Vigilante - Jessica Godziala

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Jessica Gadziala # Vigilante Livro Único

Tradução Mecânica: Criz Revisão Inicial: Criz Revisão Final: Malu Leitura: Aurora Wings

Data: 08/2018

Vigilante Copyright © 2017 Jessica Gadziala

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SINOPSE Eu sou um cara mau. Eu faço coisas ruins. Mas as faço pelas razões certas. É por isso que consigo dormir bem à noite, mesmo com o cheiro de sangue fresco ainda nas minhas narinas. Mais um canalha fora das ruas. Mais uma correção de um erro. Toda a minha vida era sobre isso. Até eu me deparar com ela...

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Luce

O corpo estava meio derretido na banheira. A soda cáustica estava fazendo seu trabalho lindamente. Ela foi aquecida a mais de trezentos graus. Caso você esteja se perguntando, caso você tenha um idiota que bate em você ou conhece um pedófilo que não é 'reformado', você tem que aquecer a soda cáustica para dissolver um corpo humano. Trezentos graus e duas ou três horas depois, você terá uma banheira cheia de fluido pós-humano com a consistência de óleo mineral. Então você pode simplesmente derramá-lo no ralo como se nada tivesse acontecido, usando uma peneira para obter possíveis restos ósseos, esmagá-los, dissolvê-los novamente e depois drená-los também. Se você tiver tempo e quiser ter certeza que não há chance de sobrar nada, o ácido sulfúrico faz o trabalho em cerca de dois dias, mas pode causar queimaduras de terceiro grau, e os gases são suficientes para fazer você sair correndo do lugar. Depois disso, você só precisa de um pouco de água corrente e algumas garrafas de alvejante. Então, era como se aquela pessoa nunca tivesse existido. Eu, obviamente, tenho muita experiência com a remoção de corpos. Isso se deve principalmente ao fato que eu tiro muitas vidas. Eu faço esta matança sem pena, sem arrependimento, e com uma filha da puta de consciência tranquila. Alguns desgraçados não merecem andar na terra, e eu me asseguro de que suas pegadas não sejam duradouras. — O que posso dizer, Harold, — eu comecei, virando a carteira dele enquanto me inclinava contra a pia do banheiro. — Por acaso, posso te chamar de Harry? Acho que estamos intimamente ~4~


familiarizados o suficiente para usar apelidos, você não concorda? — Nós passamos algum tempo juntos antes que a parte complicada de morrer e derreter acontecesse. Eu sempre dava a eles uma chance de confessar, pegar a rota mais fácil e ir para a cadeia. Mas quando tirei as fotos da carteira, imagens sexuais explícitas de meninos pequenos, e as joguei na banheira com ele, eu soube a razão pela qual ele não queria seguir aquela rota. Os vinte e poucos anos que ele pegaria se os federais começassem a cavar como eu estive cavando, não seria uma vida fácil. Ele passaria muito desse tempo com um pau no rabo por estuprar meninos. Um final adequado, eu acredito. Olho por olho e tudo isso. Então, foi por isso que ele teve a chance de escolher aquela opção. Ele não escolheu. Então, foi quando a matança começou. A matança era rápida. Era a limpeza que levava mais tempo. Eu não precisava apenas me livrar do corpo dele. Eu tive que ir e limpar toda aquela merda nojenta que ele espalhou por toda a dark web1. Isso também não era uma tarefa fácil. Mas era apenas parte do trabalho. Pelos meus problemas, os cinco mil que ele tinha em sua conta Bitcoin seriam transferidos, lavados e colocados na minha conta. A maioria dos trabalhos me deixou sem dinheiro, sem ganhar nada. E enquanto eu fazia merda porque era o certo, porque o sistema falhava com a população, porque doentes como Harold podiam andar livres, eu ainda era humano. Eu tinha que comer. Eu tinha moletons pretos com capuz para comprar. Eu tinha soda cáustica e alvejante para estocar. Merda normal. Assim, a contribuição de Harold para a causa, embora sem vontade e inconsciente, ia fazer algo de bom. — Pelo menos alguma coisa saiu da sua deplorável existência.

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É a parte da internet que não pode ser acessada por meios convencionais, permitindo aos usuários trocar qualquer tipo de informação de maneira confidencial. Altamente utilizada por vários tipos de criminosos, para comércio ilegal, conteúdo de pedofilia, contato entre terroristas e muitos outros.

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Houve uma vibração de mensagem muito familiar no meu quadril. Não um celular, claro. Era uma tecnologia antiga, quase coisa de museus, mas no caso de você ter ficado curioso, sim, eles ainda fabricam pagers. E eu tinha um. Eles eram confiáveis devido a pouca circulação e anônimos graças ao código que você precisava para me encontrar, e fáceis de esmagar se você precisasse fazer uma limpeza e excluir vestígios deles. O 8.0 era o código para quem estava ligando. O 422 era a razão do porquê. Sim, se você estivesse interessado, havia possivelmente 500 códigos com os quais você podia me ligar. E eu me lembrava de todos eles imediatamente. Vamos apenas dizer que eu recebia muitas mensagens por dia, de um dos mais de duzentos contatos em todo o país. Depois de um tempo, essa merda se torna tão arraigada quanto o maldito alfabeto filho da mãe. Não havia como esquecer. Um 442 estava bastante persistente, mas levando-se em conta, eu era um filho da puta cuidadoso, e nunca fazia ligações do meu bunker. Simplesmente não valia a pena o risco. Eu só tinha mais uns vinte minutos ou menos, antes que eu pudesse puxar o dreno e começar a trabalhar com o alvejante. Eu podia ir à cidade num instante para ligar de volta e, provavelmente, ter a pista sobre o que seria meu próximo caso. Uma hora e meia depois, Harold Grains já não era oficialmente sequer uma partícula humana, sua presença na dark web tinha desaparecido, substituída por uma mensagem de advertência vinda de mim, como eu sempre fazia; e minhas roupas estavam em brasas em uma fogueira, e eu estava cinco mil (bitcoins) mais rico quando parei no She's Bean Around, para a minha dose habitual. — Capuz fora. Nós queremos checar essa sua linda cara, — Jazzy, uma das proprietárias espertinha e quente como o inferno, falou quando eu entrei. Jazzy era toda insolente, inquietantes olhos castanhos cor de mel, e sua pele meio morena, que ainda não podia dizer se era porque ela era metade negra ou metade latina. O que quer

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que fosse, estava funcionando para ela, com seu curvilíneo corpo quase rechonchudo, com grandes quadris, bunda, peitos e coxas. — Você pode me foder com os olhos depois que eu tiver terminado meu café, Jazz, — eu exigi, largando o dinheiro no balcão. — Um para Barrett também, — acrescentei. Ao olhar vazio dela, eu balancei a cabeça, lembrando que embora Barrett fosse um grande viciado em cafeína, geralmente ele fazia o café em casa. — Grande e preto, boneca, — eu disse, jogando uma nota de dez dentro de um dos potes de gorjeta. Elas mudavam diariamente, pedindo que você colocasse seu dinheiro dentro do qual você mais gostasse. Nesse dia, era Dexter e Hannibal2. — Isso não é nem mesmo a porra de um concurso, — eu zombei, quase aborrecido por alguém ter investido dinheiro em qualquer outro assassino em série falso além de Hannibal Lecter. Isto é, com a história original dele? Qual é, porra. O que eu podia dizer, eu era apaixonado pelos meus filmes. — Na semana passada nós tivemos Hunnam e Momoa3, — disse Jazzy enquanto pegava o pote de café com um sorriso. — Isso praticamente causou uma briga de gangues. Aquelas minas do Hunnam são, ah, apaixonadas. — Ele venceu? — eu perguntei enquanto pegava o café. — Muitas mulheres não gostam de loiros, — ela disse com um encolher de ombros. — Tudo o que sei é que, eu levei para casa quase uma centena em gorjetas graças a elas. Nós estamos pensando em fazer um Harry Potter contra 50 Tons. Estamos um pouco preocupadas de que possa haver sangue derramado. — E adulterando os votos, — eu concordei com um sorriso. — Continue sexy, Jazz, — eu gritei quando me virei para sair. — Como se fosse possível para eu não ser, — ela concordou, e eu caminhei de volta para as ruas da minha cidade com um sorriso. Navesink Bank. 2 Nomes de dois seriados de TV que falam sobre assassinatos e psicopatas. 3 Referência aos atores Charlie Hunnam e Jason Momoa.

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Era simplesmente para onde você ia se fosse um criminoso na costa leste. Por quê? Você pode perguntar. Porque com todos os outros criminosos por aí, era fácil fugir com a merda. Além disso, a força policial era corrupta pra caralho e você podia, quase literalmente, se safar com assassinato em plena luz do dia, e com testemunhas, se você soubesse quais mãos subornar. Evidências simplesmente aconteciam muito de desaparecer. E testemunhas rescindiam seus testemunhos. Ou sumiam da face da terra. Ela tem sido minha casa durante quase uma década. Ela tem sido meu local de negócios por quase o mesmo tempo. Como tal, eu sabia onde precisava fazer minhas ligações. Daí o café extra. Barrett Anderson era um gênio do computador, investigador particular, decifrava código, genialidade comprovada. Literalmente, ele tinha papéis. Ele também era cuidadoso ao ponto da paranoia, então fazia varreduras por vírus todas as manhãs quando ele abria. Isto e, bem, ele tinha um puta wi-fi. Ele também não dava a mínima se eu chegasse vinte vezes por dia para lidar com as coisas do trabalho. — Trouxe um café para você, — eu anunciei quando entrei na caixa de fósforo onde ele conduzia os negócios. Era pequena, escura e um desastre. Havia uma mesa no meio e nos fundos, coberta de arquivos, livros e com cinco canecas de café. — Apenas cinco hoje? — eu perguntei quando coloquei o copo descartável. — São apenas nove, Luce, — ele me lembrou distraidamente. — Você tem um computador desligado? Deve ser sério. — Barrett, embora melhor em computadores do que a maioria dos chamados hackers, era cuidadoso quando os usava. Ele fazia a maior parte do seu trabalho no papel. Em polonês. E, só para garantir que até um polonês nativo não conseguisse ler, também em código. Ele usava computadores quando necessário e depois os destruía. Ele literalmente tinha uma gaveta cheia de uns baratos que ele comprava no atacado. — Collings, — ele concordou, mal me dando qualquer atenção, o que era apenas como ele era, então, eu não fiquei ofendido.

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— Detetive Collings? — eu esclareci, me afastando. Não importava que ele estivesse aposentado e fosse um cara bem de boa, eu não estava chegando em lugar algum perto dessa merda. — Só fazendo uma ligação, — declarei, indo para os fundos, para o banheiro dele. Não havia nada além de uma mensagem robótica do outro lado, provando a mim novamente quão bons eram alguns dos meus contatos. Eles podiam ser, e muitas vezes eram, tão cuidadosos e paranoicos quanto eu. Eles estavam, afinal de contas, me entregando informações que podiam levar à morte de outra pessoa. Ninguém queria ser rastreado. — Semana agitada, — eu murmurei para mim mesmo depois que terminei a ligação, desmontando meu pré-pago, puxando o cartão SIM e saindo. — Você se importa? — eu perguntei, apontando para o microondas que ele mantinha em um canto. Barrett não era um homem que esquentava as sobras ou cozinhava miojo no escritório. Ele era um homem que sabia que micro-ondas eram a melhor maneira de fritar eletrônicos. — Fique à vontade, — ele convidou, e eu joguei a merda dentro e liguei. Fiquei em pé ali por um segundo, observando as peças internas começarem a deformar e pegar fogo, então me virei para olhar para Barrett novamente. Não era da minha conta. Ele e eu éramos ambos solitários. Nós cuidávamos da nossa própria merda. Mas havia algo muito tenso nele nesse momento, algo que me fez sentir como se eu precisasse dizer alguma coisa. — Se você precisar de outro par de olhos sobre isso, — eu ofereci, acenando para seu notebook, — me avise. Ele não respondeu. O micro-ondas apitou. As chamas morreram. Eu esperei um minuto, então peguei as peças destruídas e me dirigi para fora. — Fica para a próxima, — eu disse, sem esperar uma resposta enquanto puxava meu capuz e caminhava para a rua. Eu não tinha amigos. Homens como eu, que faziam o que eu faço, que vinham de onde eu vim, não conseguíamos ter algo tão limpo, tão normal quanto

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amigos. Eu tinha contatos. Eu tinha fãs do meu trabalho. Eu tinha pessoas com quem interagia no dia-a-dia que não sabiam nada sobre mim. Isso era tão bom quanto poderia querer. De certa forma, era o suficiente. Tinha que ser o suficiente. Porque era tudo que eu podia ter. Eu estacionei no sopé da colina, sabendo por experiência que nada, exceto talvez um caminhão pesado ou um veículo com tração nas quatro rodas conseguia fazer a viagem toda para o topo. Quando eu alcancei o topo, minhas pernas estavam gritando, como sempre ficavam, e meus pulmões estavam queimando. Minha casa, ou bunker, como eu geralmente a chamava, visto que não havia uma maldita coisa caseira sobre ela, estava recuada mais vinte minutos para dentro da mata, construída ali por algum fodido maluco que queria sobreviver ao dia do juízo final, algumas gerações atrás. Deve ter lhe custado uma fortuna, não só para construir uma estrutura acima do solo, mas também para afundar uma outra inteira. Desperdício também, já que ele obviamente bateu as botas antes de sua versão do apocalipse chegar. Mas, ei, funcionava para mim. Especialmente porque, se você olhasse por dentro da estrutura, tudo o que estava nos planos oficiais da cidade era a planta original para a pequena cabana. Não havia evidência do bunker abaixo. Inferno, eu nem sabia quando comprei o lugar. Eu só queria a reclusão da floresta e a chamada “defesa do castelo”, por estar em uma colina alta olhando para baixo nas possíveis ameaças subindo. Eu provavelmente nunca teria encontrado se não odiasse espelhos. Havia um enorme no porão da cabana, todo dourado e do tamanho de um homem, me provocando, zombando de mim, fazendome encarar a pessoa na qual eu tinha sido transformado. Quando fui retirá-lo da parede, porém, ele não se moveu. Porque ele foi construído dentro dela. ~ 10 ~


O que me enviou em uma caçada de dois dias para tentar encontrar o interruptor, que também estava escondido, desta vez atrás de uma frente falsa engenhosa de uma estante de DVD com um interruptor. Então havia o enorme bunker subterrâneo completo com encanamento, água de poço, iluminação que era fornecida por energia solar, assim como o resto da casa, filtros de ar, camas, armários de alimentos, e como era enterrado, ele mantinha-se frio o ano todo, e era completamente selado. Se eu fosse alguém que acreditasse em sinais, este teria sido um. Assim como estava, era apenas uma oportunidade de ouro que eu usei para o meu total benefício. Vasculhei dentro do bolso para pegar minha chave, meio temendo outra noite inteira de pesquisa. Não há descanso para os ímpios, como diz o ditado. Eu não ouvi ninguém. Eu não vi ninguém. Eu não senti o cheiro de ninguém. Em menos de um segundo, eu estava prestes a entrar na minha casa muito isolada. De repente, eu estava recebendo um taco de beisebol atrás da cabeça. E tudo ficou instantaneamente escuro.

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Luce

— Porra, — eu rosnei, retornado lentamente à consciência. Essa lentidão era prova do fato de que eu não tinha sido apenas golpeado na parte de trás da cabeça. Não, o nevoeiro em meu cérebro, a secura na minha boca, o sentimento atrofiado estranho em meus músculos, sim, isso só podia significar uma coisa. Enquanto eu estava desmaiado, alguém me drogou também. Eu deixei escapar um suspiro, meus olhos vagueando abertos para encontrar a fonte da dureza fria sob a minha bochecha. O chão de um porão. Sim, isso estava certo, eu acho. Embora nunca tivesse sido derrubado antes, homens como eu não tinham o luxo de ser surpreendidos por isso. Era só uma questão de tempo. Alguém ia me pegar um dia, querer me destroçar, querer me derreter em uma banheira, querer me liberar pelo ralo. Talvez uma parte de mim estivesse esperando por mais algumas semanas, me deixar acabar com aquele mais recente canalha sobre o qual eu tinha ouvido falar, mas eu não podia dizer que eu estava exatamente chateado sobre isso também. Esse era meu destino. Eu nunca ia viver até os noventa e sentar em uma varanda da frente reclamando sobre quão boas as coisas costumavam ser quando as pessoas conheciam seus vizinhos e eletrônicos não dominavam o

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mundo. Primeiro, porque fodam-se os vizinhos. Segundo, porque os eletrônicos eram o melhor. Mas eu sabia que seria sortudo se conseguisse chegar aos quarenta sem acabar em uma cela ou uma cova, não importa o quanto cuidadoso eu fosse. Porque agora? Sim, isso era mais o que estava em minha mente. Não é como se fosse quando comecei, quando estava disposto a simplesmente... eliminar alguém na rua ou em seu próprio carro, sem dúvida deixando uma tonelada de merda de evidências para trás. Não era como se eu tivesse ficado descuidado. Meus métodos eram ainda mais rigorosos do que nunca. Eu também não tinha eliminado ninguém que tivesse considerado um alvo arriscado. Nenhum chefão do crime ou qualquer merda assim. O último movimento arriscado foi enfrentando algumas merdas operando na distribuição de drogas. Mas eu eliminei toda a operação. Não sobrou ninguém para querer vingança. Eu respirei fundo, sentindo meus pulmões queimarem enquanto me forçava engolir, esfregando minha língua contra o céu da boca para me livrar de uma película que senti cobrindo-a. Fodido veneno. Eu raramente trabalhava com isso. Era muito instável, muito imprevisível, muito difícil de encontrar. Veneno para matar? Sim, essa merda era fácil. Veneno para manter alguém inconsciente, para controlá-los, para mantê-los fracos? Sim, isso se tratava de um profissional. Isso se tratava de anos estudando venenos, de experimentar com eles. — Ótimo, — eu sibilei para mim mesmo enquanto forçava meus braços pesados a se moverem para pressionar no chão, desejando a força de volta para empurrar meu peso para cima, para que pudesse olhar em volta. Tudo que podia ver era escuridão e uma parede de bloco de concreto não muito longe. Envenenar pessoas era como esfaquear pessoas. Eles viviam para brincar com seus brinquedos.

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Eu tinha a nítida impressão que estava prestes a ser um rato de laboratório extremamente grande e extremamente aprisionado. Sabe, eu talvez tenha sido uma verdadeira merda, eu deliberava enquanto tentava plantar uma mão no frio chão sujo e encontrar força suficiente para me impulsionar a ficar de costas, mas eu não brincava com minhas vítimas como um gato com um rato. Claro, eles acordavam amarrados e cagados de medo. Geralmente, literalmente. Eles literalmente se mijavam e se cagavam quase invariavelmente. Mas nosso bate-papo era sempre amigável. Para todas as intenções e propósitos. Eu expunha seus crimes, mostrava a eles minha evidência, então dava a eles uma escolha entre confessar para a polícia ou morrer pela minha mão. Eu não os picava e cutucava para obter qualquer resultado desejado, acho que porque não havia resultado desejado. Eu estava igualmente feliz em largá-los em um local específico e ter um policial aliado meu, os pegando e os fichando. Surpreendentemente, muito poucos foram por essa rota. Em minha posse fazendo o meu trabalho, eu acho que houve talvez três que fizeram esta rota. Um estuprador em série, um assassino em série que caçava prostitutas e um traficante. Veja, Jersey não tinha pena de morte. E júris eram notoriamente estúpidos. Eles tinham uma chance melhor com nosso fodido sistema de justiça criminal. Mas, ei, quem sou eu para julgar? Eu estava igualmente feliz para chegar à parte da matança. Claro, essa parte nunca podia ser totalmente indolor. E eu acreditava firmemente em igualdade. Então eu os desamarrava para o grande final. Eles queriam dar alguns socos, em um esforço derradeiro para pensar que eles tinham algum controle que fosse. Eles não percebiam que eu tinha um recorde impecável. Eu sempre vencia. O cara mau sempre ia abaixo.

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Depois abaixo pelo ralo. — Porra, — eu rosnei quando aterrissei de costas, capaz de olhar em volta, meus olhos se ajustando ao escuro. Não só estava em um porão com piso de cimento e paredes de concreto e, pelo que podia dizer, sem janelas. Não. Eu estava em uma filha da puta de uma jaula. Era uma boa também. Eu forcei uma perna para fora, chutando com minha força admitidamente aleijada, em uma das vigas, acenando com a cabeça quando não ela nem ao menos se mexeu, enviando um tiro lento de dor para minha perna. Sim, essa merda estava cimentada no fundo e aparafusada no teto. Não ia ceder. Não havia saída. Eu deveria estar enlouquecendo. Meu coração deveria estar frenético, tentando se libertar da minha caixa torácica. Mas ele era uma coisa lenta e pesada se assentando dentro do meu peito. É verdade que, não estava tão assustado como uma pessoa normal estaria, mas meu coração deveria estar tendo um leve exercício logo depois disso, eu só podia supor que ele não estava porque era outro efeito colateral do veneno. Era provavelmente a razão pela qual meu estômago estava se torcendo pra caralho também. Felizmente, não havia nada nele para vomitar. — Deslanosídeo. Digitoxina. Glicosídeo digitálico. Oh, cara. Foooda-me. Essa era a fodida voz de uma mulher. Veja, não havia um fodido osso sexista no meu corpo, nem mesmo em relação às mulheres criminosas. Por quê? Você talvez pergunte. Porque a violência não vinha tão facilmente para elas.

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Estudos têm mostrado que as meninas são inerentemente mais gentis do que os meninos. Agora, se isso é natureza ou criação cabe aos profissionais decidirem. Mas, o que eu sabia era que seja qual dessas fosse, elas estavam dominando, e algo no DNA delas ou uma vida inteira de programação, qualquer gatilho era ruim o suficiente para mandá-las ao limite, para mandá-las para o lado negro, e quando elas chegavam lá, Jesus Cristo fodido, elas eram criaturas completamente diferentes. Eu nunca tinha visto algo tão cruel, racional e implacável quanto uma mulher no poder de um império criminoso. E eu nunca tinha visto alguém tão brutal quanto uma mulher assassina. Talvez fosse tão simples, como tudo o que tinha enviado suas vidas nessa direção, tenha roubado delas uma parte importante de suas humanidades. Mas eu estava inclinado a pensar que tinha menos a ver com suas fragilidades e mais a ver com elas percebendo seus potenciais. Sem ser travadas por coisas como egos frágeis, com o qual seus equivalentes masculinos eram aflitos, isso dava a elas muito mais tempo e espaço no cérebro para se concentrarem nas partes mais importantes de suas missões. Então, estar nas mãos de uma mulher que era fã de veneno? Ah sim, eu estava encrencado em um mundo de merda. Claro, talvez eu até merecesse isso. Mas essa não era uma realidade fácil para você se resignar. — Foxglove4, — explicou ela quando eu não respondi ao seu comentário. Eu não tinha ideia de onde ela estava. Mesmo com os olhos ajustados, o espaço parecia enorme. Havia muitos cantos escuros para se esconder. Ela podia estar em qualquer lugar. 4

Chamada de dedaleira, pode ser usada para fins medicinais, como um importante medicamento cardíaco. Se usada em doses altas ou em pessoas que não necessitam de seus efeitos, tem efeitos tóxicos. O uso em altas doses pode provocar um ataque cardíaco, podendo matar uma pessoa sem deixar rastros da causa da morte.

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Claro que eu fui envenenado com alguma bela maldita flor. Não podia ser uma merda foda da América do Sul, para que eu pudesse sentir justificável o sentimento de merda através de todo o meu sistema. Não. Belas flores rosa do quintal. — Que singular, — eu consegui falar, concentrando-me em tentar forçar a vida em todas as partes aparentemente inúteis do meu corpo. — O que vem a seguir? Um pouco de chá de oleandro5? — Não seja ridículo, — sua voz falou de volta, calma, mas se eu não estava enganado, havia uma mínima faísca de diversão lá. — Oleandro não cresce em Nova Jersey. Além disso, ela destruiria seu estômago. E eu posso querer você em sofrimento, mas não quero estar lidando com seus fluidos corporais. — A menos que você esteja planejando me matar na próxima hora mais ou menos, boneca, eu receio que você vai ter que encarar isso. Houve o clique distinto de saltos no chão duro, saltos mais grossos, não stilettos, mas saltos, no entanto. Então não ocorreu nada por um longo segundo. Seguido por um clique. E luz. Meus olhos apertaram instintivamente contra a aspereza, mas também porque o brilho causou uma dor de cabeça quase imediata, que era, sem dúvida, graças ao veneno da flor estúpida também. Eu pisquei forte várias vezes, examinando rapidamente para encontrar os saltos que eu tinha ouvido. Botas de combate, mas com saltos. Sexy, na verdade. Eu gostei delas. Eu não me opunha exatamente às pernas longas e bem torneadas que se estendiam delas, cobertas com calças escuras e apertadas que deviam ser de couro. Ela tinha quadris um pouco largos e uma simples camiseta preta

5 Chamada de espirradeira, é uma planta venenosa que dá uma bonita flor rosa.

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mostrando que, embora ela tivesse uma parte inferior do corpo curvilínea, ela não tinha tido a mesma sorte no departamento do tórax. Você não pode ter tudo, como dizem. Ela tinha muito... e eu nem sequer tinha chegado ao rosto ainda. E que maldito rosto também. Como evidenciado pela minha interação mais cedo com Jazzy, eu sempre tive um lance por mulheres de diferentes origens étnicas. Essa mulher, bem, ela era latina. Essa era uma descrição tão boa quanto eu poderia dar, já que havia dúzias de países latinos e eu não sabia nada sobre qual região se parecia com o quê. Ela era sexy com seus olhos escuros profundos e sensuais, sua pele impecável, seus lábios carnudos e seus cílios e sobrancelhas negros e cabelos compridos. Maravilhosa pra caralho. E jovem para uma especialista em veneno. Jovem para qualquer tipo de criminoso, na verdade. Eu a colocaria em seus vinte e poucos anos, embora não houvesse meio de saber, apenas questionando. Eu observei enquanto seu queixo se inclinava para cima durante a minha inspeção, sem me dar sinais sobre minha inspeção, sem exigir que eu desviasse o olhar, mas deixando claro que ela sabia que ela era a única com todo o poder. Então virou a cabeça para o outro lado atrás de mim, fazendo-me segurar um gemido quando forcei minha cabeça a girar. E, encontrei um banheiro. — Não fique esperançoso, — ela disse, com o tom vazio. — É um banheiro de prisão. Era muito. Todo em aço inoxidável e uma peça gigante, nenhum dos mecanismos internos acessíveis, sem partes que pudessem ser retiradas e usadas para uma arma, apenas com uma pequena área de pia em cima. — Isto te custou, no mínimo, no mínimo, quatorze mil. Você me quer tanto assim para desembolsar esse tanto de dinheiro?

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— Quem disse que você é a única pessoa que eu já tive aqui embaixo? — É justo, — eu concordei, finalmente sentindo um pouco do meu cérebro se retirando. — Fique confortável, — ela disse, acenando com a mão. — O quê? Sem apresentações? Sem, ei, eu sou a cadela do inferno empunhando o veneno, prazer em conhecê-lo? — Cuidado, — ela disse, chegando perto das barras, colocando as mãos sobre elas e inclinando-se um pouco. — Ou eu simplesmente lhe darei tiopental sódico suficiente para fazer você se sentir como se suas veias tivessem se transformado em fogo líquido. Sem a feliz liberação da morte. Com isso, ela se foi deixando-me com o que era, com toda certeza, um sorriso de aparência psicótica. O que eu posso dizer? Mulheres no comando eram sexy. Mulheres que te ameaçavam sem piscar eram sexy. Cristo. Onde diabos ela poderia pôr as mãos em drogas injetáveis letais? A foxglove fazia sentido. Os venenos naturais eram bastante fáceis de encontrar. Mas aquela merda que eles usavam para a pena de morte, aquilo era altamente controlado. Nosso bom e velho governo provavelmente não queria que saísse por aí que eles paralisavam seus presidiários para então colocar suas entranhas em chamas como forma de ‘execução humana’. E as pessoas achavam que esquadrões de fuzilamento eram bárbaros. Quem era ela? Por que ela me queria? Ela era apenas uma intermediária? Alguém a contratou para me trazer aqui e me manter assim vivo o suficiente, para eles me restaurarem e brincarem comigo?

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Isso fazia mais sentido. Não conseguia pensar em nada que eu pudesse ter feito recentemente para irritar uma especialista em venenos. Suspirei quando forcei meu corpo a se enrolar, encontrando a dormência pesada se afastando lentamente, deixando-me com pelo menos um pouco de controle sobre meus membros. Eu me empurrei para uma posição sentada e arrastei minha bunda em direção ao banheiro. Estendendo a mão para cima, usei as bordas de parte da pia para me levantar, amaldiçoando selvagemente quando minhas pernas gritaram e quase cederam. Precisava de água. Precisava lavar essa merda para fora do meu sistema, para conseguir pensar e reagir apropriadamente. Estava especialmente ansioso com a ideia de ter que lutar para sair deste porão? Não. Eu estava entusiasmado com o fato de que, para fazer isso, eu precisava colocar minhas mãos em uma mulher? Mais uma vez, não. Mas sobrevivência era sobrevivência. Eu precisava sair. E se eu tivesse que colocar minhas mãos nela, esperançosamente, era apenas para contê-la tempo suficiente para escapar. Assim que conseguisse escapar, poderia descobrir quem diabos era ela. Eu conhecia muitos dos jogadores no lado negro, muitos dos especialistas em diferentes campos. Eu, nem de perto, sabia sobre venenos tanto quanto sabia sobre armas, drogas, bombas e tráfico. Eu precisava remediar isso. Começando com uma mulher sexy pra caralho de cabelos escuros, com injeções letais em prontidão. Sabe, se eu consegui sair. Não havia garantia disso. E não era eu sendo pessimista, apenas honesto. As chances eram verdadeiramente desconhecidas neste momento. Havia muitas variáveis. Ela ia abrir a jaula para me alimentar, se ela planejava me alimentar, depois de tudo? Ao contrário da engenhosa combinação banheiro e pia de presídio, a jaula pela qual eu estava cercado não ~ 20 ~


tinha uma abertura para deslizar bandejas. Mas talvez, se ela estivesse planejando me alimentar, seja o que fosse, seria pequeno o suficiente para caber através das barras. Ela ia entrar na jaula em algum momento para tentar injetar mais veneno em mim, para que ela pudesse me amarrar e fazer o que quisesse comigo? Ou talvez ela podia apenas atirar essa merda para mim do lado dela das barras? Quanto melhor criminosa ela fosse, menos chance eu teria de sair. Se ela viesse sozinha e abrisse esta jaula, eu estava saindo. Se ela não abrisse a jaula de jeito nenhum, foda-se se eu sabia qual seria meu destino. Provavelmente muita tortura e uma fodida morte feia. Sinceramente, no reino de justiça no mundo, isso seria bastante apropriado. Eu não queria morrer propriamente dito, mas não era como se eu fosse uma grande perda para o mundo. Inferno, as únicas pessoas que provavelmente notariam mesmo, eram pessoas como Jazzy e Barrett, pessoas que estavam acostumadas a ver meu rosto. Porque eu não tinha nada, nem de longe, parecido com uma amizade, relacionamento ou família. Uma parte disso era ser um solitário genuíno. Mas talvez a maior parte fosse saber que qualquer um que se associasse a mim estava, sem querer, em perigo. Eu não estava derrubando ninguém comigo. E, para ser honesto, eu tenho ido muito bem com minha vida. Talvez eu tenha feito isso de um jeito sombrio e sujo, mas o resultado final era o mesmo. Eu tinha tirado predadores das ruas. Não seria uma tragédia se assim fosse como eu ia cair. Mas, levando-se isto em conta, eu ia lutar. Assim que minha adorável captora fizesse outra aparição.

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Evan

Eu bati a porta do porão, subindo os degraus estreitos e desgastados pelo tempo, de dois em dois, meus saltos um som frenético clicando, precisando ficar acima do solo, precisando de ar que não estivesse estagnado e precisando de alguns minutos para voltar a me controlar. Não era que eu tivesse desorientada lá dentro. Na verdade, eu estava muito orgulhosa de quão bem me controlei. Sequestros não eram exatamente meu forte. Os venenos? Bem, eu aprendi isso no joelho do meu pai. Vinte e poucos anos estudando quais deles faziam o quê. Eu era uma enciclopédia ambulante de venenos. Levando-se em conta que eu não tenho estado no campo das pessoas envenenadas como meu pai estava; eu era apenas toda sobre os fatos. Eu sabia o que estava fazendo, é claro, mas sempre havia fatores que podiam arruinar os resultados. Como condições preexistentes, o nível de pânico e, consequentemente, a adrenalina que a pessoa talvez sentisse, às vezes era mesmo tão simples quanto o tipo de comida que eles comiam (ou não) naquele dia. As variáveis eram o que deixavam meu coração trovejando no peito, a partir do momento da injeção para ver os efeitos finalmente começando a desaparecer no porão. Atingindo o patamar, eu disparei direto para o lado de fora da porta lateral, desabando de costas na lateral do lugar e inspirando

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longa e lentamente, profundo o suficiente para o meu peito ter a sensação que estava queimando. Eu tentei dizer a mim mesma que a parte mais difícil estava acabada. Isto é, eu o tenho observado há semanas, escondendo-me naquela floresta cheia de ursos esquecida por Deus, tentando descobrir os movimentos dele e qual fosse talvez a melhor hora para o derrubar. Depois, eu tive que fazer a coisa golpear-a-cabeça e drogar. E depois, como provado pela dor gritante nos músculos do meu braço, arrastá-lo pela floresta onde eu tinha um veículo estacionado. Depois, arrastá-lo novamente para fora do carro e para baixo na escada do porão. Mas não havia como me convencer que o resto ia ser mais fácil. Porque a partir daqui eu tinha que interrogá-lo. E então matá-lo. Então, sim. Era onde eu estava. Era por isso que meu coração estava tão frenético quanto as asas de um beija-flor no meu peito. Era por isso que eu tinha um suor frio em todo meu corpo. Era por isso que precisei me afastar do notório Luce por um tempo. Eu não sei o que eu estava esperando quando finalmente dei uma boa olhada nele. Veja, enquanto eu o estive seguindo, ele tinha essa dedicação extrema com seus moletons pretos, com o capuz quase sempre puxado para cima. Eu tinha apenas conseguido vislumbres de suas feições. Nem sequer o suficiente para apontá-lo em um reconhecimento. Eu esperava um rosto tão feio quanto sua alma. Eu acho que muitas vezes nunca funcionava desse modo. A maioria dos assassinos em série era atraente. Luce não era exceção.

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Ele tinha cabelo escuro, olhos escuros e aquela mandíbula incrivelmente bem definida e acentuada, sobrancelhas castanhoescuros, uma tonelada de cílios e a mais fina fissura no queixo. No entanto, o que mais me assustou foram aqueles olhos. Eles eram profundos e as pálpebras pesadas, dando-lhe um olhar quase sonolento, escondendo completamente o mal que se enterrava por baixo. No corpo, ele não era um cara grande. Alto? Claro. Mas ele não era excessivamente largo ou musculoso. Na verdade, ele poderia ser chamado de magro por alguns. Se ele fosse qualquer outra pessoa, seria atraente. Bem o meu tipo, na verdade. Mas isso estava obviamente, completamente, fora de propósito. O propósito era, as coisas estavam finalmente em andamento. O plano tem estado em vigor há quase um ano. Eu tinha calculado cada pequena perversidade possível. Eu tinha planejado o mais ínfimo detalhe. Eu tinha me certificado de que não haveria chance de ser pega ou de ele escapar. Ambos eram igualmente importantes na minha opinião. Primeiro, eu não era o tipo de mulher que ia se sair bem na prisão. Eu gostava de longos banhos, ir a banheiros privados e produtos muito específicos para o cuidado com a pele. Segundo, se ele ficasse livre, tinha certeza que estaria morta. Não havia nada sobre Luce que dizia que ele era o tipo de homem que deixava as pessoas se safarem. Se ele colocasse os olhos em você, você não existia mais. Caso encerrado. Foi por isso que passei três meses em um curso de encanamento, aprendendo como deixar meu próprio banheiro em um porão, para não ter que contratar ninguém que pudesse pensar que era estranho que eu estivesse colocando um vaso sanitário e pia no estilo da prisão em meu porão. Por isso, eu passei algumas semanas longas, exaustivas, suadas e ensanguentadas instalando meticulosamente as barras da prisão. Na verdade, eu tinha quebrado um dedo tentando ter o cimento

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desenterrado o suficiente para afundar nas barras, depois cimentá-lo novamente. Tudo tinha valido a pena quando peguei uma marreta e tentei fazer as barras se mexerem... sem sucesso. Eu tinha uma prisão estável só esperando por um preso. Me afastei da parede, e fiz o meu caminho de volta para dentro, andando através da garagem que levava ao porão, através da pequena lavanderia completamente branca, depois através de uma porta que levava para dentro do espaço de jantar/cozinha/trabalho, que eu estive telefonando para casa pelos últimos dez meses. Não parecia com uma casa. Eu estava talvez meio convencida de que nunca pareceria como uma casa. Mas eu não tinha nada a ver com a casa. Eu realmente gostava dela. Era pequena e isolada. Havia calorosas paredes amarelas claras, pisos de madeira encantadoramente arranhados e gastos, armários estilo cabana na cozinha, uma banheira com pés no banheiro e três quartos. Dois dos quais eram quase inúteis para mim e, na verdade, eu não tinha realmente colocado os pés dentro da banheira desde que me mudei oficialmente para lá. Eu passei horas procurando por móveis que achei que caberiam no espaço. Havia uma espaçosa cama queen-size de cabeceira quase branca no quarto principal, junto com cômodas brancas, e um azul muito claro nas paredes, e meu edredom. Havia um pequeno sofá marrom escuro na sala de estar com uma ampla mesa de centro com tampa de vidro diante dele, em cima de um tapete multicolorido, de frente para a lareira de tijolos. Havia três estantes do chão ao teto, onde eu guardava alguns livros, mas principalmente lembranças das minhas viagens. Era o lar mais acolhedor em que eu já estive. Nisso, eu acho, ficava o problema. Na verdade, eu nunca tive um lar antes. Lar, para mim, sempre tinham sido trailers, nas partes de trás de vans ou tendas na floresta. Lar eram dezenas de países que eu havia visitado, havia mergulhado em toda a minha vida.

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Inferno, eu nunca tinha realmente dormido em uma cama de verdade até eu ter sete anos, quando nós paramos nos Estados Unidos para uma breve visita, e ficamos em um hotel já que o trailer estava na oficina, e você geralmente não tinha permissão para simplesmente montar uma tenda em qualquer lugar que você quisesse nos EUA. Eu não fui capaz de dormir. Eu peguei meu cobertor e me enrolei no chão. Durante vinte e seis dos meus vinte e sete anos na terra, eu tenho sido nômade, uma cigana, uma viajante. Eu peguei minhas coisas quando o veículo em que estávamos estava ficando muito cheio, e as despachei para um amigo de meu pai nos Estados Unidos, para mantê-las seguras. Quando eu apareci há pouco menos de um ano, encontrei um extenso rancho no sul com sua própria comida ocupando quase dois hectares, e animais desde cavalos, cabras e vacas, até porcos, galinhas e coelhos ocupando o resto dos vinte acres dele. — Não se pode confiar no governo para nos alimentar com comida de verdade mais, — ele explicou ao meu olhar questionador. Não tendo passado mais do que algumas semanas da minha vida em todo o meu tempo nos EUA, não tinha ideia o que ele queria dizer, mas assenti quando ele me levou para um enorme celeiro onde tinha guardado todas as minhas coisas. — Guardei tudo, — ele me disse enquanto me levava para uma barraca empilhada com caixas. Nenhuma delas tinha sido aberta. A primeira para o qual estendi a mão estava escrito à mão, de quando eu não podia ter mais do que oito ou nove anos. Ele tinha guardado tudo mesmo. Nem um único item estava faltando. Itens dos quais eu tinha esquecido completamente, uma estatueta tribal de uma coruja da Nova Guiné, um complexo colar trabalhado com contas de Saraguro, um crânio do Dia de los Muertos do México. Minha vida inteira em caixas. Traze-las de volta à minha nova casa e abri-las tem sido uma experiência dolorosa. Não porque as lembranças eram ruins. Longe ~ 26 ~


disso. Mas porque elas representavam uma parte da minha vida que eu nunca poderia ter novamente. Elas representavam uma perda que cortava tão profundamente que eu tinha certeza que sempre haveria um sentimento oco por dentro. Mas eu as levei, e a dor associada a elas, e as exibia orgulhosamente nas minhas prateleiras. Elas eram uma parte de mim. Elas eram as memórias intermináveis nas quais pensava à noite, antes que a miséria se instalasse de volta. Elas eram partes da vida que eu queria novamente, mas sabia que nunca poderia ter. Os lugares que eu tinha andado antes, a vida que tinha levado, não era seguro para eu tentar sozinha. Essa realidade era um gosto amargo e metálico na minha língua. Não importa o quanto esfregasse, ele não ia embora. Eu tinha levado uma vida tão despreocupada, tinha gozado de tanta liberdade, que a prisão que vivia dentro de um corpo feminino que era mais fraco, que podia ser invadido, era absolutamente enervante até os ossos. Eu não viajaria pela floresta tropical novamente. Eu não caminharia em terra tribal sem medo. Eu não seria capaz de percorrer as áreas mais perigosas da Colômbia ou do México, com a facilidade despreocupada de uma mulher ladeada por um homem tão temido que ninguém sequer pensaria duas vezes em olhar para sua filha. Até este homem ser tirado dela. De mim. E para isso, eu faria o que fosse necessário para exigir vingança. Sobre o homem um andar abaixo de mim, se ele tivesse uma única célula cerebral funcionando em sua cabeça estará bebendo seu peso corporal em água para tentar tirar as últimas gotas de veneno de seu corpo. Sim, Luce Sem-sobrenome ia pagar. Carinhosamente Olho por olho. Ou uma vida por uma vida, por assim dizer.

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— Diego, silêncio, — eu exigi sem entusiasmo, sabendo que era uma batalha inútil. Diego era tudo o que tinha sobrado do meu pai. Ele havia sobrevivido ao seu dono. Inferno, ele podia até sobreviver a mim. Diego era uma arara azul e dourada de setenta centímetros de comprimento, que meu pai possuíra desde antes de eu nascer. Ele era confuso, muitas vezes agressivo, e seus gritos podiam ser ouvidos por quilômetros na natureza. O qual, eu diria a você o quão barulhento ele era dentro da casa. Mas ele era família. Ele poderia me dar enxaquecas de rachar várias vezes por mês, e talvez ele mastigasse as bordas da minha mesa de centro, e usasse quase todos os lugares para um banheiro, visto que ele sempre foi mantido totalmente solto, mas eu estava, para todos os efeitos, acostumada com isso. Tinha me custado uma pequena fortuna contrabandeá-lo para dento do país. As leis com respeito a se mexer com aves exóticas eram absurdas e infundadas, mas totalmente incontornáveis. Então, eu precisei empregar e confiar a cinco pessoas diferentes o bem-estar dele. Eu tinha passado duas semanas com meu coração na garganta esperando por ele finalmente cruzar os EUA, para que eu pudesse examiná-lo e acomodá-lo. — Yummy, — ele exigiu de volta, cerca de dez decibéis mais alto do que quando eu o tinha silenciado da primeira vez. Ah, as alegrias de possuir um pássaro. — Tudo bem, tudo bem, — eu disse, metendo-me na geladeira para pegar uma tigela de frutas e legumes que eu tinha cortado para ele, colocando dentro de um prato pesado o suficiente para ele não ser capaz de virar e colocá-lo sobre a mesa. — Aqui está a sua comida. Agora, eu preciso alimentar o prisioneiro, — eu disse, voltando para a geladeira para preparar o jantar. Eu queria que ele sofresse, claro. Eu o queria morto algum dia. Mas até lá, eu precisava mantê-lo bem o suficiente para extrair as informações que queria dele. Mais precisamente... por quê.

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Por que meu pai? Ele era um bom homem? Pelos padrões gerais, talvez não. Ele tinha matado pessoas. Ele havia oferecido informações sobre veneno perigoso para pessoas que o usariam para infligir dor em seus inimigos. Mas ele tinha padrões. Ele só matou homens que mereciam, homens que ameaçavam a ele ou a mim, homens que ele pegava abusando de animais em fóruns públicos, homens que haviam tentado roubar algo de nós. E ele nunca operou em solo americano. Então, por que Luce teria ido atrás dele? Por que Luce o tinha procurado quando havia candidatos mais merecedores, mais perto de casa? Perguntas que precisavam de respostas. Eu as conseguiria. E para fazer isso, eu tinha que mantê-lo principalmente consciente e relativamente saudável.

alimentado,

Eu empilhei o feijão, milho, arroz, carne e o molho apimentado sobre o balcão e comecei a cozinhá-los e enrolar os burritos para mim e para o chamado vigilante no meu porão. Talvez uma parte de mim queria ser mesquinha e alimentá-lo à força com algo realmente repugnante e beirando o intragável. Mas o fato era que eu estava muito preguiçosa para cozinhar duas vezes. Além disso, burritos caberiam através das barras sem eu ter que chegar muito perto dele e arriscar ele me puxar contra as barras e me derrubar. Não era algo assim que faria algum bem a ele. Eu não era idiota; não carregava as chaves comigo. Mas ainda assim, preferiria evitar a enorme dor de cabeça que isso causaria. Eu me sentei ao lado de Diego e comi minha comida, levando meu tempo, tentando não apressar o processo. Eu teria muito tempo para passar com ele. Ele não ia a lugar nenhum. Me levantei, enrolando a comida dele em papel alumínio, depois respirei fundo antes de descer de volta a escada.

