Distribuição Gratuita ABRIL/2009 SUA DOSE MENSAL DE (R) EVOLUÇÃO cult ur ahiphop .uol.c om.br/bolet imdok aos cultur urahiphop ahiphop.uol.c .uol.com.br/bolet om.br/boletimdok imdokaos
ÚLTIMAS
PALAVRAS Lourenço Mutarelli LANÇAMENTOS
Pág.10 “...até ler o livro “Capão Pecado” do Ferréz e me deu muita vontade de escrever”
tudo de interresante antes que o mundo acabe!
LITERATURA CINEMA MÚSICA
PÁG.09 ESCRITOR MARTINHO DA VILA PÁG. 11 EVENTOS TEXTOS PÁG. 12 RAPPIN HOOD TATA AMARAL
PÁG. 13 CARLOOS MOORE PÁG. 14 Pág.06
Pág.05
Pág.04
A PRODUÇÃO CULTURAL DAS RUAS!
GR ANDES H OMENS GRANDES HOMENS A HISTÓRIA MARGINAL! PÁG.09 AM SLAM SPOKEN WORD - SL PÁG.14 O MOVIMENTO MUNDIAL DOS SARAUS
PLÍNIO MARCOS à SACOLINHA PÁG.15
ONG QUE REPRESEN TA PÁG.10 REPRESENT PR OTES TO! Por uma editora pública! PÁG.08 PRO TEST
Colecionador de Pedras Sérgio Vaz “No meio de uma terra devastada pela canalhice plantada a tantos anos, alguém quer semear a poesia e certamente colherá incompreensão. Se outros poetas pedem silêncio, ele pede mais barulho. Se outros escritores pedem paz, ele quer é guerra”. Ferréz
Guerreira
Alessandro Buzo “Guerreira é acima de tudo a literatura feita por Alessandro Buzo. E por uma turma inteira que tomou as letras brasileiras. De assalto não. Epa! Tomou de direito. No parágrafo e na raça. Bem-vindos sejam todos a este Brasil profundo e teimoso que Alessandro Buzo vem nos apresentar”. Marcelino Freire
85 Letras e Um Disparo
Sacolinha “Estamos diante de um talento nato. A linguagem ficcional brota dele naturalmente, sem frescuras (...). Sacolinha ainda é jovem, tem um longo caminho pela frente. Pois eu digo: acompanhem-no neste caminho. Ele levará vocês ao encontro do Brasil verdadeiro” Moacyr Scliar
De Passagem Mas não a passeio
Da Cabula
Dinha
“O texto de Allan da Rosa quer e consegue dinamitar e implodir as torres desta sociedade excludente. E o faz com as flores vermelhas de seus versos, frases, diálogos e cenas. E é assim que sua fervorosa e vigorosa arte caminha para transcender a periferia e chegar aos grandes palcos”. Nei Lopes
“Essa autora é radical no sentido mais criativo que essa palavra possa ter quando o assunto é a circulação de seu “bebê”. Pois antes de ser papel, de ser fanzine, antes de ser um livro, esse discurso circulou oralmente pela comunidade por iniciativa dela e por isso o público começou a pedir o escrito. Isso foi livro vivido antes, compartilhado. Era um escrito que falava por mais gente, talvez por quase toda gente”. Elisa Lucinda
Allan da Rosa
Salve amigos (as), mais uma vitória da Litera-Rua. Agora teremos mensalmente um jornal de conteúdo literário, e o melhor, distribuído do centro à periferia, gratuitamente. O espaço vai mostrar a produção da Literatura Marginal, guia de eventos e saraus, textos inéditos, dicas de livros; só nessa edição são mais de 36 indicações literárias. Além de circular em São Paulo, temos parceria em diversos estados do Brasil, Brasília (GOG), Rio de Janeiro (Afroreggae, Enraizados e CUFA), Maranhão (Clã Nordestino), Minas Gerais (NPN), Salvador (Blackitude) e muitos outros que formam essa corrente que veio para mudar a cara da produção cultural do país. “A evolução é uma coisa!”, dizia o poeta Helião (RZO). Depois de mais de 150 números do fanzine, o Boletim do Kaos muda de cara e se transforma num jornal com uma nova concepção gráfica e editorial tratando de maneira atual, e crítica, assuntos relativos à literatura, cinema e cultura em geral.
Com o intuito de ser uma ponte entre o público, os escritores e produtores culturais, o Boletim do Kaos tem tiragem inicial de 10.000 exemplares, mostrando as novas propostas de quem está ®evolucionando a produção cultural brasileira onde a responsabilidade social tem papel fundamental. Colocando mais tempero no circuito cultural, o jornal nas ruas e com sua versão on-line vai divulgar a produção Literária levando as idéias, os projetos, os saraus, os eventos, os livros, os filmes, os quadrinhos, as emoções, e os sonhos de quem produz cultura e acredita numa mudança. Alessandro Buzo e Alexandre de Maio Editores Agradecimentos: Itaú Cultural, 1 Da Sul, Ação Educativa, DGT, Cooperifa, Marques Rebelo, UOL, Site Catraca, Site Cultura Hip-Hop, Revista Cultura Hip-Hop, Revista RAPNEWS e Revista Graffiti, Sérgio Vaz, Gag, Tony, Falcão, Cabelo, Falco, Nelson Maca, Eliane Brum, Ferréz, Sérgio Vaz, Allan Da Rosa, Sacolinha, Wesley Noóg, Eleilson, Jairo (Periafricania).
Alexandre De Maio é editor de publicações de Hip-Hop pela editora Escala e Minuano, colunista da Revista Raça além de fazer história em quadrinhos - alexandre.de.maio@hotmail.com Alessandro Buzo, é autor de vários livros, blogueiro nato e apresenatdor do quadro “Buzão - Circular Periférico” na TV Cultura - alessandrobuzo@terra.com.br
Texto: Alexandre De Maio Fotos: Marques Rebelo
iner, orge Ste ura de elite e G o ic cult crít eus, o erá da a que s europ o futuro não s o mostr s fo is o s o d ló s fi ue s. Tu grande firma q adrinho rária um dos ta” ele ainda a e os qu , V te T dos n a eira lite e o entem oteiris , com da carr m um Blog e to c r o e ã r m m s lé u s u a e o r , ia it r z p c te x e é r , s e o r V e e e m T r o sd ea de or F hakesp s novas forma o escrit ograma tos. “Hoje S enta pr tão cer ventos, da s s e e r e a, r e lo p a s a a u v r u , o ra ra zo itera-ru e fala d rumos da Lite seus sa uadrinhos; Bu es da L m m o o l. c n ia z c a is q s o V os cipa nça os novo poeta Sérgio os prin OX e la o compromiss O ta da F a três d iferia. ç e is r e h ia te n d o a ro us .C per cional é nto, a o ma nova cena ária da interna ral liter u m o tale u u a lt r m u a o c p c a o cen têm em o espaç Bem vindos à Litera-Rua. rcente Um nov e eferve a v o n a d s e rc os alice
érgio Vaz, o poeta da periferia, tem mais de 20 anos de poesia. O mentor da Cooperifa atingiu o auge da sua carreira literária com seu 5º livro“Colecionador de Pedras”que primeiro saiu de forma independente, mas no ano passado, foi relançado pela Global Editora, com distribuição nacional, na coleção “Literatura Periférica”. O lançamento coroou sua carreira na literatura, mas Sérgio Vaz, 42 anos, que é casado com D. Sonia, pai de Mariana, revolucionou a zona sul de São Paulo, mais precisamente no bar do Zé Batidão, e transformou o lugar num dos pontos culturais mais interessantes de São Paulo. O morador deTaboão da Serra, grande São Paulo, fez dos seus saraus momentos inesquecíveis, e ponto de encontro de pessoas interresadas em cultura e idéias inovadoras. No espaço, circula escritores, empresários, apresentadores deTV, poetas, rappers, donas de casa, e além ouvir grandes poetas, com toda essa diversidade, lá você sempre se sente em casa. Muito do sucesso se deve a Sérgio, um sujeito que gosta de gente, rua, abraço, sorriso, cerveja, futebol de várzea, de periferia, do dia a dia.Vendeu muitos livros de mão em mão, afinal são 20 anos e 5 obras publicadas. Viu, anos depois de lançar seu primeiro trabalho, o surgimento de uma nova cena literária na periferia, não podia, claro, ficar a margem disso e com os saraus virou um caça-talentos, deu palco para quem não tinha. Sérgio Vaz também ministra palestras, participa de debates, organizou uma coletânea intitulado“Rastilho da Pólvora” (2005) uma antologia poética do seu sarau que vamos falar mais a frente. Em 2007, a obra terá uma nova versão, com alguns autores do primeiro livro e outros novos. Além de seus livros, lançou o CD da Cooperifa, poesia em CD, assim como o primeiro“Rastilho de Pólvora”, contou com apoio do Itaú Cultural:“Muito bom tirar dinheiro de um banco sem usar uma arma”. Diz Vaz, um homem que acredita em coisas que muitos não acreditariam, por isso, realiza. Saúda os frequentadores do sarau com um forte: - Povo lindo, povo inteligente, é tudo nosso, tudo nosso !!!! O povo segue em coro. Começou a escrever porque não tinha muito, ou nenhum, talento para música, colava nos anos 80 com um grupo de MPB que se chamava “Clube da Esquina”, como ele não sabia tocar nada o pessoal dizia:“Escreve alguma coisa”. Ele escreveu e não parou mais, muita água passou por debaixo da ponte até o sucesso da Cooperativa Cultural da Periferia, a Cooperifa. Vaz tem um blog onde ele divide com a galera suas poesias e informações: www.colecionadordepedras.blogspot.com
O SARAU E SEU SURGIMENTO No ano de 2000, Sérgio Vaz “invadiu” uma fábrica abandonada e montou a Cooperifa, um lugar para os talentos“sem palco”. A Fábrica despejou a Cooperativa, depois tentaram um bar chamado Garajão, que acabou vendido, foi quando Cooperifa arranjou sua casa definitiva. Sérgio Vaz e o também poeta Marco Pezão, procuraram um novo lugar, o Bar do Zé Batidão, na zona sul de São Paulo, um local que no passado havia sido um bar e mercearia do pai de Sérgio Vaz, lá o famoso Sarau da Cooperifa cresceu, cresceu muito mesmo, chegou a vôos não antes sonhados. Virou um local frequentado por cerca de 300 pessoas por semana, toda quartafeira à partir das 20:00h o Batidão ferve, os talentos são muitos e para todos os gostos, uma febre cultural, centenas de pessoas na periferia que não passam a noite de quarta na frente daTV vendo novela, vão ver, declamar e ouvir poesias. Desde de dezembro de 2005, o Prêmio Cooperifa, premia 100 nomes, gente que direta ou indiretamente fazem algo pela periferia,“Aqui tiramos o R da palavra R-evolução” fala o poeta Vaz durante os Saraus. A noite é memorável e a cada quarta-feira na periferia da zona sul de São Paulo, os grandes poetas da atualidade dividem um pouco do seu talento. E um dia ficou pouco agora no Bar do Zé batidão temos sala de cinema ao ar livre. Os eventos ocorrem nas primeiras e terceiras segundas-feiras de cada mês, o "Cinema na laje” já é um sucesso.
PIONEIRO Sérgio Vaz é um dos pioneiros a lançar livros de forma independente, no distante ano de 1986 ele lançava sua primeira obra “Subindo a Ladeira Mora a Noite”, em 1991 seu segundo livro“A Margem do Vento”. Nessa época Vaz não conseguia atrair a mesma midia que consegue hoje, mas isso o ajudou a ter os pés no chão e não se deslumbrar, três anos depois, em 94, veio “Pensamentos Vadios”. Só 10 anos depois, em 2004, já na fase da Cooperifa, seu 4º livro veio para as ruas, intitulado “Poesia dos Deuses Inferiores”, e em 2006, para comemorar 20 anos de poesias, fez um apanhado dos quatro primeiros trabalhos e lançou “Colecionador de Pedras”. Vaz é um sonhador, mas sonha com os pés no chão.
eus livros o fizeram famoso, agora com programa de TV, em todo o brasil, ele é reconhecido. Mas Alessandro Buzo, conhecido pelos parceiros como Alemão, é a mesma pessoa. Alto astral, e amigo de todo mundo, o escritor que se lançou na cena literária em 2000, com o livro “O Trem Baseado em Fatos Reais” onde denuncia as condições e estórias dos trens da periferia em São Paulo. Em 2001, seu fanzine “Boletim do Kaos” que originou esse jornal passou a ser seu cartão de vista, principalmente dentro do hip hop. Na base xerox, Buzo já divulgava, grupos, textos e artigos sobre a cena cultural da periferia. No mesmo ano se destacou participando do especial CAROS AMIGOS/LITERATURA MARGINAL - Ato I, coletânea de textos de literatura marginal organizada por Ferréz. Muito mais que escritor Buzo sempre foi um agitador cultural, um livro e um fanzine era pouco pra ele. Em 2002, ele começou a escrever em diversos sites voltados à cultura hip hop, e começa a fazer palestras em diferentes bairros da periferia de São Paulo, além de concluir seu 2º livro, “Suburbano Convicto - O Cotidiano do Itaim Paulista”, que só veio a ser lançado dois anos depois. Mesmo com toda essa correria, Buzo estava prestes a ser tornar uma referência no mundo dos blogs e em 2003 iniciou a publicação do blog www.suburbanoconvicto.blogger.com.br, em pouco tempo ele se destacou pelo número de atualizações diárias e no mesmo período ocupou as páginas do especial CAROS AMIGOS / LITERATURA MARGINAL - Ato III. Em 2004, depois de algumas dificuldades, enfim, lançou o livro “Suburbano Convicto - O Cotidiano do Itaim Paulista”, que narrou o dia-a-dia de um grupo de adolescentes durante a década de 1980, no extremo da zona leste de São Paulo. Mas o agitador cultural não parava por aí, e mostrando seu compromisso social ele promoveu as três primeiras edições do evento “Favela Toma Conta”, para levar cultura e lazer ao seu bairro, Itaim Paulista, que tem mais 300 mil habitantes. Mais tarde, o evento se tornou referência no terceiro setor atraindo o patrocínio de uma grande empresa telefônica. A cada ano seus trabalhos vão se somando e em 2005, Buzo relançou “O Trem - Contestando a Versão Oficial”, participou do livro “Literatura Marginal - Talentos da Escrita da Escrita Periférica”, da Editora Agir, entrou no livro “Rastilho da PólvorA” e fundou a “Biblioteca Comunitária Suburbano Convicto”. Promoveu mais quatro edições do evento “Favela Toma Conta” e começou e escrever matérias para a Revista Rap Brasil, no mesmo ano ganhou o prêmio COOPERIFA pelo livro “Suburbano Convicto” e foi indicado na categoria hip hop “Ciência e Conhecimento”. Em 2006, retomou sua carreira e publicou o romance “Guerreira”, seu quarto livro, também começou a participar como arte-educador do programa “Fábricas de Cultura”, do Governo do Estado de São Paulo, levando oficinas de leitura às crianças de sete à dez anos, no Itaim Paulista, nesse período intensificou suas atividades sociais. Buzo iniciou oficina de leitura semanal, voluntária, com internos da FEBEM - Encosta Norte e participou da 19ª Bienal Internacional do Livro, no estande da FEBEM, em conjunto com os internos. Seguindo o projeto promove e organiza o 1º Concurso de Literatura da FEBEM. Seguindo com seu blog e seu evento “Favela”, Buzo não parou, e fez mais três eventos nesse mesmo ano e inaugurou mais um blog na net (www.buzoentrevista.blogger.com.br), onde faz entrevistas exclusivas com músicos, escritores e poetas.
