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A trajetória do tricampeão da Libertadores Publicação Oficial do Santos Futebol Clube | Edição Especial

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SANTOS CENTE NÁRIO


Í N DICE

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Um pequeno grupo de pioneiros foi a semente para levar o nome do clube de Santos para o mundo

contabiliza 87 14 Santos títulos em sua história, além da conquista de outras 130 taças

20 é o grande campeão da 4 Santos Libertadores da América 2011

“Mar branco” cresce pela internet e empurra o Santos nos estádios

adota gestão 22 Diretoria profissional, ousada, e compromisso de longo prazo

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Santos é o time que mais fez gols na história do futebol mundial

28 Repercussão 10

Mais uma geração dos Meninos da Vila encanta torcedores em todo o mundo

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Muricy mostra o peso da liderança e da experiência

30 Eu, santista 34 Hinos 3


CAPA

Santos é o grande campeão da Libertadores da América 2011 A trajetória dramática do time que conjugou o verbo superar

Q

uando o árbitro argentino Sérgio Pezzotta soprou o apito pela última vez, na noite de 22 de junho de 2011, um sonho aguardado por 48 anos tornou-se realidade. O sentimento da conquista do tricampeonato da Libertadores foi tão especial que transformou o Rei Pelé em súdito, correndo pelo gramado, após a vitória do Santos por 2 x 1 sobre o Peñarol, como se fosse um torcedor comum. Enquanto isso, no vestiário do Pacaembu, seu filho Edson Cholby, o ex-goleiro Edinho, assistente técnico do Santos, aguardava a chance de subir ao gramado para participar da comemoração. Quando, finalmente, conseguiu, procurou o pai com os olhos até avistá-lo, do outro lado do campo. Do olhar ao encontro, muitos passos aguardaram o abraço que representava a união entre o “esquadrão” que conquistou duas Libertadores nos anos 60 e o grupo atual, que acabava de alcançar a façanha digna de Rei. Para alcançar esta glória, o Santos mudou de status, técnico e esquema tático durante a competição continental. E ainda teve que lutar contra uma série de contusões provocadas pela maratona de jogos, que intercalou partidas decisivas da Libertadores com o Campeonato Paulista. Tudo superado com a dose de drama que constrói o roteiro de um grande filme.

A trajetória O elenco, que no início do ano era considerado favorito para a conquista da Libertado-

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res, viajou para a Venezuela para enfrentar o Deportivo Táchira sob o comando de Adilson Batista, técnico que havia sido vice-campeão do torneio em 2009 pelo Cruzeiro. O empate em 0 x 0 pareceu um resultado aceitável até o jogo seguinte, contra o Cerro Porteño, na Vila Belmiro. Elano marcou 1 x 0 de pênalti, mas a vitória escapou pelos dedos aos 47 do segundo tempo, após penalidade cometida por Edu Dracena e convertida pelos paraguaios. A luz amarela ficou vermelha após a derrota para o Colo Colo, em Santiago, por 3 x 2. Três jogos, 2 pontos e a sensação de que a classificação para a segunda fase corria sério risco. Os favoritos viravam azarões. A ordem era vencer ou vencer. Quando o Santos voltou à Vila para enfrentar o Colo Colo, Adilson Batista já não era mais técnico do time. Muricy Ramalho havia acabado de ser contratado e assistiria ao jogo ao lado do presidente, Luis Alvaro, em seu camarote, enquanto o interino Marcelo Martelotte tinha sua prova de fogo. A partida, que já tinha alta dose de adrenalina, foi digna de um thriller de suspense. O Santos fez 3 x 0, mas perdeu Neymar, expulso pelo uso de uma máscara, Zé Eduardo, que revidou agressão de um chileno, e Elano, acusado de atirar uma toalha no técnico adversário, já no banco de reservas. Com nove em campo, o Santos se defendeu até o fim, tomou dois gols, mas assegurou os 3 pontos fundamentais. O jogo seguinte seria contra o Cerro Porteño, fora de casa. Um empate traria a desclassifica-

“Eu acho que merecia esse título. Estava engasgado. Há mais de dez anos, em todo lugar que eu vou eu ganho título, mas a cobrança é sempre a mesma, a Libertadores” Muricy Ramalho ção antecipada. A dose a mais de drama lembrava os três desfalques causados por expulsão e que a partida estava marcada, caprichosamente, para o dia 14 de abril, data em que o Santos comemorava 99 anos. Muricy mudou a tática, fortaleceu a marcação do time em todos os setores e viu Paulo Henrique Ganso cometer uma exibição de gala no Paraguai. Danilo abriu o placar no primeiro tempo com um golaço de fora da área e Maikon Leite, no segundo, recebeu a assistência de Paulo Henrique Ganso e tocou na saída do goleiro. Ainda deu tempo de o Cerro diminuir o placar aos 47 minutos, mas a vitória por 2 x 1 devolveu ao Santos boas chances de classificação para a fase seguinte, para isso bastando vencer o Deportivo Táchira no jogo seguinte. Nessa partida, os 3 x 1 do Santos sobre o time venezuelano no estádio do Pacaembu garantiram a segunda colocação no grupo (Cerro Porteño foi o primeiro) e mantiveram viva a esperança do tricampeonato da Libertadores. Na sequência do torneio, o adversário


O capitão Edu Dracena abraça emocionado Muricy Ramalho e o Rei Pelé

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CAPA

Fim de jogo: Paulo Henrique Ganso vibra e o grupo comemora. Durante a partida, a alegria de Neymar e Elano na comemoração de gol. Raça e dedicação de Zé Eduardo e a saudação de Neymar à torcida durante a volta olímpica

seria o América do México, um cenário aliava uma cansativa viagem de 10 horas à temida altitude que castiga jogadores não acostumados a ela. No México, exibições inesquecíveis do jovem goleiro Rafael e da defesa santista garantiram um 0 x 0 conquistado na base da superação, a palavra de ordem no Santos. Na Vila Belmiro, vitória suadíssima por 1 x 0, gol de Ganso.