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— Sabe, você nunca me deu seu nome, — ele me cumprimentou assim que meu pé atingiu o patamar inferior. — Você pode me chamar de Deus, — eu ofereci enquanto caminhava em direção as barras, encontrando-o em pé, de costas para elas a vários metros, a cabeça inclinada para o lado, me observando. — Porque você decide quando eu vivo ou morro, — ele declarou, olhando para baixo no cilindro embrulhado no papel alumínio enquanto rolava para dentro de sua cela. — Algo assim, — eu concordei, levantando o queixo. Fria, serena e desinteressada. Era como eu queria me apresentar a ele. Deixe-o acreditar que eu era alguma especialista contratada, apenas uma engrenagem em uma roda, que isso era um negócio. Se ele soubesse o quão pessoal era, podia usar isso contra mim. Eu não sabia quão capaz ele era em coisas como manipulação emocional. Na verdade, realmente não sabia muito sobre ele. Isso provavelmente era porque ninguém parecia saber muito sobre ele. Havia um enorme fã clube online dedicado a ele. Algumas minas insanas escreviam contos eróticos, loucos, perversos, violentos e explicitamente sexuais estrelados por Luce. Luce, o vigilante, era uma estrela brilhante. Luce, o homem, era um enigma completo. Na verdade, eu não consegui encontrar um vestígio de um homem chamado Luce em nenhum lugar em New Jersey. Tudo bem que investigação virtual não era meu forte. Na verdade, sabia muito pouco em relação à internet. Eu tinha conhecimento básico, mas passei a maior parte da minha vida fora-do-radar em lugares que nem sequer tinham antenas sem fio. Então, não estava sequer no nível de perseguição da ‘ex-namorada ciumenta que percebe que seu ex tem uma nova namorada’. A mídia social como um todo era um enigma completo para mim. Por que alguém se importa que você ‘fez check-in’

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em uma cafeteria na cidade, ou que você está indo para este ou aquele concerto no próximo mês? Bobagem banal. Se as pessoas quisessem se conectar com outras pessoas, por que elas não saíam e faziam isso? Eu me perguntava. De qualquer forma, sim, talvez Luce não fosse um fantasma completo para um profissional treinado. Mas eu não era uma profissional treinada. Então, para mim, ele era uma caixa de surpresas. Talvez ele fosse um mestre manipulador. Talvez ele fosse apenas um idiota violento. Quem sabia. — Eu sou Luce, — ele ofereceu depois de um longo silêncio. — Mas você já sabe disso, — ele disse enquanto caminhava mais perto em direção a mim, aqueles olhos escuros ilegíveis, mas tive a nítida sensação que eles estavam, de alguma forma, me lendo. Ele se inclinou para baixo, pegando a comida e depois ficando de pé. — Especialista em veneno. Sua estrutura óssea. Seu tom de pele. Este alimento. O mínimo indício de um sotaque. Sul-americano, certo? Mas removido. Você nasceu nos EUA, mas viajou. Cicatriz de um tamanho considerável no seu pulso esquerdo, elevada, embora esteja curada há muito tempo. Queimadura, provavelmente. Pelo menos há cinco anos. E suas mãos estão cobertas de arranhões. Gato, mais provável. Mas não, — ele disse, apertando os olhos. — Não com esses formatos em meia-lua. Pássaro, provavelmente. Dadas as outras pistas e o tamanho dessa impressão de bico, eu estou supondo uma arara. Não o animal de estimação mais provável para uma mulher em sua idade. Então, deixado de herança para você? Jesus. Eu literalmente não sabia o sobrenome dele ou onde nasceu, mas ele conseguiu uma grande quantidade de informação sobre mim apenas por estar na minha presença por alguns minutos. — Seu dedo do meio não fica reto e, a julgar pelas marcas de sangue que eu vejo no chão, ele estava quebrado quando você estava

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colocando as barras. Isso sugere que você não tem uma equipe inteira de homens no andar acima esperando para vir aqui em baixo e me remover se algo acontecer a você. Não, você está trabalhando totalmente sozinha. Ou você é muito boa... ou muito estúpida. Eu queria acreditar que era muito boa. No entanto, quanto mais o ouvia, mais estava começando a acreditar que talvez eu fosse muito mais estúpida do que imaginava. Eu tinha subestimado sua inteligência, no mínimo, concluí que talvez tenha subestimado sua força também. Especialmente porque ele era magro. Havia um monte de lutadores de artes marciais que pareciam magricelos, mas eram tão letais quanto seus equivalentes de tamanho considerável. — Você está tentando me ler? Porque nada disso vai tirá-lo daqui. — Mas eu estou certo, não estou? — ele perguntou, sorrindo. Que era, bem, completamente inapropriado. E talvez um pouco revelador também. Ele se importava mais com os fatos do que com sua liberdade. — Isto é, se você está mantendo uma arara aqui, é apenas uma questão de tempo antes que eu a ouça e confirme minhas suspeitas. Nós temos que estar perto do pôr-do-sol, certo? — ele perguntou, desembrulhando o papel alumínio, e dando uma boa mordida, sem sequer olhar para o que fiz para dele. — Ela estará fazendo seus gritos no fim de tarde em breve. Deus, ele era bom. Que pessoa que não possuía um papagaio sabia coisas assim? Ele era um tipo perigoso de inteligente. E sabendo que seu corpo tinha importância, havia uma ênfase em perigoso. Eu não tinha ideia de como ele matava. Havia uma assinatura online para todas as suas mortes, mas não havia detalhes sobre elas. Ele era um homem de armas? Facas? Próprias mãos? Havia alguns cortes e hematomas recentes em suas mãos.

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— Tentando imaginar se eu as usaria em torno de sua garganta se tivesse a chance? — ele perguntou, fazendo meu olhar disparar para o seu rosto, observando como ele levantou a comida para dar outra mordida. — Para te poupar da questão, não machuco mulheres. Mas para salvar minha própria bunda, eu sufocaria você para me libertar. Nenhum dano permanente. Eu nem precisaria machucar esse lindo pescoço, boneca. Uau. Ok. Não havia nenhuma, absolutamente nenhuma, sensação de vibração entre minhas coxas com isso.

estranha

Porque isso seria insano. Maluco. E se talvez existisse essa sensação, era provavelmente porque não tinha conseguido transar há bem mais de um ano e meio, quando toda essa charada começou. Inferno, isso foi provavelmente o mais próximo que estive de um homem perto da minha idade neste espaço de tempo. Apenas hormônios. Instinto animal estúpido. — Você deveria estar mais preocupado com o seu próprio pescoço do que com o meu, — eu ofereci quando ele terminou o burrito, e enrolou o papel alumínio. — Estou supondo que você vai querer que eu arremesse isso de volta, — ele disse, levantando o papel alumínio. — Você sabe, porque guardando isso um tempo suficiente, se transforma em uma arma decente. E eu não sabia disso. Maldição. — Claro, — eu concordei. — Vá em frente e arremesse-o para fora.

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— O quê? Você não quer entrar e... tirar isso de mim? — ele perguntou. Foi talvez querendo ser ameaçador, mas o sorriso em seu rosto minou completamente isso. E esse movimento foi, bem, estúpido. Se eu não exigisse o papel alumínio de volta, ele podia ter feito o que disse que conseguiria, podia fazer uma arma. Ou, ele podia ter ameaçado fazer uma arma que, com razão, me faria ir lá dentro e pegá-lo dele, dando a ele uma chance de tentar me derrubar. Por que recusar isso? Eu pensei que quanto mais tempo passasse com ele, mais respostas teria. Isso estava se provando totalmente falso. — Qual é o problema, Deus, não sou o que você pensou que eu seria, hein? Isso era uma meia verdade. — Eu particularmente não me importo com quem você é como pessoa. — Ah, mas isso é uma mentira, — ele disse, parecendo satisfeito com a ideia. — Você está apenas decepcionada porque não pode me identificar. Façamos assim, docinho, eu estou de bom humor. Pergunteme qualquer coisa que você quiser, — ele disse, estendendo os braços para fora. — Eu sou todo seu. Eu queria ir devagar com isso. Esse era o plano. Eu queria conseguir, e manter, a vantagem. Eu queria sondá-lo. Mas não havia como parar. Explodiu de mim. — Por que você matou meu pai?

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Luce

Então, não era alguma garota contratada em uma missão. Esta era uma vingança pessoal. Isso a tornava totalmente imprevisível. Eu matei o pai dela? Quem ia saber. Era definitivamente uma possibilidade. Verdade que os rumores na internet sobre mim eram, bem, um pouco inflados. Eu fiz uma série de trabalhos? Claro que fiz. Os chamados fãs talvez afirmam que fiz uma tonelada de trabalhos que não fiz? Aham. Até eu perguntar, não tinha como saber se ela estava trabalhando com dados falhos ou não. E mesmo que estivesse, e eu falasse isso a ela, não havia garantia de que ela me deixaria ir. Isto é, é claro que ela esperaria que eu mentisse. Minha vida estava em suas mãos. — Bem, isso depende, — eu disse enquanto seus olhos ficavam arregalados, como se talvez ela não tivesse a intenção de me perguntar isso. Pelo menos, não ainda. Ela provavelmente tinha algum longo plano para extrair informações de mim. Era por isso que estava me alimentando tão cedo, quando eu, obviamente, podia ter passado dias sem comer antes que ficasse sequer tonto. Comida boa também.

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Ela sabia se virar bem na cozinha. Eu nunca estive em uma posição de admirar isso sobre uma mulher. — De? — ela perguntou, mandíbula tensa, queixo erguido novamente. — De quem seu pai é, — eu disse, encolhendo os ombros, levantando a mão para endireitar os dois lados do cordão do meu capuz, para que eles ficassem iguais. Houve uma longa pausa, algo trabalhando atrás de seus olhos. — Alejandro Cruz. Imagino que ela estava decidindo se deveria me contar ou não, porque sabia que isso revelaria seu jogo. No final, porém, a necessidade pela verdade muitas vezes superava a necessidade por autopreservação. — Então, isso faz de você Evangeline, — eu disse, sorrindo e puxando meus lábios um pouco. Isso, na verdade, fez tudo fazer o caralho de muito sentido. Alejandro Cruz era algo como, bem, eu, de muitas maneiras. Ele era alguém de quem as pessoas sussurravam; a maioria acreditava que ele era uma lenda urbana. E, portanto, como eu, talvez muitos dos contos fossem tão falsos ou embelezados que a verdade quase nem era perceptível mais, ele era uma pessoa real. Ele tinha habilidades reais. Mais precisamente, o mais letal, o mais respeitado, o homem mais procurado do seu tipo no mundo. Um especialista em venenos. Um assassino profissional que podia eliminar um inimigo e não deixar vestígios do que causou a morte, em primeiro lugar. Ou, como também, com frequência, usar seus venenos de tortura para seus empregadores, extraindo informações antes do final definitivo e feliz. Entretanto, Alejandro Cruz era algo mais também. Veja, eu não tinha nenhum problema, em geral, com criminosos. Contanto que eles permanecessem em suas próprias faixas e matassem pessoas que fossem tão sujas como eles, eu cuidava do meu próprio negócio. ~ 36 ~


No entanto, esse não era o caso de Alejandro. Eu certamente não o rendi porque ele drogou algum contrabandista colombiano de cocaína, para obter informações para um cartel rival. Não, seus crimes eram uma porra de muito piores do que isso. — Você não respondeu minha pergunta. Porque era um pouco mais complicado do que ela queria acreditar. — Alejandro Cruz, com certeza, morreu no meu bunker. Eu não era muito de mentir. Ou de pegar leve com qualquer coisa. Ela queria fatos, eu estava dando seus fatos. — Seu filho da puta! — Ela gritou, aproximando-se das barras da jaula, olhos selvagens, corpo rígido, tudo sobre ela sugerindo que, se não houvesse barras entre nós, ela estaria arranhando meu rosto em pedaços naquele exato momento. — Seu demônio, egoísta, pedaço de merda! — ela continuou, batendo as mãos nas barras antes de virar e correr de volta pela escada. Eu não tive a chance para explicar. Claro, Alejandro Cruz definitivamente morreu no meu bunker. Mas eu não o matei. Eu mal tive a chance de colocar seus crimes diante dele, na verdade. Veja, a coisa sobre especialistas em venenos é que você nunca sabe, na verdade, se eles têm algo com eles ou não. Não era como se os fodidos carregassem por aí uma maleta cheia de frascos cuidadosamente rotulados, embora eu tinha certeza de que eles tinham alguns deles escondidos em algum lugar. Eles faziam o possível para escondê-los, para que não pudessem ser encontrados.

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Alejandro Cruz, com uma vida inteira no tráfico, sabia exatamente como ocultar drogas de emergência, para usar em uma situação crítica. Você pensaria que era para o uso nos outros. Pelo menos, era o que eu havia presumido. Chocou-me pra cacete andar de volta até lá embaixo, para encontrá-lo ainda amarrado à cadeira onde eu o tinha deixado, segurando apertado seu rosário na mão, porque eu não era nenhum animal que negaria a alguém o conforto vazio da religião (para mim) em suas horas finais, mas morto como uma pedra. A princípio, imaginei que talvez o filho da puta tivesse sofrido um ataque cardíaco. Embora não seja comum, certamente era plausível. Ele não era um homem jovem, e estava enfrentando sua morte inevitável. Mas quando cheguei mais perto e olhei para ele, eu mudaria de nome se aquele rosário branco colocado em sua mão não estava faltando uma porra de conta. Cianeto. Eu não fiquei desapontado que ele estivesse morto. Esse sempre foi o plano, de qualquer modo. Mas queria ouvi-los confessar primeiro, admitir seus delitos. Eu não sei porque. Não precisava que eles admitissem, sempre tive mais do que evidência suficiente antes de sequer pensar em rendê-los. Mas gostava de ouvir os delitos. Eles validavam que eu estava fazendo a coisa certa. Ele tirou isso de mim. Eu fiquei de mau humor o tempo todo que tive para dissolver o corpo dele. Isto é, acho que ele se matando era toda a prova da qual precisava de que ele tinha cometido os crimes que eu havia colocado diante dele. Mas ainda assim, ele arruinou a coisa toda para mim. Começou um frenético bater de saltos nos degraus quando ela veio trovejando de volta para baixo, o cabelo voando ao redor de seu rosto. — O que você quer dizer com ele ‘morreu no seu bunker’?

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— Esse foi o lugar que ele deu seu último suspiro, — eu disse, rindo por dentro que ela era esperta o suficiente para perceber essa pequena nuance. — Onde você o matou, você quer dizer. — Eu não disse isso. — Você diria? Se você matasse alguém, você confessaria isso? — Bem, quando você me pegou, eu tinha acabado de retirar Harold Grains da superfície da terra. — Literalmente. Ele estava debaixo dela, em um cano de esgoto. Onde pedaços de merdas como ele pertenciam. — Harold Grains, — ela repetiu, tentando não parecer surpresa com o quão acessível eu estava sendo. — Sim. Nojento pedófilo com uma propensão por garotos jovens. Ele tinha que ir. Ele não era nada além de um desperdício de oxigênio perfeitamente bom em um planeta que, francamente, precisa de cerca de cinco bilhões de pessoas a menos do que atualmente tem. — Então você o matou porque ele era um molestador de crianças. — Você não ouviu? É o que faço. Eu sou o vigilante, baby, — eu declarei, com um sorrisinho cínico. — Você matou meu pai? — Infelizmente, não. Merda. Isso foi rude. Eu não interagia o suficiente com as pessoas para lembrar de observar o modo como expressava as coisas às vezes. Na verdade, a única razão pela qual percebi que foi a coisa errada a dizer, foi que ela, chocada, se afastou das minhas palavras como se eu tivesse batido nela. — Por que eu deveria sequer acreditar em você?

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— Eu sou um monte de coisas, Evangeline, mas um mentiroso não é uma delas. Eu não matei seu pai. — Então... o quê? Ele teve um ataque cardíaco súbito enquanto estava sob sua custódia? — ela cuspiu, descrença evidente não apenas em seu tom, mas em seu rosto. — Ele mordeu uma pílula de cianeto de emergência, que ele mantinha em seu rosário, quando o deixei sozinho por alguns minutos. Tudo sobre ela mudou neste momento. Seus lábios se separaram, seus olhos ficaram vazios, seus ombros caíram. Porque ela sabia que era a verdade. Talvez ela não confiasse totalmente em minhas palavras propriamente ditas, mas deve ter havido um reconhecimento da verdade nelas, na realidade dele tendo uma pílula de cianeto. Na intenção dele de usá-la. — Por que ele faria isso? — ela sussurrou, sua voz quase inaudível, apesar de estar apenas a poucos metros de mim. — Acho que ele não queria enfrentar a punição por seus crimes. Isto foi, aparentemente, realidade suficiente para ela. Seu queixo se ergueu, ela girou nos calcanhares e voou de volta para a escada novamente. Eu gostaria de poder dizer que senti simpatia naquele momento, mas isso seria uma mentira. Primeiro, porque sobre o que fiz, eu não tive culpa. Canalhas como Alejandro Cruz mereciam o fim que eu planejava dar a ele. Segundo, porque se ela sabia dos crimes dele e ainda assim o apoiava, isso a tornava uma verdadeira pessoa de merda também. Terceiro, bem, eu simplesmente não era bom com todas estas emoções pegajosas. Eu aprendi a bloquear essa merda no berço. Eu não fui criado em um ambiente que me permitiria mostrar fraqueza. E simpatia, por mais nobre que talvez fosse, era uma ~ 40 ~


fraqueza. Ela expunha um calcanhar de Aquiles. Ela mostrava onde alguém podia cortar você. Claro que havia inocentes afetados por minhas ações. A maioria dos canalhas não eram lobos solitários, não eram aberrações fazendo tarefas sujas, todos sozinhos em seus porões. Não. A maioria deles eram seus vizinhos da porta ao lado. A maioria deles tinha esposas, mães, irmãs, irmãos, amigos e colegas de trabalho. A maioria deles estava cercada por pessoas que os amavam e estavam completamente alheios aos seus crimes hediondos frequentes. Harold Grains, por exemplo. Ele não era uma aberração pesquisando a dark web em seu porão. Harold Grains era um homem de negócios bem-sucedido com dez pessoas em seu escritório que achavam que ele era um ótimo colega de trabalho. Ele tinha uma esposa há vinte anos em casa. Ele tinha uma filha quase adulta que não era sua maior fã, mas a julgar pela aparência totalmente gótica dela, era mais uma rebelião adolescente do que uma verdadeira aversão pelo homem que a criara. Ele tinha um irmão e pais que ele via em todos os feriados. Ele tinha amigos que via na igreja a cada três domingos. Se você olhasse para o homem do lado de fora, ele era apenas o cara comum. O triste era que a maioria dos molestadores de crianças e estupradores eram desse modo. Todo mundo ficava sempre chocado. O quê? Não! Não meu filho! Não meu garoto Charlie! Ele nunca trancaria mulheres em seu porão por uma década e as estupraria. Isso não é possível. Enquanto isso, a porra do doente fazia. E eles visitavam sua casa com mulheres sofrendo um andar abaixo. Era apenas uma questão de dias antes que os amigos e a família de Harold descobrissem que ele estava realmente desaparecido. Alguns ~ 41 ~


meses depois, eles provavelmente decidiriam que ele estava morto e ficariam de luto. E eles tinham até mesmo o direito. Porque não sabiam a profundidade de sua depravação. Eu frequentemente me perguntava se deveria compilar todas as provas e enviá-las para eles. Eu debatia se isso era uma gentileza ou a crueldade final. Uma parte de mim queria que eles soubessem que o homem por quem estavam sofrendo, não era nada parecido com o homem que eles pensavam que era, que ele havia causado sofrimento a inúmeros outros, que ele não era digno disso. Mas então me lembrei de como assisti algumas amigas dentro do She's Bean Around uma tarde. Uma delas, uma linda loira quase ruiva, obviamente mais tímida, mais acanhada, estava tentando explicar com clareza, com calma e sem emoções para sua melhor amiga morena que o namorado dela a vinha assediando por meses. Não importava que a loira quase ruiva tinha textos explícitos do dito namorado, tinha provas de que tudo o que ela tinha feito era dizer a ele para parar de mandar mensagens. A amiga se levantou, gritando sobre ela tomar conta de seu próprio maldito negócio e parar de se iludir sobre ele, e todos os tipos de besteiras. As pessoas eram muitas coisas em muitas situações diferentes. Mas, uma grande porcentagem delas, na maior parte do tempo, era irracional e reacionária. A família de Harold provavelmente sairia correndo para desacreditar a evidência, alegar que era uma piada cruel e defender o homem que eles conheciam. Porque se não, teriam que admitir que eram tão totalmente, tão completamente surdos, mudos e cegos para a verdade. Então, eu apenas mantinha essa merda para mim mesmo. Estava tudo bem. Estava acostumado a suportar o conhecimento da maldade das pessoas. Tenho feito isso desde criança. O que eram mais alguns anos?

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Se eu vivesse tanto tempo. Quanto mais tempo ela me mantivesse vivo, melhor a chance que eu tinha para fugir. Não porque ela necessariamente estaria enrolando. Era mais provável que perdesse a coragem de me matar. Agora que eu sabia que ela não era uma profissional, que esta era uma missão pessoal, sabia muito mais sobre Evangeline Cruz do que ela pensava. Assim que ela superasse o choque da minha honestidade, provavelmente perderia qualquer coragem, qualquer raiva justificada que a tinha alimentado o suficiente para seguir com seu plano de sequestro. E depois? Bem, essa era a questão, não era? Ela sabia que eu era um assassino impiedoso, sabia que eu tinha feito isso antes e faria de novo se deixado com meus próprios recursos. Ela arriscaria abrir aquela porta e me deixar ir? Pensando, erroneamente, que talvez a mataria. Talvez ela me drogasse, destrancasse a porta, e corresse. Ou, possivelmente, me drogasse, me carregasse de volta em seu carro novamente, e me levasse de volta para o meu lugar, então eu nunca saberia sobre o lugar dela. No caso de eu ter alguma ideia para vir atrás dela. Eu não iria, claro. Mas teria que respeitar esse nível de prudência. Ao ouvir o estalido distinto dos saltos um andar acima de mim, minha cabeça se inclinou para cima e para o teto, ouvindo o passo longo, então uma pausa, depois o passo novamente. Ela estava andando de um lado para o outro. Eu não tinha certeza se já tinha encontrado uma pessoa da vida real que andava de um lado para o outro quando estavam estressadas. Eu estava mais convencido que era uma invenção dramática usada no cinema e na TV. Isso continuou por quase meia hora também, apenas abafado ocasionalmente pelo que presumi que era um tapete, e o grito de uma

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arara era toda a prova que precisava para me mostrar que eu não estava perdendo meu toque. Sem ter muitos amigos, ou realmente nenhum, eu tinha muito tempo livre. Então, estudei pra caramba. No começo, coisas úteis para o meu estilo de vida - como navegar na dark web, codificação básica, hacking avançado, eliminação de restos mortais, melhores métodos de matar e como interrogar. É só você dizer, eu estudei. Eu era um filho da puta de enciclopédia do crime. Mas quando isso ficou sem graça, eu apenas lia merda aleatória. Aprendi mais digitando e movendo o cursor na frente do meu notebook do que aprendi em todos os anos de escola juntos. Qualquer coisa poderia ser isca de clique para mim. Como escrever um filme de terror? Claro, por que não. Padrões de migração de aves norte-americanas? É, poderia ser útil. Como desmantelar completamente um carro e montá-lo de volta? Eu raramente dirigia, mas por que não aprender essa habilidade essencial à vida, de qualquer maneira, certo? E como eles geralmente não eram tópicos de discussão normal, nas raras ocasiões em que me envolvia em tal coisa, era bom saber que meu cérebro não tinha feito um Traço Mágico e deletado toda aquela velha e menos-do-que-útil informação. Eu acertei sobre aquela arara, maldição. Isso era bom se me é permitido dizer. Considerando que eu não tinha absolutamente nada com o que me ocupar nas paredes vazias da minha cela, tive que voltar minha atenção para a primeira e única Evangeline Cruz, para me impedir de não ficar louco. Eu tinha ouvido falar dela, claro, quando pesquisei sobre seu pai. No entanto, não achava que ela realmente sabia toda a história de sua vida. Se ela soubesse, não acho que estaria tão abalada sobre seu velho.

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Era possível que ela soubesse, mas estava muito programada para ver como ele estava deturpado. Isso acontecia a porra de muito mais vezes do que as pessoas se davam conta. Estava se tornando cada vez mais difícil, nos tempos modernos, para os pais continuar a forçar as crianças a acreditar em crenças antiquadas ou completamente formidáveis, com as escolas públicas, a internet e o fato de que a maioria das pessoas não eram idiotas ignorantes. Mas Alejandro Cruz teve uma oportunidade única com Evangeline, que a maioria dos pais não tem mais. Ele a criou longe da maioria das influências externas. A julgar por quão pouca coisa on-line eu consegui encontrar dele, e absolutamente nada de Evangeline, era seguro dizer que ele simplesmente... manteve esta parte do mundo longe dela. O que não seria muito difícil, dadas as partes remotas do mundo que ele geralmente viajava com ela a reboque. Não havia wi-fi ou torres de celular. Ela só sabia o que ele queria que soubesse. Porque tudo o que precisaria é de dez minutos em uma pesquisa básica no Google para descobrir o que eu descobri. Você nem precisava da dark web. Então, ela obviamente nunca teve a chance de fazer isso. E quando um amado pai morria, não era exatamente um pensamento comum entrar na Internet e desenterrar a sujeira dele. Se ela não tivesse vindo atrás de mim, provavelmente teria sido capaz de viver uma vida longa e ir para o túmulo sem nunca saber a verdadeira natureza do homem, que tinha obviamente, só mostrado a ela seu lado bom. Mesmo as partes mais vis da escória dos seres humanos frequentemente tinham um lado bom. Caso contrário, eles nunca seriam capazes de escapar com o que conseguiam escapar. Eu estava começando a me perguntar se ela ia deixar as coisas passarem enquanto seu ritmo ficava mais lento acima de mim. Mas então houve uma pausa antes que os cliques se movessem na direção reveladora através da casa, sobre minha cabeça. Uma porta. Então

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outra. Então o clique logo acima da escada. Outra pausa. Estava tão quieto que eu podia jurar que conseguia ouvi-la puxar, depois soltar uma respiração profunda antes de começar a se mover para baixo, seu ritmo lento e deliberado. — É irônico, — ela disse, movendo-se em minha direção, a aversão ardente em seus olhos, — que você o pegaria por crimes pelos quais você mesmo é culpado. Eu balancei a cabeça com isso. — Não, boneca, os crimes dele, com certeza pra caralho, não são meus crimes. — Ele matou pessoas. Você mata pessoas. — Eu não dou a mínima para criminosos matando outros criminosos. — Então eu não sei quais eram os crimes dele, — ela disse, olhos semicerrados e cabeça balançando. Naquele momento, eu o senti. Era tão desconhecido que quase não o reconheci. Pavor. Eu estava com receio de contar a verdade a ela. De todas as coisas estupidas para se sentir. E, no final do dia, eu acreditei na honestidade quando pedi por ela. Então, mesmo que meu estômago estranhamente com a ideia, eu dei a ela.

estivesse

apertado

— Cruzando três continentes e abrangendo três décadas, Alejandro Cruz era conhecido como um notório,cruel e brutal estuprador em série.

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Evan

Era como se tudo dentro de mim desligasse ao mesmo tempo. Meu cérebro simplesmente ficou em branco, bloqueando cada pensamento, exceto um. Não. Simplesmente... não. Ele estava mentindo. Ele tinha que estar mentindo. Não havia como meu pai, meu bom, devoto, gentil e amoroso pai ser algum pedaço de merda de um estuprador em série. De jeito nenhum. Isso não era possível. Aquele foi um homem de quem estive ao lado diariamente toda a minha vida. Eu nunca tinha visto ele sequer assobiar para uma mulher antes. Ele não olhava maliciosamente, não ameaçava, não agarrava bundas ou fazia avanços indesejados. Na verdade, eu só o vi dançar ou compartilhar uma bebida com uma mulher antes. Tudo era sempre amigável. Meu pai era um homem “bom” no sentido tradicional? Bem, ele matou pessoas. Então, não. Mas eu, absolutamente, me recusava a acreditar que ele era algum monstro maligno como Luce estava sugerindo. Ele tinha que ter o nome errado, tinha que estar equivocado.

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— Não posso ajudá-la a aceitar a verdade se você vai escorregar direto para a negação ignorante. — Eu não sou ignorante, — eu cuspi imediatamente, sentindo minha pulsação começar a bater na minha garganta e nas têmporas, fazendo-me sentir imediatamente superaquecida, mesmo no porão fresco. — Você está enganado. — Se você fizesse alguma mínima pesquisa sobre mim Evangeline, você saberia que essa é uma coisa ridícula para se dizer. Eu nunca estou enganado. Eu nunca chego em alguém a menos que saiba com cento e dez por cento de certeza que eles fizeram o que estão sendo acusados. — Sua matemática estava fora desta vez. — Pegue para mim um telefone ou notebook, e posso provar o contrário. O mais louco era que, mesmo através da camada de negação, eu não ouvia nada além de uma sinceridade confiante em seu tom. Mas, levando em conta, ele pensava que estava lutando por sua vida. Ele diria qualquer coisa para salvar sua pele. E sendo um criminoso de longa data, supunha-se que sabia como mentir bem. Não era como se ele pudesse simplesmente andar por aí em sua vida, respondendo coma verdade ao típico ‘ei, o que está fazendo hoje. Ah, ei Bill. Apenas desmembrando alguns corpos com uma serra. Quem sabe alguma aquisição chinesa. Você sabe, o de sempre’. Ele estava jogando comigo. Caso encerrado. E, inferno, eu não podia nem o culpar por isso. Ele provavelmente mentiu sobre o cianeto também. É verdade que meu pai sempre o carregava. E sim, estava escondido em seu rosário. Mas ele era para situações em que fosse pego por um cartel e torturado, ou coisas deste tipo. Luce provavelmente descobriu sobre isso depois que o matou, quando estava revistando seus pertences pessoais. Ele era quase assustadoramente observador, teria notado que aquela conta não era brilhante e lisa como as outras. ~ 48 ~


Ele provavelmente acabou de catalogar essa informação e a vomitou de volta para mim, para tentar me fazer pensar duas vezes sobre mantê-lo em cativeiro e, eventualmente, obter minha vingança. — Certo. Como se eu confiasse em você com um notebook. O homem que podia fazer uma arma de papel alumínio. — Embora seja verdade que qualquer notebook conectado à internet possa ser transformado em um dispositivo incendiário, você precisa de outro dispositivo para ativar isso. Então, o que eu vou fazer com isso? Bater na sua cabeça? Caia na real. Sendo um prisioneiro, ele deveria estar implorando pela minha misericórdia, beijando minha bunda, tentando buscar meu lado bom. Mas ele estava fazendo isso? Não, claro que não. Porque eu tinha que ter o prisioneiro convencido, com ar de superioridade, sabe-tudo e idiota. — Não? — ele perguntou, me observando com aqueles olhos profundos e insondáveis, de um modo que juro que parecia, de alguma forma, ver direto através de mim, ver dentro de todos os meus cantos escuros e cobertos de teias de aranha, ver todas as coisas que eu queria manter escondidas. E por que esse pensamento deixou um arrepio não de desconforto, mas de antecipação, percorrer através de mim, estava muito além da minha compreensão. — Bem, faça um favor a si mesma, ligue um notebook e faça uma busca rápida. Realmente não vai demorar muito para mandar você de volta aqui para baixo, para mim. Para algumas respostas reais. Há muitos espaços vazios que eu posso preencher. — Porque eu deveria confiar em qualquer coisa que você tem a dizer. Você faria qualquer coisa para tentar salvar sua própria pele neste momento. — Eu faria? — ele perguntou, os lábios se curvando muito levemente. — Sabe, você saiu correndo daqui de um jeito tão histérico na última vez, que esqueceu de se certificar que eu joguei fora o papel alumínio. Mas como você pode ver, — ele disse, acenando uma mão para o chão do lado de fora de sua cela, onde o papel podia claramente ser visto, — eu o joguei fora de qualquer maneira.

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— Provavelmente parte do seu grande plano, — eu resmunguei. Eu estava perdendo meu argumento e sabia disso. — Certo, porque eu podia ter antecipado exatamente como essa conversa se seguiria. Eu devo ser um fodido gênio. Honestamente, estava começando a pensar que ele podia ser. E isso era um pouco aterrorizante. Algum brutamontes com dois neurônios, algum músculo sem cérebro, podia lidar com isso. Eu estive muito em volta desses na minha vida. Era fácil superar alguém que pensava mais com seu pau do que com seu cérebro. Mas Luce, esse esquivo, letal, intimidador observador chamado vigilante, não era um brutamonte irracional. Na verdade, ele não era nem um pouco brutal. Um pouco ríspido? Claro. Talvez meio frio? Sim, isso também. Mas no departamento cerebral, tinha certeza que era demais para mim. Eu não gostava nada disso. — Dificilmente, — eu disse com um revirar de olhos dramático. — Bem, por que você não vai em frente e fica agradavelmente confortável, — eu ofereci sarcasticamente, acenando com a mão para o chão de cimento frio e inflexível. — Nós podemos conversar um pouco mais quando você decidir deixar de ser tão espertinho. Eu me inclinei e peguei o papel-alumínio, caso ele tenha algum plano elaborado para usar os cordões de seu capuz e seus cadarços para recuperá-lo, acreditando que ele era inteiramente capaz disso, me virei e subi calmamente a escada. Onde prontamente comecei a surtar totalmente. Quer dizer, o que mais podia ser esperado de mim? Toda essa interação era apenas... surreal. Surreal Irreal.

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Isso foi o que continuei dizendo a mim mesma enquanto eu despejava mais ração de pássaro no prato de comida de Diego, em sua bancada de diversões, onde ele estava alegremente arrumando suas penas, se preparando para dormir depois de seus gritos de acordar o bairro. Eu ainda dizia a mim mesma aquilo, enquanto tirava a roupa e tomava banho, sentindo como se o dia todo tivesse sido uma camada de imundície e lodo sobre cada centímetro da pele, que eu precisava esfregar até ficar vermelha e próxima a carne viva. Eu ainda estava tentando dizer a mim mesma aquilo, enquanto vestia uma camiseta e uma calça de pijama, sentava na minha cama e estendia a mão para alcança-lo. Meu notebook. Eu não ia fazer o que ele disse. De jeito nenhum. Porque sabia quem era meu pai. Eu ia apenas verificar o tempo, meu e-mail, novas histórias. Eu tinha perdido muito em relação à internet estando fora da rede como tinha estado. Eu já a tinha usado antes, claro. Meu pai não queria que eu fosse uma completa Luddite6. Mas meu uso era apenas alguns minutos aqui e ali, a cada um ou dois meses. Eu não tinha ideia o quão útil ela podia ser em muitas maneiras, podia fazer pedido de mantimentos online, podia manter minha casa segura sem nunca falar com outro ser humano. Não era de admirar que os americanos eram tão infelizes. Eles nunca interagiam uns com os outros. Quero dizer, nem uma vez, em toda a minha vida, eu tinha jantado sozinha até me mudar de volta para os Estados Unidos. Muitas vezes não era inclusive somente meu pai e eu também. As refeições eram uma coisa comunitária. Elas eram para compartilhar riquezas, para compartilhar histórias, sabedoria, alegria mútua. Elas eram sempre a minha hora favorita do dia, o jantar. Nunca importava que 6 Um membro de qualquer um dos bandos de trabalhadores ingleses que eram contra a introdução de novos métodos de trabalho e máquinas, que eles acreditavam estar ameaçando seus empregos (1811 a 1816).

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essas pessoas, muitas vezes, não tivessem a menor ideia de quem nós éramos, elas nos recebiam de braços e corações abertos. Inferno, eu fui a um bar há alguns meses atrás, e as pessoas sentando quase ombro-a-ombro umas com as outras estavam continuamente olhando para a frente nas TVs. Ninguém interagia mais. Era tudo digital. E embora era bom que fosse um jeito para reunir pessoas que nunca seriam capazes de conhecer umas às outras de outra maneira, mesmo assim era insuficiente. Nada se comparava verdadeiras cara-a-cara.

com

compartilhamento

de

interações

Apenas mais uma coisa que perdi da minha antiga vida. Mas eu me ajustaria. Se havia uma coisa que ser nômade toda a sua vida lhe ensinava, era como ir ininterruptamente de um extremo a outro, para aceitar as coisas à medida que elas chegavam até você. Eu exalei forte, balançando a cabeça. Se eu acreditasse nisso, se acreditasse que as coisas vinham até você, que você deve aceitá-las ao pé da letra, por que então estava sendo tão relutante em abrir uma nova janela e fazer a busca que Luce me desafiou? Era porque havia uma parte de mim – ainda que uma minúscula parte de mim - que se perguntava se talvez havia mesmo uma pequena chance de ele estar correto? Eu não tinha certeza, entorpecidos, comecei a digitar.

mas

Apenas o nome dele. Apenas Alejandro Cruz. Não estuprador.

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com

dedos

estranhamente


Apenas um homem. Um de muitos. Não havia nada nem sequer relacionado a ele há muito tempo, apenas outros homens com o mesmo nome que haviam feito mais coisas públicas com suas vidas. Dez páginas da pesquisa, meus ombros relaxaram, meu peito se soltou o suficiente para me permitir respirar corretamente, meu queixo se afrouxou, fazendo-me perceber pela primeira vez o quanto doía. E foi neste momento, bem neste segundo, enquanto balançava minha mandíbula para se soltar, que meus olhos pegaram. O Estuprador de Papua Nova Guiné. Essa era a manchete, fazendo meu coração despencar e minha barriga torcer dolorosamente enquanto forçava meus olhos para baixo, para ler a sinopse sob a manchete. E esse foi o primeiro fragmento de prova que Luce não estava mentindo. Porque havia o nome dele. Alejandro Cruz era o estuprador de Papua Nova Guiné. Eu examinei o artigo mesmo enquanto minha mente vagava de volta para nossa primeira viagem lá. Eu me lembrei da conversa séria que tivemos quando pousamos, antes que ele inclusive me deixasse entrar no carro. Nós estávamos parados no calor sufocante, o sol batendo implacavelmente. Com dezessete anos, estava aborrecida com a longa viagem e ansiosa para chegar a algum lugar para tomar banho, comer e ter um pouco de sono que não fosse interrompido pela turbulência ou pela conversa alta de outra pessoa. Mas algo nos olhos dele me impediu de resmungar. Meu pai não era frequentemente sério comigo. Então, eu sabia que era hora de ouvir. — Esta é uma terra muito diversificada, — ele começou. Revirei meus olhos para isso. Eu sabia disso, tinha aprendido isso do livro que ele jogou para mim enquanto ainda estávamos no Chile, me

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dizendo que era nossa próxima parada, e que eu precisava revisar o país. Essa era muito a técnica de ensino domiciliar com meu pai. Papua Nova Guiné era um dos lugares mais diversificados do mundo, com mais de oitocentos idiomas conhecidos, grandes quantidades de "povos não contatados" e, por ser um dos territórios menos explorados do mundo, pensava-se que era considerado o lar de muitos animais e vida vegetal desconhecidos. — Não me dê esse olhar, menina, — ele repreendeu, falando comigo por estar sendo um pé no saco. — Isso é sério. — O que é tão sério? Eles não podem ser piores que aqueles cartéis na Colômbia, papi. — Você não terminou o livro, não é? — mais uma vez, havia a irritação em sua voz. Ele muitas vezes nem sempre precisava me dizer o quanto estava desapontado, estava em seu tom. — Eu li a maior parte. Eu dei uma olhada por cima no capítulo da lei. — E esse capítulo da lei é o que me faz ficar aqui te avisando, Evan. — E então ele foi em frente e disse algo que, como o tempo provaria, pelo visto, foi completamente irônico. — Papua Nova Guiné é classificado como o país número um por violações dos direitos humanos contra mulheres. Cinquenta por cento das mulheres neste país são estupradas. Sessenta por cento deste cinquenta por cento acontece antes da idade de dezoito anos. Eu senti meu estômago revirar com esses fatos. Mesmo aos dezessete anos, mesmo sexualmente tão branca como um lírio, essa palavra teve um efeito doloroso no meu sistema. E já não parecia que estivesse a trinta e oito graus à sombra. Porque eu estava toda fria. — Você entende o que estou dizendo a você? Eu tive que engolir antes de falar, sufocando a bile que parecia se formar na minha garganta. Porque este nunca foi um assunto que eu precisasse ter conhecimento antes. Não porque não era um problema. Havia pervertidos, molestadores de crianças em todas as culturas. O tráfico humano era um problema muito real e crescente. Mas isso ~ 54 ~


nunca tinha estado realmente no meu radar. Meu pai me protegia. Meu pai era temido pela maioria. Ele nunca precisou colocar medo em mim porque nunca tinha sido necessário. Portanto, se ele estava me contando, então a questão era séria. E isso era aterrorizante. — Sim. — Você me tem a maior parte do tempo, — ele me confortou, tocando meu ombro. Eu sempre o tive a maior parte do tempo. O trabalho sempre o afastava de mim, muitas vezes me deixando na companhia de algum grupo local de mulheres que prometiam me fazer companhia e, digamos assim, segura. Mas este era um país onde metade das mulheres não estava em segurança. Elas não seriam capazes de me proteger. — E isso, — ele disse, pondo a mão dentro de sua mochila e tirando um pequeno retângulo de material de couro grosso, amarrado frouxamente no centro. — É o que você tem quando não estou aqui, — ele me disse, abrindo a aba em cima para revelar oito pedaços de madeira, como palitos de fósforo, pontiagudos, ligeiramente brilhantes e finos. — Um arranhão e eles estarão morrendo em segundos. Então você mantém isso com você o tempo todo, — ele disse, pondo a mão de volta dentro da mochila para pegar uma longa tira de couro que ele enfiou através de dois buracos no saco, depois veio para amarrar em volta da minha cintura. — E você usa isto até mesmo se houver uma sugestão de avanços não desejados. Sim? Meu estômago se revirou com a ideia. Uma coisa era aprender sobre venenos, conhecer seus efeitos de um jeito meio distante. Outra coisa, completamente diferente, era estar disposto a infringi-los em um ser vivo. Mesmo se o dito ser humano merecesse. Mas balancei a cabeça com certeza, apesar de sentir qualquer coisa, exceto isso.

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Foram quatro dias depois, em algum vilarejo remoto onde as mulheres ficavam com os seios nus, algo que não era incomum para mim, já que eu tinha visto isso em inúmeros lugares e tinha crescido recentemente os meus próprios, e estava meio feliz com eles, os homens usavam nada mais do que tangas. Era uma prática que eu costumava achar quase encantadoramente selvagem, mas neste novo lugar, nesta capital mundial de violação dos direitos das mulheres, tudo o que meu cérebro parecia conseguir imaginar era se eles as usavam isso para que tivessem acesso fácil aos seus paus infratores, quando eles queriam levar uma mulher à força. Minha mão foi para baixo e ficou na bolsa enquanto eu assistia meu pai desaparecer. Não tinha ideia na época que ele não estava fazendo negócios. Não, de acordo com este artigo, este artigo bem aprofundado e muito bem pesquisado por um repórter investigativo conhecido e respeitado, ele esteve fora cometendo uma cadeia de estupros de gangues com outros homens como ele - estrangeiros, procurando causar terror em um continente diferente e se safar. Que lugar melhor do que um país onde as mulheres eram tão subjugadas, tão acostumadas aos abusos dos homens? Eu desci a página um pouco mais, meu estômago se apertando em nós. E foi quando eu vi a pior coisa que poderia imaginar ver. Eu vi meu pai, roupas apenas parcialmente fechadas, em pé ao lado de um grupo de outros homens similarmente vestidos, todos de regiões diferentes, pela aparência deles, sorrindo. Essa não era a parte ruim. Ah não. A parte ruim era pelo o que eles estavam aparentemente sorrindo. Um grupo de mulheres nativas nuas deitadas no chão a vários metros de distância agarrando-se umas às outras, e chorando.

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Eu voei para fora da cama, correndo tão rápido para fora do quarto que meu quadril colidiu com força total no batente da porta, enviando uma dor aguda ao meu corpo. Mas não havia tempo para pensar sobre isso. Porque a bile não era apenas mais bile. Eu me agachei no chão de ladrilho frio e deixei tudo expurgar para fora. O vômito, claro. Este foi o primeiro. Violento. Aparentemente sem fim. Então, depois que não havia mais nada no meu estômago, quando assoei o nariz e enxaguei a boca, as lágrimas começaram. A dor começou. Era uma sensação de arranhar, rasgar, como se alguma coisa estivesse tentando sair do meu peito. E, percebi com um gemido alto, sabia exatamente o que estava tentando se libertar do meu corpo - meu coração. O amor do meu pai. Porque você não podia ou, mais precisamente, eu não podia amar um homem tão vil. Eu não podia ser esse pedaço de merda, um membro da família sem caráter parada ali dizendo, ‘mas ele era bom para mim’ enquanto o bastardo brutalizava outras mulheres. Foda-se isso. O mal é para quem o pratica. E o mal era algo que vivia dentro do meu pai, era uma parte grande o suficiente dele para fazê-lo viajar pelo mundo, não para expandir meus horizontes, não para me dar uma infância que muitos invejariam, mas para se safar com estupro em série enquanto usava a máscara de um pai amoroso. Eu me recusava a ser seu álibi. Porque não havia como se esconder mais. Eu me recusava a ser sua advogada de defesa também.

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Porque suas ações eram indefensáveis. Eu me abaixei de volta no chão, puxando meus joelhos para o meu peito, envolvendo meus braços em volta deles e puxando com força. Havia essa forte e quase avassaladora sensação de desmoronar, que se eu não me mantivesse unida fisicamente, poderia verdadeiramente me quebrar em pequenos pedaços. Haveria apenas lascas de mim que seriam muito pequenas e irregulares para colar de volta. Eu não podia dizer a você qual impulso foi esse que me puxou para cima, movendo-se silenciosamente pela minha casa, então, estranhamente dentro da garagem e para baixo na escada, o chão de cimento gelado na minha sola nua, deixando arrepios pelas minhas pernas e meus mamilos endurecidos. — Você está bem? — A voz de Luce me alcançou de sua posição sentada contra a parede dos fundos, bem acordado ainda. Seus olhos profundos e as pálpebras pesadas pareciam ainda mais recuadas com o cansaço. Ele deveria ser o inimigo. Eu não tinha ideia do por que as palavras saíram da minha língua, mas saíram. — O estuprador de Papua Nova Guiné? — eu resmunguei, os olhos ardendo de novo, sugerindo uma nova torrente de lágrimas, e sabia que o som estava pesado em minha voz. Ele me observou por um longo momento, parecendo não demonstrar nenhuma reação a toda bagunça que eu sabia que devia estar nesse momento. O que era estranho para mim. Geralmente, havia alguma reação – especificamente desconforto, um medo estranho, uma impotência, alguma coisa. Não em Luce. Ele estava tão vazio como sempre. — Isso foi o mais longe que você conseguiu? — Antes do meu jantar decidir voltar para cima, sim, — eu admiti quando ele se levantou lentamente de sua posição sentada, e se moveu pelo chão para estender a mão e agarrar as barras, a menos de um ~ 58 ~


passo de mim. Ele podia ter esticado a mão para fora, me agarrado e batido minha cabeça contra as barras em um piscar de olhos. Mas ele não fez. — Estava com ele naquela viagem, — eu admiti, incerta do por que estava dizendo isso. Talvez apenas precisasse purgar isso, e ele era o único que entenderia. — Ele me avisou quão crônica a agressão contra as mulheres era, e me deu um saco de veneno para ficar comigo. Você sabe, enquanto ele mesmo sais e atacava as mulheres. — Para que isso? — ele perguntou estranhamente, mas então sua mão se moveu entre as barras, seu dedo gentilmente limpando as lágrimas de uma das minhas bochechas. — Porque meu pai é um estuprador repugnante. — Bem, você está os dois: certa e errada, — ele disse, fazendo minhas sobrancelhas se unirem. — O que você quer dizer com estou errada? Você foi quem me disse que ele era um estuprador em primeiro lugar. — Verdade. E ele é isso. Pior do que você imagina também, infelizmente. Eita. Isso dói. Eu não achava que pudesse haver uma sensação pior no meu peito do que havia sido meia hora antes, mas estava obviamente errada. Havia sempre mais dor, nova dor, dor mais profunda. Sempre. — Então, sobre o que eu estava errada? — Nunca olhou para o seu pai, boneca? — Eu olhei para ele todos os dias da minha vida, — eu disse, os olhos semicerrados. — Nunca se olhou no espelho? — O que você está tentando dizer aqui? — eu perguntei, sentindo meu estômago apertar.

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— Não estou convencido de aquele fodido era seu pai. Ok. Sim, não éramos exatamente parecidos. Isso era definitivamente verdade. Meus traços eram mais delicados, meus olhos muito escuros, quase pretos. Os traços do meu pai eram muito largos, quase corpulentos. Ele era alto, ombros largos, peito musculoso. E seus olhos, bem, eles eram cor de mel. Mas eram precisos dois para dançar, como dizem. Eu sempre imaginei que devia ser parecida com minha mãe. — Não percebi bem isso no começo, mas quanto mais tempo olho para você, menos provável eu creio que vocês dois compartilham algum DNA. Isto é, sua pele é um tom completamente diferente da dele. Ele tinha um tom moreno. Você é cálida. — Eu tive uma mãe em algum momento, — eu concluí. — Olhos cor de mel versus quase preto. Você é comprida e magra, mas mantém seu peso em seus quadris. Ele mantinha o dele em seu peito e barriga. O cabelo dele era pelo menos cinco tons mais claros. — Isso é tudo circunstancial. — Ele tinha aquela covinha gigante no queixo também. Você não tem um pingo disso. — O único modo que provaria alguma coisa seria se minha mãe também tivesse uma covinha, e eu não. Mais uma vez, não sei nada sobre ela. — É muita coisa, — ele disse, balançando a cabeça. — Eu gosto quando as coisas fazem sentido e algo está errado com a matemática aqui. — Então deveria apenas... trazer para você um notebook e deixar você bisbilhotar mais um pouco a minha vida? Havia amargura no meu tom, cujas origens não tinha certeza. Por que ser amarga? Não era culpa dele. Não atire no mensageiro e essas coisas do tipo. Mas, dito isto, não podia confrontar a fonte da minha raiva, ressentimento e dor. Ele tinha ido. Nunca haveria encerramento ali.

