes. No setor privado, são muitos os casos em que a ino4
vação tem se manifestado de forma crescente e bemsucedida ao longo dos últimos anos. Várias empresas e executivos brasileiros têm mostrado capacidade de gestões criativas e eficientes, que levam à geração de soluções, produtos e serviços capazes de motivar consumidores e clientes dentro de nossas fronteiras e também em mercados internacionais. A gestão pública, aqui entendida como papel tanto do Executivo como do Legislativo, evidentemente opera mecanismos e processos muito diferentes do setor privado. Nem por isso pode se furtar à adoção de abordagens inovadoras e práticas, sem as quais discursos entusiasmados jamais sairão do papel nem darão qualquer contribuição ao futuro do País. Portanto, é mais do que hora de debater o papel dos agentes políticos diante do atual cenário da vida nacional. Esses agentes políticos possuem credenciais institucionais para atuar decisivamente no sentido de abrir espaço para a criação de regras e cenários capazes de diminuir a distância entre o orgulhoso Brasil oitava economia do planeta e o envergonhado Brasil que é 58º. colocado no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial (numa lista de 139 países) e 73º. colocado no Índice de Desenvolvimento Humano (numa lista de 169 países), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), da ONU. Para se ter uma idéia da posição relativa do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), basta mencionar que além dos países mais desenvolvidos estão à frente do Brasil, entre outros, o Chile (45º. colocado), Argentina (46º.), Uruguai (52º.), México (56º.), Bulgária (58º.), Peru (63º.), Rússia
(65º.), Casaquistão (66º.) e Azerbaijão (67º.) Ao editar esta publicação, Imagem Corporativa não poderia ter a pretensão de oferecer respostas prontas para os desafios identificados acima. O que se quis foi apenas contribuir para um melhor entendimento da realidade nacional por meio de pesquisas e depoimentos de especialistas, bem como refletir sobre caminhos capazes de conduzir a uma melhor prática política em nosso País. Em seu primeiro capítulo, a publicação faz uma abordagem do atual sistema político brasileiro. Indica suas deficiências, destaca tendências e aponta desafios para os poderes Executivo e Legislativo, bem como para os partidos. Tais reflexões podem ser úteis, em alguma medida, para diferentes elos da esfera política, seja ela nacional, estadual ou municipal, e se mostram cada vez mais necessárias, como deixou claro antes mesmo de sua posse o próprio ministro das Relações Institucionais do governo Dilma Rousseff, Luiz Sérgio Nóbrega: “o modelo político brasileiro está podre.” O protagonismo político e econômico do Brasil na arena global e as oportunidades que se abrem com a realização de grandes eventos esportivos no País são o tema do segundo capítulo desta publicação. Foram levantadas, junto a especialistas, as principais perspectivas e opções para tirar o melhor proveito do fato de o País sediar tanto a Copa do Mundo de futebol, em 2014, como os Jogos Olímpicos, em 2016. O capítulo conta com pesquisa exclusiva conduzida por Imagem Corporativa em parceria com a agência Widmeyer Communications, de Washington, sobre as percepções da população americana em relação ao 5
Brasil e as empresas brasileiras. Além disso, traz a edição consolidada de 2010 do Boletim Brasil, estudo trimestral feito por Imagem Corporativa a partir da análise diária das matérias veiculadas sobre o País em 15 dos principais veículos de comunicação internacionais. Os dois capítulos seguintes são reservados à comunicação em seu aspecto mais amplo e estratégico, como processo estruturado capaz de construir imagem e reputação. Primeiro, aborda-se a importância da comunicação como vínculo entre a classe política e o eleitor, bem como a evolução nos modelos existentes. Depois, um capítulo especial trata dos novos parâmetros criados pela internet no âmbito político, que ampliaram o potencial de debate e repercussão de temas de interesse do cidadão brasileiro graças, por exemplo, ao uso das redes sociais. Essa variável digital vem revolucionando a comunicação política e criando novos paradigmas no contato de governos e políticos com a opinião pública. Não coincidentemente, estão no Twitter (mecanismo com 175 milhões de adeptos no mundo todo, em janeiro de 2011) e se seguem mutuamente o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos; o presidente russo Dmitri Medvedev e o primeiroministro britânico David Cameron. Hoje, mais de 60 líderes mundiais têm contas no Twitter, inclusive Dilma Rousseff: ela tinha 378 mil seguidores no dia de sua posse, um número relevante, porém bem abaixo dos 1,1 milhão de seguidores do presidente venezuelano Hugo Chávez ou do recordista, entre os políticos, Barack Obama, que possuía 6,1 milhões de seguidores em janeiro de 2011. As informações que trafegam de forma digital
passaram, na prática, a influenciar a atividade política em nível global. O vazamento de milhares de informações secretas da diplomacia americana via site WikiLeaks, no final de 2010, é a melhor prova disso. Trouxe desconforto a diferentes governos e mobilizou boa parte da opinião pública internacional. Ao analisar a bem-sucedida pressão popular pela derrubada do governo do presidente Ben Ali, da Tunísia (depois de 23 anos no poder), na primeira quinzena de janeiro de 2011, o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo, foi categórico: “Aliás, dá até para dizer que a revolta na Tunísia é o primeiro grande produto dos vazamentos da WikiLeaks via mídia convencional: telegramas do Departamento de Estado americano apontavam para um impressionante grau de corrupção da família do presidente, em especial sua mulher”. Twitter e Facebook deram voz à população e se tornaram espaços de debate e mobilização. As redes sociais tiveram papel fundamental não só nas manifestações ocorridas na Tunísia, mas também na série de protestos ocorridos no mundo árabe no início de 2011, em países como Egito, Argélia, Jordânia e Iêmen. Em seu discurso de posse, a presidente do Brasil disse que “é preciso sempre querer mais, descobrir mais, inovar nos caminhos e buscar novas soluções.” Trata-se de uma tarefa não de uma presidente apenas, mas de toda uma classe política. Trata-se de um desafio não apenas dos ocupantes do Executivo e do Legislativo, mas de uma sociedade que se pretende cada vez mais moderna e articulada. Ciro Dias Reis, presidente de Imagem Corporativa 6
Índice 1. Desafios O sistema político brasileiro Novo Brasil x Velho sistema Desafios do Legislativo Desafios do Executivo Desafios dos partidos
10 11 13 16 17
2. Protagonismo internacional brasileiro Como tirar proveito? Pesquisa Imagem Corporativa/Widmeyer Communications Eventos internacionais Boletim Brasil: a visão do País na ótica da imprensa estrangeira
22 25 28 30
3. Comunicação: o elo entre o político e o eleitor Cenário atual Tendências
38 39
4. Ciberpolítica, internet e redes sociais A nova fronteira O que está por vir
44 47
Sobre Imagem Corporativa
7
50
8
Desafios
9
O sistema político brasileiro
Estrutura do sistema:
O sistema político brasileiro é composto por quatro leis principais: • Código Eleitoral Brasileiro (Lei 4.737, de 1965) • Lei de Inelegibilidade (Lei Complementar 64, de 1990) • Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95) • Lei Eleitoral (Lei 9.504/97)
Em 15 de novembro de 1989 setenta milhões de brasileiros foram às urnas para escolher o seu presidente. Desde 1960, aquela foi a primeira vez em que o voto direto para o mais alto cargo da República voltou a ser usado, depois de vetado por tantos anos pelos governos militares. Foi uma conquista que uniu líderes políticos de diferentes ideologias, intelectuais, artistas e vários segmentos da sociedade brasileira em torno de uma causa cívica. O resultado foi a consolidação da democracia no Brasil e do pluripartidarismo a ela inerente. Mais de 20 anos depois, o brasileiro foi às urnas em outubro de 2010 já acostumado ao processo democrático e sem o mesmo grau de mobilizada Folha de São Paulo ção. O segundo turno das eleições teve índice Capa em 26 de janeiro de 1984 recorde de abstenções desde o período da redemocratização: 21,5%. Um em cada cinco brasileiros não compareceu às urnas, o que significa mais de 29,1 milhões de pessoas. É como se todos os eleitores do Distrito Federal, do Rio de Janeiro e Minas Gerais não tivessem votado. Com exceção da militância partidária, o eleitor no Brasil se caracteriza, em sua maioria, por ser pouco participativo e alheio a movimentos e organizações políticas. A falta de uma motivação mais aguda tem causas e efeitos, segundo o doutor em ciência política Carlos Melo, professor de Sociologia e Política do Insper: “Política é, antes de tudo, uma questão de educação política, de educação para a política. Em primeiro lugar, no Brasil o cidadão não é estimulado a formar consciência cívica. Em segundo lugar, existe a má qualidade da representação, que deixa o eleitor descrente, cansado. Além disso, é preciso considerar o modelo ultrapassado do nosso sistema político, que prevê, por exemplo, o voto obrigatório. O efeito disso é o número de abstenções, que cresce mais a cada pleito; a eleição de figuras como o palhaço Tiririca; e a amnésia do eleitorado, que vai às urnas por obrigação e pouco tempo depois já nem se lembra mais em quem votou”, observa. 10
Novo Brasil x velho sistema Resultado de uma série de medidas implementadas por diferentes governos, desde os anos 1990, o bom desempenho econômico brasileiro nos últimos anos elevou o País à condição de protagonista no cenário internacional. O Brasil cresceu, mas o sistema político não evoluiu. “Assistimos a um processo de consolidação da estabilidade econômica do País, de ampla modernização e desenvolvimento, de crescimento da classe C e ampliação do poder de compra do consumidor, mas nosso sistema político não acompanhou esse processo de mudança, continuou estagnado”, avalia Carlos Melo. Tal protagonismo nacional, para o cientista político do Insper, não se consolidará a longo prazo se não for sustentado por investimentos públicos e privados em diversos setores, que só ocorrerão na medida certa se houver reformas. Nesse contexto, a reforma política, tema discutido no Congresso desde 1991, mas nunca efetivamente exercitado, é uma das mais urgentes. Estudo da Câmara dos Deputados mostra que em 18 anos de debate (1991-2009), 283 projetos foram apresentados com o objetivo de mudar o sistema eleitoral, nenhum deles com resultado efetivo até agora. Octaciano Nogueira, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), vê esse cenário com ceticismo e pragmático bom humor: “nenhum macaPosse da presidente Dilma Rousseff em janeiro de 2011 (Elza Fiuza – Agência Brasil)
“A neutralização do Congresso não se faz apenas pela troca de favores, o decantado fisiologismo. Ela se faz também pelas medidas provisórias. É quase impossível rejeitá-las; chegam ao Congresso e são acrescidas de inúmeros penduricalhos pelos próprios deputados. De um modo geral, são propostas escusas, conhecidas na gíria parlamentar como jabutis, nome que é uma alusão à frase “jabuti não sobe em árvore, se está lá, alguém o colocou”. É tão árdua a tarefa de derrubar jabutis que a simples aprovação do texto do governo acaba sendo sentida como uma vitória.”
