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DOMINGO, 11 DE MARÇO DE 2012

DIÁRIO DO GRANDE ABC

SETECIDADES

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Fernando Nonato

Claudinei Plaza

SANTO ANDRÉ Av Edson Danilo Dotto - Centro Pichada, com mau cheiro, e sem iluminação Estação Ferroviária Celso Daniel - Centro Mau cheiro, pichada e com fissura na estrutura Av. José Antônio de Almeida Amazonas Centro Sem cobertura e com furos nas telas de proteção

Arte:Seri/Foto: Tiago Silva

Av. Dos Estados - Estação Prefeito Saladino Mau cheiro e pichada

SÃO BERNARDO Av. Brigadeiro Faria Lima - Centro Pouca iluminação e pichada Av. Pereira Barreto - Centro Pouca iluminação e pichada Av. Brigadeiro Faria Lima Sentido Santo André Pouca iluminação e pichada

MAUÁ Av. João Ramalho - Centro Estrutura enferrujada e trechos com telas de proteção estragadas Av. Capitão João - Centro Sem cobertura e pichada

Av. Pereira Barreto - Vila Gilda Sem iluminação e pichada

Rodovia Anchieta - Rudge Ramos Sentido São Paulo Pichada

Av. Capitão João - Jardim Pilar Sem iluminação, pichada

Av. Pereira Barreto - Vila Apiaí Fios de iluminação expostos e pichada

Rodovia Anchieta - Rudge Ramos Sentido Litoral Pichada

Av. Capitão João - Jardim Guapituba Sem iluminação e estrutura enferrujada

RIBEIRÃO PIRES Rua Capitão José Gallo Estação Ferroviária de Ribeirão Pires Conservada e iluminada

RIO GRANDE DA SERRA

Rua Pastor Aquilino Sartori Estação Ferroviária de Rio Grande da Serra Conservada e iluminada

Passarelas são reflexo do abandono

Pedestres evitam as passagens e poder público não cuida da manutenção como deveria Alexandre Calisto Especial para o Diário

C

onstruídas para garantir a segurança de pedestres e agilizar o fluxo de veículos em vias de intenso movimento, a maioria das passarelas não têm cumprido seu papel no Grande ABC. A justificativa de pessoas que se arriscam em meio aos carros para evitar as passagens é de que são inseguras e propiciam ações de criminosos e mesmo de estupradores. A equipe do Diário percorreu as 17 mais movimentadas – são 44 – da região e constatou que não são deixadas de lado apenas pelo medo daqueles a quem deveriam beneficiar, mas também pelo poder público, que não cuida da manutenção. A falta de ações que reflete o abandono dos equipamentos passa por falta de iluminação, pichação, fissuras no piso, infiltrações de água e telas de proteção avariadas, além de usuários de drogas que fazem ponto nesses locais. Com relação à segurança, o delegado do 1º Distrito Policial de São Bernardo, Vitor Lutti, diz que o recomendável é as pessoas nunca cruzarem as passarelas sozinhas, principalmente mulheres e idosos, alvos preferenciais dos criminosos nesses locais. “Claro que a ação criminosa é sempre inesperada, mas há medidas preventivas para evitar que isso aconteça. Nas passarelas, nunca esteja sozinho.” Nas visitas às passagens, os relatos dão o tom do descaso com que as administrações municipais tratam os equipamentos. Em Santo André, na Avenida Pereira Barreto, na Vila Gilda, a passarela está às escuras há cerca de 20 dias, se-