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Além disso, em uma pesquisa na internet, todo o plano da vingança perfeita simplesmente... desapareceu. Eu não tinha mais o direito de manter Luce. Ele não tinha feito nada para mim. Ele tentou fazer algo que eu, na verdade, achei louvável. No processo, ele tinha me libertado. Claro, doeu. Pode sempre doer. Mas esse era o preço que você tinha que pagar pela verdade, às vezes. E, sinceramente, eu tinha que libertá-lo. Eu virei as costas sem nada mais, subindo de volta a escada e fui para o meu quarto, onde peguei a chave e fiz meu caminho de volta para baixo. — Onde está o notebook? — ele perguntou, sobrancelhas erguidas juntas. Eu fui em direção à porta, apertando a fechadura e virando, ouvindo o clique, depois o gemido das articulações não lubrificadas. — Em sua casa, — eu respondi, movendo-me ligeiramente para o lado da porta, para permitir que ele passasse. — Você está simplesmente me deixando sair, — ele meio que perguntou, meio que declarou, encostando-se contra as barras de sua prisão, cruzando os braços sobre o peito, olhando-me como se eu tivesse ficando louca. — Eu não posso te manter aqui. Você não fez o que pensei que você tinha feito. — E se eu tivesse? — ele provocou. — Mesmo se você tivesse, provavelmente deixaria você ir. Agora que eu sei a verdade. — Tenho que dizer, eu estou gostando de sua habilidade de ser racional sobre essa merda.

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— Puxa, obrigada, — eu murmurei. Eu não tinha exatamente certeza se era saudável ser racional sobre tudo isso. O amor não deveria triunfar sobre tudo? Não deveria uma filha ser capaz de perdoar os pecados do homem que a amou e a criou? Eu não sabia sobre se deveria, mas sabia que não ia. Porque ser bom para mim não desfazia todo o mal que ele fez para quem sabia lá quantos mais. Se o seu mal superava o seu bem, então você era ruim. Isso era matemática simples, na verdade. E talvez, se os crimes dele fossem apenas mais assassinatos de pessoas merecedoras, eu poderia ter ignorado. Isso era diferente. Isso era horrível. Não havia desculpa para o nível da maldade dele. E sabendo que ele tinha feito isso para outras mulheres enquanto me protegia do mesmo destino? Pois bem, não. O desgraçado. — Olha, eu acho que é bom ser capaz de compartimentar as coisas. — Diz o robô, — eu concordei, contraindo-me ao tom sarcástico, sem gostar que estava sendo cruel com alguém que não merecia isso. — Imagine quanta merda eu tive que aprender a encaixotar em arquivos protegidos por senha, em um disco rígido externo para que a maldita placa mãe não explodisse Evan, — ele disse, um tom quase um pouco... triste? Foi nesse exato momento, desaparecido antes que pudesse apreciar totalmente sua profundidade, que esse estranho vigilante, um cara quase robótico, me mostrou o que tinha por baixo. E o que tinha por baixo era um poço de dor tão profundo, que deixou o que eu estava sentindo parecer positivamente edificante em comparação. Eu não conhecia o homem.

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Eu duvidava que ele fosse querer me conhecer também. Mas, independentemente de tudo isso, tinha uma necessidade quase esmagadora para saber o que o tornou como ele era. Por quê? Eu não tinha ideia. Talvez fosse tão simples quanto o fato de que ele conhecia toda a minha escuridão agora, e eu queria que as coisas fossem mais equilibradas. No entanto, uma parte de mim achava que talvez fosse mais do que isso, que talvez esse solitário enigmático me intrigasse, agora que eu finalmente entendia suas motivações. — Não tenha pena de mim, boneca. — Eu não estou com pena de você, — eu atirei de volta imediatamente, balançando a cabeça. Isso estava tão longe da verdade quanto possível. — O que então? — Eu não sei. É... curiosidade, eu acho, — eu admiti, encolhendo os ombros, tentando parecer casual. — Sobre mim? — ele perguntou, sorrindo maliciosamente, e isso fez coisas maravilhosas em seus olhos escuros. — Eu estou imaginando que se você foi capaz de me rastrear, você já fez uma boa quantidade de pesquisa. — Seu sorriso ficou perverso então, fazendo a pele ao lado de seus olhos se enrugar levemente. — Diga-me, você se deparou com toda aquela fanfic erótica escrita sobre mim? Então, eu tinha uma tendência a não corar, mas mostrar desconforto, de alguma forma, nas minhas feições. Eu não tinha certeza exatamente qual era a combinação de mudanças, mas todo mundo que já conheci, podia ler direto dentro de mim quando estava envergonhada. E, vendo que eu tinha não apenas me deparado, mas lido, e que se referia a erotismo intenso, estava malditamente envergonhada como o inferno.

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Eu não tinha a intenção de ler, juro! Mas eu vi a fanfic em um site chamado ‘Os Amores de Luce’, e achei que talvez houvesse informação sobre o paradeiro dele. Não havia, mas havia uma seção para escrever, a qual abri só por precaução, pois me pareceu que uma das escritoras havia encontrado Luce pessoalmente e podia, portanto, me apontar em uma direção se eu estivesse procurando por ele. Então comecei a ler. Essa mulher, quem quer que fosse, na verdade, chegou muito próximo da descrição de como Luce realmente parecia. Exceto que ela o fez excessivamente tatuado e com olhos verdes. Pessoalmente, eu preferia o verdadeiro Luce. Eu sempre fui uma otária por olhos castanhos. Mas, à parte da descrição física levemente imprecisa dele, sim, ela, bem, ela escreveu um anti-herói convincente. Aquelas cenas de sexo também, sim, eram, hum, realistas. Oh droga. Eu não deveria estar pensando sobre elas nesse momento. Porque uma imagem vívida e brilhante de uma daquelas cenas detalhadas passou rapidamente na minha frente. Mas em vez da versão do Luce tatuado e de olhos verdes assumindo a liderança, era a versão real em carne e osso, em vez disso. Dobrando-me sobre uma pia em seu lugar de matança, mãos segurando forte meus seios, dedos beliscando meus mamilos, pau duro pressionando contra a minha bunda. E então... — Vou tomar isso como um sim, — a voz de Luce cortou a cena em minha mente, arrancando-me dela tão rápido que eu juraria que tinha sido chicoteada. Puta merda Puta merda Isso não acabou de acontecer. Eu não acabei de ter uma fantasia sexual vívida sobre o homem que tinha planejado matar meu pai. Um homem que estava mantendo como prisioneiro. ~ 64 ~


E eu, claro, não tive essa fantasia frente do dito homem que por acaso era bizarra que já conheci em minha vida, e minha respiração ficou irregular, minha semicerrados.

enquanto estou parada na a pessoa observadora mais provavelmente captou como pele corada e meus olhos

— Não fique envergonhada, — ele continuou, sua voz soando mais próxima. Quando forcei minha cabeça para cima, percebi que era porque ele silenciosamente havia fechado a distância entre nós e estava parado no pequeno espaço da porta aberta comigo. — Não estou envergonhada, — eu insisti, tentando me recompor, sabendo que estava falhando epicamente, vendo como havia uma chata, mas insistente, sensação de necessidade latejante entre as minhas coxas. — Não? — ele perguntou, a cabeça se inclinando para o lado ligeiramente. — Então explique isso, — ele disse, passando um dedo pela minha bochecha que parecia aquecida. — E isso, — ele seguiu em frente, seu dedo deslizando para cima, para acariciar perto do meu olho que parecia pesado. — E isso, — ele continuou, seu dedo se movendo para baixo, roçando meu lábio inferior. Juro por Deus, esse movimento enviou um arrepio através do meu sistema. E não foi um sutil. Não, foi um que abalou meu corpo inteiro. Um que Luce não só viu, como também sentiu. — Achei que sim, — ele disse, sua voz grave. Seus olhos pareciam mais profundos quando de repente, algo que não consegui reconhecer inteiramente para o que era, até que o que aconteceu em seguida, bem, aconteceu. Sua mão deslizou pela minha bochecha, pairando sobre o comprimento do meu pescoço, em seguida, enrolando-se em volta dele. Suave. Foi tudo tão suave. Isso até que ele me deu um puxão para frente, forçando-me a colidir em seu peito, enquanto ele mantinha minha cabeça inclinada para cima, deslizando os dedos no meu cabelo e puxando. E seus lábios desabaram nos meus. O choque deles enviou uma sacudida pelo meu corpo. Mas o choque foi substituído por algo totalmente diferente, algo mais profundo, algo arranhando, carente, indescritível. Fez o seu caminho para cima, da base da minha coluna e lentamente fluiu para ~ 65 ~


fora, escorregou para dentro das minhas próprias veias e me aqueceu de um jeito que eu não tinha certeza de já ter experimentado antes. Então, sem pensar em como era esquisito, sem questionar minha sanidade ao fazer, minhas mãos subiram e se enrolaram em seus braços, segurando seu corpo perto enquanto meus seios pressionavam mais forte no peito dele, enquanto meu quadril se alinhava com o dele. Seus dentes beliscaram meu lábio inferior, arrastando um gemido irregular de mim quando meus lábios se separaram e sua língua moveu-se para dentro, para reivindicar a minha, sua mão apertando meu cabelo. Seu outro braço se moveu ao redor da parte inferior das minhas costas, segurando-me ainda mais firmemente a ele enquanto sua língua invadia, possuía, então recuava, permitindo seus lábios selarem nos meus novamente. Meu coração era um martelar desesperado no meu peito. A pulsação entre as minhas coxas tornou-se quase esmagadora, uma necessidade insatisfeita extremamente dolorosa que fez meu quadril se pressionar mais forte contra o dele, sentindo o contorno de seu pau, e parecia haver um vazio imediato no íntimo que precisava de satisfação. Em resposta a isso, houve um ruído de choramingo totalmente incontrolável do fundo do meu peito que se expandiu para fora, de entre os meus lábios e fazendo um rosnado soando igualmente necessitado ressoar através do peito de Luce. Eu tinha certeza que o tormento chegaria ao fim, que a mão dele deslizaria entre nós e trabalharia em mim com seus dedos até que a dor se transformasse em prazer e que se transformasse em outra coisa completamente diferente. Mas isso não foi o que aconteceu. Em um momento, ele estava me beijando como se a guerra tivesse acabado. No próximo, seus lábios se arrancaram dos meus, suas mãos afrouxaram seu aperto, então voltei aos meus pés e sua testa pressionou na minha. — Porra, — ele respirou forte, um pouco sem fôlego. ~ 66 ~


Era a primeira vez que eu realmente chegava a ficar tão perto dele sem pensar em enfiar nele agulhas envenenadas, nublando meus sentidos com um ódio profundo até os ossos e com cheiro de enxofre. Ele cheirava bem. Eu não conseguia muito identificar o que era, mas era da natureza, amadeirado, uma pitada de pinho, terra e ar fresco. Não deveria ter sido, mas com certeza foi, uma das coisas mais inebriantes que eu já tinha cheirado em um homem antes. Então, ele não estava mais pressionando sua testa na minha. Sua mão não estava mais no meu cabelo. Seu braço não era mais uma âncora reconfortante em volta das minhas costas. Num segundo, ele estava quase totalmente me sustentando. No seguinte, ele estava a um pé de distância, observando-me com aqueles olhos escuros, mas havia uma persiana para baixo sobre eles, tornando impossível ler qualquer coisa em suas profundezas. Houve uma pausa, ele parecendo perdido em seus próprios pensamentos. E eu, bem, eu não parecia capaz de falar enquanto tentava desligar o fio vivo conhecido como desejo percorrendo pelo meu sistema. Então ele assentiu para mim, encolheu os ombros e declarou: — Bem, esta foi uma adorável detenção. Eu vou para fora. De todas as coisas que ele poderia ter dito, sim, isso foi talvez o que eu menos teria previsto. — O quê? — eu perguntei, minha respiração uma imitação rouca de si mesma. — Eu tenho um bastardo doente para investigar, fui contatado sobre ele pouco antes de você me sequestrar. Preciso terminar este trabalho. Obrigado pela sua hospitalidade, — ele acrescentou, movendo-se em direção aos degraus, então parando no primeiro de baixo. — Ah, e se você quiser saber quem está tentando te matar, venha me encontrar.

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Com isso, e sem nem mesmo uma olhada de relance para trás, ele estava arrancando pela escada. Antes que eu sequer conseguisse chegar ao primeiro degrau de baixo, eu ouvi a porta para o lado de fora batendo. Ele tinha ido. E eu não tive a chance de dizer a ele que o ‘o bastardo doente’ que ele estava procurando era, na verdade, eu. Veja, nunca o localizei eu mesma. Mas localizei alguém que estava um pouco descuidado com o bloqueio do celular e estava em contato com Luce. Eu clonei o telefone dele, e tive todas as informações que precisava para mandar uma mensagem para ele, então criei uma voz de telefone robótica para contar a ele sobre um assassino em série fictício que tinha como alvo meninas. Mas isso não foi o que fez meu coração disparar na minha garganta. Ah não. O que diabos ele quis dizer por, alguém estava tentando me matar?

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Luce

Pois bem. Essa foi uma reviravolta inesperada de eventos. Neste momento, eu achava que alguém ia estar retalhando pequenos pedaços da minha carne e alimentando seus cães com ela, e eu saí com um pouco de veneno de flor. Ainda bem, porra, que ninguém mais sabia sobre essa merda; nunca teria sobrevivido a isso. Veneno de flor. Jesus. Para ser perfeitamente honesto, nunca pensei que ela acreditaria na verdade. A maioria das pessoas não acreditava. Não importava quanta evidência estivesse na frente na cara deles, eles simplesmente se recusavam a ouvir e acreditavam no que queriam acreditar. Isso explicava a política em nosso país, para ser honesto. Mas não, Evangeline Cruz não era alguém que estava tão fixada em suas opiniões que não conseguia enxergar além delas. Era uma qualidade tão rara hoje em dia que eu realmente não tinha sequer considerado isso como uma possibilidade. Ela desceu aqueles degraus destruída. Não havia outra maneira de descrever. Ela parecia absolutamente destroçada. Seu rosto estava marcado de lágrimas; seus olhos estavam vermelhos, estava pálida.

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Estava tão porra exausto de toda essa merda, de todo esse mal. Encontrar um estuprador, um molestador de criança, um assassino em série, isso era apenas minha regra todos os dias. Eu tive que vagar através dos sites mais merdas da dark web. Eu tive que ver mulheres sendo brutalizadas, crianças sendo violadas, pessoas implorando por suas vidas inutilmente. Estava tão insensível a tudo isso que esqueci qual era a sensação de um choque, se eu inclusive tinha a capacidade de sentir isso, depois de tudo. Mas estava claro que a única imagem que ela encontrou, uma que eu tinha encontrado um tempo atrás também, uma que para mim era quase PG7, comparada com todas as outras depravações pelas quais eu costumava estar cercado, destruiu-a completamente. Eu quase nunca tive o luxo de sentir amor em relação a um pai. Não porque não tive um pai que eu deveria ter amado, mas porque eles nunca fizeram nada digno de amor. Por isso, não consegui me conectar com a perda dela. Não conseguia entender como os pecados dele colocados aos pés dela, faziam ela se sentir como se eles fossem dela para absorver. Não conseguia entender a culpa dela por estar a salvo de estupro enquanto seu pai era um estuprador. Não conseguia compreender por que isso seria como uma traição. Mas ela sentiu os pecados dele, sentiu culpa, e sem dúvida, sentiu-se traída. Eu não tinha que entender para ser capaz de me compadecer, de sentir algo por dentro com a visão de uma mulher quebrada. Eu não era um maldito robô. Minha reação automática foi alcançá-la. Meu desejo era tentar apagar tudo aquilo. Eu não a conhecia, não deveria ter me importado, não quando eu raramente me importava com alguém, mas sim. Eu me importei. Talvez tenha sido tão simples como a minha honestidade que tinha destroçado seu mundo. Mas, na minha opinião, a dor da verdade sempre seria melhor do que a bem-aventurança da ignorância. A julgar pela reação dela, Evan se sentia do mesmo jeito.

7

Parental Guidance (Orientação aos pais), sistema de classificação de idade para filmes, para menores de 18 anos.

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Depois, maldição se ela não ficou toda acalorada com a memória da minha fanfic pornô. Isto é, não que eu a culpasse. Essa merda era muito mais sexy do que imaginava que poderia ser, finalmente entendi porque o romance superava todos os outros gêneros. Eu ficava duro como uma fodida rocha lendo isso. E se isso deixasse a boceta toda lubrificada como deixava meu pau duro, sim, as mulheres podiam simplesmente ir em frente e acelerar esses motores para seus homens testarem quando chegassem em casa do trabalho. Porra, nada de errado com isso. Mas vendo aquele olhar em seu rosto, a aflição em seus olhos, o rubor em sua pele, e aquela irregularidade de sua respiração, sim, aconteceu algo comigo. Eu não costumava pensar, muito menos agir, com meu pau. Simplesmente não tinha como parar. Talvez tenha sido o momento emocionalmente carregado, ou o fato de que eu achei a habilidade dela de me apanhar e planejar meu encarceramento totalmente sexy pra caralho, ou talvez fosse uma reação simples ao desejo dela. O que quer que fosse, não teve como lutar contra. Mesmo se eu quisesse, é isso. Como foi, não teve uma única parte de mim que quis hesitar. Eu tinha o pressentimento de que colocar minhas mãos nela seria algo novo, algo inebriante. Eu não estava errado. Foi apenas um minuto, apenas um fodido beijo, mas houve esse puxão por dentro, essa sensação estranha do desenrolar da espiral apertada no meu peito e se mover para fora, tentando amarrar em um cordão similar no peito dela. Essa merda, sim, isso foi totalmente fodido. Isso foi o que eventualmente me afastou quando tudo dentro de mim estava me implorando para abaixá-la naquele chão frio e me enterrar dentro de sua doce boceta, para dar a ela uma lembrança deste dia que não fosse dor, traição e mágoa. Mas não podia ser. Eu tive que sair de lá. ~ 71 ~


Eu voei para cima naqueles degraus, depois saí pela primeira porta que encontrei, que me colocou no que pareceu ser o pátio lateral de uma casa estilo fazenda dos anos sessenta, com tapume branco e uma pequena quantidade de tijolo à vista na frente, embaixo da janela panorâmica. Era a casa do centro em uma rua de quatro casas sem saída, o som de um trem vindo de algumas ruas atrás. Se ainda estivéssemos em Navesink Bank, eu podia encontrar meu caminho assim que chegasse à estação de trem. Mesmo se ainda não estivéssemos em Navesink Bank, o trem me levaria onde precisava estar. Eu virei para fora do beco sem saída, jurando que tinha captado um vislumbre dela de pé na janela panorâmica me observando enquanto eu rapidamente puxava para cima meu capuz e desaparecia. Dez minutos depois, vi a estação de trem muito familiar de Navesink Bank. Respirando fundo, sabendo que minha caminhada estava prestes a ser longa para caralho e que era tarde demais, apenas comecei a seguir em frente. Eu tinha uma merda para lidar em casa. Primeiro, o bastardo doente que eu tinha mencionado antes. Segundo, queria provar que estava certo sobre ela, sobre sua paternidade. Alejandro Cruz pode ter sido seu pai no sentido de cria-la, mas ele não estava em suas veias, em seu sangue. De jeito nenhum. Muitas coisas simplesmente não batiam. Quando tivesse a informação, eu enviaria para ela. Enviar. No correio. Porque estar perto dela aparentemente me fazia perder minha amada cabeça. — Você parece uma merda, — disse uma voz ao meu lado, fazendo-me olhar para encontrar ninguém menos que o detetive Lloyd do Departamento de Polícia de Navesink Bank, encostado em seu carro do lado de fora do She's Bean Around. Considerando que ele estava fechado, isso era estranho.

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Eu me virei, vendo Jazzy se movendo ao redor, rapidamente tentando arrumar as coisas, tudo sobre a mulher, geralmente confiante e despreocupada, parecendo um pouco atrasada e frenética. Como se ela estivesse com pressa. Uma pressa para... — De jeito nenhum. Você e Jazz? — eu perguntei, balançando a cabeça. E, a julgar pelo jeito como seu rosto ficou todo petrificado, eu estava certo. Eu geralmente estava. — Porra. Tente merecê-la, cara, — eu disse, balançando a cabeça enquanto Jazz apagava as luzes e praticamente corria para fora da porta, mal se lembrando de voltar e trancá-la. — Ah, Luce, — ela disse, dando um pulo para trás, os olhos ficando arregalados como se tivesse sido pega em flagrante ou algo assim. — Interessante escolha de companheiro de cama, boneca, — eu disse com um sorriso cansado. Bom para ela. Ela merecia um bom homem. E Lloyd, embora tecnicamente alguém que podia me arrastar para uma pena de prisão perpétua a qualquer momento, era um bom homem. — Você parece uma merda, — ela disse, o sorriso provocando. — Ouvi dizer. Noite difícil. — Ah, qual é o problema, L? Foi chutado para fora da cama de alguma mulher? — Certo, — eu sorri. — Como se alguma mulher gostaria de me chutar para fora da cama. Divirtam-se, vocês dois. Lembrem-se, o único sexo bom é o sexo seguro. — Vá embora, — disse Jazzy, olhos enormes para mim de um jeito que dizia que era melhor eu cobrir minhas bolas da próxima vez que a visse, ou ela poderia estar usando-as como brincos. — Vejo vocês por aí, — eu gritei, acenando sobre meu ombro para eles enquanto fazia meu caminho até a periferia da cidade, depois para cima na colina alta pra cacete que amaldiçoei de todas as fodidas sete formas possíveis, e depois mais duas vezes por garantia. Meus membros cansados de sono estavam gritando quando cheguei à minha porta, ainda meio aberta de onde devo ter caído quando Evan me derrubou e me drogou.

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Cristo, mesmo esse pensamento enviava uma onda de desejo através do meu sistema, fazendo meu pau endurecer dolorosamente contra o meu jeans. Então, porque assim que as comportas fossem abertas, elas não poderiam ser fechadas novamente, fui em frente e me torturei com a ideia de que ela ainda estava igualmente afetada. Talvez ela levaria sua linda bunda de volta para seu quarto, abriria seu notebook e encontraria um pouco daquela pornografia literária que a tinha deixado toda quente e incomodada antes. Talvez ela tiraria suas roupas, achando que elas estariam coçando e sufocantes em seu corpo, dolorida por seus mamilos endurecidos. Talvez não seria capaz de impedir sua mão de deslizar para baixo em seu estômago e sob a calcinha, acariciando sua fenda escorregadia e encontrando seu clitóris inchado e latejante, esfregando-o até que o vazio de dentro seria demais para suportar, então empurraria os dedos bem fundo dentro, arranhando sobre seu ponto G até ela gozar. — Porra, — eu rosnei, tendo que estender a mão para desabotoar minha calça jeans, encontrando a pressão dolorosa. Meu polegar roçou a cabeça do meu pau, fazendo-me soltar um silvo, sabendo que não tinha como voltar atrás. Eu peguei dentro da minha cueca boxer, liberando meu pau, acariciando-o com força e rápido, imaginando aqueles olhos escuros dela olhando para mim de joelhos com necessidade antes de me sugar profundamente. — Porra, — eu rosnei, gozando mais forte do que tinha gozado em meses. Inferno, em anos. Eu arrastei meu traseiro cansado para o banheiro, tomando banho para tirar o dia, depois caindo na cama, imaginando que cairia em um sono exausto. Mas isso não foi o que aconteceu. E isso não era exatamente raro. A noite tendia a trazer as lembranças. Não importa o quão profundamente eu as enterrava, elas sempre arranhavam seu caminho até a superfície. Sempre me provocavam com os tipos especiais de seus

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horrores. Algumas noites, conseguia forçá-las de volta para onde vinham. Então podia alcançar algumas horas felizes se os pesadelos ficassem à distância. Essa não parecia que ia ser uma destas noites. Esta era uma das noites onde, não importava o quanto eu me revirasse, quantas outras lembranças eu tentava usar para lutar contra estas, nada daria certo. Então, olhando para a consistência disso, saí da cama e fui de volta para baixo no bunker, ligando um novo notebook do meu estoque e planejando fazer alguma pesquisa. Eu queria investigar esse novo bastardo que precisava pegar. Esse era meu plano. Por que então meus dedos digitaram Evangeline Cruz? Sim, porra se eu soubesse. Mas isso foi o que eles fizeram. E assim que a página da pesquisa carregou, sabia que não havia como voltar atrás. Era assim que eu operava. Eu era focado, metódico, meticulosamente detalhes, minucioso ao ponto da obsessão absoluta.

maníaco

sobre

Mas na minha linha de trabalho particular, não podia me dar ao luxo de estar errado. Ao contrário do nosso fodido sistema de justiça criminal, eu realmente queria saber se o homem que ia matar ou não, realmente tinha cometido o crime. Eu checava, e checava duas vezes e checava três vezes cada fato. Refazia cada passo. Eu tentava encontrar recibos ou prova da localização deles perto de onde certos eventos ocorreram. Assegurava-me que seus rastros online voltassem imediatamente para onde deveriam, sem desviar em algum ponto entre eles, para fazer uma pista falsa para algum outro doente usar a pessoa como um peão. Eu não podia me dar ao luxo de cair no sono no trabalho. Nenhum homem que entrou no meu bunker, não tinha sido checado até que não houvesse uma sombra de dúvida sobre sua culpa.

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Inferno, assim como Harold Grains, eu muitas vezes encontrava provas de seus crimes que eles levavam com eles. Em suas carteiras ou em seus telefones. Era como se eles não conseguissem ficar longe de suas depravações por qualquer período. Eles constantemente precisavam disso com eles, como um cobertor de segurança para a imundície viciosa. Estatisticamente, um em vinte e cinco condenados à morte no sistema penitenciário dos Estados Unidos era inocente. Comigo, bem, isso seria zero. Eu nunca tinha me ferrado. Passava semanas, ou até meses, investigando essas pessoas. Estava esperando que não demorasse assim tanto tempo para encontrar vestígios dos verdadeiros pais de uma Evangeline Cruz. Simplesmente, não haveria muito tempo. Ela estaria aparecendo de volta em breve. Não havia como ela pensar que eu a estava abandonando quando disse a ela que alguém estava tentando matá-la. Além do mais, estava realmente sendo honesto. Alguém estava definitivamente tentando matá-la. A única razão pela qual não insisti que nós descobríssemos essa merda imediatamente era que eu sabia que não iam matá-la tão cedo. Como ela perdeu os sinais, não conseguia compreender. Meu melhor palpite era que ela estava tão consumida em me encontrar e me capturar que não parou para pensar em seu próprio bem-estar. Eu entendia a obsessão, então podia ver como ela podia perder algo que era, para todos os efeitos, bastante sutil. Mas ela confiou no meu olhar o suficiente para saber que eu não estaria enganado. E tão logo talvez descansasse um pouco, comesse alguma coisa e encontrasse alguma coragem, ela estaria de volta. Eu só tinha até lá para encontrar sua mãe pelo menos.

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Para fazer isso, eu tinha que rastrear seu suposto pai de volta ao seu paradeiro aproximadamente vinte e dois anos antes. Se ela não era dele, se, de algum modo, foi roubada de seus pais biológicos, isso tinha que ter acontecido antes que ela tivesse cinco anos, depois disso, as crianças geralmente se lembrariam de algo como ser arrancadas de suas mães. Inferno, mesmo cinco parecia como se estivesse forçando a barra, mas algumas crianças apenas tinham lembranças ruins, e outras tinham cérebros que precisavam desligar e bloquear aquele trauma, para nunca ressurgir novamente. Se ao menos todos nós fossemos tão sortudos. — Porra, — eu rosnei, balançando a cabeça para mim mesmo. Eu não fiz isso; não fiquei todo, ai pobre de mim. Não importava que eu tivesse uma razão genuína para me esconder em um canto, lamentando para o resto da minha vida. Aquelas coisas faziam parte da minha infância. Eu era um homem crescido, me recusava a ser uma maldita vítima. Eu tranquei aquela merda em um cofre e nunca, nunca, deixava sair, exceto em momentos quando minhas guardas estavam muito para baixo, para lutar contra – pouco antes de dormir e durante meus momentos inconscientes. Todos os outros momentos... Trancada. Para. Baixo. Porra. Era assim que tinha que ser, então era assim que era. Eliminei quaisquer sentimentos residuais, mais precisamente a raiva, que estavam sobrando, e os canalizei para a minha pequena missão pessoal na vida. Por enquanto, tudo bem. Isso me manteve são. Aliviou um pouco do peso que eu sempre tinha sentido sabendo, desde uma idade muito jovem, qual o tipo de sujeira vil que existia dentro de seres humanos aparentemente normais. Parecia que era minha responsabilidade não a expor, por assim dizer, mas exterminá-la. Eu juro que se eu pudesse arrebentar todos os fodidos e enfiá-los em uma sala, e disparar uma bomba de fumaça como você faz para matar baratas, eu faria em um fodido piscar de olhos. Mas com grande alarde vinha uma maior chance de ser pego. E eu precisava, o maior tempo possível, seguir em frente, continuar caçando os ratos como um terrier e eliminá-los um por um. Se não eu, quem?

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Que era ao que tudo isso se resumia. Claro, de vez em quando uma vítima de estupro ficará enfurecida e arrancará o pau de seu agressor e o enfiará no rabo dele. Mas isso era raro. E eles tendiam a ser pegos. Havia vigilantes espalhados por toda parte, operando bem debaixo dos narizes das forças policiais locais. Inferno, eu conhecia um que era policial. Dez anos no trabalho e de saco cheio de nunca haver justiça. Então, ele tomou a justiça em suas próprias mãos. Ele era um bastardo muito cruel também. Mas apesar de nós existirmos, éramos raros. Nós tínhamos que ter cuidado. Não era como quando um membro do cartel era apanhado, outro assumia seu lugar, colocando o sangue de seu ex-chefe sobre seus sapatos com seu desejo de poder. Quando um de nós era eliminado, isso significava que mais idiotas se safariam com o que eles faziam. Se eu fosse eliminado, não havia ninguém para assumir em Jersey. Eu ouvi rumores de algum sangue novo na cidade, mas ele tinha tido o suficiente em lidar com esse lugar. Ele não estava vindo para Jersey, para encontrar molestadores de crianças e assassinos em série quando tinha bastante onde estava. Quanto mais tempo eu ficasse por perto, mais eu era capaz de continuar fazendo o que fazia, o melhor era que não era só para mim, mas todas as potenciais vítimas inocentes na área. Eu me levantei da cadeira, caminhei para a cozinha e preparei um bule de café, enquanto pegava uma bebida energética da geladeira e a bebia enquanto acabava de fazer o café. Eu não ia ficar sonolento, mas não era uma daquelas pessoas que se davam bem sem dormir também. Meu corpo nunca "se acostuma com isso", como alguns afirmaram. Isso sempre provocava uma lentidão geral e pensamentos confusos. Então, para combater isso, a cafeína era mantida até que outro dia se passasse, e fosse hora de tentar a coisa de dormir novamente. ~ 78 ~


Nesse meio tempo, era tudo sobre as viagens de Alejandro na janela de cinco anos que imaginei que poderia haver. Os países africanos e asiáticos foram automaticamente cortados por razões óbvias. Então, com isso só restou... merda. Argentina. Bolívia. Brasil. Chile. Colômbia. Equador. Guiana. Paraguai. Peru. Suriname Uruguai. Venezuela. Ilhas Falkland. México. Cuba. República Dominicana. Costa Rica. Porto Rico. Guatemala. Honduras. E, bem, não vamos esquecer a parte mais baixa dos Estados Unidos, perto da fronteira. O próprio Alejandro tinha dupla cidadania para a Colômbia e os Estados Unidos. Que foi como a própria Evangeline foi considerada uma cidadã americana, apesar de mal ter passado algum tempo nos Estados Unidos. Eu tinha cópias do passaporte de Alejandro, junto com todas as outras informações incriminadoras que tinha sobre ele, antes de colocálo em um CD gravado em meio à minha enorme coleção de DVDs. Como eu fazia com todas as minhas ‘vítimas’, que estava mais propenso a chamar de ‘alvos’, já que elas não eram vitimadas por mim; elas eram levadas à fodida justiça. Eu poderia rastrear esses selos. Seria ainda mais fácil se eu tivesse Evangeline, mas isso era pedir demais. E realmente não havia como rastrear os movimentos de passaporte de alguém, exceto de países com vistos de saída ou acordos de compartilhamento como os EUA, Canadá e México. Extratos bancários podiam ser usados para rastrear Alejandro, se bem que ele geralmente lidava com dinheiro, mas isso não me ajudaria a limitar as possibilidades no momento em que ele começou a levar Evan junto com ele. Mas, não importa. Tudo, literalmente tudo, podia ser descoberto sobre uma pessoa se você cavasse o suficiente. Claro, canalhas como Alejandro eram mais fáceis porque eles deixavam um rastro de vítimas. Mas eu encontraria as origens de Evan em breve. De preferência antes de ela aparecer de volta.

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Eu imaginava que tinha cerca de oito a dez horas. Tempo de sobra. Eu podia até cortar o tempo em um terço, se talvez ligasse para Barrett, bem como para alguns hackers fodões que ele conhecia chamados Alex e Jstorm. E, claro, eles sabiam quem eu era. Eles sabiam o que eu fazia. Eu também sabia que podia confiar neles, especialmente porque Alex e Jstorm eram conhecidos por fazer justiça cibernética eles mesmos, desviando dinheiro das contas Bitcoin de certos idiotas e depositando-os nas contas para instituições de caridade. Entre nós quatro, nós não teríamos apenas a mãe de Evan, mas sua história, as histórias de seus avós, quais doenças ela talvez fosse predisposta e relatos completos da genealogia, datando de trezentos anos atrás. Sim, eles eram todos bons assim. Mas eu não queria ligar para eles. Por que, você pode perguntar. Era a coisa mais fodida, na verdade. Eu queria o maldito crédito. Eu não era algum idiota que diria que o trabalho de outra pessoa era meu. Então, se ligasse para os outros, precisaria contar a Evangeline quais partes eu encontrei por mim mesmo e com quais partes eles tinham ajudado. Eu queria toda a glória de descobrir sua história de origem. Eu não era assim, mas estava imaginando que tinha algo a ver com o fato de que era responsável pela dor que ela estava passando. Misture ao fato eu estar ridiculamente atraído por ela, impressionado por ela, e talvez apenas tivesse um ligeiro desejo por sua gratidão, e você podia entender muito bem o motivo. Deturpado? Sim, Provavelmente. Cheio de ego?

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Definitivamente. Mas, apesar disto, verdadeiro. Eu não era nada se não fosse honesto. O sol estava cruzando o céu quase onze horas depois, enquanto a impressora continuava produzindo folha após folha para mim, que eu estava cuidadosamente grampeando, organizando e compilando em uma pasta. Minhas mãos estavam levemente tremendo pela falta de sono e excesso de cafeína. Meus olhos estavam inchados e secos. Meu pescoço e ombros tinham cãibras. E, bem, meu estômago estava torcido em um nó apertado. Porque tinha muita certeza de que ela apareceria, que ela saberia que eu estava sendo correto com ela. Mas, nada. Enquanto embaralhava a última página no que era, aparentemente, um completo desperdício de minha noite sem dormir, eu finalmente ouvi. Veja, eu estava embaixo no bunker. Por quê? Paranoia provavelmente seria uma descrição tão precisa quanto qualquer outra. Minha linha de trabalho tornava provável que os tiras viessem me encontrar um dia. Se eles invadissem minha casa, eu estava um pouco seguro no bunker. Se eles encontrassem a entrada do bunker, bem, eu estava trabalhando nisso. Estava lentamente, mas seguramente cavando um pequeno túnel. Não para escapar, porque, francamente, eu estava longe demais no meio do nada. Não havia lugar nenhum para onde escapar. Era mais como um lugar onde eu poderia me esconder se eles encontrassem um caminho para dentro do bunker. Encontrei um fodido modo inteligente de esconder a porta também. Mas só estava destinado a ser um esconderijo, um último esforço para continuar sendo um homem livre, livre para continuar meu trabalho. Então, eu simplesmente... gravitava naturalmente para o bunker a maior parte do tempo. ~ 81 ~


O que tornava difícil como o inferno ouvir qualquer coisa acima. Mas assim que a impressora parou de cuspir papel, houve uma batida nítida vinda do chão acima. Foi, na verdade, muito constrangedor o quão rápido eu chutei minha cadeira giratória em direção ao notebook para verificar a câmera do lado de fora. Foi igualmente embaraçoso, o fodido sorriso ridículo e quase patético que ameaçava dividir meu rosto ao ver a cabeça abaixada de Evangeline parada ali, seu cabelo escuro captando o sol e fazendo parecer tão sedoso quanto ele era. Cristo, eu não conseguia nem lembrar da última vez que sorri bastante o suficiente para apertar os músculos nas minhas bochechas. Meses? Anos? Eu alguma vez já sorri tanto assim? Fechei o arquivo, enfiei-o debaixo do braço e fui para a porta do andar superior. — Você não pode simplesmente dizer a uma mulher que alguém está tentando matá-la, e depois desaparecer, seu imbecil! — Eu ouvi seu grito agudo através da porta enquanto sua mão esmurrava a madeira grossa. Na verdade, eu tinha quase a certeza de ter ouvido um maldito chute também. Se essa não era a coisa mais fofa. — Segure sua calcinha, — eu gritei quando fechei a porta para o bunker, e caminhei pelo chão até a porta da frente. — Ou, pensando bem, — eu disse, puxando as trancas, — tire-as, bonequinha, — eu acrescentei quando a abri para encontrá-la parada ali, a boca aberta comicamente. E, maldição, lá estava o sorriso bobo de novo. Que porra é essa?

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— Quem está tentando me matar? — ela se recuperou rapidamente, sacudindo a cabeça e engolindo forte. Eu encolhi os ombros para isso, inclinando-me no batente da porta. — Foda-se se eu sei.

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Evan

Eu tive uma difícil, praticamente impossível noite de sono boa. Primeiro, porque, bem, mesmo quando tentei fechar os olhos, a imagem de meu pai e seus camaradas e daquelas pobres mulheres abusadas continuava passando pela minha mente. Quando eu tinha voltado para o meu quarto, precisei fechar as abas da imagem, fazendo náuseas se estenderem pelo corpo quase violentamente por mais dez minutos, antes que finalmente conseguisse me controlar. Então, você sabe, havia aquela outra questão para lidar. Alguém estava tentando me matar? Claro, minha reação automática foi dizer que ele estava sacaneando comigo, tendo uma pequena vingança, ferrando minha cabeça ainda mais. Afinal de contas, talvez fosse assim como a aberração conseguia sua diversão. Depois de ele, mais ou menos, ter ficado comigo. Eita. Essa parte não era para se levar em consideração. Não. De jeito nenhum. A insônia era totalmente sobre a realidade repentina e dolorosa da vida de meu pai e, bem, a possibilidade da minha morte distante ou talvez iminente.

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Porque não foi mais do que cinco minutos de vai e vem na minha cabeça sobre isso, e eu sabia que Luce não estava ferrando comigo. Muito pelo contrário, o homem parecia verdadeiro ao extremo. Se ele estava dizendo que alguém estava tentando me matar, então alguém estava tentando me matar. Portanto, se ele podia ver que alguém estava tentando me matar, então a evidência tinha que estar em mim, em algum lugar. Isso me enviou correndo para o banheiro, arrancando minha toalha e meu robe da parte de trás da minha porta para expor o longo espelho fixado ali. Com dedos frenéticos, eu praticamente rasguei minha camisa, shorts e calcinha, olhando para mim. Mas não conseguia encontrar nada incorreto. Que não significava que não havia, isso simplesmente significava que os olhos de Luce apenas conseguiam ver mais do que os meus. Não era fácil dormir enquanto você considerava sua própria morte. Eu me perguntava como os pacientes lidavam quando era determinado a eles apenas alguns meses de vida. Eu estaria me afogando em café e fazendo todas as coisas que eu nunca tinha feito no tempo antes de ficar doente. Considerando tudo, minha vida foi melhor que da maioria. Eu pude viajar, ver as mais belas praias no mundo, de azul penetrante e areia clara. Provei frutas que ninguém ao norte do equador sequer sabia que existiam. Aprendi, e esqueci, várias línguas. Conheci o toque de um homem que não queria nada no mundo a não ser me dar prazer. Eu tive a satisfação de afastar um homem que só queria me trazer dor. Dancei em festivais que mudaram minha vida. Eu vivi. Eu tinha, como diz o ditado, vivido intensamente, estava cheia até a medula de vida. Isto não significava, no entanto, que estava pronta para morrer. Inferno, eu não tinha transado por um ano. Não podia ir para o meu túmulo enquanto estava em um período de seca épico. De jeito nenhum.

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E, você sabe, seria bom ver meus trinta anos. Ou quarenta. Talvez explorar os EUA um pouco mais. Encontrar alguém para herdar Diego, visto que estava sendo mais e mais provável que ele talvez sobrevivesse a mim. Ai. Patético, eu decidi enquanto saía da cama, o sol espreitando através das persianas, Diego já grasnava seu grito matinal “me dê comida”, eu estava sendo absolutamente patética. Além do mais, era sem nenhum motivo. Não havia razão para me estressar com isso, pois não existiam respostas. Eu não estava sofrendo de alguma doença debilitante e desconhecida. Porque seja o que for que estivesse errado comigo, Luce tinha as respostas. Eu ia arrastar minha bunda de volta até a colina e pegá-las. Depois de um banho, trocar de roupa e me assegurar que Diego não poderia causar muitos problemas enquanto estivesse fora. Era quase meio-dia quando finalmente alcancei o topo de sua colina esquecida por Deus, andando pela floresta, por alguns minutos, antes de me deparar com a baixa cabana escura. Estranhamente, meus pensamentos enquanto caminhava até a porta eram que não parecia como um lugar que era adequado a ele. Ele era o tipo de homem que deveria viver em um, tipo, armazém reformado, piso todo de cimento, paredes de tijolo à vista, janelas com corrente de ar e talvez em uma daquelas áreas industriais abandonadas que eles usam para misturar grandes tanques de líquidos. Você sabe... onde ele podia descartar os corpos. Eu imaginava que ele era do tipo de derreter, não de enterrar. Enterrar era muito desleixado, muito rastreável. Ele derretia os corpos, eu tinha certeza disso. Então, sim, aqueles grandes tanques viriam a calhar.

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Mas sim, este lugar estava destinado a algum velho rabugento que bebia cerveja de merda, e tinha a barriga para provar isso, enquanto reclamava sobre como o mundo estava chegando ao fim ou algum absurdo como esse, algum solitário retrógrado e zangado com mais ninguém no mundo para se preocupar com ele. No entanto, ocorreu um sentimento revirado estranho no meu estômago com esse pensamento, imaginando se talvez essa era a vida que Luce ia levar. Ele era com certeza um solitário. Havia alguma raiva enterrada também? De que outra forma alguém seria capaz de fazer o que ele fazia na vida? Pessoas normais e equilibradas não se tornavam o que era, essencialmente, um assassino em série. Claro, ele talvez fizesse isso pelas razões certas, mas um assassino era um assassino. E a julgar pelo que eu tinha visto sobre ele on-line, o número de pessoas que ele tinha colocado no chão ou pelo ralo abaixo, mais provavelmente, ‘em série’ definitivamente se aplicava. Eu estava começando a pensar que ele não estava lá, uma ideia que fez meu coração palpitar com as possíveis consequências disso, quando finalmente ouvi sua voz vinda de dentro. Dizendo-me para segurar minha calcinha. Depois, tirá-la. O que, bem, como você pode imaginar, graças ao beijo para acabar com todos os beijos da noite anterior, talvez tenha enviado uma explosão selvagem de desejo através do meu sistema. Ele parecia como o inferno. Claro, ele parecia ter tomado banho e se trocado. Embora, como eu sabia que ele tinha se trocado quando estava simplesmente em outro jeans e uma camiseta preta com capuz aparentemente limpa e com os cordões brancos do capuz puxados, estava além da minha compreensão. Mas, além disso, ele parecia ainda mais pálido do que o habitual, quase fantasmagórico. Seus olhos estavam manchados de vermelho e inchados. Havia até mesmo um pouquinho de barba visível em seu rosto, que era sexy como o inferno, não sei porquê. Ele claramente não tinha dormido.

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Estranho, considerando que ele tinha passado por muita coisa. — O que você quer dizer com você não sabe? — eu praticamente, bem, gritei. — Se você não sabe, então você não pode, provavelmente, saber que alguém está tentando me matar. Seus lábios se inclinaram ligeiramente. — Não sei quem iria querer você morta, Evan, mas sei que alguém quer. — Como? — Não há como negar os sintomas. — Não há sintomas, — eu insisti. Seu sorriso ficou perverso então, fazendo seus olhos escuros dançarem. — Você se despiu e se deu uma olhada, não foi? Oh Deus. Ok. Minhas partes femininas não receberam o memorando de que eu não deveria gostar dele. Eu tentei argumentar com elas há um momento atrás sobre o comentário da calcinha, mas vamos apenas dizer, a mensagem nunca chegou ao alvo. Eu tive que pressionar minhas coxas para conter o caos lá. — Não há nada fora. — Não? — ele perguntou, a cabeça se abaixando para o lado. — Não, — eu insisti, revirando os olhos. Ele não conhecia meu corpo melhor do que eu, pelo amor de Deus. — Então o que é isso? — ele perguntou, levantando o braço, estendendo a mão na minha direção, fazendo sua manga deslizar para cima, expondo a pele lisa da parte de dentro do seu braço. Bem, em uma pessoa normal, havia pele lisa. Em Luce, havia dezenas de cicatrizes. Mas não houve nem um segundo para analisar isso, porque no segundo seguinte, seus dedos se fecharam ao redor da gola da minha blusa, as pontas deles roçando minha pele, causando um pequeno

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arrepio involuntário através de mim. Seus olhos se moveram do meu pescoço para o meu rosto, observando-me intensamente, tentando depositar a centelha de desejo ali, mas falhando completamente. Assim como tinha certeza que eu também. — O que é, o quê? — eu forcei, fingindo ignorar como minha voz soou mais despreocupada, mais ofegante do que normalmente era. A julgar pelo jeito como os olhos dele ficaram ainda mais encobertos, ele definitivamente percebeu a mudança também. Mas então, seus dedos deram um puxão tão forte no material que houve o som distinto de rasgo puxando os pontos da gola apertada quando ele deixou o colarinho ficar largo. — Isso, — ele indicou, então deixei toda a coisa fingindo-que-eu-não-estava-excitada sair pela janela quando seus dedos roçaram pelo meu peito. — É uma erupção cutânea, — eu expliquei, engolindo em seco. — Sim, é. — Eu as tenho quando estou estressada, — eu expliquei. Eu venho tendo esse problema desde que era uma garotinha, fico com essa erupção vermelha desagradável no meu peito, pescoço, às vezes até mesmo no meu rosto, se o estresse for forte o suficiente por muito tempo. Descobrir que seu pai foi, eu achava, assassinado, depois descobrir que ele na verdade se matou e não era nada parecido com o homem que eu achava que era? Sim, isso se qualifica como um monte de maldito estresse. — Talvez, — ele concordou, os olhos subindo do meu peito para o meu rosto novamente. — Mas não assim. — Como você saberia como é a aparência da minha erupção de estresse? — eu atirei de volta, ficando mais ereta. — Então há isso, — ele disse, sua mão se movendo para baixo, acendendo uma faísca através da minha palma quando sua mão deslizou sob ela, e lentamente começou a levantar meu braço para cima. — Isso o quê? — eu perguntei, olhando para a minha mão. Mais uma vez, não vi nada de errado.

