Caderno de Cultura

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Governo do Estado do Rio de Janeiro Governador

Sérgio Cabral Vice-Governador

Luiz Fernando Pezão

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Fundação Roberto Marinho


Caderno de Cultura

Rio de Janeiro


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Texto do SĂŠrgio Cabral Nisl ut nit in vent nos nostionullan el ute dunt delit amet aut deliqui bla feugait ad tat wis nos at, sum iustrud tem dolore venis alisci blandipsum digna commy nis am nosto od dolore eugiat laor sissed tis acilit doluptat lam in utat, si. Ore minis nullandiam veniatuerat. Ut wis adit velis dit, vel ut ut illamco nsecte tem aut nos nonsectem ilisit augait diamet augiamc onullaore dolestrud magna coreet nullutp atuerci duissequate ver sequis dolutpatet praessisci ero consectem venisse ndiamet, qui blaortie facin hendip exercidunt utpat alit lore vulputat. Ut wis adio exer se mod te etum il ilit nim nullupt atumsan utat. Tismolorper sum irit num vel et iurem atue dolesed dolutatem duipsum ing exer in heniam, volore tat. Ommodia mcommod olortin ciniatet am dui bla augait laorerat ad tem zzriure digna commy nim veliquis alis alisis nit nummy nit ulla ad ming et, vent lum dolesenim ex exercilla conse feu feugue conummy nullut adionsequi tem delisi. Periure tionse dit nummy numsan el utem iuscin utpat, qui bla feugiam doloreet aliquat, vulla core mod tem vel ut adion ut verostisi te euipism odolenim vel ullandignit dolorer ostrud dolore facipsu scipsummy nim veleniam et, susto el ex esecte vel ea faccum adiam ipit velit, quipsuscin ut praestie core mod et irit nostis ex eugiam nis alit lan velestis nulput et, coreet, commy. Ore minis nullandiam veniatuerat. Ut wis adit velis dit, vel ut ut illamco nsecte tem aut nos nonsectem ilisit augait diamet augiamc onullaore dolestrud magna coreet nullutp atuerci duissequate ver sequis dolutpatet praessisci ero consectem venisse ndiamet, qui blaortie facin hendip exercidunt utpat alit lore vulputat. Ut wis adio exer se mod te etum il ilit nim nullupt atumsan utat. Tismolorper sum irit num vel et iurem atue dolesed dolutatem duipsum ing exer in heniam, volore tat. Ommodia mcommod olortin ciniatet am dui bla augait laorerat ad tem zzriure digna commy nim veliquis alis alisis nit nummy nit ulla ad ming et, vent lum dolesenim ex exercilla conse feu feugue conummy nullut adionsequi tem delisi.

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Minha alma canta Vejo o Rio de Janeiro Estou morrendo de saudades Rio, seu mar, praia sem fim Rio, você foi feito prá mim Cristo Redentor, Braços abertos sobre a Guanabara Este samba é só porque Rio, eu gosto de você A morena vai sambar Seu corpo todo balançar Rio de sol, de céu, de mar Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão Rio de Janeiro, Rio de Janeiro Este samba é só porque Rio, eu gosto de você A morena vai sambar Seu corpo todo balançar Aperte o cinto, vamos chegar Água brilhando, olha a pista chegando E vamos nós Aterrar...

Samba do Avião de Antonio Carlos Jobim. © 6


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O que é cultura? Na sua origem latina, a palavra cultura refere-se à ação de cuidar, tratar, reverenciar. São diversas as compreensões de cultura: na agricultura refere-se ao cultivo da terra; na biologia trata do cultivo de células e tecidos vivos; na reliagião é o culto a uma divindade. No dicionário, a palavra cultura apresenta vários significados. Ela pode ser entendida como “a atividade artística ou intelectual e os trabalhos produzidos por estas atividades”. Ou “o desenvolvimento das faculdades sociais, morais e intelectuais através da educação”. Cultura pode também ser sinônimo de “um estilo de expressão artística ou social peculiar a uma sociedade.” E ainda designar “um alto grau de gosto e refinamento adquirido através de treino intelectual.” O sentido de cultura que queremos ressaltar neste Caderno é o da cultura como herança social, que se adquire e se transmite de geração em geração. Aquela que é característica de um povo, de uma região, uma sociedade – ou ainda, a cultura judaica, a cultura nordestina, a cultura hippie ou a cultura do rap. Cultura é também a totalidade das formas de explicar a origem da vida e de construir o abrigo, o templo ou a cidade. Envolve os padrões de comportamento de uma comunidade, as artes, as crenças e valores, que aprendemos com os nossos pais, familiares e com quem nós convivemos e trabalhamos.

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Tudo que criamos, todos os produtos do trabalho e do pensamento das pessoas, característicos de uma comunidade e de uma população, é cultura. São vivências seculares, atitudes, gestos, gostos que têm sua origem nas atividades que os povos vêm exercendo no mundo para garantirem sua sobrevivência e que vão se mantendo pela tradição e que repassamos às gerações que se sucedem.

Os antropólogos definem cultura como um conjunto sistemático de representações, símbolos, idéias e valores, de crenças, de saberes e de expressão de criatividade. Para eles, cultura é também o conjunto de normas, de regras, de padrões de conduta, de modos de adaptação à natureza e de instituições que ditam as normas e regras sobre como as pessoas devem se relacionar e se organizar para conviver, produzir e garantir sua sobrevivência.

Os antropólogos estudam a origem e o desenvolvimento físico, social e cultural dos grupos humanos e o comportamento das pessoas.

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A cultura se faz de coisas dinâmicas, conectadas a um sistema de relações entre as pessoas e os grupos sociais. Ela é, portanto, o traço que caracteriza uma sociedade, um povo, uma região, garantindo acima de tudo a sua identidade e a sua individualidade face ao processo mais amplo que se vive no mundo inteiro

Arquibancada da Marquês da Sapucaí.

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Na contemporaneidade, os acontecimentos locais influenciam ou são influenciados por fatos que ocorrem a milhares de quilômetros de distância e vice-versa. Neste intercâmbio, a cultura de um lugar pode ter o papel determinante de diferenciação. Numa perspectiva econômica, o peculiar, o singular torna-se matéria prima diferenciada no âmbito da indústria cultural.

Jogo de futebol

identidade Ó abre alas que eu quero passar (bis) Eu sou da lira não posso negar (bis) Ó abre alas que eu quero passar (bis) Rosa de ouro é que vai ganhar (bis)

Ó Abre Alas. Chiquinha Gonzaga. 11


E a cultura brasileira? A cultura brasileira formou-se das contribuições de indígenas, africanos e europeus que se conjugaram aqui neste território criando uma cultura distinta, que é a cultura brasileira. Composta de bens de natureza material e imaterial, que constituem o patrimônio cultural brasileiro, que todos precisam conhecer e valorizar, difundir e preservar.

“A sociedade e a cultura brasileira, resultantes de um processo de fusão de raças e etnias, tem outra característica distintiva que é sua extraordinária homogeneidade linguística, cultural e étnica, alcançada pelo desfazimento e refazimento de suas matrizes européias, índias e negras. Aqui não se formou nenhuma camada ou quisto etnicamente diferenciado, disputando autonomia. Por toda a extensão do Brasil se fala uma mesma língua, menos marcada por sotaques regionais do que as falas de Portugal. E todos os brasileiros nativos, antigos e recentes, se identificam como um povo coeso, posto na mais bela província do planeta, em busca de seu destino”. Ribeiro e Moreira Neto, 1992, p.57 12


Patrimônio material é aquele que é concretamente percebido, que tem aspecto exterior que seja corpóreo, palpável, visível: a arquitetura, a paisagem, os lugares, as obras de arte, as relíquias históricas. Como a praia de Grumarí, a Casa da Flor, o morro Dois Irmãos, o conjunto arquitetônico e paisagístico de Manbucaba e a Casa da Hera, alguns exemplos de bens tombados pelo INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) e IPHAN (Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Patrimônio imaterial compreende as expressões de vida, práticas, conhecimentos, técnicas e tradições que comunidades, grupos e indivíduos em todas as partes do mundo recebem de seus ancestrais e transmitem a seus descendentes. Por exemplo, a Umbanda e o Candomblé são patrimônio cultural imaterial do estado e o Samba do Rio de Janeiro – representado pelas matrizes samba-enredo, samba de terreiro e partido alto – foi declarado pelo Ministério da Cultura, patrimônio cultural imaterial brasileiro.

