Sacralidade da Vida

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sacralidade da vida Ă­ndios do xingu e mĂŠdicos da escola paulista de medicina


Se acharmos que o nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela terra, é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas, se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar. Claudio Villas Bôas


Mulher Panará (Kreen-Akarôre) com seus pertences em remoção para o Posto de Diauarum do Parque Indígena do Xingu, 11 de janeiro de 1975.


Dr. Roberto Baruzzi atendendo crianças no Parque Indígena do Xingu, 17 de julho de 1992.


Daisy Peccinini

sacralidade da vida índios do xingu e médicos da escola paulista de medicina

Exposição de 6 de junho a 1 de julho de 2012 MuBE - Museu Brasileiro da Escultura

Instituto Victor Brecheret São Paulo • 2012


POVOS INDÍGENAS NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU Localização das aldeias no Parque Indígena do Xingu

Localização das aldeias no PIX

Aldeias PIV (Posto Indígena de Vigilância) CTL (Coordenação Técnica Local)

PIV MOSQUITO

Principais rios Parque Indígena do Xingu

Pakaia

Parureda Caiçara

Terras Indígenas Batovi, Wawi e Pequizal do Naruvôtu

0

Paksamba Pequizal

Aiporé Faz. João Mupadá

á-Miçu Rio Manissau

PIV MANITO

Capivara

Paranaíta

Três Patos Mainumy

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

CTL DIAUARUM Yaitata

Sobradinho

Piraquara

Nova Maraká

Kwaryja

Ri o

Peccinini, Daisy Sacralidade da Vida : índios do Xingu e médicos da Escola Paulista de Medicina / curadoria, pesquisa, texto e iconografia Daisy Peccinini. -- São Paulo : Instituto Victor Brecheret, 2012.

11 de Setembro

Itaí Moitará Samaúma Tuiararé

Xi ng u

Ar ra ias

Ri o

Iguaçu

AWETI IKPENG

Ilha Grande Barranco Alto

Ngosoko Nova

KAMAIURÁ KAWAIWETÉ

Roptotxi

KISÊDJE KUIKURO

CTL PAVURU

MATIPU

CTL WAWI

Boa Esperança

ISBN: 978-85-98879-04-8

KALAPALO

Rio Suiá -Miç u

Horerusikhô

Três Irmãos

Moygu

Faz. Ronkho

Três Lagoas

MEHINAKO

Ngojhwere

NAFUKUÁ NARUVÔTU

Morená Jacaré

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1. Exposição Sacralidade da Vida (2012 : MuBE Museu Brasileiro da Escultura : São Paulo, SP) 2. Índios da América do Sul - Brasil - Cultura 3. Índios da América do Sul - Brasil - História 4. Índios da América do Sul - Brasil - Saúde e higiene 5. Parque indígena do Xingu (Brasil) 6. Povos indígenas - Brasil 7. Projeto Xingu de Saúde Preventiva 8. Saúde - Promoção I. Título.

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Kranhãnhã

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TRUMAI WAURÁ

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Piyulaga

Saidão da Fumaça Ipatse o Ri

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Afukuri

Buritizal tovi

Rio Curisev o

Kuluani Caramujo

CTL TANGURO Kunué

Agata (Barranco Queimado) Lago Azul

Yaramy

Rio Ta nguro

CTL KULUENE

Utawana

Fontes:

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10

ISA, 2011

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CTL BATOVI

Mirassol

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CTL KURISEVO

Rio Culu ene

Ulupuene o Ri

Índices para catálogo sistemático: 1. Índios do Xingu e médicos da Escola Paulista de Medicina : Projeto de saúde preventiva : Parque Indígena do Xingu : Povos indígenas : Saúde, cultura e história : Exposições : Catálogos 362.1089981

Curumim

Tanguro

Rio B a

CDD-362.1089981

Pingoa

Lahatua

gu Xin Rio

12-05886

470 940 km

ISA, 2011

Tuba Tuba

20 Km


SUMÁRIO Texto do Institucional do IVB - Revelações de um trabalho notável: Médicos da Escola Paulista de Medicina no Parque Indígena do Xingu ................................................................................................................... 8 Texto do Institucional EMS - Sacralidade da Saúde ............................................................................................ 10 Depoimento do Prof. Dr. Roberto G. Baruzzi - Minha Vida e o Parque Indígena do Xingu ................. 13 Depoimento do Prof. Dr. Douglas Rodrigues Médicos e Pajés: Vivências de Trabalhos Compartilhados ............................................................................... 2 1 Textos da Curadora Prof. Dra. Daisy Peccinini Sacralidade da Vida: Índios do Xingu e Médicos da Escola Paulista de Medicina .................................. 26 Apresentação ..................................................................................................................................................................... 26 I - Fotografias do Projeto Xingu: Visões do Universo ........................................................................................ 30 O Território, os Povos e os Lugares de Ocupação ................................................................................. 3 1 O Trabalho de Campo da Equipe de Saúde da Escola Paulista de Medicina .............................. 37 Cenas do Cotidiano Compartilhado ............................................................................................................ 42 Estética e Vida ..................................................................................................................................................... 47 Os Grandes Mitos e Ritos de Passagem, Festas e Diversões ............................................................ 52 Os “Doutores” do Xingu: Pajés, Caciques, Raizeiros e Médicos ....................................................... 56 II - Moitará e os Objetos do Acervo .......................................................................................................................... 58 Objetos do Universo Feminino ..................................................................................................................... 62 Bibliografia .......................................................................................................................................................................... 64


Revelações de um trabalho notável

Médicos da Escola Paulista de Medicina no Parque Indígena do Xingu Há 50 anos, por um ato do então Presidente da República, Jânio Quadros, era criado o Parque Nacional do Xingu após uma campanha cívica de quase dez anos. Fazia-se assim justiça aos inúmeros pioneiros, grandes brasileiros, que através de imensos esforços levaram à concretização de nobres ideais de redenção dos índios e desenvolvimento do oeste brasileiro. Desde então o Parque Indígena do Xingu, com 26 mil quilômetros quadrados e uma população de 6 mil indígenas, vem se mantendo íntegro, preservando de forma notável a cultura e a individualidade das muitas etnias que compõem a nação indígena que lá habita. Em 1943, talvez por conta da enorme turbulência causada pela Segunda Guerra Mundial, o Brasil começa a olhar para o seu interior, e então o governo federal cria a Expedição Roncador-Xingu com o fantástico objetivo de “conhecer e desbravar áreas que aparecem em branco nos mapas”. Essa ação deixou números impressionantes: 1.500 quilômetros de picadas abertas nas selvas, 1.000 quilômetros de rios percorridos, 43 vilas e cidades nascidas ao longo das marchas, 19 campos de pouso, sendo que quatro deles se tornaram bases militares e pontos de apoio de rotas aéreas internacionais. A sua mais importante contribuição, no entanto, foi a consequente criação da estrutura que permitiu a preservação da vida e da cultura indígenas, defendendo-as dos males que o contato inicial com a civilização traz. Hoje a opinião é unânime. Tal fato somente foi possível mediante a realização de projetos que visavam à saúde indígena através da medicina preventiva e, assim, protegeram as comunidades indígenas recém-contatadas das enfermidades sempre presentes nos encontros iniciais com os brancos.

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Por um convênio firmado há 47 anos com a Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje pertencente à UNIFESP, através de seu Departamento de Medicina Preventiva, e liderado pelo Dr. Roberto Baruzzi, foi estabelecido o Projeto Xingu de Saúde Preventiva. Por conta desse Projeto, atualmente e ao longo de todos esses anos, os índios habitantes do Parque Indígena do Xingu têm acesso a uma invejável assistência médica e sanitária. O Hospital São Paulo, entidade-escola da faculdade, é o responsável direto pelo atendimento aos xinguanos e por seus atuais bons resultados. Essa ação pioneira também trouxe benefícios e conhecimentos às equipes médicas que lá estiveram e até hoje atuam, de tal forma que resultaram em intensa vivência e trocas culturais que ultrapassam em muito os parâmetros clássicos da formação médica usual. O Instituto Victor Brecheret (IVB), ampliando seus objetivos iniciais, sente-se muito orgulhoso de propiciar esta mostra, Sacralidade da Vida - Índios do Xingu e Médicos da Escola Paulista de Medicina. É um registro da imensa e valiosa contribuição que alguns brasileiros idealistas fizeram e vêm fazendo para a grandeza de nosso País. Temos a certeza de que esta exposição, que comemora os 50 anos do Parque Nacional do Xingu e os 47 anos das ações e do contato da Escola Paulista de Medicina com o Parque, trará o resgate definitivo deste notável trabalho de notáveis brasileiros.

