The Smithsons Robin Hood Gardens

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Alison e Peter Smithson Robin Hood Gardens

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Teoria da Arquitectura III Janeiro 2016 Departamento de Arquitectura , FCTUC Alexandra Ionela Trofin Samuel Rodríquez Cañellas Sandra Andrei




Fig 1 - CIAM grid

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I. A contextualização

O início do século XX encontra a Europa numa depressão economica, obviamente causada pela primeira guerra mundial, mas, no mesmo tempo, bem preparada por novas ideias e em grande necessidade de um desenvolvimento urbano rápido e inovador. As soluções que foram adoptadas consistiram em industrialização, ou seja, poluição e grande demenda por propostas de habitação e infraestrutura.

I.1 CIAM

Foi em este contexto que o CIAM – Congrès International de l’Architecture Moderne foi criado, em 1928 em Suiça,no Chateau de la Sarraz, como uma plataforma por arquitectos e planeadores urbanos que combinaram para discutir e debater os asuntos do século. O CIAM foi, basicamente, um dos muitos manifestos do século XX cujo propósito era de propagar o conceito da arquitetura como uma arte social. Le Corbusier foi o líder e organizador desta atividade onde, na 4ª reunião (CIAM IV) em 1933 lançou La Charte d’Athénes, que tinha como base a sua Ville Radieuse. È este o momento quando aparece o novo conceito da Cidade Funcionale (Functional City) que pressupunha uma arquitectura totalitária, uma separação clara das funções e separação social no conjunto arquitectonico. As novas formas de habitação criadas por CIAM respeitavam a grelha das quatro funções – habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito e, em fim, circular. (fig. 1)

Depois da segunda guerra mundial, as ideias de CIAM espalharam-se por todos os lados, especialmente nos Estados Unidos, como os membros arquitectos viajaram durante estes anos. A reconstrução da Europa que estava bem prejudicada continuou a fazer-se usando as ideias do CIAM mas logo apareceram as primeiras dúvidas. Os dissidentes mais notáveis foram mesmo Alison e Peter Smithson.

I.2. O brutalismo e o novo brutalismo

Alison (1928 – 1993) e Peter (1923 – 2003) Smithson foram os dois estudantes da Universidade de Durham, Peter entre os anos 1939-1948 e Alison entre 1944 e 1949. Mesmo sendo ainda jovens, eles começam a criticar a ideologia do CIAM e o conceito da Cidade Functional. Um ano depois do seu casamento, em 1950, enquando põem a base do seu primeiro escritorio, eles acabam o seu primeiro trabalho significativo – o Hunstanton School (fig. 2), por ganhar o concurso do projecto. Esta é uma obra de transição do modernimo, que era o que o tempo nessa altura dictava, para o novo brutalismo. O brutalismo é um movimento em arquitectura que desenvolveu-se entre os anos 1950 atè os meios 1970, tendo como base forte a arquitectura modernista do início do século XX. A raíz do termo brutalismo encontra-se no francês– le beton brut. É assim como Le Corbusier chamava a sua escolha por os materiais que usava, ou seja o betão aparente. O primeiro edifício que pode ser considerado brutalisto é Unité d’Habitation, 1945. Depois, foi o critico inglês Reyner Banham que introduziu o Novo Brutalismo e o fez dele um movimento cânonico até hoje em dia, fazendo uma ligação directa com os Smithsons no seu livro emblematico de 1966, The New Brutalism: Ethic or Aesthetic?. No Architectural Review surgiu, de uma forma ligeiramente engraçada, uma questão: “Does the New Brutalism really mean anything other than the architecture of the Smithsons?”

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Fig 3 - os espaços publicos em Unité d’ Habitation

Fig 4 - fotografia feita por Henderson- As Found


I.3. Unité d’Habitation O edifício do Le Corbusier está previsto com três tipos de espaço público. (fig. 3) O primeiro encontra-se no andar térreo em continuação com o landscape e os jardins, com uma adição no primeiro andar por, o que o arquitecto chamava le revitaillement, espaço dedicado especialmente por pessoas mais velhas. O segundo tipo é constituido pelas ruas interiores, os sete corredores, um em cada nível dobrado. As ruas estão dotadas com luz, móveis urbanos e lojas. O 3º é o andar da cobertura –the roof, onde encotra-se a parte da cultura do corpo e espírito, espaços desportivos, educativos para crianças, esplanadas e áreas de lazer.

I.4. Criticas CIAM VI A primeira reunião depois da segunda guerra mundial foi em 1947, o CIAM VI em Bridgwater, Inglaterra. Aqui os Smithsons junto com o Aldo Van Eyck criticaram a ideologia do CIAM, a Cidade Functional e tentaram acentuar a importancia do lado humano em arquitectura. “Architecture should not only be efficient but also give answers to emotional human aspects. The old struggle between imagination and common sense ended tragically in favor of the later.” 1

I.5. Independent Group – As found Aesthetics Os primeiros anos dos 1950 junta os Smithsons com o fotógrafo Nigel Henderson e o escultor Eduardo Paolozzi, formando um grupo poderoso que voltou a encontrar beleza no ordinário. Eles descobriram o bairro Bethnal Green onde Henderson morava, onde a vida existia a vontade nas ruas, na simplicidade e nas brincadeiras das crianças, na repetição agradável das portas, janelas, a segurança. Estes eram caraterísticas que faltavam indubitavelmente na Cidade Functional e, se calhar, nunca podiam surgir lá. “The «as found», where the art is in the picking up, turning over and putting with… and the «found», where the art is in the process and the watchful eye…” 2 “Thus the as found was a new seeing of the ordinary..” 3 Uma preocupação deles era ver a essência das matérias. “ We were concered with the seeing of materials for what they were: the woodness of wood; the sandiness of sand.” 4 Pode ser facilmente compreendido o seu desgosto por simulado e os novos plásticos do tempo, e, no mesmo tempo a busca deles pelo natural.