Maratona Enquanto se superava na Libertadores, o Santos avançava no Campeonato Paulista. Eliminava o São Paulo pelas semifinais, em pleno estádio do Morumbi, e enfrentava o Corinthians para ser campeão paulista, pelo segundo ano consecutivo. Mas ainda no primeiro jogo da final, Paulo Henrique Ganso sentia contusão na coxa e recebia o veredito: mais seis semanas de recuperação. Sem seu camisa 10 cerebral, as ameaças cresciam na Libertadores. As quartas de final traziam o colombiano Once Caldas como adversário e outra viagem complicada, de várias horas, até Manizales. Em uma grande exibição santista, o gol de Alan Patrick, substituto de Ganso, garantiu a vitória por 1 x 0. No jogo de volta, no Pacaembu, o já campeão paulista Santos fez 1 x 0, mas permitiu o empate. Se sofresse um gol a mais o Once Caldas se classificaria. Mas o nível de concentração do elenco era alto, e o Santos carimbou a vaga para as semifinais. O Cerro Porteño voltava ao caminho do Santos com a vantagem de decidir em casa. No Pacaembu, 35 mil pessoas viram o destino cor-

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rigir uma injustiça com Edu Dracena, líder positivo do elenco e capitão do time. Na primeira fase, um pênalti cometido contra o mesmo Cerro o colocou como candidato a vilão. Na semifinal, após jogada sensacional de Neymar pela ponta-esquerda, o cruzamento preciso encontrou a cabeça dele, Edu Dracena, que fez o gol heróico que garantia a vantagem no jogo de volta.

Clima de Libertadores No Paraguai, o famoso “clima de Libertadores” mostrou suas garras. Os santistas, incluindo torcedores, passaram por uma verdadeira prova de fogo no país vizinho, experimentando um pouco do ‘lado negro’ da competição. Dentro de campo, o jogo começava com alta dose de adrenalina. Logo no começo, Zé Eduardo desviou de cabeça a falta cobrada por Elano e encerrou um jejum de gols que já durava dois meses. A situação melhorou ainda mais após falha do goleiro paraguaio e o segundo gol do Peixe, marcado “contra”. O Cerro Porteño diminuiu para 2 x 1, mas Neymar, no último lance da primeira etapa, fuzilou o goleiro em um contra-ataque. O resultado de 3 x 1 obrigava o adversário a ter que marcar quatro gols no segundo tempo, tarefa impossível em se tratando do Santos do técnico Muricy Ramalho. O time paraguaio pressionou e chegou ao empate, que garantiu a vaga santista em uma final de Libertadores depois de oito anos. O oponente seria o forte Peñarol, justamente o time contra o qual o Santos conquistou sua primeira Libertadores da América, em 1962.

Decisão O charme de um Santos x Peñarol agradou aos dois lados, que demonstraram, desde o primeiro momento, respeito de um pela história do outro. O primeiro jogo seria na fria Montevidéu e seu mítico Estádio Centenário, mas o desafio, em um primeiro momento, seria chegar até lá. As cinzas expelidas pelo vulcão chileno Puyehue continuavam a impedir uma série de voos, e a Conmebol considerava até a hipótese de adiar a partida. Mas na manhã anterior à partida, o avião com a delegação santista decolou em São Paulo e chegou ao Uruguai com segurança. A logística santista funcionava perfeitamente e os jogadores se prepararam bem para a decisão. Os mais de 50 mil torcedores que tentaram empurrar o Peñarol para a vitória encontraram um Santos resistente, consciente e dando pou-


quíssimas oportunidades de gol aos donos da casa. Quando a bola entrou na meta santista, o assistente assinalou o claro impedimento; no ataque, o goleiro uruguaio impediu que o Santos saísse em vantagem. O resultado de 0 x 0 transportava dose dupla de emoção para o Pacaembu, na semana seguinte. As mais de 40 mil pessoas que estavam lá viram a história alvinegra ficar mais rica. Admiraram a segurança de Rafael, goleiro mais jovem a conquistar a Libertadores, a liderança do capitão Edu Dracena e de seu companheiro de zaga Durval, que fala pouco e joga muito. Vibraram com o amor à camisa de Léo, um dos remanescentes do vice da Libertadores de 2003 e atleta com mais títulos conquistados pelo Santos após a Era Pelé. Enalteceram a garra de Adriano, um marcador implacável, e de Elano, ídolo que retornou para brilhar. Aplaudiram o eficiente

Arouca, de presença marcante no meio-campo, e Paulo Henrique Ganso, verdadeiro maestro com a bola. Comemoraram a transpiração e a dedicação extenuante de Zé Eduardo e o fato de assistirem Neymar abrir o placar, iniciando o caminho para a vitória que teria ainda um gol do dedicado Danilo, lateral e meia polivalente. E como títulos são conquistados por grupos e não por talentos individuais, não se pode esquecer os méritos de Jonathan, Maikon Leite, Alan Patrick, Bruno Rodrigo, Pará, Bruno Aguiar, Alexsandro, Possebon, Vladimir, Aranha, Charles, Keirrison, Diogo, Róbson e Richely. Eles fizeram parte da lista de inscritos para a Libertadores e deram sua contribuição para a conquista. Menção também para os técnicos Adilson Batista e Marcelo Martelotte, que iniciaram o trabalho brilhantemente finalizado por Muricy Ramalho.

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C A MPEO NA TO

Uma história de trabalho e conquistas

Um pequeno grupo de pioneiros foi a semente para levar o nome do clube de Santos para o mundo Carolina Rodrigues

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Time da década de 20

Grupo campeão paulista de 1955

Equipe do título paulista de 1978

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m uma sala em cima da padaria e confeitaria Suissa, na atual Avenida João Pessoa, em Santos, três homens convocaram uma reunião histórica. O local era a sede do Clube Concórdia e os personagens – Argemiro de Souza Júnior, Francisco Raymundo Marques e Mário Ferraz de Campos – tiveram uma ideia ousada naquele 14 de abril de 1912: fundar um time de futebol. Ou, para ser mais preciso, foot-ball. No momento de batizar a equipe, um impasse. Cogitou-se colocar o nome de Brasil Atlético, Concórdia e até mesmo África, mas a sugestão de Edmundo Jorge de Araújo caiu nas graças de todos, e o clube nasceu como Santos FootBall Club. Há 99 anos, aqueles homens não poderiam imaginar que o time criado ali seria um dos mais conhecidos e mágicos de todo o mundo. A estreia do Santos nos gramados foi com uma vitória por 2 x 1 contra uma equipe local. O jogo-treino ocorreu em 23 de junho de 1912. Já a primeira partida oficial aconteceu em 15 de setembro do mesmo ano. Contra o Athletic Club, o placar foi de 3 x 1, com gols de Arnaldo Silveira (o Miúdo) e Adolpho Millon Júnior, considerados os primeiros tentos santistas. Em 22 de junho de 1913, o clube recém-criado iniciava sua saga em clássicos também com uma vitória: 6 x 3 contra o Corinthians. No mesmo ano, veio a taça do Campeonato Santista de Futebol, primeiro título comemorado após seis vitórias em seis jogos, 35 gols pró e apenas sete contra. Logo no início a equipe já mostrava o “DNA ofensivo” que a consagraria. Em 1927, o ataque dos 100 gols, formado por Omar, Camarão, Araken, Feitiço e Evangelista, também fez história com uma artilharia pesada contra os rivais do Campeonato Paulista. Mas o primeiro título estadual só viria oito anos depois, no Parque São Jorge, em São Paulo, após vitória por 2 x 0 sobre o time da casa. Só duas décadas depois, em 1955, o Santos conquistaria o segundo título paulista, amargando sucessivas “batidas na trave” nos anos anteriores. Mas a partir deste elenco, e com a chegada de Edson Arantes do Nascimento, em 1956, foi formado o maior time que já pisou em um gramado do planeta. Pelé, ao lado de Dorval, Coutinho, Mengálvio e Pepe, levou o nome do Santos FC por todo o globo e conquistou a América do Sul e o mundo duas vezes (1962 e 1963). Mas o Santos FC não fez sua glória apenas com Pelé e seus “súditos” dos anos 60. Sua tradição de revelar talentos da base continuou viva, passando por 1978, 2002 e 2010, com a safra marcada pelo talento de Neymar e Paulo Henrique Ganso. Hoje, por todas as glórias e ídolos do passado e do presente, o time fundado em uma reunião em uma sala em cima da padaria Suissa é o grande embaixador da cidade de Santos e do futebol brasileiro em todo o mundo. E por falar em representar o futebol brasileiro no mundo, a palavra de ordem agora é: rumo ao Japão e à terceira estrela.