Victor Brecheret Filho Presidente IVB - Instituto Victor Brecheret

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Sacralidade da Saúde O universo indígena sempre despertou o olhar do branco. Os hábitos, o

contato, surgem imagens e objetos que se consagram por marcarem

estilo de vida, a relação com a natureza e em comunidade, as crenças, os

um período, uma história, e representarem, por que não nos arriscar

corpos ornamentados e as danças já foram obstinadamente estudados,

a dizer, provas significativas do que é – e como se pode – agir, desfrutar,

analisados, observados, divulgados, tamanho objeto de atração e de

se relacionar, realizar, praticar, trocar, crescer, acreditar, estimular, sentir,

interesse vêm a ser. E a “curiosidade”, se é que não é mais correto dizer

aproveitar, amadurecer, conhecer, compartilhar, modificar, zelar, envelhecer,

o “encantamento” pelo índio, está longe de diminuir. Quiçá acabar. Novas

enfim, VIVER em plenitude, sem sacrificar, dia a dia, a beleza, os traços e o

circunstâncias, diferentes propostas e experiências inusitadas que retratam

ensinamento daquilo que se viveu.

esse povo tão específico e especial são uma constante. As ideias vão se

Para a EMS, empresa líder do mercado farmacêutico brasileiro, esta é, também

chegando, se instalando e, sem grande esforço, convencem corações e

e na verdade, a exposição de algo que nos é tão caro, e almejado, e valorizado,

mentes de que vale muito a pena voltar a falar disso.

e contemplado: a SAÚDE. A cara que a Saúde pode exibir, o corpo que pode

É exatamente esse o caso da exposição Sacralidade da Vida – Índios do Xingu

cultuar, os gestos que pode cultivar, as risadas que a Saúde pode provocar.

e Médicos da Escola Paulista de Medicina, um retrato da convivência possível

Tem um quê de alegre, de amarelo, de colorido, de ingênuo, de fraterno. Exibe

e da interação profunda entre o urbano e o tribal, entre o conhecimento

dicas valiosas do que faz a vida dar certo, do que é o sentimento desprovido

teórico e o saber mítico, entre a busca incessante pelo restabelecimento ou

de cobranças, do que é ser humano no sentido mais natural e singelo. A EMS

pela manutenção da saúde e o exemplo da saúde ainda intacta, inigualável

– que trabalha há quase 50 anos em nome do bem-estar e pelo maior acesso

e invejável. De um lado, os médicos da Escola Paulista de Medicina e suas

da população a tratamentos médicos – acredita que é SAUDÁVEL estar ao

questões sobre vitalidade, prevenção, harmonia entre o físico e o espiritual.

lado do saudável, mostrar e motivar o saudável, ampliar a visibilidade do que

De outro, as 16 etnias habitantes do Parque Indígena do Xingu e as respostas

remete ao saudável. É por tudo isso que patrocinamos a Sacralidade da Vida.

sobre respeito aos limites individuais, cuidado e carinho com a natureza,

Pois assim é: o universo indígena despertará e ensinará o olhar do branco

solidariedade com o coletivo. E, como resultado de longos 47 anos desse

para todo o sempre.

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Mulher Kayabi, remando com as mãos, leva medicamentos para sua aldeia, março de 2008. 11


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Primeira equipe médica da EPM no Parque Indígena do Xingu, Posto Leonardo Villas Bôas, julho de 1965. Em pé: Orlando Villas Bôas, Marcelo Pio da Silva, Mario Nogueira, Roberto Baruzzi, Claudio Villas Bôas e José Kerbauy. Agachados: Samuel Reibscheid, Carlos D’Andretta Jr. e Décio Fuchs.


Minha Vida e o Parque Indígena do Xingu Lá pelos idos de julho de 1962, uma notícia de jornal chamou minha

Bôas, Parque Indígena do Xingu (PIX). Logo que o avião pousou, uma

atenção. Ela dizia que a Caravana Médica de São Paulo, coordenada por

pessoa (que depois soubemos ser o Álvaro, irmão mais novo do Orlando

Dr. Oswaldo Monteiro de Barros, estava de partida para a região do médio

e do Claudio Villas Bôas) se aproximou e perguntou se havia um médico

rio Araguaia para prestar assistência à população ribeirinha.

a bordo para atender um índio que estava doente. Fiz o atendimento,

Algum tempo depois, por mero acaso, conheci o Dr. Oswaldo e a seu

o caso era simples, mas aquela rápida visão do Xingu despertou meu

convite participei da Segunda Caravana, em julho de 1963. O avião da

interesse em conhecer o trabalho dos Villas Bôas.

Força Aérea Brasileira (FAB) deixou parte da equipe médica em Santa

Por duas vezes procurei me aproximar do Claudio e do Orlando durante

Isabel do Morro, na ilha do Bananal, onde havia uma aldeia Carajá e

passagens deles por São Paulo, mas sem sucesso. Depois de algum tempo,

uma base da FAB, e parte em Conceição do Araguaia, no sul do Pará.

o Orlando apareceu no Hospital São Paulo trazendo um trabalhador do

Fui designado, com outros dois companheiros, para atender em Santa

Parque que precisava de assistência médica. Desse encontro nasceu o

Terezinha, povoado de lavradores e pescadores situado na outra margem

convite para que uma equipe da Escola Paulista de Medicina (EPM) fosse

do rio Araguaia. Lá, tivemos a oportunidade de atender índios Tapirapé,

ao PIX para avaliar as condições de saúde da população. A avaliação foi

no rio de mesmo nome, e índios Carajá.

feita e constatamos que as condições de saúde eram precárias. A malária

No ano seguinte, participei da Terceira Caravana, em Conceição do

era a principal causa de mortalidade e havia predominância de doenças

Araguaia. O atendimento se estendeu às aldeias dos Gorotire e Kuben-

transmissíveis. A constatação dessas condições levou à assinatura de

kran-ken, índios Caiapó. Na viagem de volta, uma surpresa: o avião

um acordo, em julho de 1966, no qual a EPM se comprometia a enviar

desviou da rota para deixar um piloto da FAB no Posto Leonardo Villas

equipes médicas periódicas ou sempre que se fizessem necessárias,

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iniciar um plano de vacinação e disponibilizar o Hospital São Paulo como

Dr. Roberto G. Baruzzi: Essa pergunta pode ser respondida por meio de

centro de saúde de retaguarda para os povos indígenas do PIX. Para isso,

uma afirmação que o Orlando fazia. Ele dizia que eram povos de cultura

a FAB mantinha um voo semanal São Paulo-Xingu. O Parque, por sua vez,

pura, que deveriam ser preservados de um contato indiscriminado e

se comprometia a receber as equipes médicas e assegurar o acesso às

precoce com a sociedade brasileira. Desde o início do Projeto Xingu,

aldeias. Iniciou-se, assim, o Programa de Saúde da EPM no Parque, que

foi instituída uma ficha médica individual, com número de registro, foto,

passou a ser conhecido como Projeto Xingu.

etnia, nome ou nomes pelos quais a pessoa era conhecida, dados pessoais

Leandro da Cruz Silva: Como o PIX foi criado e por que isso ocorreu?

e familiares, dados do exame físico, vacinas aplicadas e intercorrências

Dr. Roberto G. Baruzzi: Há tempos sabia-se que a região ao norte de Mato

clínicas. Assim, tornou-se possível a formação de considerável acervo

Grosso que se estendia das cabeceiras do rio Xingu e ao longo do seu

sobre as condições de saúde da população ao longo de quase cinco

curso até os limites com o Pará era habitada por vários povos indígenas.

décadas.

Em 1945, a Expedição Roncador-Xingu, da qual faziam parte os irmãos

A avaliação de um grupo indígena recém-contatado foi uma experiência

Villas Bôas, atinge o rio Culuene, um dos formadores do rio Xingu, e entra

bastante importante para o Projeto Xingu. Os Panará, como se

em contato com os Kalapalo e a seguir com outras etnias. No final da

autodenominavam, viviam em estado de completo isolamento na região

década de 1950, a região estava ameaçada de ser invadida, havia vários

do rio Peixoto de Azevedo, norte de Mato Grosso, com uma população

projetos de fazendas. Surgiu, então, um movimento de defesa do qual

estimada de 400 a 500 pessoas em meados da década de 1960. Em

muitos brasileiros, como Orlando e Claudio, Darci Ribeiro, Heloísa Torres,

1967, uma expedição chefiada por Claudio e Orlando Villas Bôas, com

Jorge Ferreira e Noel Nutels, participaram. Esse movimento resultou na

o objetivo de contatar os Panará, partiu do PIX e abriu cerca de 300

criação do Parque Indígena do Xingu, no governo de Jânio Quadros, com

km de trilhas na mata para, ao final de dois anos, se deparar com uma

uma área de cerca de 25 mil km².

aldeia Panará queimada e abandonada, numa demonstração de que os

Leandro da Cruz Silva: Como estavam os índios xinguanos no início do

indígenas recusavam o contato.

Projeto Xingu?

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Chegada da primeira Equipe de Saúde da EPM no Posto Leonardo Villas Bôas, em avião da FAB, PIX, julho de 1965.


Dr. Baruzzi chegando em canoa tradicional a uma aldeia Kayabi, Baixo Xingu, janeiro de 1984. 16


No início dos anos 1970, o governo federal havia decidido abrir uma estrada de

foi uma das manchetes que, embora discutível, discorreu das condições

Cuiabá a Santarém (BR-163), que iria cruzar o território dos Panará. Tornava-

anteriormente descritas. Os Panará iniciavam, então, no Parque, uma longa

se, então, imperioso fazer prévio contato e para isso uma nova expedição dos

trajetória que se estendeu por 20 anos, ao longo dos quais mantiveram

Villas Bôas partiu da base do Cachimbo. Embora os Panará se recusassem a

sempre o sonho de retornar ao antigo território, o que se concretizou, em

aceitar o contato, ele aconteceu nos primeiros dias de fevereiro de 1973.

1996, ao identificarem uma área no sul do Pará, nas cabeceiras do rio Iriri,

A BR-163 foi aberta ao trânsito pouco tempo depois e ficou muito difícil

ainda não ocupada por invasores. Para lá retornaram em vários grupos e

manter os índios afastados da estrada. Atraídos pelo movimento de caminhões

construíram uma nova aldeia: Necepotire. A área foi demarcada e reconhecida

e ônibus, a situação de saúde se agravou. Dois anos depois, pelas perdas que

pelo governo federal.

sofreram ao longo do processo de contato e após a abertura da BR-163, os

Uma pergunta que sempre me fizeram diz respeito à preservação e organização

Panará estavam reduzidos a 79 indivíduos. Face ao risco de total extinção, os

do acervo do Projeto Xingu. Já falei a respeito das fichas médicas, que são

sobreviventes foram removidos para o PIX em um avião da FAB em janeiro de

atualizadas periodicamente e que têm permitido a realização de estudos nas

1975. Aguardavam a remoção em dois abrigos rústicos de galhos e folhas de

áreas da Medicina, Antropologia, Demografia e História. Outras considerações

bananeira. No local viam-se duas placas, uma assinalando a BR-163 (Cuiabá–

caberiam no tocante a peças indígenas e fotografias que mostram aspectos

Santarém) na direção norte–sul e a outra a BR-80 (Xavantina–Cachimbo),

do dia a dia dos povos xinguanos e do trabalho das equipes de saúde, ao

leste–oeste. Portanto, ali era o cruzamento de duas estradas que penetravam

lado de farta documentação. Parte do acervo está exposta na Sala Professor

no território antes habitado pelos Panará. Ao chegarem ao Parque, os Panará

Roberto Baruzzi, no prédio histórico que abrigou a EPM no seu início, na

foram atendidos por uma equipe médica da EPM e dois ou três dias depois

década de 1930.

foram levados para uma aldeia próxima cedida pelos índios Caiabi.