I.6 CIAM IX – Team X – The Urban Re Identification A 9ª reunião do CIAM aconteceu em França, Aix-en-Provence em 1953 e tratou as questões da habitação. É aqui onde o Team X conhece a primeira forma de existência, mesmo que oficialmente, só declaram-se como um grupo em 1960, depois do último CIAM. “They [Team X] were not against functionalism but against lack of zeitgeist”. 5 Os dez membros do Team X eram Alison e Peter Smithson, Jacob B. Bakema, Aldo van Eyck, Georges Candilis, Shadrach Woods, Giancarlo De Carlo, J. Coderch, C. Pologni, J. Soltan, S. Wewerka.

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van Eyck, A. citado por Malka, L. (2014), ALISON and PETER SMITHSON - The Shifts of Ideas from Golden Lane to Robin Hood Gardens (1952 - 1972), Seminar Architectural Studies at Technion Israel of Technology, 2. Smithson, A., et al., (1990), The Independent Group: Postwar Britain and the Aesthetics of Plenty, London, The MIT Press, 200. Ibid. Ibid. van Eyck, A. citado por Malka, L. (2014), ALISON and PETER SMITHSON - The Shifts of Ideas from Golden Lane to Robin Hood Gardens (1952 - 1972), Seminar Architectural Studies at Technion Israel of Technology, 2.

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Fig 5 - A&P Smithson - Urban Re Identification

Fig 6 - Immeuble Villas, Le Corbusier

Fig. 7- Edgar Chambless – Road Town 1910

Fig. 8 - Louis Kahn, Philadelphia Medical Service Plan Building


Há pouco tempo, na conferência do Anthony Vidler que houve no Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra, com o tema The Architect as Historian: Reading the Past, Designing the Present, ele diz: “James Stirling lost his way because he didn’t join Team X.” , mesmo que ele era membro do Independent Group. Lembro disso para enfatizar a importância e a influência das escolhas de grupos e ideologias na vida e carreira dum arquitecto. Na mesma reunião do CIAM, os Smithsons apresentam a Re-Identificação Urbana (fig. 5), um novo tipo de grid que inclui os aspectos do As found asthetics desenvolvido no Independent Group, e a nova proposta inovadora de habitação, o Golden Lane, criticando o Unité d’Habitation. Em 1955 Le Corbusier desiste e sai do CIAM, ficando chateado por o uso exagerado da lingua inglesa nas reuniões e da hostilidade dos outros membros.

II. Golden Lane - o projecto teórico „The making of architecture may be regarded as a dialectic between ideas and form. Certain ideas and methaphores have the power to suggest buildings; Equally, certain building, by virtue of their form, can imply an use and even suggest a way of life. Each is no more or no less architecture. Both are rare. Few ideas have been built; few buildings are anything other than the latest mode in shape making.” 6 Tendo em vista as ideias do Le Corbusier, até buscar a melhorar-las, em 1952 Alison and Peter Smithson desenvolvem a mais saliente proposta de urbanismo no contexto do século XX – o Golden Lane City. Eram dois conceitos que os Smithsons introduziram no seu trabalho. 1. 2.

The tower in the park The building as street – a reinterpretação da rue corridor do século XIX

O conceito da Torre no parque apareceu pela primeira vez nos trabalhos e pensamentos do August Perret, mas só ganhou significância nos projectos do Le Corbusier, a Ville Tours em 1920, respetivamente la Ville Contemporaine em 1922. Na proposta dos Smithsons por o Golden Lane, está ideia materializou-se em tendo toda a vida, aberturas deste edifício de grande dimensões orientadas no lado dos jardins que o rodeiam. Antes da invenção do motor-carro, as ruas pertenenciam ao domínio público, os edifícios usavam-se para habitação, trabalho e outras actividades que precisam espaço interior. Em 1910, surgiu uma nova entidade, the pedestrian way, o percurso pedestre que não pertence nem a rua, nem ao edifício, sendo uma noção irresoluta. Cinco anos mais tarde, em 1915, o pedonal já começa a inserir-se na beira do edificado mais do que da rua. Portanto, a forma do edificado sofre alterações, e também o mesmo fenómeno acontece com a relação entre a habitação e a rua. Outra ideia que surgiu dos trabalhos do Le Corbusier é das plataformas elevadas (elevated decks) dos Immeuble Villas. (fig. 6) Este ideia é muito presente na proposta do Edgar Chambless – Road Town 1910.(fig. 7) Já existe uma diferença entre road e street. O Golden Lane tem a ver com homogeneidade social, portanto eles propõem vários tipos de apartamentos. Introduzem as streets in the air, mas agora são verdadeiras promenades, largas, cobertas que formavam comunidades. O projecto era um sistema que apresentava a possibilidade por crescimento, se fosse necessário, com ligaçoes aerianas. O que faltou nesta proposta era a claridade do espaço urbano, a relação da habitação e rua e a escala do edifício era demais para o existente. Até o momento quando os Smithsons tiveram a oportunidade de construir um edifíco de habitação, que por eles era a materialização do Golden Lane, a obra que estamos a estudar, o Robin Hood Gardens, eles passaram por várias fases de mudanças de ideias. Uma primeira mudança de ideias nos Smithsons foi depois das visitas do Peter Smithson nos Estados Unidos ( 1957 e 1958) quando encontra uma nova visão – o carro como estilo de vida. Está questão também tem a ver com a sua preocupação do trabalho do Louis Kahn nos meios dos 1950, como o Philadelphia Medical Service Plan Building em 1954 (fig. 8) onde a sua american acceptance of the road é muito visível.