Fernando Gabeira, ex-deputado federal, em artigo ao jornal O Estado de São Paulo
11
É bom saber...
Os projetos de iniciativa popular devem ser assinados por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional e estas assinaturas precisam vir de pelo menos cinco Estados e três décimos dos eleitores em cada um deles. Na história do Brasil, são raros os exemplos de leis de iniciativa popular aprovadas no Congresso: • lei 9.840/99, que proíbe a compra de voto dos eleitores; • lei 8.930/94, que modificou a lei de Crimes Hediondos ao ampliar a lista de crimes inafiançáveis e que não permitem anistia; • lei complementar 135/2010, conhecida como a lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de pessoas condenadas por órgãos colegiados da Justiça.
Reforma política em debate: Os principais pontos da reforma política, discutidos há anos pelo Congresso, são: • Lista fechada; • Voto distrital misto; • Financiamento público de campanha; • Cláusula de barreira para os partidos; • Fidelidade partidária; • Fim da reeleição; • Federações de partidos com afinidade ideológica programática.
co quebra o galho em que está sentado.” Para ele, a reforma política não será feita por aqueles que por ela serão atingidos. “O atual modelo não é interessante para o País, mas é interessante para os políticos. Não adianta esperar uma verdadeira reforma partindo do Congresso. Assistiremos a pequenas mudanças de legislação, mas nada contundente”, prevê. O corporativismo é, na visão do cientista político Rubens Figueiredo, um dos principais entraves à reforma política. “É difícil mudar um sistema que beneficia aqueles que fazem parte dele. Os deputados e senadores são eleitos pelas regras atuais e qualquer coisa diferente disso representa para eles um risco de tiro no escuro”, analisa. Carlos Melo, Octaciano Nogueira e Rubens Figueiredo acreditam que só haverá uma verdadeira mudança no sistema político brasileiro se houver pressões nesse sentido. “O processo de desenvolvimento do País vai exigir que as reformas aconteçam e, com isso, a pressão virá da própria sociedade civil organizada e atingirá diretamente o Executivo. Todos terão que ser capazes de sentar numa mesa e negociar uma agenda de mudanças, sob risco de estagnação”, afirma Carlos Melo. Para os cientistas políticos, entretanto, um projeto de iniciativa popular isolado, tal como a Lei da Ficha Limpa, não tem força suficiente para provocar a reforma política. “A participação e a pressão populares são essenciais, mas uma iniciativa desta magnitude não brota do chão”, comenta Melo. Rubens Figueiredo compartilha da mesma opinião. Para ele, “a reforma só sai se algum presidente efetivamente se empenhar e tiver vontade política para fazer com que o Congresso vote.” A mobilização de diferentes setores da sociedade contra a corrupção motivou a formação de diversas entidades, tais como a ONG Pró-Cidadania, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político Brasileiro, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e a Articulação Brasileira Contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci). Essas entidades têm sido presença constante nos debates relativos à reforma política e sua atuação foi essencial na aprovação de projetos importantes, como o da Lei da Ficha Limpa, e vieram reforçar um grupo já tradicional de organizações como o Instituto Ethos e a Transparência Brasil, entre outras, cujos ideários espelham a preocupação com uma sociedade mais moderna, ética e justa. 12
Foto: Rodolfo Stuckert – Agência Câmara
Desafios do Legislativo
Pelo mundo:
Em 2010, dos 407 deputados que tentaram a reeleição, 286 lograram êxito ao renovar os seus mandatos. As outras 227 vagas (44,25%) foram preenchidas por novos nomes. No Senado, 37 novos senadores foram eleitos (68,52%), 17 foram reeleitos e 27 têm mandato até 2014 (os senadores têm mandato de oito anos). Os altos índices de renovação de nomes a cada eleição, entretanto, não surtem efeito prático, pois aqueles que se elegem pela primeira vez não se preocupam em alterar métodos e atitudes dos que os antecederam. “O Legislativo brasileiro anda a reboque do Executivo e não conta com agenda própria. Não há protagonismo”, ressalta o cientista político da UnB, Octaciano Nogueira. Levantamento feito pela Câmara dos Deputados comprova a afirmação do estudioso. Das 656 matérias aprovadas na legislatura 2007/2010, 209 são do Executivo. Destas, apenas 58 são projetos de lei e outras 151 são 13
Na Itália, assim como no Brasil, o Parlamento é composto por duas casas, a Camera dei Deputati (Câmera dos Deputados), com 630 membros, e o Senato dela Repubblica (Senado da República), com 315 senadores. A diferença é que, no Parlamento italiano, o mandato é de no máximo cinco anos e as duas casas podem ser dissolvidas pelo presidente a qualquer momento antes do término desse período. Neste caso, são convocadas eleições antecipadas.
“A liberdade política é a condição prévia do desenvolvimento econômico e da mudança social.” John F. Kennedy
Pelo mundo:
De acordo com dados da União Parlamentar Internacional (UPI), Ruanda, na África, figura em primeiro no ranking mundial de participação de mulheres no parlamento, com 56,3%. Em seguida vem a Suécia, com 45%, e a África do Sul, com 44,5% do total de cadeiras.