Leandro da Cruz Silva: Agora, uma pergunta curiosa, o que significou para

Na ocasião do contato, os Panará não conheciam metal, não produziam

você o contato com os irmãos Villas Bôas?

cerâmica, não tinham canoas, não conheciam o cão doméstico. O contato

Dr. Roberto G. Baruzzi: Posso dizer que sempre admirei o trabalho por eles

e o posterior ingresso no Parque foram acompanhados, passo a passo, pela

realizado, nosso relacionamento foi muito bom e me tornei grande amigo do

imprensa nacional e internacional. “Stone Age people enters our world”

Orlando, cujo falecimento, em 12/12/2002, representou uma grande perda

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para os índios e para todos nós. Orlando e Claudio Villas Bôas são dois

Quanto às dificuldades e aos desafios que enfrentamos ao longo da nossa

nomes que estarão para sempre gravados na história do Brasil, ao lado do

atuação no Parque, eu diria que as dificuldades foram as inerentes às ações

Marechal Rondon.

de saúde em áreas distantes de parcos recursos locais. Quanto aos desafios,

Leandro da Cruz Silva: Como você encara a sua dedicação aos povos

assim definimos ao dar início ao Projeto Xingu: O desafio não é simplesmente

indígenas durante tantos anos?

implantar no Parque um modelo de assistência à saúde calcado na medicina

Dr. Roberto G. Baruzzi: Eu tive minha vida habitual como médico, segui a

ocidental, com mera transferência de tecnologia e locação de recursos. O real

carreira docente e tudo mais, mas sempre consegui tempo para me dedicar a

desafio é trazer benefícios à saúde do índio sem causar danos irreversíveis

esse trabalho, do qual muito me orgulho e que só foi possível realizar graças

à sua cultura, sem destruir suas crenças e sua medicina tradicional. A busca

à participação de muitos médicos, dentistas, enfermeiras e técnicos. Especial

de resultados imediatistas poderia significar um dano irreversível no decorrer

destaque merece a participação de estudantes, dos quais muitos voltaram a

do tempo, dentro do conceito amplo de saúde definido pela Organização

fazer parte do Projeto Xingu em diferentes ocasiões ou se integraram a ele.

Mundial da Saúde (OMS) como um estado de completo bem-estar físico,

Foi, em especial, uma importante contribuição humanística na formação dos

mental e social.

estudantes que participaram das equipes. As ações de saúde foram bem-

Prof. Dr. Roberto G. Baruzzi Professor Titular aposentado da EPM/UNIFESP. Criador e Coordenador do Projeto Xingu de 1965-1996. Consultor Científico do Projeto Xingu. Depoimento a Leandro da Cruz Silva, formado em História pela PUC-SP, colaborador do Projeto Xingu

aceitas pelos povos xinguanos, e franco relacionamento foi estabelecido com os pajés, com o devido respeito às suas práticas tradicionais. Posso afirmar que foi uma troca de experiências rica para ambas as partes.

18


19

Dr. Roberto Baruzzi entre mulheres PanarĂĄ; Ă esquerda, Dr. Douglas Rodrigues, aldeia Nacepotire, abril de 2006.


Dr. Douglas Rodrigues preenchendo ficha mĂŠdica no Alto Xingu, setembro de 1991. 20


MÉDICOS E PAJÉS

VIVÊNCIAS DE TRABALHOS COMPARTILHADOS Conheci o Projeto Xingu lá pelo quarto ano de minha graduação

aldeia Kretire, da etnia Metuktire, do grupo Mebengokre, também

em Medicina, por volta de 1977. Fiquei instigado, mas minhas

conhecido como Kaiapó. Havia poucas pessoas na aldeia. A

energias,

minha

maioria estava no mato, acampada entre as árvores, do outro

sobrevivência, já que tinha que trabalhar para me sustentar e

lado do rio, fugindo da doença-feitiço que estava atacando a

era ajudado pelos meus avós.

todos. Não entendia a lógica daquela situação, pois na aldeia

Em 1981, encontrava-me no primeiro ano de residência em

havia casas que, embora feitas de troncos sob o chão batido e

Clínica Médica quando soube que o Departamento de Medicina

cobertas com folhas de palmeiras e bananeira-brava, eram, para

Preventiva, que viria a ser a área de concentração de minha

o meu olhar de jovem médico, mais adequadas para os doentes

residência, procurava um médico para passar cerca de dez dias

do que sua permanência ao relento, no meio da floresta. Sem

no Parque do Xingu colaborando com a Fundação Nacional do

saber a língua indígena e com apenas um ou dois rapazes que

Índio (FUNAI) no combate a uma epidemia de um determinado

dominavam parcamente o português como “tradutores”, não

tipo de infecção respiratória aguda, que, somada à malária,

tive outra opção senão ir encontrá-los na mata.

estava ceifando muitas vidas, especialmente de crianças e

Era um grupo de cerca de 60 pessoas, a maioria velhos, mulheres

gestantes indígenas.

e crianças, com vários doentes, com muita febre e tosse. Uma

Era junho de 1981 quando desci de um avião Bandeirantes da

cena gravada até hoje com nitidez em minhas lembranças.

FUNAI numa pista de terra ao lado da rodovia, também de terra,

Após dois ou três dias a situação foi ficando cada vez mais

BR-80, também conhecida como Transgarimpeira, por ligar

complicada na floresta. Finalmente, talvez por ter pouca comida

diferentes regiões de garimpos de ouro, entre o Mato Grosso e

no acampamento, o grupo decidiu voltar para a aldeia, o que

o Pará.

para mim foi um alívio.

Daquela pista, após duas horas subindo o rio Xingu, chegamos à

Acabei ficando pelo Xingu por mais tempo que o previsto. Voltei

naquela

época,

estavam

voltadas

para

21


para São Paulo, para o grande hospital da Escola Paulista de

Como médico com formação em saúde pública, minha

Medicina, para continuar minha residência médica, mas alguma

aproximação com os pajés foi instintiva. Havia relatos de que os

coisa ali me atraiu muito, mexeu muito comigo. Eu iria descobrir

pajés não gostavam de compartilhar seus conhecimentos. Isso,

isso aos poucos.

felizmente, não ocorreu comigo. Em muitas situações, quando

Meus dois últimos anos de residência, já no Departamento

era chamado por familiares para atender um parente, encontrava

de Medicina Preventiva, facilitaram meu acesso ao Xingu e eu

com os pajés em seu trabalho de cura ao redor da rede da

comecei a viajar frequentemente a campo, para períodos maiores

pessoa doente. Sem saber como agir, perguntava sempre qual o

de permanência, atendendo as pessoas doentes e, cada vez mais,

momento apropriado para que eu me aproximasse do paciente

entrando nesse mundo da saúde e da doença, dos feitiços e das

e o examinasse. Dessa forma, orientado pelos familiares,

regras de comportamento, dos médicos tradicionais, como os

aguardava a permissão dos pajés, que via de regra era dada

pajés, rezadores e raizeiros.

em seguida. Após meu exame, com uma ou mais hipóteses

Aos poucos fui conhecendo cada um dos 16 povos que habitam

diagnósticas em mente, na lógica de minha formação

o Parque do Xingu. Percebendo as diferenças entre as culturas

biomédica, era necessário estabelecer um tratamento. Muitas

xinguanas, mas também as semelhanças, especialmente na

vezes, as minhas propostas de tratamento eram conflitantes

relação com a natureza e na profunda espiritualidade que

com as orientações dos pajés. Situações em que, em meu

permeia sua visão de mundo e consequentemente suas práticas

ponto de vista, seria necessária a remoção do doente para

tradicionais de cura e de manutenção da saúde.

tratamento hospitalar na cidade, ou ainda a administração de

Um misto de respeito, curiosidade, humildade e solidariedade

medicamentos por via endovenosa, como soros e antibióticos,

fez com que uma aproximação com os médicos tradicionais

eram frequentemente questionadas. Entretanto, a reconhecida

xinguanos fosse acontecendo de forma espontânea, natural,

eficácia dos remédios dos “brancos” e a disposição dos

recheada de vivências intensas de trabalhos compartilhados. O

indígenas para o diálogo propiciavam o entendimento na

tempo de convívio se aliou à vontade de conhecer aquele mundo

maioria das vezes.

novo e maravilhoso, tão diferente do que eu conhecera até então.

Nas culturas indígenas, a doença e a cura partem de uma

22


23

Dr. Douglas Rodrigues atendendo Tuin, Kayabi, PIX, setembro de 2008.


visão muito mais ampla do que a científica, na qual se baseia a

São inegáveis os avanços da medicina, especialmente nos

biomedicina. A construção do corpo para os indígenas, para além

últimos 50 anos. O problema reside na substituição da relação

do biológico, dá grande valor ao social e ao espiritual, representado

entre médicos e pacientes pela tecnologia, pelos exames e pelas

pelas dietas, rituais e observância de regras de comportamento.

descobertas farmacêuticas, desumanizando a prática médica.