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Eisenman, Peter, 1972, Alison and Peter Smithson London E4, Architectural Design, September, 557.

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Fig. 9 - Golden Lane


Fig. 10 - Golden Lane

Fig. 11 - Golden Lane

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Fig. 10 - Mies van der Rohe: apartamentos no. 860 Lake Shore Drive, Chicago, 1948-1951.

Fig. 11 - Mies van der Rohe: Lafayette Park

Fig. 12 - Mies van der Rohe: Farnsworth House


III. Changing the Art of Inhabitation

Este livro é um conjunto de ensaios, notas e cartas, nem tudo foi publicado, mas a forma de expor as ideias destes arquitectos, alteraram a forma de habitar de Smithson. O livro é dividido em três partes: a primeira é uma reflexão sobre Mies, com base na viagem de Peter S. a IIT; a segunda parte centra-se nas contribuições dos Eames na arquitectura, bem como a sua visão revolucio-nária, e a ultima parte conta de forma mais apronfundada os pensamentos e as preocupações dos Smithsons. III. 1. Peças do Mies Durante a viagem de Peter Simthson a ITT, ele vai mantendo o contacto coma a sua mulher, Alison Smithson, onde conta que está maravilhado com todas as obras de Mies. Descreve Lake Shore Drive com todos os detalhes construtivos que tanto lhe prenderam a sua atençao. Para Peter Smithson, este edifício é sem duvida o Parténon de Mies. Critíca também o facto de utilizar a pintu-ra como um elemento que encobre a realidade do material. “Las cosas viejas no pueden parecer nuevas” 7, chama a atenção para o uso do verniz mate no edificio Harkness Commons, pois facilita a limpeza do betão. Elogia o uso do betão no tijoto, assim como o aluminio nas caixilharias, opina ainda sobre o seu aspecto pobre, desvaloriza estes materiais. Segundo ele, deve eliminar-se ou se é possivel minimi-zar-se a emissão de dióxido de carbono nas cidades, considerando isso uma marca do ser civili-zado. Encontra-se na obra de Mies em Chicago, um exemplo de simplicidade e uma imensidão de luz, transmitindo uma sensação de amplitude, nas partes públicadas que Peter Smithson encontra em Carman Hall, tão comuns em Mies. Ele reflecte ainda sobre os edificios actuais, que nos espaços comuns resultam de uma forma muito interesante, têm varias conexões subteis. Considera a Lafayette Park um ideal de desenho urbano, por estar inserida num espaço tranquilo, com espaços abertos e bem estruturados, separa as circulaçoes rodoviarias das pedonais de uma forma muito subtil. Este podera ser um modelo a seguir para poder conviver melhor com o trafégo rodoviario. Peter Smithson estudou durante um breve periodo de tempo a casa Farnsworth, permitiu-lhe per-ceber as formas como se desenrolavam os novos modos de habitar a luz. É algo que também é evidente na casa-estudio dos Eames, assim como na de Solar Pavilion. Estas três casas, aceitaram a luz, e controlaram-a através de cortinas. Outras questões em comum são o uso da “plataforma” como um elemento estável e com uma posição própria no terreno, que acaba por se tornar numa forma de habitar adequada. Outra obra de destaque para Peter Simthson foi o pavilhão de Barcelona, cuja sua materialidade, o deixou surpreendido, pois apenas tinha conhecido a obra através de imagens, a branco e preto. E de facto ao vivo permitiu-lhe apreciar todo aquele jogo de texturas, cores e materiais do pa-vilhão. III. 2. Sonhos dos Eames

Durante os anos 50, os irmãos Eames, revolucionaram para sempre o mundo do design, com al-gumas mesas e uma casa. Mas as famosas cadeiras, foram as grandes impulsionadoras das grande mudanças. Passaram a ser uma tendencia mundial, reconhecida por todos, por exemplo o estilo “Eames”, nas fotografías, enaltece o enquadramento e a paixão pelo objecto fotografado. Nos anos 40, os Eames concetraram-se numa visão mais cinematográfica e tecnológica da pro-dução aerodinámica, rompendo os esquemas estabelecidos desde os anos 20, que se centravam na estética da máquina. Os Eames centram-se em objectos do quotidiano.

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Smithson, A. & P.,traduzido por Sofía Estevez. Cambiando el arte de habitar. Editorial Gustavo Gili. 2001, 8. 9