medidas provisórias (atos do presidente com força de lei, que entram em vigor sem a participação do Poder Legislativo e só depois são enviados à aprovação dos parlamentares). Para os cientistas políticos entrevistados, vai se destacar no Congresso Nacional nesta legislatura o parlamentar que estiver sintonizado com o novo momento vivido pelo Brasil, em que o debate dos grandes temas precisa ser feito com qualidade. “O protagonismo econômico brasileiro e sua atuação no cenário internacional, o Pré-Sal, os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo, as carências infraestruturais do País, a necessidade de reformas; estes são temas urgentes que vão exigir uma atuação política contundente. Será que o nosso Congresso Nacional está preparado para isso?”, questiona o doutor em ciência política, Carlos Melo. Para ele, o novo Brasil vai exigir um novo parlamentar, com convicção e atitude suficientes para dar um salto de qualidade na política. “Nas últimas legislaturas assistimos um Congresso de maioria governista, que negocia com o Executivo cada votação de tema importante, de acordo com seus próprios interesses. Essa política de troca vai ter que acabar”, acredita. A reforma política, para os especialistas, contribuiria de forma significativa para garantir mais representatividade e qualidade à atuação parlamentar. “Por causa do nosso sistema político, os partidos recrutam os candidatos com base em critérios duvidosos, o que resulta em queda de qualidade a cada legislatura. Além disso, boa parte dos deputados está no poder por causa do voto de legenda, e não pelo voto popular”, observa Carlos Melo. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que só 6,8% (35) dos 513 deputados federais eleitos em 2010 não precisaram dos votos da legenda para se eleger, ou seja, obtiveram votação nominal maior que o quociente eleitoral. Os outros 478 deputados precisaram de ajuda para ganhar o mandato, em geral, garantida pelos chamados “puxadores de votos”. Um exemplo é Anthony Garotinho (PR), que obteve 694.862 votos. O quociente eleitoral no Estado foi de 173.884 votos. Sobraram 520.978 votos, que garantiram outras duas cadeiras ao PR carioca na Câmara dos Deputados. 14
Foto: José Cruz – Agência Brasil
15
Desafios do Executivo
“Creio que apressar a marcha do Brasil, ativar o seu desenvolvimento, é imperativo da defesa de nossa própria sobrevivência.” Juscelino Kubitschek
Promover a estabilidade econômica, garantir o investimento correto e necessário para impulsionar o desenvolvimento, encontrar o equilíbrio entre o político e o técnico. Estes são os passos básicos, garantem especialistas, para um governo bem sucedido e alinhado com as novas tendências. “Cada região vive uma realidade diferente, com diferentes necessidades. Mas há um bê-á-bá que é adequado a qualquer chefe do Executivo que queira se destacar por práticas modernas. Estabilidade gera investimento, investimento gera desenvolvimento, que gera melhora da qualidade de vida das pessoas”, ressalta o cientista político do Insper, Carlos Melo. Segundo ele, a Lei Complementar 101/2000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal, contribuiu muito para ampliar a eficiência e mudar a cultura da administração pública e da gestão financeira. Esta também é a opinião do professor da UnB, Octaciano Nogueira. “Avançamos no controle do gasto público com a LRF. Após mais de 10 anos de sua vigência, já é possível dizer que, apesar de algumas distorções, ela é efetiva e contribui para a estabilidade financeira”, diz. A legislação se tornou importante nesse contexto, mas é igualmente relevante o efetivo reconhecimento por lideranças políticas da necessidade de se adotarem melhores práticas na gestão pública. “Um estado eficiente pode não ser inclusivo, mas para ter uma gestão mais inclusiva você precisa transformar o gasto ruim do custeio em gasto bom”, define o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, reeleito em outubro de 2010 com a maior porcentagem de eleitorado estadual em todo o País. O equilíbrio entre o político e o técnico na composição do governo, observam os analistas, é também uma questão essencial. Como a indicação dos ocupantes de cargos de primeiro e até de segundo escalão é dividida, em geral, entre os partidos que integram a base de apoio governamental, as escolhas frequentemente recaem sobre nomes sem qualquer tipo de formação específica para as funções. “O ideal seria que a indicação política fosse qualificada, ou seja, que a pessoa indicada tivesse um mínimo de qualificação para a ocupação do cargo em questão. Mas não é isso que assistimos cotidianamente”, ressalta Octaciano Nogueira. 16
Para o cientista político, enquanto durar a lógica “disfuncional” da partilha de cargos, o ideal é buscar o equilíbrio, para garantir a eficiência da administração. “Se é interessante que o primeiro escalão seja político, então que se tenha um segundo escalão extremamente técnico, capaz de orientar as ações das lideranças”, recomenda. Em relação ao Executivo federal, é consenso entre os analistas que os dois grandes desafios dos quatro anos do governo da presidente eleita Dilma Rousseff serão a redução do gasto público e a promoção dos investimentos necessários para sustentar o desenvolvimento. “O País precisa de infraestrutura que sustente o seu crescimento e, para isso, é preciso investir. O grande desafio do Governo será garantir estes recursos, sejam eles públicos ou privados”, pontua Carlos Melo.
Desafios dos partidos Com 27 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e 30 outros em processo de legalização ou atuando sem registro, o Brasil figura entre os países com o maior número de partidos políticos do mundo. Nesse verdadeiro mar de siglas poucos conseguem se destacar, e a maioria acaba convivendo com acusações de fisiologismo, falta de legitimidade, irrelevância e negociação de espaço para candidaturas. Para a doutora em ciência política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Izabel Noll, algumas siglas acabam tendo longa vida política mesmo sem alcançar grandes votações, e se consolidam como partidos legítimos, de pequena representatividade. O PCB (Partido Comunista Brasileiro) e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) são dois exemplos de partidos que ainda existem e que, em sua trajetória, tiveram grandes oscilações de representatividade. “Não são partidos nanicos, no sentido que se costuma dar ao termo, mas são exemplos de que o tamanho de uma sigla pode mudar de acordo com as circunstâncias”, diz Noll. Ela aponta também a existência de partidos sem muita representatividade nacional, mas fortes dentro de um determinado estado ou região. E o caso do PSB, que sempre teve grande expressão no Nordeste brasileiro e que no 17
Pelo mundo:
A Coréia do Norte é considerada a nação mais fechada do mundo. Em 1984, Kim Jong-il herdou o poder do pai, Kim II-sung, considerado o “presidente eterno” desde 1948. Seus problemas de saúde, que ficaram evidentes em 2008, quando tinha 66 anos, o levaram a já sinalizar sua sucessão: o beneficiado é seu filho Kim Jongun. O governo militar é centralizador a ponto de classificar os cidadãos que podem cursar uma universidade ou receber quantidades maiores de alimentos, por exemplo. Os norte-coreanos não podem ler jornais, revistas ou livros estrangeiros e jornalistas apenas podem entrar no país com autorização do governo, uma tarefa bastante complicada. As transmissões de TV e a imprensa são totalmente controladas e o acesso à internet é praticamente limitado à elite do governo e estrangeiros. Estima-se que apenas 20 mil norte-coreanos tenham autorização para usar telefones celulares.
último pleito eleitoral conseguiu destaque nacional pela eleição de governadores em seis diferentes estados, 35 deputados federais e 4 senadores. Os resultados alcançados pelo PSB lhe garantirão uma nova configuração política, em que lideranças emergentes passarão a ter mais voz no cenário político nacional. Esta é a opinião do cientista político do Insper, Carlos Melo. “Também o PV, que apesar de não ter ampliado sua representatividade no Congresso, conseguiu um expressivo resultado com a candidata Marina Silva, quebrando uma polarização PT/PSDB que sobrevivia desde 1985”, observa. O estudioso destaca que os partidos precisam estar sintonizados com o novo momento vivido pelo País, que influencia diretamente a vontade do eleitor. Referindo-se à expressiva votação da candidata Marina Silva, ele afirma que “o que assistimos em 2010 foi uma reação de quase 20 milhões de eleitores que estavam cansados da velha política e que resolveram se manifestar pela mudança. Este é o início de uma tendência que deve se fortalecer com o avanço econômico e social brasileiro, e que forçará novas práticas políticas”, afirma.
Mudança rumo ao centro Pelo mundo:
Com 66 milhões de membros e o título de maior partido político do mundo, o Partido Comunista Chinês (PCC) governa a China desde 1949, e frequentemente é alvo de críticas e polêmicas no que se refere ao tratamento de dissidentes. O Congresso Nacional do Povo é formado por 2.987 delegados e cerca de 70% deles são membros do PCC. Essa elite chinesa costuma ser integrada por membros de sólida formação técnica, gerencial ou acadêmica (às vezes até com experiências acumuladas no Exterior).
Maria Izabel Noll acredita que um dos principais entraves para o crescimento dos partidos nanicos no Brasil está na postura ideológica muito radicalizada. “Esses partidos vão contra a estratégia clássica de crescimento político: ir ao centro”, diz ela. “No fundo, todos os partidos nascem nanicos, com exceção dos que já surgem com uma ligação governamental, como o DEM (antes PFL, oriundo do PDS e, antes disso, da famosa Arena dos anos 1970 e início dos anos 1980). O que define o crescimento é a capacidade de sair da posição radical, seja à esquerda ou à direita, e pender para o centro, que é onde a maioria do eleitorado está. Não se trata necessariamente de renegar as raízes, mas de abrir um pouco o leque de idéias dentro da sigla.” David Fleischer, cientista político da UnB, concorda, e vai mais longe. “Partidos como o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e o PCO (Partido da Causa Operária) são pequenos por razões ideológicas. Eles nunca elegem ninguém, mas continuam concorrendo em eleições majoritárias para garantir espaço na propaganda eleitoral. É um modo de vender as suas idéias”, afirma. 18
Partidos de aluguel Para os chamados “partidos de aluguel”, cuja função principal é a negociação de espaço com candidatos ou partidos maiores, a mensagem dos cientistas políticos é severa. David Fleischer defende o uso da cláusula de barreira para que esses partidos sejam neutralizados e deixem de existir. “Se usássemos aqui no País um parâmetro como o da Alemanha (onde um partido não tem representação no parlamento se não alcançar 5% do total de votos), teríamos apenas sete partidos no Brasil”, exemplifica. Ele entende que, no Brasil, é necessário determinar que os partidos tenham pelo menos um por cento dos votos. Sem essa votação mínima, não poderiam voltar a concorrer. Na opinião do cientista político da UnB, Octaciano Nogueira, o partido que pretende crescer precisa trabalhar para ampliar a sua representatividade. “Sou a favor da cláusula de barreira e acredito que um partido que não se preocupa em eleger ninguém deveria ser eliminado”, sentencia.