Nessa forma particular de ver corpos e espíritos, é comum que

Um pajé, ao trabalhar, fica ao lado do paciente e de seus familiares

as causas das doenças se localizem fora do ser biológico, fora

durante todo o processo de diagnóstico e cura, o que pode durar

do corpo do indivíduo. Essa é uma diferença marcante entre a

dias e dias. Seu cuidado é integral. Orientações dietéticas e de

medicina científica e a medicina indígena. Ainda que o campo da

comportamento para o paciente e seus familiares fazem parte do

saúde coletiva venha valorizando cada vez mais o componente

tratamento, que pode ainda fazer uso concomitante de plantas

sociocultural na determinação das doenças, a biomedicina está,

medicinais, além do importante auxílio dos espíritos.

ainda, longe da compreensão holística que têm os indígenas sobre

A doença, nas culturas indígenas, não é apenas um conjunto de

a vida, a saúde e a doença.

sintomas corporais, mas também um processo subjetivo, no qual

O avanço do conhecimento e da prática médica teve como

as disfunções corporais são mediadas pela cultura. Uma das

consequência

a

implicações dessa forma de entender o processo saúde-doença

superespecialização médica transformam as pessoas e os seus

entre os indígenas é a diferença com que determinadas culturas

corpos em objetos. Falta espaço para a família e para o doente

e estratos sociais, mesmo nas sociedades ocidentais, reagem ao

no processo de seu diagnóstico e tratamento. Os que deveriam

sintoma da dor. O parto, em algumas culturas, é envolvido pelo

ser sujeitos são transformados em recebedores de procedimentos

medo da dor e da morte. Em outras, de diferentes lugares e classes

e protocolos, com seu corpo dividido em órgãos e sistemas

sociais, é visto com tranquilidade, e a dor é suportada sem maiores

que parecem ser independentes. Os especialistas cuidam de

dramas. Faz parte da vida!

determinadas partes dos corpos, como se as pessoas, suas

Reconhecida a importância dos contextos socioculturais e

relações sociais e afetivas nada tivessem a ver com os processos

econômicos na determinação da doença e no processo de cura,

de adoecimento.

é importante, além da competência clínica e científica, que os

sua

fragmentação.

A

tecnologização

e

24


profissionais desenvolvam o que Kleinman chamou de competência cultural. Quando a escuta permite, os pacientes nos contam e explicam em suas narrativas o significado da doença para eles e para seus familiares e amigos. A prática médica hegemônica normalmente filtra essas informações. O médico ouve apenas o que, em sua formação científica, parece ser importante para o diagnóstico e tratamento da doença. Uma prática médica humanizada pressupõe a escuta atenciosa e a disposição de aprender com a narrativa dos pacientes.

Dr. Douglas Rodrigues entre crianças, em atendimento na aldeia Kamayurá, Alto Xingu, abril de 1991.

Para desenvolver essa escuta e examinar o sujeito que adoece, podemos e devemos aprender com os pajés. Somente com a necessária mudança da prática, do modelo de atendimento médico, atingiremos o objetivo de nosso Sistema Único de Saúde, de que a saúde é direito de todos e deve ser provida, de forma adequada e humanizada, pelo Estado brasileiro. Prof. Dr. Douglas Rodrigues Médico Sanitarista Chefe da Unidade de Saúde e Meio Ambiente/Departamento de Medicina Preventiva Escola Paulista de Medicina/UNIFESP

Dr. Douglas Rodrigues fazendo sutura, e equipe de enfermeiras, Juliana Claudia Leal Martins e Mariana Maciel Queiroz, Polo Pavuru, Médio Xingu, novembro de 2011.

25


sacralidade da vida

índios do xingu e médicos da escola paulista de medicina

Apresentação A exposição vem apresentar uma visão muito especial do processo

médicos que trouxeram soluções e prevenções de doenças em favor da

iniciado em 1965, a partir do convite do sertanista Orlando Villas Bôas

manutenção e do desenvolvimento da vida na verdade não foram apenas

(1914-2002) ao Doutor Roberto G. Baruzzi (1929), médico da Escola

agentes, mas, também, receptores, impregnados pelo saber mítico e

Paulista de Medicina (EPM), no sentido de colaborar para a preservação

tradicional indígena que dá outros sentidos, marcando suas próprias

da vida dos povos indígenas do recém-criado Parque Nacional do Xingu,

vidas. Em Sacralidade da Vida, índios do Xingu e médicos da EPM trazem

atual Parque Indígena do Xingu (PIX). Tem sido 47 anos de contato e

as mensagens de solidariedade, tolerância e respeito à tradição, valores

ações da Escola Paulista de Medicina, por meio do Projeto Xingu, em prol

presentes nas diferentes nações indígenas do Xingu e nos termos do

da saúde indígena. A Unidade de Saúde e Meio Ambiente (USMA) ou

juramento médico.

Projeto Xingu, como é mais conhecida, do Departamento de Medicina

A exposição propõe trazer ao público urbano paulista a possibilidade de

Preventiva/UNIFESP, foi criada pelo Dr. Roberto Baruzzi e coordenada

penetrar, um pouco, na vida natural livre e em harmonia com os reinos da

por ele até 1996. A plena continuidade do Projeto foi assegurada pelo Dr.

natureza dos povos autóctones do Brasil Central, em torno do rio Xingu.

Douglas Rodrigues, ligado ao Projeto desde a sua formatura na EPM em

A troca de olhares e culturas entre os povos xinguanos e os médicos,

1979, que assumiu a coordenação em 1996 e a exerce até hoje. Segundo

estudantes, técnicos e enfermeiros, os caraíbas, vindos da metrópole, São

o Dr. Roberto Baruzzi, graças ao empenho do Dr. Douglas o Projeto teve

Paulo, resultou em milhares de fotografias feitas pelos médicos e centenas

pleno desenvolvimento, abrindo novas fronteiras de estudos e atuação.

de objetos artesanais da cultura e arte xinguanas. A mostra traz recortes

Esta mostra não é apenas uma massa passiva de objetos e fotos, o seu

de um acervo fotográfico imenso, de cerca de 30 mil fotos, e uma seleção

objetivo é a percepção de que neste acervo vibra uma dinâmica de

desses objetos. Não se trata de uma exposição de ordem antropológica

troca de experiências de vida, saberes e visões de mundo. De fato, os

ou de ações de medicina preventiva.

26


Dr. Baruzzi e Orlando Villas Bôas no Posto Leonardo, início do Projeto Xingu, Alto Xingu, julho de 1965.

Foto para a ficha médica número 1, de Canovi, etnia Kalapalo, Alto Xingu, julho de 1966.

Detalhe da ficha médica número 2, de Iacau, povo Yawalapiti, Alto Xingu, julho de 1966.

A partir de um foco histórico e estético, mostra as questões mais

muito mais amplo, que envolve os animais da floresta e dos rios, os

essenciais da cultura visual, que ressoam no imaginário dos caraíbas.

espíritos das árvores e da mandioca; os seres e todo o seu entorno

As fotos são resultado dos olhares dos médicos e colaboradores,

estão harmoniosamente mergulhados na indizível e impalpável

sorvendo cenas de um universo desconhecido e impactante quanto

essência da vida.

à natureza e aos seus habitantes. O que movimenta a realização

Tanto as fotografias como os objetos podem ser compreendidos como

das fotografias e a formação de um acervo de objetos indígenas

resultados do processo do olhar que é compreensão, ou conhecimento

e constitui a essência deste evento é o elemento sutil e ao mesmo

artístico visual, como afirma Carmem Aranha1.

tempo fundamental, a sacralidade da vida. De fato, empenhados por

Os encontros entre os povos indígenas e a equipe da EPM ultrapassam

sua vocação e juramento, os médicos e sua equipe penetram nas

as dimensões das práticas médicas relativas à saúde comunitária.

florestas, navegam pelos rios, visitam diferentes aldeias, movidos pelo

De fato, a experiência desse processo levou a repensar a formação

desejo de preservação da vida como um bem maior. Por outro lado,

do médico, bem como dos métodos de atendimento no campo da

encontram entre os xinguanos um conceito de sacralidade da vida

Saúde Coletiva2.

ARANHA, Carmem S. G.; BRITO, Amauri C. e ROSATO, Alex. Culturas de visualidades: aproximações da imagem artístico-visual. in: Espaços da mediação. São Paulo: PGEHA / Museu de Arte Contemporânea da Cidade de São Paulo, 2011. p. 47. “Lembremos que nossa reflexão focaliza as possibilidades de organização do conhecimento artístico-visual em motivações que apontem para questões mais essenciais da cultura visual, ou seja, para princípios que regem apropriações significativas deflagradas pelos recortes da arte visual com as obras de arte. Uma vez que a obra guarda um amálgama que o próprio artista agregou durante a organização da sua concepção de realidade, a possibilidade de nos aproximarmos desse fenômeno cultural ali materializado pode situar essa experiência como uma “enzima, instrumento dinamizador de tricas e circulação de pensamento e ampliação de consciência dentro de um organismo maior ou de um tecido de relações culturais e sociais” (VERGARA, 2003).” 2 Depoimento da Dra. Sofia Mendonça. Unidade do Projeto Xingu, 13 de fevereiro de 2012.