Fig. 13 - Eames: casa-estudo

Fig. 14 - Eames: cadeira de grelha de arame. 1951-1953

Fig. 16 - Molino de vinto Challenge de acero

Fig. 15 - The economist. 1959-1964

Fig. 17 - Eames: jogo de cartas ilustradas House of cards


No que toca, ao design das cadeiras dos Eames, estas foram as primeiras a ser parte integrante do utilizador e não apenas do edificio, como ía acontecer com as obras de Mies, Le Corbusier, A. Aal-to, Stam, Rietveld o Breuer. A cadeira afastava-se do estereotipo rectangular, foi a primeira a estar disponivél em varias cores. Para a sua fixação, é utilizado um sistema com fios de arame, como se fazia em sistemas do sector aeronaval. O seu design deve-se em grande parte às estruturas metálicas dos moinhos de vento típicos do estado americano, que acompanharam a infancia dos Eames. Os Eames caracterizam-se por um modo de pensar despreocupado, centrados nos ideais de “faça você mesmo”, o uso dos fantásticos catálogos e a recuperação de materiais… “trabajaban con un estilo que resulta, al mismo tiempo, artesano y principesco” 8 A sua casa-estudio estava situada num local carente de qualidade, apesar disso os Eames dota-vam de um espaço de uma qualidade e visão do seu próprio estilo. É ese mesmo estilo que terá influenciado o mundo. Centra-se numa estética industrializada, com formas rectangulares que se repetem, são de facto uma herança dos anos 30. A casa foi publicada na revista Arts and Archi-tecture em 1945, na qual participavam em colaboração com Jonh Entranza. Em relação à exposiçao itenerante dos Eames, The World of Franklin and Jefferson, que serviu para celebrar o bicentenario da revolução das colonias dos Estados Unidos em 1975, nela se expuseram não so elementos singulares mas tambem introduçao à preocupaçao com o pormenor, con-seguindo assim converter o simples visitante num investigador. Com os Eames termina-se o periodo dos anos 30, um periodo em a ciência pura é o venerado. O verdadeiramente importante para a ascensão da ideología dos Eames, foi a house of cards deles, nada mais que um jogo de cartas que se encaixam entre si, com ilustrações que seguem a linha dos Eames. III. 3. Os Smithsons

Na exposição colectiva “Patio and Pavilion”, os Smithson trabalharam sobre as dimensões do há-bitat mínimo, em busca das necesidades básicas do ser humano: “un pedazo de tierra, intimidad, la presencia de la naturaleza y de los animales cuando los necesita, expandirse y controlar, mo-verse.” 9 Ao contrário do purismo e da Bauhaus, os Smithson consideram que o mobiliário nao é um “equi-pamento”, mas foi como um qualquer mobiliário de outra época, era projectado e desenhado como parte integrante da arquitectura. Assim os Smithson aprofundaram estudos do desenho da cozinha moderna, estabelecendo que a cozinha do arquitecto moderno devera ser simples e pouco equipada. O que traduzia um problema de organização, pois as dimensões dos electo-domesticos da época eram grandes demais. Durante os anos 50, a preocupação com o espaço e a sua organização persistía, sobretudo por parte dos CIAM. Os jovens arquitectos estavam impressionados com a capacidade de resolução de Corbusier, como é possivel observar na cozinha da unidade de habitação, pois é dada tanta importancia à cozinha como aos os pilotis. A produção em série, estava cada vez mais enraizada na sociedade, mas sem o consentimento da vanguarda tradicional. Para os arquitectos da época, foram “levantadas” questões como a da produção das casas em massa. Este tipo de pensamento chocou muito com o movimento moderno, mesmo que sendo um movimento que procurava a inovação/tecnología era puro de-mais. Em referência ao edifício The Economist, os Smithson afirmam que isto foi um câmbio nas suas ati-tudes em relação com as máquinas e às instalações. É aquí que começam a sentir interesse pelos desenhos de Citröen/Braun. Para os Smithson, a habitação ideal é aquela que não precisa de modificação, por parte dos que a habitam, mas sempre envolvidos nos limites da moda no mo-mento. Mas procurar este ideal, foi o principal objectivo dos últimos anos. Em relação a este ideal consideravam a rua no ar (streets in the air) como uma forma capaz de articular, pouco a pouco o conceito de “casa-ideal”. Esta ideia da rua no ar, aplica-se no Robin Hood Gardens, destinada à circulação horizintal. Nestas ruas é onde se dispoem as entradas das habitações, gerando assim um espaço de relação, de conexão e de serviço. Os carros mantêm-se subterrâneas mas sempre visiveis. Estas ruas subterrâneas, servem para reter o som dos carros, assim como promover a sepa-ração da circulação rodoviaria da pedonal. Na questão da materialidade do edifício, este é composto de betão. 8 9

Smithson, A. & P., traduzido por Sofía Estevez. Cambiando el arte de habitar. Editorial Gustavo Gili. 2001, 82. Ibid, 82.

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Fig. 18


Ainda que há uma distinção entre o betão, que vai ser visto ao perto, do que vai ser visto ao longe. Deste modo, o primeiro vai ser polido para que o toque possa ser suave, e que também se possa limpar com facilidade, enquanto o outro vai ser rugoso e aspero. As caixilharias em madeira, também fazem esta distinção, interiormente a madeira mais nobre e sem nós, vai ser polida. A caixilharia exterior é pintada com verniz que sugere o polimento, e a pintura suce-sivamente para a sua manutenção. Este tipo de habitações sociais foram muito comuns e tiveram grande importância neste periodo posterior à segunda guerra mundial. Depois da “máquina de habitar”, conceito de Le Corbusier, a geração dos Smithsons herdou o período maquinista do movimento moderno, ainda que amplia-do, revivendo o verdadeiro conceito da “máquina”.