Em parceria com a produtora DGT, inaugurou um espaço no site com entrevistas filmadas, com personalidades do universo hip hop. Ainda no final do ano ganhou o prêmio COOPERIFA 2006, pelo livro GUERREIRA, e é indicado ao Prêmio Hutúz 2006, na categoria “Hip Hop Ciência e Conhecimento”. Em 2007, com seu sucesso na internet, e sua grande produção cultural, o escritor lançou um novo blog (www.literaturaperiferi-ca.blogger.com.br) voltado para a literatura e continua escrevendo regularmente em cinco sites de hip hop, sendo quatro no Brasil e um em Portugal. Além da revista Cultura Hip Hop . O ano ainda não terminou sem que o agitador cultural assinasse contrato para o relançamento do seu livro “Guerreira”, com a Global Editora, e promoveu outras edições do evento “Favela Toma Conta”, 11ª em abril e 12ª em junho. Em parceria com sua patrocinadora, a marca Conduta, apresentador do evento “2º Conduta na Rua”, no Largo do Paissandú, Centro de São Paulo, e como repórter cobriu o “1º Encontro Norte de Hip Hop”, em Rio Branco, no Acre. Com tantas atividades é finalista do Prêmio Toddy de música independente, na categoria “Personalidade”. Ainda no mesmo ano, Buzo inaugurou no Itaim Paulista, a loja “Suburbano Convicto”, primeira no Brasil especializada em Literatura Marginal, fortificando cada vez mais o sonho de levar cultura para periferia. Para fechar o ano fez 13ª edição do evento “Favela Toma Conta”. Em 2008, Buzo já é uma referência da produção cultural periférica e ganha um grande espaço na TV Cultura, com seu Quadro “Buzão Circular Periférico” dentro do programa Manos e Minas, no quadro a cada programa ele visita um bairro da periferia e mostra as atividades culturais da região, esquecidas por 99% da mídia televisiva. Ainda no ano passado, lançou as coletâneas“Pelas Periferias do Brasil Vol 2”, que traz autores de diversas parte do Brasil, e ganhou com o livro o prêmio Hutúz na categoria “Ciência e conhecimento”. Para 2009, Buzo promete muito mais e a versão on line do livro já está na net , inovando, como sempre, sendo um dos primeiros escritores da Litera-rua a disponibilizar sua obra on line. Se você quer saber tudo que acontece na vida desse inquieto agitador cultural, Buzo facilitou e centralizou suas atividades no site www.buzo.com.br. Lá você encontra muitas informações como o making of do filme “Profissão MC” ainda em produção, com Tony Nogueira. No papel principal o rapper Criolo Doido mostra as opções de quem vive na periferia.
Buzo, um guerreiro linha de frente na nossa luta pela democratização da literatura.
le tinha tudo para ser mais um, mais um assalariado, mais um escravo moderno, mas no meio do nada ele encontrou os livros e eles o salvaram. Ferréz, que não gosta de divulgar seu verdadeiro nome, nascido e criado no Jd. Comercial no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, já foi chapeiro de fast food, atendente de padaria, dentre outras atividades que realizou para sobreviver, e apesar de tudo isso, virou um dos maiores nomes da Literatura Marginal, então, Reginaldo virou Ferréz. Tirado de louco na adolescência por ler muito, ele escreveu um livro, mas uma chuva levou o telhado de sua casa e com isso seu livro veio literalmente por água a baixo, mas ele não desistiu, reescreveu o livro ainda mais nervoso, talvez por isso tenha ficado tão bom. E lançou seu primeiro livro de poesias pouco conhecido por seus fãs de hoje, o“Fortaleza da Desilusão”, mas em 2000, Ferréz lançava o livro “Capão Pecado”. Que foi um marco na literatura e mostrou a cara da periferia paulista provando que há grandes escritores, para se ter idéia seus livros foram lançados em vários países da Europa. Ainda em 1999 criou uma a grife da periferia, chamada“1 da Sul”, passou a fazer roupas para vender em sua pequena loja e ao mesmo tempo divulgar frases dos seu livros. Quem via aquela lojinha na garagem da sua casa não acreditava que um dia seu livros seriam lançados na longíqua Avenida Paulista ou aé mesmo na Europa, e que ele se tornaria um intelectual de sua geração, com o respeito e admiração de políticos e empresários de diferentes camadas sociedade. Ferréz sempre faz questão de lembrar de suas referências,“Sou admirador de autores como João Antônio e Plínio Marcos, além de ser fã de Hermann Hesse e Gustave Flaubert”, diz ele. Atualmente, na editora Objetiva, o escritor foi um divisor de águas. A literatura feita no gueto não nasceu com o Ferréz, mas podese separar em antes e depois dele, porque com seus livros sendo distribuídos nas livrarias e alcançando vendas expressivas, mostrou que o sonho era possível. A elite perdia o privilégio de produzir cultura literária. Nesse meio tempo Ferréz casouse com a Elaine e tiveram sua primeira filha, Dana Ferréz. Além de sua carreira como escritor, ele passou a ser colunista de uma das mais importantes revistas do Brasil, a Caros Amigos e foi em parceria com eles que lançou mais um projeto ousado, o especial Caros Amigos / Literatura Marginal, uma revista com textos e ilustrações feitos só por talentos da periferia. A primeira edição “Ato I” contou com 10 autores, na época, ninguém famoso, dentre eles nomes como Alessando Buzo e o até então pouco
conhecio o Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, a revista virou referência, e até hoje é usada em faculdades, depois veio o“Ato II” e“III”, totalizando 48 autores. Podemos dizer que Ferréz com sua revista foi o grande impulso para que cena literária da periferia saísse dos guetos e ganhasse o Brasil. Sempre inovando, Ferréz abriu a literatura marginal para o mundo das HQ em 2006, lançando “Os Inimigos Não Mandam Flores” pela Pixel com roteiro dele e arte de Alexandre de Maio, só mais uma desse mano que vê possibilidades onde ninguém acredita.
CARREIRA INTERNACIONAL Se conquistar o Brasil era um sonho que parecia impossível para quem estudou em escola pública, num dos bairros mais violentos do país, Ferréz foi muito além e seus livros foram lançados na Itália, Portugal e Alemanha.
CARREIRA MUSICAL Como uma usina de idéias e talentos, Ferréz além de toda sua trajetória literária ainda tem uma carreira como rapper. Seu primerio disco “Determinação” foi lançado com distribuição da Sony, e teve participações de nomes como Chico César e Arnaldo Antunes. O clipe da música“Judas” ainda concorreu na categoria de melhor videclipe de rap na MTV, em 2006. Em 2007, lançou a coletânea “1 Da Sul” e gravou o DVD “100% Favela” ao lado nomes como GOG. Em 2007, retomou sua carreira no rap e lançou seu grupo “TR3F” e com a música “Mil Fita” teve boa aceitação nas rádios de São Paulo. No ano passado, gravou o DVD“100% Favela 2” com particpações de peso como Facção Central e Seu Jorge.
ÚLTIMOS LANÇAMENTOS Seu último lançamento é seu primeiro livro de contos“Ninguém é Inocente em São Paulo”, onde retrata de forma ácida a realidade da mega metrópole, enquanto seus contos são roteirizados para cinema ele prepara seu próximo romance. E ele não para por aí, afinal a família cresceu e a responsa também, no final de 2008 fechou contrato com FOX e passou a ser roteirista da série 9MM e também estreiou na TV com quadro“Interferência” no Programa “Manos e Minas”, da TV Cultura. Agora em 2009, Ferréz lança a Editora Literatura Marginal e segundo o vice-presidente J.R. Martillo, "a proposta inicial é lançar dois selos um de Livros de Bolso e outro de quadrinhos com o diferencial de preços acessíveis”. Para esse ano está planejado o lançamento pelo Selo SP o livro de bolso“Cronista de um Tempo Ruim” e pelo Selo Mutato a HQ “Mil Fitas” e o DVD“Literatura e Resistência”. No cinema Ferréz é uma das vozes no documentário "A Ponte", de João Wainer e RobertoT. Oliveira e também empresta suas idéias no“Palavra (en) Cantada”, o filme de Helena Solberg e Marcio Debellian premiado documentário que discute a relação entre poesia e música e conta com Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Lenine, Maria Bethânia,Tom Zé entre outros.
O grande romacista periférico, Ferréz lançou um livro de poesia concreta chamado “Fortaleza da Disilusão”, mas a fama veio com seu primeiro romance “Capão Pecado” e posteriormente “Manual Pratico do Ódio”, além do infantil “Amanhecer Esmeralda” e por fim o livro de contos “Ninguém é Inocente em São Paulo”, e a história em quadrinhos “Os inimigos não mandam flores”. Acompanhe no www.ferrez.blogspot.com “Onde o escrito brinda os internautas com pensamentos, agenda e textos inéditos”
Alessandro Buzo protestando e relatando o Itaim Paulista lançou em 2000 “O Trem – Baseado em Fatos Reais”, depois veio “Suburbano Convicto – O Cotidiano do Itaim Paulista”, “O Trem – Contestando a Versão Oficial” e “Guerreira” que saiu independente em 2006 e foi relançado pela Global Editora, em 2007. No ano passado, lançou seu último livro até aqui, “Favela Toma Conta”, pela Aeroplano Editora. Organizou ainda as coletâneas “Pelas Periferias do Brasil” VOL I em 2007 e VOL II em 2008. Saiba mais: www.buzo.com.br
Com uma poesia atual, com muito sentimento e ironia. O grande poeta da LiteraRua teve suas últimas publicações como “Poesia dos Deus Inferiores” (Independente), depois comemorando 20 anos de carreira lançou “Colecionador de Pedras” que acabou sendo relançado pela Global Editora, na Coleção Literatura Periférica, por último lançou pela Coleção Tramas Urbanas, da Aeroplano Editora o livro “Cooperifa – Antropologia Periférica”, saiba mais no blog: www.colecionadordepedras.blogspot.com
Allan da Rosa e seu livros e abaixo ao lado de Sacolinha e Chico Pinheiro
Carlos Gianazzi na Cooperifa
Por Alessandro Buzo
le criou o que parecia impossível, um selo independente que lança vários autores, mesmo com pouco apoio Allan da Rosa fez acontecer com o selo Edições Toró, pareado por Mateus Subverso, Silvio Diogo e um time fera de poetas, contistas, diagramadores, ilustradores e teimosos. Sempre com material diferencia-do, desde da concepção até o acabamento dos livros, Allan da Rosa tem sido um grande fomentador da cena cultural litero-periférica. Mas deixemos o próprio Allan da Rosa falar como surgiu sua editora, “A Toró surgiu com “Vão”, um livro de poesias... hoje são 16 os títulos de seu catálogo, mais uma série de 24 programas de rádio sobre literaturas de resistência, vídeos como "Vaguei os livros, me sujei com a merda toda", de Akins Kinte . Tudo foi surgindo espontaneamente, ganhando sustança pela necessidade de expressão e de impressão. A Toró t ambém foi brotando ginga e esperança de acordo com o prazer que cada visita, cada mão de cada pessoa, que pegava um livro nosso demonstrava, atraída pelas ilustrações, pelos panos, pelas letras de mão. E que são danças, brincadeiras, porradas gráficas que só demonstram potência porque os textos são fera. A gente quer passar uma rasteira nessa nossa história de mais de 500 anos de roubo e de exploração, de estupros físicos e mentais, de escolas que estão mais pra delegacias capengas, regadas a medo, mediocridade e multiplicação de ideais da ricaiada graúda que sofre de paranóia com seus arames farpados no cérebro e ganância de abismo.” assim fala um do mentores da Litera-Rua que recentemente estava no programa Língua Portuguesa, do Profº Pasquale. Mesmo sendo um sucesso de forma independente em 2006, Allan da Rosa saiu pela Global Editora, “Penso eu que publicar numa editora estruturada, grande, é jóia, se a gente imaginar que o livro vai ter uma boa divulgação e circulação, possibilidade real de chegar em escolas e bibliotecas púbicas, em cidades de vários cantos do país, mas também sei que nas ladeiras e nos mocós que a gente chega
com nossas atividades, lançamentos e livros, as editoras graúdas não chegam, ou porque não querem ou porque não conseguem”, alfineta Allan. Sobre seu interesse pela literatura ele relembra, “A poesia eu penso que surge na nossa vida já quando o gameta do pai encontra o acolhimento fértil da mãe. E respirar, falar, lutar, andar nesse planeta, nas periferias já é poesia também, é magia e simplicidade, eterna.” filosofa. Um dos grande nomes da cena mostra como se aprende ensinando, “A poesia ainda está surgindo na minha vida, estou engatinhando no berço dela, seja abastecido por palavras e livros, ou cantando, ou em silêncio no ônibus lotado, ou aguando as plantas do quintal. Destacando a mina de poesia que pra mim é a capoeira: Cultivo os versos da Capoeira Angola, que ardem e adoçam as rodas de toda sexta-feira aqui em Taboão, na senzalinha de Mestre Marrom, improvisados no dendê de uma situação repentina ou trazendo motes milenares. Curto literatura angolana e moçambicana, autores como Luandino Vieira, Ungulani B.B. Khosa, Noêmia de Souza, Ana Paula Tavares, Mia Couto, Jofre Rocha. Literatura latinoamericana: Alejo Carpentier, Eduardo Galeano, Mário Benedetti, Gioconda Belli. Piro em Hilda Hilst, Solano Trindade, Cúti, Sérgio Vaz, Dinha, Paulo Colina, Graciliano Ramos, Plínio Marcos, Luiz Vilela, Vânder Pirolli, Manoel de Barros. Dos de fora, Chester Himes, Patrick Chamoiseau, Henry Miller, Toni Morrison. Não tem como a periferia melhorar se a gente não se adaptar e aprender a jogar nesse sistema que ta aí, onde dominam os letrados.” Allan trabalha há anos em salas de aula de educação de jovens e adultos levando conhecimento sobre africanidades, sobre as relações entre a palavra falada e a palavra escrita. O mano que além de tudo isso defende nesse mês seu mestrado na USP. Recentemente teve publicado o livro infanto-juvenil "Zagaia", pela Editora DCL, que traz além da estória principal do livro (um romance versado em estilo cordel) um estudo sobre as matrizes africanas na língua e no cordel brasileiro. O livro já foi adquirido pela Secretaria da Cultura de Minas Gerais para seus municípios. Allan da Rosa um cara que um dia esteve a margem da sociedade, mas que rompeu as catracas da vida e mostrou que tem muito para ensinar aos intelectuais de plantão. Atitude em prosa e verso.