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— Você pensaria que Alejandro, com todos os seus anos de experiência com venenos, nunca deixaria você usar esmalte, — ele disse estranhamente, fazendo minhas sobrancelhas se unirem. De que diabos ele estava falando? — Por que ele se importaria com meu esmalte? — Porque ele faz você falhar nisso, — ele disse, virando minha mão, depois segurando meu polegar entre o dele e o indicador. Estômago se apertando, meu olhar se moveu para baixo no dedo em questão. — Seu esmalte lascou quando você subiu a escada. Eu notei isso quando você voltou para baixo. Vê estas linhas brancas em sua unha? — ele perguntou. E, ah, eu as via bem. Eu as via e, porque as via, senti uma onda de náusea me percorrer novamente. Estava, entre uma erupção e linhas brancas em minhas unhas, revelando um pouco meu estômago fraco. Claro que eu estava. Porque isso se encaixava também. — Essas linhas brancas grossas... — Leuconiquia, — eu travei, o coração disparando em sobrecarga, deixando-me quase instantaneamente tonta. Ele assentiu para isso. — Envenenamento por arsênico. Deus. Deus. Como diabos eu podia ter perdido isso? Era preciso exposição prolongada ao mencionado arsênico, para fazer com que as leuconiquias aparecessem nas unhas. Onde diabos esteve minha cabeça que fui tão descuidada para perder meu próprio maldito envenenamento? — Não desmaie em mim, — a voz de Luce exigiu, soando quase longe, como vinda do fim de um túnel, fazendo-me perceber que eu estava definitivamente muito tonta, que desmaiar era uma possibilidade real. — Evan... — ele chamou novamente, soando mais distante ainda. — Merda, — ele estalou, estendendo a mão para mim, no momento em que eu parecia fazer a coisa mais absolutamente lamentável que qualquer pessoa podia fazer. Eu surtando, desmaiei. ~ 90 ~


— Eu tenho que parar de deixar minhas rocas de fiar invisíveis lá fora na minha porta da frente. Você deve ter picado seu dedo. Isso foi com o que eu acordei. E, mesmo atordoada, não conseguia parar a risada que vinha de algum lugar profundo. — Referência legal. Que homem conhece Little Briar Rose8? — Não sei em que porra do mundo atrasado você foi criada boneca, mas nos EUA, chamamos essa história de A Bela Adormecida, e é um clássico da Disney. — Disney. Com o rato, — eu lembrei, finalmente abrindo os olhos. — Com o rato, — ele repetiu, soando quase vagamente... ofendido? — Sim, você sabe... com o barco a vapor e o assobio. Mick. — Mickey, — ele corrigiu, olhos grandes e boca pegando moscas. — Como porra, você não sabe o nome do Mickey Mouse? — Eu cresci em florestas tropicais e desertos, — eu me defendi imediatamente. Ele estava realmente insinuando que minha infância foi perdida só porque eu não sabia o nome de algum roedor fictício? — Você realmente nunca viu um filme da Disney? — Eu realmente só vi alguns filmes até agora. E todos eles eram espanhóis. — Você não pode estar falando sério, — ele disse de novo, parecendo francamente confuso com a própria ideia. — Eu leio muito, — eu me defendi, encolhendo os ombros. Livros eram mais fáceis de transportar por aí viajando, do que um tocador de DVD portátil e um conjunto de DVDs. Nós tínhamos que viajar o mais leves possível.

8

Nome de um dos contos dos irmãos Grimm, do século 19, que inspirou a história da A Bela Adormecida.

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— Ok, vamos deixar esses seus pecados de cinema de lado, para outro momento, — ele disse, balançando a cabeça como se não pudesse se livrar de algum pensamento irritante. — Que magnânimo de sua parte. — Magnânimo. Agora issu qui é um livro didático conversano, — ele falou arrastado com um sotaque forte. — Teno todos tipos de pensamentos nessa cabeça aí, fazeno ocê pensar que é boa pra qualquer coisa além de cozinhá e comê. Ok. Então Luce tinha senso de humor. E eu talvez tenha achado hilário porque tinha encontrado um homem enquanto andava pelo sul que falava exatamente assim. — Aí está, — ele disse, um pequeno sorriso se espalhando, fazendo seus olhos brilharem. — Isso coloca um pouco de cor em seu rosto. — Ele estendeu a mão depois, tocando minha testa. — Sem febre. Provavelmente apenas da caminhada e a surpresa. — Ele fez uma pausa, os lábios se contorcendo. — Ou talvez você ficou apenas dominada em como atraente pra caralho eu sou. — Sim, deve ser isso, — eu ri, embora, talvez mais do que uma pequena parte de mim estivesse em completo acordo sobre sua atratividade. Mas, deixando todo humor de lado, eu tinha apagado. De choque? Meu lábio se curvou. — Não posso acreditar que eu desmaiei. — Evan, você teve uma porra de dois dias. A julgar pelo quão pálida você está, você não tem dormido. Ou se alimentado. Então, você sobe essa colina, e fica ciente que você tem sido drogada com arsênico. É francamente muito surpreendente que você não tenha caído em sua cama fazendo drama sobre toda essa merda. — Bem, isso me fez sentir ligeiramente melhor. — No entanto, o pescoço está quente, — ele disse, o roçar frio das costas de seus dedos tocando a pele do meu pescoço e da parte de cima do meu peito, deixando uma rota de tremor através de mim. — Está apenas muito quente, — eu afirmei.

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— Sim, — ele disse, tentando conter um sorriso, provavelmente vendo isso pelo o que era - desejo - mas deixando passar. — Deve ser isso. Tudo bem. Fique quieta. Estou pegando para você alguns eletrólitos e algo para comer. Com isso, ele se foi, sua ausência parecendo permitir que qualquer pressão que estava no meu peito aliviar, e para eu respirar fundo pela primeira vez em vários minutos. E era também a primeira chance que eu tinha para olhar em torno de sua casa. E, bem, isso meio que solidificava a ideia do velho solitário que eu havia pensado antes. Tanto assim que eu tinha quase certeza que praticamente nada aqui dentro realmente pertencia a Luce. Provavelmente tudo veio com a cabana. Do sofá cor verde musgo e muito firme que estava deitada, para a mesinha de centro espaçosa e arranhada, para os acabamentos da janela parecendo empoeirados, armários embutidos, e a arte emoldurada na parede do que parecia ser fotos militares, mas era difícil dizer de longe. As únicas coisas que pareciam provavelmente ser dele eram a enorme TV de tela plana e uma gigante coleção de DVDs. Então Luce era um cinéfilo. Não é de admirar que ele pareceu considerar quase uma afronta a minha falta de exposição a filmes. Acabamentos de janela à parte, e provavelmente porque eu não conseguia pensar em um único homem hétero que pensaria em aspirar ou lavar aquilo, como uma mulher faria, o lugar estava limpo. Quase impecável. Inferno, a mesinha de centro, embora arranhada, estava super brilhante como se alguém tivesse recentemente usado Pledge9 nela. Como se para provar esse fato, mesmo com o sol se projetando sobre ela, não consegui perceber uma única impressão digital. O que era estranho. Quem não tocava em suas próprias coisas? Houve um som de batida por trás de mim enquanto eu me empurrava lentamente para cima, com cuidado para ter certeza que 9 Marca de produto de limpeza.

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tinha empurrado a tontura de lado, porque eu não era alguma bela do sul que desmaiar era doce e delicado. Eu não era doce e delicada. Eu tinha visto homens caírem baleados nas ruas da Colômbia. Eu tinha visto monges se flagelando nas Filipinas. Eu tinha visto bebês nascerem mortos de mães que morreram logo depois em cabanas na África. Eu não era uma mosca-morta. Respirei fundo novamente, girando a cabeça para o lugar de onde o barulho que Luce estava fazendo estava vindo. Eu podia ver uma parte da entrada e uma janela me mostrando uma parte da floresta lá fora nos fundos, mas foi só isso. Foram mais cinco minutos antes que Luce reaparecesse, duas garrafas enfiadas debaixo de um braço e pratos nas mãos. — Eu não posso fazer um burrito fodástico, — ele disse, encolhendo os ombros. — Mas eu faço um sanduíche bem mediano. O qual você vai comer. Não me importo se o meu paladar é equivocado sobre ser saboroso, e ele realmente ter gosto de serragem. Você precisa comer. — Com isso, ele largou o prato, não-muito-cerimoniosamente no meu colo, revelando um sanduíche que podia facilmente me alimentar por duas refeições, uma maçã cortada e um punhado de batatas fritas. Deixando a maçã de lado, era totalmente comida-de-homem. E era absolutamente encantador, para ser perfeitamente honesta. — Onde você conseguiu seu diploma de médico, doutor? — eu perguntei, observando enquanto ele colocava uma bebida energética na mesa. A última coisa que parecia que ele precisava era de cafeína. Ele precisava dormir. Por outro lado, eu também, por isso não tinha espaço para conversar, acho. Então ele fez a coisa mais surpreendente. Ele colocou o que eu supus que era a minha garrafa de Gatorade azul claro no joelho... e abriu a tampa para mim. Foi uma coisa tão pequena. E talvez eu deveria inclusive ter ficado ofendida por ele achar que minhas pequenas mãos femininas não conseguiam abrir uma garrafa. ~ 94 ~


Mas não fiquei. Eu estava completamente, quase estupidamente encantada pela ação. — O quê? — ele perguntou, fazendo-me perceber que sua mão estava estendida para mim, e eu estava apenas olhando para ele como uma idiota. — Você abriu a tampa, — eu expliquei, sem saber mais o que dizer. — Sim, você tem fobia por germes ou algo assim? — ele perguntou, completamente do nada. — Não, — eu disse, sorrindo um pouco. — Então qual é o problema? Nada. Não havia absolutamente nenhum problema, de modo algum. Exceto talvez, que eu estava começando realmente a achá-lo interessante. Provavelmente não era inteligente nem saudável, mas era assim que era. Ele era um personagem fascinante, caso encerrado. — Sem problema, — eu insisti enquanto pegava a bebida com uma mão que estava, evidentemente, um pouco mais fraca do que o normal, e a levantei para tomar um gole. — Você come. Eu vou colocar A Bela Adormecida, — ele me informou, pegando um controle remoto para transformar a tela da TV, de preta para uma tela de aplicativo estranho. — Então, depois que você comer, nós temos alguma merda para discutir. — Certo, — eu concordei, pegando o pão, ao mesmo tempo, macio e crocante do sanduíche, percebendo que ele tinha tido tempo para cortar alface e tomate, não apenas espalhando carne e queijo e chamado de sanduíche. — Tipo, quem está me envenenando e por quê. — Bem, sim, — ele concordou, sem olhar para mim enquanto percorria uma página de filmes tão rápido que era nauseante. — Mas principalmente o fato de eu ter feito uma pesquisa na noite passada.

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— Sobre? — eu perguntei levando o sanduíche para a minha boca, e dando uma mordida considerável. Eu deveria ter esperado até que ele respondesse. Eu percebi isso quando quase engasguei com a boca cheia quando ele falou novamente. — Acho que eu tenho uma pista sobre quando Alejandro pegou você e reivindicou você como dele. — O quê? — Meu grito foi abafado pela boca cheia acima citada, fazendo-o se virar para ver minhas bochechas seguramente salientes enquanto eu tentava freneticamente mastigar. — Sim. Mas agora nós estamos comendo, e assistindo um clássico da Disney. Por favor, mantenha todas as suas perguntas até depois do longa-metragem, — ele acrescentou em uma voz muito cinematográfica, fazendo-me sorrir. Engoli minhas perguntas, variadas e desesperadas como estavam, reconhecendo que, de fato, eu precisava comer. Se pequenos choques eram suficientes para me fazer desmaiar, então eu definitivamente precisava ter certeza que meus níveis de açúcar no sangue estavam equilibrados antes de receber mais notícias que precisava ponderar. Além disso, eu estava na verdade talvez um pouco empolgada com a ideia de assistir um filme. Estive muito ocupada viajando a maior parte da minha vida para realmente sentar e desfrutar de um. E desde que estive de volta aos Estados Unidos, não fiz nada além de lamentar a perda de meu pai, procurando pistas sobre o que poderia ter acontecido com ele, enterrando um caixão vazio, e então finalmente encontrando Luce e o localizando, construindo a cela no porão, resolvendo todos os detalhes. Simplesmente nunca pareceu como uma prioridade. E talvez eu fosse um pouco velha para contos de fadas da Disney, mas quando a cena de abertura começou, não conseguia me forçar a olhar para o lado. Em algum momento durante o filme, eu tinha levado minhas pernas para o sofá, cruzando-as e distraidamente comendo o sanduíche que não era ‘mediano’ de forma alguma. Na verdade, em vez de um ~ 96 ~


condimento engarrafado, eu tinha certeza que ele passou molho fresco no pãozinho. — E aí? — Luce perguntou enquanto os créditos rolavam. — É... fofo. — Que falta de entusiasmo. — A Disney nunca, eu não sei, faz filmes que não são tão amorinstantâneo? Isto é, ela está em coma, é beijada, e então é amor? Cai na real. Ele riu, jogando suas batatas fritas no meu prato. — A Disney moderna às vezes não faz a mina ter um interesse amoroso, nem um pouco. Eles estão destruindo esse patriarcado, cara. Aposto que você adoraria um pouco de Merida, Moana ou Elsa. — Ah! — eu disse animada. — Eu já ouvi falar de Elsa. — Claro que ouviu, — ele disse, pegando sua bebida energética e tirando a tampa. — Eu acho que você podia estar em uma caverna a dez milhas de distância da civilização, e aquela maldita trilha sonora ainda viria rastejando através das paredes de algum jeito. — Ele levantou a mão, tomando um longo gole de sua bebida verde brilhante de aparência tóxica. — Então eu fiz de você uma amante do cinema? — Eu poderia, talvez, considerar assistir algo não-animado algum dia. — Sentindo-se menos desmaiada? — Tenho quase certeza que ‘desmaiada’ não é uma palavra. — Claro que é; eu acabei de dizer. Se eles podem adicionar a palavra ‘pirada’ ao Dicionário Oxford, então eu posso porra dizer ‘desmaiada’ o quanto eu quiser. — Não posso culpar essa lógica, embora não tenha ideia do que significa ‘pirada’. É uma abreviação para pirarucu? Isso, aparentemente, era hilário para Luce. Eu sabia disso porque, em um minuto, ele parecia ligeiramente entretido por mim. No próximo, ele estava jogando a cabeça para trás ~ 97 ~


como um garotinho, soltando uma gargalhada estrondosa sexy que parecia, de alguma forma, deslizar dentro da minha pele, se espalhar ao redor de minhas entranhas e transformar minha barriga em mingau. — Ela significa louco, — ele me disse, se recuperando. — Cristo, você realmente esteve protegida do mundo moderno, hein? — Diga-me uma coisa boa que eu estive realmente ‘perdendo’ sobre o mundo moderno. — Além de filmes? — ele perguntou, e esperou pelo meu aceno, embora parecesse retórico. — A internet. Compras online. Nunca ter que sair de casa se você não quiser. — Por que você não iria querer sair de casa? — eu respondi, genuinamente curiosa. — Você já conheceu pessoas? Elas são uma droga. A maioria delas, de qualquer maneira, — ele disse, batendo seu joelho no meu, de um jeito que implicava que a companhia presente estava excluída. — Eu acho que você passa muito tempo escondido na sua cabana de velho, Luce. — Minha cabana de velho? — ele repetiu, a sobrancelha arqueada. — Um velho definitivamente vivia aqui, — eu respondi, certa disso. — Morreu aqui também, — concordou Luce, assentindo. — Não neste sofá, certo? Ele riu. — Não. Lá embaixo. Assisti acontecer. — Espere... o quê? Ah, — eu disse, lembrando novamente quem ele era e o que fazia. — Você o matou? — Você sabe boneca, eu não mato todo mundo com quem entro em contato. Não, não o matei. Ele era um sobrevivente maluco do dia do juízo final que tinha esse blog na dark web, cheio de teorias conspiratórias loucas, que as células cerebrais saberiam que são uma completa porcaria. De qualquer forma, ele estava tendo um ataque de

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fúria um dia, ficando todo vermelho, depois caiu morto de um ataque cardíaco bem ali no porão dele. — Então... você acabou aqui porque... — Porque eu vi uma oportunidade. Meu trabalho pode ser para o bem maior, mas o pagamento, especialmente no começo, não era ótimo. Então eu arrastei minha bunda até Navesink Bank, subi esta colina e invadi. Eu preenchi um testamento falso, forjei a assinatura dele e deixei em uma gaveta fácil de encontrar. No entanto, me levou umamaldita-eternidade para descobrir a porta secreta para o andar de baixo, para encontrá-lo. E eu não acho que preciso dizer a você como fedido é um corpo de uma semana. Armei uma cilada com ele em sua cozinha. Fui embora. Chamei os tiras dizendo que eu estava preocupado porque estava acostumado a vê-lo por aí, e sabia que ele morava sozinho. Eles o encontraram e lidaram com o corpo. O testamenteiro judicial chegou para investigar por testamentos ou herdeiros, encontrou o falso, e voilá, eu tenho uma casa e terra, uma quantidade pecaminosa de MREs, e um pequeno pé-de-meia para usar para investir em soda cáustica. — E capuzes pretos, — observei. — Exatamente, — ele disse com um sorriso malicioso. — O que é um MRE? — Refeições, prontas para comer. São rações militares. Elas supostamente são boas para praticamente sempre. — Uau, deve ser gostoso, — eu ri. — Ei, malucos tem que comer, cara. — Houve um breve, mas tenso silêncio antes que ele chegasse para colocar meu prato na mesa de centro. — Então, você está pronta agora? Sentindo tudo, exceto desmaiada? — Eu acho que deveria ser capaz de suportar o choque. O que você encontrou? — Não tanto quanto eu gostaria. Na verdade, você tem seus passaportes antigos com você? Eu tinha. ~ 99 ~


Isso era provavelmente estranho para pessoas normais. Eu passei tanto tempo viajando que sempre ficava com o meu atualizado. Mas mantinha os meus antigos comigo também, como provas. Eles quase pareciam um cobertor de segurança. Parecia quase irracionalmente errado ficar sem eles. — Sim, por quê? — eu perguntei quando peguei minha bolsa que deve ter deslizado do meu ombro lá fora, para ser recuperada por Luce. — Só quero comparar uma coisa, — ele disse, pegando uma pasta na mesa. Quando entreguei a ele o livreto azul com o pequeno círculo cortado dele, indicando que ele expirou, eu vi outro aparecer do arquivo, fazendo minha pele imediatamente gelar e meu estômago revirar. — Este é do meu pai? — É de Alejandro, sim, — ele disse, assentindo enquanto abria o meu na primeira página, em seguida, passou várias páginas a mais no do meu pai. — Sim. Já imaginava. — Você imaginava o quê? — eu perguntei enquanto ele continuava olhando para os selos. — McAllen, Texas. — O que tem, McAllen, Texas? — Alejandro tem um carimbo aqui para Dallas, no dia 11 de junho deste ano. E depois eu encontrei um artigo sobre um envenenamento suspeito em McAllen, no dia 18. Algum xerife pé no saco que estava chegando perto de descobrir como o cartel operava. Então, apenas dois dias depois, ele tem um carimbo de entrada para o México. E de repente você também tem. — Ele parou, olhando para mim, esperando por mim, tinha certeza, para concordar com ele. — Você teria três anos aqui. Por que essa foi a primeira vez que você apareceu no papel? — Talvez eu vivesse com meus parentes. Isso é o que ele sempre me disse. Sua vida não era propícia para lidar com um bebê gritando. Ele me levou quando eu daria menos trabalho. Que soa horrível repetido, mas quero dizer... eu entendo essa lógica.

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— Claro. Talvez. Mas acho que é mais provável que você nunca tenha conhecido Alejandro Cruz até algum dia entre 11 e 18 de junho. — Eu acho que o Velho Lunático deve ter deixado um pouco de sua energia residual de teoria da conspiração por aqui. E você, meu querido, a absorveu ou algo assim. — Apenas me escute, — ele disse, pegando sua pasta. — Bem, eu acho que lhe devo isso depois de drogar, sequestrar e manter você prisioneiro. — Tão... magnânima, — ele jogou minha primeira palavra de volta para mim. — Enfim, McAllen, Texas. É uma das cidades da fronteira mais cheias de imigrantes que existe. E graças às igrejas locais sendo, bem, toda essas coisas de igreja sobre a abertura de suas portas, muitas vezes elas se tornaram asilos. Especialmente para mulheres e crianças. — Você acha que minha mãe viajou comigo do México? Você sabe quanto tempo uma caminhada por esse deserto é, certo? Quão quente? Quantos adultos não conseguem chegar até o fim? Como minha mãe faria isso comigo a reboque? — As pessoas podem ser fracas, singularmente. Uma mãe, por outro lado, não acho que haja uma criatura mais feroz no planeta. Dependendo do que ela estava tentando escapar, que vida estava tentando fornecer para você longe de lá, ela podia ter feito isso com você amarrada nas costas dela por uma semana a mais, se era o que precisava fazer. Além do mais, você está sendo bastante literal sobre ‘cruzar a fronteira’. Há um monte de túneis subterrâneos também. Pela quantia certa. — Ok, então vamos suspender a realidade por um momento e dizer que ela cruzou comigo para McAllen, Texas. E depois? O que vem depois? Seu rastro está frio a partir daí. — Meu rastro fica frio online a partir daí, sim. Registros do México são difíceis de conseguir. Muitas áreas não são tão... digitalizadas como nós somos aqui. — Então você está propondo que eu visite McAllen, Texas? Vá bater nas portas, e pergunte a todo mundo se há vinte e quatro anos

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atrás eles se lembram de uma mãe e sua filha pequena? Caí na real, Luce. — Também há isso, — ele disse, parecendo sério, como se estivesse hesitante em compartilhar. Ele procurou por uma cópia digitalizada de um jornal, entregando-a para mim. — Ah, divertido. Um desfile! — eu zombei do entusiasmo. — Espertinha, uma coluna abaixo. E lá estava. E talvez fosse um tiro no escuro. Acontecia todos os dias. Acontecia a cada três minutos apenas nos EUA. Mas, considerando as outras evidências, era difícil negar a probabilidade. — Uma imigrante não identificada foi severamente espancada e agredida, — comecei a ler, sentindo o sanduíche rolar no meu estômago. — Tudo bem, aí está essa palidez de novo, — ele disse, arrancando a página da minha mão. Ele a tinha literalmente rasgado também; um canto ainda estava entre o meu polegar e o indicador. — A síntese é que ela foi tratada e liberada. Relatórios disseram que ela talvez tenha ido para a Igreja de St. Christopher em McAllen. Mas isso era tudo o que havia. Eu sei que não parece muito, mas se há alguma coisa que eu tenho aprendido nesta linha de trabalho, é que se algo parece suspeito, é. E se você continuar investigando, você encontrará aquele peixe podre. — Então você acha que eu deveria ir ao Texas e... investigar. Eu podia fazer isto. A questão era que, meu pai deixou muito dinheiro. É verdade que, na maioria dos casos, você precisava de uma certidão de óbito para obter o dinheiro de um pai morto. E quando não há corpo, conseguir uma certidão de óbito à revelia, leva sete anos.

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Sabe, se você fizer as coisas legalmente. Se você usasse bancos. Meu pai não obteve exatamente seu dinheiro legalmente. Para evitar se meter em problemas com a Receita Federal, ele simplesmente o escondia toda vez que entrávamos nos Estados Unidos, apenas mantendo o suficiente para a próxima etapa de nossas viagens. Na verdade, eu nunca fui com ele quando ele estacionava no depósito nas altas horas da noite, muito antes dele desparecer, não tinha ideia do quanto ele tinha guardado lá. Mas, bem, especialistas em veneno, gente do tipo do conjunto de habilidades e conhecimento dele eram raros. E raridade, em todos os aspectos da vida, era recompensada generosamente. Então, quando eu descobri a chave, encontrei o armário do depósito e entrei, não fiquei excessivamente chocada com as pilhas de dinheiro, joias e até mesmo um estoque de diamantes que encontrei. Era o suficiente para me arranjar pelos próximos quinze anos, comigo sem fazer nada além de sentar na minha bunda. Certamente foi o suficiente para eu conseguir minha modesta casa, ter alguma mobília, construir uma prisão no porão e talvez fazer uma viagem ao Texas para procurar por respostas. — Você realmente acha que é sensato fazer qualquer investigação em seu passado por conta própria, com sua recém-descoberta condição de desmaio? — Não é uma condição! — eu chiei, sacudindo a cabeça. — Eu apenas tenho estado... sobrecarregada, é tudo. — Acha que vai estar menos sobrecarregada para descobrir a verdade sobre sua mãe e Alejandro? Ele tinha razão ali. — Eu vou... investir em alguns sais aromáticos e usá-los no meu pescoço, — eu disse com um sorriso.

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Seus olhos profundos me observaram por um longo minuto, ilegíveis, como eles quase sempre pareciam ser. — Apenas me peça para vir, Evan. Caramba. Não me pergunte por que, mas aquelas palavras e talvez a profundidade com a qual ele as disse, enviaram uma estranha sensação de vibração pela minha barriga. Pedir a ele para vir? De todas as ideias completamente atraentes.

insanas,

estúpidas

Eu queria que ele viesse? Eu meio que queria. Isso era muito maluco? Ah diabos, sim. Pensando bem, toda a situação era maluca. Então, que mal podia fazer, certo? — Venha comigo, Luce.

~ 104 ~

e

ainda

assim


Luce

Não me pergunte porra, por que pedi a ela que me pedir para ir com ela. Eu não era esse cara. Eu não ia em viagens para resolver mistérios. Eu não fazia amizade com estranhos pragmáticos. Na verdade, a única vez que viajei foi para encontrar meus alvos e trazê-los de volta comigo. E isso foi só quando não conseguia encontrar um jeito de enganá-los para vir até mim, o que era raro. Normalmente, podia apenas fazer um post para os pervertidos sobre algum novo antro onde eles poderiam conseguir seu estupro com garotos ou garotas menores de idade, e eles simplesmente vinham correndo. Pagando uma taxa inicial para entrada também. Otários fodidos. Realmente eles tiveram o que mereciam. Mas sim, eu não fazia viagens aleatórias para cidades aleatórias na porra do Texas, para investigar sujeira de vinte e quatro anos atrás. Mesmo assim, eu estava fazendo exatamente isso. O que eu posso dizer, gostei de Evan. Ela era diferente. Havia partes iguais de seda e aço nela.

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Além disso, simplesmente tenho essa sensação estranha como se ela precisasse de um amigo. Normalmente, apenas ignorava este desejo de forjar vínculos, chamando-o do que era - estúpido e imprudente. Eu simplesmente não conseguia me convencer a fazer isso nessa situação. Uma parte de mim queria afirmar que isso era apenas a história, apenas para desatar as conclusões, apenas meu desejo quase compulsivo para conhecer a verdade, para saber que eu estava certo. Mas a outra parte de mim parecia reconhecer que era algo mais do que isso. No entanto, o que quer que mais talvez tivesse sido, ia ser apenas amigável. Sem mais beijar. Sem mais imaginar ela se tocando enquanto pensava em mim. Sem mais dar uma esfregada e pensar sobre ela implorando pelo meu pau. Porra. Vendo que até mesmo pensar essas coisas me deixaram meio duro, sim, toda essa parte do plano ia exigir uma verdadeira maldita força de vontade. — Então, quando você está livre para ir? — ela perguntou depois do que deve ter sido um silêncio tenso comigo todo perdido em meus próprios pensamentos. Ah, sim. Nós estávamos fazendo essa merda. Planejamento. Comparando horários. Eu nunca tive que planejar nada, exceto armadilhas e rotas de fuga antes. — Ah, eu só tenho um cabeça de merda fodido para lidar primeiro, — eu disse, percebendo que tinha passado o dia inteiro

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pesquisando as coisas de Evan e não trabalhando nas minhas próprias coisas. O que diabos estava errado comigo? — Oh, sim. Sobre isso, — ela disse, beliscando seu lábio inferior ligeiramente, parecendo culpada como o inferno. — Sobre isso? — eu instiguei quando ela não continuou. — Aquele cabeça de merda não é real. Aquela mensagem e aquela voz de robô no telefone... — Não brinca, — eu disse, encontrando-me sorrindo quando deveria estar furioso de tudo. Primeiro, porque uma conexão foi exposta. Segundo, porque esse contato não pensou em dizer a mim que eles estavam se expondo. — Eu precisava atraí-lo para que pudesse segui-lo, — ela admitiu. — E manter sua mente ocupada, então você não me veria chegando. — Missão cumprida, — eu disse, abrindo o zíper do meu moletom suavemente, para que eu pudesse puxar para baixo e mostrar a ela a contusão asquerosa idiota que eu tinha na minha nuca. — Ai, — ela sussurrou. — Desculpe. Eu, ah, realmente joguei toda a minha raiva nesse golpe. Eu nunca tinha atingido alguém antes, não tinha ideia de quanta força seria necessária para te derrubar. — Mais força é geralmente a melhor aposta, — eu concordei, fechando meu moletom de volta. — Bem, então... meu cronograma está limpo, não tenho exatamente um horário fixo aqui. — Pode ser bom para você sair daqui também. — Então a energia da teoria conspiratória do Velho Lunático para de ficar encharcada pelos meus poros. — Exatamente, — ela concordou com uma pequena risada. — Oh, — ela disse, de repente parecendo desanimada. — Oh, o quê? — Oh, Diego.

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— Sim, eu vou precisar de mais do que isso, boneca. — Meu pássaro, — ela explicou. — Sua arara, — eu especifiquei, ainda me sentindo muito orgulhoso de mim mesmo por ter acertado aquela. — Sim, minha arara azul e dourada, Diego. Eu não posso levá-lo. Isto é, ele já esteve em um avião antes. Mas sempre havia um trailer ou van, ou algo do outro lado onde ele poderia se mover. E não acho que hotéis deixem que você leve pássaros. Eu só... não conheço ninguém que esteja disposto a aceitá-lo. E não quero embarcá-lo. Eu esfreguei meu queixo sentindo a barba por fazer, fazendo uma nota mental para me barbear antes de nós partirmos. — Eu talvez conheça alguém. — Eles gostam de pássaros? — Claro, — eu concordei, acenando com a cabeça. Eu tinha certeza que ele talvez apreciasse, você sabe, a aparência ou sons de um pássaro à distância, em algum momento ou outro. Pensando bem, talvez não. Ele era um fodido estranho. Mas considerando que eu tinha feito para ele e seus amigos um grande favor a um tempo atrás, eu ia em frente e pedir o pagamento do favor. Barrett pode ter ficado muito preso em sua própria cabeça, muito inteligente para seu próprio bem, e antissocial, mas era um cara bom. Ele provavelmente passaria dez horas pesquisando sobre os cuidados com uma arara, e Evan voltaria para casa com o maldito papagaio mais saudável da costa leste. — Você acha que eles poderiam fazer isso em um curto prazo? — Sim, ele não é ocupado. Eu posso passar por lá e avisá-lo quando você estiver pronta para sair, e então você pode vir e deixá-lo lá. — Ok, então. Eu preciso ir e dar uma olhada nos voos e essas coisas. Mas se pudermos talvez conseguir ir antes do fim de semana... — Você me dá o dia e a hora, e nós podemos fazer acontecer.

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— Tudo bem, hum, — ela disse, procurando algo mais para dizer, mas não havia nada. — Obrigada por me pegar quando eu desmaiei. — Protagonista super-herói, certo? Essa merda deve fazer o seu caminho naqueles contos eróticos. Porra. Eu não deveria ter dito isso. Porque os olhos dela ficaram acesos, cara. E eu estava tentando ser todo nobre e manter meu pau de acordo com a ideia de ‘apenas amigos’. — Muito sonhador, — ela disse, a voz vazia, se recuperando rapidamente. — E obrigada pela comida, pelo filme, pela companhia e... você sabe... — ela diminuiu, encolhendo os ombros. — Eu sei? — eu provoquei, querendo saber seja o que for que ela pensou que eu podia silenciosamente perceber. Eu não podia. — Por, eu não sei, meio que... ser um amigo, — ela disse, parecendo tensa. — Boneca, — eu disse, ficando em pé quando ela ficou também, — se você está feliz em me ter como amigo, você tem algumas ideias bem fodidas sobre o que constitui um bom amigo. Mas você é bemvinda para a comida e filme e, você sabe, o prazer da minha companhia, — eu disse com um sorriso, tentando aliviar o clima. — Você tem um celular em que posso entrar em contato com você? Você sabe... sem precisar usar o sistema de pager? Isso, bem, estava pedindo muito, porra. Eu não dava uma linha direta para ninguém. Literalmente ninguém. — Ah, um segundo, — eu me surpreendi por dizer, entrando no quarto e pegando uma das caixas dentro da cômoda. Eu comprei aparelhos descartáveis, uma porra de carrinho cheio. — Tudo bem, este aqui, este será apenas para o contato entre você e eu. Dê esse número, e você terá que ser o próximo corpo derretendo na minha banheira, —

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eu adverti, mas não havia uma gota de sinceridade na ameaça e nós dois sabíamos disso. — Como se eu tivesse alguém para dar o número, de qualquer jeito, — ela disse enquanto digitava em seu telefone. E a voz dela quando disse isso, bem, era triste. Vazia, quase. Era uma coisa muito horrível perceber que um vigilante assassino em série, que derretia corpos em banheiras e não conseguia ter qualquer relacionamento normal com pessoas, era o seu único maldito ‘amigo’ no mundo. — Ok, tudo pronto. Eu enviarei uma mensagem para você sobre os voos. Envie uma mensagem para mim quando você receber uma resposta do seu amigo. — Enviarei. — Você precisa instalar um escorregador ou algo assim nessa colina, — ela me informou enquanto eu a levava até a porta, e observava seu olhar para a colina em questão com desagrado. — Ah, e você pode querer, eu não sei, levar algumas camisetas ou algo assim. É quente no Texas. Com isso, ela desapareceu. Bem, não desapareceu. Na verdade, ela não ficou fora de vista por quase meia hora, e meu fodido louco traseiro ficou parado ali e olhou até que ela se distanciou. Assim que ela desapareceu, eu tranquei a porta e fiz meu caminho para baixo da colina também, andando o caminho para a cidade e para o escritório de Barrett. — Ei, — eu chamei quando ele olhou para mim de seu perímetro, então apenas voltou a trabalhar, provavelmente pensando que eu estava lá apenas para usar o John para fazer uma ligação. — E aí, Luce? — ele perguntou, levantando as mãos para esfregalas pelo rosto. Ele aparentava ter perdido uma noite de sono também.

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Eu me sentia mal pelo fodido às vezes. Não podia ter sido fácil ser o irmão mais novo do melhor PI da cidade, sempre tendo que trabalhar muito mais duro para conseguir até mesmo uma fração do reconhecimento que ele tinha. A coisa mais louca era que, Barrett era cerca de mil vezes melhor que seu irmão no departamento de informática e pesquisa, mas com o treinamento das forças especiais de Sawyer, não havia como Barrett conseguir chegar perto das habilidades corpo-a-corpo dele. Era uma pena que os dois nunca conseguiram descobrir como trabalhar um com o outro sem querer se matar. E eles tinham tentado. — Cobrando um favor, — eu expliquei, encostando na parede com meus braços cruzados sobre o peito. — Você? — ele perguntou, nem mesmo fingindo esconder seu espanto. Eu nunca precisei de ajuda, sempre trabalhei sozinho. — Você precisa cobrar seus favores? Eu juro que tinha certeza que sua lápide diria: Barrett, você ainda me deve. — Sim, bem, isso não é relacionado ao trabalho. Favor pessoal. — Bem, visto que você é tão bom em computadores quanto eu, e parece não ter interesse em aprender polonês... o quê? Você precisa de mim para regar suas plantas e receber sua correspondência? — ele perguntou, a voz cheia de sarcasmo. — Eu preciso que você cuide de um pássaro. Eu juro que ocorreram uns bons cinco batimentos antes de suas sobrancelhas voltarem para baixo. — Cuidar de um pássaro? — Arara, na verdade. Arara azul e dourada. — Desde quando você é uma pessoa de pássaros? — Eu não sou. É para uma, ah, amiga minha. — Eu não sabia que você tinha algum amigo. — Certo, porque o seu calendário social está com a agenda cheia. — Então, você está falando sério. Você tem uma arara que precisa que eu olhe.

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— Sim. — Quando? Por quanto tempo? — Hum, eu não sei ainda, mas logo. E pelo tempo que uma viagem ao Texas for demorar. — Eu quero saber? — É uma longa história, — eu disse com um encolher de ombros. — Então, não, não quero saber. Essa coisa não vai tirar meu dedo, né? — Foda-se se eu sei. Eu nunca nem sequer o vi. Apenas o ouvi enquanto estava trancado em uma cela no porão na noite passada. — Cela no porão, — ele repetiu, as sobrancelhas se unindo. — Mal-entendido sobre um assassinato que na verdade foi um suicídio. — Ah, — ele disse, como se soubesse exatamente o que aconteceu. — Ah, espere, — eu disse quando meu telefone tocou no meu bolso. Era uma coisa tão estranha para mim que realmente dei um pulo. — Posso ter mais detalhes em um segundo, — eu expliquei enquanto batia na tela. — Isso é... um celular? Isso estava... tocando? — Está parecendo que o dia é depois de amanhã às, digamos, dez da manhã. Ela vai dar uma passada por aqui e deixará todas as coisas que ele precisa. Vou mantê-lo atualizado via mensagem de texto sobre quando nós podemos estar de volta. Então, preciso do seu... o quê? — eu perguntei quando tudo o que ele fazia era olhar fixamente para mim. — Quem diabos é você? — ele perguntou, balançando a cabeça. — Você de repente tem uma amiga com quem você está indo em uma viagem. Você tem um celular, e você está realmente programando números nele. O que diabos aconteceu naquele porão, Luce?

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Essa era na verdade uma pergunta bastante válida, uma que eu sabia que teria que ponderar sobre mim mesmo. Algum dia. Mas não hoje. — Sei lá homem. Estou evoluindo, eu acho. Então, você vai fazer isso. — Eu, ah, bem, isso me dá algum tempo para pesquisar. O que foi que eu disse? Em um dia ou dois, Barrett ia ser o principal especialista em araras azuis e douradas no país. Ele era um excelente exemplo do porquê algumas pessoas aparentemente frias e robóticas podiam realmente construir bons patrimônios na vida. Talvez ele não fosse beijar o maldito bico do pássaro ou alguma merda assim, mas o alimentaria direito, teria certeza que ele dormiria, merda, se exercitaria e se comportaria como deveria.

****

Um dia e meio depois, eu estava em pé no escritório de Barrett com um enorme sorriso. Porque não era mais o escritório dele. Não realmente. Claro, sua mesa ainda estava lá, e seu equipamento de escritório estava onde sempre estivera, mas todo o reduzido espaço livre tinha sido transformado em uma pequena selva de pássaros. Não brinca. Havia coisas penduradas dos tetos e um imenso galho de árvore se posicionando acima de tudo. Havia uma luz no alto que ele explicou que era de espectro completo porque, aparentemente, se os pássaros não obtinham o suficiente da iluminação correta, eles realmente paravam de ver cores. Que, ele continuou a explicar, faria seus hábitos alimentares mudarem para pior, porque eles não conseguiam ver corretamente o que estavam comendo.

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Juro pra caralho, que ele me contou toda essa merda nos três minutos entre eu aparecer e quando Evan entrou pela porta. Ela entrou com o pássaro em questão colocado em sua mão. Ele estava olhando ao redor com curiosidade, mas não parecendo nem um pouco assustado. — Ah, caramba, — ela disse, parando brevemente, olhando para mim com olhos grandes por um segundo, questionando, depois olhando para Barrett. — Eu acho que você vai cuidar dele melhor do que eu, — ela disse, soando quase um pouco culpada sobre isso. — Eu fiz algumas pesquisas sobre araras, mas há alguma coisa específica que eu precise saber sobre ele? Ah, Barrett. Tudo sobre os fatos. Ele nem sabia o nome dela. Ou o do pássaro. — Ah, bem, ele não tem as asas cortadas, então ele voa por todo lugar. Ele grita ao nascer e pôr do sol, mas só por um pequeno tempo. Se você lhe der couve-flor, ele vai jogá-la. Se você lhe der amoras, ele vai... apenas não dê amoras a ele. Confie em mim. Ele fala e ele só bica quando você está tentando fazê-lo fazer algo que ele não quer. Ele é muito bom, considerando tudo. E ele está acostumado a se movimentar e a estranhos, então ele não deve ficar nervoso ou autodestrutivo estando longe de mim por alguns dias. — Sua dieta? — Ração, semente como um agrado, legumes frescos, e frutas quando ele vai comê-las. — Tudo bem. Isso é tudo que eu preciso saber. — Bem, o nome dele é Diego, — disse Evan, com a sobrancelha levantada. — Você pode precisar saber disso. — Imaginei que ele mesmo me contaria, — disse Barrett, aproximando-se do pássaro gigante com um enorme bico, e oferecendo sua mão sem nem mesmo um pingo de medo. Eu me perguntei se isso era parte da coisa de Barrett, sua seja-o-que-for que o fazia apenas um pouco diferente de todos os outros. Isso também o tornava ingenuamente destemido?

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Mas o pássaro respondeu à sua confiança e deu um passo para cima, deixando escapar um grasnido que me fez estremecer. — Tudo bem. Vamos mantê-lo atualizado via texto, — eu o lembrei, enquanto ele parecia nos ignorar completamente, levando o pássaro para a sua nova selva, e introduzindo-o aos lugares onde os pratos de comida e água estavam. — Podemos muito bem ir agora, boneca. Nós o perdemos. Ela olhou para mim, depois de volta para Barrett, que estava dando a Diego cafunes e depois de volta para mim. — Ah, sim, ok. Vamos indo. Você tem tudo? — ela perguntou. Eu me abaixei, pegando minha mochila e a levantando. — Isso é tudo? Sério? — Isso é tudo, sério, — eu concordei, assentindo. Eu não tinha exatamente um guarda-roupa extenso. — Você realmente vai vestir moletom com capuz no avião? — ela perguntou enquanto nos andávamos para fora em direção ao seu carro, guardando minha mochila no banco de trás com sua mochila de lona. Deslocando-se por aí tanto quanto ela tinha feito, ela deve saber como economizar com a bagagem de mão. — Eu ficaria mais preocupado com o ar reciclado, MRSA10 nos braços das poltronas e bebês gritando, do que com o meu moletom, Ev. — Eu disse, dando-lhe um pequeno sorriso. — Ah, você vai ser um companheiro de voo divertido, hein? — ela brincou, revirando os olhos. Nós entramos e fizemos nosso caminho para o aeroporto.

**** — Eu lhe disse para não usar o moletom, — ela disse depois que o guarda da segurança me fez tirá-lo para me analisar e me revistar. Eu acho que eu parecia como um criminoso. Sabe, porque eu era um.

10

Um tipo de bactéria que se tornou resistente a vários antibióticos.

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— Sim, sim, sim, — eu disse, encolhendo os ombros de volta como uma armadura. — Você já me avisou, não avisou? Podemos ir para a grande incubadora de germes de metal agora? Ela riu, o som quente e musical. — Você é ridículo, — ela declarou, batendo seu ombro no meu enquanto dizia, como se estivesse dizendo que gostava disso sobre mim. E isso, sim, eu gostei muito disso. Esta viagem ia ser toda reveladora, não apenas para Evan, mas para mim também. Eu não conseguia decidir se isso era uma coisa boa ou não.

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Evan

Eu acho que ele se sentia inseguro sobre suas cicatrizes. Era por isso que ele insistia em usar um moletom com capuz em um voo que ia aterrissar em algum lugar que faria nós dois começarmos a suar em minutos. Eu tinha conseguido espreitar algumas, uma vez, mas não fazia ideia de que elas eram tão extensas quanto eram até que o agente da segurança o fez tirar o moletom, deixando-o com uma camiseta preta simples, com os braços em exibição total. E havia cicatrizes. Havia muitas cicatrizes. Algumas pareciam cortes profundos, como se as pessoas que ele tinha matado o tivessem arranhado. Outras, porém, eram estranhas. Redondas. Bem perfeitamente redondas. E eu tive a profunda sensação de que eram queimaduras de cigarros e charutos. A pele estava levantada e franzida como acontecia com queimaduras assim. Meu pai tinha uma no topo de sua mão no triângulo entre o polegar e o indicador, de algum líder de gangue que colocou as mãos nele uma vez. Havia outras também, umas que não eram tão superficiais quanto os arranhões; essas pareciam como ranhuras onde tinha sido retirada sua carne, então deixadas sem tratamento, de modo que a pele precisou crescer sobre as partes faltando carne, sem ser costuradas com pontos e deixando-as nítidas. Doloroso. ~ 117 ~


O que quer que tenha feito isso, deve ter doído pra caramba. Eu não conseguia imaginar. E o que quer que as tinha causado, obviamente não era algo sobre o qual ele queria falar. Era por isso que ele as mantinha cobertas o tempo todo. Que escuridão ele deve ter conhecido? — Não, — ele disse de repente, fazendo-me pular, tanto tempo perdida em meus próprios pensamentos que percebi que o tinha seguido no piloto automático para dentro do avião e pelo corredor sem perceber. — Não, o quê? — Não, eu quero o corredor, — ele esclareceu, esbarrando no meu ombro, e efetivamente me forçando quase a cair no banco. — Tão cavalheiro, — eu disse, revirando os olhos para ele enquanto eu sentava. — Sou eu, verdadeiro fodido Ashley Wilkes. Você deveria saber essa referência de todo o seu aprendizado com livros, — ele acrescentou, apertando o cinto de segurança. — E o Vento Levou. — Esse mesmo. Outro bom longa-metragem. Se você tiver quatro horas de sobra. — Você vai mesmo me fazer assistir ao filme a bordo, não é? — Bem, olhe para isso, — ele declarou, sorrindo. — Nós podemos assistir Moana, — ele disse, parecendo animado. — E por ‘podemos’, eu quero dizer ‘iremos’, — ele declarou. Alguns minutos depois, estávamos assistindo. E foi fofo. Mas eu estava talvez um pouco mais distraída do que deveria estar, pelo fato que nós estávamos meio que dividindo um braço de poltrona, podia sentir o calor do corpo dele através do tecido de sua

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manga e que ele não se afastou quando o meu se moveu para lá. Era como ter dezesseis anos de novo. Que, aparentemente, significava que eu tinha totalmente uma - e me encolho ao usar essa palavra como uma adulta crescida – paixonite pelo estranho, cheio de cicatrizes, ocasionalmente hilário, sempre misterioso e um beijador muito habilidoso conhecido como Luce. Realmente, não havia como negar isso. Não quando estava muito ciente de coisas minúsculas e inconsequentes, como o braço dele roçando o meu, o calor do seu corpo e o jeito que seus olhos dançavam quando dizia algo engraçado. Tudo isso somado a ter uma paixonite, não importa de que modo você tentasse trabalhar a equação. Inteligente? Não. Lógico? Bem, claro que não. Mas havia o sentimento, apesar de tudo. Eu imaginei que talvez a viagem fosse boa. Talvez estar perto dele por alguns dias seguidos em um calor sufocante, durante uma situação emocionalmente carregada, me curaria dessa paixonite. Ou, você sabe, talvez nós terminaríamos em uma pilha emaranhada de membros suados depois de intensos orgasmos de abalar o mundo. Seja como for. Eu estava disposta a correr esse ‘risco’. — Então? — ele perguntou quando o filme terminou, estendendo a mão para tirar meus fones de ouvido. — Eu quero um porco, — declarei, fazendo-o rir. — Puaa significa porco em havaiano. Isso não exigiu muita imaginação.