IV A obra em questão: Robin Hood Gardens

Robin Hood Gardens, além do edifício The Economist, é a obra icónica dos Smithsons, mas também, uma tentativa de concretizar as teorias elaboradas no projecto do Golden Lane. O conjunto de habitações sociais foi construído entre 1968 e 1972, num projecto de regeneração em Blackwall Reach - Poplar, no leste de Londres, encomendado pela Câmara Municipal. O quarteirão fica entre vários elementos históricos de referência do bairro (o East India Dock, uma via férrea dos anos 1840), remanescentes do amplo desenvolvimento industrial daquela parte de Londres e na proximidade de uma dos mais importantes referências urbanas, o rio Thames ao sul. Além destes parâmetros, o trafégo intenso da área levanta inúmeros problemas de poluição, tais como, barulho, saúde e, protecção dos peões e dos habitantes do quarteirão. Foi a partir destas condições que os Smithsons elaboraram a ideia de um projecto que carrega a responsabilidade da regeneração urbana, não só criando espaços públicos de qualidade, como também, tendo em conta as possíveis mudanças da cidade e do bairro: “We realised we're in a situation of flux and change, that life has gone to historical fixes on the site and the ships on the Thames are literally passing [...]. We realised you have to be strong enough to be self-supporting, big enough to be self-supporting, that you have to carry the full responsibility for renewal of your part of the district and ultimately of the city.” 10 Ao mesmo tempo, e antes de elaborar uma proposta pertinente, os arquitectos fizeram um amplo estudo dos fluxos pedonais, dos carros e das "linhas de desejo" (desire lines/paths), que tanto definem o espaço público, como as várias circulações existentes no terreno. São eles mesmo que decretam, ao início da entrevista sobre o Robin Hood Gardens (The Smithsons on Housing, 1970, Londres, realizado por B.S. Johnson para BBC), que o objectivo geral, de cada projecto deles, não só é ligar estas “linhas de desejo” (fig. 18) das pessoas do bairro, mas também todos os elementos com potencial desenvolvimento urbano. “Our general objective when we get a new site is to nip together what is good in the surroundings by the insertion of a new building, to inject thereby new life, even into buildings and things that are old and tired.” 11 Portanto, a proposta consiste em dois edifícios cumpridos, com ângulos que se adaptam as linhas das ruas do arredor, criando, no centro, um espaço verde protegido - “The buildings themselves have been deliberately organised to create an area in the centre of the site protected from noise, a stress-free zone. ” 12 (fig. 19,20) O edifício a leste é o mais alto, com 10 pisos, sendo que o outro, para além de ser mais cumprido e baixo, tem apenas 7, existindo, entre eles, uma colina que atinge a altura do segundo piso. Construída em cima dos restos dos antigos prédios que foram demolidos, tem várias funções: zona de lazer, jardim para os residentes, área para crianças etc. A sua presença é forte e, na ideia dos Smithsons, consegue fazer a ligação dos dois edifícios, fazendo com que actue como um elemento de confluência social. 10 11 12

Smithson, A., 1970, The Smithsons on Housing, BBC Ibid. Smithson, P., 1970, The Smithsons on Housing, BBC

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Fig. 22

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Fig. 24


Por consequência do barulho do tráfego, os apartamentos ficam orientados para este espaço, sendo que o outro lado contém a circulação e os acessos aos apartamentos. Assim, de um lado assegura-se a intimidade dos habitantes, do outro mantém-se uma permanente ligação com a cidade. Estas circulações exteriores seguem o conceito do street in the air, que se encontra no Golden Lane, foram criadas como uma zona de encontros, de interacção e funcionam como um mecanismo que liga a comunidade dos habitantes. A largura delas, de quase três metros, possibilita um percurso fácil, um fluxo maior de pessoas, a possibilidade de parar para conversar com o vizinho e, ainda, um espaço de brincar para as crianças. Na proposta dos Smithsons, estes passeios tentam criar um lugar as found, com todas as qualidades das antigas ruas e espaços públicos dos bairros antigos e mais íntimos de Londres: consolidam a comunidade, são seguros para os pequenos, têm uma ambiência familiar e actuam como filtros entre o público e o privado. A ideia dos arquitectos era conceber uma “rua no ar” no sentido daqueles ruas as found: “ The street implies a physical contact community [...], the idea of the street has been forgotten: creation of group-spaces fulfilling vital functions and making the life of the street possible.” 13 (fig. 22) O acesso aos apartamentos fica numa entrada destes passeios e constituem o que os Smithsons chamam eddies (pequenos espaços mais privados) : “On the decks there are what we call eddie places, outside the front doors, where the dwelling takes a piece of the deck for itself [...].. This eddie place is out of the general flow of the movement along the deck.”14 Depois da entrada, os apartamentos têm uma circulação vertical, que funciona, também, como um separador e isolamento fónico entre os quartos e a parte mais ruidosa comum ao edifício. Então, os quartos ficam virados para o centro do quarteirão, conseguindo, assim, um espaço silencioso e uma vista para o espaço verde. “The idea that one can have rooms or chambers there, looking out to this quiet, tree-filled central area is marvelous. ” (fig. 23) 15