Nessa sessão, iremos mensalmente entrar na briga por uma editora pública, para que a demanda periférica tenha onde e como publicar seus livros. Lançamos aqui a luta e à partir de agora buscaremos parceiros para sairmos da utopia e assim possamos fazer dessa idéia uma realidade. Mês que vem nos aprofundaremos no assunto e entrevistaremos o Deputado Estadual prof. Carlos Gianazzi que já teve aprovado na Assembléia Legislativa um Projeto de Lei 484/07, que autoriza o Poder Executivo a criar a editora pública estadual para publicar e divulgar a obra literária e poética de escritores e poetas que não têm condições financeiras. O projeto foi inspirado à partir do trabalho realizado pelo Sarau da Cooperifa. "Há
grandes talentos produzindo obras maravilhosas, principalmente nas camadas populares. Por isso, propus a criação de uma editora pública sem fins lucrativos que tenha como principal objetivo estimular a criação literária e poética através de publicação e divulgação", disse o parlamentar. O deputado e todos os artistas populares da periferia esperam que o governo sancione o projeto de lei
“Muita gente tem textos, contos e poesias engavetados, sem a mínima idéia de como publicar, quando chega nas livrarias independentes, o custo é alto e fora dos padrões de quem sobrevive de salário”,
transformando em realidade
afirma o escritor Alessandro Buzo. Entre com a gente nessa luta e mande suas opiniões para o email:
boletimdokaos@hotmail.com Por Alexandre De Maio
Salve lokos da Litera-Rua essa mesa foi ocupada durante anos pelo maior autor que esse pais já conheceu, João Antônio, enquanto as faculdades ensinam um monte de bunda mole, seus livros e sua história resistem, longa vida aos
verdadeiros revolucio-literários. Edward Bunker
preso por porte ilegal de juventude, escreveu seus maiores sucessos na cadeia, morreu sabendo que virou um dos maiores autores americanos. Foram feitos mas de cinco filmes com seus roteiros, todos grandes sucessos de público e crítica, a autobiografia dele foi a melhor coisa que li em 2007.
Dostoiévski,
autor de Crime e castigo, o maior romancista que o mundo conheceu. Influencia tanta gente e tantas obras, que continua mudando pensamentos até hoje.
Edward Bunker, Flaubert
Lourenço Mutarelli, Dostoievski
mente criativa casando, todos passamos por Lourenço isso um dia, Mutarelli autor de Jesus Kid, Cheiro do Ralo e Natimorto, se você não leu o cara, não sabe nada dessa vida meu rapaz.
Flaubert, o primeiro que li na vida, só de ter escrito Madame Bovary (que virou filme e eu nunca acho) já teria deixado sua marca nesse mundo, mas o homem continuou e fez uma obra inigualável.
Hermann Hesse
Hermann Hesse, de quem sou fã incodicional, o maior pensador pós-guerra, estou terminando seu diário e logo vou entrar em Knulp. Não fico 3 dias sem tocar em algo que ele escreveu, o único autor que conheço que consegue escreve duas páginas sobre um lírio no campo. Sensacional! Você sabia que ele recebeu o prêmio Nobel e nem foi buscar? Ficou em casa pintando seus quadros.
Todo mês iremos destacar livros, cd´s e filmes que interressam. Leia o livro, ouça o CD e veja o filme, para começar tem o novo livro da jornalista e escritora Eliane Brum, “O Olho da Rua”, da Editora Globo, a publicação traz 10 reportagens feitas pela autora na revista Época e seus bastidores, vale muito a pena conferir. Outro livro recém lançado é “Mulher Moderna Tem Cúmplice”, terceira obra da escritora Cláudia Canto, da cidade Tiradentes na Zona Leste de São Paulo. Mais um lançamento da Edicon onde a autora traz o pensamento feminino moderno. Já “A Sociedade do Código de Barras” é o livro póstumo do escritor, rapper e ativista Preto Ghóez, falecido num fatídico acidente automobilístico em 2004 e saiu pela Editora Estação Hip Hop, um livro imprescindível. Por último, mas não menos importante é o recém lançamento da Edições Toró, “Lágrimas Terra” de André Luiz Pereira e Daniel Fagundes, mais um fruto dessa editora da periferia para periferia.
Garapa é o primeiro longa-metragem de José Padilha após o fenômeno "Tropa de elite", o diretor retrata o dia-a-dia de luta contra a fome de três famílias no Nordeste. Tem previsão de lançamento para o começo do ano. Outra pedida do cinema nacional é “Mulher Invisível”, de Cláudio Torres. O cineasta de "Redentor" faz agora uma comédia romântica cheia de fantasia, protagonizada por Luana Piovani e Selton Mello. Por fim o documentário “Alô alô Teresinha”, de Nelson Hoineff, mostra a trajetória de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, um dos maiores fenômenos da televisão brasileira com previsão de estréia para agosto.
Gorki,
um dos poucos escritores que trabalharam muito na vida, proletariado fudido, passa tudo que viveu pro papel, é conhecido pelo livro 'A mãe' que virou filme e foi adaptado para o teatro uma centena de vezes, mas, "A Batalha da vida" é o livro que considero seu melhor. O primeiro da Literatura Marginal, ele foi o primeiro grande escritor proletário da literatura universal. Seus livros são baseados em experiências vividas. Órfão aos dez anos, deixou a casa do avô, homem duro e cruel, e levou durante muitos anos uma vida nômade. Sempre dizia: “A vida desenrola-se à minha frente como uma corrente sem fim de hostilidade e crueldade, como uma luta ininterrupta pela posse de coisas sem valor, tudo que eu observava não tinha quase nada em comum com a compaixão pelos homens”. Ele viajava muito por toda a Rússia, colhendo diretamente da fonte da vida o que está narrado nos seus livros. A temática da ressurreição das almas e o motivo da destruição da personalidade perpassam de ponta a ponta a obra dele, pois o homem perde a sua dimensão quando se fecha sobre si mesmo, restando-lhe apenas um sentido de alienação. Para vocês terem uma idéia, Máximo Gorki nasceu em 28 de março de 1868 em NijniNovgorod que hoje se chama Gorki. Quem quiser conhecer a obra desse grande escritor que ao contrário da maioria dos escritores de sua geração não nasceu montado na prata, pode começar pelo livro “A batalha da vida”. Abraços e boa leitura.
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FERREZ.BLOGSPOT.COM
Na música temos o lançamento do rapper Sombra que subverte todas normas do rap brasileiro e com um levada inconfundível traz seu primeiro disco solo depois do sucesso com o SNJ, o álbum “Sem Sombra de Dúvidas” revela que o rap pode surpreender. Outra dica é o relançamento do Maestro do Cannão, o inesquecível Sabotage morto há 6 anos, mas seu disco “Rap é Compromisso” virou hino e mostra que o rapper vai ser eternamente atual. E por fim o disco de um grande artista que além da sua música representa muito bem a Litera-rua, Wesley Nógg traz um disco que mistura rap, samba-rock e MPB tudo na suave medida certa no ótimo disco “Mameluco”. Para comprar o disco acesse www.mubi.com.br.
LOURENÇO MUTARELLI Desenhista, escritor, ator, um cara em transformação.
Texto Alessandro Buzo
epois que seu livro, “O Cheiro do Ralo”, virou filme ele entrou em evidência, como o Paulo Lins com “Cidade de Deus”. Mas Lourenço Mutarelli, assim como outros escritores tem uma vasta carreira que o fez chegar a isso, são várias décadas publicando trabalhos autorais de quadrinhos e depois uma carreira recente, mas promissora na literatura. E atualmente está no papel principal do seu último livro que virou filme,“O Natimorto”. Sempre ácido, em uma palestra no SESC ele disse “Meus livros não servem para escola, neles tem palavrão, drogas e sexo, e nada disso tem nas escolas.” Ironiza. Fiquei surpreso que com seu jeito “Anti-sitema” acabou sendo um dos grandes autores dessa geração. Fui ao Cine Belas Artes assistir “O Cheiro do Ralo”, que foi adaptado do seu livro, uma boa produção com o ator Selton Mello no papel principal e ele próprio como segurança no filme. Gostei muito do filme, divertido, interessante, intrigante. “Eu vivia de quadrinhos, mau e porcamente produzi vários álbuns, até ler o livro “Capão Pecado”, do Ferréz, e me deu muita vontade de escrever, pela forma como ele escreveu, na época não o conhecia, sabia que ele conhecia meu trabalho, mas por ele ler também muitos quadrinhos, ter essa influência, tem uma linguagem, muito fluída, muito legal, despretenciosa. Então me deu muita vontade, tanto que no livro “O Cheiro do Ralo” eu escrevo lá, devolvo ao Ferréz, porque foi isso, de repente eu comecei a escrever “O Cheiro do Ralo”, movido inconscientemente a isso.” revela sua inspiração. Agora outro livro seu “O Natimorto” acaba de virar filme. A seguir um entrevista exclusiva com o autor.
Quando você lançou seu primeiro álbum em 1991“Transubstanciação”, foi ai que viu que o desenho podia ser uma carreira ? L.M: Foi antes, em 1983, eu tinha trabalhado com outras coisas e um amigo meu ia procurar emprego na Mauricio de Sousa Produções, nos estúdios de animação e eu fui com ele tentar e acabei pegando um trabalho de intercalador, depois eu virei cenarista de desenho animado lá do Mauricio, na época que ele produziu os longas. Eu fiquei 3 anos lá, nesse tempo eu estava fazendo também faculdade, fiz Belas Artes quando era lá na Luz, fiz 2 anos, eu tinha uma bolsa. Foi ai que eu comecei a pensar em viver do desenho. Lá na Mauricio de Sousa Produções tem uma biblioteca só de quadrinhos, que é aberta aos funcionários e foi onde comecei a conhecer muitas coisas, já conhecia muito por causa do meu pai, ele gostava de quadrinhos e foi aí que eu comecei a ficar com vontade de fazer quadrinhos, então eu pedi demissão da produtora, fui tentar publicar, foi muito difícil, eu não consegui, acabei voltando a trabalhar numa farmácia, fui arrumando outros trabalhos e depois comecei a publicar, mas em 1990 eu fiquei doente, xarope, ruim da cabeça, fiquei muito mal e aí veio o lado bom disso, como eu fiquei doente mesmo, eu emagreci demais e não podia fazer nada, fiquei em casa sem tanta pressão dos meus pais para arrumar trabalho e nessa época quando eu melhorava ia fazendo o “Transubstanciação”, então eu aproveitei esse episódio para fazer esse álbum, quando ele estava pronto, ia publicar de forma independente, mas apareceu uma editora que se interessou, que era a Diller.
Qual foi sua formação escolar? LM: Isso foi péssimo pra mim, porque sempre estudei em escola particular, mas não tinha condições, minha vó que pagava, ai eu sofria muito preconceito, porque a gente ia de roupa remendada, meu pai tinha um carro muito velho, eu não tinha condições de estar lá, foi colégio de padre, depois de freira e foi uma experiência muito ruim, eu tinha dificuldade de aprender, sempre fui um aluno medíocre, péssimo. Eu era muito distraído.
E o “Cheiro do Ralo”, foi seu primeiro romance, que virou o filme, você estava no meio da produção da “Soma de Tudo” que teve parte I e II e você começou a escrever ? Como foi isso ? L.M: Foi uma coisa bem impressionante, eu falo que se eu fosse espiritualista eu teria psicografado esse livro, porque foi um carnaval, que minha mulher e meu filho viajaram e eu estava sozinho e tinha muito trabalho ainda, além da “Soma de Tudo” tinha uns free lances de desenho e eu liguei o computador
Você morou no Itaim Paulista (extremo da zona leste de SP), fale de como era morar lá e porque fez uma álbum com o nome da rua que morou? L.M: Eu queria entender o nome dessa rua, era a “Confluência da forquilha” de alguma estrada, algum rio, alguma coisa, eu achava esse nome bem intrigante e resolvi fazer a história de uma sociedade secreta que tinha esse nome, uma brincadeira em cima desse Como o desenho e os quadrinhos surgiram em sua vida? LM: Eu comecei a desenhar muito cedo, sempre fui uma criança nome complicado, o tempo que morei no Itaim Paulista foi muito inexpressiva e vi que quando eu desenhava, chamava a atenção bom, muito bom mesmo, é uma vida meio interior de São Paulo, o da família, então eu acho que me dediquei ao desenho por isso, problema é que é longe de tudo, é difícil ter acesso, não tinha nem cinema. porque de certa forma isso me tornava um pouco melhor.