1

27


O momento inicial foi muito contrastante e impactante. A primeira

maneira sistemática, agentes de saúde xinguanos para cada aldeia. Por outro

aproximação aconteceu com a equipe médica movida por um espírito de

lado, houve a compreensão do papel dos pajés e raizeiros, que afirmavam

assistencialismo, cuja finalidade era a de preservar a vida dos indígenas

poder curar as doenças da selva, enquanto os médicos, por sua vez, tratam

vulneráveis ao contato do homem branco e a suas enfermidades. Os

as doenças dos brancos, constituindo assim uma saudável parceria entre a

doutores se depararam com a surpreendente riqueza do universo xinguano,

tradição xamânica e a medicina ocidental.

seus saberes, seus costumes, sua estética e seus mitos. Aconteceu uma

É importante ressaltar no início da década de 1960 o estado de paz e de

transformação de foco da equipe médica que, a princípio, viajou para os

intercâmbio dos povos que ocupavam a região. A PAX Xinguana, expressão

confins do Brasil Central para tratar dos indígenas como pacientes, passivos

criada pelo historiador inglês John Hemming (1935) em 2005, constitui-

dos cuidados da medicina ocidental. Entretanto, esses pacientes tornaram-se,

se como um dos focos primeiros que orientaram o meu trabalho de

na verdade, protagonistas de um singular processo cultural de ida e volta de

pesquisa e curadoria. De fato, foi a característica de tolerância, paz, trocas e

saberes. Os contatos constituíram-se em processo de rica e variada vivência

relações intergrupais entre os povos da região do rio Xingu que permitiu a

e intercâmbio de culturas. Resulta desses 47 anos um acervo de objetos

multiplicidade e riqueza desta mostra. Fato singular é o de que ali habitavam

xinguanos dos vários povos da região e milhares de fotografias, cerca de 30

povos de quatro famílias linguísticas conhecidas, incluindo uma língua

mil, feitas pelas equipes que registram imagens das infinitas possibilidades

isolada, dos Trumai. Na verdade, são 16 etnias que habitam o PIX: Aweti,

que os olhares dos caraíbas puderam fixar do universo xinguano. Do ponto

Ikpeng, Kaiabi, Kalapalo, Kamaiurá, Kisedje, Kuikuro, Matipu, Mehinako,

de vista da Saúde Coletiva, houve a inevitável conversão para a Saúde

Nafukuá, Naruvotu, Waurá, Tapayuna, Trumai, Yudjá, Yawalapiti. É importante

Indígena e a sábia compreensão da equipe do Dr. Baruzzi em formar, de

dizer que essas etnias, convivendo em harmonia, compõem uma verdadeira ONU indígena na região, possuindo línguas diferentes vinculadas às quatro principais famílias linguísticas dos índios brasileiros: Tupi-Guarani, Aruák, Karíb e Jê. Especificamente, pertencem ao grande tronco Tupi a família TupiGuarani – os Kamaiurá, os Kaiabi, os Juruna (Yudjá) e os Aweti. São da família linguística Aruák as etnias Mehinako, Waurá e Yawalapiti. Na família Karíb estão os Kalapalo, Ikpeng, Kuikuro, Matipu, Nafukuá e Naruvotu. Finalmente do tronco Macro-Jê, na família Jê, estão os Kisedje e Tapayuna. Apenas um grupo de língua isolada habita a área do PIX, os Trumai3.

Formatura da primeira turma de auxiliares de enfermagem indígenas do PIX, UNIFESP/EPM, junho de 2001.

3

Site Instituto Socioambiental (ISA): http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xingu, acesso em 28 de março de 2012.

28


O estado de convivência pacífica entre diferentes etnias, a ONU Xinguana,

diferentes línguas, culturas e produções materiais, remete à questão da

sempre foi um tema apaixonante. Desde 1962, quando eu era aluna do grande

tolerância e da preservação da vida, porque é um costume que se opõe à

antropólogo Egon Schaden (1913-1991) na USP. Este fenômeno cultural inédito

guerra, à morte, às pilhagens e aos saques. No mundo atual, o que mais tem

de harmonioso convívio, como contava o professor Schaden, tinha como elo

sido feito em prol da paz é a aceitação e a convivência com as diferenças, de

comum as festividades envolvidas com o ritual do Kuarup, o mais sagrado

que o Moitará é exemplar.

para os índios da região, bem como outros elementos comuns, como a luta

A luta do Huka-Huka, realizada entre os campeões de etnias diferentes,

do Huka-Huka e o Moitará. Enquanto os dois primeiros envolvem festas e

acontece durante o Kuarup bem como a realização do Moitará, e é outro

rituais sagrados, o Moitará é uma atividade de trocas de objetos de diferentes

exemplo de convivência pacífica, pois substitui as guerras entre grupos

naturezas cotidianas.

por uma luta onde vence o mais forte e ágil. Trata-se de fazer o adversário

O Moitará é um costume de trocas de objetos, que se revela como base da

encostar as costas no chão ou ser tocado na parte posterior da coxa por

convivência pacífica de grupos tão diferentes, porque obedece a um rito

alguns segundos.

comum. Trata-se de um contínuo processo de trocas negociadas entre casas

As ações dos médicos, movidas para salvar vidas com vacinas e

de uma mesma aldeia ou entre diferentes aldeias ou etnias. No primeiro

medicamentos, resultaram num processo de maior magnitude. Houve uma

caso, ocorre entre mulheres ou entre homens de ocas diferentes, no interior

interpenetração das culturas xinguanas com a cultura ocidental e urbana de

de uma comunidade. Existe uma rígida divisão entre o universo feminino e

forma surpreendente para eles. Todos os profissionais da equipe de saúde

o masculino, isto é, acontece apenas entre mulheres ou entre homens. No

afirmam que foram experiências que marcaram suas vidas. Na verdade,

segundo caso, quando estão envolvidos grupos diferentes, a condução do

ficaram fascinados com índios e índias completamente integrados à

cerimonial do Moitará é feita entre os chefes de cada uma das etnias. Um

natureza. Diferentemente da visão antropocêntrica da civilização ocidental,

grupo acompanha seu chefe com os objetos a serem trocados e é acolhido

os indígenas não ocupam o lugar superior em uma hierarquia, vivem os ciclos

e hospedado na aldeia que visita. Uma vez dispostos os objetos no chão, são

da vida natural: nascimento, juventude, maturidade e morte, como os outros

colocados pelo chefe anfitrião outros produtos específicos daquela aldeia

animais, com os quais convivem em relação harmônica. Esse viver natural

para a realização da troca. O Moitará se realiza por meio do entendimento

se confronta com a cultura do médico e do estudante de Medicina, cujos

entre os chefes.

comportamentos têm como eixo o juramento de Hipócrates4.

Uma reflexão mais profunda sobre o Moitará, que propicia o contato com

Profa. Dra. Daisy Peccinini Professora Associada aposentada do MAC-USP, museóloga, historiadora e crítica de arte, curadora do IVB

“Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da humanidade. Darei como reconhecimento a meus mestres meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.” – Tradução livre da Declaração de Genebra, aprovada em 1848 pela Assembleia Geral da Associação Médica Mundial, ocorrida em Genebra. A declaração foi concebida como uma revisão modernizadora dos preceitos morais do juramento de Hipócrates.

4

29


FOTOGRAFIAS do Projeto XingU Visões do Universo

O grande acervo fotográfico da EPM é o resultado dos olhares do branco,

de contenção, toda uma série de cenas de imagens que são captadas,

registrando o território, as práticas médicas, o cotidiano que compartilham,

capturadas pela câmera fotográfica. O imenso acervo de fotografias

os comportamentos e ritos. As fotografias tinham inicialmente a função

resultante é um exemplo contundente disso. De fato, há sofreguidão

de ser mais um dado para compor as fichas médicas, que registravam

desses fotógrafos amadores em registrar vistas áreas, terrestres e fluviais

informações sobre cada paciente indígena. Entretanto, as fotografias não

em visões novas que se apresentavam, porque estavam sucumbidos pela

se restringem a registros de fichas, pois ultrapassam a sua finalidade de

voragem de possuir e fixar as cenas inusitadas que olhavam. Um olhar

identificação e diagnóstico e passam a registrar o cenário e o testemunho

sensível, um olhar compreensivo e estético.

da vida dos diferentes grupos e indivíduos.

É explicável então que as fotos não se restrinjam exclusivamente à

Encantados e surpreendidos com a natureza e os povos do PIX, os

identificação de fichas médicas, que de janeiro de 1966 a março de 2012

membros da equipe médica tornam-se incansáveis fotógrafos amadores,

somam o número expressivo de 8.900 fotos-registros para os prontuários

seduzidos. Convém aqui lembrar o pensamento do surrealista André

médicos.

Breton, que afirma que o nosso olhar sempre é um olhar selvagem,

A exposição mostra recortes do acervo, visões fixadas nas fotografias,

indomado, sem ser submetido a critérios . Dessa maneira, os olhares

que se agrupam de acordo com diferentes temas. Montou-se, assim, um

da equipe médica são incansáveis em absorver, sem nenhuma regra

cenário narrativo visual do processo de encontro de diferentes culturas.

5

5 André Breton. Le Surréalisme et la peintura. Paris: Gallimard, 1965. p.1: (...)“o olho existe em estado selvagem, as maravilhas da terra, que estejam a 30 metros de altura, ou as maravilhas do mar, mesmo que a 30 metros de profundidade, só têm por testemunho o olho indomado”. (...)

30


Vista aérea do rio Xingu, outubro de 2011.

Vista aérea da lagoa Kamayurá, Alto Xingu, outubro de 2011.

Aldeia Yudjâ (Juruna) as margens do rio Xingu, PIX.

O TERRITÓRIO, OS POVOS E OS LUGARES DE OCUPAÇÃO Fotos aéreas dos locais de ocupação. Aldeias, rios, lagoas próximas e vegetação atraem o olhar dos que chegam e fazem trabalhar a câmera fotográfica. As imagens mostram também os indígenas se relacionando com a natureza, com os rios.

Jovem Kayabi rema no Baixo Xingu, aldeia Samauma, 2008.

Crianças Waura, grupo Aruak, brincam no rio, setembro de 1991.

31


Aldeia Nacepotire Panará, Alto Rio Iriri, sul do Pará, agosto de 2007.

Aldeia Ngoinwere, Kisêdje (Suyá), do grupo Jê, Alto Xingu, Terra Wawi, novembro de 2010.

As aldeias têm como cenário de vida principal o grande espaço central, uma praça, mostrando a amplidão de espaços em que vivem os grupos, bem diferente dos horizontes apertados dos habitantes das cidades de hoje.

Cacique Yawalapiti sentado no banco de chefe decorado com duas cabeças de gavião, AX, setembro de 1991.

Construção de oca alto-xinguana, julho de 2000.

32

Mandioca secando no jirau, Alto Xingu, setembro de 1969.