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— Como Heifer de A vida Moderna de Rocko11. Ah, sim, — ele disse, suspirando, — eu esqueci. Sua infância nunca te ensinou essa música. Como diabos você aprendeu a soletrar ‘conservar’ sem esse programa? — Hum... um dicionário? — eu sugeri. Ele bufou. — Nerd, — ele acusou. — Então, de Houston, para onde estamos indo? Luce tinha literalmente deixado cada pequeno detalhe do planejamento da viagem para mim. Eu sabia que ele normalmente era um chato quase assustadoramente meticuloso por detalhes em seu trabalho, mas talvez porque esse não era o seu trabalho propriamente dito, ele estava bem em viajar de passageiro e me deixar lidar com todos os planos. — Eu tenho um carro alugado no aeroporto. São cinco horas de carro do aeroporto até McAllen, onde podemos ficar a noite. Nós vamos estar acabados até lá. — E onde estamos ficando? — Bem, eu fiz o meu melhor para tentar encontrar uma cabana na floresta em uma colina com ambiente de velho, mas infelizmente, o Texas é plano e é pequeno no departamento de florestas. Com bastante velhos, no entanto. Talvez um terá deixado sua energia nas paredes do seu quarto de hotel. É muito, ah, sensato na decoração sulista. Tenho certeza que vi fotos emolduradas de botas de cowboy em uma das paredes. É um lugar legal. E apenas quinze minutos da igreja que você mencionou. — Parece bom. — Talvez você seja capaz de dormir um pouco lá, — eu disse no silêncio tenso, fazendo a cabeça dele se inclinar para olhar para mim com curiosidade. — Vamos lá, nem mesmo toda a cafeína pode esconder o fato de que você não está dormindo. — Eu passo por fases, — ele contornou, encolhendo os ombros como se não fosse grande coisa.

11 Desenho animado exibido entre 1993-1996.

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— Bem, talvez uma mudança de cenário ajude. — Sim, talvez. Não havia nem um pingo de otimismo em sua voz. E eu não pude deixar de pensar quais eram suas fases, o que as causava, o que as fazia ir embora novamente. Era simplesmente toda a escuridão que ele tinha envolvida nele? Por trás de suas pálpebras quando tentava descansar à noite, ele via homens implorando por suas vidas, dando seus últimos suspiros, corpos mortos derretendo em uma banheira? Essas eram todas perguntas que aparentemente não seriam respondidas porque, pelo resto do voo, ele me tratou com frieza. Ele não estava exteriormente todo indiferente, exceto que ele manteve seu foco em direção ao corredor para que eu não pudesse encontrar seu olhar para começar outra conversa. Eu tive a sensação de que ele estava sensível porque atingi um ponto fraco. Talvez entre ver suas cicatrizes mais cedo e chamar sua atenção para sua insônia, ele estivesse se sentindo um pouco exposto. Um homem como ele, vivendo atrás de suas defesas, atrás de suas mangas longas e capuzes, escondido em sua floresta longe do mundo, eu tinha certeza que ele não estava acostumado a ter ninguém sequer tentando chegar perto dele. Isto é, até mesmo seu amigo investigador particular, Barrett, não parecia exatamente um amigo. Os dois homens interagiram como duas pessoas que costumavam sair quando eram adolescentes e não se viam há uma década. Eles dois eram personagens igualmente estranhos, claro, e talvez este fato tivesse mais a ver com isso do que a incapacidade de Luce de se conectar. Por tudo o que eu sabia, talvez eles assistissem esportes juntos e saíssem pela cidade para pegar garotas toda semana. Essa última ideia fez minha barriga balançar um pouco, completamente irracional, eu sei, mas aconteceu, no entanto. Eu precisava entrar em contato com esses sentimentos tipopaixonite por um homem.

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Isso se revelou quase impossível, no entanto, quando nós terminamos em um passeio de carro muito tenso onde eu dirigi e Luce brincou de capitão no rádio. Isso foi bom para mim porque, bem, eu não conhecia nenhuma das malditas músicas de qualquer maneira. Eu podia sentir os olhos de Luce no meu perfil quando uma música que ele deve ter achado particularmente popular, emocionante, boa, ou todas as três, procurando algum sinal de reconhecimento. Quando ele não encontrava nenhum, havia um suspiro ou uma negação silenciosa. Além disso, e as instruções ocasionais da senhora perecendo inglesa do GPS no meu telefone, o passeio foi dolorosamente silencioso. Nós não falamos. Ele não fez piadas às minhas custas. E eu, bem, não consegui pensar em nada para dizer. Oh, olha, outro cavalo, parecia um pouco sem graça. O lado de fora do hotel era um reboco cor de areia escuro, no estilo de uma casa de campo espanhola, enorme, e havia uma boa quantidade de vegetação que eu achei impressionante dado o opressivo calor seco. Eu tinha sentido todos os tipos de calor em minhas viagens. Na minha humilde opinião, nada era pior do que seco. Ele pressionava seu peito e transformava a respiração mais como uma ideia do que uma realidade. Nós pegamos nossas respectivas bagagens e nos movemos para o lobby, onde eu soltei um suspiro porque, não só estava lá uma foto emoldurada de botas de cowboy como eu havia insinuado, mas havia também uma foto emoldurada de um chapéu de cowboy, uma de uma espora e uma de um cacto. Claro, elas eram meio modernas com cores primárias brilhantes, mas ainda eram incrivelmente, quase ofensivamente do Sudoeste. Os locais usavam mesmo coisas assim? Quem diria. — Sinto muito, senhorita Cruz, — disse a jovem no balcão de atendimento, olhando por cima do computador, parecendo competente e profissional em sua camisa branca impecável. Como ela não suava

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com isso no caminho para o trabalho, estava além da minha compreensão. O sangue afina, foi algo que alguém uma vez me disse no Alabama quando eu reclamei de uma onda de calor particularmente ruim. Talvez pessoas que cresceram em certos climas não eram tão afetadas por eles quanto as pessoas que visitavam eram. — Mas eu tenho aqui que você reservou um quarto com duas camas, não dois quartos com uma cama em cada. — O quê? Não, — eu insisti, balançando a cabeça, parecendo como uma idiota. — Não, isso não é possível. — Pode ser complicado no formulário on-line, senhora, — continuou ela, parecendo se desculpar e aparentemente indiferente com o meu lábio apertado com a palavra ‘senhora’. Eu dificilmente era uma senhora, droga. Eu ainda estava diretamente dentro da categoria de senhorita. — Essas duas opções estão sobrepostas. Você provavelmente apenas apertou o botão errado. Ai. Eu imagino que era perfeitamente possível. — Você fodeu tudo, — disse Luce, baixo, apoiando-se na mesa de costas para a mulher. Foi talvez a primeira vez que ele falou diretamente para mim, além de me ajudar a ler as placas com nomes de ruas, desde o avião. E quando meu olhar foi para ele, ele estava se divertindo ao dizer foder. — Certo. Eu sinto muito pelo mal-entendido, — eu disse, dandolhe um sorriso. — Existe algum jeito... o quê? — eu perguntei porque no meio do meu discurso, ela já estava balançando a cabeça para mim. — Eu sinto muito, senhora. — Ah, ela estava realmente cavando seu túmulo com a merda da senhora. Eu estava quente, estava tensa e irritada da viagem. Meu estômago estava roncando. E estava quase irracionalmente irritada com a distância entre eu e meu companheiro de viagem. Em suma, estava rabugenta e não estava com humor para a bobagem da hospitalidade. — Há uma convenção em nosso salão de eventos esta semana. Nós estamos lotados. ~ 123 ~


— É claro que vocês estão, — eu resmunguei, fechando os olhos, respirando fundo e tentando não perder a cabeça com ela, já que, erros da “senhora” à parte, não era culpa dela. — Eu acho que nós iremos para algum lugar... — Basta nos registrar no quarto que você tem reservado para nós, senhora, — disse Luce, fazendo meus olhos se virarem para encontrar seus lábios se contorcendo, como se ele soubesse que eu estava puta com a palavra, como se soubesse exatamente o que estava fazendo, dizendo para a mulher que era pelo menos dois ou três anos mais jovem do que eu. Eu tive que pressionar meus lábios quando ela imediatamente endureceu, seu sorriso caindo por um momento, antes que fosse substituído por um glacial de falsa hospitalidade. — Você fica rabugenta pra cacete quando você viaja, hein? — ele perguntou enquanto ela clicava perto no computador. — Diz o cara que tem feito tempestade num copo d’água por cinco horas e não fala comigo. O tratamento do silencio é infantil, Luce. Caso você não esteja ciente. Se você tem um problema comigo, você me diz. Eu podia sentir seus olhos no meu perfil, quase surpresa que ele não fez buracos na minha pele com sua intensidade. Mas mantive meu foco na mulher na mesa quando ela começou seu pequeno discurso ensaiado. Quando recebi os cartões-chave, agradeci a ela, virei-me e comecei a andar em direção aos elevadores que ela tinha indicado, sem me incomodar em esperar por Luce, para ver se ele estava vindo ou não. Ele, no entanto, me alcançou e entrou no elevador comigo, seguindo-me pelo corredor no nosso andar. O quarto era bom, embora um pouco incomum. A parede atrás das camas era de um verde limão um pouco brilhante. A parede onde as janelas davam para a piscina nos fundos, era coberta de tijolos brancos falsos. As cortinas da janela eram transparentes e cor de terracota. O carpete era limpo, macio e marrom claro. Cada uma das camas tinha cabeceiras acolchoadas de couro falso marrom, lençóis brancos e edredons em branco, verde limão, marrom, terracota e azul. Era quase muito praiano considerando o quão para o interior nós estávamos.

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Mas era bonito. E eu senti o cheiro de alvejante, desinfetante e um traço de amaciante de roupas, então estava limpo. Isso era o que mais importava. Eu caminhei em direção à cama mais próxima das janelas, deixando minha mochila lá e me sentando na beira da cama com um suspiro. Eu tinha grandes esperanças para a viagem. O que era bobo, talvez. Eu tinha me baseado na interação de uma tarde em sua casa, assistindo TV, comendo sanduíches e fazendo planos. Não era como se eu pudesse ter uma ideia completa de como uma pessoa era por uma tarde. Eu apenas imaginei, não sei, que haveria mais de seu humor, sua conversa interessante, alguma coisa. Eu não esperava uma indiferença completa. Ou ter que dividir um quarto com alguém que obviamente não era meu maior fã nesse momento. Eu estava vagamente ciente de Luce caindo na beira da cama também, mas de frente para mim. — Tudo bem, — ele disse com um suspiro em sua voz. — Eu não estou acostumado com pessoas tentando me conhecer, ou mesmo dando a mínima para qualquer coisa sobre mim. Mesmo algo tão pequeno quanto eu estar cansado. — Minha cabeça girou sobre meu ombro para encontrá-lo me observando, ainda em seu maldito moletom. Como se sentisse o pensamento na minha cabeça, ele continuou. — Quanto ao capuz e as cicatrizes, Ev, essa merda não é algo sobre a qual eu vou falar. Eu não sou o tipo de pessoa que se abre. Meu passado é fodido e é feio, e não tem lugar nessa sua linda cabecinha. Porque nenhum de nós estará dormindo. Ok? Realmente, o que mais eu podia esperar? Nós ainda éramos praticamente estranhos. Seria maluco querer mais do que uma vaga resposta para questões pessoais.

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— Ok, — eu concordei com um pequeno aceno de cabeça. — Então, — ele disse, o sorriso puxando um lado dos lábios, fazendo seu rosto sério parecer travesso. — Você realmente tem um problema com a coisa da senhora, hein? Relógio correndo ou alguma merda assim? — Eu tenho pelo menos mais três anos antes que alguém possa começar a me chamar assim. — Pense que pode ser mais sobre a hospitalidade sulista do que sua idade, boneca. Mas isso é interessante. Você está irritada porque está com fome? — Não se preocupe, — eu disse, sorrindo. — Eu não vou desmaiar em você novamente. Mas, sim, estou com fome. — Bem, há um Olive Garden ao lado. Meu rosto se torceu. — Um jardim de oliveira? Como... nós vamos e pegamos azeitonas? Quero dizer, eu vou precisar de mais sustento do que isso. O que é tão engraçado? — eu perguntei quando ele fez aquela risada de menino jogando sua cabeça para trás, que fazia minha barriga ficar líquida e uma sensação de vibração começar entre as minhas coxas. — Olive Garden é um restaurante italiano, Ev. Muito popular também. — No Texas? — eu perguntei, estreitando os olhos para ele. — Não seria a comida tradicional americana ou, francamente, a comida mexicana ser mais apropriada para a região? — Cristo, você é uma viagem. Você é como um maldito alienígena vindo para um novo planeta, — ele declarou, balançando a cabeça para mim. — Se há uma coisa que você deve saber sobre nós americanos, é que queremos cada comida étnica disponível para nós em todas as cidades que visitamos. Você não percebeu que Navesink Bank tem cerca de cinco lugares italianos, três chineses, sushi, mexicano, vietnamita, indiano e cajun por lá? — Eu pensei que era apenas uma peculiaridade daquela cidade, — eu expliquei. — Isto é, acho que seja por eu estar acostumada a

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comer comida mexicana no México, comida indiana na Índia e sushi no Japão. — Ah, mas nós somos o Grande Caldeirão. — Acredito que seja em referência à diversidade étnica. — Exatamente, — ele concordou. — E cada uma dessas etnias traz sua comida para compartilhar com o resto de nós. — Ah, é? E o que os americanos literalmente trazem para a mesa? — Bem, — ele disse, fingindo realmente meditar sobre isso. — Há xarope de milho com alto teor de frutose, e fruit roll ups12, hambúrgueres com donuts como pãezinhos... — Então, basicamente... produtos similares a alimentos, — eu disse com um sorriso. — Altamente, altamente viciante, cheio de açúcar, produtos similares a alimentos, — ele concordou. — Isto é, se você nunca entrou em uma lanchonete à meia-noite e teve uma pilha inteira de panquecas encharcadas com xarope com uma grande bola de manteiga, um lado da torrada com geleia e um café inesgotável com creme e açúcar, francamente, você não experimentou tudo o que este país tem a oferecer. — Eu não posso imaginar que isso sequer soaria apetitoso. A menos que você esteja bêbado. — Ah, você tem muito a aprender. Não se preocupe, eu ainda vou torná-la uma viciada em açúcar. Você quer um banho para lavar esse humor de merda antes de conseguirmos alguma comida? — Eu, ah, sim, — eu disse, levantando rapidamente, pegando minha mochila. — Eu levarei apenas dez minutos. — Isso é fala de menina para quarenta minutos, certo? Eu posso tirar uma soneca poderosa. Eu verdadeiramente quis dizer dez minutos. Eu não era muito exigente e tinha tomado banho essa manhã. A única razão pela qual

12 Uma guloseima com sabor artificial de fruta que vem em forma de rolo.

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queria outro era para limpar o dia e, bem, talvez lidar com uma necessidade particularmente forte e pulsante entre as minhas pernas. Se eu não lidasse com ela, sabia que tudo o que eu ia estar pensando sobre o resto da noite era o fato que estaríamos em um quarto de hotel juntos, onde qualquer coisa, incluindo sexo com membros emaranhados e selvagem, podia acontecer. Eu liguei o chuveiro enquanto amarrava meu cabelo e tirava a roupa, respirando fundo quando entrei sob o jato de água, inclinandome ligeiramente contra a parede lateral do chuveiro enquanto minha mão descia pelo meu corpo, deslizando entre as minhas coxas e sem perder tempo tentando colocar um fim no desejo latejante lá. Esta ia ser uma longa, longa viagem, com a frustração sexual aparentemente logo abaixo da superfície, apenas esperando por um sorriso ou uma risada ou algum comentário espirituoso. Eu mordi meu lábio para evitar qualquer som. Mas quando cheguei mais perto, quando a imagem de Luce na minha cabeça ficou mais forte, quando meu sexo se contraiu dolorosamente na inconsciência suspensa e então atravessou as ondas do orgasmo, um gemido quase dolorido rasgou de algum lugar profundo de dentro de mim, incontrolável, mas esperançosamente abafado pelos sons do chuveiro e da porta fechada. Sentindo-me um pouco mais equilibrada, eu me vesti com algo menos restritivo do o que eu tinha usado mais cedo, decidindo por um simples vestido de verão azul, com a esperança de que não me sentiria tão quente com um pouco de ar circulando por toda parte. Eu mal tinha pisado fora do banheiro e Luce estava diante de mim, bem ali. Como em, bem ali, cara a cara. E os olhos dele estavam cheios de algo que eu não conseguia decifrar. Ele deu um passo. Sem saber por que, eu dei um passo para trás e bati na parede. Meu peito estava pesado novamente. Meu coração começou a bater violentamente. Isso provou ser uma resposta apropriada. ~ 128 ~


Porque no segundo seguinte, sem sequer ao menor sinal de aviso, sua mão deslizou para cima e pressionou forte em meu clitóris, fazendome soltar um choramingo estrangulado com o contato inesperado, de alguma forma sentindo o desejo reacender completamente, como se eu já não o tivesse apagado apenas momentos antes. Sua testa pressionou a minha, seus olhos se fechando por um longo momento enquanto seus dedos continuavam me persuadindo. Habilmente. Implacavelmente. Até que minhas mãos tiveram que subir em torno dele para me segurar, porque a parte interna das minhas coxas começou a tremer. Até a minha testa deslizar da sua para se enterrar em seu pescoço quando os choramingos se tornaram gemidos. Ele me sustentou até o limite, então me levou ao extremo sem hesitação, fazendo-me gritar seu nome quando as ondas quebraram através de mim, sua mão livre tendo que bater no meu quadril para me pressionar contra a parede, para me manter de pé. Sua mão se afastou enquanto eu respirava fundo, tentando retornar, tentando entender o que diabos acabou de acontecer... e por quê. Eu levantei minha cabeça, forçando meus olhos pesados a se abrirem. Eu o encontrei novamente me observando, mas dessa vez entendi o olhar pelo o que era - desejo. — Soou bem por detrás de uma porta fechada, boneca, mas soa um caralho de muito melhor de perto e pessoalmente, — ele declarou, suas mãos se levantando para dar um aperto nos meus quadris antes que ele se afastasse para longe. — Eu tenho os cartões-chave. Não esqueça sua bolsa. E sapatos, — ele acrescentou, quase soando divertido enquanto eu só... fiquei lá, muito sobrecarregada para me mover. Mas então ele caminhou para o corredor, dando-me um minuto e eu acordei do meu estupor, indo para a minha cama e me sentando por um segundo, a mente correndo tão rápido quanto meu coração. Puta merda. Ok.

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Então... isso aconteceu. Aconteceu, e aparentemente deveria agir como se nada tivesse acontecido. Eu deveria simplesmente sair do quarto, ir comer com o homem e, de alguma forma, esquecer que ele tinha me dado um orgasmo. E, bem, eu era uma mulher crescida. Eu não conseguia realmente fazer isso, mas podia fingir. Eu dei outra respirada funda, peguei minha bolsa e coloquei os sapatos antes de ir para a porta. — Italiano? — ele perguntou, empurrando-se da parede onde esteve descansando. — Sim, — eu disse, erguendo levemente o queixo. Então nós jantamos. Conversamos sobre Navesink Bank, sobre a comida, sobre o Texas, sobre a que horas nós íamos embora no dia seguinte. Nada pessoal. O que tornava um pouco mais fácil deslizar de volta para o modo amigo. Nós voltamos para o hotel, e Luce entrou no banheiro para tomar banho. Eu esperei até ouvir a água, então rapidamente me despi e vesti meu pijama, que tinha embalado pensando que estaria dormindo com privacidade, então sim... era um shorts curto que minha bunda quase aparecia e uma regata de seda que o ar fazia meus mamilos apontarem através do tecido. Então corri até a cama, apagando a luz do teto, deixando apenas uma ao lado da porta do corredor acesa, puxei os cobertores para cima e tentei dormir. Sabe, até que a porta rangeu aberta e meus olhos entreabertos captarem a visão de branco. Como as toalhas brancas do banheiro. E, bem, não havia como eu não dar uma olhada.

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Eu era apenas humana. Ele estava meio virado, vasculhando em sua mochila, dando-me uma visão completamente desobstruída de suas costas, mostrando um pouco mais de massa muscular do que eu havia previsto dada a sua magreza geral. Mas isso não foi o que fez meu estômago cair enquanto eu esquecia tudo sobre fingir estar dormindo. Não. Foi porque se eu achei antes que seus braços talvez tivessem sido das vítimas dele, eu soube naquele exato momento que estava completamente enganada. Porque Luce tinha sido uma vítima. Suas costas eram um mapa de horrores. Cada cicatriz contava uma história que eu tinha certeza que me deixaria doente. E ali não parecia haver uma única polegada quadrada de pele que não estivesse marcada. O que aconteceu com ele? Era por isso que ele vivia em uma cabana na floresta, isolado das pessoas? Que tipo de monstro fazia isso com outra pessoa? — Luce... — eu disse, sentando-me, tudo em mim querendo abrir os braços para ele. Seu corpo inteiro estremeceu, como se realmente tivesse pensado que eu estivesse dormindo. E, em seu estado de choque, ele se virou para mim completamente, revelando outra diferente variedade de cicatrizes. Mas estas estavam todas em um único local em seu peito. E não eram apenas cicatrizes aleatórias. Elas eram uma palavra entalhada em sua carne. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ele se virou e desapareceu de volta no banheiro. Eu pude ouvir algo bater, depois nada.

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E eu não quis dizer nada. Não houve barulho lá de dentro por quase uma hora. Ele saiu depois disso, apagando a luz, mas não antes que eu pudesse ver que ele estava com uma camiseta, como se aceitasse que não havia mais como se esconder. Mas ele manteve os olhos longe de mim enquanto deslizava sob o lençol e olhava para o teto. Senti como se não pudesse deixar esse momento de lado, não podia simplesmente... fingir que algo não aconteceu. Eu levantei, sentando ao lado da minha cama. — Luce? — eu chamei, mas ele apenas balançou a cabeça, ainda olhando para cima. Respirei fundo e fiquei de pé, caminhando para o lado de sua cama, observando enquanto ele forçava seus olhos para mim, tentando guardar sua vulnerabilidade ali, mas não antes que eu a visse. — Eu não perguntarei, — eu disse, estendendo a mão para baixo, tocando seu antebraço, meus dedos encontrando uma das queimaduras redondas levantadas, mas estranhamente lisas ao mesmo tempo. — Ok? Eu nunca perguntarei. Eu não sei o que estava esperando. Mas certamente não foi o que realmente aconteceu. Num segundo, eu estava apenas parada ali. No seguinte, ele se inclinou metade para cima, agarrou meu braço e me deu um puxão para a cama. Eu mal havia aterrissado antes de seu braço envolver minhas costas e me enrolar em seu peito. — Ok, — ele disse, a voz quase inaudível. E então nós dormimos. Bem, ele dormiu. O que era bom. Ele precisava dormir.

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Eu, bem, fiquei acordada percebendo que nós tínhamos, de alguma forma, sem sequer falar, pulado o que era um obstáculo gigante entre nós. O que significava que nós pegamos a coisa toda de ‘somos apenas amigos com o benefício ocasional’ e jogamos pela janela. Pelo menos, eu tinha certeza que isso aconteceu. O tempo diria. Finalmente, embalada pela diminuição estável do peito de Luce sob mim, seu batimento cardíaco e seu braço me segurando apertado, um luxo que não me tem sido proporcionado a muito tempo, adormeci em um sono sem sonhos.

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Luce

A merda mudou. Não me pergunte exatamente quando. Eu tinha certeza que começou em estágios. Estágio um, beijando-a no porão. Dois, concordando em ir em uma viagem com ela. Três, sentindo-me uma merda em ignorá-la, depois dando-lhe uma resposta evasiva sobre o porquê estava fazendo aquilo. Essa merda era nova para mim. Quatro, relaxando naquela cama e cuidando da minha própria vida, quando a ouvi gozar de detrás da porta fechada. A explosão que senti por dentro foi diferente. Sexual? Claro. Mas foi mais do que isso também. Era primitivo e possessivo, algo que me fez querer ser a única razão pela qual ela faria aqueles sons novamente. Cinco, realmente conseguindo fazê-la fazer aqueles sons, sentindo o calor e a umidade de sua doce boceta, sentindo sua respiração quente prender e exalar no meu pescoço, seus dedos cavando em mim para segurá-la, gritando meu nome quando ela gozou... sim, essa merda foi inesperadamente esmagadora. Seis, bem, seis era um território inteiramente novo. Seis, era ela vendo algo que ninguém, nem uma única pessoa havia visto em anos. As cicatrizes no meu braço, eu sabia que elas não estavam sempre escondidas, que minha manga subia e as mostravam de vez em quando. Mas ninguém conseguia ver minhas costas e meu peito. Ninguém ~ 134 ~


chegou a especular como essas marcas foram parar na minha pele. Ouvir o horror em sua voz quando ela disse meu nome depois de vê-las, fez uma espiral de pavor encher meu estômago. Porque eu não podia ir lá. Eu nunca fui lá. Não tinha certeza se conseguiria voltar intacto se eu sequer tentasse. Tudo dentro de mim gritava para desligar. Isso foi exatamente o que eu estive tentado fazer. Então ela veio até mim, tocou-me e disse a única coisa que podia ter feito a situação ficar melhor. Ela não ia perguntar. Ela nunca ia perguntar. O alívio foi de uma força que eu nunca tinha experimentado antes. Se eu estivesse em pé, isso podia me deixar de joelhos. Como foi, isso me fez querer dar a ela, pelo menos, algum sinal do quanto esse voto significava para mim. Então a puxei para baixo na cama comigo, a aconcheguei ao meu lado, senti sua cabeça repousar sobre a coisa murcha, escura e quebrada que era o meu coração. E eu? Eu dormi como um maldito bebê. Com a certeza de que nunca tinha tido uma noite dessas de sono sem sonhos. Eu até acordei antes dela, encontrando-a quase completamente esparramada sobre mim. Sua perna estava jogada sobre meus quadris, seu joelho descansando no colchão ao meu outro lado, o que deixou seu torso me cobrindo como um cobertor. Seu rosto estava enterrado no meu pescoço, seu braço descansando casualmente no meu ombro. Eu era um homem feito, mas isso era algo que nunca tinha experimentado antes - acordar com uma mulher. Inferno, a maioria dos encontros sexuais que eu tinha tido mal envolvia ficar despido. Normalmente, se pudéssemos apenas abaixar uma saia e deixar cair minhas calças, eu era um fodido cara feliz. Não valia a pena ter que responder perguntas sobre minhas cicatrizes por uma trepada. ~ 135 ~


Certamente nunca fiquei por perto depois. Nunca me abri ao ponto onde coisas como o meu passado pudesse ser importante. Havia o sentimento nítido e forte no meu peito que dizia que já era tarde demais com Evan. De certa forma, porém, eu não estava dominado com o desejo de deslizar de debaixo dela e fugir para longe. Não, em vez disso, eu senti minhas mãos começarem a percorrer seus ombros, suas costas, o alargamento de seus quadris, sua bunda rechonchuda, onde minhas mãos pararam para apertar, fazendo-a resmungar e se agitar em seu sono. Aparentemente, ela dormia como uma pedra. Meu pau estava meio duro de correr minhas mãos sobre seu corpo, antes que ela finalmente se esticasse, seu corpo criando uma sensação trêmula que trouxe outra pontada de desejo através do meu sistema. Então houve um longo suspiro. — Suas mãos estão na minha bunda? — ela perguntou, sonolenta. — Quais? Estas mãos? — eu perguntei, dando-lhe outro aperto que a fez rir no meu pescoço. — Não. Não na sua bunda, de jeito nenhum. Você é uma mulher difícil de acordar. — Nã-nã. Eu tenho um sono leve, — ela insistiu, fazendo outro alongamento, então rolando para fora de mim para ficar de costas, olhando para o teto. — Papo furado fodido. Quem te disse isso é um mentiroso. Não só eu consegui passar a mão em você, como a porta ao lado bateu tão forte que ela balançou a cama, e pareceu como se vinte garotos barulhentos demolissem aquele corredor cinco minutos atrás. Um paciente em coma seria mais fácil de acordar. Ela fez algum tipo de grunhido evasivo. — Que horas são? — Quase dez, — eu disse enquanto me dobrava para alcançar meu celular, algo que era estranho para mim. Eu nunca tive um celular

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que exigisse checagem. Sempre foi meu pager. Mas eu o tinha deixado em casa, imaginando que estava precisando sair de férias e longe de tudo. Além disso, sabia que não haveria caminhos seguros de checar as coisas como havia em Navesink Bank. — E o café da manhã termina às onze, — ela disse, praticamente se jogando na cama para sair de lá. — Temos que nos apressar, — ela declarou, pegando a bolsa e desaparecendo no banheiro. Eu sorri para o seu corpo em retirada, pensando que uma mulher que se animava pelo café da manhã era o tipo de mulher que eu podia ir atrás. Eu me estiquei, encontrei meu moletom e o vesti, assim como meus sapatos. Eu era racional o suficiente para perceber que assim que estivéssemos lá fora no calor, não haveria mais capuz, mas eu ia evitar olhares curiosos o maior tempo possível. — Tudo bem, todo seu, — ela declarou, correndo de volta e amarrando o cabelo em um nó bagunçado no topo da cabeça. Ela não tinha um pingo de maquiagem, mas ainda era estupidamente linda. — Vamos lá, vá escovar os dentes. Eu tenho uma súbita necessidade por panquecas, — ela declarou, fazendo-me dar um grande sorriso. — Que deveria ser panquecas à meia-noite, mas pelo menos você está tentando se adaptar à cultura americana, — eu disse, passando por ela para ir passar pelo meu rápido ritual matinal. Nós tomamos nosso café-da-manhã, falamos sobre a comida (que ela adorava, embora garanti que ela me dissesse que comida como panquecas eram uma guloseima). — Aposto boneca, que você estará comendo panquecas pelo menos duas vezes por semana a partir de agora. — Dificilmente, — ela disse, revirando os olhos enquanto limpava o prato. — Está pronto? — ela perguntou, ficando em pé. — Nervosa, — eu observei enquanto a seguia em direção ao lobby. — Eu não estou... — Você está nervosa, — eu a cortei, tocando seu quadril enquanto nos espremíamos para passar pela porta. — É normal, — eu assegurei a ~ 137 ~


ela quando entramos no carro, e eu finalmente desisti do capuz e o tirei. — Você nem sabia que havia perguntas que precisavam de respostas até alguns dias atrás. — Eu só... quero acabar com essa parte, — ela disse, e eu podia sentir a tensão palpável a percorrendo durante todo o trajeto até a igreja, a qual era surpreendentemente uma grande estrutura de estuque antigo, vitrais em forma de arcos e enormes portas de madeira. À esquerda, rodeado por uma cerca de estacas brancas aparentemente recém-pintadas, havia um pequeno cemitério de aparência antiga com lápides em ruínas, as palavras nelas lavadas pelo tempo. — Vamos lá, — eu disse, estendendo a mão para a minha porta, sabendo que ficar sentado e se “preparar” só iria tornar sua vida mais difícil. — Vamos esperar por freiras e padres velhos, ou sei lá como diabos eles são chamados. A religião, como um todo, passou pela minha cabeça. Havia muito mal no mundo para que houvesse algum tipo de ser supremo e amoroso lá fora, supostamente cuidando de nós. Eu tinha passado muito tempo quando criança chorando, gritando, implorando para algum poder maior intervir. Mas nenhum veio. Então, eu tive que sair sozinho dessa. Qualquer fé que eu tivesse morreu naquele dia. A primeira vez que tirei uma vida. — O quê? Com medo que você explodirá em chamas? — ela brincou, fazendo-me perceber que ela estava a alguns passos a minha frente enquanto eu olhava para cima na cruz no telhado. — Fazendo o trabalho ‘de Deus’, pegando esses bastardos. Eu acho que as esculturas dos anjos vão cantar quando eu entrar lá, — eu brinquei, tentando esconder meu estado de humor sombrio. — Posso ajudar? — uma voz nos cumprimentou quando estávamos na metade do caminho no corredor.

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— Oi, eu sou Evan. Esse é Luce. Na verdade, nós temos apenas uma pergunta sobre uma imigrante que talvez tenha estado aqui. — Ela fez uma pausa, olhando para trás em mim, esperando que eu lhe entregasse o artigo de jornal que sabia que estava comigo. — Foi há muito tempo atrás, eu receio, — ela explicou, entregando ao rapaz o papel. — Ah, sim, isso foi antes do meu tempo, — ele explicou desnecessariamente já que eu tinha certeza de que ele não tinha sequer idade para beber legalmente ainda. — Deixe-me chamar a irmã Maria. Ela está aqui há mais tempo do que eu estou vivo. Ela pode se lembrar. Ele nos devolveu o artigo e se retirou para trás das portas localizadas nos lados do altar, deixando-nos quase desconfortavelmente sozinhos por vários longos minutos. Sendo assim, isso nos fez pular quando uma voz feminina declarou. — Gabriela? — ela suspirou, imediatamente vindo sozinha, seus olhos arregalados. Eu estava aparentemente um pouco desatualizado no meu conhecimento-de-freira, porque estava esperando as longas vestes negras e aquela coisa tipo caixa em sua cabeça. Mas esta freira estava vestida com uma longa saia azul, com um colete azul sobre uma camisa branca de mangas compridas. Uma cruz pendia de seu pescoço e um lenço azul cobria a maior parte do cabelo, mostrando apenas uma pequena quantidade de branco no alto da testa. Ela era o que você esperava de uma freira que tinha estado em uma igreja há quase trinta anos, um pouco enrugada, olhos verdes emoldurados por óculos de metal e um ar geral de gentileza, mas com firmeza também. — Mas não, — ela disse imediatamente, apertando os olhos para Evan. — Meus olhos devem estar me pregando peças. Com o que posso ajudá-la hoje, minha querida? — Oi, irmã, — disse Evan, dando-lhe um sorriso caloroso. — Meu nome é Evangeline. Este é Luce. Na verdade, nós temos apenas algumas perguntas sobre uma imigrante que pode ou não ter estado aqui há vinte e poucos anos atrás. — Inferno, até eu pude ouvir a derrota já em seu tom. Mas ela pegou o papel mesmo assim.

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Irmã Maria mal olhou para o artigo antes de olhar de volta para cima em Evan, com o reconhecimento no rosto. — Por isso, — ela disse, sacudindo a cabeça. — Por isso eu achei que era ela, — ela explicou, enrolando o papel como se ele a ofendesse. Se essa pobre mulher foi deixada para lidar com as consequências do estupro de Alejandro, o que é provável. — Você é Evangeline, — ela declarou, como se você perguntasse a ela se Deus existia. — Filha de Gabriela. Oh, você se parece com ela. — Você a conheceu? Gabriela? A mulher do artigo. — Sua mãe, — corrigiu irmã Maria. — Você pode não a ter conhecido, querida, mas ela era sua mãe. Você é a imagem refletida dela, do dia em que ela veio aqui, tão magra da jornada que todos os ossos dela estavam espreitando por seu vestido, com uma menininha gordinha de três anos de idade amarrada em suas costas. Evangeline Luana Santos. Este não era o momento de dizer isso em voz alta, mas eu sabia, caralho! Evan se atrapalhou para encontrar as palavras, engolindo em seco e sacudindo a cabeça. — Você pode nos dizer o que aconteceu na noite em que ela foi agredida? — eu perguntei, sabendo que nós precisávamos das respostas, mesmo se fosse difícil ter que fazer a uma maldita freira esses tipos de perguntas. O rosto da irmã Maria ficou pálido, parecendo de algum modo triste e enraivecido ao mesmo tempo. — Ela saiu para trabalhar, como sempre fazia, em um motel daqui. Ela levava você, — ela disse, acenando com a cabeça para Evan. — Ela costumava deixar você ir e assistir televisão enquanto limpava. Seu chefe fazia vista grossa, sabendo que é difícil por aqui, para mães solteiras imigrantes. — Quando ela continuou, seu tom de voz ficou amargo. — Quando aconteceu, ela estava no banheiro. O homem voltou, colocou a TV mais alto para você e a seguiu lá para dentro. Aquele selvagem, — ela rosnou, fechando os olhos com força, balançando a cabeça e tentando limpar a imagem. — As coisas que ele fez com ela. — Eu não posso, — disse Evan, sacudindo a cabeça, girando e correndo para fora. ~ 140 ~


Uma parte de mim, talvez até mesmo a maior parte de mim, queria segui-la, queria confortá-la. A outra parte, no entanto, sabia que um de nós precisava de todas as respostas. — Deixe-me adivinhar, quando ela retornou, Evan estava longe de ser encontrada. — Ela mal conseguia andar, mas procurou em todos os lugares durante semanas, implorando a todos que ela encontrava nas ruas por informações sobre sua filha desaparecida. Ninguém nunca descobriu o que aconteceu com ela. — O que aconteceu foi que o estuprador de sua mãe a levou, a criou como se fosse dele e, sem o conhecimento de Evan, estuprava mulheres em vários continentes. Ele morreu recentemente... — Eu sei que não deveria dizer isso, mas que tenha ido para o inferno. — Que ele apodreça no inferno, — eu concordei, embora não acreditasse nisso pessoalmente. — E ela finalmente descobriu a verdade sobre ele. Nós encontramos algumas informações ligando-a a McAllen, então viemos aqui em busca de respostas. O que aconteceu com Gabriela? — Depois de dois anos, tão quebrada, apenas uma casca de uma mulher, ela voltou. — Voltou para onde? México? — Brasil. — Você tem algum motivo para acreditar que ela ainda está viva? Irmã Maria me deu um pequeno sorriso. — Nós criamos um vínculo. Enquanto ela se recuperava. Enquanto ela se enfurecia com Deus pela perda de sua filha, nós nos tornamos próximas. Ela ainda envia cartas ocasionalmente, pedindo atualizações, ou simplesmente dizendo olá. — Existe alguma chance de conseguirmos ter o endereço?

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— Vinte e quatro anos de sofrimento e dúvida? — ela perguntou, sacudindo a cabeça. — Claro que você pode ter isso para alivia-la da miséria da incerteza. Ela ficará fora de si. Com isso, ela saiu para ir buscar uma carta, pressionando-a em minhas mãos. — Evangeline, — ela disse, segurando meu olhar. — Ela vai ficar bem? Este não pode ser um momento fácil para ela. — Ela é muito mais forte do que aparenta. Ela só precisa processar em seu próprio tempo. Obrigado por isso. Significa muito. — Para variar, — ela disse, sorrindo gentilmente: — Eu estarei ansiosa pela carta de Gabriela. Ela ficará tão feliz. — Vamos nos assegurar de que mencionaremos sua ajuda, — eu disse, dando-lhe um sorriso, depois voltando pelo corredor para ir de volta lá fora. Encontrei Evangeline sentada no degrau mais baixo, joelhos no peito, cotovelos nos joelhos e rosto enterrado nas mãos. Eu me abaixei ao lado dela, nossos corpos pressionando do ombro aos sapatos, não ligando para o calor opressivo. — Eu tenho o endereço dela, — disse a ela, batendo em seu joelho nu com a carta da Irmã Maria. — Eu estava lá, — ela disse de volta, voz grossa. — Estava na outra sala. — Ev, você tinha três anos de idade. Não é como se você pudesse ter sabido... — Eu estava na outra sala, e aquele bastardo fodido fez isso com a minha mãe? E então me levou? Por quê? Alguma maldita lembrança? Como alguns dentes de um cadáver? Como, Luce? — ela perguntou, olhando para mim e seus olhos implorando. — Como eu pude não saber o quão mal ele era? Como? — Escute-me, — eu disse, guardando a carta e me virando totalmente para encará-la. — Se há uma coisa que eu aprendi fazendo o que faço, é que não importa o quão mal alguém seja, infalivelmente, todos ao seu redor ficam chocados quando descobrem o que eles

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fizeram. Eles têm que se adaptar. Eles têm que fazer uma boa representação. — Por vinte e quatro anos? — ela estalou, golpeando uma lágrima que escorregou por sua bochecha. — Ele nunca, nem uma vez, deixou isso escorregar na minha frente durante todo esse tempo? — Mesmo se ele tivesse Ev, você não teria tido nenhum contexto para colocar isso. Você teria dado de ombros como se ele estivesse tendo um dia difícil com seu trabalho, sabendo que isso trouxe algum nível de escuridão em sua vida. Isto não é sobre você. É realmente fodido que você esteja sentindo sequer um pouquinho de culpa sobre isso. Você tinha três anos. É claro que você não lembra de nada dessa merda, e ele podia criar qualquer história que quisesse. E, eu odeio dizer isso porque acho que os estupradores são os mais desprezíveis idiotas, e conheço meus idiotas, — eu acrescentei, encolhendo os ombros. — Mas o fato de você nunca ter visto esse lado dele, mostrou que havia alguma bondade nele. Você cresceu amada. Você o amou o suficiente para querer me matar por matá-lo. — Eu sei! — ela estalou, passando as mãos sob os olhos. — Essa é a pior parte! Eu o amava, o amava e ele violentamente estuprou minha mãe comigo na sala ao lado assistindo desenho animado! Então me roubou. E eu o amava! Sua voz quebrou profundamente quando meu braço se moveu pela parte inferior de suas costas, puxando-a contra o meu peito. Eu tinha a sensação de que isso ia seguir neste sentido, mas estava claro que Evan não tinha sido totalmente convencida quando nós começamos a jornada. Ela não estava tão preparada para esta inevitabilidade quanto podia ter estado, se ela considerasse as possibilidades em algum momento entre Jersey e o Texas. — Eu o odeio, — ela disse no meu pescoço, o corpo tremendo com soluços silenciosos. Eu sabia que ela queria acreditar nisso até os ossos. E talvez fosse verdade para noventa e nove por cento dela, seja como for, tinha certeza que sempre haveria um por cento que ainda teria sentimentos por ele que não seriam ódio cego.

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Porque ele tinha cuidado dela. Ele a tinha protegido, alimentado, educado, exposto ao mundo, e garantido o futuro dela mesmo após a sua morte. Isso fazia dele um bom homem? Não, claro que não. Mas ele tinha aprendido a ser, aparentemente, um pai decente. E ia ser uma dura realidade para ela chegar a um acordo com isso um dia. — Bem, — ela disse, afastando-se, nervosamente esfregando o rosto e mantendo a cabeça abaixada. — Pelo menos eu sei que não tenho o mal dele no meu DNA. — Eu podia ter dito isso a você, — eu concordei, ficando de pé quando ela ficou. — A freira me disse que sua mãe ainda escreve algumas vezes por ano, para conversar, e perguntar se alguém ouviu alguma coisa sobre você. Evan parou de andar, respirou fundo e olhou para mim. — De onde? — Brasil. — Brasil? — ela perguntou, os olhos apertados como se isso não fizesse sentido. — Sim. Faz todo o sentido para mim. As mulheres brasileiras são gostosas pra caralho. Ela riu disso, sacudindo a cabeça. — Obrigada, eu acho? — Então, e agora? Você vai escrever para ela? Vai visitá-la? O quê? — perguntei quando ela desviou o olhar bruscamente para a parte final do que eu disse. — Eu gostaria de visitá-la, — ela confessou. — Isso é ótimo. Tenho certeza que ela ficaria animada para... — Mas eu não acho que vou. — Agora, isso não faz sentido. Por que não? Tenho certeza que você já esteve no Brasil antes. Você esteve em todos os lugares. — E foi

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aí que me lembrei. Ela esteve em todos os lugares com seu pai. — E aí, Ev? Partes do Brasil são difíceis, mas não é mais inseguro do que andar pelo México sozinha. — Entretanto, esta é a questão, não é? Eu nunca andei por aí... em qualquer lugar sozinha. Exceto por alguns lugares nos EUA depois do meu pa... depois que Alejandro desapareceu. Havia sempre a bolha que sua proteção proporcionava. Ou seja... não posso nem contrabandear nenhum dos meus venenos ou qualquer coisa para me proteger. Era ele quem sabia como conseguir tudo isso, pagar os caras certos ou esconder tudo em plena vista. Ele me ensinou muito, mas não isso. — Você está com medo de viajar sozinha, — eu adivinhei, surpreso. Ela se virou ao meu tom, dando-me um olhar duro. — Se você tivesse visto o lado negro como eu vi em todos esses países, você também não se sentiria seguro em ir sozinho. — Você sabe que o lado negro nos Estados Unidos não é realmente nada melhor, certo? — Não é tão flagrante. Eu já vi homens sendo baleados na Colombia bem em frente à polícia. Claro, as pessoas são baleadas nos EUA também, mas nunca vi a polícia rir e ir embora. Eu respirei fundo, imaginando como Barrett estava se saindo com o pássaro, se ele estava bem em ficar com ele por mais uma semana mais ou menos. Conhecendo Barrett, ele provavelmente não daria a mínima. — Você quer que eu te leve para o Brasil, Ev? — eu perguntei. Eu podia sentir a área ao redor dos meus olhos e a mandíbula relaxarem quando ela me lançou um olhar cheio de esperança. — Sério? — Sério, — eu concordei, acenando a cabeça. — Tipo... agora? — Tipo quando nós voltarmos para o hotel, e dermos uma olhada nos voos e essas merdas, sim. Nenhuma razão para adiar isso. O quê?

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— eu perguntei após um longo silêncio, onde ela estava apenas... olhando para mim. — Você é realmente um cara bom Luce, — ela me surpreendeu, dizendo: — É realmente uma pena que você não deixe as pessoas verem isso. Afetado talvez mais profundamente do que era apropriado, eu escondi bufando. — Boneca, acho que o calor está chegando ao seu fraco cérebro feminino. Você esqueceu que eu mato pessoas para viver? — Meu fraco cérebro feminino? — ela disse, sorrindo grandemente porque ela sabia que eu não estava falando sério. — Como diabos você explicaria essa ideia idiota? — Objetividade, — ela disse com um encolher de ombros antes de se virar e caminhar de volta para o carro. Senhor porra, me ajude. Eu tinha pelo menos mais alguns dias com a mulher. Isto estava destinado a ficar complicado, decidi enquanto subiamos no carro e voltávamos para o hotel No momento, porém, eu não tinha ideia do quão porra complicado isto ia ficar. E logo.

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Evan

Era estupidez ficar nervosa. Eu já estive em aviões inúmeras vezes. Eu já estive no Brasil em pelo menos três ocasiões diferentes. E eu não estava sozinha. Luce estava sentado ao meu lado, assistindo algum filme de vampiro cinematograficamente sombrio e sangrento, que era como o quinto de uma série ou algo assim, então eu tinha optado por não assistir. Além disso, minha mente estava muito bagunçada para ser capaz de me concentrar em um filme. E tive a sensação que Luce me perguntaria sobre ele depois, e não ficaria feliz se eu voltasse com ‘ah, foi muito cheio de ação’ como resposta. As coisas depois da igreja tinham estado... diferentes do que antes da igreja. Não havia mais flertes, nem insinuações de flertes, e certamente nem mais toques. Na verdade, depois que tomei banho, ele já estava esparramado em sua cama enviando mensagens para Barrett. Então peguei meu celular e dei uma olhada nos voos. Nós pedimos comida no quarto. Luce colocou um de seus filmes de ação favorito, um filme realmente interessante sobre, essencialmente, um assalto e um policial de folga que pôs fim a ele. Embora eu gostasse, duvidava muito que ele estivesse certo em chamá-lo de o maior filme de Natal de todos os tempos.