Pescador

Tambores do Jongo

Arcos da Lapa

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Rua do centro histórico de Paraty (RJ)

arquitetônico Falar de arquitetura tem que mencionar Oscar Niemeyer, que sempre

uniu a arte à arquitetura, com seus projetos com linhas sinuosas e surpreendentes dá leveza e forma ao concreto armado. As obras de Niemeyer são encontradas em todos os continentes. “De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte.” Fonte: BRASIL. 100 Brasileiros. Brasília, 2004.

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paisagístico Ao longo de 45 anos, Roberto Burle Marx organizou e preservou uma das mais importantes coleções de plantas vivas do mundo, na Barra de Guaratiba. O Sítio Roberto Burle Marx reúne mais de 3.500 espécies de plantas, que somadas a um fabuloso acervo de obras de arte, uma biblioteca com mais de 2.500 livros e diversas atividades culturais, acabaram transformando o local em ponto de visita obrigatório para crianças, adultos e estudiosos das mais diversas partes do mundo.

Roberto Burle Marx foi um dos maiores paisagistas de nosso tempo, distinguido

e premiado internacionalmente. Artista de múltiplas artes, ele foi também desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, escultor, pesquisador, cantor e criador de jóias, sensibilidades que conferiram características específicas a toda a sua obra.

Detalhe de projeto de Burle Marx.

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umbanda

Religião criada no Rio de Janeiro, no final do século XIX início do século XX, que reunia elementos espíritas e bantos.

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candomblé

Religião animista que celebra as forças da natureza e ancestrais, original da região das atuais Nigéria e Benin, trazida para o Brasil por africanos escravizados.

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Samba do Rio de Janeiro é o samba composto especialmente para o desfile de carnaval e relata o enredo apresentado pelas Escolas de Samba.

Eu sou o samba Sou natural daqui do Rio de Janeiro Sou eu quem levo alegria Para milhões de corações brasileiros Nesta página Cavaquinho

A voz do morro Zé Ketti 18

Na outra página Desfile de escola de samba com a Praça da Apoteose ao fundo


Samba Enredo

Escolas de Samba

Oguntê, Marabô Caiala, e sobá Oloxum, Ynaê Janaina e, Yemanjá O mar misterioso mar Que vem do horizonte É o berço das sereias Lendário e fascinante Olha o canto da sereia lalaô, okê, ialoá Em noite de lua cheia Ouço a sereia cantar (…)

Agremiações que se apresentam sob forma de grande cortejo, em espetáculos públicos, e participam de um concurso anualmente, no carnaval. Há um tema central, o enredo, que se desenvolve por suas diferentes alas. Ao som do samba-enredo e acompanhada pela bateria, a maioria dos componentes de cada escola segue a pé, enquanto alguns desfilam sobre carros alegóricos. Todos utilizam fantasias específicas, de acordo com sua posição no desfile e observam regras estabelecidas para vários quesitos: comissão de frente, ala das baianas, mestre-sala e portabandeira, alegorias e adereços, evolução, harmonia e conjunto, bateria, entre outros. Cada escola de samba tem seus dirigentes e diretoria de carnaval, que deliberam sobre várias ações do cotidiano da escola.

A Lenda das Sereias: Rainhas do Mar Vicente, Dionel e Veloso

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Samba de terreiro s ão sambas sem compromisso com enredo, que os compositores de escola de samba produzem para animar os ensaios e outras festas de suas comunidades.

Carregava uma tristeza Não pensava em novo amor Quando alguém Que não me lembro anunciou Portela, Portela O samba trazendo alvorada Meu coração conquistou... ah! Minha Portela! Quando vi você passar Senti meu coração apressado Todo o meu corpo tomado Minha alegria voltar Não posso definir Aquele azul Não era do céu Nem era do mar Foi um rio Que passou em minha vida E meu coração se deixou levar (...) Foi um rio que passou em minha vida Paulinho da Viola Roda de samba de terreiro

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Partido alto uma espécie de samba cantado em forma de desafio com versos improvisados é ou do repertório tradicional, de uma parte solada e de outra parte coral. Como conta Aniceto do Império a Sérgio Cabral: “O samba faz perguntas e o pessoal tem que responder na rima. O refrão é assim: Por que não as criaturas? Aí eu faço os pedidos e os outros vão respondendo: Roda de samba (Lan)

– Me digam qual é a pedra mais dura? – Rapadura. – Qual a defesa do banguela? – Dentadura. – Cite uma cidade lá no Oriente. – Cingapura. – Chegou a invernada de Olaria. – É cana dura. – Quando o malandro perde o conceito? – Quando dedura. – Quando a mulher engana o homem? – Quando ela jura. – A nossa mãe jurou ao nosso pai. – Entretanto é uma boa criatura. – Não me fale mal das mulheres. – Fico invocado e ninguém me segura. 21


pluralidade Rio 40 graus Cidade maravilha Purgatório da beleza e do caos Capital do sangue quente do Brasil Capital do sangue quente Fundado nesta matriz é que se forma o Brasil, descrito como: O Brasil do povo e das suas coisas. Da comida, da mulher, da religião que não precisa de teologia complicada nem de padres estudados. Das leis da amizade e do parentesco, que atuam pelas lágrimas, pelas emoções do dar e do receber, e dentro das sombras acolhedoras das casas e quartos onde vivemos o nosso quotidiano. Dos jogos espertos e vivos da malandragem e do carnaval, onde podemos vadiar sem sermos criminosos e, assim fazendo, experimentamos a sublime marginalidade que tem hora para começar e terminar. Da Matta, 1984, p.13.

Do melhor e do pior do Brasil Cidade sangue quente maravilha mutante O Rio é uma cidade de cidades misturadas O Rio é uma cidade de cidades camufladas Rio 40 graus Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Carlos Laufer

Pôr do sol visto de Ipanema.

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As pessoas não têm existência separada da natureza. Há uma ligação muito forte entre a natureza e como a cultura vai sendo criada. Quando uma é afetada, a outra também muda. As pessoas, em relação com a natureza e em relação com as outras pessoas, vão criando uma cultura típica de cada lugar. Assim também acontece no estado do Rio de Janeiro. Dentro da diversidade e criatividade das matrizes, incorporada na unidade da cultura brasileira, foi sendo forjada a cultura fluminense, mesmo que tomando formas distintas e particulares. E é dentro desta pluralidade nacional que o Rio de Janeiro vai construindo história e cultura com características bem próprias.

diversidade Eu só quero é ser feliz, Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é. E poder me orgulhar, E ter a consciência que o pobre tem seu lugar. Rap da Felicidade Julinho Rasta e Kátia

Escada de acesso da favela Dona marta.

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A matriz

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Povos da floresta O espanto europeu na América tropical foi a indianidade, essa outra humanidade canibal e gentil que, longe dos mundos de então, se fizera a si mesma com o só propósito de existir curtindo a vida. Era o povo da floresta, ritmo das árvores gigantescas, das águas sem fim e de seus peixes inumeráveis, dos pássaros mil, e de toda sorte de bicho com os quais aprendera a conviver, deixando-os viver. Ribeiro e Moreira Neto, 1992, p. 23

Povos lusitanos

O português foi a cal jesuítica e o óleo genésico que argamassaram o saibro índio e o cascalho negro na edificação do Brasil. Foi o nervo dessas carnes e desses ossos que, a partir de seu punhadinho de gente, se multiplicou, prodigioso, lusitanizando o mundo, numa façanha inverossímil de tão grandiosa, impossível de se pensar, se não tivesse sido feita. Ribeiro e Moreira Neto, 1992, p.43

Encontrando já constituída a protocélula luso-tupi, tiveram que nela aprender a viver. Aliciados para incrementar a produção açucareira, comporia o contingente fundamental da mão de obra. Apesar do seu papel como agente cultural ter sido mais passivo que ativo, o negro teve uma importância crucial, tanto por sua presença como massa trabalhadora que produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes. Ribeiro e Moreira Neto, 1992, p. 120

Povos africanos

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E a cultura do Rio de Janeiro? A cultura se tece por uma base social – o povo e sua relação com a natureza e se registra na história que vai se construindo. A cultura fluminense se situa nas vilas e no meio dos caminhos – é o espaço social onde se integra e se realiza a cultura do Rio de Janeiro. Espaços de convergência, entroncamentos, passagens, encruzilhadas de muitas artes e saberes. E essa situação de passagem, a circularidade, é marca da cultura e história do estado.