O impacto da visão do corpo humano masculino foi grande, de fato os médicos acostumados a examinar o corpo não deixaram de admirar a constituição do corpo dos indígenas, de massa muscular desenvolvida. Apesar de musculosos e fortes, seus corpos não têm a modelagem muscular de frequentadores de academia, e sim uma massa natural e harmoniosa com membros torneados e bem proporcionados, como verdadeiras figuras saídas da estatuária clássica grega. É exemplo de todas as qualidades corporais a imagem de uma das mais importantes lideranças do baixo Xingu, o cacique Raoni.

Cacique Raoni, Metuktire, Grupo Jê, com adereços 33 Jarina, julho de 1971. tradicionais. BX, Alto Rio


As mulheres xinguanas têm destaque nas fotos desempenhando funções maternas, cuidando dos filhos, no que se demonstram excelentes. Ao mesmo tempo, chamam atenção por suas pinturas corporais e seus cortes de cabelos. Algumas destacadas, como as Meinako, atraem o olhar por sua beleza. Um registro de uma situação insólita que contraria os princípios da civilização ocidental é o da mulher Metuktire fumando um cachimbo de barro tradicional enquanto está amamentando seu bebê.

Foto 1

Foto 2

Foto 3

Foto 4

Foto 5

As fotos testemunham a relação dos povos indígenas com os animais selvagens e a ideia de que os animais participam da comunidade humana e habitam o mesmo espaço. É natural que animais temidos pelos brancos, considerados agressivos, como a ariranha, e outros mais amáveis convivam com as crianças e mesmo com os adultos. Surpreendentes também são o menino Kayabi abraçado à ariranha, que exibe suas poderosas presas, e a menina do Alto Xingu, que carrega um macaquinho como uma boneca.

FOTOS: 1. Mulher Metuktire, grupo Jê, amamenta o filho, numa situação insólita, fumando cachimbo tradicional. BX, Alto Rio Jarina, julho de 1971. 2. Ireacati, bebê Metuktire, com sua mãe com pintura e cabelos tradicionais. Baixo Xingu, março de 1981. 3. Caindoberê, Trumai, Baixo Xingu, março de 1981. 4. Menina com seu macaquinho. Alto Xingu, setembro de 1971. 5. Menino Kayabi abraçando uma ariranha. Baixo Xingu, janeiro de 1980.

34


A equipe médica chefiada pelo Dr. Baruzzi participou, junto com os irmãos Claudio e Orlando Villas Bôas, de expedições de resgate de grupos que estavam fora do Parque Indígena do Xingu em situação de risco, como os Tapayuna e os Panará. Esses últimos, chamados de Kreen-Akarôre pelos grupos vizinhos que contavam que eram “índios gigantes”, foram alvo de várias tentativas de aproximação. Durante anos recusaram contato com os brancos. Em 1969, com a equipe da

Expedição dos Irmãos Villas Bôas e médicos da EPM, em busca de aproximação com os Panará na região do rio Peixoto de Azevedo, 1969.

Orlando Villas Bôas tentando contato, no meio da aldeia abandonada e queimada dos Panará, 1969.

Uma das primeiras visões de um jovem guerreiro Panará (Kreen-Akarôre) inteiramente pintado de negro com jenipapo. A foto foi captada no contato, em fevereiro de 1973, com o médico da EPM Rubens Belfort Mattos Junior.

Panará (Kreen-Akarôre) aguardam numa precária tapera a transferência para o PIX. Dois marcos de concreto assinalam o cruzamento das rodovias que invadiram seu território: BR-80 (XavantinaCachimbo) com a BR-165 (Cuiabá-Santarém), 11 de janeiro de 1975.

Índia Panará (Kreen-Akarôre) com seus pertences em remoção para o Posto de Diauarum, PIX, 11 de janeiro de 1975.

Equipe médica, que atendeu os Metuktire no Alto Rio Jarina, junto à cachoeira Von Martius, ao norte do PIX, julho de 1971. Da esquerda para a direita: Laercio J. Franco, dois Kayabi, Dr. Rubens Belfort de Mattos Jr., Dr. José Roberto Jardim, Jonh Hemming (importante historiador dos indígenas do Brasil), Claudio Villas Bôas, rodeado por índios Kayabi.

EPM, Orlando Villas Bôas organizou uma expedição para o território dos Panará, no limite do estado do Mato Grosso com o Pará. Próximo à aldeia deixou presentes (facões, machados, panelas, espelho etc.), que não foram recolhidos. Localizaram uma aldeia que surpreendeu a todos, pois estava abandonada e queimada. Em 1971, houve outra tentativa de contato, mas só tiveram sucesso dois anos depois, em 1973. O grupo Panará estava em situação dramática, agravada pouco tempo depois com a abertura da rodovia BR163, que cortou o seu território e levou para a região centenas de trabalhadores. O decorrente contato com os indígenas provocou epidemias de gripe e outras doenças, agravando a dizimação da população, que já havia sido desencadeada pelas tentativas de contato ocorridas em 1967 e depois em 1971. Houve a operação de remoção dos 79 sobreviventes abrigados em uma tapera, por um avião da FAB, com assistência da equipe médica da EPM, levando-os para o posto Diaurum no Médio Xingu.

35


Dr. Baruzzi em trabalho de campo no PIX.

36


O TRABALHO DE CAMPO DA EQUIPE DE SAÚDE DA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA As cenas do trabalho fotografadas revelam os olhares atentos e acolhedores dos que vêm de fora e o esforço de compreensão e diálogo com os povos locais.

Dr. Marcos Shapper em ausculta pulmonar, aldeia Kamayurá, Alto Xingu, julho de 2000.

Dr. Roberto Biral, dentista, em atendimento no Baixo Xingu, janeiro de 1984.

Dr. Ricardo Palma pesando neonato Panará, aldeia Nacepotire, novembro de 2007.

Dr. Carlos Stabile Neto examinando Panará durante o voo de remoção, 11 de janeiro de 1975.

Em busca de entendimento na abertura da ficha médica; Dr. José Roberto Jardim e o cacique Krumare, Metuktire, Alto Rio Jarina, julho de 1971.

Dr. Cleyton Coelho e Dr. Marcos Floriano examinando menino Kayabi, na aldeia Guarujá, março de 2008.

37


Enfermeira Dra. Lavínia Oliveira entrega certificado de curso de saúde, outubro de 2003.

Enfermeira Vania Fernandes Rabelo, em diálogo com mulheres Kamayurá, do Alto Xingu, sobre o tema da saúde da mulher, Polo Diaurum, novembro de 2006.

Dr. Pablo Lemos, dentista, atendendo criança Kayabi, maio de 2009.

Ana Paula Brecheret, estudante de Medicina, examinando gestante Waurá, Alto Xingu, abril de 1996.

Kuiaiu Yawalapiti, enfermeira indígena, durante a conclusão do curso ministrado pelo Projeto Xingu/EPM, Polo Pavuru, PIX, novembro de 2011.

Leidiane Maria da Silva, enfermeira de etnia Pankararu, durante Oficina Distrital de Saúde Indígena. DSEI-Xingu, março de 2012.

38


Dra. Sofia Mendonça dialogando com uma indígena na aldeia Moygu, Ikpeng, Médio Xingu, setembro de 2011.

39


Enfermeira Erica Ribeiro coletando sangue das crianรงas Panarรก, abril de 2006. 40


Enfermeira Evelyn Placido, observando recémnascido, na etapa de vacinação, PIX, maio de 2009.

Enfermeira Patrícia Rech examina criança no Polo Pavuru, Médio Xingu, 2003.

41


cenas do cotidiano compartilhado Foram feitas centenas de fotos do cotidiano dos povos xinguanos. O dia a dia compartilhado com os caraíbas, que lançam olhares surpresos e curiosos, registrando cenas de banhos, pescarias, alimentação, artesanato – modelagem de potes de barro, fiação e tecelagem de fios de algodão etc. O ambiente das aldeias, com as suas grandes ocas e a casa do temido gavião-real (harpia), prisioneiro que fornece as plumas, símbolo de força e poder para os guerreiros. A casa dos homens, local de reunião, da produção de armas e de conversas sobre caça, pesca, mitos etc.

Homens Ikpeng entram na mata para caçar, aldeia Moygu, Médio Xingu, outubro de 2011.

Casa dos Homens Panará, aldeia Nacepotire, sul do Pará, 2007.

Metuktire talhando uma borduna na casa dos homens, Baixo Xingu, janeiro de 1984.

Pescaria Ikpeng, menino flechando peixe no meio do aguapé, outubro de 1990.

Criança Kayabi brinca com borboletas no posto Diauarum, Baixo Xingu, 2008.

Família Ikpeng pescando no Médio Xingu, outubro de 2011.

42


Casa do gavião-real (harpia), Alto Xingu, julho de 1970.

Gavião-real (harpia) em reclusão, cujas plumas são usadas em adornos, Alto Xingu, 2003.

Mulher fiando com macaquinho adormecido no ombro, Baixo Xingu, julho de 1971.

Mulher Yudjâ (Juruna) modelando o barro para fazer um pote, Baixo Xingu, setembro de 1985.

Mulher Mektutire coloca espiga de milho para assar junto com peixes, tartaruga e caça, Baixo Xingu, janeiro de 1984.

Criança Kisêdje (Suyá) na escovação dos dentes, outubro de 2007.

Mulher Ikpeng fiando algodão silvestre, Médio Xingu, março de 2008.

Preparação de beiju e da perereba, refeição cotidiana do fim da tarde, aldeia Ikpeng, outubro de 2011.

43

Gavião-real (harpia).


A equipe médica vem descobrir, justamente nesse cotidiano compartilhado, um dos principais motivos da ausência de obesidade, hipertensão e diabetes entre os povos xinguanos, nos primórdios do programa de saúde: o uso do sal indígena com baixo teor de sódio e alto teor de potássio. As fotos mostram o processo da produção do sal desde a colheita do aguapé, que é queimado, e a estrutura de filtragem das cinzas para a produção do sal. O Moitará, tradicional troca de objetos e alimentos, também é registrado, um dos elos de convivência pacífica e harmônica entre diferentes grupos.