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Homens. E depois, sim, nós reservamos o voo para o Brasil na manhã seguinte... e apenas... fomos dormir. Em camas separadas. Isto me deixou revirando muito na cama até que, quase ao nascer do sol, eu finalmente adormeci. Nós estávamos mais da metade do caminho para o nosso destino. De lá, teríamos que pegar dois ônibus. Então nós dormiríamos na cidade por ali mais próxima em um hotel. Depois disso, bem, haveria alguma caminhada. Aparentemente, Gabriela Santos vivia em uma vila rural no meio do nada, com uma estrada de terra que se transformava totalmente em lama e que nenhum carro ali ia até lá por medo de ficar preso. Luce tinha pego todas essas informações como um viajante do mundo experiente. No entanto, eu tinha dado uma olhada nos carimbos do seu passaporte mais cedo, e tudo que eu tinha visto era México, Canadá e, estranhamente, China. Porque a pequena coisa do flerte entre nós tinha sumido a manhã toda, me senti estranha para perguntar. Mas enquanto eu o observava tirar os fones de ouvido, e os créditos do seu filme estavam passando, no meu nervosismo, eu não consegui evitar de deixar escapar, — Por que a China? — O quê? — ele perguntou, parecendo surpreso. — Seu passaporte dizia México, Canadá e China. Por que a China? Ele me deu um longo olhar, tão longo que eu não tinha certeza se ele ia responder. — Quando eu comecei meu... negócio, — ele disse cuidadosamente, dando-me um olhar severo, — Eu não era tão habilidoso ou cuidadoso quanto sou agora. As coisas esquentaram. Eu decidi desaparecer por um tempo. Não durou muito tempo. — Você sentiu falta da sua comida derretida em caldeirão, — eu imaginei, fazendo-o sorrir. — Algo assim, sim. — Ele fez uma pausa, olhando para baixo onde meus dedos estavam batendo contra a minha coxa. — E aí, Evan? — ele perguntou, colocando sua mão sobre a minha. ~ 148 ~


E a ação foi tão inesperada que meu olhar foi para sua mão, e ficou lá por um longo momento, tendo que forçar fisicamente meus dedos a permanecerem esticados, para não deslizarem entre os dele. — Eu estou nervosa, — eu admiti. — Sua mãe vai amar ver você. Espero que você fale espanhol. — Português, — eu corrigi. — Eles falam português no Brasil. Mas é muito parecido com o espanhol. Eu deveria ser capaz de manter uma conversa com bastante facilidade. —Então o quê? Ela obviamente quer te ver, se ainda está procurando por você. — Ele fez uma pausa enquanto eu olhava pela janela. — É porque Alejandro criou você? — ele perguntou, e eu senti meu estômago revirar dolorosamente, fazendo-me quase pensar se precisava pegar um saco de vômito. — Evan, você não fazia ideia. Ela não vai culpá-la ou olhar para você de forma diferente. Quando muito, ela pode querer que você a tranquilize que ele nunca colocou as mãos dele em você. Eca. Eu não tinha nem pensado nisso. Claro, como uma mãe, e como uma mulher que havia sido brutalmente estuprada, ela se preocuparia com um destino semelhante acontecendo comigo. Inferno, com a quantidade de tráfico no mundo, talvez ela até se preocupasse que eu tivesse sido vendida para uma rede de prostituição infantil. Eu não conseguia imaginar o quanto ela tinha se preocupado comigo. Enquanto isso, estive perambulando por aí em suas florestas tropicais, várias vezes na minha vida. Com o estuprador dela. Que situação fodida. — Olha, — Luce tentou quando eu fiquei em silêncio, perdida em meus próprios pensamentos sinuosos. — Na pior das hipóteses, se for uma porcaria, se você ficar desconfortável, será apenas uma hora. Nós podemos dizer quando chegarmos lá que temos planos ou alguma merda. Você pode tolerar alguma coisa por uma hora, certo? ~ 149 ~


Isso era verdade. — Certo, — eu concordei. E então eu não tive que forçar meus dedos a ficarem mais esticados, porque os dele se curvaram para dentro e seguraram os meus. De alguma forma, eu me senti instantaneamente muito melhor. O que era louco. Mas verdade, ainda assim.

**** — Eu não acho que nós pensamos nisso o suficiente, — disse Luce, golpeando um enxame de mosquitos ao redor de sua cabeça. — Por quê? — eu perguntei, um pouco divertida por seu desconforto. Ele pode ser um vigilante, um assassino frio, mas não era do tipo ao ar livre. Ele era o que eu podia chamar de, dentro de casa. Ele era magro e tinha mais músculos do que eu tinha me dado conta sob seu capuz, mas estava claro que uma caminhada longa, quente e exaustiva não era sua praia. — Por que seus pés doem nesses all star? — eu insinuei. — Porque... onde porra, nós vamos passar a noite no meio do Fodido Lugar Nenhum? Ok. Ele tinha razão. — Nós só teremos que caminhar de volta para o hotel, — eu sugeri, encolhendo os ombros.

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— Você quer caminhar aqui no escuro? — ele perguntou, acenando para a grande paisagem aberta. — Isto é, e os predadores daqui? — Ah, nada realmente. Jacaré perto dos rios e tal. Você pode ver algum lobo ocasionalmente. E, você sabe, — eu disse, tentando conter um sorriso. — Só uma onça. — Você acabou de dizer a porra de uma onça? — ele perguntou, parando. — Eu me preocuparia mais com a onça-pintada, eu acho. — Jesus Cristo. Podemos voltar para Jersey agora, porra? — ele perguntou, balançando a cabeça. — Nós tivemos um, um coiote solto uma vez e todo oficial de controle de animais e policiais estavam caçando aquele filho da mãe. Eu ri disso, acostumada com a ameaça da vida selvagem. No entanto, até eu podia admitir que estava com mais medo sem o meu pa... Alejandro e seus dardos junto dele. — Olha, esta é uma terra agrícola, — eu disse enquanto seguíamos em frente. — Os grandes felinos estariam ao redor de fazendas com animais que eles poderiam pegar. Eu não vi nem uma fazenda com nenhum animal por quase uma hora. Nós estaremos bem no escuro. Além disso, será um pouco mais fresco, então podemos nos mover um pouco mais rápido. Ele assentiu a isso, mas havia um resmungo definido, como se talvez ele achasse que esse ritmo fosse rápido o suficiente. — Ei, eles não disseram guarnição e telhado azul com vermelho? — Luce disse, parando e apontando para o lado de uma colina onde, com certeza, uma construção de madeira azul estava meio escondida pela colina. Havia um grande jardim nos fundos e, mesmo à distância, eu pude ver algumas galinhas andando por lá. Nos Estados Unidos, eles chamariam essa pequena, baixa, retangular habitação tipicamente de um cômodo, de um ‘barraco’, ou algo igualmente inculto. Em muitos países, no entanto, assim era como muitas das pessoas viviam.

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— Sim, — eu concordei, o estômago girando. — Isso parece com o que eles descreveram. — Está pronta? — Luce perguntou, recuando um passo para ficar ombro a ombro comigo quando eu levantei a mão para nervosamente limpar uma testa suada. — Na verdade não, — eu admiti honestamente. — Mas será apenas uma hora, certo? — eu perguntei, mencionando suas palavras do avião. — Eu posso tolerar qualquer coisa por uma hora. — Certeza pra caralho que pode, — ele concordou, me acotovelando no lado levemente, de um jeito do tipo ‘vamos andando’. Então nós fomos. E quinze minutos depois, estávamos parados do lado de fora da porta da casa da minha mãe biológica. Eu podia sentir o olhar de Luce no meu perfil, mas não conseguia me forçar a levantar a mão para bater. — Permita-me, — ele disse, tirando a coisa toda das minhas mãos e batendo duas vezes na velha porta frágil. Houve alguns barulhos por talvez apenas cinco segundos antes que a porta se abrisse, e lá estava ela. Eu tive uma visão de como eu ia parecer daqui a uns vinte anos. A irmã Maria estava certa, nós éramos muito parecidas em termos de aparência. Nós tínhamos a mesma pele, o mesmo cabelo, os mesmos olhos. Eu era mais alta, mas nós duas parecíamos carregar nosso peso na parte debaixo de nossos corpos. Ela estava usando um vestido azul simples com um avental branco amarrado na cintura. Seu cabelo era em uma trança frouxa, com cachos flutuando em volta de seu rosto. Havia algumas rugas ao lado de seus lábios e olhos, mas ela ainda parecia jovem, de alguma forma. Eu podia jurar ter ouvido Luce murmurar algo sobre ‘bons genes’, e eu tinha que concordar. Havia apenas uma parte de seu rosto que não combinava com o meu, um desnível ao lado do olho direito que talvez seja uma indicação para uma órbita quebrada de uma só vez. ~ 152 ~


Eu acho que todos nós sabíamos como ela foi quebrada. — Oh, minha filha! — ela ofegou, fazendo uma torre de seus dedos na frente de sua boca. — Oh, minha filha! — disse novamente, os olhos se enchendo quando ela estendeu os braços para mim e me puxou contra seu peito. Realmente, não havia nada a fazer senão segurá-la de volta, essa mulher que nunca tinha desistido, que constantemente tinha escrito para perguntar por informações novas sobre a minha busca, mesmo quando ela mesma foi forçada a voltar para o Brasil. Em pouco tempo ela estava soluçando no meu pescoço, deixando escapar uma série de português tão rápido que eu estava lutando para decifrar, se sequer fazia algum sentido para começar. Eu peguei algumas partes sobre como ela achou que nunca me veria novamente, como seu coração doía todos os dias, como nunca desistiu da busca. Finalmente, o que pareceu como uma vida depois, ela se afastou, pegando seu avental para enxugar o rosto, depois olhando para mim por um longo minuto. Suas mãos subiram, envolvendo meu rosto. — Inglês, sim? — ela perguntou. — Principalmente, — eu concordei. — Embora eu possa entender a maior parte do que você está dizendo. — Eu posso falar inglês, — ela disse, dando-me um sorriso. — E quem é esse? — ela perguntou, dando-me um olhar que, embora eu tenha sido criada sem mãe, podia interpretar completamente como uma excitação maternal para encontrar o namorado de sua filha. — Oh, desculpe. Este é meu amigo Luce, — eu ofereci, tocando o braço dele. — Luce, esta é Gabriela, — eu disse, sentindo-me estranha. — Minha mãe. — Luce! Prazer em conhecê-lo. Fico feliz que Evangeline tenha amigos tão bons, — ela disse a palavra pesadamente, como se soubesse que era mais do que isso, embora não havia como ela pudesse saber, — para levá-la o caminho todo até o Brasil.

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— Ele foi o único a, na verdade, encontrar você e meio que... me trouxe até aqui, — eu ofereci, querendo dar crédito onde o crédito era devido. — Então, eu tenho que agradecer a você! — ela disse, virando os abraços para ele. E Luce, bem, ele parecia comicamente desconfortável com o contato. Seus olhos estavam arregalados, suas mãos estavam desajeitadamente dando tapinhas nas costas dela e seu corpo estava rígido como uma tábua. — Entrem, entrem. Vocês devem estar morrendo de fome. Eu não vi carros. Nós tivemos chuvas na noite passada, — explicou ela. — A lama, fica intransitável. Sim, eles não estavam brincando sobre os carros não serem capazes de lidar com a lama nas estradas de terra. Vimos três deles encalhados na lama que, literalmente, teria chegado até a metade da minha panturrilha se não estivéssemos andando no capim. — Obrigada, — eu disse quando nós entramos para encontrar praticamente o que eu esperava. Era um espaço de um cômodo com apenas o banheiro separado. Havia uma cama empurrada contra a parede ao lado da janela lateral, nada pendendo para cobri-la, deixando a luz brilhar dentro para, imaginei, acordá-la ao nascer do sol para que ela pudesse começar a trabalhar na horta nos fundos. Eu sempre invejei o estilo de vida dos pequenos horticultores da aldeia. Era uma homenagem aos nossos antepassados acordar com o sol, cuidar de sua terra, comer o que você criou ou matou, passar tempo com sua família e comunidade, depois ir para a cama. Lavar, enxaguar, repetir. Que vida simples. Apenas três passos do final da cama havia uma pequena cozinha reta com um fogão, pia, armários embaixo e prateleiras de louças em cima com peças bonitas em cores vivas, provavelmente feitas localmente, o que me deu o desejo de assegurar que nós iriamos a uma praça da cidade para que eu pudesse pegar algumas peças para lembrar esta viagem. Ao lado oposto do quarto, havia uma mesa de jantar, usada carinhosamente com o tempo, e eu interiormente me perguntei quantas gerações dos meus antepassados estiveram sentados ali e dividiram o

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pão juntos, quantas histórias foram compartilhadas, quantas risadas dadas. Eu senti uma dor profunda por dentro com a ideia de nunca ter vivido isso. Também me ocorreu que eu nunca tinha, na verdade, recebido nenhuma história do meu pa... de Alejandro. Por que isso nunca tinha me parecido estranho antes, estava completamente além de mim. Como nunca passou pela minha cabeça perguntar sobre meus avós? Meus primos? Especialmente nos períodos de festas. Ele tinha, afinal de contas, me dito que parentes me criaram. Parentes que eu nunca encontrei. Deus, eu estive tão, tão cega. É verdade que, para todos os efeitos, eu não conhecia nada melhor, mas mesmo assim. Embora ele tivesse revelado muito para mim, muitas culturas e muitos bolsões diferentes do mundo, tudo isso também tinha me deixado muito isolada e ignorante do que era um relacionamento mais normal para se ter com sua família. Você pensaria que nesta era dourada da tecnologia, isto não deixaria de ser uma desculpa, mas quando você passava muito tempo em áreas com pouca ou nenhuma recepção de celular, e mesmo quando você tinha, você não tinha amigos com quem se conectar nas mídias sociais, bem, você aprendia a viver sem coisas como essas. — Com sede? — ela perguntou, indo até a geladeira antes mesmo de nós respondermos, procurando dentro e tirando um jarro de líquido não muito claro que eu sabia ser água de coco, algo que eu bebi quase que exclusivamente da última vez que estive no Brasil. Ela tinha feito coisas incríveis na minha pele. — Sim, por favor, — eu disse, movendo-me com Luce até a mesa para a qual ela gesticulou. — Comida? — ela perguntou, enchendo três copos com líquido. — Não, obrigada, — eu respondi, em seguida, disparei para Luce um olhar culpado. — Está muito quente para comida, — ele sussurrou de volta para mim.

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Ela voltou, distribuindo as bebidas que nós dois tomamos longos goles quase embaraçosos de gratidão, pelo fato que cada um de nós terminou sua água a menos da metade do caminho. Levou apenas cinco minutos antes de acontecer. Nós informamos a parte sobre a irmã Maria, e então ela perguntou o que nos levou até lá. Eu podia ter mentido. Isso teria tornado a vida mais fácil. Mas eu não queria. Ela era a única parente real que eu estava ciente de ter. Eu senti que devia a ela honestidade, pelo menos. Então, eu disse a ela. — Ele te machucou? — ela perguntou, a voz completamente quebrada. — Ele te machucou? Ele te machucou? — Não, — eu disse, a voz firme e estendendo a mão por cima da mesa para colocar a minha mão sobre a dela, que estava mexendo ansiosamente em um pano sobre a mesa. — Não, de forma alguma. Nunca, nem uma vez. Ele nunca deixou ninguém me machucar também, — eu acrescentei. — Ele só... eu não sei se talvez o plano dele era me machucar ou deixar os outros. Isso é possível. Mas ele nunca fez isso. Acho que eu despertei o minúsculo lado humano dele. Porque ele não era bom, Gabriela, — disse, observando como ela estremeceu um pouco com isso, mas eu não estava naquele ponto em que conseguia chamá-la de mãe ainda. — As coisas que ele fez com você, fez com muitas outras mulheres em vários continentes. Eu... eu não fazia ideia. Ele nunca... — eu disse, balançando a cabeça e sentindo as lágrimas arderem em meus olhos novamente. — Ele nunca a deixou ficar sabendo da coisa do mal que ele estava fazendo, — Luce forneceu. — Foi só depois que ele morreu que, bem, eu disse a ela. — E você sabe como?

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Respirei fundo, então me precipitei antes que ele pudesse responder. Eu queria ser sincera. Mas, você sabe, sem ser expulsa da casa dela. — Luce é alguém que... encontra pessoas más e tira-as das ruas. — Eu não sou um policial, Evan, — ele disse atrás de mim, fazendo-me querer lhe dar uma cotovelada para ele calar a boca, mas minha mãe estava observando muito de perto. — Você é um... qual é a palavra... um vigilante. Eu não tive que olhar para ver o sorriso que Luce tinha. — Exatamente. — Eu sei que ele era como um pai para ela, — ela disse, ignorando-me completamente, — mas espero que ele tenha sofrido. — Ele pegou o caminho covarde e bebeu cianeto, — Luce respondeu, soando tão casual sobre a coisa toda, lembrando-me quanta escuridão ele tinha visto. Inferno, estava gravado em sua pele. — Já vai tarde, — ela disse, sacudindo a cabeça. Então ela me segurou, esfregando minha mão. — Eu sinto muito, Evangeline. Eu sei que ele era... — Não, — eu implorei, sacudindo a cabeça. — Não se desculpe. Foi tudo culpa dele que isso tenha acontecido. — Ok. Ok, — ela disse, balançando a cabeça. — Não vamos mais falar dele. Vamos falar de você. Então nós falamos. Por quase três horas. Eu nunca conheci alguém que quisesse conhecer cada minúsculo detalhe da minha vida, de meu primeiro encontro, até quais línguas eu falava, até minha fé, meus sonhos, minha vida em Navesink Bank. E durante tudo isso, estava perfeitamente ciente de Luce atrás de mim, ouvindo cada palavra, tendo conhecimento sobre Emanuel que tinha me levado a um parque de diversões municipal, comprado para mim uma coroa de flores e me beijado pela primeira vez quando eu

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tinha quinze anos, e ele também descobriu que eu não tinha ideia do que queria fazer com a minha vida agora que tinha deixado de viajar. Ele sabia quase tudo sobre mim. — Está ficando escuro, — disse Gabriela bem depois, olhando pela janela. — Você deveria voltar antes que os lobos saiam. — Eu te disse, — Luce rosnou para mim, fazendo-me rir. — Você me visitará de novo? Você pode ficar por mais um dia ou dois? Eu olhei por cima do meu ombro para Luce, sabendo que não era somente minha decisão. — Nós podemos ficar pelo tempo que você quiser, Ev. Não é como se meu trabalho estivesse com saudade de mim. — Ok? — ela perguntou, soando esperançosa. — Ok, — eu concordei, sorrindo. — Nós podemos nos encontrar? Na cidade? Amanhã? Ela assentiu. — Perfeito, — eu concordei, sorrindo. — Eu queria visitar a cidade. — Tudo bem. Aqui, — ela disse, levantando-se de repente e pegando um bastão que ela mantinha atrás da porta. — Você aceita isso, — ela disse, empurrando-o para Luce. — E você protege minha menina. Luce olhou para mim, olhos quentes com... algo que eu não conseguia explicar. — Eu a trarei de volta para você sã e salva, prometo. Com isso, eu fui abraçada como se estivesse indo para a guerra. Depois, também com Luce. O que foi, novamente, cômico. E nós desaparecemos na noite.

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**** — Você está bem? — ele perguntou quinze tensos minutos depois, nós dois um pouco sem fôlego porque ouvimos um uivo que nos fez simultaneamente começar a correr-andar. — Isso foi... pesado, — eu admiti, olhando para as luzes do hotel, ainda um pouco longe, mas visíveis. — Então, se Emanuel foi seu primeiro beijo... — ele falou diminuindo a voz, soando divertido. — Eu tinha dezenove anos, — eu informei, encolhendo os ombros. — E ele era da Espanha. Foi no barco dele, — eu acrescentei, balançando a cabeça diante da minha jovem ingenuidade. Eu pensei, como a maioria das jovens, que tinha significado alguma coisa. E ao mesmo tempo que toda a experiência foi adorável, aos trancos e barrancos melhor que as histórias da maioria das mulheres, não foi além daquela noite. Eu fui uma garota mal-humorada e infeliz por toda a Itália e depois no Camboja, antes de finalmente não pensar mais nisso. — Legal. Ele não ofereceu nenhuma informação sobre sua primeira vez e, francamente, tive a sensação que estava completamente fora dos limites. — Graças a Deus, — eu gemi trinta minutos depois, quando finalmente entramos no quarto do hotel. Ele não era nada como aquele no Texas. Não havia nenhum modernoso esquema de cores ou acessórios chiques de banheiro. As paredes eram de um amarelo mostarda. O chão era piso de lajota. As camas eram apenas amplas. O banheiro tinha um chuveiro, armário, pia e vaso sanitário. Tudo isso era do tipo que os empreiteiros obtinham por atacado, barato e nada de especial. Mas estava limpo.

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E era perto de onde precisávamos estar. E não era o motel ‘Amor livre’ que nós passamos no caminho, para o qual Luce tinha levantado uma sobrancelha. — É para prostitutas e clientes, — eu indiquei, explicando por que eu estava passando direto por ele. — Há uma economia enorme no Brasil, mas a carne sempre será o produto para se fazer dinheiro de grande sucesso aqui. Essa era uma triste realidade do país, de muitos países. Mas o Brasil, infelizmente, era o segundo lugar, apenas atrás da Tailândia, na epidemia do tráfico sexual de crianças e adolescentes. Eu as tinha visto pelas ruas, garotas de quinze e dezesseis anos, vestidas de um jeito que deixava os meus próprios doze anos desconfortável. Quando eu inclinei minha cabeça para questionar meu pai, ele me deu uma careta. — A desigualdade de renda em um país sempre afeta pior mulheres e crianças, — ele explicou. — Às vezes, a mãe está fora trabalhando nas ruas, deixando suas filhas em casa, e elas são raptadas e vendidas nas redes sexuais. Elas nunca escapam. Mulheres têm corpos que são comercializáveis. E em uma economia ruim, elas vendem os únicos bens que elas têm para manter comida em seus estômagos. Talvez isso deveria ter sido um sinal de alerta também. Talvez um assunto tão doloroso dito tão clinicamente, deveria ter me feito interromper. Mas eu era pouco mais do que uma criança, e então o tempo enterrou aquela conversa até que eu tivesse motivo para pensar nela novamente. E enquanto, como alguém que tinha viajado muito e tinha literalmente repartido o pão com prostitutas em países onde a prostituição era uma profissão legal, segura e menos malvista, eu não vi nada de errado com uma mulher que vendia seu corpo. Essa era a escolha dela para fazer. Crianças, porém, não tinham escolha. Deixava-me doente que tinha pessoas que lucravam com a miséria delas.

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— Tudo bem, vá em frente, — disse Luce, jogando uma toalha que me atingiu no peito porque eu estava muito perdida em meu próprio pensamento para prestar atenção. — Eu vou depois. De fato, tão cansada como estava, de jeito nenhum eu ia para a cama tão pegajosa e repugnante quanto eu me sentia. Essa era uma coisa que aparentemente havia esquecido sobre a viagem sem fim que costumava fazer com o meu pa... com Alejandro. Você estava sempre suada, pegajosa, simplesmente envergonhada de suja, e sempre hiper consciente desse fato. Então, eu quase corri para o chuveiro, mantendo a água entre quente e fria, tremendo um pouco, meus mamilos endurecendo enquanto eu esfregava sabão sobre minha pele e meu cabelo, quase gemendo com a sensação de limpeza. Eu estava tão perdida nessa sensação boa que quase não ouvi o som baixo de batidas na porta. O som parecia quase... hesitante. Eu enxaguei o cabelo, desliguei a água e peguei uma toalha só para segurá-la na minha frente. — Sim? A porta se abriu lentamente. E lá estava Luce. Com aquele olhar profundo em seus olhos que eu não conseguia ler. Mas eles estavam focados em mim. E quando dei por mim, ele estava chutando para fora seus sapatos, em seguida, pegando a barra de sua camiseta e levantando o material escuro lentamente. Não havia como negar a explosão de surpresa e desejo que fluiu através de mim, percebendo o que estava acontecendo. Meu coração disparou e uma forte pressão se instalou no meu estômago. Ele jogou a camisa no chão, algo que eu sabia que exigia esforço da parte dele, exigia uma demonstração de confiança que provavelmente nunca havia demonstrado antes, desnudando aquelas cicatrizes das quais ele era tão protetor.

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A cabeça dele inclinou para o lado enquanto suas mãos se moviam para o cós da calça. Quando ele abriu o botão, uma sensação rápida, furiosa e palpitante começou entre minhas coxas. Antecipação. Necessidade. A calça atingiu o chão, deixando-o em uma cueca boxer preta que não fazia nada para esconder seu pênis se esticando. A palpitação se tornou algo totalmente diferente então, algo mais forte, algo beirando a dor. Então suas mãos alcançaram o cós elástico de sua roupa íntima, puxando-a para baixo. E eu juro que eu quase gozei ali mesmo. Seu pau estava se esticando, maior do que você imaginaria de seu corpo enganosamente magro. Esqueça a respiração. Meu peito parecia contraído, mesmo quando eu forcei meus olhos a se moverem para o seu rosto, mesmo quando seus olhos aqueceram ligeiramente, talvez sentindo alívio por eu não ter me encolhido. Mas a realidade era que a última coisa em minha mente naquele momento eram suas cicatrizes. Parecendo sentir a aceitação, ele avançou atravessando o pequeno espaço, abrindo a porta do boxer e dando um passo dentro, fazendo-me pressionar contra a parede para dar lugar a ele. Sua mão subiu, descansando sobre a que eu tinha no centro do meu peito, segurando a toalha no lugar. Meus olhos nos dele, vendo um desejo ali tão denso que eu me senti completamente envolvida nele, minha mão escorregou para longe, deixando-o segurar a toalha por um longo momento antes que ele a puxasse para baixo e a deixasse cair para o lado. Eu não sei o que estava esperando em seguida. Mas ele estendeu a mão e uma cascata de água fria me atingiu, fazendo-me soltar um ruído de lamento estrangulado em surpresa, fazendo seus lábios se curvarem. — Venha aqui, — ele disse, movendo-se para trás sob o jato de água, colocando as mãos nos meus quadris para me puxar com ele. ~ 162 ~


A água fria se moveu entre os meus seios repentinamente pesados, fazendo um arrepio percorrer meu corpo. Mas então suas mãos nos meus quadris puxaram, fazendo minha pelve se encontrar com a dele, fazendo seu pau pressionar minha barriga, e, sim, este arrepio não tinha nada a ver com o frio. — Não se preocupe, — ele disse, inclinando-se para baixo, para correr os lábios pelo meu pescoço. — Assim que eu terminar aqui, eu vou cuidar de você, — ele disse, como uma promessa, como um voto. Assim era o quão sério seu tom estava quando ele se esticou sobre mim para o sabonete. — Eu posso? — perguntei, surpreendendo-me, eu pensei, mais do que ele. Seu sorriso ficou um pouco travesso, mesmo quando seus olhos ficaram mais pesados, mas quando minha mão subiu para tocar a borda da cicatriz em seu peito, seu corpo inteiro endureceu. — Não importa, — eu disse, pressionando mais perto dele. — O que quer que seja isso, — eu prossegui, passando o sabonete pela coisa toda, — não importa agora, ok? Houve um longo momento no qual ele ficou olhando para mim, seus olhos vazios, perdidos em algum lugar. Perdidos, eu tinha certeza, no momento quando essas cicatrizes foram esculpidas em sua carne. Mas então ele voltou, lentamente a princípio, como se estivesse descongelando. — Entre nós, — ele disse, abaixando a cabeça um pouco para manter contato visual intenso, — isso nunca importa, ok? Eu podia entender a necessidade por isso, supondo que o que quer que as tenha colocado ali, foi horrível, foi algo sombrio e feio, que ele não queria colocar entre o que estava crescendo com nós dois. — Ok, — eu concordei, balançando a cabeça, dando outra passada por seu peito que não o fez endurecer tão forte. No momento em que eu estava esfregando suas costas, notando pela primeira vez marcas de chicotadas na parte de trás de suas coxas, engolindo em seco e tentando não mostrar nenhum sinal do meu

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choque, muito embora ele estivesse de costas para mim, seu corpo inteiro – pau à parte – tinha relaxado. — Acho que estou limpo agora, boneca, — ele rosnou baixo quando minhas mãos se moveram sobre sua bunda. — Eu só estou tendo mais certeza, — eu disse, pressionando meus seios em suas costas, apreciando o pequeno rosnado retumbante que ele soltou aos meus mamilos endurecidos pressionando em sua pele. — Sabe, — eu provoquei, as mãos se movendo pela sua barriga e para baixo, — Eu acho que talvez perdi um lugar... — eu adicionei quando meus dedos provocaram no V profundo de seu cinto de Adônis13. O sabonete caiu, esquecido, quando minha mão se fechou em volta do seu pau. Eu mal consegui acariciá-lo uma vez antes de ele se virar. Suas mãos de palmas largas fecharam em torno dos meus pulsos, arrastando meus braços para cima, em seguida, batendo-os contra a parede do chuveiro sobre a minha cabeça enquanto seus lábios se chocavam contra os meus. Todo o resto simplesmente desapareceu. Tudo o que havia era sua língua na minha boca, seus dentes no meu lábio, seu pau contra minha barriga, seu peito duro contra meus seios. Seus lábios se arrancaram dos meus, fazendo um gemido de dor escapar de mim antes de eu sentir seus lábios descendo pela lateral do meu pescoço. Ele soltou meus pulsos e minhas mãos arranharam por suas costas, fazendo-o silvar quando seus dentes morderam a pele logo abaixo da minha orelha. — Luce... por favor, — eu gemi, levantando a perna para o lado, envolvendo metade das costas dele, praticamente escalando-o na minha necessidade por mais. — O quê? Você não gosta de ser torturada? — ele perguntou contra o meu ouvido, beliscando o lóbulo. — Eu estive pensando sobre essa merda por mais de uma semana. 13 O espaço entre o V formado

no quadril masculino.

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Eu deixei cair meu quadril, sentindo seu pau roçar contra o meu clitóris, fazendo um gemido escapar de mim. — Estive pensando em você dentro de mim por mais de uma semana, — eu admiti, fazendo sua cabeça levantar, seu sorriso perverso. — Bem, este é um tempo fodido de longo. — Suas mãos desceram pelas minhas costas para se afundarem na minha bunda, dando-me um puxão, forçando minhas pernas ao redor dele enquanto ele saia do chuveiro e parando por apenas um segundo para secar seus pés, porque cair e quebrar alguma coisa teria deixado o momento consideravelmente muito menos sexy. Quando dei por mim, enquanto estava ocupada tentando torturar seu pescoço enquanto ele torturava o meu, eu estava caindo livre para trás antes que eu subisse na cama, fazendo-me soltar uma risada alta por um momento antes de ele se mover para o pé da cama, descendo para tocar meu tornozelo. Foi casto, mas enviou uma corrente panturrilha, coxa, depois entre as pernas.

elétrica

até

minha

— Vista boa do caralho, — ele rosnou com voz baixa e seus joelhos pressionaram a beira do colchão. Suas mãos subiram pelas minhas panturrilhas para agarrar meus joelhos, afundando neles e espalhando minhas coxas completamente ao lado de fora dos seus quadris. — Luce, — eu exigi enquanto ele apenas continuava olhando para mim, os olhos abaixados. — Nunca fiz uma merda na minha vida para merecer isso, — ele disse, o tom pesado, e suas mãos flutuaram para cima em minha barriga, acariciando a parte inferior sensível dos meus seios. — Mas eu vou mostrar a você o quão grato pra caralho eu estou. Então ele estava para baixo no colchão. E eu mal consegui puxar uma respiração antes de sentir sua língua deslizar para cima em minha fenda lisa e circular ao redor do meu clitóris repentinamente latejante.

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Minha mão bateu atrás do seu pescoço, segurando-o para mim, mas não havia necessidade; ele não precisava ser segurado ali. Ele não tinha planos de parar para me levar até o limite e depois se afastar. Ele estava me devorando, trabalhando meu clitóris em círculos, seus dedos deslizaram no meio e lentamente dentro de mim, trabalhando com pequenos golpes gentis. Minha mão deslizou para cima, enrolando-se em seu cabelo molhado e meu quadril começou a se mover contra ele, querendo mais, precisando de mais, precisando dele. — Luce, por favor, — eu choraminguei, pegando seus ombros, tentando puxá-lo para cima. Sua língua deixou meu clitóris quando ele inclinou a cabeça para cima, mas seus dedos continuaram empurrando. — Como posso te mostrar o quanto aprecio você se não fizer você gritar antes que eu comece a sentir sua boceta apertada me receber? Então ele inclinou a cabeça para baixo. Mas sua língua não se moveu. Não. Seus lábios se fecharam em volta do meu clitóris e chuparam forte, assim como seus dedos se curvaram e acariciaram sobre o meu ponto G. Foi isso. Foi tudo o que precisou. O orgasmo rasgou através de mim, fazendo minhas coxas tremerem quando as ondas invadiram, enquanto eu gritava. O nome dele. — Porra, — ele rosnou quando soltou meu clitóris e beijou minha barriga, sua barba por fazer raspando deliciosamente na pele excessivamente sensível.

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Não importava que ele tivesse acabado de me dar um poderoso orgasmo. Não importava que fosse mais do que eu tinha tido em muito tempo. Não foi o suficiente. Não estava nem perto do suficiente. Nada seria suficiente até senti-lo deslizar dentro de mim, até senti-lo se mover junto comigo, até que nós dois nos desfizéssemos juntos. Como se sentisse isso, ele levou seu tempo. Sua língua traçou sob meu peito, fazendo um arrepio passar por mim um segundo antes de seus lábios se fecharem ao redor do meu mamilo, e chupado forte. Ele se moveu pelo meu peito para sugar o outro ponto endurecido, então mordeu tão violentamente que eu vi estrelas quando uma inesperada explosão de desejo disparou entre minhas coxas. Frustrada, eu chicotei para cima, batendo uma mão em seu ombro, enviando-o voando de costas com um grunhido. — Gosta de brincar duro, hein? — ele perguntou, sorrindo para mim enquanto eu me movia para montar nele. — Dois podem jogar esse jogo de tortura, — eu o informei e abaixei meu rosto em direção a ele, assegurando que meus seios provocassem no seu peito. Eu beijei, lambi, chupei seu pescoço, seu peito e seu estômago. — Evan... — sua voz alertou quando eu mordi a parte interna de sua coxa. Eu sorri e me virei de repente, chupando seu pau profundamente antes que ele pudesse antecipar o movimento, fazendo seu quadril dar um salto para cima enquanto sua mão batia atrás do meu pescoço. — Porra, boneca, — ele rosnou, movendo-se para pegar meu cabelo e enrolar em seu punho, assim ele podia assistir quando eu comecei a trabalhar nele. Lentamente.

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Ele gostava de tortura, eu podia torturar. — Jesus Cristo, — ele rosnou quando meus dedos brincaram em suas bolas. — Ok, ok, — ele riu. — Eu entendi, Ev, — ele disse, dando um puxão forte o suficiente no meu cabelo para me fazer soltar seu pau completamente. — Você quer meu pau, — ele acrescentou, parecendo diabólico e se curvou para o lado da cama, arrastando sua mochila e voltando com um preservativo. — Esse é o objetivo que você está tentando fazer, certo? — ele perguntou e pegou meu pulso, agarrando e me enviando para cair na cama. Eu rolei para o meu lado, de frente para ele enquanto ele rolava para o dele, levantando o preservativo para morder a borda e rasgá-lo. — Esse é definitivamente o objetivo que eu estive tentando fazer, — eu concordei, deslizando minha perna por cima de seu quadril enquanto ele nos protegia. — Bem, eu não posso negar tal pedido, não é? — ele perguntou, a mão deslizando para cima em minha coxa e curvando-se até que pegou a minha bunda. — Não, você não faria isso, — eu concordei quando ele me rolou de costas, movendo-se sobre mim, selando seus lábios nos meus. Seu pau pressionou com força a minha fenda, fazendo minhas pernas se levantarem, envolvendo a parte inferior de suas costas, convidando-o para dentro quando ele mordeu meu lábio inferior. — Luce, por favor, — eu gemi, meu quadril moendo para cima no dele e minhas unhas cavando em suas costas. Seus olhos brilharam quando ele se levantou para olhar para mim. — Soa fodidamente bom quando você implora pelo meu pau, boneca. — ele rosnou e a cabeça de seu pau finalmente pressionou onde eu mais precisava dele, criando uma pressão que me fez soltar um gemido de desespero. — Sabe o que vai soar ainda melhor? — ele perguntou quando seu quadril pressionou para frente e seu pau deslizou dentro de mim, fazendo-me soltar um gemido alto. — Sim, isso, — ele concordou, seu pau pulsando quando ele se instalou profundamente. — Oh, meu Deus.

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Verdade que já fazia algum tempo, mas eu tinha certeza que naquele momento nada, nunca pareceu perto de ser tão bom antes. — Só vai ficar melhor, boneca, — ele disse, a voz baixa, enquanto seu quadril se movia para trás, depois pressionava profundamente novamente. E então ficou. Seus olhos estavam nos meus enquanto ele, lentamente, gentilmente, quase, eu me atrevia a dizer, amorosamente empurrou dentro de mim, fazendo-me subir lentamente, quase dolorosamente, parecendo ter a sua alegria em vagarosamente construir uma quantidade quase dolorosa de prazer em mim, antes de permitir que ela finalmente atingisse o topo. — Ok, baby, ok, — ele cantarolou baixinho quando meus gemidos se tornaram verdadeiros gritos, a necessidade tão forte que era uma pressão dolorosa que parecia que não haveria fim. — Você quer gozar para mim? — ele perguntou, movendo levemente para que sua mão pudesse deslizar entre nós, pressionando meu clitóris inchado. — Sim? — ele perguntou. Eu assenti enquanto meu corpo inteiro ficava rígido, enquanto ele me empurrava para dentro daquele vazio. — Goze, Evan, — ele exigiu e seu pau pressionou para frente, e seu dedo deu outro golpe. Meu enquanto parecendo Mas então dizer.

choro ficou preso, estrangulado em minha garganta as primeiras ondas batiam através do meu sistema, começar na base da minha espinha e explodindo para fora. eu encontrei minha voz novamente, e só havia uma coisa a

O nome dele. — Luce, — eu gritei nas últimas ondas quando ele se enterrou profundamente e sibilou meu nome no meu pescoço quando ele gozou comigo. Ele ficou enterrado profundamente enquanto nós dois lutávamos para encontrar nossas respirações, enquanto meu corpo tremia suavemente com os tremores finais, enquanto nossos corações se acalmavam.

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— Valeu a pena esperar, — ele disse enquanto se empurrava para cima, olhando para baixo em mim com olhos que pareciam pesados, como eles frequentemente estavam, mas desta vez com algo que não era assustador ou sombrio. Era algo mais, algo que eu não consegui decifrar, mas algo que parecia bom, algo que fazia um calor se espalhar pela minha barriga. — Sim, valeu, — eu concordei, a mão indo atrás de seu pescoço para puxá-lo de volta para baixo, beijando-o tanto até seus lábios estarem sorrindo contra os meus, fazendo-me deixá-lo subir. — O quê? — eu perguntei, sorrindo de volta. — É o seguinte... me pergunte isso de novo amanhã, ok? — ele disse estranhamente enquanto se puxava do meu aperto para ficar em pé. — Por quê? — Tenho meus motivos. Pergunte-me amanhã, — ele exigiu novamente, dando-me um sorriso preguiçoso enquanto se movia em direção ao banheiro. Intrigada, eu forcei meus membros preguiçosos a se moverem e saindo da cama que tínhamos encharcado com nossos corpos molhados do banho. — Aqui, Ev, — disse Luce quando voltou, segurando uma toalha fofa. — Seu cabelo ainda está pingando, — ele explicou quando eu a peguei e comecei a secar. — Com fome? — ele perguntou, buscando uma nova cueca boxer e a colocando. — Eu poderia comer, — eu concordei quando ele vestiu jeans e uma camiseta. — Eu vou naquele lugar no final da rua novamente, — ele disse, amarrando os sapatos. — Aquele cozido de ontem à noite estava ótimo, — ele acrescentou, e eu tive que concordar. — Tenho que manter suas forças em dia, — ele continuou, se aproximando e envolvendo o braço atrás de mim para correr um dedo pela minha espinha. — Porque vai ter a porra de muito disso a partir de agora, — ele disse com uma piscadela e apontou para a cama. — Promete? — eu perguntei com um sorriso que ele retornou.

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— Juro pra caralho, — ele concordou, seus lábios esmagando os meus por um longo momento antes de ele se mover em direção à porta. — Eu volto em vinte minutos. Com isso, ele desapareceu, deixando-me para me vestir com um short leve e uma das camisetas de Luce. — Você esqueceu sua chave, você... — Eu comecei quando abri a porta depois de algumas batidas curtas. O sorriso caiu do meu rosto assim que eu abri a porta. Porque não era Luce quem estava batendo. E meu estômago desabou dolorosamente, algo em mim gritando que as coisas tinham acabado de tomar um rumo acentuado para baixo. O sorriso do homem era lento, astuto, maligno. — Estive esperando anos para mandar uma mensagem para o seu velho, — ele rosnou enquanto eu me movia para trás, tentando encontrar o bastão com o qual nós tínhamos caminhado para casa. — Agora, que melhor modo do que levar seu perfeito anjinho protegido? — ele perguntou quando minha mão se fechou ao redor do longo, duro e frio cabo do bastão, meu coração batendo tão forte que eu não conseguia nem pensar além das batidas, nem sequer o suficiente para fazer a coisa esperta e gritar. Meu braço levantou, mas antes que eu conseguisse sequer passar para trás, ele foi arrancado da minha mão, levantado, e assim que me lembrei de gritar, quando minha boca se abriu, quando os primeiros sons saíram, o bastão desceu e tudo o que vi foi escuridão.

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Luce

Eu não estava mentindo quando disse que não fiz nada para merecê-la. Minha vida inteira era feia, imunda, sombria e horrível. A única coisa que eu toquei foi o mal, com o propósito principal de eliminá-lo, claro, mas não havia nenhuma luva grossa o suficiente para impedir essa merda de tocar você, de ficar sob sua pele. Eu não tinha nenhum direito de tocar em nada bonito, sabendo muito bem que eu corria o risco de arruinar tudo com a minha sujeira. E Evan, sim, ela era linda pra caralho. Eu não tinha nada que colocar um dedo nela. Mas não havia volta para mim desde aquela primeira vez que ela me disse que não perguntaria sobre as cicatrizes. Tentei lutar contra isso aqui e ali; sabia que era melhor para ela ver que eu não era o homem para ela, para querer colocar algum espaço ali. No entanto, não importa o quanto tentei me afastar, simplesmente não havia como negar a conexão, o jeito que os olhos dela brilhavam quando falava comigo, ficavam famintos quando olhava para mim. Eu sabia que deveria ter me arrependido, deveria ter vindo com maneiras de me desvencilhar da situação para o bem dela, mas não, eu estava indo para a pequena loja de conveniência que servia comida, que era melhor do que metade dos restaurantes de Navesink Bank, para levar algum sustento para ela, para que ela pudesse recuperar as ~ 172 ~


forças, e nós poderíamos ir para outra rodada ou três antes de amanhecer. A verdade era que eu não fodia muito por aí. A merda de não querer me despir limitava as opções para mergulhar o pavio. Mas eu não era um virgem de olhar sonhador. Eu tenho estado pelo quarteirão. Então, quando digo que sei que nada, porra nada, nunca tinha feito eu me sentir assim antes, sabia o que estava dizendo. Eu não era romântico, sequer entendia o conceito de flores e doces. Eu não tinha as palavras que muitos homens tinham. Mas não estava indo embora. Eu sempre ia embora. Era inteligente ir embora. Era melhor para ela que eu fosse embora. Eu simplesmente não conseguia e não queria fazer isso dessa vez. Isso provavelmente ia explodir na minha cara. Algum dia, depois que eu provavelmente ficasse o diabo de muito envolvido, ela ia ver toda a feiura, ela ia perceber que não queria isso estragando sua vida, e ela ia embora. Isso, bem, eu estava em contato o suficiente comigo mesmo para saber que esta merda não ia ficar ótima. Mas essas eram as consequências. E eu estava pensando que talvez estivesse disposto a encará-las. Algum dia. Depois que eu tivesse conseguido desfrutar em foder com ela por tanto tempo quanto ela permitisse. Razão pela qual eu me peguei sorrindo como um fodido idiota quando cheguei na porta do nosso quarto, uma sacola cheia de comida, bebidas e lanches para nós aguentarmos até chegarmos à cidade no dia seguinte para encontrarmos sua mãe. Nada parecia errado.

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Eu entrei, imaginando que ela estava no banheiro. Mas então fui colocar as sacolas na pequena mesa atrás da porta. E meus olhos avistaram o bastão, estendido no chão, onde ele definitivamente não pertencia. As sacolas caíram das minhas mãos, as tampas escorregando dos recipientes do cozido e derramando o jantar sobre todo o chão. Mas eu mal fiquei ciente disso. Porque aquele bastão... tinha um fodido sangue nele. E Evan estava desaparecida. — Porra! — eu gritei, batendo meu punho para trás na parede, a dor ricocheteando no meu braço, e de algum jeito conseguindo me dar chão. Eu atravessei o quarto, pegando meu celular, agarrando meu moletom e um maço de dinheiro, e saindo batendo nas portas dos quartos ao lado, claramente acordando todo mundo. Ninguém tinha ouvido nada. Claro que não. Eu arranquei de volta pela rua, meu coração martelando no meu peito, tentando não me precipitar muito. Onde quer que ela estivesse, seja quem for que a tivesse, eles não podiam estar muito longe. Eu precisava me concentrar pra caralho. Eu precisava manter a calma. Nós estávamos no filho da puta do Brasil. Eu não sabia como a merda funcionava, não sabia quem eram os principais jogadores, não sabia por que alguém a levaria e não sabia como não ser pego se ficasse farejando por aí. Eu não sabia nada. Mas sabia de uma coisa. Eu não podia fazer merda nenhuma sem as ferramentas certas.

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— Ei, — eu gritei para um grupo de homens em pé do lado de fora da loja de conveniência que eu tinha acabado de sair. Toda cidade tinha o tipo. Não importava se eles fossem negros, brancos, latinos, asiáticos; não importava mesmo. Você conhecia o tipo quando os via. Eles podiam estar com camisetas regatas, com suas cuecas aparecendo dez centímetros de seus jeans, ou eles podiam estar com agasalhos, ou camisas sociais. Não importava. Você podia identificá-los. Havia positivamente uma vibração no ar em volta deles. Havia uma arrogância descontraída para os criminosos. — Ei, alguém fala inglês? Falar inglês? Não? — eu perguntei quando todos eles se viraram, dando-me uma examinada. — Porra. Tudo bem. Eu preciso de uma arma. Uma... arma, — eu tentei, enfiando a mão no bolso para acenar o dinheiro. — Jesus Cristo. Diga-me quem pode me dar uma maldita arma. — Ei, amigo, você precisa respirar. A aí? A aí? E aí? — Minha garota acabou de ser levada da porra do meu quarto do hotel. Eu preciso de uma arma, e preciso conhecer os jogadores nesta porcaria de vilarejo de selva atrasado. Isso é o que acontece. Então, se você não é com quem eu preciso estar conversando, me aponte onde preciso ir. — Ou o quê? — Ou eu vou pegar a garrafa de cerveja quebrada bem ali, — eu disse, apontando para o chão perto do meu pé sem olhar, querendo manter meus olhos no trio, — e vou cortar sua jugular, — eu disse para o líder, — pego esta faca que você tem no seu cinto e furo os outros dois. Minha reputação pode não me preceder neste lugar, mas confie em mim quando digo que você não quer foder comigo. Então, vou me repetir mais uma vez. Eu preciso de uma arma e preciso saber quem pode ter um problema com Alejandro Cruz. Houve um silêncio após esse nome, fazendo-me perceber que talvez eu deveria ter mencionado o nome antes deste momento. Um dos homens de costas resmungou estuprador. Estuprador.

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O outro disse envenenador. Envenenador. Então minha reputação não significava merda nenhuma, mas a dele com certeza ainda significava. Aparentemente, a notícia não tinha chegado até aqui, que o envenenador estuprador estava morto há muito tempo. E, se não estivesse enganado, e eu o caralho que não estava, havia um certo nível de medo em suas vozes quando eles disseram essas palavras. — Você trabalha para Cruz? — o líder perguntou, olhando-me de novo. — E a filha de Cruz acabou de ser levada. Você quer que eu volte, afaste-o de seus negócios, e diga a ele que vocês, idiotas, não me ajudaram a conseguir uma arma e me mostrar uma direção? Isso que você está me dizendo? Eu ficaria feliz em ir buscar... — eu comecei, virando-me para ir embora. — Eita! Espere. Ok, amigo. Não há necessidade de chamar o chefe. Você quer uma arma? Você pode ter a minha arma, — ele disse, estendendo a mão para trás nas costas, para tirá-la do cós. — Funciona? Como resposta, ele a levantou acima de sua cabeça e disparou dois tiros. Você sabia que as pessoas ali estavam acostumadas com esses caras, porque eles mal se encolheram ao som dos tiros. — Funciona. — Balas. E informações, — eu exigi, batendo a pilha de dinheiro em sua mão quando ele me entregou a arma com a outra. — Quem quer que Cruz sofra por aqui? Um dos caras nos fundos bufou. — Todos os pais das garotas nas quais ele colocou as mãos talvez?