Nessa seção estaremos divulgando o trabalho de Ong´s que realmente fazem pela periferia e nada melhor para começar do que a “Casa do Zezinho” no Capão Redondo, que é administrada pela Tia Dag. Conheci a casa numa visita com o meu amigo e também escritor Ferréz e sai de lá com a certeza que se querendo e correndo atrás é possível mudar as coisas, a Casa atende centenas de crianças e jovens da região e tudo é muito bem feito e sério. Você percebe o carinho e a responsabilidade em cada sala ou espaço que você entra, a Tia Dag é uma pessoa fantástica e tem uma equipe muito boa, quando você vai conhecer, é um ex-zezinho, hoje monitor que te apresenta a casa e não existe pessoa que saia de lá a mesma. Não acredita, vá conferir você mesmo.
Saiba mais: www.casadozezinho.org.br
Por Alessandro Buzo
Fazer a ponte é fazer a ligação entre diferentes culturas
“...ATÉ LER O LIVRO “CAPÃO PECADO” DO FERRÉZ E ME DEU MUITA VONTADE DE ESCREVER” para escanear um desses desenhos e aí me veio a idéia de escrever, eu não podia fazer isso em quadrinhos, se eu mostrasse alguns dos elementos da história eu matava ela, por exemplo a bunda, que é um dos personagens, tudo bem, virou filme, mas é outra história, em livro achei que cada leitor tinha que criar sua bunda perfeita (risos), essa foi a idéia de fazer em livro e comecei a escrever, Foto do site sensivelldesafio.zip.net fiquei 5 dias direto escrevendo, eu fiz “O Cheiro do Ralo” em 5 dias e depois eu parei e levei mais uns 10 dias para enxugar alguma coisa, ai minha mulher deu uma lida, para ajustar coisas levei mais uns 10 dias. Sua idéia é continuar só na literatura ? L.M: Só na literatura e trabalhar com textos, e mesmo ilustrações quando tem me ligado, estou dizendo que não sou mais desenhista. Como que você se viu contracenando com o Selton Mello que é um ator consagrado, como foi fazer o segurança dele no filme ? L.M: - Divertido, o convite surgiu porque o Selton Mello estava fazendo teste de elenco e quando ele não podia fazer os testes, o Heitor, que é o diretor, pediu para eu fazer os testes com os atores quando o Selton estava no Rio, aí eles gostaram e acabaram me convidando pra fazer, foi muito bom, é um personagem engraçado, me convidaram para ser o segurança, justamente pelos meus dotes físicos, né? Hoje está surgindo uma cena literária na periferia, 15 anos atrás não se imaginava, como você vê a periferia escrevendo? Ao contrário do que se esperava dela? L.M: Eu acho isso incrível, porque é uma matéria prima muito fascinante. Eu só tenho um medo de uma coisa que falei pro Ferréz, que de repente isso quase virou um modismo, o que não é mau porque abre espaços, mas, modismo é uma coisa passageira, a gente tem que escrever nossa realidade, mas tem que sair das fórmulas, se todo mundo começar a escrever parecido, acho uma coisa perigosa, não estou falando que é o que acontece, mas num primeiro momento surgiu muita coisa parecida. Na literatura as primeiras coisas que me impressionaram muito foram de fora, era Kafka, depois Dostoyévisk, mas aí cheguei em Augusto dos Anjos, Machado de Assis e no meio fui conhecendo Ferréz que é um cara que admiro a pessoa e o trabalho, Valêncio Xavier que eu adoro. Para encerrar, quem é Lourenço Mutarelli ? L.M: Poxa vida, eu sei quem eu sou, eu sei quem eu sou de verdade há muito tempo, eu nunca tive essa dúvida, tive quando era muito novo, Lourenço Mutarelli é um cara que como eu disse em outra entrevista, é um cara que foi muito mau tratado e aprendeu a ser mau tratado e agora está sendo bem tratado e está aprendendo a ser bem tratado, eu sou um cara que vive experiências e tudo que eu faço é para experimentar. blogdolourencomutarelli.blogspot.com
O cidadão do mundo Martinho da Vila o ano passado assisti a um show de Martinho da Vila na Margem Sul de Lisboa e ouvi portugueses, africanos e brasileiros cantando suas músicas numa só voz. Foi assim que descobri o intercâmbio que ele faz, desde sua primeira apresentação internacional, em Angola, no ano de 1972. Com esse país o cantor tem uma relação bem próxima, sendo nomeado oficialmente embaixador cultural pelo governo angolano através da realização de trabalhos musicais, unindo músicos brasileiros e angolanos. Chegou até Portugal via África e aqui é um dos artistas brasileiros de maior sucesso. O sucesso do sambista brasileiro na música é de conhecimento geral. Mas é pouco divulgada sua trajetória literária. Martinho da Vila já lançou sete livros, entre eles“Joana e Joanes - Um Romance Fluminense” (1999), com uma edição portuguesa pela Eurobrape e pelo Instituto Camões e “Os Lusófonos” (2005), um romance que faz a ligação entre os países da CPLP (Comunidade dos países de língua portuguesa - Angola, Brasil, CaboVerde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Princípe e Timor-Leste). Esse livro é o resultado das viagens e pesquisas que Martinho fez ao continente africano e conta a história de um autor ficcionado pela lusofonia. Nesse livro Martinho da Vila mostra a “proximidade de países com culturas tão diferentes na origem e tão aproximadas pelo calor do idioma, tornando-se irmãos de nacionalidades diferentes”. No disco“Lusofonia” lançado em 2000, o cantor apresenta ao Brasil músicos de todos os países que falam português. Em 2006, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade pelo conselho de Ministros da CPLP. Uma coluna é pouco pra falar sobre os mais de quarenta anos de carreira de Martinho da Vila, músico, compositor, autor, pesquisador e militante, que aos 71 anos esbanja energia nos palcos da vida. Mais info: www.martinhodavila.com.br www.cplp.org Juliana Penha vive em Portugal há quase dois anos. É estudante e repórter free-lancer preta_sp@hotmail.com
Assistindo e sendo humilhado. Na verdade eu já pensava em escreve esse texto há uns quatro anos, desde que fui ao cinema com dois amigos, um deles era o Alex, assistir ao filme “Um dia de treinamento”, com Denzel Washington. Quando acabou o filme, eu tava tão nervoso, tão irritado, que na hora que o Alex elogiou o filme eu simplesmente sai andando. Os caras já sabem como sou e foram perguntar o que tinha acontecido, disse que como o Alex sendo um cara negro não tava revoltado vendo um filme, onde o único cara bom é o branco de olho azul, que passa um dia inteiro, com outro policial negro que o ensina a bater em latinos e em outros negros. Mas na verdade ele tinha gostado tanto do filme, que junto com o outro parceiro nem ligaram pro que eu tava falando. Depois disso, foram inúmeras vezes que abandonei sessões pela metade, filmes que me davam nojo, vontade de pegar meu dinheiro de volta no cinema ou na locadora, assim como alguns filmes feitos com atores negros que passam na TV, estereotipando o povo negro como se todos bebessem e fumassem maconha, além de incentivar a violência e desvalorizar as mulheres. Oh! Malcolm X ainda bem que você não está vendo isso. O seriado que passa no SBT, a família tem 7 jovens Estadunidenses, (todos loiros) um olha pro outro e fala como o irmão é burro e completa. - Desse jeito você não passa de ser presidente do México. Já no filme O “Exorcismo de Emily Rose”, o ajudante da advogada de defesa fala em certa parte do filme: - A maioria dos casos de exorcismo é no terceiro mundo, claro, gente primitiva e supersticiosa! E não para por aí, até em desenhos a gente é contaminado, no desenho Super Amigos, os maiores heróis da terra (todos eles Estadunidenses) enfrentam a grande Rainha Negra Vudu, com todo tipo de colar, magia e tudo que tem direito. Agora, um dos filmes campeões em preconceito e no mal gosto é “Um gigolô por acidente na Europa”. Quando o personagem principal (Estadunidense) amarra outro personagem (Europeu) num poste com a frase: “Viva a América, a Europa fede a bosta”. Em seguida os europeus passam e jogam coisas nele, o chamando de porco. E o filme segue pregando a guerra étnica. No mesmo filme, num ônibus, quando o personagem principal vê um senhor tocando acordeom, sai tocando o nariz e com a outra mão coçando a cabeça, e diz. - É a dança dos negros sujos. Já no filme “Dois é bom, Três é demais”, o personagem Dupret, interpretado por Owen Wilson, quando vai dar uma palestra na escola, no trecho que fala das profissões, toda vez que cita uma profissão a câmera mostra uma criança branca, quando fala na parte do esporte, a câmera focaliza um menino negro. Mas o pior ainda vem quando ao se referir em não gostar de trabalhar ele cita a Europa e América do Sul dizendo que “nós entendemos
Nessa perimeria edição vamos dar algumas dicas de alguns Saraus e eventos que acontecem em abril. SARAU DO BINHO O sarau acontece todas as segundas-feiras no Bar do Binho, região do Campo Limpo. Espaço aberto para poesia e para outras linguagens artísticas como música, teatro e a cada quinze dias exibição de vídeos e curtas metragens. Todas as segundas-feiras, 21h. Rua Avelino Lemos Jr., 60 (em frente à Uniban) - Campo Limpo. Zona Sul. Entrada franca. (11) 5844-6521 5844-4532 / 3535-6463 com Suzi. SARAU ELO DA CORRENTE Família Alerta ao Sistema e a Rádio Comunitária Urbanos FM convida nas quintas-feiras (exceto a última do mês), a comunidade para se reunir, recitar suas poesias, pensamentos e músicas. O alicerce do encontro é incentivar a leitura, a criatividade e a valorização da cena artística local. 20h. Bar do Claudio Santista - Rua Jurubim, 788 -A – Pirituba. Zona Oeste. Entrada franca. (11) 3906- 0348 c/ Cláudio Santista. www.elo-dacorrente.blogspot.com SARAU COOPERIFA Movimento literário que acontece há sete anos, todas as quartas-feiras, com recital de poesias no Bar do Zé Batidão na periferia da Zona Sul de São Paulo. A busca por um novo artista, o artista cidadão que contribui para melhorar a comunidade no qual estão inseridos.
bem isso”, depois ainda diz que conheceu uma mina argentina e lá todo mundo fica à toa na vida. De volta aos desenhos animados, a Dreamworks é campeã no preconceito, vou pegar só um exemplo que já basta, o desenho“Por Água Abaixo” que traz a história de um ratinho rico que morava sozinho e descobre um mundo muito mais divertido no esgoto (alusão a solitária elite e a tão super lotada favela?). A história se passa, até que aparece um assassino, que é um sapo francês. Quando o grande vilão, que também é um sapo conta sua história triste, sobre como ele era um sapo muito querido do príncipe Charles e acaba sendo jogado na privada, antes de terminar de contar a história ele nota o rosto de chacota do assassino francês e pergunta. – Você está zombando do meu sofrimento? No qual o francês do mal responde: - Claro, desde que não seja o meu sofrimento, afinal sou francês. Em seguida o francês toma um gole de vinho francês e cospe no chão, desdenhando do vinho. O desenho segue com dezenas de tiradas aos europeus. Depois, seguindo a trilha de desgosto, ainda posso citar a série The Shield, sobre o cotidiano de policias americanos, que passa no canal AXN, numa das cenas, o policial entra na casa de um latino e vê que todos os mantimentos estão podres, e logo diz; - Vocês do terceiro mundo não têm geladeira em seu país, não? Que nojo! Ou o trecho do seriado recém lançado, “Jericho” que trata de uma explosão nuclear em alguns estados americanos, e de alguns sobreviventes numa pequena cidade. Em um capítulo recente o ex-prefeito aparta uma briga de dois moradores e grita algo como: - Nós não nos tornaremos selvagens como os animais de terceiro mundo em suas vilas. Será que além de não poder escolher o que assistir, em nenhuma grade de programação, em nenhum canal, pago ou não, apesar de todos os canais serem somente“concessões”, não poderemos sequer deixar de ser humilhados todo o tempo? Isso sem mencionar o tanto de bandeira estadunidense que agente já engoliu nos filmes, toda hora tem que ter algo para nos lembrar, que eles são “superiores”. Com uma verdade absoluta, a gente via engolindo legenda atrasada, legenda errada, falta de legenda e por aí vai, que numa eterna tradução a gente vai aprendendo na marra que ou a gente fala e lê em inglês, ou não sabemos qual lanche pedir, em que loja está em Sale, ou em promoção, ou como vamos arrumar um Work, ou trabalho, e parece mesmo que deixamos de ser colônia de um, para ser do outro. Esse texto na verdade é infindável, porque sempre que estou assistindo algum filme ou seriado eu identifico o preconceito nele e corro para somar mais no texto, mas como todo filme, tudo tem um fim. Espero mais filmes nacionais, mais seriados, mais produções honestas, que ao contrário da produção deles, somente traga histórias para entreter, sem maldade, sem querer fazer ninguém de fantoche, nem magoar nenhuma etnia. Só espero que os bilhões gastos nas produções hollywoodianas sirvam para algo além de tentar provar que eles são superiores a nós o tempo todo.
Toda quarta à partir das 20h. Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana. Zona Sul. Entrada franca - (11) 5891-7403. SARAU DE POESIA NA BRASA Realizado na comunidade da Zona Norte, um espaço de expressão, discussão e reflexão, aberto a todos que queiram comungar da palavra. Bar do Cardoso – Rua Parapuã, 1.692 (em frente ao banco Bradesco) – Brasilândia. Zona Norte. Entrada franca. (11) 3922-8593 - brasasarau.blogspot.com SUBURBANO NO CENTRO 9ª edição - 24 de abril (19 H) Apresentação: Alessandro Buzo . ATRAÇÕES: Criolo Doido, Periafricania, DCM, Mentes Criativas e Gatto Ninja * Pocket Show c/ 3 musicas. Ação Educativa - Rua General Jardim, 660 (Metrô Sta Cecilia) Inf: (11) 2569-9151 - Entrada franca Maiores informações e muito mais opções acesse nossos parceiros e informe-se no site da Ação Educativa que tem um agenda sobre os vários eventos no mês www.acaoeducativa.org.br/agendadaperiferia No site Catraca Livre você tem uma agenda que tem eventos, cursos, cinema, teatro, exposições, palestras e encontros www.catracalivre.uol.com.br/editoria/agenda Para quem quiser divulgar seu evento na próxima edição entre em contato pelo email boletimdokaos@hotmail.com
O Homem que Virou Suco, um clássico do cinema brasileiro, Medalha de Ouro no Festival de Moscou, premiado no Festival de Nevers (França), e no Festival de Huelva (Espanha). No filme algumas cenas eram provocadas pelos atores em praça pública. Tiago Mata Machado definiu o filme na Folha de São Paulo, como "uma espécie de comédia de costumes, aprofunda-se na realidade nacional sem abandonar a crítica social". Poeta é confundido com operário de multinacional que mata o patrão, é perseguido pela polícia e perde sua identidade e condição de cidadão. Esse poeta é a história de Deraldo, nordestino recém chegado a São Paulo, tentando sobreviver de sua poesia. O trabalhador migrante em uma cidade grande: a construção civil, os serviços domésticos e subempregos sujeitos à violência e à humilhação. Entretanto o poeta luta para reconquistar sua liberdade e preservar sua identidade. Imperdível para os amantes da Litera-Rua.