Mulher Yawalapiti com aguapé colhido para fazer sal, Alto Xingu, julho de 2000.

Estrutura de filtro de cinzas do aguapé e cabaça usados no preparo do sal, Alto Xingu, julho de 2008.

Cena de Moitará na aldeia Aruak, Waurá, maio de 2009.

Família Ikpeng prepara roça de mandioca e crianças comem pequi, outubro de 2011.

44


45

Bebê Ikpeng, para andar logo, foi pintado com símbolos de onça e é seco com polvilho, Médio Xingu, outubro de 2011.


Crianรงas Metuktire com pintura tradicional, Baixo Xingu, janeiro de 1985.

46


ESTÉTICA E VIDA Um tema de encantamento para o olhar dos forasteiros

o rosto, chegando aos pés, untados pelas tintas de urucum e de

eram as manifestações de sensibilidade, gosto e estética que

jenipapo, misturadas ao óleo de pequi. As plumas somam-se à

afloram mediante formas, cores e materiais naturais, conforme

pintura para ornamentar o corpo: cocares, braçadeiras, brincos

as visões oferecidas pelas diferentes etnias em sua produção

e aplicações de penugens. São penas e penugens de arara,

material. Nesse contexto de manifestações estéticas, o tema

mutum, gavião-real, jatobá, entre outros pássaros. As penugens

central é a ornamentação do corpo. O corpo dos indígenas

suaves contornam o rosto nas faces e na testa, enquanto as

é o território principal em que exercem sua sensibilidade,

penas multicoloridas compõem diferentes tipos de cocares

seu sentido estético. Cada grupo tem o seu código formal

e coifas. Os colares de lascas de caramujo, garras de onça e

e

modelagem

dentes de macaco são muito valorizados para a construção

das pernas e dos braços e para colocação de objetos que

do corpo ornamentado masculino, enquanto os de contas

expandem os lábios e os lóbulos da orelha, os botoques e os

coloridas geralmente adornam as mulheres. Os cintos femininos

brincos auriculares. De maneira geral, o corpo recebe pinturas.

e masculinos são cuidadosamente elaborados e adornados com

Poucos grupos, como os Panará, fazem tatuagens. As pinturas

contas e plumas coloridas. Nos objetos – cerâmicas, cestaria,

têm como temática a evocação de animais míticos. Em seus

bordunas, flechas, pentes etc. – manifesta-se o exercício de

grafismos prevalecem linhas paralelas, formas retangulares e

sensibilidade nas cores e formas, neste âmbito existem códigos

circulares. As pinturas ornamentais cobrem desde os cabelos e

estilísticos próprios de cada etnia.

cromático,

além

de

procedimentos

para

Bolas de urucum e óleo de pequi para pintura corporal, Polo Diauarum, Baixo Xingu, julho de 1989.

47


Pajé e cacique Takumã, Kamayurá, adornado para festa do Kuarup, comendo beiju, Alto Xingu, julho de 1973.

Mulher Ikpeng com pintura facial e penugem, 2009.

Menina Metuktire com pintura corporal, Baixo Xingu, 1985.

Homem Waurá untando as mãos com urucum, 2011.

48

Adolescente Panará com escarificações típicas de seu grupo, janeiro de 1965.

Mãos de um Waurá com urucum, preparando-se para festa, 2011.


Guerreiros Ikpeng, aldeia Moygo, adornados para festa, novembro de 2008. 49


Rostos decorados com pinturas tradicionais de mulheres Ikpeng, Kisedje (Suyå), Yudjâ (Juruna), 2009. 50


Waurá, com coifa de plumas e pintura de rosto com urucum e jenipapo, aldeia Aruak, Médio Xingu, 2009.

Adornos de guerreiro alto-xinguano: brincos de plumas, colar de garras de onça e pintura corporal, Alto Xingu, setembro de 1991.

Índio Kuikuro, pintado com urucum, colar de lascas de caramujo e braçadeiras emplumadas, Alto Xingu, abril de 1991.

Yudjâ (Juruna) com braçadeira de longas penas de arara. Baixo Xingu, janeiro de 1991.

Mulheres Yudjâ (Juruna) com adornos de festa, outubro de 2003.

Homens Yudjâ (Juruna) com adornos de festa, outubro de 2003.

51

Kamayurá, ao fundo pintura do ritual Kuarup, UBS - Morená, Médio Xingu, 2009.

Romdo Kisêdje (Suyá), com adorno de botoque labial e grandes brincos auriculares, outubro de 2003.

Peneiras Kayabi, Baixo Xingu, setembro de 1995.


Moça Kayabi adolescente em reclusão, rito de passagem da puberdade, Baixo Xingu, 2009.

OS GRANDES MITOS E RITOS DE PASSAGEM, FESTAS E DIVERSÕES Uma parte significativa das fotos registra as pela aldeia que promove a festa. O Kuarup é o rito cerimônias referentes a mitos e seus ritos e as festas com

mais sagrado. Tem como fundamento o mito do Deus

danças e lutas muito frequentes, testemunhando a alegria

Mawutzinin, que criou os homens a partir de troncos de

natural dos povos indígenas. De fato, essas festas e ritos

árvores. Conta o mito que o primeiro Kuarup foi realizado

estão presentes no cenário de vida dos povos do Xingu

por Mawutzinin para trazer os mortos de novo à vida. Ele

porque constituem também um tipo de historiografia

entrou na mata e escolheu os troncos, representando os

primitiva, isto é, explicam as origens e as razões de ser

falecidos. Como no mito não aconteceu a ressurreição, o

do grupo. O grande mito e rito do Kuarup ocupa o lugar

rito atual tornou-se uma comemoração da morte e da vida;

central. Segundo Egon Schaden, a tradição mítica de

de um lado se homenageia os mortos e de outro festeja-

uma comunidade faz parte de sua organização social, do

se a vida; com o casamento de adolescentes, saídos da

seu patrimônio cultural e, por isso, tem, como qualquer

reclusão ritual de passagem da puberdade. É o momento

elemento da sua cultura, a função essencial de contribuir

em que as moças recém-saídas do isolamento se casam

para a solidariedade social6. Nesse sentido, o mito e o rito

e os jovens, saídos da reclusão pubertária, participam do

do Kuarup é um poderoso elo que reúne as etnias do Alto

campeonato de luta, a Huka-Huka, confirmando a sua

Xingu, que comemoram ou participam dele convidadas

força e maturidade.

Um adolescente alto-xinguano em reclusão, rito de passagem da puberdade, sendo atendido pelo Dr. Roberto Baruzzi, 1980.

6

Preparação do Kuarup: tronco representando a pessoa falecida é pintado, adornado e enfeitado para o ritual, Kamayurá, Alto Xingu, julho de 1998.

SCHADEN, Egon. A mitologia heroica de tribos indígenas do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1989, p. 21.

52

Mulheres Metuktire dançam agradecendo a equipe médica, Alto Rio Jarina, Baixo Xingu, julho de 1971.


53

Tocadores de taquaras percorrem aldeia convidando para a festa, Alto Xingu, maio de 1987.


Escarificação no preparo para o Huka-Huka, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, setembro de 1991.

Dois lutadores preparando-se para o Huka-Huka, Kuarup, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, abril de 1991.

Apresentação de lutadores de Huka-Huka, Kuarup, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, julho de 1991.

Embates de forças na luta Huka-Huka, Kuarup, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, setembro de 1991.

Cena da luta Huka-Huka, Kuarup, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, 2003.

Torcida durante luta do Huka-Huka, Kuarup, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, setembro de 1991.

Campeonato de Huka-Huka, Alto Xingu, julho de 1998.

Grupo de lutadores de Huka-Huka, no centro um campeão que exibe o troféu de suas vitórias, a carcaça do pássaro xexéu, Kuarup, aldeia Kalapalo, Alto Xingu, setembro de 1991.

A luta do Huka-Huka durante o Kuarup de Claudio e Álvaro Villas Bôas e do índio Maricá, na aldeia Kamayurá. Ao fundo assistem Orlando e Marina Villas Bôas e seus filhos Orlando e Noel, 1998.


Huka-Huka é uma luta ritual em que os homens testam sua força. Tem laços de evocação xamânica do espírito e da força da onça. O nome Huka-Huka é similar ao som do ronco desse animal. É o embate de homens vigorosos, no qual vence o que tiver mais força e conseguir derrubar o adversário de costas no chão ou tocar sua coxa por alguns minutos. Os campeões carregam como troféu da vitória, pendurado no seu cinturão, a carcaça de um pássaro preto e amarelo, o xexéu. Várias fotos registram as cenas das festividades, que sempre acontecem nas aldeias xinguanas, a beleza dos adornos e os preparativos.

Índios Kisêdje (Suyá) se preparando para dança, Baixo Xingu, janeiro de 1996.

Dança do Kisêdje (Suyá), Baixo Xingu, janeiro de 2003.

Dança em festa dos Metuktire, Alto Xingu, setembro de 1995.

Entre as festas, destaca-se o Tawarawanã, uma festa simples e alegre, realizada no Alto Xingu pelos Trumai, ao amanhecer. Os homens vestem uma espécie de saia feita de buriti e se enfeitam com folhas de bananeira, cocares e folhas de uma árvore cheirosa (hik’ada xudak), usadas nos braços e no rosto. Eles dançam enquanto os cantores, que são dois, ficam sentados. Um dos cantores toca chocalho e outro o acompanha, tocando um tipo de tambor de taquara. As mulheres usam pinturas corporais e dançam em pé sozinhas, acompanhando o ritmo dos homens. Depois se juntam a eles, segurando na ponta da saia dos homens. Dançam então rodando com eles pelo centro da aldeia7.

Homens e mulheres Kisêdje (Suyá) dançam e cantam na festa de Tawarawanã, aldeia Gnojhwere, Alto Xingu, 2008.

7

Cantores no festival Tawarawanã, Alto Xingu, 2008.