Rio, nome sussurrante Rio que te vais passando a mar de estórias e sonhos, E e em teu constante janeiro corres pela nossa vida como sangue, como seiva (…) Canto do Rio em Sol Carlos Drummond de Andrade

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Rio de Janeiro A fundação em caráter definitivo da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a divisão administrativa da colônia em 1572, com sede do governo do sul no Rio de Janeiro, a perseguição aos corsários estrangeiros e a guerra contra os indígenas seus aliados, são fatores decisivos para a ocupação de inúmeras zonas da costa e da baixada fluminense. Essa ocupação é atestada pela criação de várias aldeias, povoados, freguesias e vilas – Angra dos Reis, Cabo Frio, Parati, Macaé, São Pedro de Aldeia, Atafona, São Gonçalo de Guaxindiba.

fluminense Do latim flumen que significa rio. Em 1 de Janeiro de 1502 chega uma expedição portuguesa ao que lhes parecia a foz de um grande rio, denominando assim o lugar de Rio de Janeiro, ao que é, na realidade, a entrada da barra de uma baía.

situação de passagem Com a corrida para o interior, o Rio de Janeiro torna-se ponto de partida e entreposto de fornecimento de mercadorias. Com a exploração das Minas Gerais, por exemplo, abrem-se caminhos novos, transpõem-se as serras do Mar e da Mantiqueira, vão se estabelecendo ligações diretas que se multiplicarão mais tarde nas estradas reais conectando o Rio e outros distritos.

Escadaria Selarón

Caminho do ouro (paraty)

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Por essas rotas e caminhos a história do Rio de Janeiro mistura-se à própria história do país, como a de nenhum outro estado.

O Rio de Janeiro foi sede do Vice-Reino do Brasil e capital da colônia. Em 1808, com a vinda da família real para o Brasil, a cidade torna-se sede do Reino e, após a Independência, capital do Império. Com a Proclamação da República a cidade continua capital. Assim, os acontecimentos históricos e movimentos sociais que ocorriam no Rio tinham, de fato, repercussão nacional. Como foi o caso mais recentemente, do Tenentismo, da Passeata dos Cem Mil e do Teatro de Resistência. E assim, vai se tecendo a cultura fluminense, trazendo a marca da circularidade e pluralidade destes encontros.

Passeata dos Cem Mil Protesto contra a ditadura militar. A manifestação cobrava uma postura do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento com a situação do país. 28


Tenentismo Nome dado ao movimento políticomilitar de jovens oficiais do Exército Brasileiro, no início da década de 1920, descontentes com a situação política do Brasil.

Teatro de Resistência Movimento teatral integrado por um conjunto de dramaturgos que se coloca contra o regime militar de 1964. Eles usam textos que enfocam a repressão à luta armada, o papel da censura, o arrocho salarial, o milagre econômico, a supressão da liberdade, muitas vezes apelando para episódios históricos ou situações simbólicas e alegóricas. 29


Como a cultura do Rio de Janeiro se expressa? Existem pelo menos dois modos básicos de se reconhecer a cultura dos lugares, que se complementam: um quantifica e o outro qualifica. Um modo é utilizar informações oficiais. É procurar dados demográficos, econômicos e geográficos. É quantificar o que se produz e estabelecer indicadores desta produção. Podemos verificar os dados relativos ao sistema político e educacional para saber o número de alunos escolarizados, o índice de analfabetismo e quantas escolas existem nas diferentes regiões do estado. Por exemplo, o Projeto Autonomia, que trabalha em 332 escolas, com 316 turmas do Ensino Fundamental e 230 turmas do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro. É um total de 546 turmas, com professores ensinando a mais de 13.332 alunos. Estes dados, baseados em estatísticas, permitem construir uma identidade social e quantificar a cultura do grupo dos alunos do Telecurso, de acordo com os critérios oficiais estabelecidos por sistemas, tais como o governo ou as agências internacionais. Assim, a definição da cultura pode chegar por meio de critérios quantitativos, reconhecidos oficialmente. 30

Armazém em santa teresa (rio)


informações oficiais O Rio de Janeiro tem uma área de 43.696,054 quilômetros quadrados, onde vive uma população de 15.420.375 habitantes, distribuída em 92 municipios. [IBGE, 2009]. Está localizado na parte leste da região Sudeste do Brasil e seu relevo geográfico é formado por duas regiões morfologicamente distintas: a baixada e o planalto. Os principais rios que banham o estado são: Paraíba do Sul, Macaé, Guandu, Piraí, Muriaé e Carangola. O estado do Rio faz parte do bioma da Mata Atlântica brasileira, tendo como relevo montanhas e baixadas localizadas entre a Serra da Mantiqueira e o oceano Atâlntico. Na vegetação, destacam-se as florestas que ocupam um décimo do território fluminense. Há também grandes extensões de campos. No litoral e no fundo das baías regista-se a presença de manguezais. O clima é tropical nas Baixadas, com média anual de cerca de 24º C e tropical de altitude na maior parte do planalto e na Serra Fluminense, onde a temperatura média anual é de16º C, com verões variando entre quentes e amenos e na maioria das vezes, chuvosos, e invernos frios e secos, com índice pluviométrico elevado, se aproximando dos 2.500 mm anuais em alguns pontos. Trem

Represa Ribeirão das Lajes

O estado do Rio de Janeiro representa a segunda maior economia do Brasil. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é a maior usina siderúrgica do Brasil e da América Latina, e está entre as maiores do mundo. Vende em média 18,2 milhões de toneladas de minério de ferro, sendo 14,3 milhões de toneladas vendidas para o exterior. Fonte: http://csnrao2008.tv1.com.br/

mensagem%2administrtacao/mensagemAdministracao.html

funcionário da csn (volta redonda)

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É no Rio que se concentram as maiores jazidas de petróleo do País, localizadas na plataforma continental a nordeste, no município de Campos. Descoberta em 1974 e utilizando tecnologia de exploração em águas profundas, sua produção alcança 52.600 m3 (330.000 barris) por dia, o que corresponde a 70% da produção nacional de petróleo. A Petrobras é a oitava maior companhia do mundo no setor. Além disso, o laboratório da COPPE-UFRJ que atua em parceria com a Petrobras, é responsável pela caracterização do petróleo e dos biocombustíveis e, também, pelo desenvolvimento de novos processos voltados para a melhoria da qualidade dos produtos derivados do óleo explorado no Brasil. Sediada na ilha do fundão, a COPPE é um dos mais modernos laboratórios de pesquisa da América Latina que atua nesse campo.

plataforma de petróleo

Petrobras

reduc (duque de caxias)

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Fundada em 03 de outubro de 1953, está sediada no Rio de Janeiro, embora opere em 27 países, no segmento de energia, prioritariamente nas áreas de exploração, produção, refino, comercialização e transporte de petróleo e seus derivados. Seu lema atual é “Uma empresa integrada de energia que atua com responsabilidade social e ambiental”.


O principal produto agrícola cultivado no estado é a cana-de-açúcar, mas produz-se ainda a mandioca, o tomate, o arroz, o feijão, o milho, a batata, a laranja e a banana. O estado já foi um forte produtor de café, na região do Vale do Paraíba. Mas hoje o Rio também apresenta um perfil fundiário no qual predominam pequenos estabelecimentos agrícolas, com área inferior a 10 hectares. A região serrana do entorno da cidade vem se revelando como novo pólo de produção agrícola do estado, com destaque para o cultivo de produtos hortigranjeiros. Nestes últimos anos o estado vem desenvolvendo tecnologias na pecuária para criação do boi orgânico, produção de embriões e produtividade de leite.

pé de café

canavial (campos dos goytacazes)

fazenda de café (vassouras)

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O estado destaca-se ainda no setor de prestação de serviços em áreas como moda, telecomunicações, produção audiovisual, tecnologia da informação, cinema, comércio e turismo.

moda produz-se moda nacional com visibilidade internacional. Acontecem eventos como o Fashion Rio, em que são lançadas as coleções de algumas das principais grifes brasileiras, além de abrir espaço para os novos talentos do ramo e a Fashion Business, feira de negócios em que são feitos contatos, vendas e novas grifes são lançadas. É conhecida como a maior bolsa de negócios da moda brasileira. Tem destaque, também, o trabalho da COOPAROCA - Cooperativa de Trabalho Artesanal e de Costura da Rocinha que desenvolve e comercializa produtos artesanais feitos com retalhos de tecidos, resgatando técnicas tradicionais brasileiras como o “fuxico”, o crochê, o bordado, o “nozinho” e o “patchwork”, contando com aproximadamente 100 artesãs e importantes parcerias no setor da moda, do design e das artes plásticas. A qualidade e ineditismo de seu trabalho alcançou lugares nas passarelas do Brasil e exterior.