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HISTÓRIA

Meninos predestinados

Mais uma geração dos Meninos da Vila encanta torcedores em todo o mundo ODIR CUNHA

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e você acha que foi apenas coincidência que Neymar e Danilo tivessem 19 anos quando fizeram, contra o Peñarol, os gols que deram ao Santos o seu terceiro título na Libertadores da América, então não precisa ler o resto deste artigo. Desde o dia em que foi fundado, no longínquo 14 de abril de 1912, ficou determinado que o talento, o destemor e a pureza de alma dos meninos protegeriam o Santos contra todos os obstáculos em direção a vitórias absolutas. Adolfo Millon Junior tinha 18 anos e Arnaldo Silveira, 20, quando assinaram a ata de fundação do Santos. Dois anos depois, Adolfo era o ponta-direita e Arnaldo o pontaesquerda da Seleção Brasileira que ganhava o primeiro de seus troféus, a Copa Rocca, contra a Argentina. E em 1919, ainda como titulares do Escrete, cujo capitão era Arnaldo, foram saudados como heróis pela conquista do Sul-Americano, o primeiro título importante do futebol brasileiro. Mais algumas primaveras e Araken Patusca, de 19 anos, filho de Sizino, primeiro presidente santista, comandava o ataque dos 100 gols e se consagrava artilheiro do Campeonato Paulista de 1927, com o recorde de 31 tentos. O mesmo Araken, que, oito anos depois, voltava à Vila Belmiro para marcar o segundo gol da vitória de 2 x 0 sobre o Corinthians e dar a seu querido Santos o primeiro título estadual. O título seguinte só veio 20 anos depois, em 1955, conquistado com um gol de Pepe, de 20 anos, sobre o Taubaté. E outro garoto do Alvinegro Praiano, Emanuele Del Vecchio, de 21 anos, foi o artilheiro do campeonato, com 23 gols. Em 1958, Pelé, 18 anos, sagrou-se artilheiro do Paulista com impressionantes 58 gols. Em 17 de maio de 1959, Coutinho, um mês antes de completar 16 anos, marcou dois gols na vitória de 3 x 0 sobre o Vasco que definiu o Rio-São Paulo. Com 16 anos Edu estreou tão bem no Santos, que, antes de completar 17 anos, se tornou o jogador mais jovem a ser convocado para uma Copa do Mundo, a de 1966, na Inglaterra. Por falar em mais jovem, Diego Ribas da Cunha marcou dez gols e tornou-se campeão brasileiro de 2002 com apenas 17 anos – um a menos do que Robinho, o melhor jogador da decisão contra o Corinthians.

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Pelé, Pepe e Coutinho: trio de um ataque histórico que conquistou as duas primeiras Libertadores da América para o Santos, em 1962/63


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HISTÓRIA

Linha do tempo marcada pela juventude

A história do Santos pode ser contada por suas sucessivas gerações de Meninos. Não há nenhum grande momento da vida do clube que não tenha a presença deles. Em meados dos anos 60, quando Pelé e Coutinho já eram “veteranos” de 25 e 23 anos, surgiram Clodoaldo, Joel Camargo, Edu, cuja média de idade não chegava a 18 anos. E depois que o Rei Pelé parou de jogar e o futuro tornou-se ameaçador, brotaram Pita, Juary e a geração oficial dos Meninos da Vila, campeões paulistas de 1978. O único Santos campeão sem nenhum garoto surgido no clube foi o de 1984, mas há uma explicação lógica para isso: o ídolo daquele time, o centroavante Serginho – artilheiro do campeonato, com 16 gols –, tinha sido uma criança apaixonada pelo Santos, que só realizou o sonho de defender o Alvinegro Praiano aos 29 anos. No espírito, porém, era um Menino da Vila. Assim como eram Meninos da Vila Camanducaia, Edinho, Marcelo Passos, Narciso, Ronaldo Marconato, Vagner, Robert, Giovanni, campeões brasileiros de fato em 1995. Não puderam ser campões de direito em função de um erro da arbitragem que, mostrado pela TV ao vivo repetidas vezes para todo o Brasil, anulou um gol legítimo que daria o título ao Santos, oficialmente. Se a alegria demorou a voltar, é claro que ela retornaria pelos

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pés e pelo futebol de novos Meninos, em 2002. E se manteria acesa por quase uma década, explodindo em 2010 com outro bando de garotos, obviamente, liderados por Neymar, de 18, e Paulo Henrique Ganso, de 20 anos.

Libertadores: 22 anos é o limite

Neymar e Danilo, os autores dos gols do Santos na decisão com o Peñarol, tinham 19 anos. Coutinho também tinha 19 e Pelé 21 quando marcaram na decisão da primeira Libertadores, vencida pelo Santos, em 20/8/1962 (o gol de Coutinho, o primeiro, foi dado a Caetano, contra). E Pelé tinha 22 e Coutinho 20 quando voltaram a marcar na decisão da Libertadores de 1963, contra o Boca Juniors. Sim, mas o que quer dizer isso? Quer dizer que o jogador mais velho a marcar um gol pelo Santos em finais de Libertadores foi Pelé, em 1963, com 22 anos. Isso demonstra a força da juventude santista na mais importante competição sul-americana (mesmo quando perdeu a final de 2003, para o Boca Juniors, por 3 x 1, o único gol do Alvinegro foi marcado por Alex, de 21 anos). Agora, trace uma linha do tempo de 14 de abril de 1912 até 23 de junho de 2011, data da última final da Libertadores. Constate que o caminho do Santos está traçado pela arte irreverente, pela coragem e pela determinação próprias dos Meninos. Assim estava escrito, desde o início. E assim será. Por todo o sempre.