O desenho das habitações foi feito minuciosamente, prestando muita atenção à qualidade do ambiente. Os 213 apartamentos, de cinco configurações diferentes, de Robin Hood Gardens, são, ainda hoje, considerados espaços espaçosos e bem configurados, em comparação com edifícios de habitação colectiva ou social de hoje. Os Smithsons propõem uma mistura de unidades residenciais de um ou dois pisos, tendo sempre uma configuração espacial subordinada ao percurso do público ao privado, do lado barulhente da cidade ao lado da zona de bem-estar (o que eles chamam a stress-free zone). As unidades de residência têm três ou quatro quartos, cozinhas concebidas de tal maneira que podem adaptar-se aos futuros electrodomésticos e possíveis formas de mobiliário, mantendo o carácter do ambiente. (vé o capítulo Changing the Art of Inhabiting): “Its form will respond, we hope, to the way people want to live now with their equipment, their domestic appliances and their cars. [...] To the people that live in it, it offers a place with a special character, which will release them, change them, and be capable of being lived in generation after generation... ”16 No contexto da Inglaterra de pós-guerra, as habitações colectivas foram o símbolo do progresso e dos esforços da Câmara Municipal, pelo que reconstruíram a cidade com uma visão focalizada nos espaços públicos e comuns, em habitações maiores, bem equipadas e mais modernas. Os anos 60-70 foram testemunhas do desenvolvimento das obras brutalistas icónicas, como o Torre Balfron (que fica a norte do Robin Hood Gardens). O betão, na altura, não era só mais barato, também permitia uma expressão honesta da estrutura. (fig. 24) Os Smithsons sempre acreditaram nesta sinceridade da estrutura, portanto o Robin Hood Gardens foi concebido de tal maneira que se consegue perceber a compartimentação dos edifícios. A horizondalidade deles está aquietada pelos pilares que preenchem os alçados, dando uma ritmicidade característica. Estes pilares têm três funções: estrutural, refração do barulho e referência à estrutura visível de Mies van der Rohe, que influenciou muito Peter Smithson, depois da sua visita aos Estados Unidos. O assunto da protecção da poluição sonora e da privacidade dos moradores transforma-se no "laitmotive", no fardo da obra. O que pretende ser uma solução aos problemas do terreno, acaba por ser, muitas vezes, mais uma peça que fecha a comunidade, que só consigue distanciar os habitantes da cidade e criar uma gated community. (fig. 25)

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Smithson et al., Team X Primer, 1974, Cambridge, The MIT Press. Smithson, P., 1970, The Smithsons on Housing, BBC Ibid. Smithson, A., 1970, The Smithsons on Housing, BBC

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Fig. 25

Fig. 30

Fig. 25


Por exemplo, os Smithsons propõem um muro alto de 3m entre os passeios pedonais e as ruas, para protecção acústica, com placas verticais de betão que refletem o som. Mesmo que as placas fiquem num ângulo que permita a ligação visual com a rua, o muro tem a aparência de um limite que cerca um lugar inacessível, um ambiente hostil. Os alçados, do lado da rua, têm menos vazios que os restantes virados para o interior do quarteirão, que deixam a impressão de uma construcção fechada, introvertida. Finalmente, na obra Robin Hood Gardens, os Smithsons tentam seguir a ideia de criar comunidade, movimento, relações etc., a partir dos conceitos anunciados no projecto de Golden Lane, no entanto, acabaram por mudar certos pormenores, devido ao desafio do contexto, que comprometeu a obra, acabando por ter o efeito oposto.

V. Reality Check - Shifting Ideas

O Robin Hood Gardens foi a oportunidade dos Smithsons para implementar o found Aesthetics e tudo o que desenvolveram durante os anos em CIAM, Team X, IG. Mas se analisarmos com atenção o Golden Lane e o Robin Hood Gardens, vamos observar a discrepância entre a teoria deles, as ideologias em quais acreditaram tanto, e a obra construida. Na proposta por o concurso, os Smithsons apresentaram as ruas no céu largas, abertas, com ár fresco e luz; a ligação com o espaço privado fazia-se pelas escadas que chegam nas entradas de cada apartamento. Desta maneira, passava-se gradualmente do espaço publico até chegar-se ao privado. (fig. 26) Na obra edificada as ruas são, basicamente, um tipo de corredor exterior, apertado e em relação directa com as portas e janelas de cada apartamento, portanto a questão de privacidade foi prejudicada. Também, não há ninguem a sentir-se responsável por estas ruas, nem não são adequadas para ser usadas com succeso. (fig. 27) Outra diferença é a orientação das ruas que mudou. Na proposta do Golden Lane e mesmo numa corte incipiente (fig. 27) por o Robin Hood Gardens, as ruas são por o lado do pátio, criando uma ligação visual com todo o conjunto. Em realidade, a construção tem as circulações horizontais viradas pelo o exterior do projecto, na direção das ruas onde é barulhento. Esta mudança foi feita para deixar os quartos por o lado mais agradável mas as consequências foram pessimas. Os Smithsons declararam na entrevista por o BBC que as ruas no céu eram um espaço seguro onde as mães podem passar o tempo enquanto vigiar as crianças que brincam no jardim, mas no final, as ruas acabaram por ser perigosas e nojentas. Há uma rua no ar à cada três pisos de cada edifício do Robin Hood Gardens, e a circulação vertical faz-se no fim deles, por cada lado, num volume maciço que obstruia a vista, em contradição, de novo, com a proposta do Golden Lane. Os Smithsons propõem as ruas do concurso como uma forma de sistema, onde todas eram conectadas mas depois constrõem, basicamente, corredores isolados, muito parecidos com esses do Unité d´Habitation que tanto criticaram. Os Smithsons desenham por Robin Hood Gardens uma colina no pátio (fig. 30), de dois andares altura, ofrecendo como explicação que assim, podem ficar seguros que o parque não vai ser transformado em campo de futebol. Se fosse de lembrar-nos da fase do Independent Group, nessa altura estavam impressionados pelas brincadeiras das crianças. Além disso, a colina desencorage as coneções, assim como pode ver-se no desenho do Van Eyck. (fig. 29) O Golden Lane era uma sistema planeada como um objecto na cidade, pérvio e accesivél. Para o Robin Hood Gardens, os Smithsons delimitaram o projecto com uma parede de betão para reduzir o barulho, mas desta forma isolaram o projecto da vida da cidade e bloqueram qualquer forma de expanção ou comunicação. Na entrevista, Smithsons on Housing por BBC, eles dizem: “We tried to overcome the problems of this high level of traffic noise in a number of ways. At the edge of the backline of pavement, as near as we can get to the source of the noise, we've put an acoustic wall which is higher than motorcars, which throws the noise back towards the road, instead of allowing it to pass thought towards the building. But to stop it looking like a prison, the wall panels have angled gaps between them so, if you walk along, you can keep seeing though, but there's no direct path for sound to pass through.” 17

