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DIÁRIO DO GRANDE ABC

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SEGUNDA-FEIRA, 27 DE FEVEREIRO DE 2012

MEU BAIRRO Os dois lados do Jardim Jamaica Email: setecidades@dgabc.com.br

Bairro de Santo André se divide entre características interioranas e falta de segurança

Fotos: Marina Brandão

Jardim Jamaica - Santo André

Alexandre Calisto Especial para o Diário

Grande ABC

L

ocalizado bem próximo à divisa com São Bernardo, o Jardim Jamaica, em Santo André, está entre as duas principais cidades do Grande ABC, que juntas somam cerca de 1,4 milhão de habitantes. O bairro esconde peculiaridades e é dividido por ladeira que separa duas realidades distintas. De um lado, um jardim com aproximadamente cinco ou seis ruas, com praça e uma quadra de esporte; do outro, um ar interiorano, com direito até a cabra e antigo time de futebol amador. O Jardim Jamaica tem moradores fiéis, que vivem ali, em muitos casos, há aproximadamente 30 anos. São eles que descrevem com precisão como o Jamaica mudou ao longo dos anos e contam o que passam ali. O bairro, formado apenas por 0,21 km², não possui unidade pública de ensino, UBS (Unidade Básica de Saúde) e delegacia. Segundo a Prefeitura de Santo André, quem mora lá pode encontrar esses ser-

SANTO NDRÉ ÁREA TOTAL: 0,21 km² HABITANTES: 1.267 LAZER: Uma praça e uma quadra NÃO POSSUI: Delegacias, escolas e UBS

Fonte: Prefeitura

viços nos bairros vizinhos, como Jardim Stella e Cristiane, onde há o 41º Batalhão da Polícia Militar, UBS do bairro Paraíso e escolas. SEM SEGURANÇA A falta d’água, da rede de esgoto e até a pavimentação da rua são problemas que ficaram para trás. Hoje, o que está em discussão é seguran-

SANTO ANDRÉ

Jardim Jamaica

Agostinho/Editoria de Arte

ça dos moradores. Segundo relatos de alguns residentes, a área sofre com furtos em residências e de carros. O aposentado Orival Martins, 70 anos, que mora há 10 anos no local, é taxativo: “A segurança está falha”. Em conversa com a equipe do Diário, Martins disse que não só presenciou, mas viveu essa realidade. “Outro dia

Bairros vizinhos atendem os moradores do jardim com serviços como UBS, escolas e policiamento

meu genro foi abordado por um rapaz armado e teve que entregar o carro.” História parecida tem João Camarão, 69, que cuida das netas na casa da filha, moradora da área. “Já entraram aqui e levaram equipamentos, como computador. Só não levaram mais coisas porque chegamos no momento.”

DO OUTRO LADO Basta caminhar alguns metros para ver que a história é um pouco diferente do outro lado do bairro, onde está o campo do Esporte Clube Vila Nova, time do campeonato amador de Santo André. A equipe foi criada em 1975 e, desde então, conquistou cerca de 400 troféus. O clube está no Jardim

Jamaica desde 2002, quando a Prefeitura cedeu o terreno. Desde lá, os encontros nos fins de semana ocorrem religiosamente. Ao todo, 40 jogadores formam o time que já participou de campeonatos em todo o Estado e se prepara para a maratona de jogos em Santo André, que começa em abril. ▲

Morador fiel ao interior cria cabra e galinha

De um extremo ao outro. No mesmo quarteirão do campo do clube está Aparecido Oliveiro, 52 anos, que cultiva hábitos comuns do Interior. Em áreas como Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e Riacho Grande, em São Bernardo, é comum encontrar sítios onde moradores criam seus animais. Mas foi no meio da selva de concreto que morador do Jardim Jamaica há 20 anos arranjou espaço para criar seus bichos. Ao todo são cerca de 60 galinhas e ▼

Aparecido reservou parte de seu terreno para cuidar de aproximadamente 60 galinhas e quatro cabras

quatro cabras que têm seus espaços garantidos em terreno na Rua Osvaldo Cruz. Foi lá que Oliveira encontrou sossego e reforçou o laço com suas origens. Oliveira disse que nasceu em Guanambi, no interior da Bahia. Desde pequeno foi criado próximo à natureza e aos animais; quando veio para a região, optou em não deixar as raízes de lado. “Fui criado assim, estou acostumado e gosto.” Para ele, não existe lugar melhor. Aliás, esse é o lado

bom do Jardim Jamaica. “Fico o dia inteiro cuidando dos animais e do terreno, não vejo o tempo passar”, comentou. Oliveira também disse que só não ampliou o número da criação porque o terreno ainda é pequeno. Questionado sobre possível mudança para uma casa cercada de muros, ele é taxativo. “Não vivo sem meus bichos.” E completou:, “Se por algum motivo tivesse que sair daqui, voltaria para o interior.” AC

Loteamento a caminho do primeiro centenário Ademir Medici

Para as novas gerações, o Jardim Jamaica, em Santo André, é identificado como o loteamento que fica entre os jardins Stela e Oriental, bem na divisa com São Bernardo, próximo ao Sonda (hipermercado da Avenida Pereira Barreto). Já os mais antigos bem sabem que o Jardim Jamaica é um dos vários loteamentos que sucederam à pioneira Vila Apiaí, vizinha ao bairro Paraíso e traçada em lotes nos anos 1920 – portanto, a caminho do primeiro centenário. Perto da Vila Apiaí, o Jardim Jamaica é novo. Data do início dos anos 1960, propriedade inicial de Américo Basile. Demorou alguns anos para ser aprovado: recebeu o alvará 3.391 com aprovação em 23 de novembro de 1970.

EM NÚMEROS Lotes: 73.844,18 m² Ruas: 27.781,57 m² Faixa de alargamento da Rua Juquiá e Avenida Juquiá: 5.583,00 m² Espaços livres: 13.198,67 m² Viela: 458,51 m² Área total do terreno: 131.218,00 m² Faixa da Light: 10.352,07 m² FONTE: processo PMSA 5.171, de 12-3-1969.

REFERÊNCIAS Antes do Jardim Jamaica, vários outros loteamentos foram abertos nesta faixa ao longo da Avenida Pereira Barreto. Primeiro, a Vila Apiaí, ainda grafada Apiahy. Seguemse: Vila das Carpas

(1952), Jardim Cambui (1956) e Jardim Stella (1958). Depois: Jardim Oriental (1962), Jardim do Pilar e Jardim Cristiana. A partir dos anos 1970, conjuntos residenciais como o Jardim Leonor e o Santo André. Na várzea do Córrego Taioca, que divide Santo André de São Bernardo, a argila de boa qualidade possibilitou a atividade de várias olarias, que chegaram a atrair mão de obra do Interior paulista, antes ainda da industrialização acelerada. Um raro folheto da abertura da Vila Apiaí, quase 90 anos atrás, aponta outras referências histórico-geográficas. Iniciavam vida própria bairros como o Paraíso, Valparaiso, Vila Sacadura Cabral e Vila Floresta. A Avenida Pereira Barreto não tinha

esse nome. Rudge Ramos era o bairro dos Meninos. A Avenida Senador Vergueiro era ainda o Cami-

Agostinho Marcos Fratini

nho do Mar. E a estrada de ferro tinha nome estrangeiro: São Paulo Railway, conforme demons-

tra o mesmo folheto, recriado por Agostinho Fratini, do Departamento de Artes do Diário. ▲

Localização da área do Jardim Jamaica na década de 1920: nascia a Villa Apiahy, próxima às terras do Dr. Baeta Neves, médico e fazendeiro


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