Foto:Divulgação
Por Alexandre De Maio
Por Alexandre De Maio
Foto: Marques Rebelo
O rrap ap na TV e na litliter er at ur a erat atur ura Rappin Hood a cada ano vem abrindo novos espaços para cultura hip-hop, desde maio de 2008, ele apresenta na TV Cultura o Programa “Manos e Minas” e incentivado por Alessandro Buzo realizou seu sonho de ingressar na literatura. O rapper, que no seu disco rima ao lado dos grandes nomes da música como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zélia Ducan e Leci Brandão, é um dos autores da coletânea literária “Pelas Periferias do Brasil – VOL II”, o livro ganhou o Prêmio Hutúz no ano passado na categoria “Ciência e Conhecimento”. O rapper também é capa da edição de janeiro da revista Cultura Hip-Hop onde fala sobre seus projetos, o programa, sua idéias e seu novo disco. Além de lançar dois disco pelos seu selo Raízes ainda em 2009. A Litera-rua e seu vários braços levando cultura e infomação para os 4 cantos do Brasil.
“...quando conheci a cena hip-hop e fiquei muito sensibilizada com a atitude dos jovens, preocupados em reconstruir a imagem do preto, pobre da periferia. Achei que poderia ajudar fazendo um filme que reposicionasse essa imagem de uma maneira mais humana e positiva.”
at a Amaral passou a ser mais conhecida depois que seu filme“Antônia” virou série na gigantesca TV Globo e levou para as pessoas a trajetória de um grupo de rap feminino, formado pelas cantoras e atrizes, Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah e Cindy. Confessa que não conhecia muito de rap antes do filme, mas já tinha ouvido falar entre Foto:Divulgação outros de Racionais MC's, Rappin Hood, Thaíde & DJ Hum, inclusive, Thaíde é um dos atores do filme e depois da série. Mas esse não foi seu primeiro filme, antes fez “Um Céu de Estrelas”,“Através da Janela” e vários curtas-metragens e vídeos. “Sempre adorei ir ao cinema. Daí pra fazer filmes eu mesma, foi um pulo. Quer dizer, um pulo para ter o desejo e muito trabalho para realizá-lo”, fala Tata. Voltamos a falar de Antônia, periferia e de cinema, quando questionada se gostou da série baseada em seu filme desabafa: “Amei. O filme Antônia começou quando realizei, com Francisco Cesar Filho, um documentário intitulado Vinte Dez. Foi quando conheci a cena Hip-Hop e fiquei muito sensibilizada com a atitude dos jovens, preocupados em reconstruir a imagem do preto, pobre da periferia . Achei que poderia ajudar fazendo um filme que reposicionasse essa imagem de uma maneira mais humana e positiva.” Mudamos o assunto de Brasil para Estados Unidos, a maior potência em cinema do mundo, Tata cita suas referências, inclusive as européias “Muitas referências. Cinema dos anos 50, Martin Scorseese, Tarantino, Hal hartley, Jonathan Deeme dentre outros.” Antônia não foi nenhum grande sucesso de público, mas segundo ela “O público não foi tão baixo assim, 80 mil pessoas assistiram Antônia. Mas, de fato, esperávamos três vezes mais que isso, devido ao sucesso da série. Acho que muita coisa contribuiu para que não cumpríssemos nossas expectativas: a data (Oscar & Rocky Balboa), mas também o fato de que teríamos que deixar mais claro ao grande público, a diferença entre o filme e a série. Mas isso eu só percebi depois. Uma pena”. Vivendo e aprendendo a jogar. Tata Amaral é sem dúvida um dos nomes mais importantes dessa nova geração de cinema brasileiro. Com seu filme com certeza contribuiu para a periferia e mostrou para as mulheres que cantam rap que elas podem chegar muito longe.
Da Bahia pro mundo: Blackitude
Na europa, nos EUA, ou no Brasil a cena dos saraus cresce cada vez mais movimento dos saraus, tão famosos atualmente nas periferias, remete ao movimento mundial chamado Slam ou Spoken Word. Nos Estados Unidos surgiu em Chicago, por volta da década de 80, por iniciativa dos escritos de Marc Smith. Mas além do EUA os saraus feitos por poetas das ruas ganharam o mundo e principalmente a europa. Nessa nova cena poética os MC´s levam rimas para saraus e ganham adeptos em todo velho continente, mas precisamente na França a cena é muito forte, os saraus reúnem mais de 3 mil pessoas. O poeta, MC e ator Saul Williams é um dos grande nomes dessa cena mundial, ele atuou no filme “SLAM”, é autor de livros sobre Hip-Hop e prepara seu novo CD, Saul tem 34 anos é norte-americano, em 1998 protagonizou o filme “SLAM”, de Ray Joshua, que fez o fez conhecido internacionalmente. O poeta moderno, além de filmes sobre o tema, fez pontas em episódios populares com “Sex And The City” e “The Chris Rock Show”, lançou os álbuns “Amethyst Rock Star” em 2001, e “Saul Williams” em 2004, e elevou a cena poética para o mundo.
Ativista e escritor Carlos Moore lança o livro Pichon, na sua luta, esteve até ao lado da Malcolm X arlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Doutor em Ciências Humanas e em Etnologia da Universidade de Paris, ele é atualmente Chefe de Pesquisa (Sênior Research Fellow) na Escola para Estudos de Pós Graduação e Pesquisa da University of the West Indies (UWI), Kingston, Jamaica. Com muitos anos de militância na causa da negritude o exilado cubano, já foi consultor pessoal para assuntos latino-americanos do Secretário Geral da Organização da Unidade Africana e muitas outras atividades em todos esses anos de luta pela conscientização da causa negra Autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, seus livros são: Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba (Chicago: Lawrence Hill Books, 20 08); A África que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008); Racismo & Sociedade (Belo Horizonte: Mazza Edições, 20 07); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA, 1989); This Bitch of a Life (London: Allison e Busby); Cette Putain de Vie (Par is: Karthala, 1982). Em entrevista ao nosso parceiro Nelson Maca do Blackitude, na Bahia, o grande ativista revela “Por isso, eu me autodefino, fundamentalmente, como um crítico social, como um militante das causas sociais. Me sinto muito privilegiado, como militante, porque tive a honra de ter militado ao lado de homens e mulheres hoje considerados como ilustres: Malcolm X, Cheikh Anta Diop, Aimé Césaire, Maya Angelou, Stokely Carmichael, Lelia Gonzalez, Walterio Carbonell, Abdias Nascimento, Harold Cruse, Alex Haley, e tantos outros e outras.” Em outro ponto desse entrevista imperdível Nelson Maca pergunta sobre sua relação com os ativistas marxistas do movimento social negro que admiram profundamente a grande revolução cubana?
“Teria que escrever todo um livro para responder a isso, o que já fiz em Pichón: Race and Revolution in Castros’s Cuba (Raça e Revolução na Cuba castrista), que acaba de ser publicado nos Estados Unidos. A minha disputa com o regime Cubano foi violenta porque esse regime decidiu que ele não tinha por que discutir com um “bando de neguinhos equivocados”, como a liderança castrista nos qualificou.” Revela Carlos Moore. A entrevista na integra você confere na versão on-line (ver editorial editorial)), com certeza aqui não teria o espaço necessário para as idéias tão profundas desse grande pensador negro que atualmente vive em Salvador, “No Brasil me sinto perfeitamente em casa e em família. É uma questão de sentimento, o que é algo em inentemente subjetivo. Não estamos falando do terrível drama que constituem as abissais desigualdades sociorraciais existen-tes no Brasil.” Sobre seu atual livro “Pichón” ele falou “É uma narrativa na primeira pessoa, sobre a vida em Cuba, antes e depois da Revolução de 1959. É uma narrativa que conta o que era a Cuba de antes de 1959 – uma Cuba horrorosa, onde a população negra vivia sob uma espécie de regime neofascista, e onde o racismo funcionava do mesmo jeito em que funciona atualmente no Brasil.” alfineta Recentemente seu livro foi publicado em português o “Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo (Mazza Editora)” “ Acho que os militantes, particularmente, deveriam reservar um pouco do seu tempo para se documentar sobre algo tão importante como o surgimento e evolução do racismo na história. É disso que trata Racismo & Sociedade.” Outro lançamento recente em Português é “A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no cotidiano brasileiro” (Ed. Nandyala).
Sérgio Vaz, Nelson Maca e rapper GOG Foto: Marilda Borges
Sarau na França
Aqui no Brasil
A cena americana feito por Russel Simons e Mos Def e o livro de Saul Willians
O famoso bar do Spoken Word
Nos últimos 5 anos, cresceu o número de saraus na periferia de São Paulo, principalmente depois do surgimento e do sucesso do “Sarau da COOPERIFA”, apesar dele ser frequentado por alguns rappers como G.O.G., Gaspar, Cocão, e até Mano Brown (Racionais) os Saraus no Brasil cresceram sem nenhuma relação com o Spoken Word, por aqui os saraus surgiram para ser o palco dos sem palco. Hoje além da COOPERIFA, vários outros saraus estão espalhados pela cidade, tem o “Sarau do Binho”, também na Zona Sul de SP, o Elo da Corrente, em Pirituba, Griots, no Itaim Paulista e muitos deles não tem essa ligação com os MC´s. Mas, Sérgio Vaz, que no começo da COOPERIFA ia aos shows de rap e no meio da apresentaçãoes recitava seu poemas, faz desde abril de 2007, numa parceria da Ong Ação Educativa no centro de SP, realiza o “Sarau Rap” toda última quintafeira do mês, dando espaço e revelando novos talentos da poesia e do rap. MOVIMENTO PELO MUNDO Além disso, tem a Internet onde você pode saber muito mais do que rola no Spoken Word, acesse (www.poetryslam.com), site da Nacional Poetry Slam, com tudo sobre os campeonatos de “Slam” norteamericanos, principais informações e datas. Temos ainda o site do escritor e MC Congolês Abd Al Malik, que traz vídeos, músicas, fotos e links. Acesse www2.abdalmalik.fr. E o Grand Corps Malade que traz performances, áudio e links, principalmente da cena na França. www.grandcorpsmalade.com. OUTROS VEÍCULOS Tem ainda o filme “Slam”, ganhador do prêmio do júri, no Sundance Festival, é estrelado por Saul Williams, ganhou ainda a Câmera de Ouro em Cannes, é possível assistir os trailers no YouTube.
“NESSA NOVA CENA POÉTICA OS MC´S LEVAM RIMAS PARA SARAUS E GANHAM ADEPTOS EM TODO VELHO CONTINENTE, ... NA FRANÇA A CENA É MUITO FORTE, OS SARAUS REÚNEM MAIS DE 3 MIL PESSOAS.”
essa sessão vamos mostrar o antes e o depois da Literatura Marginal. E vamos de Plínio Marcos à Sacolinha. Plínios Marcos“Origens” Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos, em 29 de Setembro de 1935, e faleceu em São Paulo, em 19 de Novembro de 1999. Filho de um bancário (Armando) e de uma dona-de-casa (Hermínia), tinha 4 irmãos e uma irmã. “A gente veio de origem mais ou menos humilde, mas minha infância foi muito feliz, pelo menos foi muito despreocupada. Morava numa vila de pequenos bancários – na Rua das Antigas Laranjeiras - e foi nessa vila que me criei. A única dificuldade que eu tinha era exatamente o colégio. Eu não suportava a escola. Grupo Escolar Dona Lourdes Ortiz. Levei quase dez anos para sair do primário. E quando saí já não dava mais para continuar estudando. Meu pai tentou me enfiar em todas as profissões possíveis. Ele dizia que, se eu tivesse uma profissão, sempre iria sobreviver”. Começo em São Paulo “Vim pra São Paulo de vez em 1960. Aqui, a primeira viração foi vender coisas de contrabando. Eu ia buscar em Santos e vendia aqui: cigarros americanos, rádio de pilha, esses troços. Fiquei um tempão trabalhando de camelô. Pegava no Largo do Café e vendia na esquina. Álbum de figurinha também. Depois, vi o pessoal do Teatro de Arena, porque eu parava no Bar Redondo. Entrei na Companhia da Jane Hegenberg, no lugar do Milton Bacarelli, montamos um espetáculo que foi um desastre, “O Fim da Humanidade”. DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA “Então, escrevi “Dois Perdidos numa Noite Suja” para eu mesmo representar. Ator pequeno, sem nome, sem carreira, sem nada, trabalhando de técnico na Televisão Tupi, ninguém convidava pra nada. Ninguém se lembrava que eu era também ator. Então, escrevi uma peça com papel pra mim. Uma peça de dois personagens, inspirada num conto do Moravia,“O Terror de Roma”. E, como não tínhamos local, fomos estrear no “Ponto de Encontro”, um bar na Galeria Metrópole, que o Emílio Fontana conseguiu pra nós”. LITERATURA “Eu fui escrever literatura porque a censura não estava liberando nenhuma peça minha. O “Querô” ia ser mais uma peça de teatro. “Uma Reportagem Maldita – Querô”, publicado em 1976, ganhou o Prêmio APCA de melhor romance desse ano. Só escrevi em forma de romance porque não achei que iria passar na censura.Tanto é que ele está adaptado para teatro. Escrevia contos, reportagens, entrevistas sobre vários assuntos. Plínio Marcos, um dos maiores autores marginais, foi incompreendido na sua época e é aclamado hoje em dia.