Flagrantes e comemorações de diferentes gerações vencedoras do Santos Futebol Clube: às vésperas dos seus 100 anos, o clube tem uma história incomparável

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G L ÓRIAS

Santos contabiliza 87 títulos em sua história, além da conquista de outras 130 taças O desafio de contar os títulos conquistados de um clube grande é tarefa para historiador. No caso do Santos, é necessário mais de um para resgatar a quantidade de troféus erguidos. Atualmente, a dupla Guilherme Guarche e Guilherme Nascimento gasta muitas horas e dias no Centro de Memória e Estatística para passar a limpo a história do clube para recontá-la em 2012, ano do Centenário. Os títulos oficiais são 87: dois Mundiais Interclubes, uma Recopa Mundial, três Libertadores da América, uma Recopa Sul-Americana e uma Conmebol. Nove títulos nacionais (octacampeonato brasileiro e uma Copa do Brasil), 19 campeonatos estaduais, quatro santistas (antes da Era do Profissionalismo) e uma série de torneios e taças. Isso significa que o Santos conquistou um título a cada 13 meses e meio em toda a sua história. Além disso, levantou mais de 130 outras taças disputadas em jogo único contra clubes nacionais, internacionais, seleções estaduais ou de cidades do Brasil. Isso faz com que a Sala de Troféus do clube seja um espaço que impressiona e emociona não apenas santistas mas também todos os torcedores que admiram a arte do futebol e seus protagonistas.

Confira a relação das conquistas do Santos Futebol Clube Competições oficiais Mundial Interclubes: 1962 e 1963 Recopa Mundial: 1969 Libertadores da América: 1962, 1963 e 2011 Recopa Sul-Americana: 1968 Copa Conmebol: 1998 Campeonatos Brasileiros: 1961 (Taça Brasil), 1962 (Taça Brasil), 1963 (Taça Brasil), 1964 (Taça Brasil), 1965 (Taça Brasil), 1968 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa), 2002 e 2004 Copa do Brasil: 2010 Torneio Rio/São Paulo: 1959, 1963, 1964, 1966 e 1997 Campeonatos Paulistas: 1935, 1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969, 1973, 1978, 1984, 2006, 2007, 2010 e 2011 Torneio Início Campeonato Paulista: 1926 (Torneio Extra), 1928, 1937, 1952 e 1984 Campeão Santista: 1913, 1915 (como União FC), 1929 (Santos–Extra) Torneio Início Campeonato Santista: 1930 (Santos–Extra) Torneios amistosos: Taça Cidade de Santos: 1948 Taça das Taças: 1948 Taça Cidade de São Paulo: 1949 e 1970 Taça Santos FC: 1952 Torneio Laudo Natel: 1975

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Torneio de Belo Horizonte: 1950 Torneio da Amazônia: 1968 Quadrangular 250 anos de Cuiabá: 1969 Torneio Roberto Santos: 1975 Torneio de Verão: 1996 Torneio Internacional Roberto Gomes Pedrosa: 1956 Quadrangular de Lima: 1959 Pentagonal do México: 1959 Troféu Thereza Herrera: 1959 Troféu Naranja (Torneio de Valência): 1959 Troféu IL GialloRosso: 1960 Torneio de Paris: 1960 e 1961 Taça Sears Recbuck (Triangular da Costa Rica): 1961 Torneio Itália 61: 1961 Hexagonal do Chile: 1965 (Troféu Ibéria), 1968 (Octogonal Nicolau Moran), 1970 e 1977 Torneio 4º Centenário de Caracas: 1965 Copa Amistad (Quadrangular de Buenos Aires): 1965 New York Champions Cup: 1966 Triangular Roma/Florença: 1967 Pentagonal de Buenos Aires: 1968 Triangular da Jamaica: 1971 Triangular de Leon (México): 1977 Torneio Vencedores de América: 1983 Torneio Cidade de Pamplona: 1983 Copa Kirin: 1985 Torneio de Marseille: 1987 Super Copa Sul-Americana: 1990


Taças conquistadas em jogo único contra clubes nacionais, internacionais, seleções estaduais ou de cidades do Brasil (mais significativas) 1912 Taça Comemorativa contra o Scracht Inglês (1ª taça conquistada) 1917 Troféu Antárctica (contra o São Cristóvão AC-Rio de Janeiro) 1918 Taça Vanodiol (contra o CA Paulistano) 1923 Taça Zenith (contra a AA Portuguesa) 1926 Taça Moreira Garcez (contra o Atlético Paranaense) (primeira conquista fora do Estado de São Paulo) 1927 Troféu A Vitória (contra o CR Vasco da Gama – Inauguração do estádio de São Januário) 1956 Troféu Independência (contra o Corinthians FC Santo André) (primeira taça conquistada com Pelé em campo) 1957 Troféu Vinho Casto (contra o CR Vasco da Gama – confronto Campeão Paulista x Campeão Carioca) 1962 Taça Racing C (contra o Racing–Argentina, em Nuñez confronto Campeão do Brasil x Campeão da Argentina) 1966 Troféu Il Progresso (contra a Internazionale FC – Itália, nos EUA) 1980 Taça Cidade de Sevilha (contra o Sevilha FC, Espanha) 1984 Troféu dos Campeões (contra o EC Noroeste, confronto Campeão da Divisão Especial x Campeão da Primeira Divisão)

Outras taças/Títulos importantes 1929 Taça A Capital (Três vezes vice-campeão Paulista – 1927, 1928 e 1929) 1956 Troféu Geraldo Starling (Campeão da fase de classificação do Campeonato Paulista) Taça dos Invictos de A Gazeta Esportiva 1961 Campeão Paulista de Aspirantes 1965 Troféu Bola de Ouro, pelo Campeonato Paulista de 1965 1967 Torneio Rubens Ulhoa Cintra (Time misto do Santos FC) 1972 Fita Azul (17 jogos internacionais invictos) 1980 Campeão do 1º turno do Campeonato Paulista de 1980 1984 Taça São Paulo de Futebol Junior II Taça dos Invictos de A Gazeta Esportiva I Taça dos Invictos – Nacional, de A Gazeta Esportiva 1986 Campeão do 1º turno do Campeonato Paulista de 1986 1987 Campeão da fase de classificação do Campeonato Paulista 1994 Copa Denner (Time misto do Santos FC) 2004

Troféu Osmar Santos (1º turno do Campeonato Brasileiro), de Lance! Troféu João Saldanha (2º turno do Campeonato Brasileiro), de Lance! Copa Federação Paulista de Futebol (Santos B)

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MEMORI AL

Memorial expõe a riqueza Espaço ajuda a entender as diferentes etapas do Santos São 380 metros que inspiram respeito. O Memorial do Santos Futebol Clube reúne os mais diferentes objetos que ajudam a contar a história do alvinegro praiano. Seu acervo deixa claro que pouquíssimos times em todo o mundo podem exibir uma caminhada tão vitoriosa. Lá estão não apenas troféus e taças, mas também bolas, documentos, fotos, uniformes e flâmu Slas que fazem parte da trajetória do clube. Recursos multimídia e uma equipe bem treinada permitem ao visitante mergulhar na história do Santos.