19
O que é a cláusula de barreira?
A cláusula de barreira, prevista no artigo 13 da Lei 9.096 (Lei dos Partidos Políticos), foi aprovada em 1995 e seria aplicada pela primeira vez nas eleições de 2006, mas foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A regra determinava que os partidos que não conseguissem alcançar 5% dos votos nacionais perderiam recursos do fundo partidário e também não teriam direito a representação partidária no Congresso.
Protagonismo
20
internacional brasileiro
21
Como tirar proveito?
Ricardo Stuckert – PR
O Brasil, nos últimos anos, consolidou sua liderança na América Latina, saiu mais forte da crise econômica mundial, tornou-se uma referência no âmbito dos países emergentes e passou a participar de importantes discussões internacionais. A expressão “protagonismo internacional brasileiro” reflete o atual momento de expansão do País, e não apenas no campo econômico. A política externa brasileira é hoje um elo importante na arena da diplomacia global.
As transformações do cenário internacional ocorridas ao longo da primeira década do século 21 contribuíram para garantir essa posição de destaque ao País. A transição de uma ordem mundial unipolar, marcada pela hegemonia dos Estados Unidos, para uma ordem multipolar, em que emergem novos países e blocos de países, foi acelerada pela crise econômica mundial, que afetou diretamente os norte-americanos. Nações ou blocos de países come22
çaram a ganhar espaço e exemplos disso são a emergência dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China); o Fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul); o G20 no âmbito da OMC e nas negociações sobre a crise e o BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) nas discussões sobre a questão climática. Nesse cenário, o papel desempenhado pelo Brasil tem sido marcado por uma atitude de liderança. Para José Romero Pereira Júnior, coordenador da pós-graduação em Relações Internacionais e Diplomáticas da América do Sul da Universidade Católica de Brasília, “temos hoje uma postura muito mais ativa do que costumávamos ter”. Isso é resultado “da política externa dos últimos governos, mas também da consolidação da democracia no Brasil, do fortalecimento da economia e do amadurecimento do próprio papel da diplomacia brasileira”, opina. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no último trimestre de 2010, o professor de estudos brasileiros da Universidade de Oxford, Timothy Power, considerado um dos principais especialistas em política brasileira no exterior, afirmou que “nos próximos anos haverá uma despresidencialização da diplomacia brasileira”, mas garantiu: “o protagonismo brasileiro no cenário internacional está consolidado.” Para José Romero Pereira Júnior, o Brasil tende a perder uma certa vantagem no jogo internacional com a saída de Lula do Governo. Mas, ressalta, o resultado das conquistas internacionais é duradouro. “O Brasil tem economia forte e se tornou mais atraente para investimentos internacionais. Além disso, atua com protagonismo na integração regional.” Para o estudioso, o País precisa continuar buscando projeção internacional, diversificação de parcerias econômicas e posição cada vez mais ativa nas discussões mundiais. Esta também é a opinião do diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eiiti Sato. Ele acredita que a atuação internacional de todos os países em desenvolvimento, não apenas do Brasil, só tende a aumentar. “Não se trata apenas de uma opção de política externa de governo, mas de uma tendência. O mundo está cada vez mais integrado e os países têm de participar. Seremos cada vez mais provocados a atuar internacionalmente”, explica. Essa integração de que fala Sato não é apenas política, mas também econômica e social. “Cooperação internacional é um jogo dinâmico que deve ser conduzido cotidianamente”, diz. 23
“O ‘colosso impávido’ se tornou, ao lado de China e Índia, uma nação emergente que reclama participar nas grandes decisões planetárias.” Frase sobre o Brasil no editorial de revista do Le Monde
Fatos marcantes:
Depois de ser confirmado sede da Copa do Mundo 2014, em 2007, o Brasil vence, em outubro de 2009, a disputa para sediar os Jogos Olímpicos 2016.
Foto: Ricardo Stuckert – PR
Nas páginas do jornal diário norteamericano The Wall Street Journal, em março de 2010, o Brasil aparece como um país com peso para virar potência mundial. Em um caderno especial sobre o Brasil, o veículo traz os seguintes dizeres: “de repente, o que o Brasil diz e faz importa ao exterior.”
Foto: Reuters
A mais importante revista de economia do mundo, a britânica The Economist, estampa em sua capa, em novembro de 2009, a manchete “Brasil Takes off”, chamando para uma matéria especial com 14 páginas, tratando das perspectivas econômicas do Brasil. Na capa da revista uma montagem mostra o Cristo Redentor decolando como um foguete espacial em plena baía de Guanabara.
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, além do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciam acordo sobre a destinação do urânio levemente enriquecido produzido no Irã. Independente dos resultados práticos decorrentes da iniciativa, com a viagem do presidente Lula ao Oriente Médio, em maio de 2010, o Brasil se apresenta ao mundo como um possível mediador dos conflitos existentes naquela região. 24
Pesquisa Imagem Corporativa/ Widmeyer Communications Em um contexto de crescente protagonismo do Brasil, como será que os habitantes da maior economia do planeta (que também vive momentos de transformação) enxergam nosso País, suas empresas, produtos e serviços? Para conhecer a resposta, Imagem Corporativa e sua parceira em Washington, a Widmeyer Communications, realizaram uma pesquisa que revelou tendências positivas. Esse trabalho mostrou que 59% dos americanos acreditam que empresas brasileiras oferecem produtos e serviços de “boa” ou “excelente” qualidade e confiabilidade. Homens se mostraram mais positivos do que as mulheres nessa avaliação. A aprovação sobre o made in Brazil sobe na mesma medida da renda do entrevistado: americanos com renda anual acima de US$ 50 mil têm melhor percepção de produtos e serviços brasileiros do que americanos com renda abaixo desse patamar. Pensando no Brasil, em geral, como você qualifica os produtos e serviços brasileiros em termos de qualidade e confiabilidade:
“Os números mostram que há um vasto campo a explorar no mercado americano por empresas brasileiras, seja para reforçar percepções positivas já existentes, seja para conquistar a confiança de americanos que ainda não formaram uma visão predominantemente favorável sobre o 25
Brasil, suas empresas, produtos e serviços”, diz Ciro Dias Reis, presidente de Imagem Corporativa. Os americanos acreditam que no atual contexto em que países emergentes como Brasil, Rússia, China e Índia ganham peso no cenário global, seria estratégico para os Estados Unidos aumentar as relações comerciais com o Brasil. 74% dos entrevistados dizem que esse movimento seria “importante” “ou muito importante”. A pesquisa mostrou que homens, mais do que as mulheres, consideram relevante esse aumento de vínculo entre os dois países. China, Brasil, Índia e Rússia são economias emergentes. Qual é a importância, para os EUA, de incentivar seu relacionamento comercial com o Brasil, considerando estes outros países?
Apenas 5% dos americanos consideram que o Brasil tem sido um player com forte influência política e econômica no cenário global ao longo dos últimos anos. Outros 41% acreditam que o País tem uma influência “moderada” nesse contexto. Entre os 46% que avaliam o peso do Brasil como “forte” ou “moderado”, destaca-se o posicionamento da população de origem hispânica: é ela a mais assertiva acerca da relevância brasileira (57%), à frente dos americanos afro-descendentes (47%) e brancos (43%). A percepção do avanço do protagonismo brasileiro é maior entre homens e mulheres com mais de 50 anos do que na população de 18 a 49 anos. 26
Nas áreas da economia e política globais, nos últimos anos, qual é o papel desempenhado pelo Brasil?