Tucupé, Wauará, agente indígena de saúde, preparandose para festa de comemoração do final de seu curso, ministrado pelo Projeto Xingu/EPM, Polo Pavuru, PIX, novembro de 2011.

Almanaque socioambiental Parque Indígena do Xingu: 50 anos. Instituto Socioambiental (ISA) – São Paulo: Instituto socioambiental, 2011. p. 57.

55


OS “DOUTORES” DO XINGU

PAJÉS, CACIQUES, RAIZEIROS E MÉDICOS Nesses 47 anos de atuação das equipes da Escola Paulista de Medicina, sempre houve a compreensão por parte dos médicos do que se pode chamar de medicina indígena, que entende a doença como um fenômeno metafísico, conceito oposto à perspectiva ocidental, que considera a enfermidade como um processo físico. Os indígenas acreditavam que os médicos e as suas equipes poderiam tratar das doenças do branco que atingiam seu povo, enquanto as doenças do seu meio ambiente poderiam ser curadas pelos pajés, raizeiros e caciques. Um processo de contatos interculturais aconteceu nessa dualidade, como mostram as fotos desta seção.

Airé, parteira e pajé, Ikpeng, aldeia Moygu, novembro de 2009.

Pajé Melobô e família, índios Ikpeng, no PIX, janeiro de 1977.

Reunião de pajés e raizeiros, com a equipe de Saúde do Projeto Xingu, Canarana (MT), 2012.

Megaron Metuktire e parentes, Polo Diuaraum, Baixo Xingu, 2003.

56


Pajé Monain da aldeia Mehinaco, Alto Xingu, julho de 1998.

Pajé Amutuá, Waurá, preparando o cigarro, Aldeia Stein, 2008.

Pajé Takumã, Kamayurá, Alto Xingu, julho de 1998.

Pajença, com o pajé Apaiatu, Waurá, Polo Pavuru, Médio Xingu, setembro de 2011.

Cacique Kuiussy Kisêdje (Suyá), 2009.

Dr. Baruzzi entre xinguanos, Alto Xingu, setembro de 1991.

57

Pajé Takapé Waurá, aldeia Aruak, Médio Xingu, 2009.

Índios Tapayuna (Suyá novo) com Dr. Sergio e Dr. Luiz F. Marcopito, médicos da EPM, Baixo Xingu, janeiro de 1980.

Pajé Amutuá, Waurá, Aldeia Stein, Médio Xingu, 2008.

Família do pajé e cacique Prepori, Kayabi, e ao fundo médicos da EPM, da esquerda para a direita: Dr. Roberto Baruzzi, Dra. Sofia Mendonça, Dr. Douglas Rodrigues e Marcos Pelegrini, aldeia Kayabi, Baixo Xingu, janeiro de 1984.


Moitará e os Objetos do Acervo A exposição apresenta objetos, testemunhos da cultura material, que foram recebidos pelos médicos e por sua equipe como presentes ou obtidos através da prática de trocas chamada Moitará. A mostra traz uma seleção do acervo da Sala EPM – Xingu Prof. Roberto Baruzzi/UNIFESP. A riqueza desta coleção espelha, por um lado, a generosidade dos povos indígenas em oferecer e trocar objetos e, por outro, é testemunho histórico da extensão dos contatos com as etnias do PIX. Estão divididos entre objetos do universo masculino e objetos do universo feminino. Os objetos mais significativos para o universo masculino são os bancos, símbolos de autoridade confeccionados com formas zoomórficas. Há, também, machados e armas bordurnas, arco e flechas, adornos, colares, coifas emplumadas, brincos e botoques.

Chamador de onça, Kayabi (30 cm)

Banco de onça, Kayabi (33 x 96 x 26 cm)

58


Colar de garra de onça, Kayabi (23 x 18 cm)

Brincos auriculares, Kisêdje (Suyá) (6 x 6 x 1,5 cm)

Colar de dente de macaco, Kuikuro (24 x 21 cm)

Colar de caramujo, Alto Xingu (114 x 3,5 x 1 cm aberto 55 x 1 x 1 cm fechado)

Banco de Chefe Kamayurá, com duas cabeças de águia (28 x 68 x 31 cm)

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Botoque Kisêdje (Suyá) (3 x 8,5 x 6 cm) e Botoque Metuktire (2 x 11 x 8,5 cm)


Coifas emplumadas Ikpeng (30 cm de di창metro)

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Borduna Panará (Kreen-Akarore) (157 x 10 cm)

Borduna Ikpeng (120 x 9 cm)

Machado de pedra Metuktire (cabo 86 x 5 cm / pedra 17 x 7 cm)

Cinto de algodão, Kayabi (136 x 8,5 cm)

Machado de pedra Yudjã (Juruna) (cabo 74 x 5 cm / pedra 14 x 6 cm)

Machado de pedra Kayabi (cabo 44 x 4 cm / pedra 6 x 8 cm)

Tronco ornamentado do ritual do Kuarup (180 x 50 x 50 cm)

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objetos do universo feminino Os objetos do universo feminino são de uso diário e vinculados às atividades das mulheres nas aldeias. Sejam adornos ou objetos utilitários, obedecem a métodos tradicionais de confecção e recebem elementos decorativos, emblemáticos próprios de cada cultura.

Cerâmica Waura (15 x 57,5 x33,5)

Cerâmica Waura (15 x 44,5 x 42 cm)

Estrutura de filtro para processar o sal das cinzas do aguapé (c. 100)

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Ralador de Mandioca, Alto Xingu (86 x 22 x 5 cm)

Peneiras Kayabi (60 cm de diâmetro)

Pentes, Kuikuro (14 x 22 x 3 cm – Tatu 18,5 x 22 x 2 cm – Peixe 11 x 13 x 2 cm) Beijuzeira, Alto Xingu (15 x 53 x 53 cm)

Fusos, Kayabi (6 x 48 x 8 cm – 5 x 42 x 5 cm – 6 x 41 x 5 cm)

Uluri, Alto Xingu (24 x 20 cm)

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bibliografia INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Almanaque socioambiental Parque Indígena do Xingu: 50 anos. São Paulo: Instituto Sociombiental, 2011. ARANHA, Carmem S. G.; BRITO, Amauri C.; ROSATO, Alex. Culturas de visualidades: aproximações da imagem artístico-visual. In: Espaços da mediação. São Paulo: PGEHA/Museu de Arte Contemporânea da Cidade de São Paulo, 2011. BARUZZI, Roberto; JUNQUEIRA, Carmen (Org.). Parque Indígena do Xingu: saúde, cultura e história. São Paulo: UNIFESP/Terra Virgem, 2005. BRETON, André. Le Surréalisme et la peintura. Paris: Gallimard, 1965. SCHADEN, Egon. A mitologia heroica de tribos indígenas do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1989.

HOMENAGEM In memoriam Orlando e Claudio Villas Bôas Povos do Parque Indígena do Xingu Professor Dr. Roberto Baruzzi Criador do Projeto Xingu e Coordenador de 1965 a 1996 Professor Dr. Douglas Rodrigues Coordenador do Projeto Xingu a partir de 1996

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ficha técnica INSTITUTO VICTOR BRECHERET DIRETOR-PRESIDENTE Victor Brecheret Filho DIRETORA-VICE-PRESIDENTE Cidô Brecheret DIRETOR ADMINISTRATIVO Fernando Brecheret DIRETORA-SECRETÁRIA Maria Lúcia Junqueira DIRETORA-TESOUREIRA Dalmacia de Arruda Campos DIRETORA DE PROJETOS Ana Maria Gonçalves REALIZAÇÃO Instituto Victor Brecheret CURADORIA, PESQUISA, TEXTO E ICONOGRAFIA Daisy Peccinini

PRODUÇÃO EXECUTIVA Arte Sobre Arte Produções Artísticas Maria Clara Perino EXPOGRAFIA José Luis Hernández Alfonso PROJETO GRÁFICO Ctrl+d Comunicação Direção de Arte Alexandre Reibaldi Diagramação Anna Flávia Oliveira Júnior Cassis PRODUÇÃO GRÁFICA Jorge Frederico Bellini Gabriel Rosso OBJETOS ETNOGRÁFICOS UNIFESP MUSEU EPM/XINGU Sala Prof. Roberto Baruzzi

ORGANIZAÇÃO Cidô Brecheret

FOTOGRAFIAS O acervo fotográfico, de 1965 a 2003, com cerca de 30 mil fotos, deve-se aos participantes do trabalho de campo do Projeto Xingu, que, devido ao elevado número, não são citados nominalmente, mas é válido destacar os Drs. André Reichman, Renato Spindel, Rubens Belfort Mattos Junior, e o estudante Mario Fukamoto, por seus dotes fotográficos. A partir de 2001, o Projeto passou a contar com a colaboração do fotógrafo Hélio Carlos Mello.

ASSISTENTE Maria Lúcia Junqueira

Fotos dos Objetos Etnográficos Hélio Carlos Mello

ASSISTENTE DE CURADORIA Leandro da Cruz Silva ASSISTENTES DE PESQUISA Izabel Muanis Rocha Leandro da Cruz Silva

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MuBE Museu Brasileiro da Escultura Diretor-Presidente Jorge Frederico Magnus Landmann Diretor Administrativo e Secretário Roberto Janny Teixeira Diretor Cultural Olívio Guedes Diretor Financeiro Nelson Guimarães Diretora Jurídica Márcia Regina Bull Diretora de Relações Internacionais Renata de Azevedo Silva Diretora de Relações Comunitárias Emiliana Elias


Agradecimentos Escola Paulista de Medicina/UNIFESP Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – SPDM Museu Brasileiro da Escultura – MuBE Povos Indígenas do Xingu Participantes do Projeto Xingu Maria Denise Silva

NOTA: Esta exposição nasceu de uma sugestão da Dra. Ana Paula Brecheret, que participou do Projeto Xingu como estudante de Medicina da EPM/UNIFESP e como médica recém-formada.

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Conheça o conteúdo exclusivo

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