gundo comerciantes. De acordo com a vendedora Kelly Almeida, 29 anos, a região é alvo constante de furtos devido à falta de iluminação. “Quando escurece, nós ligamos as luzes das fachadas para diminuir a escuridão.” Ainda na cidade, a passagem de nível da Estação Ferroviária Prefeito Celso Daniel está abandonada, com mau cheiro, pichações e fissuras no chão. Em Mauá, a situação não é diferente. O supervisor Edson Lopes, 40, também reclama do muro alto de proteção e conta como as pessoas fazem para circular ali. “Algumas mulheres esperam outras pessoas chegarem para atravessar.” Em São Bernardo, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, os roubos são frequentes. A auxiliar de serviços gerais Maria de Lurdes Araújo, 63, não utiliza a passarela à noite por medo. “Prefiro dar a volta na avenida em vez de passar aqui.” Na Rodovia Anchieta, na altura do bairro Rudge Ramos, a situação é pior. Segundo a ajudante de cozinha Ana Amélia, 50, não há horário para a ação dos bandidos. “Aqui teve até tentativa de estupro com minha amiga”, alerta. Todas as prefeituras foram procuradas, mas apenas São Bernardo respondeu sobre a questão da segurança. Informa que a vigilância das passarelas em torno do Paço é exercida pela Guarda Civil. Em relação às passarelas da Rodovia Anchieta, que pertence à concessionária Ecovias, a empresa afirmou que a segurança e repressão ao crime é feita pela Polícia Militar Rodoviária, mas que disponibiliza as imagens geradas pelas câmeras de monitoramento do local. ▲

Quanto mais ocupadas, mais seguras Especialistas em urbanismo e mobilidade apontam que a utilização das passarelas é a melhor forma de torná-las seguras e de também garantir que o poder público passe a se preocupar de fato com a manutenção desses locais. Antes dos pedestres se apossarem das passagens é preciso que as administrações façam a sua parte e invistam na recuperação e na modernização desses espaços. O urbanista Cândido Malta, um dos mais conceituados do País, defende a tese de que as prefeituras devem fazer passarelas mais ▼

largas, de modo a abrir espaço para que se estabeleçam ao longo das passagens comerciantes ambulantes. Segundo ele, quanto mais ocupadas, menor a chance da ação de criminosos e mesmo de vândalos. Independentemente de planos futuros, o fato é que as passarelas necessitam de reformas, iluminação e segurança. Por isso, Malta reforça que os problemas devem ser corrigidos e que “jamais se deve considerar a hipótese de retirar esse meio de circulação de pedestres.” A professora de Mobilidade Urbana da UFABC (UniCelso Luiz

versidade Federal do ABC) Silvana Zioni reforça a necessidade de revitalização das passarelas por parte do poder público, e alerta sobre o longo desafio que se tem para mudar a realidade. “Se as calçadas não são seguras e mal iluminadas, imagine as passarelas como estão. Dá para entender a situação dos pedestres (que as evitam).” CRIAÇÃO As passarelas foram desenvolvidas e projetadas para facilitar a vida dos motoristas. Por isso, é possível observar que essas construções estão em locais movimentados. De

Ribeirão Pires e Rio Grande são exemplos de preservação ▼ As duas passarelas mais anti-

No Paço de São Bernardo, abandono representa perigo para pedestre

acordo com Malta, as passagens são feitas para não atrapalhar o fluxo intenso do trânsito e para não colocar em risco a vida dos pedestres. “Em avenidas movimentadas, os motoristas se sentem pressionados. Consequência disso, alguns passam o farol vermelho e o resultado são os acidentes.” Para Silvana, a questão das passarelas precisa ser rediscutida, já que não foram criadas para facilitar a vida dos que circulam em determinadas áreas. “Se o pedestre é prioridade, devemos rever suas formas de circulação nessas vias”, avalia. AC

gas do Grande ABC são as mais bem cuidadas e ficam nas estações ferroviárias de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. A equipe do Diário visitou os dois locais e encontrou as estruturas em boas condições e com iluminação adequada para a passagem dos pedestres. Porém, o que mais chamou a atenção foi a falta de hábito de utilizar as passarelas. Nas duas cidades foi possível contar o número de pessoas que escolhiam usar a passagem, sem arriscar suas vidas. A equipe esteve no local no momento em que o trem chegava à estação, horário em que há maior movimento. Foi incontável a quantidade de pessoas que optaram se ar-

riscar ao atravessar a linha férrea. Em casos extremos, algumas pessoas levantavam a cancela para seguir o caminho, mesmo quando o trem estava bem próximo. De acordo com o urbanista Cândido Malta, o brasileiro não tem o hábito de atravessar utilizando a passarela. “O povo desvaloriza a própria vida. É um valor cultural errado, que não existe em outros países.” Para ele, quem opta em atravessar pela via sabe dos ricos que corre; mesmo assim, escolhe o errado. “Não é à toa que temos os maiores índices de acidentes nas estradas. Os motoristas também têm esse hábito cultural, é assim no trânsito.” AC


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