Para entender Plínio Marcos
eu nome é Ademiro Alves, morador do município de Suzano, na região do AltoTietê. Hoje é conhecido por Sacolinha, destaque em programas de TV como o “Programa do Jô” e“Provocações”. Antes de virar escritor e agitador cultural, ele era cobrador de lotação no metrô Itaquera, madrugava todo dia para chegar muito cedo no ponto, ia de Suzano para Itaquera de trem, esse tempo, enquanto a maioria dormia, afinal o dia lá fora nem tinha amanhecido ainda, ele lia. Acabou se apaixonando pela Literatura e seu livro de cabeceira é“Diário de uma favelada”, de Maria Carolina de Jesus. Esse amor pela leitura e a falta de interesse de seus amigos pelo tema, o fez fundar um projeto para ajudar e estimular a leitura na sua cidade, nascia sem pretensões o "Literatura no Brasil”. Assim foi plantando, assim começou a escrever seu nome no mundo da literatura. O tempo passou e Sacolinha cresceu, não de tamanho, mas sim de projetos e atitudes, em 2005 lançou de forma independente o livro "Graduado em Marginalidade", que falava das dificuldades de crescer no AltoTietê, região pobre da cidade que tem além de Suzano, cidades como Itaquaquecetuba, um dos maiores índices de criminalidade na Grande São Paulo. Nesse processo, ele deixou de ser cobrador de lotação, vagou por algumas ocupações até ser chamado pela Prefeitura do Município de Suzano para trabalhar na "Secretaria de Cultura" onde coordenaria a pasta de literatura. Sacolinha hoje, promove vários eventos ligados à literatura na sua cidade, como saraus, palestras, oficinas, incentivo e montagem de bibliotecas comunitárias e muito mais. Sacolinha não parou e em 2006 lançou em parceria da Editora Ilustra seu segundo livro, "85 Letras e um Disparo", dessa vez de contos, e de novo viveu as dificuldades de vender na raça a sua literatura. E não é que de tanto correr atrás ele vem conquistando seu espaço, escrevendo seu nome na história e mudando a cena cultural de uma cidade? Seu segundo livro teve edição revista e ampliada, lançado pela Global Editora, com distribuição nacional. Para 2009, o escritor prepara o lançamento do seu 3º livro que já está pronto e deve vir no segundo semestre com título "Peripécias de minha infância", um romance infanto-juvenil.
Allan da Rosa, Sacolinha, Chico Pinheiro, Sérgio Vaz e Alessandro Buzo
E NÃO É QUE DE TANTO CORRER ATRÁS ELE VEM CONQUISTANDO SEU ESPAÇO, ESCREVENDO SEU NOME NA HISTÓRIA E MUDANDO A CENA CULTURAL DE UMA CIDADE? SEU SEGUNDO LIVRO TEVE EDIÇÃO REVISTA E AMPLIADA, LANÇADO PELA GLOBAL EDITORA, COM DISTRIBUIÇÃO NACIONAL.
www.sacolagraduado.blogspot.com
Catraca Livre O site Catraca Livre é uma experiência de jornalismo comunitário para transformar a cidade numa constante experiência de aprendizado - e não só para uma elite, mas para todos. Nosso foco é a cidade de São Paulo, onde diariamente fazemos um levantamento das possibilidades de diversão e aprendizado gratuitos ou a preços populares, sempre investigando sua qualidade. Tirando proveito dos recursos digitais, damos dicas de leitura ou apresentamos textos complementares a partir dos eventos, para que os leitores ampliem o conhecimento. Educação e cultura, em nossa visão, não se separam. Cultura é capaz de seduzir e levar os indivíduos para os mais diversos campos de conhecimento, que, muitas vezes, não faz sentido numa sala de aula.
ENTREVISTA /
CARLOS MOORE PALAVRAS ESSENCIAIS! Gramática da Ira tem o prazer de receber aqui, para uma conversa franca e contundente, o Mestre Carlos Moore. Esperamos, com isso, aprofundar algumas discussões que temos levantado. Há um grande interesse de nossa parte em compreender e divulgar a questão da negritude em Cuba, na diáspora e continente africano. Para tanto são muito esclarecedores os relatos de experiências vividas e as análises sócio-políticas que o mestre faz, não só do regime revolucionário cubano, no que toca mais diretamente a causa negra, mas de muitas questões que extrapolam as barreiras nacionais. Nosso mestre fala um pouco de sua trajetória de exílios até sua permanência em Salvador, na Bahia, sua morada atual. A partir daí, segue uma conversa inspiradora sobre grandes questões como literatura, música e muito mais. Com emoção, Carlos Moore destaca companheiros de trajetória que se tornaram célebres. Dedica profundas palavras a dois dos homens que tanto colaboraram para a formatação do ativismo negro contemporâneo no mundo inteiro. Trata-se dos fenomenais Aimè Césaire e Fela Anikulapo Kuti. O primeiro fundador da Negritude, movimento que revolucionou as relações raciais no século XX. O segundo um músico extraordinário que desenvolveu o incrível afrobeat. Ambos, além da reviravolta que causaram com sua arte, tiveram uma atuação política vigorosa contra os opressores do continente africano e da diáspora negra. Carlos Moore explica a importância dos dois para as lutas negras atuais.
Carlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Doutor em Ciências Humanas e Doutor em Etnologia da Universidade de Paris-7 na França, ele é atualmente Chefe de Pesquisa (Sênior Research Fellow) na Escola para Estudos de Pós Graduação e Pesquisa da University of the West Indies (UWI), Kingston, Jamaica. Ele foi consultor pessoal para assuntos latino-americanos do Secretário Geral da Organização da Unidade Africana (atualmente União Africana), Dr. Edem Kodjo, de 1982 a 1983, e consultor pessoal do Secretario Geral da Organização da Comunidade do Caribe (CARICOM), Dr. Edwin Carrington, de 1966 a 2000. Foi assistente pessoal do professor Cheikh Anta Diop, diretor do Laboratório de Radiocarbono do Instituto Fundamental da África Negra, de 1975 a 1980, em Dakar, Senegal. Autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, seus livros são: Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba (Chicago: Lawrence Hill Books, 2008); A África que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008); Racismo & Sociedade (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA, 1989); This Bitch of a Life (London: Allison e Busby); Cette Putain de Vie (Paris: Karthala, 1982). Agradecemos, novamente, ao Mestre Carlos Moore, pelas respostas desdobradas respeitosa e cuidadosamente ao Gramática da Ira.
Nelson Maca Blackitude.Ba. Gramática da Ira (GI) - Professor Carlos Moore, antes de tudo, é uma honra para nós entrevistar um homem de sua envergadura histórica e importância política. Um negro que, apesar de uma vida tão aguerrida, soube permanecer lúcido e incorruptível. Além do mais, simples e acessível aos que chegam. Professor, diz pra gente como o Senhor gosta de ser apresentado na intimidade e nos espaços das várias lutas que tem sido sua vida. Carlos Moore (CM) - Obrigado pelas considerações singelas. A auto-definição é sempre problemática, porque os humanos têm uma marcada tendência a se projetar de maneira exclusivamente positiva. Ora, a realidade não é sempre essa. Eu tenho cometido tantos erros na minha vida política e na minha vida pessoal, que para me definir completamente, implicaria a admissão desses erros. Eu me vejo como uma pessoa que teve de lutar muito para adquirir a identidade racial, a serenidade humana, que possuo hoje. Por isso, eu me auto-defino, fundamentalmente, como um crítico social, como um militante das causas sociais. Me sinto muito privilegiado, como militante, porque tive a honra de ter militado ao lado de homens e mulheres hoje considerados como ilustres: Malcolm X, Cheikh Anta Diop, Aimé Césaire, Maya Angelou, Stokely Carmichael, Lelia Gonzalez, Walterio Carbonell, Abdias Nascimento, Harold Cruse, Alex Haley, e tantos outros e outras. Todas essas figuras ocuparam um lugar importante no combate que, ao meu ver, constitui a maior das causas sociais que a humanidade tem sido obrigada a sustentar: o combate contra o ódio racial, contra a opressão racial, e contra as discriminações e vexames de todo tipo que são inerentes a esse fenômeno criado pela história das relações dos humanos entre si. Sinto orgulho de tê-los acompanhado nessa trajetória de combate por um mundo melhor para todos nós.
Porque no Brasil me sinto perfeitamente em casa e em família. É uma questão de sentimento, o que é algo eminentemente subjetivo. GI- Por que o Senhor escolheu o Brasil para viver atualmente, e, mais especificamente, por que Salvador? CM- Porque no Brasil me sinto perfeitamente em casa e em família. É uma questão de sentimento, o que é algo eminentemente subjetivo. Não estamos falando do terrível drama que constituem as abissais desigualdades sociorraciais existentes no Brasil. Há poucos países nos quais eu me sinto realmente em casa: o Senegal, o Haiti, a Trinidad e, naturalmente, a Cuba. O Brasil é um desses países onde eu não me sinto como um estrangeiro, mas como se tivesse nascido nele. Salvador é, para mim, como a terra que me viu nascer. Amo muito essa cidade, o povo, o jeito, as ruas, os prédios, o mar. Porém, tenho decidido morar no Brasil até o momento do meu retorno a Cuba. E quando esse dia chegar, sei que irei embora com muita tristeza no meu coração, pois o Brasil tem se convertido, também, no meu país. GI- O Senhor é conhecido, internacionalmente, como um dissidente do regime cubano de Fidel Castro, principalmente por questões que envolvem os conflitos raciais. O Senhor pode nos falar um pouco sobre sua percepção histórica desses conflitos, e como tem sido sua relação com os ativistas marxistas do movimento social negro que admiram profundamente a revolução cubana? CM- Teria que escrever todo um livro para responder a isso, o que já fiz em Pichón: Race and Revolution in Castros’s Cuba (Raça e Revolução na Cuba castrista), que acaba de ser publicado nos Estados Unidos. A minha disputa com o regime Cubano foi violenta porque esse regime decidiu que ele não tinha por que discutir com um “bando de neguinhos equivocados”, como a liderança castrista nos qualificou. Eles pensaram que, como eles eram brancos, inteligentes, marxistas e antiimperialistas, nós, negros, só tínhamos que nos alinhar sob comando deles, e seguir as instruções políticas que eles nos davam. Ou seja, que deveríamos
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arriscar as nossas vidas no combate contra o inimigo imperialista, e, claro, trabalhar para edificar a nova sociedade socialista. Mas, como bons soldados negros marxistas, devíamos nos calar no que diz respeito aos problemas da sociedade cubana, sobre as grandes decisões políticas, e seguir as instruções dos nossos dirigentes super-inteligentes. Mas, nós que tínhamos outra idéia da Revolução, achamos que havia algo de errado nessa relação que nos propunha a liderança castrista – composta em mais de 95% por brancos provindos da alta burguesia e da classe media cubana. Pensávamos que havia que encarar a situação racial em Cuba como primeiro passo na construção do socialismo e da igualdade, mas essa liderança respondeu que em Cuba não havia racismo; que vivíamos numa “sociedade mestiça” onde todos os cubanos eram “mulatos”; que o socialismo estava “além da raça”, e que a única cor na Cuba revolucionaria era a “Cor Cubana”. Claro, compreendemos que se tratava da demagogia de sempre, a mesma que tinha sido usada durante todo o período republicano anterior, e que a liderança revolucionária tinha recuperado, para elaborar uma nova ideologia mentirosa baseada numa suposta “pós-racialidade socialista”. É por isso que o movimento negro Cubano daquele momento, ou seja, o período de 1959 até 1965, chocou-se, quase de imediato, com a nossa liderança revolucionária. Esta última estava composta por homens e mulheres que usufruíam de grande prestígio, dentro e fora do país, e que estava liderada por um dos grandes gênios políticos do século XX: o Fidel Castro Ruz. Sabíamos disso, mas também sabíamos que Fidel Castro Ruz não era Deus, e que mesmo se ele o fosse, ele estava cometendo uma barbaridade em relação à questão racial. Assim, todos aqueles que levantaram as suas vozes para alertar o regime revolucionário que ele estava levando Cuba por um caminho errado no que diz respeito à questão racial, fomos catalogados como “negros ingratos” e, finalmente, como “racistas negros” e “negros contra-revolucionários”. A partir daí, a impossibilidade de diálogo com o regime se tornou patente, e terminou em confronto. Como as forças em presença eram desiguais, pois eles tinham o poder do Estado e nós somente o poder das nossas idéias, nós fomos impiedosamente esmagados. Em resumo, isso foi o que aconteceu. Fidel Castro, Che Guevara e Raúl Castro tinham sido elevados ao estatuto de Deuses gregos. Ninguém que tivesse idéias diferentes aos deles tiveram o direito de ser ouvidos. Nós, dissidentes revolucionários negros, devíamos nos prostrar diante deles de maneira obsequiosa, submissa e covarde, ou ser esmagados. Então, fomos detidos, enviados para as cárceres abomináveis que o regime já tinha aberto, ou para os diferentes campos de trabalho forçado que já existiam no país, ou enviados para a destruição mental nos hospitais psiquiátricos. O mais célebre desses casos foi o do grande pensador Walterio Carbonell, demolido num manicômio. Cinqüenta anos tiveram de transcorrer para que o mundo começasse a se perguntar o que é que estava ocorrendo em Cuba com a população negra majoritária? Foram cinqüenta anos de defesa do “paraíso pós-racial” cubano pela esquerda toda, branca ou negra. Inclusive, essa novela continua sendo de atualidade em praticamente toda a chamada América Latina principalmente em países como o Brasil - onde a esquerda é de um infantilismo racista digno de estudo pelos psicanalistas. Eles pensam que os Cubanos negros não tem o direito de se opor a um regime que os oprime de um jeito similar à maneira em que os militares oprimiram aos brasileiros durante duas décadas. Não tão somente em América “Latina” mas