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— Sim, entendo, — eu disse, colocando a arma longe. — Ele conseguiu uma má reputação. Mas acho que vocês cabeças de merda sabem que se vocês não começarem a me dar algumas respostas, que se um maldito fio de cabelo estiver fora do lugar na cabeça daquela garota, ele vai arrastar sua bunda até aqui, ter cada de vocês amarrado a uma cadeira, depois tirar os prazeres dele ao encontrar novas e inventivas maneiras de fazer vocês pagarem pela dor e sofrimento dela. — Porra, cara, — disse o líder, erguendo as mãos em um gesto defensivo, deixando-me saber o quão ruim era a reputação de Cruz nas ruas. Quando você procurava online, você tinha que saber que pelo menos metade da merda era boato, era embelezada. No caso de Alejandro Cruz, aparentemente, todas as informações estavam no alvo. — Fale, — eu exigi, apontando a arma para ele. — Ou eu começo com o pau e faço meu caminho com outros órgãos mais vitais que este fodido feio. — A equipe de Diaz, — ele correu para dizer, a voz realmente trêmula. Então, quem quer que fosse, eles eram de baixo nível. Traficantes ou cafetões, não pessoas acostumadas a ter armas apontadas para elas. — Quem são eles? Onde eles estão? Por que eles a querem? — Cruz apareceu, eu não sei... dez anos atrás ou algo assim. Ele foi contratado por algum traficante zé-ninguém com um grande ego para eliminar o principal cartel por aqui. — Deixe-me adivinhar, — eu disse, abaixando a arma, — a equipe de Diaz. — Eliminou Luis Diaz, — o cara concordou, acenando com a cabeça. — Mas não antes de ele prender sua esposa e filha, e estuprálas na frente do homem. Eu senti meu maxilar apertar, desejando que eu pudesse ter ressuscitado o bastardo fodido para que eu pudesse matá-lo eu mesmo. — Quem restaria? Quem viria atrás dela por vingança? — eu perguntei, dentes rangendo com tanta força que uma dor disparou para minhas têmporas. ~ 177 ~


Porque se o crime foi estupro e assassinato, a vingança provavelmente seria a mesma. Olho por olho. Eu precisava chegar até ela. Cinco malditos minutos atrás. Se aquele filho da puta a tocou... Não. Eu não podia ir lá. Eu tinha que desligar. Eu tinha que manter uma cabeça limpa. A única razão pela qual eu tinha sobrevivido tanto tempo em atividades criminosas era porque eu mantinha meus sentimentos fora da merda. Eu era frio e calculista, e mantinha minha cabeça em linha reta. Eu cuidava da minha merda. Eu podia sentir mais tarde. Neste momento, eu precisava desligar, porra. — A equipe se desmantelou, seguiram em frente e se juntaram ao novo chefe para manter a comida no estômago. — Todos exceto quem? — O único filho de Diaz. Miguel. Ele tinha dezessete anos na época, estava fora em um trabalho. Veio para casa para encontrar sua mãe e irmã quebradas, seu pai assassinado. — Onde eu encontro Miguel? — eu perguntei, levantando a arma quando eles pararam, olhando de um para o outro, apontando para seu pau e engatilhando. — Ei! Ok. Acalme-se, amigo. De volta no caminho que você veio, você viu aquela casa grande na colina em seu caminho? Lá é a casa de Diaz. O lugar de seu pai.

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Eu me virei para ir embora, mas depois voltei. — Onde Cruz matou Diaz? — eu perguntei, imaginando que se isso ia acontecer, ia ser exatamente como aconteceu a uma década atrás. — A casa de hóspedes do lado de fora, nos fundos, — um dos caras nos fundos informou. — Bom. Agora, se eu descobrir que Diaz foi avisado sobre a eu vir, o que vocês imaginam que Cruz faria a vocês, será o filho da puta de suave em comparação de como eu farei vocês sofrerem. Vocês me entenderam? — Entendemos! — o líder disse, erguendo as mãos. Convencidos de que eles estavam assustados o suficiente, que eu tinha suficiente vantagem, estendi a mão e peguei a faca do cinto do cara, me virei e corri pra cacete. Por mais que eu tentasse, enquanto corria, os pensamentos giravam, as ideias do que podia estar acontecendo com ela corriam pela minha mente. Eu sabia que ela já tinha sido golpeada pelo bastão, provavelmente na cabeça. Por isso e só por isso, o desgraçado ia ter o que ele merecia. Mas isso tinha sido a pelo menos vinte minutos. A merda que poderia ter acontecido com ela em vinte minutos... Não. Porra, não. Eu não podia deixar minha mente ir lá. Porque, pela fração de segundo que minha mente foi lá, minha visão ficou tão vermelha que eu tive que parar de me mover porque não conseguia ver uma maldita coisa. Eu respirei fundo e me forcei a ir em frente, fechando completamente meu cérebro. Isso era algo no que eu era bom. Era algo que eu precisei fazer inúmeras vezes na minha vida. Não quando se elimina os vermes. Não. Eu estava totalmente presente durante tudo aquilo. Não. Eu estou falando sobre antes disso, antes de todo o

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assassinato, antes de assumir a causa da vingança por todas aquelas pessoas que não puderam revidar. Como eu fui uma vez. Se eu consegui desligar naquela época, então conseguia desligar novamente. Só por mais oito minutos, no máximo. Oito minutos para manter minha mente em branco. Então, no segundo em que entrasse naquela casa de hóspedes, eu ia abrir tudo outra vez. Embora eu entendesse o desejo de Diaz por vingança, embora eu respeitasse o querer olho-por-olho por merda tão maluca como a que Cruz arrastou sobre a irmã e a mãe de Diaz, você não conseguia essa vingança ao machucar outras mulheres inocentes. Você não tinha um olho-por-olho usando seu pau como vingança em alguém que nunca fez uma maldita coisa errada. Você sabia, ou a porra é fodida. Porque não havia outra palavra para isso, a não ser o mal. Mal profundo até a medula. Se ele estava disposto a fazer essa merda, então, bem, ele era cada pedaço tão canalha quanto Alejandro. E ele ia morrer de forma lenta, dolorosa e brutal, por sequer pensar que podia fazer algo assim para Evan. Deus o ajude, se ele realmente conseguiu alguma coisa. O vermelho brilhou sobre meus olhos novamente, fazendo-me precisar balançar a cabeça e respirar fundo antes que pudesse seguir em frente, passando correndo pela enorme casa de três andares pertencente ao morto Diaz. Uma casa como aquela foi construída para ser protegida, foi construída em uma colina para que guardas pudessem ver por quilômetros todo o caminho em volta. Mas desde que o negócio de seu pai entrou em colapso, Miguel Diaz obviamente não conseguiu reconstruir a hierarquia, graças a eles pulando do barco e provavelmente uma forte presença do cartel rival que assumiu o poder.

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Não havia guardas do caralho. Tudo o que havia era o som distante de lobos, alguns insetos noturnos e meu batimento cardíaco trovejante. Eu ouvi quando contornei a pequena casa de hóspedes. Era recuada da casa principal por cerca de um acre. Era uma construção retangular pequena, do tamanho da casa da mãe de Evan, baixa, com apenas duas janelas e uma porta na frente. Nada extravagante, mas quando me agachei ao lado dela, eu ouvi. Um grito. O grito de Evan. Nesse momento, não havia como manter a raiva fora, manter uma cabeça fria. A raiva borbulhou nas minhas veias quando eu contornei a porta, pegando a arma na minha mão direita e a faca na minha esquerda, depois levantando um pé e batendo na porta, enviando a coisa de merda voando pelos ares. — Foda-se! — o homem que deve ter sido Miguel Diaz gritou, saltando para trás da forma se contorcendo de Evan no chão. Miguel Diaz era de pele mais escura, com longos cabelos negros, olhos escuros e constituição mediana. E talvez, se ele não tivesse o short de Evan ao redor dos tornozelos dela, talvez eu podia ter dito que ele era razoavelmente bonito. Mas como os shorts dela estavam em torno de seus tornozelos, tudo o que eu vi foi feiura. — Sim, foda-se é certo, — eu concordei, voz baixa e cruel. Porque não só seu short estava ao redor dos tornozelos, mas ela estava claramente sangrando da têmpora onde, eu presumi, o bastão a tinha atingido com força suficiente para apagá-la, já que ninguém tinha ouvido nenhum grito dela quando ele a arrastou para longe. O outro olho dela estava enegrecido, o lábio rachado e inchado. Havia hematomas em torno de seus pulsos de, eu presumi, serem pressionados para baixo.

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— Acho que você está perdido, amigo, — ele disse, de pé completamente, e eu não tinha certeza se podia sentir alívio ainda por sua calça estar fechada. Eu podia simplesmente ter chegado tarde demais. — Luce? — a voz dolorida e desesperada de Evan alcançou meus ouvidos, fazendo meus olhos se moverem para encontrá-la freneticamente tentando arrastar sua calcinha de volta para cima de suas pernas, lágrimas furiosas escorrendo pelo seu rosto. — Você pode andar? — perguntei com os dentes cerrados enquanto ela instavelmente se movia para ficar de pé. Respirei fundo enquanto ela tropeçava um pouco, sabendo que precisava manter o controle para o seu bem. — Vem cá, boneca, — eu disse suavemente e ela começou a se mover pelo chão. — Você pega isso, — eu disse quando ela chegou perto, pressionando a arma para ela. — Você... — Pegue esta arma e vá para fora, — eu disse, a voz suave, mas firme. Eu precisava que ela cumprisse as ordens, precisava tê-la a salvo. Porque eu estava prestes a explodir. E ela precisava estar o mais longe possível disso. — E se você ver alguém além de mim, você esvazia o pente em seus corpos. Ok? Seus olhos subiram para os meus, fazendo meu estômago apertar forte quando vi seu lábio inferior tremer quando ela se moveu para pegar a arma. — Ok? — eu repeti enquanto a mão dela se fechava em volta dela. Ela me deu um aceno de cabeça brusco e se moveu quase roboticamente em direção à porta. — E agora, amigo? Você não tem arma. — Eu não uso armas, amigo, — eu disse, trocando a faca para a minha mão direita. — Eu gosto de trabalhar com minhas mãos.

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— Como você pode ver da sua namoradinha lá fora, — ele disse, inclinando a cabeça para o lado, — eu também. — Ah, cabeça de bagre, essa foi a fodida coisa errada a dizer. Deixei-a sair então, a raiva. Ele deve ter me subestimado, porque quando voei para ele e mergulhei a faca em seu lado, logo abaixo de sua costela inferior e apenas profundo o suficiente para doer como um filho da puta, mas não profundo o suficiente para causar qualquer dano real, seus olhos giraram loucamente. As pessoas tendiam a me subestimar. Eu não era um cara enorme. Alto, claro, mas magro, esguio e de aparência despretensiosa. Ninguém achava que o cara magricela em um moletom com capuz, com pele pálida de nerd de computador era algum tipo de ameaça. Mas maldição, eles estavam errados. Eles sempre ficavam chocados quando o saco caía sobre suas cabeças, ou o garrote em volta de suas gargantas, ou a faca na jugular. Era como se eles todos pensassem que eu era só conversa. Apenas algum idiota que saía assustando as pessoas. Então, era sempre um choque. — Apenas um centímetro mais profundo e inclinado para cima, e eu estaria atingindo o pulmão. Eles se encheriam com sangue e você sufocaria de dentro para fora. É uma maneira particularmente horrível de morrer. Então, isso parece como um fim adequado. — eu disse a ele. — Ainda não, — eu adicionei, puxando a faca para fora, girando-a na minha mão, levantando o punho e jogando cada última gota de força que eu tinha no golpe em sua mandíbula, mandando-o voando para o chão. — Você a protege? — ele gritou do chão. — Depois do que o pai bastardo dela fez?

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— Palavras-chave aí sendo, pai bastardo dela, — eu disse, de pé sobre ele, esperando que ele fizesse um movimento para ficar de pé. — Ela não foi quem colocou as mãos na sua mãe e sua irmã. — Ele precisa pagar pelo o que fez com elas! — ele gritou. — Minha irmã, ela se matou três semanas depois. Cortou seus pulsos tão profundamente que não havia como consertá-los. Minha mãe morreu de ataque do coração! Ele precisa conhecer essa dor. — Veja, agora, — eu disse, encolhendo os ombros de volta para a frieza, a escuridão como uma camisa favorita e sentindo-me muito mais confortável nela. — É por isso que eu sou o vigilante, e você é apenas um estupido de meia-tigela tão cego de raiva que não pode ver que tudo o que está fazendo é machucar mais mulheres inocentes. — Vigilante, — ele sibilou, cuspindo um molar e uma boa quantidade de sangue no chão enquanto se levantava para ficar em pé. — Ok, certo. — Veja, tendo o tempo adequado, eu deixaria você ter um pequeno julgamento simulado, daria a você uma chance para confessar, se entregar, ou escolher a morte. Eu levaria um tempo para obter um pouco de soda cáustica, aquecê-la e derreter você. Mas eu tenho uma mulher lá fora que precisa de mim. Então, nós vamos fazer isso de maneira rápida, brutal, sangrenta e bagunçada. Então eu parti para cima, mergulhando a faca em seu peito e estômago seis vezes antes que ele conseguisse sequer gritar. Eu geralmente não usava facas. Elas eram um instrumento de tortura, a menos que fosse um corte rápido na jugular, para que pudessem sangrar em questão de segundos. Eu não me excitava com a dor. Eu não era um fodido psicopata. Eu queria que as pessoas pagassem com suas vidas pela miséria que elas tinham trazido ao mundo. Geralmente, era feito da maneira mais indolor possível.

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Não dessa vez. Desta vez era pessoal. Desta vez era sobre ele colocando suas mãos feias em cima da fodida coisa mais linda que eu nunca tive a sorte de ter na minha vida, algo que eu não merecia, mas estimava mesmo que fosse fodido. Por isso, por colocar aquelas marcas em seu rosto perfeito, por colocar aquelas lágrimas em seus olhos, por colocar aquele tremor de medo em sua voz, sim, ele tinha que pagar. Era um testemunho da minha própria escuridão que seus gritos, que suas suplicas, que suas desculpas inúteis, que os sons dele literalmente sufocando em seu próprio sangue, sangue que estava encharcando meu moletom, não faziam nada para mim. Simplesmente não penetrava. Porque tudo que eu podia ver era o rosto de Evan. Tudo que eu podia ouvir era o jeito desesperado que ela chamou meu nome. Tudo o que eu conseguia pensar era quais pensamentos ela deve ter tido girando em sua cabeça quando acordou sozinha, com a cabeça latejando em um quarto desconhecido, com um homem ali que nem sequer a via como uma pessoa, apenas um corpo no qual ele podia buscar vingança. Ela teve que ter pensado em mim, talvez até chorado por mim enquanto as mãos dele faziam hematomas em sua pele impecável. E teve que ter tido desespero. Porque Evan era uma mulher inteligente. Ela sabia que era um país estrangeiro, sabia que eu não tinha contatos aqui, e que as únicas partes da língua que eu sabia eram as partes que tinha ouvido ela dizer, ou as pessoas na TV dizerem. Ela sabia que eu não teria ideia de quem a tinha levado, ou onde, que ela estava completa e totalmente sozinha e à mercê de um homem que, enquanto estava tirando suas roupas, ela sabia que queria estuprá-la. Talvez, por uma fração de segundo, talvez ela até achou que merecia. Porque suas emoções ainda estavam cruas sobre Alejandro. Porque havia culpa pelas atrocidades que ele cometera enquanto ela o seguia cegamente pelo mundo. Talvez ela pensasse que era uma punição adequada pela sua ignorância.

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Esta. Merda. Não. Continuaria. Se ele a fez pensar desse modo, se ele a fez questionar seu direito de dizer não, para não ter algo forçado sobre ela, então merecia cada momento de agonia que eu infligia a ele. — Paula? — ele ofegou, os olhos ficando enormes e assombrados. Ele pensou que estava vendo sua irmã morta. Essa era uma maneira infalível de saber que eles eram próximos. O cérebro falhava nos últimos momentos, as células do cérebro morriam, criando visões que não eram reais. — Receio que não, — eu disse, puxando a faca de volta, pronto para o golpe final, terminado, além do terminado. — Não há vida após a morte, você simplesmente morre. — Com isso, com este último golpe brutal final, não apenas contra sua psique, mas contra o seu coração com minha faca, Miguel Diaz se juntou às fileiras de Alejandro. E uma boa fodida libertação para a porra de lixo ruim. Não havia um osso culpado no meu corpo quando eu esfreguei para limpar a faca das impressões digitais com a camisa dele e a larguei, e caminhei até a pia para lavar a maior parte do sangue das minhas mãos. Não havia nada que eu pudesse fazer sobre o fato que minha camisa estava literalmente encharcada de sangue. Mas estava escuro fora. Mesmo se nos depararmos com alguém no caminho de volta, eles provavelmente não seriam capazes de enxergar. As evidencias, bem, isso teria que ser tratado mais tarde. Neste momento, o que importava era Evan. Com esse pensamento, eu me virei, voltando em direção à porta e saindo para o ar úmido da noite. Eu ouvi um clique. — Ev, sou eu, — eu disse, a voz suave, movendo-me em direção ao som que vinha do lado da casa de hóspedes onde eu tinha me agachado apenas 20 minutos antes. — Sou eu, boneca, — acrescentei ~ 186 ~


quando entrei à vista, para colocar a mão em cima da arma, empurrando-a para que o cano estivesse de frente para o chão antes de tirá-la de seus dedos trêmulos. Eu a enfiei no cós atrás da minha calça jeans, abaixando-me na frente dela, sem estender a mão para ela ainda, porque não tinha certeza se este era o movimento certo. — Acabou, ok? Está tudo acabado. — Ele... ele... — ela gaguejou, balançando a cabeça, tentando respirar fundo, mas fez todo o seu corpo tremer com o esforço. — Ev, — eu disse suavemente, mas até eu ouvi a súplica na minha voz. Ouvindo isso, talvez entendendo o quão incomum era para mim, o olhar dela subiu. Seus olhos estavam vermelhos, as pálpebras inchadas, mas ela estava segurando outra onda de lágrimas. Eu não queria perguntar. Parecia errado. Parecia que estava perguntando algo que não era da minha conta. Mas, ao mesmo tempo, precisava saber. Precisava saber se eu ia ser o suficiente, ou se talvez eu ia precisar levála para a sua mãe, para conseguir ajuda de alguém que podia entender. Então tive que perguntar. — Ele estuprou você? As palavras tinham gosto como ácido de bateria na minha língua. Elas a fizeram se encolher para trás, mesmo quando seus olhos se fecharam por um longo segundo e ela engoliu em seco, fazendo meu estômago revirar, certo de qual ia ser sua resposta. Mas então seus olhos se abriram, claros, sua voz quando ela falou estava calma. — Não, — ela disse, o tom firme. — Ele ia, — ela disse, balançando a cabeça um pouco freneticamente, perdendo o pouco de controle que ela tinha sobre suas emoções rodopiantes. — Ele até me disse que ia... — Sh, — eu disse, balançando a cabeça, estendendo a mão para o rosto dela e inclinando o queixo para cima. — Eu nunca ia deixar isso acontecer, ok? — Você não sabia onde... — Bem, eu descobri, — disse, forçando um pequeno sorriso que eu não sentia nem um pouco, mas sabendo que meu humor sombrio não servia para ela.

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— Como? — Podemos conversar sobre isso no hotel, boneca? — eu perguntei, acariciando meu dedo em sua bochecha. — Eu preciso fazer algo sobre este corte ao lado de sua cabeça e você deve estar querendo algum analgésico neste momento. Acha que nós conseguimos ir andando? Ela assentiu, pegando minha mão quando a ofereci para ajudá-la a levantar. — Você cheira a sangue, — ela me informou, o tom um pouco vazio. — Sim. — Ele estava gritando. Meu estômago ficou tenso quando começamos a andar. Eu sabia que esse dia chegaria. Eu sabia que em algum momento ela veria além do cara que a fazia rir e pensar, e a levaria em uma aventura percorrendo países. Eu sabia que ela só seria capaz de me aceitar por um curto período antes de ver quem eu realmente era. Talvez eu estivesse esperando, no entanto, que não fosse tão cedo. — Eu sei, Ev, — concordei, mantendo meus olhos para frente enquanto tentava pressionar o ritmo mais rápido, querendo voltar para o hotel e fora de vista o mais rápido possível. Eu sabia que algum dia, de alguma maneira, ia acabar na prisão ou morto por minhas ações. Eu preferia muito mais, no entanto, que a prisão não fosse na porra do Brasil. — Eu sou uma pessoa terrível por estar feliz por ele estar morto? — ela perguntou depois de um longo e prolongado silêncio que fez meu coração bater forte contra minhas costelas. Eu parei de repente, virando-me totalmente para ela, notando que demorou um momento extremamente longo para ela fazer contato visual. Mas não responderia até que eu tivesse isso.

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— Evan, ele queria estuprar você. Ele queria enfiar algo dentro do seu corpo. Se esse algo fosse uma faca em vez de um pau, você estaria questionando o seu direito de desejá-lo morto agora? Eu não me importaria se você quisesse cortar seu pinto com uma faca de manteiga, depois enfiá-lo no rabo dele, e fazê-lo escrever uma dissertação de vinte páginas sobre o conceito do consentimento enquanto ele se contorcia em uma agonia sem lubrificação. Eu ainda não acharia que você era um uma pessoa terrível. Cães raivosos não podem ser domados, Ev. Eles precisam ser abatidos. — Então você o abateu. — Sim. — Eles incomodam você? — ela perguntou, pés plantados, parecendo precisar falar disso, bem ali do lado da rua. — Os homens que eu mato? — eu esclareci. — Sim. — Eu tenho muitos demônios que me incomodam, boneca. Esses homens não são um deles. Eu acredito no que faço. Acredito em livrar o mundo de pessoas que só trazem o mal para ele, mesmo que isso me transforme no mal em troca. Houve um longo e excruciante silêncio seguindo minhas palavras, onde Evan estava apenas me observando com os olhos que de repente eu não conseguia ler. Então ela falou, e sua voz tinha mais convicção do que eu já tinha ouvido antes. — Você não é o mal. — Boneca, você não... — Você me salvou hoje à noite, — ela me cortou. — Você não tinha que fazer isso. E você me disse a verdade sobre o meu pa... Alejandro. E minha mãe. Você me fez vir aqui para conhecê-la, e tirou um tempo de sua vida para tornar a minha vida melhor. Pessoas más não fazem isso, Luce. Pessoas más simplesmente saem arruinando a vida das pessoas. Você pode existir e trabalhar dentro de uma área cinzenta, mas você se inclina mais para a luz do que para a escuridão.

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Com esta pequena pepita, ela se virou e começou a andar de novo, deixando-me ali parado, mudo por um minuto antes de eu me recompor e segui-la. — Chuveiro, — eu exigi assim que entramos pela porta. — Eu estou tão cansa... — ela começou a se opor e meu coração caiu. Eu queria dizer a ela que estava tudo bem, que podia simplesmente subir na cama, que podia cuidar de sua cabeça latejante e conseguir uma boa noite de descanso. Mas eu tinha que manter minha cabeça no lugar. Em Navesink Bank, eu podia ter chamado mais alguém para fazer o que tinha que ser feito nesta noite, para que pudesse ficar com ela. No Brasil, eu estava por conta própria. Se nós quiséssemos sair deste país sem passar uma década na prisão, eu precisava fazer segundo as regras. — Eu sei, babe, eu sei. Mas você precisa limpar o sangue e as evidências. Raspar sob suas unhas. E eu preciso de suas roupas. Não tinha exatamente me escapado que ela estava na minha camiseta. Isto foi uma das primeiras coisas que eu tinha notado quando estourei aquele lugar, depois das lesões e do short abaixado. Ela vestiu minha camisa. Ela tinha muitas das dela, mas queria usar a minha. Eu não afirmaria ser especialista em mulheres, mas tinha certeza que essa merda era clara. — Oh, certo, — ela concordou, clareando os olhos um pouco. — Você vai... — Eu posso esperar até você terminar, — eu disse, acenando para ela ir em frente, imaginando que ela queria alguns minutos. Honestamente, eu também. Eu precisava descobrir como me livrar do corpo. E nossas roupas, eu precisava lidar com possíveis pontas soltas. ~ 190 ~


Evan voltou alguns minutos depois, molhada e muito mais pálida do que antes. — Espere, — eu disse quando ela foi para a cama. — Eu sei, — disse quando ela choramingou. — Eu sei, boneca. Eu só preciso colocar algo nesse corte. Ele vai ficar infectado. Eu a puxei de volta para o banheiro, encontrando um pouco de peróxido no armário, diluindo-o e pressionando em todos os cortes abertos em seu rosto. — Você está saindo, — ela murmurou enquanto me observava. — Não por muito tempo, — eu prometi. — Uma hora. E você vai manter a arma e a porta trancada. Eu só quero ter certeza que não vamos acabar a qualquer hora em alguma prisão brasileira. — Tudo bem, — ela disse, dando-me um aceno de cabeça, entendendo mesmo que não gostasse. — Uma hora, — eu prometi, caminhando com ela de volta para o quarto, puxando a coberta quando ela se deitou. Coloquei a arma na mesinha de cabeceira, remexendo na minha mochila por uma aspirina e entreguei a ela. Eu peguei roupas, corri para o banheiro, tomando banho tão rápido que eu tinha certeza que arranhei minha própria maldita pele na pressa para me livrar do sangue. Retirei o saco da lixeira, jogando nossas roupas nele e saí. Ela já estava desmaiada. Com um nó na garganta, fiz meu caminho para fora, certificandome que a porta estava trancada e fazendo meu caminho de volta para a casa de Diaz voando. Eu despi o corpo dele e o joguei na banheira, correndo a água até ferver e derramando meia garrafa de alvejante sobre ele. Eu não planejava que o corpo fosse encontrado até que estivesse bom e decomposto. Mas todo o cuidado é pouco. Levei todas as nossas roupas para a pequena lavanderia no armário, colocando-as com cerca do um terço que restou do alvejante, bem como o dobro do sabão em pó que era realmente necessário. As manchas de sangue ficariam cor laranja. Mas eu não estava preocupado

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com elas. O objetivo era destruir a evidência. desaparecessem, as roupas iam ser queimadas.

Depois

que

Enquanto elas lavavam e secavam, eu limpei o sangue no chão e nas paredes, achando a ação familiar quase reconfortante. Corpo limpo, roupas secas, peguei um carrinho de mão, joguei-o dentro, coloquei as roupas em outro saco da lixeira do banheiro, peguei uma pá e parti em direção à mata atrás de sua propriedade. Então talvez, eu tenha mentido para Evan quando disse uma hora. Eu levei quase uma hora para limpar. Ia levar mais uma hora para encontrar um local, cavar uma cova, depois discretamente queimar as roupas em outro local. Então e só então poderia fazer o meu caminho de volta.

**** — Aqui, — eu disse, parando do lado de fora da loja de conveniência, pegando mais comida, discretamente deixando cair o outro moletom que eu estava usando na lixeira nos fundos, depois me aproximando dos homens da noite anterior. — Todos vocês. Não se preocupem, eu não a usei, — eu disse quando ele me olhou. — No final das contas ela estava fora para uma merda de caminhada, — eu disse, revirando os olhos. — Às duas da maldita manhã. — Cadelas são loucas, — o líder bufou. — Fazendo você correr por toda parte como um maníaco. Espero que o pai dela bata em sua bunda. — Cuidado, — eu avisei, deixando todos eles enrijecidos. — Você não quer essa conversa se espalhando para Alejandro. Com isso, eu fiz meu caminho de volta para o hotel, encontrando Evan ainda desmaiada e as contusões ainda mais profundas passado este tempo, e mais uma vez me despindo, depois lavando e branqueando minhas roupas.

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Eu estava finalmente, finalmente satisfeito que as coisas foram controladas, pelo menos o suficiente para nós sermos capazes de passar algumas horas com a mãe dela e depois regressar para o solo americano. O mais cedo possível. Eu não gostava de não conhecer os principais jogadores e não gostava de não ter apoio. Verdade que eu nunca o usei em Navesink Bank, mas estava lá se, de alguma forma, eu realmente precisasse; sem perguntas. Haveria Barrett, Jstorm, Alex, Pagan... um certo número de pessoas que eu tinha ajudado ao longo do tempo. Eles se ofereceriam com suas várias habilidades e me ajudariam de qualquer forma que eu precisasse. Eu precisava voltar para isso. Mas sabia que não podia simplesmente acordar Ev e forçá-la a pegar dois ônibus e um avião quando ela esteve apenas algumas horas de uma surra e um quase estupro. Ela precisava de tempo, precisava dormir e manter seus planos com sua mãe. Ela precisava de um pouco de suavidade. Eu estava começando a conhecê-la, então sabia que ela não precisaria de uma semana antes de rastejar para fora da cama. Ela ia dormir um pouco, pôr um pouco de comida no estômago, conversar com sua mãe, então ia estar pronta para compartimentar isso e seguir em frente. Ela era resiliente. E, por mais que eu odiasse dar ao desgraçado algum crédito, isso deve ter sido pelo menos em parte, a forma como Alejandro a criou. Eu mal tinha chego na cama com ela, fechando os olhos, quando senti as pontas de seus dedos hesitantemente tocarem meu braço nu. — Você está aqui. Meu braço deslizou em torno de seu quadril, puxando-a para mais perto e mantendo-a apertado contra mim. — Sim, boneca. Eu estou bem aqui.

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E eu tive a mais estranha, a mais forte e quase avassaladora sensação de que era onde eu sempre iria desejar estar. Essa merda? Sim, era insana. Mas me deixei pensar nisso quando adormeci com ela em meus braços.

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Evan

Eu não tinha vivido uma vida protegida, tinha visto muitas coisas, e nem todas essas coisas tinham sido bonitas. Eu tinha visto bebês subnutridos morrendo de inanição, visto corpos mortos na estrada de guerras civis e de gangues, e visto crianças prostituídas e mulheres adultas brutalizadas pelos parentes masculinos que supostamente deveriam protegê-las de tais horrores. O mundo podia ser um lugar bonito. Mas ele também podia ser desumanamente feio. E, infelizmente, o destinatário da maior parte dessa feiura eram mulheres. Eu nunca estive inconsciente desse fato. Mas eu pessoalmente estive protegida de ter estes dedos feios me tocando antes. Eu sempre estive protegida pela reputação de meu pa... de Alejandro, por sua presença rondando. Nunca me ocorreu antes que eu podia estar em perigo por causa dele. Eu mal tive a chance para realmente pensar qualquer coisa. Primeiro, eu fui nocauteada em menos de um minuto pelo homem aparecendo na minha porta. Segundo, quando acordei em um lugar desconhecido, com dor, confusa e dominada por um homem que sabia que queria me deixar

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mais machucada do que ele já tinha machucado, eu estava muito preocupada em tentar conter a situação para pensar sobre como os pecados de Alejandro estavam vindo para me assombrar. Eu não acho que nunca realmente caiu a ficha até ele me ter de costas, até que meu rosto não passasse de dor latejante de seus punhos, que finalmente caiu a ficha do que ele estava fazendo. Ele ia me estuprar porque meu pai estuprou pessoas que ele amava. E esse era um nível totalmente novo de distorção que nunca sequer havia considerado antes. Quem estuprava para vingar uma vítima de estupro? Pessoas distorcidas. Pessoas que meu pa... que Alejandro tinha distorcido para serem deste jeito, através das ações dele e as repercussões delas. Houve talvez até um momento de fraqueza de caráter, onde me perguntei se talvez eu merecesse isso, se talvez fosse simplesmente certo. Mas então as mãos dele se moveram para puxar minha calça e calcinha para baixo e... eu desliguei essa merda completamente e tentei bater, chutar, gritar, qualquer coisa. Então teve Luce, parecendo um anjo vingador sombrio, arma levantada e a faca capturando a luz da lua na outra mão. Enquanto fiquei do lado de fora com a arma apertada com tanta força que eu fiquei com marcas na mão por vários longos minutos depois que a soltei, eu podia ouvir quase tudo lá dentro. Eu podia ouvir os silvos de dor. Eu podia ouvir a suplica, o choro, os chamados por Deus. E misturado com isso, podia ouvir a voz calma, estranhamente controlada de Luce através de tudo isso.

quase

Mas então ele saiu, me levou para casa, tirou as evidencias de mim, me deu remédio e me pôs na cama. ~ 196 ~


Ele era uma verdadeira dicotomia se eu já vi uma. Ele era capaz de tanta frieza, mas tanto calor ao mesmo tempo. Quando acordei para encontra-lo enrolado comigo, com o cabelo ainda molhado de outro banho, o sol começando a espiar através das janelas, ocorreu uma forte e quase esmagadora sensação de calor e inchaço no meu peito. Eu só tinha sentido toques disso antes na minha vida, apenas vagas facetas patéticas do que eu estava sentindo naquele momento com Luce. Mas eu senti o suficiente para saber exatamente o que era. Eu estava me apaixonando por ele. Era louco? Totalmente. Ele era alguém que eu deveria ter escolhido? Não, claro que não. Mas essa era a coisa, não era? Amor nem sempre era uma escolha. Às vezes ele chegava para você lentamente com o passar do tempo, vindo a conhecer alguém por meses e anos antes que esse sentimento florescesse em seu peito porque, francamente, você os conhecia muito bem para não os amar. Mas às vezes a escolha estava fora de suas mãos. Às vezes ele acontecia num instante. Às vezes o universo escolhia para você. Isso não quer dizer que você não tem uma escolha. Há sempre uma escolha. Para ficar. Para ir embora. Para tomar a decisão que fosse inteligente, não apenas aquela que parecia boa. Você não pode remover os sentimentos, mas pode escolher o que fazer com eles. ~ 197 ~


O problema era que eu não sabia o que fazer. A decisão inteligente era, claro, por um fim ao sentimento antes que saísse do controle. Ele era uma caixa de surpresas. Ele era um vigilante por profissão. Ele não fez conexões com, bem, ninguém além de mim. Ele não se abriu comigo sobre seu passado. Talvez ele nunca faria. Levando isto em conta, este era um homem que não tinha guardado rancor por eu tê-lo sequestrado e o mantido refém. Ele tinha me dado a verdade sobre meu parentesco graças ao seu obsessivo estilo da necessidade de descobrir. Ele havia me acompanhado sem nem uma pausa. Para o Texas. Para o Brasil. Ele tinha suado na miséria comigo. Ele tinha feito meu corpo ganhar vida com seu toque. Ele tinha matado por mim. Talvez seu passado não importasse. Talvez tudo o que importava era a forma como me sentia mais eu mesma perto dele, como me sentia segura com ele, como me sentia livre para ser alguém além de quem Alejandro Cruz tinha me feito ser. — Vê isso? — Luce perguntou, deixando-me surpresa. Eu pensei que ele tinha voltado a dormir. Sua mão estava segurando a minha, os olhos observando atentamente. — Ver o quê? — Isso, — ele disse, lascando meu esmalte mais do que já estava. — Para o que eu estou olhando? — Sua nova unha crescida está limpa; sem linhas de Leuconiquia. Aquilo que tinha o arsênico nele, você esteve longe dele por um tempo. — Bem, estou feliz por não estar morrendo, — eu admiti com uma risadinha. Eu tinha quase me esquecido do arsênico. Tanta coisa mais esteve acontecendo.

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— Eu também, boneca, mas isso ainda é um mistério que precisa ser resolvido quando voltarmos para casa. Isso era verdade. Mas era um problema para outro dia. Se as linhas não estavam crescendo, eu estava relativamente segura. Eu precisava fazer uma limpeza para metais pesados o mais rápido possível, mas muitas pessoas sobreviveram ao envenenamento por arsênico em suas vidas com pouco ou nenhum efeito negativo. Eu ficaria bem. — Você precisa dormir um pouco, — eu disse, sentindo os dedos dele se enrolarem entre os meus e apertar. — Eu ficarei bem. — Você vai acabar ficando doente. — Preocupada comigo, — ele disse, sua mão virando a minha para que seus dedos pudessem roçar minha bochecha. — Não posso dizer que odeio isso, — ele acrescentou. — Como você está? — Eu já estive melhor, — eu admiti porque era verdade. — Mas podia ter estado muito pior. — Não, você não podia, — ele disse com tanta convicção que eu realmente acreditei nele, como se ele tivesse algum tipo de superpoder que teria parado a tentativa de estupro e assassinato, apesar de tudo. — Graças a você. — Não me agradeça, — ele disse, com a voz um pouco vazia. — Isso não deveria ter acontecido em primeiro lugar. — Certo, porque você, claro, deveria ter sabido que meu pai tinha inimigos aqui que podiam querer me machucar. Isso era inteiramente seu trabalho. — Comigo, — ele disse, soltando minha mão para tocar meu rosto, — no meu turno. Isso é inaceitável.

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— Acabou, — eu disse, tentando suavizar a situação, notando o modo como sua mandíbula estava ficando tensa. — E depois que nós vermos Gabriela hoje, podemos ir embora, ok? Fugir disso. Voltar para nossas vidas. — Se você quiser ficar e passar algum tempo... Eu estava balançando a cabeça antes mesmo que ele terminasse. — Eu realmente não quero ficar aqui um minuto a mais do que o necessário. Eu posso, não sei, posso fazer com que ela venha me visitar, certo? É o que as pessoas fazem. Elas se revezam visitando. — Talvez agora que ela tem uma razão, boneca, ela consideraria se mudar de volta para os Estados Unidos. Esse sempre foi o plano dela, obviamente. Isso era possível? Talvez. Eu definitivamente senti uma conexão com a mulher, e só a conhecia há algumas horas. Ela esteve procurando por mim há décadas. Se isso significasse que ela podia recuperar o tempo perdido, talvez ela considerasse voltar e começar tudo novamente. — Eu poderia conseguir os documentos dela, — disse Luce, parecendo sentir onde minha mente estava indo. Era um mau momento para imigrantes tentarem entrar nos EUA. — Se ela quiser vir, e se não puder entrar pelos canais legais, conheço um falsificador que tem feito merda assim por mais tempo do que eu tenho vivido. Inferno, mais tempo do que sua mãe tem vivido. Se esta for a rota que você quer tomar Ev, tudo que você tem a fazer é dizer a palavra. Vê? Bom. Verdade que suas cores nunca seriam brancas, tudo era cinza e preto para ele, mas isso não significava que não havia bondade debaixo dos escudos que ele usava. Na verdade, até mesmo seu trabalho, por mais brutal e terrível que pudesse parecer, tinha em seu âmago a ideia correta - salvar

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aqueles que não podiam se salvar de predadores que eles nem sabiam que existiam. Se havia algo que eu aprendi desta provação toda, era que você nunca sabia quem estava escondendo o mal. Podia ser o seu vizinho do lado. Podia ser o pai de uma das crianças de quem sua filha é amiga. Podia ser seu próprio pai. Você nunca sabia realmente. Inferno, pelo menos Luce vestia sua escuridão, não tentava esconde-la ou fingir que não ela estava lá. — Onde você está? — Luce perguntou, fazendo-me sair de meus pensamentos novamente. — Em nenhum lugar importante, — eu disse, sentindo-me um pouco culpada porque era mentira, mas era uma pequena. — Quanto tempo vai nos levar para chegar à cidade? — Vinte, se nós levarmos nosso tempo, — ele disse, rolando de costas para verificar o seu telefone para olhar a hora. — Ainda temos uma hora e meia antes de precisarmos sair. — Isto me dá tempo para verificar horários de voos, — eu concordei, rolando de modo que eu estava metade no peito de Luce. — Entre outras coisas. Então, talvez não fosse exatamente “normal” querer transar apenas horas depois de ter sido sequestrada, espancada e quase estuprada. Mas com a minha cabeça ainda com um martelar constante e desconfortável, meu lábio dolorido sempre que eu tentava falar e arranhões nas minhas coxas que ardiam levemente quando algo roçava nelas, eu só queria sentir algo bom. Eu não queria que minha única lembrança de ficar com Luce fosse um pouco manchada pelo que aconteceu quase imediatamente depois. E talvez, desde que percebi que estava me apaixonando, eu simplesmente o queria. Era simples assim. — Outras coisas, é? — ele perguntou, descuidadamente jogando seu telefone em direção à outra cama, ainda bagunçada de nós ~ 201 ~


rolarmos nela, e moveu sua mão pelas minhas costas para descansar na parte mais baixa, seus mindinhos e dedos anelares roçando na ondulação da minha bunda. — Tem algo em particular em mente? — ele perguntou, os olhos já ficando com as pálpebras pesadas. — Ah, eu posso pensar em algumas coisas, — eu ofereci, deslizando minha coxa para cima e sobre ele, sentindo seu pau pressionando na minha carne. — O quê? — eu perguntei quando seus olhos ficaram um pouco... tristes? Sua mão levantou, tocando apenas a superfície dos meus lábios. — Não posso te beijar. Eu recuei um pouco, desapontada também. Mas eu não ia deixar isso estragar o momento. — Ah, mas eu tenho tantas outras áreas que podem ser beijadas, — eu disse, o sorriso ficando travesso. — Mmm, — ele rosnou, as mãos se movendo para meus quadris, me puxando até que minhas pernas estavam montadas nele, forçandome a pressionar minhas mãos ao lado de seu corpo para que eu pudesse me levantar e olhar para ele. — Tipo, onde? — Hmm, — eu disse, inclinando a cabeça para o lado e me equilibrando em um braço para que eu conseguisse traçar um dedo pelo meu pescoço. — Tipo aqui. — Bem, este parece um bom lugar, — ele concordou, inclinandose para correr seus lábios, língua, dentes sobre a pele sensível e subindo comigo enquanto eu me empurrava de volta para uma posição sentada, para lhe dar melhor acesso. — Algum outro lugar que você tem em mente? Eu tomei uma respiração profunda e instável, afastando-me e então lentamente levantando minha camisa e descartando-a no chão. — Aqui, talvez? — Eu perguntei, passando um dedo entre meus seios. — Definitivamente aí, — ele concordou, abaixando a cabeça, seu cabelo macio roçando sobre meus mamilos dolorosamente endurecidos enquanto sua língua traçava entre meus seios.

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Sua cabeça se moveu, sua língua molhada traçando meu pico endurecido com suaves carícias torturantes, fazendo o pesado, quase opressivo peso do desejo se instalar na minha barriga. Ele se moveu pelo meu peito, para torturar meu outro mamilo antes de descansar o rosto entre meus seios, inclinando a cabeça para cima. — Algum outro lugar que você pode pensar? — Bem, há mais um lugar, — eu concordei, sentindo a mão dele deslizar pelas minhas costas para me apoiar enquanto eu me movia para ficar deitada, levantando meus quadris. — Eu só preciso tirar esse short para mostrar a você exatamente onde. — Eu acho que posso te ajudar com isso, — ele concordou, deslizando minhas pernas em volta de suas costas e alcançando meu quadril para pegar o material. — Pernas para cima, boneca. Minhas pernas se levantaram enquanto ele deslizava o material para cima e depois para fora dos meus tornozelos, correndo os dedos pelas minhas panturrilhas, joelhos e coxas. Então eles deslizaram entre elas, quase no ponto mais alto, pressionando e espalhando-as sobre o colchão. — Então, — ele disse, soando divertido, mas seus olhos estavam derretidos, — onde era que você precisava ser beijada? — ele perguntou, sorrindo diabolicamente. — Bem, eu pareço precisar de você aqui, — eu disse, a mão deslizando pela minha barriga, observando enquanto seus olhos seguiam completamente o movimento, antes de pressionar meus dedos sobre o triângulo do meu sexo. — Aqui? — ele perguntou, removendo a minha mão e usando seus dedos para espalhar meus lábios ainda mais. — Na sua fodida boceta doce? — ele olhou para cima por confirmação, embora ele soubesse muito bem o que eu queria. — Bem, você me convenceu, por que não? — ele perguntou, descendo e, antes que eu pudesse respirar, sua boca estava em mim. Ele não provocou. Ele não me levou devagar. Ele se banqueteou.