“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé.”

“Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.”

Carlos Drummond de Andrade, poeta

Armando Nogueira, jornalista

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das conquistas do clube “O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stefano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima de tudo.” Puskas, jogador da poderosa seleção da Hungria dos anos 1950

“Pelé é o único que ultrapassa os limites da lógica.” Johan Cruijff, jogador da famosa seleção da Holanda de 1974

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Pôster do tricampeão da Libertadores da América

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TORCIDA

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Onde, quando e como o Santos FC estiver

“Mar branco” cresce pela internet e empurra o Santos nos estádios

“Nascer, viver, e no Santos morrer é um orgulho que nem todos podem ter”

Rafael Miramoto

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torcedor é a razão de existir de um clube grande. E o Santos tem uma das mais exigentes e apaixonadas nações de torcedores de todo o mundo, acostumada a grandes exibições, elencos repletos de craques e grandes líderes. Seus mais de 10 milhões de fãs espalhados pelo mundo, entre fanáticos e admiradores, participaram ativamente da conquista do tricampeonato da Libertadores. Dentro e fora do estádio. O time atuou sete vezes como mandante na competição, sendo quatro no Pacaembu e três na Vila Belmiro, com média de público ultrapassando 24,3 mil pessoas. Na grande final, foram mais de 40 mil no Estádio Paulo Machado de Carvalho. Fora de seus domínios, a torcida marcou presença na Venezuela, no Paraguai, no Chile, na Colômbia, no México e no Uruguai. Montevidéu, aliás, parecia uma cidade da Baixada Santista no dia 15 de junho, data do primeiro jogo da final, com mais de 2 mil santistas presentes para acompanhar o time. Estes tiveram que driblar até as cinzas do vulcão chileno Puyehue, que impediu vários voos pelo continente.

Organizadas

As principais torcidas organizadas do Alvinegro Praiano são a Torcida Jovem, a Sangue Jovem e a Força Jovem. Maior organizada do Santos FC, a Torcida Jovem (www.torcidajovem. com.br) foi fundada em 26 de setembro de 1969. Na época, o time retornava de uma excursão vitoriosa pela Europa e um gru-

Público pagante do Santos na Libertadores Data

Adversário

Fase da Libertadores

2/3/2011

Cerro Porteño-PAR

1ª fase

6/4/2011

Colo Colo-CHI

1ª fase

20/4/2011

Deportivo Táchira-VEM

1ª fase

27/4/2011

América-MEX

Oitavas de final

18/5/2011

Once Caldas-COL

Quartas de final

25/5/2011

Cerro Porteño-PAR

Semifinal

22/6/2011

Peñarol

Final

po de 13 garotos, reunidos em uma velha casa no tradicional bairro do Brás, em São Paulo, decidiu fundar oficialmente a torcida. O grupo já frequentava os jogos do clube na capital paulista desde 1966. A Sangue Jovem (www.sanguejovem.com.br), segunda maior organizada do clube, foi fundada em 1o de julho de 1988 por ex-membros da já extinta Sangue Santista. Já a Força Jovem (www.torcidaforcajovem.net) surgiu em abril de 1977, por iniciativa de alguns ex-integrantes da Torcida Jovem.

Nação online

O Santos não se preparou apenas na área do futebol para conquistar a Libertadores. A área de Comunicação do Clube preparou-se para receber um contingente apaixonado e exigente em seu site e mídias sociais, que bateram recordes. O www.santosfc.com.br foi o portal de clube mais acessado do Brasil em junho, com média diária de quase 73 mil visitas e quase 6 minutos de permanência por internauta, um número muito superior à média de mercado, que não ultrapassa 4 minutos. O canal oficial do Clube no YouTube (www.youtube.com/santostvoficial) consolidou-se como o de melhor média de visitas em todo o mundo. Na semana seguinte à final, os vídeos de bastidores do título somaram quase 2 milhões de visitas. São mais de 21 milhões de acessos em 18 meses, média que supera em muito o segundo colocado, Milan, com aproximadamente 760 mil visitas/mês. Além disso, os vídeos foram repetidos em quase todos os canais de TV aberta do país. O Twitter do Santos (www.twitter.com/santosfc) ultrapassou a marca dos 150 mil seguidores e o Santos foi o clube que mais tempo permaneceu nos Trending Topics do Brasil, atingindo também o Global: #marbranco, #santostri e #santoscampeao, juntos, estiveram Público entre as maiores menções por 96 Local pagante horas contínuas no Brasil e #santostri ficou por 3 horas no Global. Vila Belmiro 6.735 A página do Santos no Facebook Vila Belmiro 11.871 também obteve sensível crescimento, ultrapassando os 200 mil Pacaembu 36.091 fãs, enquanto a recém-criada páVila Belmiro 11.417 gina no Orkut, em parceria com o Google, ultrapassou 40 mil memPacaembu 35.135 bros em poucos dias. Pacaembu

31.434

Pacaembu

37.984

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DIRETORIA

Diretoria adota gestão profissional, ousada, e compromisso de longo prazo “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