“Os resultados da pesquisa Imagem Corporativa/Widmeyer Communications mostram a interconexão entre os dois países”, diz Scott Widmeyer, Chairman e CEO da Widmeyer Communications. “Os americanos demonstram mais preocupações com as relações comerciais do que parece, e acreditam que aumentar os vínculos com o Brasil nesse campo é aspecto estratégico para os Estados Unidos. E esse é um bom sinal para os dois países.” A pesquisa aponta um avanço da percepção sobre o Brasil nos Estados Unidos, mas revela também um relativo desconhecimento de temas ligados ao País por parcela considerável da população americana. 28% dos entrevistados, por exemplo, disseram não saber responder acerca da qualidade de produtos e serviços brasileiros. 14% não opinaram sobre a importância ou não de os Estados Unidos aumentarem os vínculos comerciais com o País. 29% não souberam se posicionar sobre o papel do Brasil no cenário global do ponto de vista político e econômico. A pesquisa Imagem Corporativa/Widmeyer Communications foi realizada no último bimestre de 2010 com 1.000 pessoas acima de 18 anos de idade, um grupo devidamente estratificado para representar a população americana de acordo com o censo nacional. 27
Eventos internacionais no Brasil Percepções predominamente positivas sobre o Brasil ganharam reforço a partir da escolha do País para sediar os dois mais importantes megaeventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. O mundo volta seus refletores para o Brasil, que corre contra o relógio para poder receber milhares de atletas e turistas com adequação e eficiência, e colher os potenciais benefícios econômicos e políticos de longo prazo resultantes desses dois eventos (o que depende de projetos bem definidos de perpetuação de processos, estruturas e sistemas criados para fazer da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos eventos de sucesso). Fato positivo: o tradicional “jeitinho” brasileiro perde espaço em um País que se moderniza e se qualifica para vôos cada vez mais altos. Afinal, em um cenário global altamente competitivo, seja na economia ou no esporte, improvisos perdem a razão de ser para quem pretende garantir posição de destaque e influência para muito além de suas próprias fronteiras. “A conquista do direito de organizar os primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul veio através de muita dedicação e esforço”, exemplifica Carlos Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ele mesmo um participante do grupo que tentou, sem sucesso, trazer os Jogos Olímpicos para o Brasil na década de 1990. O COB deu outra bela mostra de planejamento durante o processo de escolha do logotipo das Olimpíadas do Rio, um processo cercado por compreensível sigilo e que só tornou público o símbolo dos Jogos de 2016 na virada de 2010 para 2011. “Vivenciamos uma angústia desde setembro para que isso não vazasse. Nós conseguimos. Foi um segredo guardado a sete chaves por 400 pessoas”, diz Nuzman. Aprovada pelo Comitê Organizador dos Jogos no dia 17 de novembro de 2010, a logomarca estava pronta havia mais de dois meses, desde a primeira semana de setembro. Na opinião do professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, José Romero Pereira Júnior, a Copa do Mundo e as Olimpíadas já projetam o Brasil, gerando oportunidades em todos os setores. “No momento em que somos escolhidos para ser palco dos dois eventos, os olhos já se voltam para cá. O Brasil com certeza se tornará, 28
Maracanã em reformas e projeto Maracanã 2014: investimento chegará a R$ 1 bilhão
desde já, um destino mais visitado e muitas oportunidades surgirão. Todos os brasileiros e, em especial, as nossas lideranças políticas, precisam estar atentas a isso.” De acordo com o estudioso, o impacto positivo sobre a imagem do Brasil será proporcional à qualidade do trabalho de preparação para as competições. “Nesse tipo de evento, não é apenas o esforço de marketing que funciona. O que os turistas vão encontrar aqui não é propaganda, é o que existe de fato. Serão necessários pesados investimentos em infraestrutura e desenvolvimento urbano”, afirma. Dessa forma, os representantes eleitos no último pleito têm pela frente o enorme desafio de preparar adequadamente o País para sediar os dois megaeventos previstos para 2014 e 2016. Obras e reformas em estádios de futebol em todas as cidades-sede da Copa precisam ser concluídas a tempo e com qualidade. Infraestrutura e desenvolvimento urbano merecem atenção e muitos recursos. Transporte público e rede hoteleira eficientes, além de segurança, suporte adequado do setor de serviços e capacitação profissional são também itens prioritários. Eiiti Sato lembra o caso recente da África do Sul como país-sede da última Copa do Mundo, de 2010. “A África do Sul ganhou muita visibilidade internacional. Mas não apenas as suas qualidades e belezas naturais. O mundo todo ficou sabendo também de seus problemas e desigualdades. O Brasil está preparado para isso?”, questiona. Na opinião do pesquisador, o País enfrenta não só problemas infraestru29
“Vai custar caro, a Olimpíada e a Copa do Mundo vão forçar a resolver, mas tem um perigo: é a gente achar que está numa guerra só contra o tráfico, o que não é verdade. A polícia não está reformada. A reforma custa caro, demora e não pode ser feita só pelo governo do estado. É preciso um plano nacional de segurança.” Cineasta carioca José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2, falando sobre o desafio que é a questão da segurança pública no Rio, em debate na Globo News
Pelo mundo:
Não faltam exemplos de como grandes eventos, como os Jogos Olímpicos, são capazes de impulsionar uma região. De acordo com estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil, Barcelona saiu da depressão dos anos 80 e mergulhou no boom econômico após sediar os Jogos Olímpicos, em 1992. Os investimentos foram responsáveis por uma substancial transformação na cidade: aumento de 15% nos projetos rodoviários e de 17% no sistema de tratamento de esgoto, em comparação a 1989. Barcelona transformou uma decadente área industrialportuária num badalado centro de entretenimento, gastronomia e turismo. De 1990 a 2000, a cidade catalã saltou de 2 milhões para 3 milhões de visitantes ao ano e ultrapassou Madri como o principal destino turístico espanhol. Nos seis anos anteriores aos Jogos, a taxa de desemprego caiu pela metade, de 18% para 9%.
turais, mas burocracia, taxas de juros e impostos elevados, variáveis que além de reduzir a competitividade dos produtos brasileiros inibem uma aposta ainda maior dos investidores no mercado brasileiro. “Se entendemos que o mundo está se integrando e nossos impostos destoam do que é praticado lá fora, podemos perder espaço. O novo governo precisa cuidar disso. Não dá para adotarmos medidas que isolem a economia brasileira do resto do mundo.” Não há como fugir da percepção de que o tempo é curto, os desafios são enormes e que é grande a responsabilidade dos agentes públicos na busca de soluções permanentes para os desafios do País. Mas uma iniciativa privada mobilizada e motivada a ampliar investimentos, incentivar projetos e ações voltadas tanto ao mercado nacional como na direção de uma internacionalização cada vez mais inevitável, terá papel igualmente importante na formatação de um novo cenário nacional, crescentemente em linha com as tendências globais.
Boletim Brasil: O País na imprensa internacional O Brasil nunca esteve tanto no radar da imprensa internacional como agora. É o que mostra o Boletim Brasil, levantamento feito por Imagem Corporativa em 15 dos mais importantes órgãos de imprensa internacionais. De acordo com o estudo, no ano de 2010, o País obteve 5.044 matérias nos veículos pesquisados, sendo 4.079 positivas e 965 negativas. Os números mostram aumento significativo em relação a 2009, quando foram registradas 3.675 matérias. Os veículos pesquisados são: Asahi Shimbun (Japão), China Daily (China), Clarín (Argentina), El Mercurio (Chile), El País (Espanha), Financial Times (Reino Unido), The New York Times (EUA), The Globe and Mail (Canadá), Le Monde (França), RIA Novosti (Rússia), The Economic Times of India (Índia), The Economist (Reino Unido), The Times of India (Índia), The Wall Street Journal (EUA) e The Washington Post (EUA).
