& FERRO & CARCOMA souzalopes
sampa’2004
ERRO FE
assopra meu avô assopra no ouvido do filho do teu filho do que não ouviu que não ouviu o grito não ouviu o galo nem galope e madrugada é ele quem é ele quem é ele por que vive e não destampa do ouvido o vento e sua vela sendo sebo e chama é algo que se apaga ou linho tenso sobre lenho vide dobra danzol torcido certo meu avô assopra e o peixe disse eu tortura sofre
não é com fé disse meu avô mas é com erro que se faz o ferro e meu pai mostrou um pau pegando fogo e no fogo a pedra que parte foi do chão até parece água que apaga a brasa e disse meu avô que ferro que avua viu meu pai falou meu pai falou este metal orafundido é tão pesado eu oradisse afunda nágua
aí força não há disse meu avô é no forjar que se forma o ferro e falou meu pai que frágua que bigorna e também falou do marte e do martelo e depois tem dia de lenha ou de lei e tem que meu avô disse do vento aieste oi o fole faz um fogo vivo oieste ai cambono foi que falo eu se é forjado é carbono sem
basta bater o ferro disse meu avô que se faz o medo isto é moeda de perdido peido ô merda submersa ó eleison kirie ó ave sob sabre o que restou da asa nem a liberdade sobrou meu pai falou esta merreca na mesa da miséria vide que egesta uma bosta suja e eu falei é coisa é coisa da recusa é cu no parafuso
é de ferro disse meu avô também o cravo e também o prego e também é pouco todo perigo e meu pai falou um cego faz olho no arame e outro passa rente da farpa fria e foi vazado e é vazio o prato do pobre então eu disse a fome é um artigo triste é ferrugem eu disse
e foi-se toda posse aí disse meu avô repousa nesta quebra um finado osso do morto que morreu fulano sua ferida será do ferro ou foi da vida aí meu pai falou foi queda este defunto aquece o aço e reza o morte e todo ferro terá risco e depois corte e meu avô disse da carne é fio que apodrece ô fibra que já fede ô coita que se tece e eu o que falei aqui a alma cede
aí dizia meu avô gemer gemer na nossa língua contra o ferro dói e ai daquela cadela ai do seu dente mas meu pai na época diz oi como se acoita ai um pardo escorraçado esta pereba de ferro velho oi só é mais tarde um gosto ai da lama e do lamento ai da língua eu falei foi do dejeto oi do dia ei se degemer degemerai
depois disse meu avô agora o ferro também falece frio assim a faca afoga o canto um rio na garganta do galo degolado morto aí meu pai falou foi ferro e brasa é o que marca um boi bitelo novo e falou foi um ferrão no boi doente e eu disse é fero revérbero sem doce @ por isso nasci hoje
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R CARCOMA A
carcoma tudo carcoma a mĂŁe do fome dizia toda carne serĂĄ podre no desterro e terĂĄ dente mordendo tarde carcoma tudo carcoma carcoma
carcoma tudo carcoma o peito da m達e carcoma cheiro murcho de azedo na parede que se abala teve sangue nesta rede teve ouro e carcoma seu dono tudo carcoma
a mão que o ama carcoma tudo carcoma que o corvo nem passa nem pousa na sorte de um defunto urubu que toda carniça carcoma aquela carne do nome carcoma tudo carcoma
lepra e carcoma a usada usura ulcera tal pedra podre se leva carcoma seu nome seu carcinoma seu escrito de escroto carcoma tudo carcoma
um sol de sebo na prensa do medo que merda carcoma a parte do verme a pátria de todo defunto é seu morte seu leste vindo sem vento pedaço de peste no prato tão triste tão sujo caco carcoma tudo carcoma
carcoma tudo atĂŠ seu dente senhora cair tudo carcoma seu dente jĂĄ podre com precioso osso no riso carcoma tudo senhora que ĂŠ seu riso carcoma tudo carcoma o fel de quem ri
carcoma tudo carcoma o pão do pobre pisado pesado nome do não rasgado na rama sêca do seu medo semeado seu arremedo de nada seu ódio seu óbito frio sua arma tudo carcoma carcoma a luz que o viu
carcoma tudo carcoma o mundo que o pariu no azinhavre da vida e outros vizinhos do morte carcoma aquilo que sobra tambĂŠm carcoma esta lua usada coisa de uivo de poesia e de cĂŁo a mĂŁe do fome dizia tudo carcoma carcoma
capa m e eada s a b ra a a p capa ê iz G o da de Lu ea "víci ân es colet a" (Ediçõ zé, i n r r v a pala as G v i t a r Coope lo, 1977) au São P
Mário Luis de Souza Lopes, ou simplesmente "souzalopes", nasceu em Itajuípe, BA. Advogado, publicou, entre outros, o livro de poemas TODO FOGO. fotos: Micha Gordin diagramação: Alexandre Guarnieri, 2014 alex.guarni@gmail.com texto originalmente publicado em http://casapyndahyba.tripod.com/vixe/id16.html