A verdade é que mesmo se não foi esta a intenção deles, isto parece uma prisão. (fig. 25)

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Smithson, A., 1970, The Smithsons on Housing, BBC

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Fig. 26 - streets in the air Golden Lane

Fig. 27- Streets in the air - Robin Hood Gardens

Fig. 28

Fig. 29 - Aldo van Eyck


Existe também uma discrepância social entre a proposta do Golden Lane e o obra construida, que se deve, especialmente, à localização tão oposta – o Golden Lane situava-se no City of London, que é a area central da cidade, enquanto, o Robin Hood Gardens fica no bairro Poplar, um dos piores de Londres, com muito má reputação. Mas, mesmo assim, a ideia de homogenidade social, tão forte em Golden Lane, aqui já desvanceu, ou seja, só existem cinco tipos de apartamentos que diferem só por o número de quartos e nada a ver com a qualidade da habitação. Este estudo comparativo esclarece o antagonismo entre teoria e obra construida dos arquitectos Smithsons, por o menos, neste assunto da arquitectura como arte social. As suas ideologias e manifestos, a proposta inovadora são admiravéis, mas é indubitável a falha do o que tinha de ser o Robin Hood Gardens. Não é de culpar só os arquitectos pelas suas decisões porque as circumstancias também jogaram um personagem imperativo em este epísodio do século XX.

VI. Um exemplo que funciona: o Barbican

O Barbican foi construído na mesma época, entre os anos 1965-1976, numa zona mais perto do centro de Londres, no bairro City of London. O terreno da implantação, como no caso do Robin Hood Gardens, continha, também, muitas construções antigas, desamparadas, e ficava, basicamente, numa zona que ainda tinha resquícios da Segunda Guerra Mundial. Os conceitos que ficam na base da construção vão de encontro às teorias dos Smithsons: criar espaço público activo, que atrai as pessoas, proteger os moradores do barulho e da vida febril das ruas ao redor e de se integrar na malha da cidade, de funcionar juntamente com os outros pontos de referência da proximidade. A obra dos arquitectos Chamberlin, Powell e Bon que, ironicamente, ganharam o concurso pelo Golden Lane Estate. O Barbican é uma dicotomia construída: a percepção do exterior muda completamente no interior do conjunto de habitações. Com uma aparência fechada, introvertida, quase de fortaleza no meio da cidade (por causa do aspecto um pouco agresivo e forte dos edifícios, que fazem referência aos antigos baluartes), no interior o conjunto abre-se completamente: contém todas as funções necessárias para os habitantes, jardins, espaços para crianças, teatro, cinema etc. As entradas, no interior, são difícieis de encontrar pelos entrageiros, contudo, estão dispostas de tal maneira que coincidem com “as linhas do desejo” dos moradores, pelo que, os acessos se realizam com naturalidade. Os apartamentos estão orientados para os jardins e vários espaços públicos, sendo que a verdura e a água têm uma importância enorme para a definição do ambiente. Concluindo, o Barbican tem um carácter extrovertido em relação ao conjunto e, um carácter introvertido para a cidade, assim, devido a isto, funciona bem, ficando na memória dos londrinos como um ícon da regeneração depois da guerra.

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Fig. 31- Barbican

Fig. 32 - Barbican

Fig. 33 - The Economist


VI. 1. Espaço público no Economist

Sede do jornal The Economist, o edifício foi construído entre 1959 e 1964, quatros anos antes do Robin Hood Gardens. Mesmo se o programa e a localização (The Economist fica perto de Picadilly Circus, uma das zonas mas caras de Londres) são completamente diferentes, o conjunto de três prédios tem uma coisa em comum com o conjunto de Poplar: a preocupação pelo espaço público. Neste caso, o que acontece ao redor da obra é tão importante como no interior: sendo uma sede de um jornal prestigioso, qualquer pormenor faz a diferença e todo o espaço exterior tem uma função de representação, convidando as pessoas, como um ponto de confluência social. Há uma grande diferença de escala entre as duas obras, e isto não se vê só no sentido do edificado: o espaço público do Economist está numa escala mais humana (com pormenores ao nivel do chão, das paredes, das escadas, sem elementos agresivos demais como a colina do Robin Hood Gardens, e liga o edifício do resto da cidade através dos materiais e da ritmicidade da estrutura, enquanto o outro tem um vazio verde enorme no meio que não convida, e que actua como um elemento de separação, tendo ao redor só elementos de segregação (não só visuais, mas também psicológicos) entre as habitações e a cidade.