30
Os veículos que mais abordaram o Brasil em 2009/2010 (em números de matérias)
Total de matérias publicadas em 2009/2010
Teor das Matérias: positivas e negativas 2009/2010
Posição do Brasil como ator global foi enfatizada em 2010 Cerca de 35% das matérias publicadas sobre o Brasil pelos veículos pesquisados ajudaram a consolidar a imagem do País como um player internacional, que participa de fóruns globais e de discussões políticas e econômicas relevantes. Assuntos mais abordados em 2010 De acordo com o estudo, 18% dos textos apontaram o Brasil como um local privilegiado para investimentos em 2010. Matérias que falam sobre empresários e empresas brasileiras, abordando sua experiência no Brasil e no exterior, representaram 12% do total. Também ganham destaque temas como comércio exterior, protecionismo de mercados e questões socioambientais. 31
Eleições, o legado de Lula e os desafios de Dilma
The Economist, 07.10.2010
Le Monde, 04.10.2010
El País, 03.10.2010
Clarín, 31.10.10 The Economist, 29.12.2010
Financial Times, 01.11.2010
As eleições brasileiras receberam grande atenção dos veículos pesquisados, que publicaram 205 matérias a respeito no último trimestre de 2010. Das 205 matérias, 163 apresentaram teor positivo e 42, negativo. O dado não surpreende, já que, logo após o anúncio dos resultados, o tema era capa dos principais portais de internet do mundo. No geral, os jornais internacionais repercutiram o mesmo passo a passo das eleições, como os veículos brasileiros, não deixando de tocar nos temas polêmicos. Os veículos creditaram o bom desempenho de Dilma à herança deixada por Lula e apontaram a expectativa de continuidade das políticas adotadas pelo governo anterior. O Financial Times destacou o perfil técnico e a promessa de ajuste fiscal da candidata após ganhar a eleição. Diversas reportagens analisaram os desafios da presidente eleita – para o FT, por exemplo, o Brasil permanece um “enigma diplomático”, por não deixar claro qual será o posicionamento do País nas relações internacionais e relembrando as aproximações com Irã e Venezuela (Rising Brazil must explain what it wants). Já o El Mercurio, do Chile, chamou atenção para a oposição ativa, representada pelo PSDB, os desafios internos no próprio PT e o ritmo da economia, que deverá ser desacelerado, além das realizações da Copa e dos Jogos Olímpicos. Para a Economist, Dilma assume uma economia que está crescendo, mas com ameaças de evolução da inflação e das taxas de juros, com falta de investimentos em infraestrutura – a revista inglesa destacou ainda diversas vulnerabilidades brasileiras que a nova presidente terá de enfrentar. As realizações do governo Lula também foram foco de diversas matérias de balanço, como no El País (Lula se despide), Le Monde (Le Brésil de Lula: une diplomatie imaginative, com foco bastante positivo) e Clarín (Lula da Silva, el líder que convirtió a Brasil en potencia). 32
Guerra cambial: Brasil ainda é vulnerável As ações tomadas pelo Brasil para controlar a entrada de capital estrangeiro, inseridas no contexto da “guerra cambial” global, foram uma constante na maioria dos veículos. A maior parte das matérias mostrou o Brasil tomando medidas preventivas, mas ainda sob o risco de ataque ao Real, apresentado como supervalorizado na maioria das vezes. Para o Financial Times, os países produtores de commodities, como o Brasil, devem continuar a ser prejudicados pela guerra cambial, e o Brasil é uma das economias menos protegidas. O jornal afirma ainda que o País deve sofrer um déficit de moeda em breve. Já a Economist diz que o câmbio é um “problema indigesto”, ao verificar que, de acordo com o seu Índice Big Mac, o real é uma das moedas mais valorizadas do mundo atualmente.
Financial Times, 12.10.2010
The Economist, 14.10.2010
Financial Times, 02.11.2010
Violência no Rio foi destaque no mundo todo Apesar de noticiar a crise de violência no Rio de Janeiro, em novembro, os veículos deram destaque ao controle que a polícia conseguiu obter após o período crítico. Porém, é fácil perceber como esse tipo de notícia atrapalha a imagem do País: o Asahi Shimbun, do Japão, foi um dos veículos que menos citaram o Brasil no levantamento; porém, a situação no Rio foi foco de uma matéria inteira, que dava conta das tentativas da polícia de controlar a situação. O mesmo ocorre com o canadense The Globe and Mail: de apenas 11 reportagens que citaram o País, uma tratava da “tarefa olímpica” do Brasil, que deve conter o tráfico para se preparar para os Jogos de 2016. O jornal que mais noticiou a situação foi o argentino Clarín, com sete matérias em 33
34
diferentes datas, uma delas com entrevista do coordenador do grupo Afroreggae, José Júnior, que se colocou à disposição da polícia como mediador. Já o estadunidense The New York Times publicou seis matérias a respeito. Para o Le Monde, a polícia no Brasil não é preparada para combater o surto de violência, em comparação com polícias de outros países.
Burocracia dificulta negócios no Brasil Os problemas que as empresas brasileiras enfrentam na hora de fazer negócios continuam sendo foco dos veículos pesquisados. A Economist publicou matéria sobre os despachantes brasileiros, que cobram uma taxa para agilizar o processo de liberação de documentos de todos os tipos. O texto também destaca que o Brasil está na 127ª posição no ranking que aponta os países onde se pode fazer negócios com maior facilidade. Encontra-se muito atrás do México, outro protagonista latinoamericano, posicionado em 35º lugar. O Financial Times vai na mesma linha: para o jornal, o Brasil está crescendo muito, mas ainda é um lugar infernal para se fazer negócios, com um sistema tributário ineficiente, muita burocracia e falta de infraestrutura, como no caso dos aeroportos. O veículo prevê que a Copa do Mundo será “difícil” para o País. Também foram registradas matérias sobre a falta de uma boa base educacional para a população.
Financial Times, 09.12.2010 The Economist, 04.11.2010
Financial Times, 18.11.2010
35
Comunicação:
36
o elo entre o polĂtico e o eleitor
37
Cenário atual
“O discurso político precisa se adaptar ao novo ambiente gerado pelos meios de comunicação de massa, bem como a prática política incorpora os recursos que lhe são fornecidos pelas técnicas publicitárias e pelo marketing. Mas é uma apropriação seletiva, que pressupõe uma negociação tácita entre a mídia, que detém os instrumentos de produção da visibilidade social, e o político, que conhece ou intui os limites para além dos quais sua exposição pública se torna contraproducente.”
Cientista político Luis Felipe Miguel, no artigo “Os Meios de Comunicação e a Prática Política”
O prodigioso desenvolvimento dos meios de comunicação ao longo do século 20 e os primeiros anos do século 21 modificaram o ambiente político. O contato entre líderes políticos e eleitores, bem como a relação dos cidadãos com o universo das questões públicas sentiram, e muito, o impacto da evolução tecnológica da mídia. De Franklin Roosevelt e Adolf Hitler (que potencializaram sua capacidade de liderança em grande parte graças ao rádio) a Barack Obama (que virou referência pelo seu desempenho na internet em 2008), a evolução das mídias tem exigido de políticos habilidades de comunicação em sintonia com a crescente complexididade dos processos de interação com as massas. Para o cientista político Sávio Ximenes Hackradt, professor da pós-graduação em Marketing Político da USP, políticos e partidos mantêm fortes vínculos com o eleitor no período eleitoral, mas, após os resultados das urnas, esse vínculo é quebrado. “No Brasil, os partidos focam suas atividades de comunicação com o eleitor/cidadão na propaganda partidária gratuita semestral, com os programas eleitorais e as inserções na programação das emissoras de rádio e televisão. Já os políticos, em sua grande maioria, contam apenas com a repercussão de sua atuação parlamentar por meio da grande mídia. Não há planejamento estratégico de comunicação para manter um relacionamento permanente e diário com o eleitor/cidadão. Os políticos e partidos precisam entender que fora as eleições há toda uma vida cidadã pulsando na sociedade e que é preciso se conectar com esse dia-a-dia”, opina. O diretor corporativo e especialista em Marketing Político da ESPM, Emmanuel Publio Dias, concorda. “Política pode ser definida como a conquista e a manutenção do poder para aplicação de políticas públicas que visam o bem comum”, explica, ressaltando os verbos “conquistar” e “manter”. O especialista relaciona o conceito de política com o de marketing, que seria a conquista e a manutenção do cliente. “Nos dois casos, há uma noção de continuidade do processo.” Continuidade que existe na teoria, mas não na vida real. “Costumo dizer que no Brasil há campanhas políticas e marketing eleitoral. Mas não existe marketing político”, defende. 38
É consenso entre os especialistas que o processo político brasileiro precisa se atualizar e reorganizar, acompanhando as mudanças de perfil do eleitorado. “Não dá mais para se comunicar do tipo ‘eu falo, você me escuta, acredita em mim e faz o que eu digo em praça pública’. A tradicional praça pública está desaparecendo, e poucos saem de casa para ir a comícios”, opina Sávio Ximenes Hackradt. Apesar do desinteresse pela política, motivado pela falta de consciência cívica ou pela decepção com a atuação dos agentes políticos, a sociedade brasileira está ávida por informações e, para conseguí-las, busca diversos caminhos. Neste contexto, as redes sociais vêm ocupando, cada vez mais, posição de destaque. A internet está ajudando a mudar a relação existente entre o cidadão, o político e o partido. “Na última eleição presidencial, o eleitor se posicionou como cidadão e provocou posicionamentos dos candidatos e dos partidos. A instantaneidade da disseminação da informação permitiu que o cidadão comum tivesse uma chance real de participar do debate, trocar informações e, eventualmente, influir”, diz o cientista político da USP. Mas ao mesmo tempo em que amplia o contato do político com o eleitor, a comunicação, em suas diferentes formas, expõe de maneira mais permanente os seus discursos. Não basta, então, apenas comunicar, é preciso saber comunicar. Na visão de Emmanuel Publio Dias, da ESPM, a comunicação deve ser, antes de tudo, permanente. Precisa ainda ser feita por diferentes meios, para atingir diferentes públicos; ter caráter interativo e participativo e levar uma mensagem coerente com a história e a atuação do político, expressando a verdade. Sávio Ximenes Hackradt completa: a comunicação deve ser radicalmente democrática. “Não dá mais para impor opiniões e idéias.”