produção audiovisual

Por exemplo, as redes de televisão, para realizar telejornais, programas em geral, incluindo a teledramaturgia. 34


teledramaturgia Arte de apresentar peças de teatro ou novelas pela televisão. A TV Globo, emissora criada no Rio em 1965, destaca-se nacional e internacionalmente por sua teledramaturgia. A telenovela Escrava Isaura, de 1976, por exemplo, já foi vendida em mais de 80 países e até hoje é comercializada pelo mundo afora.

tecnologia da informação

no Rio de Janeiro começou um forte movimento de inclusão social de populações de baixa renda, utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação como um instrumento para a construção e o exercício da cidadania, com o CDI - Comitê para Democratização de Informática. Um outro modo de reconhecer a cultura é o de ir descobrindo de que maneiras ela se exprime: identificar como se revela um estilo, um modo ou um jeito de ser e de fazer as coisas. Buscar dados qualitativos, tentar entender significados e sentidos. Isto não se mede somente por indicadores e dados estatísticos, nem pelo número de praças, prédios históricos ou monumentos que ostenta. Assim, o povo fluminense também constroi sua memória social com as coisas do dia a dia: os sons, os cheiros, as paisagens, os ritmos e os sabores. A diversidade e a mistura da cultura fluminense fazem com que ela seja uma das mais vivas do Brasil. Uma roda de samba do Cacique de Ramos ou um baile funk no Castelo das Pedras, a ficção de Machado de Assis, os murais de Di Cavalcanti, um show da banda Cidade Negra, um quadro de Heitor dos Prazeres, os filmes da Atlântida [ilustrar com cartaz do filme Alô, alô carnaval], uma peça do Asdrúbal trouxe o trombone, uma marchinha de Braguinha – tudo isso é cultura fluminense.

Asdrúbal trouxe o trombone Grupo teatral existente no Rio de Janeiro entre 1974 e 1984. Seu trabalho definia-se pela irreverência, influenciando o surgimento de outros grupos no estado. “Trate-me Leão” (1977), espetáculo de criação coletiva, foi um marco. 35


A textura e o movimento realçam as paisagens, a identidade marcada pela geografia da terra, o jeito de brincar as festas juninas de bairro e a tradição dos Clóvis na Baixada, a Feira de São Cristóvão, as tradicionais serenatas de Conservatória e o Sítio do Nego em Nova Friburgo, as noites cheias dos sons e do giro do choro e seus chorões, a procissão de Quintino, as bonecas de pano das mulheres do Abayomi, o fuxico, as redes de barbante de Trajano, os santos de madeira de Antonio Mariano, as novas expressões advindas do lixo reciclável de Getúlio Damado, como também o costume de palestrar nas calçadas em frente às casas ou nas praças em rodas de conhecidos e vizinhos, que se prolonga até hoje nos encontros dos botequins de cada lugar e se estende nos encontros de familiares e amigos para feijoada e samba, churrasco e os pagodes dos fins de semana, é tudo cultura do Rio de Janeiro.

choro e chorões choro, composto e executado pelos chorões, músicos que o ser reúnem regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o carnaval, exerce um atrativo especial sobre o, na época, ainda jovem compositor Villa-Lobos. Tal interesse leva-o a estudar violão.

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Villa-Lobos úsico carioca considerado o maior compositor erudito M não apenas do Brasil, mas das Américas, de todo o Novo Mundo, em todos os tempos. “E mais que isso, o fixador de uma música brasileira (...) o gênio brasileiro que deixou uma herança musical que vai muito além da clássica.” Fonte: Família Villa-Lobos há 50 anos Hugo Sukman. O Globo, segundo caderno, 17/11/2009.

“Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais.” Heitor Villa-Lobos

costume

feijoada

m comportamento usual prescrito de U acordo com as regras e normas de uma sociedade. Atitudes e valores sociais advindos da tradição, e transmitidos de geração em geração. Por exemplo, distribuir doces às crianças no dia de São Cosme e São Damião.

(Melhor do que nunca!) este poeta Segundo manda a boa ética Envia-lhe a receita (poética) De sua feijoada completa. Em atenção ao adiantado Da hora em que abrimos o olho O feijão deve, já catado Nos esperar, feliz, de molho (…) Feijoada à minha moda Vinícius de Moraes

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Experimente fazer uma lista do que faz a gente do lugar, de tudo que se gosta, de tudo que se considera importante e que dá prazer, como família, crenças, costumes, artes, comidas e festas. você vai descobrir como se revela a cultura desse lugar.

ritmistas de escola de samba

casa de flor

vendedor de milho

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cultura desse lugar Tem mais samba no encontro que na espera Tem mais samba a maldade que a ferida Tem mais samba no porto que na vela Tem mais samba o perdão que a despedida Tem mais samba nas mãos do que nos olhos Tem mais samba no chão do que na lua Tem mais samba no homem que trabalha Tem mais samba no som que vem da rua Tem mais samba no peito de quem chora Tem mais samba no pranto de quem vê Que o bom samba não tem lugar nem hora O coração de fora Samba sem querer Vem que passa Teu sofrer Se todo mundo sambasse Seria tão fácil viver Tem mais samba Chico Buarque

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Gentes Os povos nativos da nação Tupinambá habitavam quase todo litoral brasileiro. No Rio de Janeiro os Tupinambá da família Tupi-guarani e os povos da família Puri que ocuparam grande extensão do território do estado, foram os que contribuíram, decisivamente, para a formação étnica do povo fluminense. Eles habitavam o litoral e constituíam diversos povos como os Tupinambá ou Tamoio e os Tupiniquim. Já os Puri-coroado, Maxakali e Botocudo, habitavam o interior, sobretudo a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. Os Goitacás habitavam a foz do rio Paraíba do Sul. Enquanto os Guaianá viviam no litoral sul, entre Angra dos Reis e Paraty, e na Ilha Grande. Os Tupinambá eram povos alegres, apaixonados pela música e dança. Pintavam o corpo e se enfeitavam com colares de conchas marinhas, penas coloridas de aves e outros produtos. Tinham noções de astronomia e podiam prever as chuvas e as marés, observavam as estrelas, a lua e o sol. Os Tupi praticavam a agricultura, cultivando mandioca, abóbora, amendoim, feijão, pimenta, tabaco e árvores frutíferas. Fabricavam redes com o algodão que plantavam e teciam. Os Goitacás eram exímios nadadores, habilíssimos na corrida e na utilização do arco e flecha. Fonte: Bessa, 2009

Atualmente, no estado, existem cerca de 700 índios, em seis aldeias. Mas o legado deles ainda é forte. Além do DNA da alegria, os povos indígenas marcaram a toponímia do estado. No Rio de Janeiro é difícil dizer onde se mora sem recorrer ao Tupi: Niterói, Iguaçu, Ipanema, Carioca, Mangaratiba, Pavuna, Itaguaí.... 40


Entram também na composição social do estado, os africanos de diversas partes da África Ocidental. Povos que vieram deportados, como escravos. Etnias inteiras, provenientes de diversas nações, que muitas vezes sequer falavam a mesma língua entre si e, conseqüentemente, possuíam identidades culturais diferentes. roda de Capoeira

Espírito Santo

Minas Gerais

Rio de Janeiro

5

São Paulo

6 1

2

4 3

Oceano Atlântico N

Parati | 1 - T.I Rio Pequeno | 2 - T.I Guarani Araponga | 3 - T.I Parati-mirim | 4 - T.I Arandu-mirim | Angra dos Reis | 5 - T.I Guarani de Bracuí | Niterói | 6 - Aldeia Camboinhas

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etnias

o conceito etnia deriva do grego ethnos, cujo significado é povo. Em sentido geral é uma coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade sociocultural, refletida principalmente na língua, religião e maneiras de agir. Aleluia Batatal Cambuçá Conceição de Imbé

Caveiras/Botafogo

Espírito Santo

Comunidade de Santana

São José da Serra

Campos dos Goytacazes

Minas Gerais

Quissamã Valença

Rio de Janeiro

Quatis

Oceano Atlântico

Magé São Pedro da Aldeia

São Paulo

Armação dos Búzios

Araruama

Rio de Janeiro

Parati

N

Cabo Frio Magaratiba Fonte: Fundação Palmares. 2009.