A

s palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano inspiraram Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, executivo com passagens pelas diretorias do Banespa e do Banco Central e pela chefia de Gabinete do Ministério da Fazenda, a assumir um desafio diferente de tudo o que já havia experimentado em vida: o cargo de presidente do Santos Futebol Clube. Sócio e ex-conselheiro do clube por 17 anos, Luis Alvaro recebeu o convite para se candidatar à presidência em outubro de 2009. Seis anos antes já havia sido candidato, contra a recomendação médica e semanas depois de um infarto e quatro paradas cardíacas. Na ocasião, conquistou 40% dos votos e havia prometido não concorrer mais. Mas o cenário em 2009 era diferente: Luis Alvaro chegava respaldado por uma aliança política mais ampla, com um candidato a vice de peso – o médico e então secretário de Saúde de Santos Odílio Rodrigues – e o apoio de alguns dos empresários e executivos mais notáveis do país, todos apaixonados pelo Santos. O chamado Grupo Guia – Gestão Unificada de Inteligência e Apoio ao Santos FC – reuniu santistas do calibre de José Berenguer (vice-presidente executivo do Santander), Walter Schalka (presidente da Votorantim Cimentos), Alvaro Simões (CEO da incorporadora Viver), Álvaro de Souza (presidente do Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas), Eduardo Vassimon (do Conselho de Administração do BBA Itaú), Antonio Fadiga (sócio e CEO da Fischer & Friends) e Luiz Eduardo Monteiro Lucas de Lima (sócio da Lucas de Lima e Medeiros Advogados). O discurso baseado em um choque de ges-

22

SANTOS CENTE NÁRIO

tão convenceu dois terços dos associados e, já vitorioso no dia de 16 de dezembro de 2009 – exatamente quando completava 67 anos de idade –, o novo presidente encarou números preocupantes: 70 milhões de reais de dívidas vencendo no curto prazo, nada em caixa e um time que havia disputado a parte de baixo da tabela no último Campeonato Brasileiro. O trabalho exaustivo precisaria ser baseado em alguns pilares básicos: profissionalização das áreas nevrálgicas do Santos, governança corporativa, ampliação das fontes de receita, proatividade na comunicação e reforma no estatuto do Clube, que atentava contra a democracia e afugentava possíveis investidores. Isso significava uma verdadeira revolução na maneira até então arcaica de gerir o Santos. “Novos diretores com experiência substituíram presidentes amadores, que geriam seus clubes como feudos pessoais”, descrevem os jornalistas Andrew Downie e Joe Leahy em matéria recente do Financial Times, um dos mais importantes jornais do mundo, que destaca exatamente o trabalho realizado no clube paulista. Afinal, em apenas um ano e meio de gestão, quatro títulos foram conquistados (dois campeonatos paulistas consecutivos, a Copa do Brasil e a Libertadores da América), repetindo um feito comum apenas nos anos 60, quando o ataque santista tinha Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. As taças erguidas dentro de campo impressionam tanto quanto os resultados fora dele. Pela primeira vez em muitos anos, o Santos encerrou um exercício arrecadando mais do que gastou – não fossem os 18 milhões de reais em amortização e juros de dívidas contraídas na gestão anterior, o balanço de 2010 teria de-

monstrado lucro. Ainda assim, o déficit que havia sido de 46 milhões de reais, em 2009, caía para 8 milhões de reais no ano passado. A ampliação das fontes de receita trouxe o clube para o patamar de 116 milhões de reais de faturamento, ante 70 milhões de reais do ano anterior. Só o patrocínio nas camisas deixava o incômodo patamar de 7 milhões de reais anuais de 2009 para mais de 30 milhões de reais em 2011, contando com as premiações de títulos. No campo associativo, em apenas 19 meses a gestão que assumiu em dezembro de 2009 colocou mais de 20 mil novos sócios no clube, número superior aos 18,5 mil associados conquistados nos dez anos anteriores com um mesmo presidente. O Santos ainda fez história ao convencer Neymar a ficar no Brasil diante do assédio agressivo de clubes europeus, o que foi possível graças a um plano de carreira que multiplicou os ganhos do atleta por meio de contratos publicitários. “O Brasil não é mais um país subdesenvolvido, exportador de matéria-prima. Agora, quando um garoto quiser sair, ele vai sair como ídolo. E ídolo o Neymar vai ser aqui no Santos”, afirmou Luis Alvaro na coletiva que marcou o “fico” do craque. O presidente mostrou que, de fato, nem tudo pode ser considerado “utopia”. “Fizemos história de muitas formas, mas tem muito mais pela frente: um Campeonato Brasileiro, um Mundial em dezembro e a possibilidade de colocarmos uma terceira estrela no peito. Além disso, em 2012 teremos o centenário do Clube”, projeta Luis Alvaro. “No Santos, a gente ousa tentar realizar o que sonha. E é por isso que estamos caminhando para tão longe.”


O presidente, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, e o lateral esquerdo Léo seguram a tão sonhada taça da Copa Libertadores da América

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TRADIÇÃO DE RECORDES

Santos é o time que mais fez gols na história do futebol mundial. Pelé é seu maior artilheiro e maior goleador da história do futebol brasileiro Priscila Vilani

O

s números não deixam nenhuma margem a dúvida: a trajetória vencedora do Santos em seus 99 anos de vida é incomparável. Seus 87 títulos conquistados ao longo de sua história (veja artigo), entre os quais o tricampeonato da Libertadores da América, o bicampeonato mundial e o octacampeonato brasileiro, são justificados pelo espantoso número de gols marcados pelas diferentes gerações que defenderam o time da Vila Belmiro. Ao alcançar a marca de 11.700 gols em sua história, em meio ao Campeonato Brasileiro de 2011, o Santos ostenta uma média superior a 118 gols por ano, ou mais de nove gols por mês, praticamente 2,5 gols por semana. Essa condição lhe garante outro título, este único e indivisível: o de time que mais balançou as redes de seus adversários desde que o futebol foi inventado, no final do longínquo século 19. Pelé, o mais famoso jogador de todos os tempos e eleito Atleta do Século, foi o maior artilheiro dos quase 100 anos de história do Santos, marcando 1.091 gols pelo clube de 1956 a 1974. Ele é seguido por dois companheiros do esquadrão que, nos anos 60, marcou época: Pepe, com

405 gols, e Coutinho, com 370, são o segundo e o terceiro no ranking, respectivamente. Os números são ainda mais expressivos quando comparados aos dos maiores artilheiros dos principais rivais santistas: no Corinthians, Cláudio fez 306 gols; no Palmeiras, Heitor fez 284; no São Paulo, Serginho Chulapa fez 242. Em toda a sua trajetória, o Santos já balançou as redes adversárias 11.700 vezes (números atualizados no dia 2 de julho, após a vitória de 1 x 0 sobre o América), sendo o primeiro e único time do mundo a alcançar a marca dos 11 mil gols. Antes, já havia sido o primeiro clube do planeta a balançar as redes adversárias 10 mil vezes. Além de Pelé, Pepe e Coutinho, craques como Toninho Guerreiro, Dorval, Serginho Chulapa, Robinho, Neymar e Elano – os dois últimos do elenco atual e já entre os 35 maiores artilheiros da história santista – ajudaram o Santos a se tornar sinônimo de futebol ofensivo em todo o mundo. Confira a seguir a lista dos maiores goleadores da história do Santos, respeitando as fases Pré e Pós-Pelé.