no mundo inteiro, essa esquerda marxista tem problemas sérios quanto à analisar a questão racial, ou quanto a se relacionar com os negros, individualmente, ou como coletividade racial que tem um percurso histórico singular. GI- Pichón é o primeiro volume de uma trilogia sobre seus 50 anos de vida política ativa, não é? Por que esse título? O Senhor poderia nos detalhar um pouco mais a questão? Há alguma possibilidade em vista dele ser traduzido para o Português? (Disponível no http://www.amazon.com/). CM- Pichón é uma narrativa na primeira pessoa, sobre a vida em Cuba, antes e depois da Revolução de 1959. É uma narrativa que conta o que era a Cuba de antes de 1959 – uma Cuba horrorosa, onde a população negra vivia sob uma espécie de regime neofascista, e onde o racismo funcionava do mesmo jeito em que funciona atualmente no Brasil. Ou seja, um racismo surreptício, sempre insidioso, hipócrita e covarde, que se esconde convenientemente sob uma máscara de “democracia racial” e de “cordialidade racial”, mas que exerce uma violência sistemática contra os negros em todos os âmbitos da vida quotidiana. Na Cuba antes da Revolução, se eliminava os jovens negros do mesmo jeito que eles ainda são eliminados e reprimidos na Colômbia, no Brasil, no Peru e no resto da chamada “América Latina”. A Cuba pré-castrista foi um inferno, em todos os sentidos, e Pichón demonstra isso. E logo veio a Revolução, com dirigentes nacionalistas e imbuídos de um sentido de justiça social, mas também imbuídos do sentimento que eles eram racialmente superiores à população NEGRA cubana que nesse momento constituía ao redor de 45% do total. Ora, aconteceu algo que Fidel Castro e seus companheiros não tinham esperado, nem muito menos planejado: a defecção massiva e fuga para os Estados Unidos de entre 15% e 20% da população branca da ilha, maiormente a burguesia e uma parte enorme da classe media cubana. Assim Fidel Castro começou a mexer na estrutura agrária de Cuba, ou a falar da necessidade de redistribuir a renda nacional de uma maneira mais equitativa, aqueles que o levaram ao poder – ou seja, a burguesia branca Cubana da qual ele era parte – se virou contra ele e se colocou ao serviço dos americanos. Foi isso o que aconteceu. Assim, a fuga para o exterior de entre 15% e 20% da população branca, entre 1959 e 1962, produz uma extraordinária revolução demográfica em Cuba, e deixou a Fidel uma maioria negra nas mãos. O país passou, em quatro anos, de uma maioria branca para uma maioria negra que, a partir daí continuou a crescer. Ou seja, que Fidel Castro nunca tinha sonhado, ao iniciar a Revolução, que ele terminaria estando à frente de uma nação negra! Aqueles que conhecem a história de Cuba sabem que esse tem sido o pavor da população branca em Cuba ao longo dos séculos, e que ele tem sido rotulado como “Peligro Negro.” Ora, no meio de todas essas transformações, o movimento negro préexistente à Revolução, começou a exigir a sua inclusão na direção política. Mas o medo aos negros como tal foi mais forte entre a direção castrista que seu ânimo de mudar a sociedade. Muitos revolucionários Marxistas ficaram traumatizados diante da nova situação e reagiram com inusitada vigor contra qualquer manifestação de Negritude por parte dos revolucionários negros. A repressão se abateu sobre o que havia em Cuba como Movimento Negro, e seus lideres foram forçados ao exílio, ou internados nos campos de
Fidel Castro, Che Guevara e Raúl Castro tinham sido elevados ao estatuto de Deuses gregos. Ninguém que tivesse idéias diferentes aos deles tiveram o direito de ser ouvidos. Nós, dissidentes revolucionários negros, devíamos nos prostrar diante deles de maneira obsequiosa, submissa e covarde, ou ser esmagados. Então, fomos detidos, enviados para as cárceres abomináveis que o regime já tinha aberto, ou para os diferentes campos de trabalho forçado que já existiam no país, ou enviados para a destruição mental nos hospitais psiquiátricos. trabalho forçado, ou destruídos nos hospitais psiquiátricos onde lhes foram administradas substâncias químicas que destruíam seu raciocínio. Tal foi o caso horrível do maior ideólogo negro cubano: Walterio Carbonell. O Dr Juán René Betancourt Bencomo, dirigente nacional de todos os grêmios negros (Sociedades de Cor), salvou a vida, fugindo para o exterior, onde morreu pouco depois. Na realidade, poucos foram os intelectuais, artistas ou acadêmicos dissidentes negros – como Manolo Granados, Enrique Patterson, ou Reinaldo Barroso – que puderam fugir Cuba. No que se refere a mim, após ter sido detido, e, logo depois de ter sido internado num campo de “reabilitação” (eu não conheci a experiência dos terríveis campos UMAP que conheceram os outros), logrei fugir para dentro da embaixada da Guiné, e, sob a proteção diplomática de quatro embaixadas da África, fui tirado de Cuba, em novembro de 1963. A partir daí, começa uma luta dura, de fora, contra o Estado cubano que durou
trinta e quatro anos, e nela quase perdi a vida. Nem sei como foi que escapei à destruição. E, no final dos anos noventa, quando o regime castrista já tinha perdido o apoio do império soviético, e que a situação interna tinha-se voltado bastante convulsa por causa da crise econômica, o regime cubano deu uma meia-volta e me autorizou a voltar. O regime me restituiu o passaporte e me autorizou a visitar o país, mas não morar nele. Eu, até hoje, não tenho o direito de morar no meu próprio país. E continuo sob alta vigilância dos serviços secretos de Cuba, mesmo no Brasil. Mas, mesmo assim, não calei, nem calarei a boca. É essa, em resumo, a história que eu conto em Pichón. GI- Que outros textos e livros o Senhor já lançou no mercado internacional que podem nos auxiliar na compreensão do dilema racial brasileiro? CM- Todos os meus trabalhos tratam de algum aspecto da questão racial, ou da luta emancipadora dos povos africanos ou da origem africana de todos os povos do planeta. O meu primeiro trabalho não foi propriamente um livro, mas um longo ensaio sobre a questão racial e a Revolução cubana. Ele foi publicado, em Paris, em 1965, pela revista Présence Africaine, sob o titulo: “Les Noirs-ont-ils leur place dans La Révolution Cubaine?” (Qual o lugar dos Negros na Revolução Cubana?). Foi esse documento que deflagrou a guerra aberta com o regime e que me valeu às acusações, pelo regime cubano e seus seguidores, de ser um “agente do imperialismo” e um “agente da CIA”. Ora, o meu primeiro livro sobre esses problemas só foi publicado em 1970: Were Marx and Engels Racists? (Marx e Engels eram racistas?). Foi a minha primeira análise teórica da questão racial sob a ótica do que os fundadores do marxismo tinham dito sobre a questão racial. Claro, esse trabalho foi condenado massivamente pelos marxistas e os esquerdistas porque a tese que sustentava essa obra se resumia à conclusão de que o marxismo carecia de bases teóricas para compreender o racismo e muito mais para resolvê-lo. O segundo livro, This Bitch of a Life (Esta Puta Vida), publicado em 1982, foi a biografia de Fela Kuti, o grande líder panafricanista e compositor nigeriano. Eu queria que a mensagem desse extraordinário líder e artista atingisse o resto do mundo. O terceiro livro, Castro, the Blacks and Africa (Castro, os Negros e a África), publicado em 1989, é a primeira análise profunda da questão racial em Cuba sob a Revolução. Nele, analisei impacto da situação racial interna sobre a política internacional de Cuba, especificamente voltada para o continente africano. O quarto livro, African
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E continuo sob alta vigilância dos serviços secretos de Cuba, mesmo no Brasil. Mas, mesmo assim, não calei, nem calarei a boca. É essa, em resumo, a história que eu conto em Pichón. Presence in the Americas (A Presença Africana nas Américas), publicado em 1995, e uma coletânea de textos, sendo um do fundador do movimento da Negritude, Aimé Césaire, falecido na Martinica em 2008. O quinto livro, From Comecon to Caricom (Do Comecom ao Caricom), é também uma coletânea de textos, publicado em 1999, analisando a situação de Cuba após a queda do mundo Comunista. O sexto e sétimo livros, Racismo & Sociedade e A África que Incomoda, foram publicados respectivamente em 2007 e 2008, no Brasil. Essas duas obras são as únicas que se encontram disponíveis em Português. O oitavo livro é Pichón; Race and Revolution in Castro’s Cuba (Pichón: Raça e Revolução na Cuba castrista), lançado nos Estados Unidos em novembro de 2008. Ele é parte de uma trilogia que narra os acontecimentos no mundo dos últimos 50 anos, na perspectiva de um militante negro. E, nestes momentos, estou terminando A última Fronteira do Ódio, que é uma análise histórica do racismo que prolonga e expande as reflexões iniciadas em Racismo & Sociedade. Acho que uma vez terminada essa última obra, mas aquelas duas outras que pertencem à trilogia iniciada com Pichón, vou dar uma paradinha. Ou seja, resumindo: ainda tenho três obras a terminar. Acho que após ter terminado essas três últimas obras, terei cumprido com a minha “missão” no sentido político e humano. GI- O Senhor foi publicado em livro, recentemente, em português. Um dos desses livros é Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo (Mazza Editora). O Senhor aborda o Racismo e a Escravidão como elementos que não tem a mesma origem histórica. Fica evidente seu objetivo de rediscutir esses conceitos a partir de novos paradigmas. O senhor poderia nos responder duas questões: a) qual o objetivo e como nasceu o projeto deste livro no Brasil; b) como o Senhor coloca, categoricamente, os conceitos acima destacados? CM- Acho que os militantes, particularmente, deveriam reservar um pouco do seu tempo para se documentar sobre algo tão importante como o surgimento e evolução do racismo na história. É disso que trata Racismo & Sociedade. A idéia do livro surgiu de um pedido por parte de Eliane Cavalleiro e de
Luiza Bairros, ambas militantes de primeira linha do movimento negro brasileiro. Eu vinha discutindo dessas questões com a Luiza, com o Silvio Humberto dos Passos Cunha, com o Durval Azevedo, e outros, desde a minha chegada no Brasil. Luiza pensou que era necessário que eu entregasse à sociedade o resultado das minhas pesquisas de várias décadas na Ásia, no Pacífico e na Europa, e assim discutiu com a Eliane Cavalleiro sobre isso. Nesses momentos, Eliane estava na frente da SECAD, o órgão do Ministério de Educação encarregado de fazer cumprir a Lei 10.639/03. E o livro se fez graças ao financiamento desse órgão e da Casa das Áfricas, dirigida pela professora Daniela Moreau. O Instituto Steve Biko, sob a direção do professor Silvio Humberto, acolheu o projeto, e negociou diretamente com a SECAD para levá-lo à materialização. Mas, para se eu resumir as conclusões que eu proponho nessa obra, o faria da maneira seguinte: a) o racismo é uma secreção histórica, portanto um dado permanente da sociedade, e não uma construção ideológica facilmente reversível, nem muito menos uma aberração psicológica; trata-se de uma forma de consciência historicamente conformada que, ao longo dos séculos, se tornou num sistema perfeitamente racional, baseado na procura, detenção e distribuição monopolística dos recursos da sociedade e na sua repartição seletiva e desigual segundo o pertencimento a um ou outro “segmento fenotípico” (raça); b) o racismo é um sistema de poder total, que se exerce por meio do controle, também monopolístico, das instâncias políticas da sociedade, o qual permite à raça dominante ditar as regras de como deve funcionar a economia, e por tanto, de como devem ser distribuídos os recursos: para o beneficio exclusivo ou preponderante do segmento fenotípico que usufrui do poder, e para o detrimento total daqueles segmentos fenotípicos que são excluídos dele; c) o racismo, portanto, não é unicamente um problema de relações interpessoais, nem de valores morais ou religiosos, e muito menos de simples preconceitos, mas um sistema coerente de dominação, com uma enorme longevidade que lhe permite ser elástico, totalmente transversal e abrangente; ele funciona maravilhosamente bem para a raça que o desenhou, e só é negativo para a raça que sofre seu impacto pulverizador e esmagador; d) o racismo se baseia numa realidade concreta e real, não imaginada: o fenótipo dos humanos; portanto raça existe e se define concretamente, mas não no sentido da biologia genética, e sim no sentido da interpretação política e social que se faz do fenótipo de certas populações humanas em relação às outras, e cuja interpretação se encontra fixada no imaginário por via de processos complexos de simbologização. Desse modo, chegamos à conclusão que, contrariamente ao que temos por costume de pensar, a escravidão racial que foi imposta nas Américas, os tráficos negreiros, o aviltamento da raça negra, não produz o racismo, senão que, pelo contrário, foi a preexistência do racismo - surgido em várias regiões geográficas, sem conexão uma com as outras, ou seja, em várias civilizações diferentes do
mundo - que deu como resultado o surgimento da escravidão racial, fenômeno singular na história na medida que só foi conhecida pelas pessoas de raça negra. Há que entender bem que não estamos falando somente da escravidão como categoria econômica, generalizada ou parcial, e que a conhecera praticamente todas as sociedades produtoras de excedente na antiguidade, mas daquela escravidão imposta exclusivamente aos povos de raça negra, precisamente por serem negros, e por causa do seu pertencimento a um segmento da humanidade facilmente reconhecível pelos seus traços fenotípicos. A raça é questão de fenótipo, e o racismo também. Como argumentar, então, que a escravidão imposta aos africanos, pelos árabes, a partir do século VIII, e pelos europeus, à partir do séculos XVI, fora racialmente neutra? A pesquisa histórica derruba essa visão reconfortante, mas simplista demais. Essas são algumas das conclusões apresentadas em Racismo e Sociedade. GI- Outro lançamento recente em Português é A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro (Ed. Nandyala). Qual o objetivo deste trabalho? Com que platéia este livro pretende dialogar? CM- O objetivo desse livro é chamar a atenção da população negra brasileira, especialmente seus quadros intelectuais e políticos, sobre a necessidade urgente de começar a se familiarizar com a África concreta, pois é essa a África que está na mira das multinacionais chinesas, americanas, japonesas, européias, indianas e brasileiras. Há que compreender a posição da África no mundo, e compreender o papel crescente do Brasil nesse mundo, para não acordar um dia com uma grande surpresa: descobrir que estamos dentro de relações perfeitamente neocolonialistas com o nosso próprio continente ancestral, e que nós mesmos somos os instrumentos de um novo imperialismo que não seria desta vez o imperialismo norteamericano. O Brasil está emergendo como grande potência no mundo, ao lado da China, da India, do Irã, da Turquia e do Paquistão e devemos começar desde já a tornar os olhos para todas implicações, internas e externas, dessa expansão brasileira. E o outro lado da moeda é a análise que devemos fazer no que diz respeito às elites oligárquicas que dominam a vida dos povos africanos de maneira tão desastrosa e prejudicial para todo o continente. Há que estar cientes dessas realidades todas e não se deixar arrastar nem pela ingenuidade, nem pela emoção, nem pelo chauvinismo nacionalista. Há que olhar para o futuro, interrogar o passado, e delinear o contorno do nosso presente, tudo ao mesmo tempo. Acho que os intelectuais e investigadores estão lá para alertar à sociedade sobre os perigos que ela corre. Os intelectuais não devem se deixar intimidar pelos governos, nem pelas instituições oficiais, e devem, sim, em todas as circunstâncias, exercer uma função crítica. GI- Em todo o Brasil, o Senhor tem feito palestras,