Comunidade de Cabra

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Ilha de Marambaia

Maria Conga

Sobara

Rasa

Família Pinto

Botafogo

Pedra do sal

Preto forro

Machadinha


Esses povos deixaram profundas marcas nos nossos costumes, no modo de falar, na culinária, na dança, na música, no vestuário, nas crenças. Há quem afirme que o povo fluminense não teria a identidade que tem se não fosse a presença da matriz africana.

palácio quitandinha (petrópolis)

folia de reis

A alma fluminense também está marcada pela contribuição do povo português, que migra constantemente para o Rio. Ainda hoje é possível perceber elementos da cultura portuguesa na paisagem, a exemplo das edificações, como o Museu Imperial, o Mosteiro de São Bento, o Real Gabinete Português de Leitura, do uso do azulejo em igrejas, conventos, residências, banheiros, bicas e chafarizes, da telha chamada colonial. A presença portuguesa também está impressa nas manifestações culturais das Cavalhadas, do culto ao Divino Espírito Santo e das Folias de Reis, das danças, como a Caninha Verde, Pezinho, Ciranda e brincadeiras de roda, assim como nas tradições mantidas acesas até hoje nos inúmeros clubes portugueses, como A Casa dos Poveiros, Casa dos Açores, Casa do Porto, Casa das Beiras, Casa dos Lafões, a Casa Vila da Feira e Terras de Santa Maria, a Casa do Minho. A estes povos se somam os brasileiros de quase todos os outros estados do país. Do que cada um desses povos trouxe de suas culturas e juntou à cultura dos povos indígenas nativos, foi se fazendo e se tecendo a cultura deste pedaço do Brasil. O Rio de Janeiro é uma terra forjada na mistura de suas gentes. esquerda Acima: folia de reis (dona marta) esquerda abaixo: festa do divino (paraty)

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Crenças As sociedades estabelecem ritmos em suas vidas que vão variando entre trabalhos e festas, rotinas e ritos, ocasiões comuns e períodos extraordinários. Exprimem suas crenças e cultos variados na convivência com as pessoas, intercalando o trabalho com festas, rituais e comemorações. A propensão religiosa somada ao misticismo se revela numa tendência das pessoas para acreditar em coisas sobrenaturais: a crença é no prestigio dos orixás. Assim, é comum cultivar a um orixá ao mesmo tempo em que se venera um santo no altar. Elas acreditam na proteção fazendo promessas aos santos para conseguir possíveis milagres, assim como em receber passes que fecham o corpo contra o mau olhado e fazer oferendas para tentar realizar alguns desejos. No Rio, frequentase a igreja e o terreiro acendendo velas nos altares e nas encruzilhadas.

crenças A aceitação de alguma coisa ou convicção de uma verdade; alguma coisa em que se acredita como verdadeira, um corpo de opiniões, doutrinas ou princípios aceito e tido como verdadeiro por grupos pessoas ou instituições.

misticismo é uma inclinação para acreditar em forças e entes sobrenaturais, acreditando também que as pessoas podem comunicar-se com a divindade ou receber dela sinais ou mensagens.

culto da religião católica

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oferenda para yemanjá

A religiosidade do povo fluminense vem, portanto, com a marca da mistura, da circularidade proporcionada pelos diferentes caminhos que compõem sua cultura e sua história, juntando santo e orixá numa só devoção. O povo experimenta enorme atração pelas festividades religiosas e pelos cultos prestados a inúmeros santos de devoção, tais como o de São Pedro, São João, N.S. da Penha, São Sebastião, N.S. da Glória, São Jorge. Esses santos geralmente são associados a orixás de umbanda e do candomblé, o orixá Ogum na Umbanda é São Jorge e no Candomblé Santo Antônio, Iansã é Santa Bárbara, Oxum é Nossa Senhora da Conceição. São João, São Pedro e São Jerônimo são, por sua vez sincretizados em diversas espécies de Xangôs. Iemanjá a grande mãe dos orixás e da humanidade, é a Nossa Senhora, mãe de Deus e dos homens. “Aqui não existe preconceito. A gente sai do centro de umbanda e vai para missa na capela. Afinal de contas o nosso deus é um só.” Antonio do Nascimento In: Quilombo São José, Associação Brasil Mestiço.

santos

(…) Eu nasci sem sorte Moro num barraco Mas meu santo é forte E o samba é o meu fraco No meu samba eu digo O que é de coração Mas quem canta comigo Canta o meu refrão (…) Meu Refrão Chico Buarque

reveillon em copacabana

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Imagem de s達o jorge

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Ogum Vou acender velas para São Jorge A ele eu quero agradecer E vou plantar comigo-ninguém-pode Para que o mal não possa então vencer Olho grande em mim não pega Não pega não Não pega em quem tem fé No coração Ogum com sua espada Sua capa encarnada Me dá sempre proteção Quem vai pela boa estrada No fim dessa caminhada Encontra em Deus perdão

São Jorge Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem, nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se quebrem sem ao meu corpo, amarrar. São Jorge, cavaleiro corajoso, intrépido e vencedor; abre os meus caminhos. Ajudaime a conseguir um bom emprego; faze com que eu seja bem quisto por todos: superiores, colegas e subordinados. Que a paz, o amor e a harmonia estejam sempre presentes no meu coração, no meu lar e no meu serviço; vela por mim e pelos meus, protegendonos sempre, abrindo e iluminando os nossos caminhos, ajudando-nos também a transmitirmos paz, amor e harmonia a todos que nos cercam, amém.

Pra São Jorge Zeca Pagodinho

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Iemanjá divindade das religiões candomblé e umbanda. Considerada mãe de todos os orixás, Iemanjá simboliza a mãe e a mulher, representando a procriação, a gestação. Protege, castiga, defende, mata e às vezes se apaixona, levando os amantes para o fundo do mar, onde habita.

Na passagem do Ano Novo, o culto à Rainha das Águas, espalhados por toda a orla marítima fluminense. Na praia, cumprem seus rituais com os orixás, babalorixás, mães-de-santo, filhos-de-santo e outros, se agrupam por terreiros, dispostos em círculo, onde grupos entoam pontos diversos acompanhados de palmas e danças, de maneira própria a invocar seus orixás e entidades, ao som dos atabaques e agogôs. Os pais-de-santo atendem aos devotos em consultas individuais realizadas diante da assistência ou apenas abençoam e dão passes aos que se aproximam. Milhares de velas ardem sobre a areia, são espalhados ramalhetes de flores que depois serão lançados às águas do mar como oferta a Iemanjá. Barquinhos ricamente ornamentados com flores e cheios de presentes – espelhos, frascos de perfume, fitas, rendas, caixinhas de pó-de-arroz e até jóias – são lançados ao mar como ato votivo e propiciatório a Iemanjá, a Sereia-Rainha dos mares e das águas. 48


pontos De Umbanda

De Candomblé (em Iorubá)

Retira a jangada do mar, Mãe D’água mandou avisar, Que hoje não pode pescar, Pois hoje tem festa no mar. E, e, e, e, Iemanjá, Ela é, ela é, a Rainha do Mar. Traz pente, traz espelho, o, o, o, o Para ela se enfeitar, o, o, o, o Traz flores traz perfumes, Enfeita como o Mar. A onda do mar rolou, A onda do mar rolou, A onda do mar rolou..., A onda do mar rolou..., Saravá a Rainha do Mar, Saravá nossa Mãe Iemanjá, (bis)

Fa re re Yemanja Ori Odo Odo orewa oh Fa re re Yemanja Ê nijé nilé lodô Yemanjá ô Acota pê lê dê Iyá orô miô Yemonja àwa

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Artes

A arte fluminense se espalha por todas as regiões do Estado. Das olarias, onde peças utilitárias de barro são produzidas – as birras, moringas e talhas para água – transcendem as cozinhas e viram peças ornamentais. Mas a evolução desta produção utilitária não pára por aí: as rendas, entalhadores e produtores de instrumentos musicais em madeira, cestaria, as redes e colchas constituem um patrimônio expressivo da tecnologia e do imaginário do povo do Rio.

arte

capacidade que as pessoas têm de criar, de por em prática uma idéia. É a capacidade criadora de expressar sensações e sentimentos e é também atividade, ofício, profissão, engenho, habilidade. Dentre as artes fluminenses, destacamos o processo coletivo de criação das alegorias das Escolas de Samba: a arte das esculturas em isopor, que são uma das marcas registradas da nossa gente, que ganham cor e brilho, vida e alegria no sambódromo.

alegorias O processo de produção das alegorias de uma escola de samba pode ser resumido em fases: montagem das estruturas de ferro que sustentam as alegorias; preparação da cobertura de madeira que se sobrepõe à ferragem; criação das esculturas que se apóiam nestas estruturas; acabamento e pintura sobre as esculturas; modelagem, costura e montagem das fantasias e decoração final e colocação de adereços das alegorias. 50


esculturas em isopor criações esculturais em grandes volumes, de isopor, desbastados pelas mãos de artistas-escultores. O escultor traduz em figuras e alegorias o projeto do carnavalesco. Os escultores de isopor mais conhecidos costumam prestar serviço a várias escolas ao mesmo tempo.

carnavalesco artista responsável pela criação visual do espetáculo, que define e supervisiona os trabalhos. Os escultores, para realizarem suas obras, usam instrumentos de trabalho que quase não produzem ruídos – escovas, latinhas, facas, lixas. O principal deles – o fio de níquel – é totalmente silencioso. São também os escultores que realizam a empastelação, que torna a peça esculpida mais resistente, quando as esculturas ficam prontas para receber a pintura e adereços: um cavalo esculpido é pintado em suas cores naturais e, em seguida, recebe os adereços, como crinas, cauda, sela, rédeas, por exemplo. (Ferreira, 2008) 51


Outra expressão da arte fluminense é representada pelo Jongo e Caxambu, tradições trazidas pelos povos africanos bantu, que se infiltraram profundamente nos hábitos das comunidades, adaptando-se ao novo contexto. Proclamado Patrimônio Cultural Brasileiro, o Jongo é afirmação de identidade cultural. A tradição do Jongo se mantém viva ainda hoje, preservando as raízes e a memória de remanescentes de quilombos, presente na vida do povo em muitas comunidades do Rio de Janeiro.