Artilheiros

Gols

Período

Posição geral

Após Era Pelé

Pelé

1.091

1956-1974

-

Pepe

405

1954-1969

-

Coutinho

370

1958-1970

-

Toninho Guerreiro

283

1963-1969

-

Feitiço

216

1927-1932/1936

-

Dorval

198

1956-1967

-

Edu

183

1966-1976

-

Araken Patusca

177

1923-1929

-

Pagão

159

1955-1963

-

Tite

151

1951-1957/1960-1963

10º

-

Camarão

150

1923-1934

11º

-

Antoninho

145

1941-1954

12º

-

Odair

134

1943-1952

13º

-

Raul Cabral Guedes

120

1933-1942

14º

-

Vasconcelos

111

1953-1959

15º

-

Álvaro

106

1953-1961

16º

-

Del Vecchio

105

1953-1957/1965-1966

17º

-

Pelé

24

SANTOS CENTE NÁRIO


Serginho Chulapa

Juary

João Paulo

Araken Patusca

Feitiço

João Paulo

104

1977-1984/1992

18º

Serginho Chulapa

104

1983-1984/1986/1988/1990

18º

Ary Patusca

103

1915-1922

20º

-

Juary

101

1976-1979/1989

21º

Gradim

97

1936-1944

22º

-

Rui Gomide

97

1937-1947

22º

-

Robinho

94

2002-2005/2010

24º

Kléber Pereira

87

2007-2009

25º

Douglas

79

1967-1972

26º

-

Siriri

75

1923-1929

27º

-

Guga

74

1992-1994

28º

Giovanni

73

1994-1996/2005/2006

29º

Neymar

70

2009-2011

30º

Mário Seixas

67

1930-1936

31º

-

Viola

67

1998-1999/2001

31º

Lima

65

1961-1971

33º

-

Arnaldo Silveira

64

1912-1921

34º

-

Elano

62

2002-2005/2011

35º

10º

Nicácio

61

1949-1955

36º

-

Nenê

60

1969-1974

37º

-

Deivid

60

1999-2001/2004-2005

37º

11º

Dodô

59

1999-2001

39º

12º

Macedo

59

1994-1998

39º

12º

Logu

58

1931-1935

41º

-

Vitor Gonçalves

58

1930-1936

41º

-

Zito

57

1952-1967

43º

-

Paulinho McLaren

55

1989-1992

44º

14º

Evangelista

55

1925-1931

44º

-

Haroldo Pires Domingues

55

1921-1927

44º

-

Pita

53

1976-1984

47º

15º

Cláudio Adão

51

1973-1976

48º

-

Constantino

51

1920-1924

48º

-

Léo Oliveira

50

1967-1975

50º

-

Fonte: Centro de Memória e Estatística do Santos FC. Atualizado em 2/8/2011

25 25


A RTIG O

Muricy mostra o peso da liderança e da experiência Hugo Genaro

A

campanha do tricampeonato santista na Libertadores 2011 pode ser dividida entre antes e depois da chegada do técnico Muricy Ramalho. Tetracampeão brasileiro e com seis títulos estaduais, o treinador encontrou um time que, mesmo repleto de estrelas, corria sério risco de desclassificação. Porém, com sua experiência, em pouco tempo encontrou o acerto tático ideal, equilibrou o aspecto emocional da equipe e fez com que os astros do Santos voltassem a brilhar com a conquista do tricampeonato da América. Antes do início da Libertadores, a participação do clube era cercada de grande expectativa. A base da equipe, campeã paulista e da Copa do Brasil em 2010, havia sido mantida. O forte plantel, com pilares como Paulo Henrique Ganso, Neymar, Edu Dracena, Arouca, Durval, Danilo e Léo, ainda foi reforçado com a chegada de Elano e de Jonathan, entre outros bons valores. Até Muricy Ramalho, ainda como treinador do Fluminense, no início da competição, já colocava o Santos como favorito para a conquista continental. O início, no entanto, foi difícil. Ainda sem Muricy, o Santos FC não venceu em seus três primeiros jogos. Só somou 2 pontos nos confrontos ante o Deportivo Táchira, na Venezuela (0 x 0) e o Cerro Porteño, na Vila (1 x 1) e, finalizando o primeiro turno da fase inicial, teve sua única derrota no torneio para o Colo Colo por 3 x 2, no Chile. O cenário não era bom. Vencer o Colo Colo, na Vila Belmiro, era obrigação para quem iniciou o torneio sonhando com o título. Na véspera da partida, Muricy Ramalho finalmente acertava seu contrato de um ano com o Santos e era anunciado oficialmente. O interino Marcelo Martelotte, membro da comissão técnica permanente, seria o responsável por liderar os Meninos da Vila naquele confronto com gosto de eliminatória: se perdesse, o Santos daria adeus às chances de passar para a segunda fase. Do camarote do presidente Luis Alvaro, o técnico viu os santistas vencerem os chilenos por 3 x 2, mas sofrendo as baixas importantes de Elano, Neymar e Zé Eduardo, expulsos. “Quando cheguei, estava claro que os caras estavam muito pilhados, confundindo Libertadores com guerra. Mas o Santos não sabe guerrear, fazer catimba, dar pontapé. Estavam brigando com juiz, com adversário, estavam confundindo o que é a Libertadores. Era preciso fazer o que o time sempre teve de melhor, que é a parte técnica, ofensiva, toque de bola. Tínhamos apenas que jogar e parar de brigar “, conta Muricy.

EQUILIBRADO

Além de equilibrar as emoções dos jogadores, o treinador tinha outro desafio: fazer com que a equipe de “DNA ofensivo” também conseguisse se defender bem. E no primeiro jogo de Muricy Ramalho no comando do Santos FC ficou claro que esse obstáculo também seria superado. O time foi a Assunção precisando vencer o Cerro Porteño sem Elano, Neymar e Zé Eduardo, suspensos. Nem um empate servia e, para aumentar a responsabilidade, o Santos jogaria no dia 14 de abril, data de seu aniversário de 99 anos.

26

SANTOS CENTE NÁRIO

Muricy deu confiança ao elenco, ressaltou a importância do grupo em detrimento das individualidades e o time entrou em campo com muita consistência, vencendo por 2 x 1 com gols de Danilo e Maikon Leite. Depois disso, a equipe sacramentou a classificação para a fase eliminatória com a convincente vitória por 3 a 1 sobre o Deportivo Táchira, no Pacembu.