Tendências
O que esperar para os próximos anos? Como será a comunicação entre o político e o cidadão que o elegeu? “A comunicação passará pelas redes sociais, que serão o ponto de encontro entre os políticos, os partidos e as
39
“Liderar não é apenas legislar. Liderar é persuadir as pessoas e dar a elas a confiança que as una. É determinar o tom e usar um argumento que elas entendam.” Barack Obama, em entrevista à rede americana de TV CBS
40
multidões”, acredita o cientista político Sávio Ximenes Hackradt. Mas se engana quem pensa que dominar as tecnologias digitais é suficiente para manter uma boa comunicação com a sociedade. O próprio Hackradt faz a ressalva: “os governantes e parlamentares não devem usar apenas a internet para se comunicar com os cidadãos, mas também outros meios de comunicação, já que o Brasil ainda precisa avançar muito nas novas tecnologias para permitir acesso rápido e barato à internet banda larga.” O especialista afirma que o importante, num primeiro momento, é definir quais ferramentas são mais adequadas para alcançar o público-alvo. “Em alguns casos será a internet e em outros, o rádio ou a mídia impressa, por exemplo.” Dessa forma, uma boa comunicação exige planejamento estratégico para que o político possa conhecer o seu público e se comunicar com ele de forma eficiente. Para Emmanuel Publio Dias, a qualidade da comunicação política tem muito o que avançar no Brasil. “É preciso que se comece a fazer marketing político de verdade, com um processo permanente de comunicação, profissionalismo, planejamento e estratégia. A comunicação tem muito o que contribuir para a reestruturação do processo político. Mas sozinha ela não fará milagres.”
41
Ética e transparência
A comunicação torna-se importante no cenário atual para a manutenção da popularidade do agente político e de seu elo com o eleitorado. Entretanto, existe um outro argumento que justifica a importânca de uma boa comunicação entre políticos e sociedade: a transparência. O autor André Toretta, no livro Como ganhar seu voto, defende que os políticos devem investir em comunicação por vários motivos. Um deles é que a comunicação é essencial na gestão administrativa, uma vez que a sociedade tem o direito de saber o que tem sido feito com o dinheiro público. “Posso colocar como argumento a famosa frase: ‘o governo tem a obrigação de comunicar o que faz com o dinheiro do contribuinte e o contribuinte tem o direito de saber o que o governante faz com ele’. Mas prefiro passar a um segundo argumento e fazer isso de uma maneira pragmática, realista e honesta – a ética exige isso.” Segundo o autor, a democracia demanda dos políticos a capacidade de interagir produtivamente com o eleitor. Presidente, governador, prefeito, senador, deputado federal, estadual, vereador, todos precisam passar pelo crivo das urnas. “E uma pessoa só vota em outra pelo que ela fez ou pelo que pode fazer. E como as pessoas vão saber o que ela fez ou o que ela pode fazer?” A resposta: pela comunicação.
CiberpolĂtica,
42
, internet e redes sociais
43
A nova fronteira
“A maior conquista das redes sociais tem sido trazer a humanidade para um lugar antes frio e tecnológico”. Charlene Li – Altimeter group
A campanha eleitoral realizada no Brasil em 2010 destacou-se em relação aos pleitos anteriores devido ao uso maciço e organizado das redes sociais pelos candidatos para diferentes finalidades: angariar votos de eleitores indecisos; expor e debater plataformas de governo; delimitar um novo território de disputa frente a um público com acesso a um leque de informações organizado em rede, complexo e descentralizado. Parte dessa mudança pode ser creditada às regras estabelecidas para a utilização da Web pelo Tribunal Superior Eleitoral, que deram novo fôlego à disputa via Internet. A resolução 23.191, que trata da propaganda eleitoral e das condutas na campanha de 2010, excluiu a cláusula de ilegalidade para a utilização de redes sociais na campanha, o que trouxe a Web 2.0 para o páreo. Nesse contexto, vale destacar os números da Pnad 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE em setembro de 2010: 41,7% da população do Brasil acima de dez anos (o equivalente a 67,9 milhões de pessoas) tinha naquele momento acesso à Internet no Brasil. Em 2008, ano do último pleito eleitoral municipal, o porcentual era de apenas 34,8%, o que demonstra um irrefreável aumento no número de eleitores presentes nesse ambiente virtual, dia após dia. Durante a última campanha eleitoral para a presidência da República, por inúmeros dias os trending topics mundiais do Twitter continham assuntos relacionados à disputa eleitoral no Brasil e referências diversas aos quatro principais candidatos a presidente: Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio. O microblog foi palco de discussões acaloradas sobre os debates em emissoras de TV, que foram acompanhados em tempo real e abordados pelos internautas nos dias seguintes às suas realizações. Outro assunto importante relacionado às eleições e debatido intensamente nas redes sociais no ano de 2010 foi a votação do projeto Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário no País. Os nomes dos juízes que votaram a favor ou contra o projeto rapidamente entraram nos trending topics do Twitter, e ali permaneceram 44
expostos ao julgamento dos internautas e da opinião pública. O ciberespaço estabelece uma facilidade muito grande aos cidadãos brasileiros quando se trata de fiscalizar e opinar. Por meio de seus computadores, os eleitores podem tomar parte em abaixo-assinados, debater diretamente com os candidatos sobre plataformas de governo e fazer diferença na trajetória de questões cruciais para o destino do País. Essa relevância pode ser atestada também pela grande imprensa: as redes sociais já são fontes diretas de notícias e de “furos” jornalísticos que passam a ser acompanhados, na sequência, pelos veículos de comunicação tradicionais. Diante dessa nova realidade, os políticos brasileiros têm à sua disposição uma ferramenta poderosa e se vêem diante de um grande desafio: desbravar as fronteiras do ciberespaço com o intuito de aproximar-se desse eleitorado cada vez mais atuante e participativo. É o que ressalta o especialista em políticas públicas e direito eleitoral, Emerson Masullo, professor da Universidade Católica de Brasília. “A tendência é de que a política utilize cada vez mais a internet como principal meio de contato com o eleitorado, principalmente em períodos de campanha. Daqui a quatro anos, o quantitativo de usuários com acesso à internet aumentará. Somente um político mal informado e desatualizado com as novas tendências fecharia os olhos a isso”, afirma. Para o especialista, a internet se tornará, em curto espaço de tempo, o principal meio de divulgação de informações, pois tudo que é lançado na rede repercute exponencialmente. “As mídias televisivas funcionam em progressão aritmética, enquanto que na internet a progressão é geométrica. Com a quarta geração da telefonia móvel e o acesso ampliado da população à internet, a sociedade tende a utilizar cada vez mais esse meio”, afirma. Ele observa, ainda, que as redes sociais são um rico espaço para a pesquisa de opinião e devem ser cada vez mais exploradas para este fim. Os números são eloquentes para justificar um olhar cada vez mais atento e estratégico para as redes sociais. Ao mesmo tempo em que o Twitter chegava aos milhões de adeptos em todo o mundo no início de 2011, o Facebook superava os 550 milhões de frequentadores e o YouTube registrava um bilhão de vídeos assistidos por dia. 45
A distância entre o público e o privado ao alcance de uma postagem Segundo a pesquisadora e professora de Jornalismo Online e Redes Sociais da graduação e pós-gradução da PUC, Pollyana Ferrari, a sistematização do uso das redes sociais entre os candidatos à presidência na campanha de 2010 foi em grande medida um reflexo do “caso Obama”, cujo sucesso demonstrou aos profissionais que trabalham com marketing político o alcance e penetração das redes sociais em boa parte do eleitorado. A coordenação da campanha na Web dos principais partidos foi orques-
Obama: “Yes, we can” A popularização e o crescimento do Twitter durante a campanha de Barack Obama na campanha presidencial americana de 2008, aliados à utilização orquestrada de outras redes sociais como o Facebook e o MySpace (que possui menor popularidade no Brasil), propiciaram a rápida interação entre eleitores e o bureau de campanha do candidato democrata, ele próprio um confesso entusiasta das novas tecnologias da informação. A campanha de Barack Obama acumulou uma base de dados por e-mail de aproximadamente dez milhões de pessoas. Seus apoiadores foram encorajados a adicionar comentários nas redes sociais, repassar conteúdo a amigos e envolver-se integralmente para o sucesso da corrida eleitoral. Além disso, mobilizadas pelas redes sociais, três milhões de pessoas doaram dinheiro para o financiamento da campanha, financiamento da campanha. Por outro lado, a inabilidade do staff do candidato republicano John McCain em relação à internet e à utilização estratégica de redes sociais durante a campanha foi apontada por especialistas como fator determinante para sua derrota frente a Obama. Mas as eleições legislativas de novembro de 2010 nos EUA demonstraram que, mesmo quem conhece a im-
portância de uma comunicação efetiva e competente e já está integrado às novas tendências não pode se descuidar. Em entrevista à rede de TV CBS logo após conhecer a vitória dos republicanos, o presidente americano democrata atribuiu a derrota de seu partido nas eleições ao Congresso às suas falhas de comunicação, e não às suas políticas econômicas. Na avaliação de Obama, ele deixou “de prestar atenção” ao estilo de liderança que tinha adotado durante a campanha presidencial dois anos antes. “Não tivemos sucesso sempre” na comunicação com os americanos, disse na entrevista. “Assumo pessoalmente a responsabilidade por isso. É algo que preciso avaliar com mais detalhe para poder avançar.” Em um mundo dinâmico, o sucesso de ontem não garante o sucesso de amanhã.