Jongo

é dança de terreiro, da qual participam homens e mulheres de todas as idades. É uma das formas atuais do batuque e muito se assemelha ao caxambu no ritmo e na coreografia: os participantes se colocam em círculo, batem palmas e improvisam evoluções, requebros e umbigadas. No interior da roda fica o solista ou jongueiro, que puxa a cantoria, feita por meio de pontos.

Caxambu é dança de terreiro que integra o conjunto das formas de samba estado do Rio de Janeiro que se confunde com o Jongo, havendo mesmo alguns dançadores que não fazem distinção entre eles. 52


pontos

Jongueiro bom é de Lorena,

Nas letras dos pontos reside grande criatividade do jongo: espécie de enigma versificado, que emprega figuras de metáfora a serem decifradas e que o adversário precisa adivinhar para “desatar” ou “desamarrar” o ponto. Os tempos da escravidão, a poesia do jongo permitiu que os praticantes da dança se comunicassem por meio de pontos que os capatazes e senhores não conseguiam compreender. Dossiê IPHAN

Matou galinha temperô na querozena. Oce diz que sabe, sabe Você diz que sabe lê Então pega na cartilha e me ensina o ABC. Jongueiro bom é de Lorena, Matou galinha temperô na querozena. Trechos de Músicas do Jongueiro Bom Jongo da Serrinha Darcy Monteiro e Lazir Sinval

Se eu soubesse que cê vinha (Mãe Zefinha) Se eu soubesse que cê vinha eu mandava te espear Mandava amarrar canoa no laço verde do mar. Pinto Piou (Jorge Maria) Pinto piou Cantou fora de hora. Pra quem mora perto é cedo Pra quem mora longe é hora. Trechos de músicas do Jongo do Quilombo São José Valença (RJ) 53


Os instrumentos usados para acompanhar o Jongo são dois tambores de tamanhos diferentes: tambu, o maior, e candongueiro, o menor. Os ritmos das batidas dadas são rápidos, fortes e vigorosos. À medida que a dança evolui, outros participantes passam a ocupar o centro da roda. Basta, para isso, que chegue à frente dos instrumentos e coloque a mão ou o cotovelo sobre o couro do tambor maior e inicie um novo ponto. Com isso, há troca dos solistas e a dança continua, como no início. O Jongo é dançado sempre no dia 13 de maio, festejando a Abolição e São Benedito, durante o mês de junho, nos dias dos santos padroeiros locais e no dia da Consciência Negra, 20 de Novembro. 54


Bantu ou Banto é um grande conjunto de línguas do grupo nígero-congolês faladas na África, e muitos dos africanos trazidos como escravos para trabalharem nas lavouras de café e cana-de-açúcar no vale do Paraíba do Sul pertenciam a esse grupo lingüístico.

Quilombos

eram comunidades onde os escravos que fugiam passavam a viver num movimento de resistência à escravidão. Os quilombolas dedicavam-se à agricultura, à pesca, à coleta de frutos e ao artesanato, num regime que a terra pertencia a todos. 55


Comidas

As diferentes maneiras de preparar e consumir alimentos são hábitos transmitidos de geração a geração e fazem parte da cultura de um povo, que cria e recria pratos peculiares, a partir do que a natureza do lugar oferece. A arte da culinária fluminense tem grandes variações do saber culinário. À presença relevante dos frutos do mar, vêm juntarse condimentos naturais específicos, carnes de caça, de vaca, de porco, legumes, frutas, dentre outros produtos. Mas é em relação aos peixes e frutos do mar que culinária fluminense oferece uma cozinha bem típica. No mar, nos rios e nos lagos há peixes em abundância. Encontram-se também moluscos, como lula, polvo, mexilhão, sururu, ostras; crustáceos, como camarão, lagosta, pitu, siri, caranguejo, guaiamum, além da tartaruga. Dessa variedade, saem muitos pratos, destacando-se as moquecas, a caldeirada, a sirizada, o camarão no espeto, a tainha assada, o camarão seco ao sol, o carapicu feito na brasa, o camarão com mamão, são alguns dos pratos típicos, consumidos o ano todo. O prato mais popular e original é o peixe azul-marinho – assim denominado porque a banana verde, um de seus ingredientes, adquire coloração azulada durante o cozimento.

peixe azul-marinho

Ingredientes

PREPARO

2 kg de tainha ou bagre.

Fazer um refogado com todos os temperos, exceto a pimenta-de-cheiro.

1 dúzia de banana verde (de preferência nanica). Temperos:

Colocar a banana cortada ao meio para cozinhar no refogado, acrescentando duas garrafas de água.

cheiro-verde, coentro de folha Após cozinhar, adicionar a pimenta-degrande, alfavaca, salsinha, cheiro e o peixe, deixando ferver por uns cebolinha, tomate, pimentão, dez minutos. pimenta-de-cheiro, cebola. Retirar o peixe com cuidado, arrumando-o sal a gosto. numa travessa e enfeitando-o com quatro ou cinco bananas. Amassar as restantes com o caldo e juntar farinha de mandioca até formar um pirão ao ponto. Serve-se com arroz. 56


São os doces, no entanto, que mais caracterizam a culinária fluminense. Cada dona de casa é um verdadeiro artista no preparo de doces e bolos, seguindo tradições que já se perdem no tempo, mas que são ainda passadas às novas gerações através dos cadernos de receitas das avós. Encontramse, em todo o Estado, os doces de panela, feitos em calda ou em pasta, de abóbora e mamão, de banana, de abacaxi, de jenipapo, de laranja-daterra e tantas outras frutas, que também podem ser transformados em doce cristalizados, como os vidrados de Saquarema ou como o de mamão verde que cortado em lâminas é chamado espelho, na região de Campos. São comuns também os chuviscos, papos de anjo e a ameixa campista – carambola com recheio de coco. Vem se desenvolvendo também a industrialização de doces, por meio de pequenas unidades de produção caseira, sendo o chuvisco o doce mais fabricado, em calda ou cristalizado e também, a goiabada refinada, em calda e a goiabada em palha – a goiabada cascão – dividida em pedaços, embalados em caixas protegidos por palha de milho.

Goiabada CascÃo Goiabada-cascão em caixa é coisa fina sinhá Que ninguém mais acha Rango de fogão de lenha Na festa da Penha comido com a mão Já não tem na praça mas como era bom (…) Samba de partido alto Com faca no prato e batido na mão Já não tem na praça, mas como era bom Hojé só tem discoteque, só tem som de clack Só imitação, já não tem mais caixa De goiabada-cascão Vida na casa de vila correndo tranquila Sem perturbação já não tem na praça Mas como era bom, Hoje só tem conjugado Que é mais apertado do que barracão Já nao tem mais caixa de goiabada-cascão Um dia, o Sérgio Cabral falou que o Dino do 7 cordas era goiabada-cascão em caixa, coisa assim muito rara. Então, pra nós agora, tudo que ficou difícil de achar e bom, virou goiabada-cascão (…) Goiabada Cascão Wilson Moreira e Nei Lopes

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Festas No Rio de Janeiro, o sagrado e o profano se misturam também nas festas. O calendário religioso sinaliza as da-

tas e manifestações coletivas, que se estendem por todo o ano. Assim, as Festas e suas tradições manifestamse, sobretudo, nos folguedos e festejos de Ano-Novo e de Reis, dos Santos de junho e do Carnaval.