PREPARO FÍSICO E FORÇA MENTAL A sequência de partidas eliminatórias de ida e volta que separavam o Santos do tricampeonato não assustava Muricy e seus comandados – não poder perder já havia se tornado uma rotina para a equipe há algum tempo. E em dois campeonatos paralelos. No dia 30 de abril, vencia o São Paulo fora de casa pelas semifinais do Paulista. No dia 3 de maio, eliminava o América, no México, nas oitavas de finais da Libertadores. Nas semanas seguintes, venceu o duelo contra o Corinthians nas finais do Paulista e, na Libertadores, eliminou o Once Caldas (Colômbia) e novamente o difícil Cerro Porteño para chegar à final contra o Peñarol. A dura jornada havia exigido um preparo físico acima do normal e a força mental de um grupo que não aceitava perder, característica cultivada por Muricy Ramalho em sua carreira que encontrou eco nos pilares do elenco santista. Mesmo com seguidas contusões em meio à maratona de jogos, o grupo se mostrou forte. “Sempre nos cobramos muito. Com a chegada do Muricy, a confiança aumentou, assim como a consciência de todos de que o sistema defensivo começa na postura dos atacantes”, conta o capitão Edu Dracena. Na decisão da Libertadores, muita coisa estava em jogo. O Santos FC buscava um título que consolidaria a geração mais vitoriosa do clube após a Era Pelé, época em os santistas foram bicampeões continentais e mundiais, em 1962 e 1963. Vice-campeão da Libertadores com o São Paulo em 2006, Muricy Ramalho queria apagar a lembrança de perder uma final. E, depois de muita luta e superação, conseguiu. “Acho que realmente o Santos mereceu esta Libertadores. Mas, para mim, era um título que estava engasgado. Estava brigando há muitos anos por isso. Acho que chegou minha vez e estou superfeliz”, conclui.


Dois momentos de Muricy Ramalho: cumprimentos pela conquista e a deferência de Pelé, que levou o técnico para o centro do campo para ser saudado pela torcida após a conquista

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REPERC USSÃO

Conquista do tri da Libertadores é notícia no Brasil e no exterior

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SANTOS CENTE NÁRIO


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t o rcedor

Eu, santista

Leonardo de Souza (Peru)

Pedro e Marcia Kamiyama (Áustria)

Renato R. Paixão (Brasil)

Filipe Zanchini (Itália)

João Luiz Furlan (Brasil) Marcos Roberto de Oliveira (Canadá)

Marcelo Carvalho (Í

ndia)

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SANTOS CENTE NÁRIO


Gilvan Simões (Antártida)

Marina Rocco (Austrália)

Fabiano Rezende Pellin (França)

Marcelo Carbone e Renata Pezzin (Argentina)

Carlos Eduardo Lopes (Espanha)

Rogerio Oshiro (Japão)

Daniel Drewiacki (Itália)

André Strauss (Jamaica)

Chang Tsen Ch uang (Estados Unidos )

31 31


C A MPEO NA TO

Rumo ao Japão Na qualidade de campeão da Libertadores da América, o Santos Futebol Clube vai ao Japão em dezembro de 2011 para disputar o Mundial Interclubes da FIFA, que reunirá os clubes vencedores de torneios regionais de diferentes áreas do planeta. Além do Santos, outra atração da competição será o Barcelona, atual campeão europeu. Esses dois times aparecem como destaques em suas respectivas chaves do torneio. Os melhores clubes de cada chave disputarão o título no dia 18 de dezembro. As duas cidades-sedes do Mundial Interclubes da FIFA são Toyota e Yokohama, nomes dados também aos estádios de cada uma delas. O primeiro tem capacidade para 45.000 espectadores, enquanto a arena de Yokohama pode abrigar mais de 72 mil torcedores. Foi em Yokohama que a seleção brasileira conquistou o pentacampeonato mundial de futebol, em 2002.

Estádio Internacional de Yokohama

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SANTOS CENTE NÁRIO


Estรกdio de Toyota

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HI N OS

Hino Oficial do Santos Futebol Clube

Leão do Mar Composição: Maugeri Neto/Maugeri Sobrinho

Santos Santos Gol!

Composição: Carlos Henrique Roma, em julho de 1957

Sou alvinegro da Vila Belmiro O Santos vive no meu coração É o motivo de todo o meu riso De minhas lágrimas e emoção

Agora quem dá bola é o Santos O Santos é o novo campeão Glorioso alvinegro praiano Campeão absoluto deste ano

Sua bandeira no mastro é a história De um passado e um presente só de glórias Nascer, viver e no Santos morrer É um orgulho que nem todos podem ter

Santos! Santos sempre Santos Dentro ou fora do alçapão Jogue onde jogar És o leão do mar Salve o nosso campeão!

No Santos pratica-se o esporte Com dignidade e com fervor Seja qual for a sua sorte De vencido ou vencedor

Agora quem dá bola é o Santos O Santos é o novo campeão Glorioso alvinegro praiano Campeão absoluto deste ano

Com técnica e disciplina Dando o sangue com amor Pela bandeira que ensina Lutar com fé e com ardor

Santos! Santos sempre Santos Dentro ou fora do alçapão Jogue onde jogar És o leão do mar Salve o nosso campeão!

Expediente DIRETORIA Presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro Vice-Presidente Odílio Rodrigues Filho Assessores do Presidente Álvaro Antonio Cardoso de Souza, Eduardo Mazzilli de Vassimon, José Menezes Berenguer Neto, José Paulo Fernandes e Luiz Eduardo Monteiro de Lucas Diretor de Comunicação e Marketing Paulo Schiff

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SANTOS CENTE NÁRIO

Diretor de Esportes João Maria Menano Diretor de Futebol Pedro Luiz Nunes Conceição Diretor de Futebol Feminino Murilo Amado Barletta Diretor Jurídico Luciano Francisco Tavares Moita Diretor de Patrimônio Caio Marco di Stefano Diretor Social Moacir Brandelero

CONSELHO DELIBERATIVO Presidente André Monteiro de Fazio

CONTEÚDO Projeto e coordenação editorial Ciro Dias Reis

Vice-Presidente Orlando Galante Rollo

Colaboradores Arnaldo Hase, Carolina Rodrigues, Hugo Genaro, Odir Cunha, Priscila Vilani e Rafael Miramoto

Primeiro Secretário José Miguel Cecchinato de Souza Segundo Secretário José Carlos Otero Quaresma Suplente Luiz Cláudio de Aquino Barroso Pereira

Fotografias Ricardo Saibun, Ivan Storti e Arquivo/Santos FC Projeto gráfico e diagramação Alexandra Marchesini Impressão Printon Soluções Gráficas


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