46
trada por especialistas em novas tecnologias da informação, que comandaram “tuitaços” e ações-relâmpago, bem como acompanhamento e edição meticulosa do conteúdo veiculado em cada plataforma. “Os próximos governos já estão inseridos na plataforma 2.0 da Web: é algo sem volta. Eventuais escândalos, projetos de leis, atitudes e posturas de políticos importantes vão repercutir e serão potencializados nas redes sociais. A presença constante de temas do âmbito político entre os trending topics nas eleições de 2010 demonstra que esse tipo de ativismo veio para ficar, algo que os institutos de pesquisa ainda não perceberam”, diz Pollyana. Exemplo claro desse avanço do protagonismo do cidadão comum no debate de temas de interesse público foi a repercussão nas mídias sociais, em novembro de 2010, da ação policial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O potencial de informação e impacto de uma realidade digital sem fronteiras que hoje vivemos pode ser percebido também, em escala global, a partir de uma nova safra de revelações de informações secretas da diplomacia americana no site WikiLeaks, cujo conteúdo constrangeu governos e autoridades mundo afora.
O que está por vir Esse processo de comunicação que não depende de um veículo tradicional leva ao que John Blosson, consultor de tecnologia e fundador do site Content Nation, define como a “nação conteúdo”: a idéia de que todos somos produtores e editores de conteúdo quando participamos de redes sociais. O ambiente de redes sociais é multidirecional e possui alta interatividade. Dessa forma, existe uma autorregulação entre os próprios “editores” da Web, que se organizam para compartilhar informações e corrigir eventuais erros cometidos pelos demais. Esse é um dado imprescindível para entender a dinâmica nesses espaços: a informação passa pelo crivo de milhares de “editores” e não apenas um punhado deles, como nas publicações impressas e emissoras de rádio e TV tradicionais. A Wikipédia é um dos elos mais visíveis dessa realidade: ela disponibiliza milhões de informações em mais de 250 línguas graças a um trabalho voluntário de dezenas de milha47
Irã às claras
Em 2009, as eleições presidenciais do Irã expuseram ao mundo, em tempo real, a instabilidade social daquele país durante o período eleitoral por meio das redes sociais, utilizadas por cidadãos descontentes como alternativa à censura imposta pelo governo iraniano aos meios de comunicação tradicionais. Neste período, a hashtag #iranelection registrou mais de 220.000 tweets por hora, de acordo com dados do Wikipédia. Segundo o site What the Trend, que monitora os temas mais comentados no Twitter, as eleições presidenciais no Irã, a morte de Michael Jackson e a versão de testes do Google Wave ficaram no topo da classificação entre os assuntos mais comentados do ano de 2009. Essa mudança radical de paradigma demarcou a força e penetração das redes sociais naquele país, incluindo a ampla utilização da mensagem de texto via celular, o SMS. Em outras palavras, o que se viu foram as novas tecnologias abrindo espaço para protestos e engajamentos cuja intensidade não se via desde a Revolução Iraniana de 1979.
Revolução no mundo árabe
“Esta é uma revolução pelo Twitter e pelo Facebook e há muito que a tecnologia derrubou as normas caducas da censura”. Esta foi a definição usada pelo correspondente no Oriente Médio do jornal britânico The Independent, Robert Fisk, para definir as manifestações populares ocorridas no mundo árabe em 2011. As redes sociais, utilizadas pela população como espaço de expressão e mobilização, tiveram papel fundamental nas revoltas que causaram a queda do presidente da Tunísia, Ben Ali (que estava há 23 anos no poder); a saída do presidente do Egito, Hosni Mubarak (que estava no governo há três décadas) e que tiveram reflexos também em países vizinhos, como Argélia, Jordânia e Iêmen. Os manifestantes se queixavam da pobreza, do desemprego, da corrupção e da repressão. A força das redes sociais foi tamanha que, em diversos países, houve tentativa de bloqueio do Twitter e do Facebook para evitar a troca de informações e opiniões. Mesmo assim, populares conseguiram burlar o bloqueio para se comunicar por meio de sites auxiliares. Google e Twiiter lançaram um serviço especial, chamado SpeaktoTweet, permitindo que cidadãos árabes ligassem para um número internacional e gravassem uma mensagem de voz, posteriormente publicada na conta @speak2tweet.
res de pessoas em todo o mundo, e serve de fonte de informação para mais de 400 milhões de usuário por mês. A presença da internet e das redes sociais na vida de milhões de brasileiros é cada vez mais intrínseca ao cotidiano. Ela se estende continuamente e abrange agora o âmbito político de maneira indelével. Novos tipos de ativismo político surgirão e os políticos terão que se adequar, mais cedo ou mais tarde, a essa realidade. Ainda que os programas de campanha veiculados na televisão tenham um peso decisivo na hora do voto, a internet é um campo onde se pode verificar tendências com acuidade e realizar pesquisas qualitativas sobre o voto (procedimento mais ágil e muito mais barato do que pesquisas baseadas em sistemas tradicionais). A constante aproximação entre eleitores e candidatos é um ponto nevrálgico na mudança estrutural que estamos vivenciando, e abrirá espaço para estratégias de marketing político inovadoras, em linha com um cenário de irrefreáveis mudanças. Dessa forma, todo o processo eleitoral atravessará mudanças drásticas e, ao mesmo tempo, instigantes. Apenas uma certeza guiará a sociedade nesse momento: a comunicação à qual estávamos acostumados jamais voltará a ser como antes, quando poucos emissores falavam e uma grande maioria ouvia, num mecanismo que impedia efetiva interação. Hoje, a exposição das idéias de um parlamentar, partido político ou autoridade está sujeita ao escrutínio imediato de uma opinião pública que tem ao alcance da mão um mouse ou um smartphone para apoiar, criticar ou simplesmente multiplicar o debate. Perderá muito todo aquele que não decodificar corretamente esse ambiente de mudanças dos processos de comunicação, de criação de imagem e de reputação.
48
49
Sobre Imagem Corporativa Com sede em São Paulo, escritórios em Brasília e no Rio de Janeiro, clientes nacionais e internacionais e equipe com mais de 70 profissionais, Imagem Corporativa é o único parceiro brasileiro da Public Relations Organization International (PROI), mais tradicional rede de agências independentes de comunicação, que opera em mais de 35 países. Isso proporciona a Imagem Corporativa atuação efetivamente global em relação a toda a gama de produtos e serviços que oferece no mercado. Imagem Corporativa se propõe a oferecer soluções integradas para seus clientes. Por essa razão, o escopo de trabalho dos profissionais da agência inclui o monitoramento de variáveis políticas, macroeconômicas, sociais, legais e regulatórias. Serviços: • Consultoria estratégica de comunicação, imagem e reputação • Relações com a imprensa para o setor privado e para o setor público • Comunicação digital • Comunicação em contexto de fusões, aquisições e IPOs • Comunicação interna • Treinamentos e workshops • Programas estruturados de prevenção e gestão de crises • Pesquisas e análises • Criação e edição de publicações e conteúdos em geral • Comunicação em contexto de responsabilidade social corporativa, relações com a comunidade e sustentabilidade
50
Contatos: Imagem Corporativa - São Paulo Rua Dr. Rafael de Barros, 209 - 5º andar - Paraíso CEP: 04003-041 São Paulo - SP Fone: (11) 3526-4500 Imagem Corporativa - Brasília Business Center Park/Complexo Brasil XXI SHS Quadra 6, Bloco E, Sala 1711 CEP: 70316-000 Brasília - DF Fone: (61) 3039-8101 Imagem Corporativa - Rio de Janeiro Rua do Ouvidor, 60, Sala 1001 CEP: 20040-030 Rio de Janeiro - RJ Fone: (21) 2240-8783
51
R. Dr. Rafael de Barros, 209, 5º andar - Paraíso CEP 04003-041 - São Paulo, SP Fone: 11 3526.4500 Fax: 11 3526.4528 www.imagemcorporativa.com.br www.twitter.com/icdigital
52