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Carnaval

Sua preparação vai desde novembro, quando as escolas de samba começam seus ensaios técnicos no Sambódromo. Durante os cinco dias de carnaval, que é aberto oficialmente quando o prefeito entrega as chaves da cidade ao Rei Momo, na sextafeira gorda e termina na quarta-feira de cinzas, diversos bailes são realizados na cidade, centenas de blocos de foliões lotam as ruas com suas marchinhas, sambas, frevos, danças, batucadas, fantasias, irreverência e muita alegria. O carnaval oficial é representado pelo desfile das escolas do grupo especial, que disputam o título de campeã do carnaval.

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No ciclo natalino, temos as Folias de Reis, a manifestação mais conhecida presente na maioria dos municípios fluminenses. Por influência da devoção a São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, o ciclo do Natal é prorrogado em todo o Estado até 20 de janeiro, dia a ele dedicado. Motivados por essa devoção, os numerosos grupos de Folias de Reis passam a sair, a partir do dia 7 de janeiro, com estampas e outros elementos ligados a São Sebastião, incorporados à sua bandeira.

Folias de reis As Folias de Reis representam a viagem do Reis Magos em busca do Menino Jesus nascido em Belém. A cantoria obedece a uma ordem fixa respeitada por todos: chegando a casa, cantam pedindo para entrar; dentro de casa cantam, rezam e recitam em versos tradicionais toda vida de Cristo ou a primeira profecia (Anunciação). Depois de servidos a comer e beber, cantam o agradecimento e a despedida. Os grupos compõem-se de “companhias” de doze ou mais foliões, em geral músicos e cantores, aos quais se juntam os palhaços, que representam os soldados de Herodes, ou outras figuras como Barrabás e Judas. Cada grupo adota uma espécie de uniforme militar e seu instrumental é composto de violão, cavaquinho, sanfona, pandeiro, bumbo e caixa, fazendo a música, que se chama toada. Os palhaços, que têm obrigações e proibições específicas, recitam versos tradicionais ou improvisados, as chulas, que divertem o público. Ao encerrar seu ciclo de apresentação, as Folias costumam dar uma festa para agradecer as contribuições recebidas. É a Festa de Remate, para a qual convidam parentes, amigos e outras folias, que comparecem uniformizadas. Normalmente, acontecem na casa do mestre e é ponto de honra que haja comida e bebida para todos, até raiar o outro dia.

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Bandeira

é um dos elementos centrais da Folia de Reis, tem um papel importante no ritual porque ao mesmo tempo, torna presente e representa as entidades reverenciadas por cada folia. A bandeira segue à frente da folia protegendo seus membros.

toada Reunimos foliões/Pra jornada da folia

O momento é chegado, ai meu Deus/De vir ao mundo o menino Meia noite o galo canta, ai meu Deus/Anuncia o rei divino Em Belém, todos acordados/Vendo um clarão de luz Os profetas anunciavam/Que era nascido Jesus Então os pastores reuniram/ Para ver o que aconteceu Partiram para Belém/ Que o filho de Deus nasceu Assim foram procurar/ Por uma estrela guiados Até chegar no lugar/ Que José foi encontrado Peço a proteção de Deus/ Porque ele é o nosso pai Os três Reis do Oriente/ É quem leva é quem traz O ramo está terminado/ Ta cumprida a obrigação Cada um por sua vez/ Arrecua folião A bandeira sai na frente/ Pra cumprir sua missão.

Encontrei a porta aberta/É sinal de alegria Já pegou nossa bandeira/Recebeu nossa folia Bendito louvado seja/Nesta hora de alegria Eu peço licença a Deus/Prá rezar a profecia Um raio brilhou no Oriente/Surgiu a estrela guia Anunciando à humanidade/Que o menino Deus nascia Nasceu num berço de pobre/Numa grande estrebaria Numa pobre manjedoura/Aonde o gado dormia Os pastores quando souberam/Partiram para Belém A procura de um menino/Que nasceu pro nosso bem Os três Reis do Oriente/Hoje vêm lhe visitar Vêm buscar suas ofertas/Pro seu dia festejar. Folia de Reis Sagrada Família Morro de Mangueira

Folia de Reis Sagrada Família Morro de Mangueira

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chulas Vai chegando, vai chegando Quem disse que nunca chegou Palhaço de folia Poeta improvisador Mensageiro que leva Notícias pro interior E de fatos passados Sou pequeno historiador Por isso e muito mais Que nesse recinto eu estou Pra agradar esta platéia A senhora e o senhor Hoje eu persigo a guerra Com ódio e todo rancor Como o diabo que persegue Quem segue a lei do senhor Desculpe meu amigo Esse humilde trovador Quem não gostar do calango Tenho certeza me perdoou Sou mais erro do que palavra Mas é feita com amor 62

Receba esta mensagem Deste humilde trovador Pra esta platéia querida Um calango eu proponho Embora eu sendo feio Com aspecto bem medonho Eu sei animar o povo Deixar o povo risonho Eu animo as criancinhas Proporciono um grande sonho Portanto uma boa apresentação É isso que eu proponho. Chiquinho Feijó Cordeiro-RJ


Repica caixa de guerra Bandeira vai adiante Gosto de contemplar Com liberdade constante A serra sempre azulada Onde pasta o ruminante Não sou lapidário Mas conheço diamante Sou campeiro de fora Sou campeiro distante Participei da companhia Das cenas delirantes Chego na maré cheia Saio na maré vazante Meu povo da licença Pra chegada do Gigante Quem planta vento Vai colher tempestade Dando início a empreitada

Deixo pela metade Sempre me queiras bem Pois nunca te quero mal Quando chego numa comarca Olho na horizontal Não tem maior nem menor Não tem pior nem melhor Para mim tudo é igual. Cada uma faz o que sabe E pode tirar cola Dizia meu velho pai Vai nego, o mundo é tua escola. Papagaio come milho Periquito leva fama Peixe vive no mar Guaiamu vive na lama. O lírio é uma flor Que nasceu na beira d´água E na água se criou

A ostra nasce da lama Gerando pérola fina O ouro no mar afunda Madeira fica por cima. Jangada é pau que bóia As flores têm seus perfumes O olhar do falso é sinistro É uma faca de dois gumes. Estou de bem com a vida Junto da bandeira dos 3 Reis Agradeço ao criador As benesses que fez Deu tudo certinho Gravem outra vez. Palhaço Gigante (José Fernandes dos Santos) 29/10/2004 Candelária (Mangueira)

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A ciranda, o caxambu, o jongo, o calango e o mineiro-pau estão presentes nas festas locais de padroeiro e nas comemorações familiares como casamentos, aniversários e batizados. O ciclo junino é alegrado pelas quadrilhas, presentes em todas as regiões fluminenses. No Carnaval, onde reinam a caricatura, a inversão, o deboche e o bom humor temos os Blocos ou Bandas, Escolas de Samba e Boi Pintadinho. Nos subúrbios e na zona rural, o Carnaval revela inúmeros aspectos da criatividade do povo, percebida no Clóvis, dos blocos de sujos, de mascarados, de travestidos, os bailes de rua, os foliões solitários que desfilam nas ruas.

Os Clóvis são mascarados que andam solitários ou em bandos, usando amplos macacões de cetim multicor e capa bordada com motivos diversos. São conhecidos também com o nome de bate-bola, bolas de plástico coloridas que batem no chão com força fazendo barulho característico.

Clóvis Sua origem remonta à construção do hangar do Zepelim, na década de trinta do século passado, quando alguns alemães estiveram no local. Contam que, durante o carnaval, esses alemães fantasiavam-se de palhaços, a que chamavam, em inglês, “clowns”, termo que teria gerado, por corruptela - Clóvis. 64


bate-bola

eram assim chamados pois antigamente traziam nas mãos bexigas de boi que eram recolhidas em matadouros e depois de limpas e secas eram infladas para serem batidas no chão com muita força, produzindo um barulho característico.

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Qual é o jeito de ser e de fazer fluminense? Como estamos vendo ao longo deste Caderno, são muitos e ricos os registros do jeito de ser e fazer fluminense. Todas as gentes do estado, dos mais anônimos aos mais conhecidos, vêm tecendo, nas mais variadas formas de expressão a cultura do Rio de Janeiro, como está estampado em tudo que mostramos até aqui e ainda mais outros que se destacaram ao exprimir o jeito de ser e de fazer fluminense na música, na poesia, no teatro, na ficção.