VII A (inevitável) demolição

O "housing boom" dos anos 60, depois do restabelecimento da economia da Inglaterra a seguir a Segunda Guerra Mundial, deixou para atrás uma herança de edifícios brutalistas, em condições questionáveis. O desenvolvimento das torres de vidro e dos grandes bairros de negócios e escritórios de hoje alteraram a imagem dos antigos edifícios brutalistas na percepção dos londrinos, que os veem como monstruosidades de uma época já passada, como uma má lembrança. Há exemplos que conseguiram entrar na lista de monumentos elaborada pelo English Heritage, como a Torre Balfron e o Barbican, cuja manutenção sempre foi, cuidadosamente, feita, e que finalmente conseguiram o consentimento do público. O Robin Hood Gardens, apesar de ser uma obra construída a partir de uma base teórica notável e com boas intenções de regeneração, não consegiu ficar na lista dos monumentos. Em 2008, a associação English Heritage recusa a listagem da obra, dividindo a opinião pública em duas: a maioria da população, que exige a demolição do edifício, e um grupo menor, geralmente constituído por arquitectos, que exige a listagem e a restauração do Robin Hood Gardens. Foi a partir daqui que começou a polêmica sobre a valor da obra e a tentativa de esclarecer se foram os arquitectos que erraram no planeamento da habitação ou se foram as circunstâncias econômicas, políticas e sociais que causaram a falha dela. A maior crítica da obra é o facto de que ela nunca funcionou como a utopia da comunidade dos moradores que os arquitectos prenunciaram. Neste sentido, a maior culpa deles foi pôr os elevadores que ligam as streets in the air pela direcção vertical, desencorajando a interacção entre os moradores de diferentes pisos. Na realidade, as diferenças culturais entre os vários imigrantes que moraram lá, a má reputação e o mau aspecto do bairro ”When we take foreign visiting architects around these sites, they are literally horrified of the amount of vandalism we see.” , a aumentação geral do número dos delitos na Inglaterra dos 18 anos 70 e a negligência das autoridades foram razões mais fortes que levaram a degradação rápida dos Robin Hood Gardens. “But does design cause crime?” - é uma boa pergunta nesta polêmica. Obviamente que um 19 encorajar os delitos (por causa dos espaços sem luz natural, mau desenho de uma obra pode corredores, muros cegos, acessos difíceis etc.), mas a falta do envolvimento da comunidade e das autoridades no desenvolvimento destes tipos de habitações, a falta de interesse da Câmara Municipal

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Smithson, A., 1970, The Smithsons on Housing, BBC Wilkinson, T., 2014, Robin Hood Gardens: Requiem For A Dream, The Architectural Review

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pela manutenção e, simplesmente, a localização do projecto, num bairro com muitos problemas sociais desde o início - todos estes problemas contribuíram para os problemas do Robin Hood Gardens. Hoje em dia, os edifícios em questão não são os mais seguros, nem o lugar mais limpo, e isso deve-se às pessoas, não só a arquitectura. “Smashed windows, graffiti, pee and even feces in the lift are part of the Robin Hood neighborhood everyday life.” 20 Também há irregularidades do ponto de vista da construção, por causa dos investidores e mudanças de orçamento pelo projecto, além de algumas contradições entre a obra teórica, do Golden Lane, e a obra final, de Robin Hood Gardens (vé o capítulo Reality Check - Shifting Ideas). Os Smithsons falam sobre a importância da integração do edifício na malha urbana existente, mas propõem uma presença monumental que domina os prédios ao redor, criando aquela impressão de fortaleza inacessível no meio do tráfego caótico de Poplar. Em cima disto, se a stress-free zone é um espaço verde acolhedor, apesar da presença talvez um pouco forte demais da colina, o resto da paisagem é austera, severa, barulhente e indiferente à vida que corre dentro das paredes do Robin Hood Gardens. No final, são mesmo os Alison e Peter Smithson (na entrevista para The Smithsons on Housing, realizada enquanto a construção estava para terminar) que admitiram que talvez fosse impossível de enfrentar e resolver todos os problemas de cariz administrativa, econômica ou de comportamento antisocial que podesse surgir, como se tivessem previsto o que ía acontecer. Ela diz, acabrunhada: “Society at the moment asks architects to build these new homes for them, but, I mean, this may be really stupid, we may have to rethink the whole thing, it may be that we should only be asked to repair the roofs and add the odd bathroom to the industrial old house and just leave people where they are to smash it up in complete abandon and happiness so that nobody has to worry about it anymore.”21

20 21

Malka, L.,2014, Alison and Peter Smithson - The Shifts of Ideas from the Golden Lane Proposal to the Robin Hood Gardens (1952-1972), 2. Smithson, A., 1970, The Smithsons on Housing, BBC 25


Bibliografia

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MAGEE, T. (2015), Politician calls for immediate demolition of Robin Hood Gardens after listing bid fails, Dezeen. http://www.dezeen.com/2015/08/05/politician-calls-immediate-demolition-robin-hood-gardens-listing -bid-fails-historic-england-brutalism/

MALKA, L. (2014), Alison and Peter Smithson – The Shifts of Ideas from the Golden Lane Proposal to the Robin Hood Garden, Seminar Architectural Studies at Technion Israel Institute of Technology, Haifa, Israel. PARNELL, S. (2012), Alison Smithson (1928-1993) and Peter Smithson (1923-2003), The Architectural Review.

http://www.architectural-review.com/rethink/reputations/alison-smithson-1928-1993-and-peter-smithson-19232003/8625631.fullarticle

SMITHSON, A. & P. (2001), The Charged Void: Architecture, New York, The Monacelli Press. SMITHSON, A. & P. (2001), Cambiando el arte de habitar, Barcelona, Editorial Gustavo Gili. SMITHSON, A., et al., (1974), Team 10 Primer, London, The MIT Press. SMITHSON, A., et al., (1990), The Independent Group: Postwar Britain and the Aesthetics of Plenty, London, The MIT Press. SMITHSON, A. & P. (2004), Alison and Peter Smithson - from the House of the Future to a house of today, Edited by Dirk van den Heuvel and Max Risselada, Rotterdam, 010 Publishers WILKINSON, T. (2014), Robin Hood Gardens: Requiem For A Dream, The Architectural Review Documentaries. https://www.youtube.com/watch?v=j5xEzkQDtQ8

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