conferências e cursos que envolvem questões ligadas ao panafricanismo e à história do movimento social negro no mundo. Que conteúdos são mais solicitados ao Senhor pelos produtores e expectadores nesses eventos? Como o Senhor avalia essas necessidades intelectuais, principalmente dos ativistas do movimento social negro? GM- A meu ver, o problema fundamental aqui, no Brasil, como em todas as Américas, especialmente em Cuba, é o problema da convivência entre as raças, a existência da opressão racial, das discriminações em base à raça. Enfim, toda a problemática essa que gira em torno da pretensão de um grupo de humanos a monopolizar os recursos em detrimento de todos os outros, sob o argumento que ele representa um segmento superior da espécie humana, e que todos nós não
somos senão subespécies destinadas a servir de escravos, babás, serventes, seguranças, e todo o resto que sabemos. É disso que se trata nas minhas palestras, nas quais trato de explicar a questão racial a partir de uma perspectiva histórica, e não somente como uma questão de conjuntura. Acho que as mentes estão se abrindo, no Brasil, como conseqüência de dois fatores: a ação que vem desenvolvendo o Movimento Negro desde há varias décadas, e as medidas positivas que tomou o governo Lula desde que tomou o poder. Sabemos que são medidas tímidas, considerando a dimensão gigantesca do problema a ser resolvido, mas são passos na boa direção que um regime revolucionário como o de Cuba não se atreve ainda a dar. GI- Professor Carlos Moore, o Senhor conviveu, irmanadamente, com um dos
artistas populares mais criativo e polêmico de toda a história: o nigeriano Fela Anikulapo Kuti. Desta convivência surgiu um livro de sua autoria chamado This Bith of Life (algo como Esta Puta Vida). Onze anos após sua morte, Fela Kuti vem sendo redescoberto em todos os continentes. É considerado, hoje, uma espécie de "Bob Marley" do Continente Negro. Na França e Inglaterra, está em alta, com direito, inclusive, a grandes exposições temáticas. Nos EUA, entre tantas ações, teve, no último dia 04 de setembro, a estréia de uma peça baseada no perfil do artista no Off Broadway Theater, a ante-sala da Broadway, para onde a peça seguirá com certeza. Sabese que, no mundo, apenas a partir da biografia de sua autoria, entre 15 e 20 trabalhos, principalmente em áudiovisual, vem representando a trajetória de Fela. De minha parte, penso que o seu livro, dentre outros, é vital para oxigenar a arte e o ativismo negro no Brasil, principalmente na cultura que participo mais pontualmente: o hip hop. Qual a real importância da história musical e política de Fela, o que significa para o Brasil conhecer mais a fundo sua experiência radical? CM-Em uma palavra: não se pode realmente pretender ser culto, e muito menos culto nas questões do Mundo Negro, sem conhecer a obra e o pensamento de Fela Kuti. Fela foi um dos grandes ativistas e pensadores do panafricanismo no século XX. O que o distingue dos outros pensadores panafricanistas é que ele desenvolveu a luta panafricanista não no contexto da luta pela descolonização, mas dentro da problemática complexa e terrível que representa a sociedade africana pós-colonial; ou seja, uma sociedade controlada, oprimida e esmagada não diretamente pelas potências européias ou por regimes minoritários brancos, como na África do Sul ou na Rhodesia (atualmente o Zimbábue). O Fela teve de desenvolver o panafricanismo no contexto da opressão dos africanos pelas oligarquias e as elites africanas surgidas da independência do continente. Ninguém estava preparado para o que aconteceu após a independência: a chegada ao poder de oligarquias traidoras e assassinas que espertamente confiscaram o panafricanismo e o transformaram em uma ideologia de Estado, para servir os interesses bastardos das novas elites opressoras africanas. O Fela teve de repensar o panafricanismo tradicional e reformular as bases de um novo panafricanismo de luta pelos interesses dos povos africanos esmagados do continente e nas diásporas africanas. Ele foi um gigante e usou seu poder criativo, como músico, para propagar essa nova orientação ideológica do panafricanismo. É por isso que me juntei a ele e que estimei que havia que escrever um livro sobre sua vida. Eu queria que o mundo inteiro ouvisse a mensagem que carregava na sua musica maravilhosa e nos seus pronunciamentos. Esta Puta Vida irá ser traduzida e publicada, também no Brasil, o ano que vem. A partir daí, as pessoas se darão conta da grandeza do personagem, e de sua imensa contribuição ao Mundo Negro, ao mundo das artes e à musica em geral. Para países como o Brasil, com sua maioria negra, conhecer a obra de Fela é indispensável para o fortalecimento da consciência cultural. Além disso, a música de Fela é uma das coisas mais belas do mundo. É por isso que solicitei ao Gilberto Gil de se incumbir do prefácio de This Bitch of a Life, que será publicada nos Estados Unidos em abril de 2009. O Gil fez um lindo, profundo e comovedor prefácio realmente. E, dentro de alguns meses, essa biografia de Fela Kuti, com o prefácio de Gil, também será publicado no Brasil, em português, pela editora Nandyala, de Minas Gerais.
Ale xH ale y&C ar los M oor e & Aimè Césair e Alex Hale aley Car arlos Moor oore Césaire
Em uma palavra: não se pode realmente pretender ser culto, e muito menos culto nas questões do Mundo Negro, sem conhecer a obra e o pensamento de Fela Kuti.
GI- Como o senhor recebeu a notícia do falecimento de
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Fela Kuti.
seu amigo e parceiro, o poeta e ativista Aimé Cesáire, fundador do Movimento da Negritude? Recentemente, foi publicado o Discurso sobre a Negritude a partir do registro de um colóquio que o Senhor organizou. Apesar do termo Negritude ser um estandarte entre os militantes do movimento social negro no Brasil, poucos conhecem a obra poética e filosófica de Césaire . Hoje, no Brasil, cresce de maneira vertiginosa um movimento literário que tenho chamado Literatura Divergente, mas que também tem recebido os rótulos de Literatura Marginal, Periférica, Maloqueirista, etc. O Senhor pode nos instruir um pouco sobre o poeta Césaire? Como o Senhor avalia a importância que teve a literatura no processo da Negritude e qual pode ser o potencial poético e político dos escritores que fazem este movimento que citei, oriundo dos bolsões de misérias e racismo do Brasil? CM- Claro, foi um momento de tristeza para mim, como militante, mas também como alguém para quem o Césaire sempre foi como um pai. Césaire me ajudou na vida, ao longo de mais de quatro décadas e, junto com o Abdias Nascimento, foi um dos meus maiores amigos pessoais e aliados políticos. A obra de Aimé Césaire, como a obra de Cheikh Anta Diop, é fundamental para todos, brancos e negros, que se interessam realmente pela problemática racial. A Negritude foi o movimento mais revolucionário que tivemos até agora, na definição dos parâmetros da luta contra o racismo. Cada qual, nas condições que são as suas, tem adaptado a Negritude de Césaire às condições específicas do seu contexto. Por exemplo, a Negritude foi trazida para dentro do Brasil pelo Abdias Nascimento e outros que, nos anos trinta e quarenta, militavam com ele. Na África do Sul, foi Steve Biko quem adaptou a Negritude de Césaire às condições de lá, chamando-a “Consciência Negra”. E nos Estados Unidos foram os intelectuais da Harlem Rennaissance (Countee Cullen, Langston Hughes, Claude McCay), e, muito mais tarde, os militantes do Black Power (Poder Negro), que assumiram a bandeira da Negritude e que o sintetizaram nas palavras: Black is Beautiful! Na atualidade, a Negritude de Césaire está sendo reelaborada pelo movimento Hip-Hop mundial, e está atingindo os jovens do mundo inteiro, sejam negros ou não: todos aqueles que desejam uma mudança fundamental da sociedade na direção da cooperação solidária e o fim do racismo. O grande sucesso da Negritude de Aimé Césaire se encontra, justamente, nesse fato: se trata de uma visão que já alcançou todo o planeta, implicando-nos todos. A Negritude é de todos, para evolucionar como seres humanos, e para estabelecer sociedades justas. Mas o fato de Césaire ter sido um dos maiores poetas do século XX nos conduz a outra dimensão do problema do mundo negro, universo dominado de maneira marcante pela oralidade. O mundo da oralidade tem sido reduzido pelo Ocidente a um mundo de inferioridade, pois só a expressão escrita teria valor. As elites negras que assumiram o poder nos diferentes países africanos acreditaram nessa postulação racista e, conseguintemente, abandonaram as línguas africanas e as tradições de oralidade das nossas civilizações; eles privilegiaram as línguas européias estrangeiras e as tradições da escrita, elevando estes a uma posição de hegemonia total. Césaire compreendeu que se tratava de uma decisão trágica que condenava os povos africanos a uma situação de inferioridade de fato diante do mundo ocidental dominante. Ele reagiu, e inventou a Negritude, que nasceu de um gesto poético. A poesia é o modo fundamental por meio do qual uma sociedade que privilegia a comunicação oral para transmitir seus fundamentos éticos, filosóficos e morais, se perpetua
organicamente. É isso que o Césaire tinha compreendido, bem antes que qualquer outro: que a nossa tradição de oralidade, desde os tempos do Egito faraônico até os dias de hoje, não deveria ser desestimada nem abandonada. Césaire viu que a poesia desempenha, nas nossas sociedades, um papel orgânico fundamental, na medida em que ela nos permite fundir as diferentes dimensões e aspectos da verdade social: a informação, a formação, a transmissão dos valores morais, e a expressão dos sentimentos: de amor, de amizade, de revolta, de ira, de generosidade, de perdão, de solidariedade. Devemos aproveitar as vantagens da escrita, pois ela ajuda a preservar a memória histórica e é um instrumento maravilhoso para a transmissão do conhecimento tecnológico, mas sem abandonar a oralidade, pois esta é, em ultima instância, o modo de comunicação entre humanos que nos obriga a entrar em contato com o nosso próximo da maneira mais imediata que seja: a fala. A poesia nos permite nos enraizar no humano através de uma capacidade que nenhum outro animal tem: a capacidade de falar. Ou seja, que, para as sociedades e civilizações africanas – o chamado Mundo Negro - a poesia é um modo orgânico de comunicação privilegiado para reinventar a sociedade. Acho que é por isso que a tradição Hip-Hop/Rap tem tido um impacto tão revolucionário no mundo, pois ele chega ao povo diretamente, de boca a orelha, através da expressão poética ligada à música. GI- Professor Carlos Moore, como o Senhor avalia a abrangência política de sua recente Carta Aberta ao Presidente de Cuba? Como estão os desdobramentos da questão? CM- Em primeiro lugar, a Carta Aberta ao presidente-General Raúl Castro Ruz tinha vários objetivos, todos os quais foram atingidos. O primeiro era dar publicidade a algumas das demandas específicas que estão surgindo de distintos setores da população negra. O segundo era testar as intenções verdadeiras do governo raulista; veremos isso nos meses que vem. Por enquanto, este último fala de “reformas”, mas cada vez que anunciam novas medidas, essas são puramente cosméticas. Nada tem sido feito pelos raulistas que signifique uma verdadeira mudança de rumo na direção do desmantelamento das estruturas totalitárias, racistas e oligárquicas que alicerçam o regime. Absolutamente nada! O outro objetivo era impedir que o governo cubano continuasse desenvolvendo a farsa demagógica que consiste em insistir no fim do embargo/bloqueio americano, mas sem contemplar o fim do embargo/bloqueio instituído pelo regime, desde 1959, sobre a população majoritária do país. E, por último, pensei que era o momento de oferecer idéias novas susceptíveis de contribuir a iniciar um processo de mudanças verdadeiras, caso a equipe raulista quisesse encontrar uma saída consensual á situação cada vez mais bloqueada que conhece Cuba. A situação racial em Cuba é o problema fundamental da nação, e essa situação está se agravando. Como sempre, as ditaduras estimam que elas podem conter eternamente o povo que dominam por meio do terror. Mas a história nos ensina que o terror funciona até certo ponto, e logo, um dia, o povo não teme mais as conseqüências. Essas são as razões que me moveram a dirigir essa Carta Aberta ao presidente cubano. Não há outras razões, pois eu não tenho nenhum interesse político, nem agora nem para o futuro, que não seja ser um mero crítico social. Não tenho nenhuma agenda secreta. Quero, sim, voltar para meu país, e poder viver lá livremente e contribuir, como um intelectual crítico, à reconstrução de Cuba segundo um modelo democrático que preserve as conquistas sociais do povo cubano. É isso que eu quero; não a volta do passado horroroso, mesmo que seja sob um capitalismo ao estilo da China, nem a continuação do presente infernal, sob um comunismo bastardo e ineficiente, que tolera a proliferação das desigualdades sócio-raciais e mantém as estruturas racistas em pé. GI- Professor Carlos Moore, muito obrigado pela entrevista!
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Malcolm X & Carlos Moore
Ou seja, que, para as sociedades e civilizações africanas – o chamado Mundo Negro - a poesia é um modo orgânico de comunicação privilegiado para reinventar a sociedade. Acho que é por isso que a tradição Hip-Hop/Rap tem tido um impacto tão revolucionário no mundo, pois ele chega ao povo diretamente, de boca a orelha, através da expressão poética ligada à música.