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Música Meu coração Não sei porque Bate feliz, quando te vê E os meus olhos ficam sorrindo E pelas ruas vão te seguindo Mas mesmo assim, foges de mim Ah! Se tu soubesses Como sou tão carinhoso E muito e muito que te quero E como é sincero o meu amor Eu sei que tu não fugirias mais de mim Vem, vem, vem, vem Vem sentir o calor Dos lábios meus À procura dos teus Vem matar esta paixão Que me devora o coração E só assim então Serei feliz, bem feliz Carinhoso Pixinguinha e João de Barro

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Poesia Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto Que, para ouví-las, muitas vezes desperto E abro as janelas, pálido de espanto E conversamos toda a noite, enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo? “ E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas Ouvir Estrelas Olavo Bilac 68


Teatro Outro – A historia da sua vida é muito mais complicada do que a historia da própria vida… Mendigo – O senhor diz isso porque não conhece a historia da vida… É muito mais simples do que a vida de qualquer um de nós… Outro – Desconheço-a. Li muitos livros de historia, mas em nenhum encontrei a história da vida… Mendigo – Não é nos livros que se lê essa historia. Há muita gente interessada em ocultá-la, para que os homens como o senhor suponham que a vida sempre foi como é e que há de ser eternamente assim… Trecho de Deus lhe pague… Joracy Camargo

procópio ferreira

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Ficção “D. Evarista era a esperança de Itaguaí contava-se com ela para minorar o flagelo da Casa Verde. Daí as aclamações públicas, a imensa gente que atulhava as ruas, as flâmulas, as flores e damascos às janelas. Com o braço apoiado no do Padre Lopes –porque o eminente confiara a mulher ao vigário e acompanhava-os a passo meditativo –D. Evarista voltava a cabeça a um lado e outro, curiosa, inquieta, petulante. O vigário indagava do Rio de Janeiro, que ele não vira desde o vicereinado anterior; e D. Evarista respondia entusiasmada que era a coisa mais bela que podia haver no mundo. O Passeio Público estava acabado, um paraíso onde ela fora muitas vezes, e a Rua das Belas Noites, o chafariz das Marrecas... Ah! o chafariz das Marrecas! Eram mesmo marrecas–feitas de metal e despejando água pela boca fora. Uma coisa galantíssima. O vigário dizia que sim, que o Rio de Janeiro devia estar agora muito mais bonito. Se já o era noutro tempo! Não admira, maior do que Itaguaí, e, demais, sede do governo… Mas não se pode dizer que Itaguaí fosse feio; tinha belas casas, a casa do Mateus, a Casa Verde… – A propósito de Casa Verde, disse o Padre Lopes escorregando habilmente para o assunto da ocasião, a senhora vem achá-la muito cheia de gente. – Sim? – É verdade. Lá está o Mateus… – O albardeiro? – O albardeiro; está o Costa, a prima do Costa, e Fulano, e Sicrano, e… – Tudo isso doido? – Ou quase doido, obtemperou o padre. – Mas então? O vigário derreou os cantos da boca, à maneira de quem não sabe nada ou não quer dizer tudo; resposta vaga, que se não pode repetir a outra pessoa por falta de texto. D. Evarista achou realmente extraordinário que toda aquela gente ensandecesse; um ou outro, vá; mas todos? Entretanto custava-lhe duvidar; o marido era um sábio, não recolheria ninguém à Casa Verde sem prova evidente de loucura.” (…) Trecho de O alienista Machado de Assis machado de assis

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E ĂŠ ainda o caso de tantos outros exemplos que cabe a vocĂŞs, agora, mostrar: como a cultura do povo do Rio de Janeiro, com seu jeito de ser e de fazer, vai alimentando e enriquecendo a cultura brasileira.

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Cidade de amor e aventura Que tem mais doçura Que uma ilusão Cidade mais bela que o sorriso, Maior que o paraíso Melhor que a tentação Cidade que ninguém resiste Na beleza triste De um samba-canção Cidade de flores sem abrolhos Que encantando nossos olhos Prende o nosso coração Cidade notável, Inimitável, Maior e mais bela que outra qualquer. Cidade sensível, Irresistível, Cidade do amor, cidade mulher. Cidade de sonho e grandeza Que guarda riqueza Na terra e no mar Cidade do céu sempre azulado, Teu Sol é namorado Da noite de luar Cidade padrão de beleza, Foi a natureza Quem te protegeu Cidade de amores sem pecado, Foi juntinho ao Corcovado Que Jesus Cristo nasceu Cidade Mulher Noel Rosa

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Hino do Rio de Janeiro O Hino do Estado do Rio de Janeiro, intitulado Hino 15 de Novembro, foi composto em 1889 pelo maestro João Elias da Cunha A letra do Hino é de autoria do poeta fluminense Antônio José Soares de Souza Júnior. Foi oficializado em 29 de dezembro de 1889.

Fluminenses, avante! Marchemos! Às conquistas da paz, povo nobre! Somos livres, alegres brademos, Que uma livre bandeira nos cobre. Fluminenses, eia! Alerta! Ódio eterno à escravidão! Que na Pátria enfim liberta Brilha à luz da redenção! Nesta Pátria, do amor áureo templo, Cantam hinos a Deus nossas almas; Veja o mundo surpreso este exemplo, De vitória, entre flores e palmas. Fluminenses, eia! Alerta!...

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Nunca mais, nunca mais nesta terra Virão cetros mostrar falsos brilhos; Neste solo que encantos encerra, Livre Pátria terão nossos filhos. Fluminenses, eia! Alerta!... Ao cantar delirante dos hinos Essa noite, dos tronos nascida, Deste sol, aos clarões diamantinos, Fugirá, sempre, sempre vencida. Fluminenses, eia! Alerta!... Nossos peitos serão baluartes Em defesa da Pátria gigante; Seja o lema do nosso estandarte: Paz e amor! Fluminenses, avante!


Bandeira O Brasão de Armas tem a forma tradicional dos escudos adotados pelo clero, oval cortado, simboliza os anseios cristãos do povo fluminense. O primeiro de azul representa o céu e simboliza a justiça, a verdade e a lealdade, com a silhueta da Serra dos Órgãos, destacando-se o pico Dedo de Deus, na cor; o segundo de verde, representa a baixada fluminense, cortado de azul, lembrando o mar de suas praias. O escudo é circundado por uma corda de ouro, que simboliza a união dos fluminenses. Uma águia de cor natural, com asas abertas, na atitude de alçar vôo, representa o Governo forte, honesto e justo, portador de mensagem de confiança e de esperança aos mais longínquos rincões de nosso Estado; assente em um escudo redondo de azul orlado de prata, respectivamente com as inscrições: “9 de abril de 1892” lembrando a promulgação da primeira Constituição promulgada no Estado do Rio de Janeiro, e “Recte Republicam Gerere” (gerir a coisa pública com retidão) A estrela de prata com 5 pontas representa a capital. Como apoios, uma haste de cana e um ramo cafeeiro frutado, de cor natural, colocados, respectivamente, à direita e à esquerda do escudo, representando os principais produtos da terra. Listel de prata com a inscrição “ Estado do Rio de Janeiro”.

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Referências bibliográficas IBGE, 2009 Dicionário Eletrônico Houaiss, 2009 Nei Lopes- Novo dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro, Pallas, 2003. Nei Lopes - Sambeabá, o samba que não se aprende na escola (Casa da Palavra, Folha Seca, 2003 Ribeiro e Moreira Neto, 1992. Da Matta, 1984. Joaquim de Souza Leão Filho, Revista do IHGB, vol.276 Jul-Set 1967, p.74 A CULINÁRIA NO LITORAL FLUMINENSE. Pesquisa realizada pela Divisão de Folclore em 1978. Pesquisa e redação João de Lima Ruas, Paulo Rodrigues dos Santos, Vera Ramos S.Lima. Coordenação GeralCáscia Frade Canto do Grupo de Folia de Reis Bandeira Resplendor do Oriente do Município de Duas Barras, do Mestre Jaime Gomes (p.88 O homem fluminense) Felipe Ferreira, Brancos Volumes: esculturas em isopor para escolas de samba. Catálogo da Exposição. Rio de Janeiro: UERG, Decult. 2008. (DOSSIÊ / IPHAN) Quilombo São José, Associação Brasil Mestiço.

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Agradecimentos Anne Rocha, Cáscia Frade, Cleise Campos, Cristina Botelho, Daniel Bitter, José Carlos Levinho - Museu do Índio, José Ribamar Bessa, Lucio Sanfilippo, Nei Lopes, Noé Sérgio do Rego Barros, Paulo Knauss, Ricardo Gomes Lima, Sandra Portugal.

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