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Ele chupou meu clitóris. Ele enfiou a língua dentro de mim. Ele voltou para cima, para trabalhar no meu clitóris com a língua e dois dedos empurraram para dentro, giraram e arranharam sobre o meu ponto G. Logo quando eu achei que o orgasmo nunca ia chegar, ele pressionou com força no meu ponto G enquanto chupava meu clitóris. E eu, enlouquecendo... me desfiz. Ele trabalhou em mim através do orgasmo, prolongando-o, depois lentamente soltou quando meu clitóris ficou supersensível, movendo-se para morder a carne macia da parte interna da minha coxa, para cima em minha barriga e sob meus seios. Não importava que eu tinha acabado de gozar, não importava que deveria ter sido o suficiente para conter o desejo. Assim que ele se levantou e olhou para mim, os olhos ardentes e sorriso perverso, a urgência de tê-lo dentro de mim era quase dolorosa. Eu subi, empurrando-o para trás até ele estar deitado na cama novamente, indo quase freneticamente para o cós de sua calça, descendo ela e sua cueca boxer para baixo o suficiente para liberar seu pau. — Espere, Ev, — ele disse, sua voz soando rouca e divertida quando fui montar nele. Ele rolou metade do corpo para o lado da cama, vasculhando sua mochila e voltando com um preservativo. — Ok, — ele disse um segundo depois de nos proteger. — Faça o que quiser comigo, — ele reivindicou com um sorriso e segurou seu pau pela base para me permitir me mover para me abaixar sobre ele. Não teve como disfarçar para ir devagar, para fazer durar, para basicamente, fazer amor. Estava muito necessitada, longe demais com a necessidade por ele dentro de mim. Deixei cair meu quadril, levando-o profundamente com um gemido alto, minha cabeça jogada para trás enquanto tentava puxar o ar de volta para os meus pulmões. ~ 204 ~


— Porra, — ele rosnou, as mãos afundando dolorosamente no meu quadril. — Monte-me, Ev, — ele exigiu e eu levei um segundo para tentar me controlar. E sim, foda-se tentar me controlar. Eu preferia muito mais desmoronar. Com ele. — Ótima visão do caralho, — ele gemeu quando eu comecei a montá-lo, meus seios balançando com o movimento selvagem e frenético do meu corpo. Uma de suas mãos permaneceu no meu quadril, ancorando-me a ele, assegurando que meus movimentos não ficassem muito caóticos. A outra se moveu para dentro e para baixo, pressionando meu clitóris. Meu corpo permaneceu imóvel, mas quando meu corpo balançou, ele esfregou com perfeita pressão, fazendo minha boceta apertar em torno de seu pau, fazendo-me chegar mais perto do orgasmo. — Já? — ele perguntou, parecendo satisfeito. E foi então, bem neste momento, que a primeira pulsação profunda e forte do meu orgasmo começou onde nossos corpos estavam conectados. — Porra sim, já, — ele rosnou, empurrando para cima dentro de mim quando o orgasmo veio invadindo através do meu sistema, fazendo-me meio colidir para frente sobre ele, gritando seu nome enquanto eu gozava. — Não, não acabei com você, — ele disse quando eu tentei me deitar e me aninhar, aproveitando o formigamento da consequência do meu orgasmo. Com isso, ele rolou, então eu rolei, aterrissando de costas e perdendo todo o contato quando ele pulou para a beira da cama. Estendendo a mão, ele agarrou meus tornozelos e me arrastou para o pé da cama, batendo de volta dentro de mim antes que eu conseguisse sequer suspirar. Foi quando Luce abriu mão de seu controle cuidadosamente mantido. Eu não sei se foi a preocupação por mim na noite anterior, ou a violência que se seguiu àquilo, ou as horas (eu imaginei) de lidar com as consequências... ou não, mas ele estava selvagem, beirando a ~ 205 ~


selvageria. Ele me fodeu com cada gota do instinto primitivo dentro dele. E eu amei cada golpe brutal, profundo e forte. Amei o som alto e retumbante de prazer em seu peito. Amei o jeito que não importava o quão perdido ele estava em sua própria necessidade de liberação, ele ainda estendeu a mão entre nós e encontrou meu clitóris, e garantiu que eu tivesse a minha outra vez antes dele encontrar sua própria liberação, praguejando meu nome quando gozou profundamente dentro de mim. Passou um longo minuto antes de ele sair de mim, desaparecendo no banheiro por um segundo, depois saindo de volta e tirando a camiseta que eu nunca consegui descartar. — Muito rude? — ele perguntou, chegando ao lado da cama onde eu era apenas uma pilha inútil de ossos e carne. — Nã, nã, — eu disse, balançando a cabeça. — Foi perfeito. — Chega para lá, — ele exigiu, sorrindo suavemente para mim. — Não consigo. Não consigo me mexer, — eu disse com um pequeno sorriso. Ele riu, o som transformando minha barriga em líquido. Mas antes que o sentimento se instalasse, ele estava se abaixando, dando um puxão no cobertor debaixo de mim e me rolando com uma risada. — Ah não, você não, — ele disse, agarrando-me quando eu quase rolei para fora da cama, puxando minhas costas contra seu peito e dobrando suas pernas sob as minhas. — Você tem certeza? — Certeza? — eu perguntei, muito envolvida em quão bom era ter um homem como Luce de conchinha comigo para lembrar sobre o que estávamos falando. — Que isto não foi demais. Eu normalmente não... — Ei, — eu o interrompi, envolvendo meu braço em volta do braço que ele tinha atravessado no meu peito e dando um aperto. — Se eu ~ 206 ~


não gostar de alguma coisa Luce, vou te dizer que não gosto. Você não precisa, tipo, se segurar comigo porque você está com medo de me assustar. — Alguém te disse recentemente que você é muito incrível? — Não. — Fodido pecado, — ele disse, dando-me um aperto enquanto se inclinava para colocar um beijo no meu pescoço. — Aonde você vai? — ele perguntou, agarrando-se a mim enquanto eu agarrava meu celular. — Eu só preciso verificar os voos. — Com pressa de fugir daqui? — ele perguntou, a voz estranhamente cautelosa. Não entendendo essa reação, eu me virei com o celular para encará-lo. — Eu não quero estar neste país mais do que o necessário depois da última... depois de tudo, não quero encontrar nenhum dos antigos inimigos do meu pa... de Alejandro. O lugar mais seguro é de volta aos EUA, onde, até onde sei, ele não fazia muitos negócios. Você saberia melhor do que eu, eu acho. — Ele foi cuidadoso nos EUA, — ele concordou, o tom ainda cauteloso por razões que eu não conseguia compreender. — É mais difícil subornar as pessoas para olharem para o outro lado enquanto você envenena homens e estupra mulheres. — Eu me encolhi, mas não sabia que foi tão visível até o rosto de Luce cair, até ele suspirar. — Porra. Desculpe. Eu não quero ser um babaca. — Então por que você está sendo um babaca? — eu perguntei, não medindo as palavras. — Qual é o plano, Ev? — ele perguntou estranhamente. — O plano? Para hoje? — Quando embarcarmos em um avião, pousarmos em Jersey e dirigirmos de volta para Navesink Bank? E depois? — Oh meu Deus, — eu disse, incapaz de parar o sorriso que puxou meus lábios. — Nós estamos fazendo isso? — eu perguntei,

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muito divertida por me encontrar nesta situação, para lembrar de ser delicada. — Isso? — Isso... a conversa. A conversa de relacionamento? É disso que se trata? Luce rolou de costas, esfregando as mãos pelo rosto. — Não. Sim. Porra, eu não sei, Evan. Eu não gosto de não saber as coisas. Isso tem sido ótimo, mas é isso? Você queria uma aventura e uma foda tabu de um cara que mata pessoas para viver e tem um passado sobre o qual ele nem falará para você? — Luce... — Diga-me, — ele disse, virando a cabeça no travesseiro para olhar para mim, parecendo me manter congelada com aqueles olhos profundos e a seriedade neles que eu não entendia muito bem. — Você vai voltar para Navesink Bank e começar sua vida do zero, fazendo o seu melhor para esquecer de mim? — Eu nunca esqueceria de você, — eu disse honestamente. Não era sequer uma possibilidade remota. — Não importa o que aconteça ou não, de jeito nenhum poderia esquecer de você. Ou isso, — eu disse, acenando com a mão ao redor. — Eu não estou dizendo que vai acontecer hoje ou amanhã ou daqui a uma semana, mas estou dizendo... — O quê? Você está dizendo o quê? Porque neste momento, você está dizendo um monte de nada, Luce, — eu disse, movendo-me para sentar, esquecendo tudo sobre a minha nudez em meu aborrecimento. Ele inclinou a cabeça para olhar para cima em mim, o mais leve tremor de seus lábios mostrando um sinal de diversão que não encontrou seus olhos. — Acho que estou dizendo que não sou bom para você. — Ele fez uma pausa, mas havia um peso no ar ao nosso redor que me dizia que não me cabia falar ainda. — E que você seria inteligente em voltar para os Estados Unidos... e esquecer tudo sobre aquela vez que você foi em uma zona pobre com um assassino coberto de cicatrizes no Brasil.

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Ah, o bom e velho argumento “é para o seu próprio bem”. Normalmente, era o jeito de um idiota ‘decepcionar você devagar’. Eu só não achei que fosse a verdade de Luce. Realmente acreditei que ele sentia que eu estaria melhor sem ele, que ele pensava tão pouco de si mesmo. Tive um pressentimento também que a frase “assassino coberto de cicatrizes” era a chave. Não tanto a parte do assassino, porque isso sempre esteve claro desde o começo. Eu acho que era sobre suas cicatrizes. Eu acho que era sobre o passado dele. Eu acho que tudo pelo o que ele passou o fez se sentir indigno. E isso era ridículo. Mas ele nunca acreditaria que eu estava falando sério aquilo, porque sabia que eu não conhecia o seu passado. O problema era que eu prometi que nunca perguntaria. Respirei fundo, estabilizando a respiração, segurando-a e então exalando. Minha mão deixou cair o telefone e se estendeu para tocar o centro da palavra feia em seu peito. — Eu nunca vou perguntar, — eu repeti. — E isso não importa. — Você não sabe disso. Mas eu sabia. E quando ele abriu a boca para me contar, não me provou o contrário. Foi horrível. Foi doentio. Mas não importava.

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Independentemente se ele acreditaria nisso ou não.

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Luce

Eu tinha doze anos de idade na primeira vez que tive uma fila me usando. Todos os seis eram amigos do meu pai. Não foi a primeira vez que fui estuprado. Essa honra foi dada a mim aos sete anos de idade pelo querido e velho pai. Minha mãe estava muito bêbada no outro quarto. Mas mesmo que ela estivesse sóbria - o que nunca estava - ela não teria se incomodado em parar aquilo. Então, quando você começa sua história com esses destaques específicos, bem, ia perceber que o resto não eram cercas de madeira brancas, chocolate quente ou churrascos de domingo. Eu fui um erro, claro e simples. Eu não era um oops. Eu não fui uma bênção não planejada. Eu fui um fodido erro. Eu nunca fui destinado a vir neste mundo. Minha mãe tinha trinta e quatro anos quando eu fui concebido depois de uma longa semana de bebedeira na qual ela deve ter esquecido de tomar sua pílula. Eu ouvi sobre a bebedeira diretamente dela.

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Malditas doses de tequila são a única razão pela qual sua bunda magra e cheia de ranho existe. Eu tinha cinco anos na primeira vez que ouvi isso, não entendi muito bem naquela época, claro. A parte da pílula eu especulei por mim mesmo, vários anos depois, quando compreendi esses conceitos. Mas sim, eu era uma cagada épica que ela absolutamente não queria. Por que ela não me abortou estava completamente além da minha compreensão. Quando você era tão contra ter filhos como ela, sendo que sua vida era dedicada a perseguir as promessas encontradas no fundo de garrafas, eu não podia imaginar o que a fez decidir me ter. Para ser perfeitamente honesto, havia uma chance de que ela não sabia até que foi tarde demais. Foi um maldito milagre eu não ter nascido com síndrome alcoólica fetal. Embora, para ser honesto, havia um argumento a ser feito porque há alguma sobra daquele dano. Mais precisamente, nas minhas habilidades sociais - ou a falta delas – para controlar minha impulsividade e minha, de certa forma, forte tendência a comportamentos obsessivos. Mas, para ser justo com uma mulher que não merecia nenhum tipo de justiça, todas essas coisas podiam ter muito a ver com meu abuso mais tarde na vida do que a quantidade de bebida que ela bebeu durante a gravidez. Meu pai, bem, ele era como qualquer outro canalha que eu enterrei quando adulto. Isso significava que ele era principalmente, acima de tudo, um fodido ator incrível. Toda a sua vida foi uma mentira. Cada sorriso dele, cada palavra de encorajamento, cada tapinha nas costas, era tudo uma máscara que ele usava para que ninguém jamais olhasse mais fundo e visse o mal logo abaixo da superfície. Felizmente, eu não via muito dele quando me olhava no espelho. Se eu visse, bem, eu provavelmente teria levado uma lâmina para o meu rosto há muito tempo atrás.

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Eu parecia minha mãe, alta e magra, toda braços, pernas e tronco. Eu tinha seu cabelo escuro, seus olhos escuros e suas bochechas. Meu queixo, bem, quem diabos sabia de onde isso veio. Algum avô cinco gerações atrás ou essas merdas. Mas sim, eu prefiro parecer minha mãe, a bagunça, a covarde, a cadela egoísta, do que parecer com meu pai, o torcido, doente, perverso, monstro molestador de crianças. Não há como descrever o que foi aquela primeira noite, a noite que cheguei em casa do pequeno campeonato, radiante porque pela primeira vez eu eliminei uma criança, o rosto ainda pegajoso do sorvete que pegamos no caminho de casa. Foi talvez o momento mais alto da minha jovem vida. Seguido pelo mais baixo. Porque meu pai não se encaixava no “padrão”. Meu pai não se transformou lentamente. Não começou com conversa imprópria, depois passou para o toque, depois a masturbação, depois o sexo oral e depois para o ato completo da penetração. Eu aprendi mais tarde na vida, durante uma breve passagem pelo aconselhamento com um terapeuta, que não parecia um completo e total charlatão para variar, que aquilo era provavelmente porque eu não fui sua primeira vítima. Porque quase todos os abusadores se transformavam. Eles tinham que testar os limites e garantir que eles não fossem pegos. Outros garotinhos sofreram na mão dele em algum momento. E dado que ele tinha quarenta anos quando eu nasci, o que deixava várias décadas e uma quantidade desconhecida de miséria até que ele finalmente me possuísse. Um pouco velho e eu indefeso. Bem debaixo do seu próprio telhado.

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Um brinquedo sexual conveniente para agarrar a qualquer momento que a disposição surgia. E surgia com frequência. Quase todas as noites. Começando naquela primeira noite, quando fui mantido com meu rosto em um travesseiro para que ninguém pudesse me ouvir gritar. E eu fiz. Gritar, isto é. Gritei tanto, que senti como se tivesse infecção de garganta por uma semana depois, eu mordi a língua tão forte que ficou inundada de sangue e deixou falar e comer impossível durante dias. Eu gritei. E chorei. E implorei a Deus para acabar com aquilo. Mas ele não acabou. Eu procurei por um significado naquele domingo na igreja, mudando de lugar no banco porque não importava qual jeito eu tentava me sentar, doía tanto que as lágrimas ardiam meus olhos. Eu ouvi palavras de pecado e castigo, minha pequena mente triste, confusa e traída tentando entender o sentido daquilo, tentando ver o que eu tinha feito para justificar tal punição. Eu tentei depois. Ser um menino melhor. Manter minhas notas altas. Nunca entrar em brigas com outros garotos. Fazer minhas tarefas sem ser mandado. Ficar quieto. Nunca entrar no caminho de ninguém. ~ 214 ~


Não adiantou nada. Meus pecados, aparentemente, continuaram. Assim como minhas punições por eles. Como ele me manteve em silêncio, essa pode ser sua próxima pergunta. Afinal de contas, naqueles tempos, como pode uma criança não saber que para o seu pai não é permitido tocá-la dessa maneira? A resposta é ao mesmo tempo simples e complicada. Primeiro, vamos com o bom e velho ele era meu pai. Aos sete, seu cérebro não pensa muito além disso. Pais são, para todos os efeitos, como deuses para seus filhos. Eles sabem tudo; eles fazem as regras; eles são para quem você vai com os problemas. Provavelmente por causa das tendências perversas do meu pai e do alcoolismo desenfreado de minha mãe, eu fui fortemente criado com a ideia de nunca ‘lavar sua roupa suja’. Se havia um problema, ele era tratado internamente. Nós não arrastávamos estranhos para dentro, para verificar nossos lençóis sujos. Então, pedir ajuda naquela época, nunca passou pela minha cabeça. Em segundo lugar, não me ensinaram nada, nem um único pingo de educação sexual. Nem em casa, nem na escola. Nós não tínhamos TV a cabo. Eu nem sabia o que era sexo, muito menos estupro, até minha adolescência. Terceiro, nós não morávamos em um lugar perto de outras casas. Nós recuamos para as montanhas Adirondacks. Nós não tínhamos vizinhos para conversar que poderiam ter notado que algo estava errado sobre mim. E se você não é ensinado que algo está errado, mesmo se parece errado quando está acontecendo, como diabos você deveria saber que é abuso? Eu tive, no entanto, uma boa ideia do fodido sentimento daquela noite fatídica quando eu tinha doze anos, quando meu pai reuniu todos os seus amigos pervertidos, e todos eles se revezaram me abusando.

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Eu tive uma ideia um ano depois, quando ele me alugou para um daqueles amigos novamente, um por um, porque ele precisava passar algum tempo comigo, porque ele queria ‘me manter sob controle’, porque era um fodido doente que amava facas, queimaduras de cigarro e chicotes. Eu tive uma ideia enquanto eu tratava as feridas por semanas depois de uma de suas visitas, tendo que usar moletom com capuz no verão para cobri-las. Sua última visita foi quando eu tinha quatorze anos, prestes a ser velho demais para todos os velhos cretinos desejarem mais. Talvez sentindo o fim do nosso tempo juntos, a faca pareceu maior, pareceu mais afiada, e significou me marcar para sempre, para tornar impossível esquecer dele. Então meu pai me segurou para baixo, abafando com força meus gritos, enquanto o outro homem entalhava a palavra ‘escravo’ pelo meu peito. E eu fui. Um escravo, isto é. Eu fui um escravo, até ali, fisicamente. Depois disso, eu fui um escravo mentalmente por anos. Mas aquela noite, aquela noite quando eu tinha quatorze anos, sangrando abertamente no meu peito e todo o meu corpo ferido de outros tratamentos que eu já havia recebido, aquela foi a noite quando homens adultos pararam de colocar suas mãos no meu corpo jovem. Porque também foi a noite que aprendi, pela primeira vez, a tirar vidas. Quando meu pai saiu do quarto para pegar para eles uma rodada de bebidas, para celebrar outra noite de estupro bem-sucedido, meu “mestre” foi olhar pela janela, o peito estufado de satisfação, a lua fazendo-o parecer ainda mais sinistro do que ele já parecia aos meus jovens olhos. Mas ele havia deixado a faca na cama, ainda escorregadia e vermelha com meu sangue. ~ 216 ~


Eu conhecia a faca. Uma Winchester de lâmina curva e ponta alta, com um cabo de madeira. Eu estive familiarizado com ela mensalmente há mais de um ano. Eu sabia quão afiada ele a mantinha - afiada o suficiente para cortar a pele do meu corpo com o mínimo de contato. Afiada o suficiente para causar dano. Dano permanente. Eu não sei porque aquela noite foi o meu ponto de ruptura. Não importava quantas vezes eu me sentava nos consultórios de vários terapeutas e tentava identificar o ponto de ruptura. O melhor que consegui descobrir foi que, foi simplesmente a última gota. E eu, de alguma forma, sabia que era a última vez que estaria vendo meu ‘mestre’. Os outros amigos de meu pai tinham perdido o interesse em mim no último ano, minha masculinidade florescendo tornou-se menos sedutora para suas tendências específicas. E eu sabia que este era o fim para mim e para esse bastardo sádico em particular. E eu estava doente e cansado de ser indefeso. No momento que minha mão se fechou em torno daquele cabo, impotência foi a última coisa que senti. Eu me senti poderoso. Pela primeira vez na minha vida. E esse sentimento era inebriante, avassalador para alguém que tinha sido nada além de uma vítima. Então, quando me levantei daquela cama, o equivalente a sete anos de dor, tristeza, impotência e raiva surgiram dentro de mim, um coquetel que deixou meu sangue gritando em minhas veias, minha pulsação batendo com tanta força em meus ouvidos que eu literalmente

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não conseguia inclusive ouvir o grito quando minha faca bateu com força dentro do seu coração, enviando uma inundação de sangue vermelho quente e pegajoso pela minha mão e antebraço, antes que eu pudesse encontrar forças para puxá-la de volta para fora. Era um caso encerrado, claro. Não havia como ele sobreviver. Mas eu ainda não tinha terminado. Eu tinha anos para compensar, tinha cicatrizes cobrindo todo o meu corpo de suas facas, seus cigarros e seus chicotes. Então eu apunhalei e esculpi aquela faca em seu corpo até eu estar literalmente escorregadio com sangue, até o corpo dele ficar apenas uma bagunça de feridas abertas. Até que eu senti as mãos do meu pai em volta dos meus ombros. Minha audição voltou correndo. — O que você fez! — ele gritou, parecendo horrorizado. Como seria de se esperar. A imagem tinha sido tirada de um filme de terror. E eu não era o super-herói. Eu era apenas uma criança assustada e traumatizada. Então minha resposta imediata foi surtar, implorar, chorar e procurar por misericórdia. Eu observei quando ele me afastou, ajoelhando-se ao lado de seu amigo e procurando por sinais vitais. Isto era ridículo e, basicamente infrutífero, sendo que o homem era carne picada, mas ele fez mesmo assim. E então ele fez a única coisa que poderia ter feito apagar o meu próprio horror da cena toda. Ele virou sobre seu ombro, com olhos arregalados e falou: — Por que você faria isso? Ele nunca fez nada para você!

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Foi naquele exato momento que eu entendi, nem mesmo tendo nada para realmente entender, eu entendi. Não havia remorso nele por toda a dor que ele tinha me causado. Não havia arrependimento. Porque ele genuinamente não achava que estava errado. Não havia cura para sua doença. Não me pergunte por que, ofuscantemente clara para mim.

mas

esta

foi

uma

revelação

Não havia como consertá-lo. E eu lembrei de algo naquele momento. Lembrei quando eu tinha dez anos e nós entramos no quintal para encontrar um guaxinim no jardim, assobiando, rosnando e cambaleando em círculo. Raiva, ele dissera. Incurável, ele acrescentou. Você não consegue tratar um animal raivoso filho, ele continuou, você só tem que os abater. Ele pegou luvas, pegou o guaxinim pela cauda, deitou-o no bloco de cimento e o decapitou. Uma lição foi aprendida. E relembrada, armazenada para quando eu precisasse dela novamente, vários anos depois. Meu pai era um animal raivoso. Não havia como tratá-lo. Ele precisava ser abatido. Talvez fosse instinto, pura memória das nossas caçadas nas montanhas, ou talvez fosse simplesmente o que era mais fácil fazer, mas agarrei a faca com a lâmina para o lado e cortei sua garganta. O sangue esguichou enquanto ele uivava, as mãos subindo para cobrir o corte inutilmente, como se ele pudesse empurrá-lo de volta para dentro. Não foi limpo.

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Não foi rápido. Minha experiência com a matança era apenas com pequenos animais. Eu não tinha ideia de quanto mais pressão eu precisava usar para cortar profundo o suficiente para ele sangrar em menos de um minuto. Então, ele lentamente se esvaziava de sangue. Assisti ele ficar pálido. Assisti a centelha de vida entrar e sair de seus olhos. Assisti quando ele ficou fraco demais para permanecer ajoelhado e caiu. Assisti quando ele soltou seu último suspiro. Levou um tempo assustadoramente longo. E deveria ter sido repugnante. Eu deveria estar vomitando em mim e no chão, chorando, alguma coisa. Mas eu não estava. Eu estava frio. Desconectado. Equilibrado. Saí do quarto e fui ao banheiro, diligentemente limpando o sangue do meu corpo, da faca e depois cuidadosamente vendo os cortes em meu peito, meu estômago virando ao vê-los refletidos em mim no espelho. Eu me vesti cuidadosamente no jeans, meias compridas, botas de caminhada, uma camiseta e um moletom com capuz preto e cordões brancos. Eu abasteci uma mochila de costas com dinheiro roubado das carteiras dos dois homens, uma muda de roupa, um pouco de comida, um isqueiro, uma panela e a faca. Eu enrolei numa trouxa e amarrei em cima. Era primavera nas montanhas Adirondacks. Se havia uma época que um jovem rapaz pudesse esperar sobreviver lá, era naquele momento.

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Claro que não havia outras opções, com certeza os tiras estariam procurando por mim em questão de horas, eu também peguei o facão do meu pai do celeiro e parti para as montanhas. Eu passei tempo suficiente nelas para saber que não era o melhor plano. Primeiro, porque eu estava sozinho e podia cair para a minha própria morte, ou ser pego em uma maldita armadilha de urso e morrer de infecção. Segundo, porque minha própria estupidez e falta de treinamento não eram as únicas coisas que eu enfrentaria. Por exemplo, não só as Adirondacks abrigam coisas legais como castores e martas14, mas se podia esperar também alces, ursos negros, coiotes, linces e, como lenda, pumas. Qualquer um deles podia pôr um fim à vida de um garoto de catorze anos. A primavera levaria ao verão, onde os carrapatos saíam aos bilhões, onde os mosquitos não lhe dariam um momento de paz. O verão daria lugar ao outono, onde os ursos estão procurando acumular uns quilos para a hibernação, tornando qualquer fonte de carne um bom alvo. E o inverno, bem, sobreviver por conta própria nas profundezas congelantes do inverno, sem perder membros para a escuridão, era um problema grande o suficiente, fazer isso sem se tornar a presa para algum coiote ou puma desesperados, era mesmo mais um problema. Mas havia cabanas, eu sabia. Se você fosse forte o suficiente para chegar lá, os caçadores tinham montado cabanas. Sobreviventes também. E, as que você definitivamente não ia querer invadir, dos traficantes de drogas que gostavam de cultivar sua maconha nas montanhas, invisíveis, tinham cabanas lá também. Quando encontrei uma dessas cabanas quase um mês depois, eu estava magro de fome, mais magro que o normal, o que dizia alguma coisa. Estava pele e osso. Eu podia matar. Eu era bom em matar. Era no rastreamento e na armadilha que eu era uma droga.

14 Um tipo de doninha.

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E essas eram meio que as partes mais vitais para a aquisição de proteína. Eu estive, na maior parte, sobrevivendo de mirtilos silvestres, morangos, raízes de pepino indiano15 e tão repugnante quanto era admitir isso, insetos e pequenos lagartos. Eu estava ficando fraco. E eu ia morrer se não encontrasse abrigo e um pequeno suprimento de algo cheio de proteína, então poderia reabastecer para verdadeiramente ser capaz de caçar ou pescar novamente. Então, quando me deparei com a cabana, não me importei em inspecionar de que tipo era. Eu nem percebi o campo lá atrás. Tudo o que eu vi foi uma pequena barraca que fornecia um lugar para descansar, que não era chão duro, que não me expunha ao ambiente e predadores. Lá dentro, eu encontrei uma cama e um estoque de feijões enlatados. Eu estava roubando, tecnicamente. Mas as regras de sobrevivência, meu pai me ensinou, permitiam tais coisas. Eu comi os feijões diretamente da lata, deixando o dinheiro que era inútil para mim no lugar da lata como um agradecimento aos proprietários por sua hospitalidade. E fui dormir. Acordei com uma arma na minha cara. — Calma aí, G, — o homem atrás do homem com uma arma disse, olhando para baixo em mim. — Ele é apenas uma criança. — Foda-se com essa merda de criança, — disse G, balançando a cabeça. — Eu estava comandando a rua na idade dele. 15 É uma planta da América do Norte, da família do lírio.

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Eu realmente não precisava mais do que isso. Traficantes. Muito provavelmente, plantadores de maconha. Claro. Eu soltei o facão que estava segurando para levantar as mãos, palmas para cima. — Eu só precisava de comida, — eu admiti, acenando para a pilha de suprimentos deles. — Eu até deixei dinheiro para substituí-la. Houve um segundo de comunicação silenciosa entre os dois caras gigantes, em seus vinte e poucos anos, de descendência indeterminada, mas parecendo quase brancos. Aquele que não era o G se virou para mim. — Você se perdeu aqui? — Eu... fugi, — eu informei. — Não, merda, — G disse de repente, apontando para mim e fazendo isso com a arma. — Você não o reconhece? Cara, ele é aquele garoto em todos os noticiários. Eles disseram que você foi sequestrado. Bem, isso certamente funcionava a meu favor, não é? Ninguém estava suspeitando de mim por assassinato? Parecia que um peso tinha sido tirado. — Espere, — G disse, a cabeça se inclinando para o lado, os olhos ficando um pouco mais inteligentes do que você esperaria de um típico bandido. — Se você não foi raptado... e você fugiu... — ele diminuiu o som, o sorriso ficando um pouco malvado. — Você fez isso, hein? Você cortou aqueles caras? Seu velho e o amigo dele? Maldiçãããão, isso é frio garoto. — G aparentemente estava amando essa informação. — Então, e agora, assassino-de-papai? Você vai apenas juntar os trapos nessas montanhas toda a sua vida? Tornar-se um lenhador retardado? Eu lentamente sai da cama, rodando meu pescoço para tirar a câimbra. — Eu não pensei tão longe. — Não brinca. Você está, tipo, meio morto e essa é a estação fácil.

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G, você podia dizer do primeiro encontro, era um tipo de cara sem filtro. Ele cresceu nas ruas de Baltimore, desviando-se de balas e colocando-as em outros. Ele não era alguém com misericórdia, nem mesmo com um garoto de catorze anos. Mas ele era alguém com respeito mútuo. E, por mais rude que parecesse, era um homem de negócios. Seu camarada, Mickey, veio do mesmo bairro, mas teve uma educação decente, teve um pouco de amor em sua vida que o tornou um pouco mais suave com um invasor em sua cabana. — Então, você entende que acabou de nos mostrar o seu jogo, certo? — G perguntou. — Meu jogo? — eu repeti, sentindo minha espinha endurecer. — Assassino do papai, — ele repetiu. — Digo, o quê? Ele usou sua bunda muitas vezes? — eu queria não mostrar reação. Não queria que ninguém soubesse. Porque enquanto eu mal conseguia entender o fato que o que ele tinha feito para mim era realmente errado, ainda sentia algum tipo de vergonha envolvendo a coisa toda. Mas às vezes você não precisava dizer nada para revelar algo. — Ah, é? — ele perguntou, a boca se pressionando em uma linha firme. — Ele era um fodido molestador de crianças? Essa era a coisa dele? — ele perguntou, o tom zangado. — Eu não me sujo com essa merda. Esses fodidos merecem ser eliminados. Você fez o trabalho de Deus lá, garoto. Porém, teria sido tão poético para ele acabar em uma prisão com um motoqueiro corpulento, com cinco crianças em casa que ele ama e não foi capaz de proteger por uma década, que não pega leve com pessoas nas ruas que poderiam atacar crianças como as dele. Bunda cheia de inúmeros paus, esse é o único pagamento justo para estes babacas. Sim. Sim. Bem, sua situação é uma droga. Sabe o que mais é uma droga? Me arrastar para fora da cidade, onde eu tenho um belo pedaço de bunda só esperando para me chupar até o talo todas as noites. — G... pelo amor de Deus, — Mickey sibilou, balançando a cabeça, desculpando-se. — Ah, foda-se. Ele tem idade suficiente. Sim, então eu não gosto de deixar uma mina que pode fazer um boquete daqueles, a menos que

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ela esteja indo fazer compras por aí na minha ausência. E eu, com certeza pra caralho, não gosto de arruinar essas diversões nesta porra de deserto, — ele disse, acenando com a mão em direção à porta. — Mas nós temos produtos para proteger aqui. Eu tinha catorze anos. Eu mal tinha ‘conhecimento de rua’ suficiente para entender o que ele quis dizer com ‘produto’, mas ainda estava, de alguma forma, me recompondo. Ele não queria fazer a jornada para fora da cidade, para vir e verificar sua maconha. Mas ela precisava ser vigiada. Para que as pessoas não viessem pegar. Para que o tempo ou os insetos não destruíssem. E eu não estava em posição de recusá-los. Primeiro, porque eu ia morrer na região selvagem sem abrigo e sem eventual comida vindo a mim. Segundo, eu não podia sair das montanhas porque estava tecnicamente desaparecido. Terceiro, como G disse... eu tinha mostrado a eles meu jogo. Ele me possuiu. — Você quer que eu vigie sua maconha, — eu adivinhei. — Em troca, você pode ter toda a comida que nós podemos ter de um dos garotos caminhando até aqui em cima. E essa cabana. Isto é... sei lá o que porra fazer com você depois do verão, mas isso não é problema nosso. Por enquanto, você pode manter um teto e um estômago cheio. É mais do que se você desse o fora daqui. E se você sair dessas montanhas, implorando por comida ou dinheiro, é só uma questão de tempo antes de você ser encontrado. Então, eles vão te interrogar. Você ainda é fraco garoto, você quebraria e desistiria de tudo. Você ia ser jogado na cadeia. Talvez no reformatório. Talvez em um manicômio. Mas longe. É o que você quer? — Não. — Eu não estava trocando uma prisão por outra, não se eu pudesse evitar de qualquer modo. — Bom. Então o Mickey aqui vai te dar a informação detalhada sobre o crescimento do produto. E a colheita e essas merdas. Você vai ~ 225 ~


fazer isso. E você não vai fumar nada disso, — acrescentou ele com um olhar. — E você pode ficar aqui e comer, e ganhar um pouco de carne nos seus ossos de novo e pensar sobre o seu futuro. Inferno, eu até vou ser legal e te dar uma pequena fatia quando colocarmos o produto na rua. Combinado? Havia realmente alguma maneira de eu recusar isso? Na minha situação? Não havia sequer uma escolha. — Combinado. Então eu me tornei um plantador de maconha. Eu tive meu curso intensivo do Mickey. Disseram-me para eu pegar comida ali, e que mais provisões apareceriam com Mickey e um cara chamado Ace, em algumas semanas. — Você sabe, nós precisamos ter certeza que você não vai falar sobre a gente ou alguma merda, — foi a argumentação dele para a visita. Eu cuidei das plantas. Eu colhi e empacotei para distribuição. Depois, transportei a droga com Mickey e Ace no começo do outono para onde G estava esperando em alguma cidade próxima. Eu puxei meu capuz para cima, e mantive minha cabeça baixa, comendo o McDonalds que eles compraram para mim e fingindo não estar escutando. — Você não pode mandá-lo de volta para a floresta, G. Eu sei que você é um fodido cruel, mas ele é apenas uma criança. — Ele é um assassino, — disse G indiferente. — Ele pode tomar conta dele mesmo. — Ser um assassino não o ajudará a não congelar até a morte nas malditas montanhas, G. Ele morre, não temos ninguém para ajudar na próxima temporada.

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Apelando para o faro para os negócios de G, Mickey sabia, era sempre a melhor aposta. — Tudo bem, porra, sim, — disse G, suspirando um pouco dramaticamente. — Ele pode ficar lá. Mas ele não sai da porra do prédio, entendeu? Ele é o novo gato doméstico. E eu fui. Fui arrastado para a parte de trás de seu SUV, cujas janelas escuras me fizeram relaxar um pouco. Então nós dirigimos até a cidade de Nova York, um lugar onde até mesmo uma criança assassinade-papai podia desaparecer. Eu fui arrastado para o que devia ter sido um prédio de escritórios abandonado em Washington Heights. Foi me dado um quarto, uma cama, algumas roupas - tudo preto como eu preferia, de qualquer jeito - um notebook, um celular, e uma - acredite nesta merda ou não - pilha de revistas pornô. — Sei que seu velho fodeu você, — G disse quando olhei para elas com ceticismo. — Mas aí está a sua salvação. Tetas, bunda e bocetinha. Isso é tudo o que você precisa na vida, cara - uma boa puta e dinheiro para gastar. Então, ah, sim... não deixe a porra do prédio. Essa foi toda a supervisão que recebi. Eu descobri que não era estranho, cerca de dois dias depois, quando finalmente me aventurei no andar de baixo ao som dos homens esperando na operação de G. Metade dos seus traficantes tinha a minha idade. Não era de admirar que ele não me visse como uma criança. E naquele dia, parei de me ver como uma também. E se eu não era mais uma criança, era responsável por mim mesmo. Isso significava que precisava deixar minha cabeça normal, precisava aprender sobre esse mundo no qual eu subitamente estava. Então eu li o manual e comecei no notebook. Eu pesquisei o assassinato do meu pai, pesquisei uma frase que não entendi sobre o amigo de meu pai, cujo nome acabou por ser Bill. Alegações de abuso sexual infantil. Então eu entendi. Eu li artigo após artigo, site após site, sobre o assunto. Abuso infantil. ~ 227 ~


Molestamento. Estupro. Entendi o conceito que, embora eu os tinha pessoalmente experimentado na prática, não os tinha entendido intelectualmente. Eu vomitei por 24 horas seguidas quando assimilei tudo. Quando percebi o quão fodido isso realmente era. Naquele dezembro, pouco antes do Natal, G entrou no meu quarto, deixando cair uma pilha de dinheiro na minha mesa sem dizer uma palavra. A ‘fatia’ que ele me prometera. Minha ‘fatia’ foi cinco mil. Cinco mil dólares. Eu posso ter acabado de fazer quinze anos, mas não era estúpido. Isso era muito dinheiro. E porque eu não era estúpido, sabia que não podia fazer o que todos os outros traficantes fizeram - detonaram tudo. Não, escondi tudo. Eu cortei as tábuas do assoalho embaixo da minha cama, escondi tudo em uma mochila e empilhei todas as minhas coisas debaixo da cama para assegurar que nenhum olhar curioso e dedos ladrões tivessem ideias. Naquele inverno, estudei a internet e as coisas que consegui encontrar. Na primavera, eu estava pronto para voltar para as Adirondacks. Eu abasteci uma mochila recheada de livros, levei tanta comida quanto nós três conseguíamos carregar. Então, me escondi por seis meses na cabana na floresta. Então, de volta para a cidade. Onde eu aprendi sobre a dark web de alguns dos homens de G que compravam suas armas lá, que encontravam novos compradores para o produto lá. Então, de volta para as montanhas. ~ 228 ~


Lavar. Enxaguar. Repetir. Até os meus dezoito anos, recém-chegado das montanhas e animado por ter meu notebook de volta, porque estava com os olhos fixos em minha obsessão pela dark web, com todos os segredos que ela continha. Eu encontrei os homens. Sabe, os outros homens que tinham me usado em uma fila seis anos antes? Sim, eu os encontrei, porra. E eu tive uma ideia... Veja, muito embora eu tenha passado metade do meu ano em uma cabana nas montanhas e a outra metade estava dentro da barriga de uma organização criminosa. G era um líder implacável. Eu tinha visto muita tortura e morte nos anos que passei com ele. Males necessários, Mickey havia defendido com um encolher de ombros. E essas palavras, elas se enterraram profundamente. Elas se enraizaram. Eventualmente, elas se estenderam e romperam a superfície novamente. Mal necessário. Sim, eu acreditava nisso. Eu acreditava que algum mal era necessário na vida. Como eliminar estupradores de bebês. Portanto, você pode chamar isso de destino então. Praticamente assim que o pensamento se formou pela primeira vez em minha mente, ocorreu um estrondo. E tudo que você ouvia eram pessoas gritando. Polícia de Nova York. No chão. mantenha suas mãos para cima, filho da puta. Nós te pegamos agora, G.

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Eu os ouvi caminhando pelo piso inferior, sabendo que eles viriam para cima em seguida. Eu me joguei no chão, arrancando as tábuas do assoalho e pegando a mochila que teve que ser adaptada para uma mochila de trilha para guardar todo o dinheiro, joguei o notebook dentro, vesti as alças, peguei meu celular, me joguei na escada de incêndio lá fora e fiz o meu caminho para cima. Porque G era inteligente. O telhado era apenas um salto de um metro do prédio vizinho. Que estava a apenas a um metro e duzentos do seguinte. E assim que você estivesse a dois prédios deste, você podia correr para baixo na escada de incêndio lá e desaparecer em um beco escuro. Eu não tinha registro. Eu era o gato da casa. Ninguém sabia quem eu era. Eu quase nunca fui lá fora. Assim que eu estivesse na rua, estava seguro. Eu estava me preparando para dar o salto para o segundo prédio quando avistei G na rua abaixo, olhando para mim com as mãos algemadas atrás das costas. Congelei, inseguro, sentindo-me um traidor. G pode não ter sido um pai, ou até mesmo a figura de um irmão mais velho apropriado, mas ele foi alguém que me deu uma saída, que me salvou. Parecia desleal fugir. Mas ele olhou para mim por um longo segundo antes de seu rosto se transformar em um sorriso. Ele me deu um assentimento reconfortante antes de ser levado embora. Isso acabou com a culpa. Seis meses mais tarde, depois de descobrir que ele havia sido condenado e enviado para - adoro a ironia aqui – a Penitenciária Adirondack, eu peguei minhas novas identidades falsas top de linha, e fui para uma visita. Eu lhe devia isso, pelo menos.

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— Finalmente criou coragem garoto, — ele disse assim que se sentou, sorrindo. G não era o tipo de homem que estava consternado por ter sido mandado para o norte do estado. Porque G tinha passado muito da sua juventude dentro e fora de cadeia e de prisão. Para ele, era quase como voltar para casa. Mas ele ganhou muito dinheiro dessa vez, e toda a sua organização foi capturada com ele, então não tinha certeza se ele levaria isso na esportiva. — Essa merda foi fodida, — eu disse, sendo o meu jeito emocionalmente avariado de expressar minha solidariedade e minha tristeza por perder a minha, decerta forma, família improvisada. — Fodido, sim. Inevitável, talvez, — ele disse, encolhendo os ombros. — Eu tenho a minha agitação acontecendo aqui já. Merda, será uma proteção confortável para os próximos dez anos. E você? — E eu? — eu perguntei, confuso. Ele estava... preocupado comigo? — Fazendo algumas perguntas estranhas ultimamente, — ele disse, dando-me uma olhada porque nós sabíamos que podíamos ser ouvidos. Eu sabia exatamente sobre o que ele estava falando. Porque a maioria dos jovens de dezoito anos normais não pergunta onde comprar soda caustica no bairro. E qualquer criminoso reincidente saberia do que se tratava. — Está na arrependimento.

hora

de

algumas

pessoas...

mostrarem

seu

Ele bufou para isso. — Pensei que você tinha lidado com isso quando criança, cara. — Dois de oito, — eu concordei, assentindo. — Merda, — ele sibilou, parecendo enojado. — Bem. Dizer o que a você, — ele disse, muito sério, fazendo-me endurecer um pouco. — Eu tenho minha agitação, — ele disse, e eu sabia que era melhor não perguntar qual era ela. — Mas eu quero meu intendente preenchido toda semana, — ele disse, e eu tive a sensação de que ia haver algo interessante a seguir. G não era do tipo que pedia por merda de graça. ~ 231 ~


Ele não estava esperando que eu pegasse o dinheiro que ganhei esses anos e canalizasse para ele através de sua conta na prisão. — Lembra daquele lugar que você passou as férias nos verões? — ele perguntou, obviamente falando da cabana. — Difícil de esquecer. — Talvez eu tenha pego uma dica vinda de você e sua técnica inteligente de esconder. — Ele sabia sobre o meu esconderijo debaixo da minha cama. Isso não me surpreendeu. Você não conseguia mijar no lugar dele sem que ele soubesse. E eu ficava longe por longos períodos. Então, ele estava me dizendo que tinha algo - dinheiro, maconha ou ambos - escondido debaixo da cama na cabana nas montanhas. — Faça as contas. O gorro no meu intendente é cento e cinquenta por semana. Cinquenta e duas semanas por ano, dez anos. Quase oitenta mil. Esse número talvez deveria ter sido chocante. Mas é preciso entender que cada safra de maconha por ano, fazia o lucro puro de G ser superior a dois milhões. E esta era apenas parte de sua operação. Ele também comprava de outros e vendia. — O resto... — ele disse, acenando uma mão casualmente. — Você me ajudou. Você já passou por muita merda. Eu apoio seus objetivos na vida. Faça acontecer. — E quando você sair? — eu perguntei, não querendo que ele, a pessoa que me deu uma chance na vida, saísse sem nada. Seu sorriso, porém, ficou perverso. — Você não é o único bom poupador, garoto. Eu consegui o suficiente para me recuperar. Não se preocupe. Você faz o que tem que fazer. E não se esqueça do meu intendente. Ah, e garoto, — ele disse quando ficou de pé, virando de costas. — Eddy está na rua 23. — Ao meu olhar confuso, ele deu de ombros. — Resposta para uma daquelas estranhas perguntas que você estava fazendo. — Onde conseguir soda caustica. Eu me senti sorrindo, incapaz de evitar. — O dinheiro é sempre inteligente. — Com isso, ele foi levado para a porta. — Não se esqueça do meu intendente. Eu nunca esqueci. G saiu por bom comportamento em oito anos.

~ 232 ~


Mas toda semana, eu mandei os cento e cinquenta. Cinquenta e duas semanas por ano, sem desculpas. Um pouco mais de sessenta e dois mil, tudo dito e feito. O que estava escondido sob a cabana na floresta, sob a própria cabana propriamente dita, acabou que, já não havia nada sob as tábuas do piso além de sujeira, era mais de duzentos mil. Isto financiou minha missão enquanto eu localizava e matava os homens que machucaram a mim e incontáveis outros. Então, preocupado, parti para a China por um tempo, estudei um pouco mais e fiz mais algumas pesquisas. Então, voltei. Eu fiquei bom. Eu fiquei tão bom que nunca precisei fugir mais. Eu fiquei tão bom que eu conseguia atraí-los para Navesink Bank, trazê-los de volta para o meu lugar, um após o outro, e nunca sequer ter um policial farejando ao meu redor. Eu tinha a dark web para agradecer por isso. E eu tinha G e Mickey para agradecer pela dark web. Eles se tornaram meus contatos número um e número dois no meu sistema de pager. Eu não ouvia falar deles com frequência, mas de vez em quando, eles ouviam sobre, como G insistia em chamá-los, ‘molestador de crianças’, sabendo que estes eram meus desgraçados favoritos para eliminar. G saiu da prisão e iniciou uma nova operação na cidade. Até agora, nunca foi pego. Eu não sabia, e não precisava saber, que ele tinha cultivado a maconha nas montanhas onde tinha passado tanto do meu tempo. Eu desejava a ele nada além do melhor, por mais estranho que tenha sido, dado que ele não era exatamente um bom homem. Levando-se isto em conta, nem eu. Eu era tão mau como eles eram, na verdade.

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Mas eu fiz algumas coisas boas, assim como G e Mickey haviam feito. Eventualmente, eu procurava aconselhamento, quando os sonhos me faziam acordar vomitando, quando não conseguia dormir por semanas a fio. A maioria eram charlatões, desperdícios completos e absolutos de tempo e dinheiro. Mas existiram dois ou três que deram algumas dicas, que me ajudaram a superar um pouco da vergonha. Algumas. Eu estava convencido que não havia como me livrar de tudo isso. Havia uma parte de mim que sempre seria aquele garotinho com o rosto no travesseiro, o garoto um pouco mais velho, mas ainda pequeno, com seis homens o usando brutalmente, o jovem adolescente que teve seu corpo esculpido por um homem enquanto ele me estuprava. Eu sempre seria aquela criança, em algum lugar por dentro. Sempre haveria aquela feiura, aquelas feridas que nunca poderiam realmente curar. E eu tinha feito um bom trabalho a maior parte da minha vida, nunca deixando ninguém ver isso, nunca deixando ninguém ver o que eu mantinha por trás do personagem vigilante. Eu nunca deixei muitas pessoas verem os danos, tanto físicos na forma das cicatrizes, quanto psicológicos, na forma das memórias. — Até você, — concluí, tomando o que parecia ser a primeira respiração profunda que eu dei em mais de uma hora. Foi quanto tempo demorou para dar a ela todos os detalhes sombrios e feios da minha vida. Uma hora. Nós estávamos quase chegando atrasados. Evan pressionou os lábios, dando várias respirações longas e profundas. Ela tinha tentado, eu daria a ela todo o crédito do mundo, por não demonstrar qualquer emoção durante a minha história. Ela tinha prendido a respiração ou respirado devagar. Ela tinha piscado freneticamente. No final, suas emoções venceram. As lágrimas correram enquanto eu falava, aquelas que ela nem se incomodou em tentar afastar, porque assim que ela as afastasse, as novas as substituiriam. ~ 234 ~


Mas ela não soluçou. Ela não me pediu para parar. Ela aceitou. Então ela fez a coisa saudável, ela expurgou tudo através das lágrimas. Era o único modo de uma pessoa equilibrada conseguir receber essa informação. Eu não a culpei. Na verdade, eu tinha ajudado quando terminei de limpar as manchas remanescentes em suas bochechas. Ela se aproximou, enrolando-se contra meu peito, aninhando seu rosto no meu pescoço e plantando um beijo doce ao lado da minha garganta. — Eu falei sério o que eu disse, — ela disse, o braço em volta das minhas costas, apertando-me com força. — O que, boneca? — Eu falei sério quando disse que não importa, — ela disse, fazendo meu estômago apertar. Ela não podia ter falado sério aquilo, não realmente. Certo? — Eu sinto muito que isso aconteceu com você. Isso está errado em níveis que eu nem consigo expressar, Luce. Mas, é ainda mais uma prova do homem bom que você é. Que você foi capaz de sobreviver a tudo, para quebrar o ciclo. Muitas crianças abusadas se tornam abusadores. Mas não você. Você foi mais forte que tudo. E você não se enrolou em uma bola também. Você foi lá fora e sistematicamente livrou o mundo de todos os outros como seu pai e os amigos dele. — Ao matá-los, — eu especifiquei, não querendo medir as palavras. — Uma punição adequada, — ela insistiu. — Por quê? — eu perguntei, a palavra soando sufocada. — Porque o quê? — ela perguntou, beijando sob minha orelha. ~ 235 ~


— Por que você aceitaria um cara como eu, Ev? — Eu não pareço ter uma escolha. — O que diabos isso quer dizer? — eu perguntei, endurecendo. Ela achava que eu iria de alguma forma... forçá-la a ficar comigo? Cristo, ela realmente achava que eu era alguém que iria... — Isso significa que estou apaixonada por você, Luce, — ela disse, chocando-me pra caralho, o suficiente para calar completamente os meus pensamentos torcidos. — Então, é claro, eu aceito você. Triste, sombrio, distorcido, — continuou ela, encolhendo os ombros. — Cicatrizes e tudo. Eu amo tudo isso, Luce. Eu levei uma vida agitada. Eu vi coisas que a maioria nunca veria. Eu fiz coisas indescritíveis, mas vi igualmente muitas outras maravilhosas. Eu tive uma família. Eu fiz amigos. Nunca. Nem uma única vez antes, nem em toda a minha vida. Ninguém, tinha nunca dito para mim que eles me amavam. Digo, como eles poderiam? Eu não era um homem amável. Eu sabia disso. Eu aceitei isso sobre mim mesmo. Mas aqui estava essa mulher, esta incrível, linda, confiante, doce, forte e ao mesmo tempo vulnerável, habilidosa, viajada mulher em meus braços, nua, que acabou de ouvir sobre toda a merda sórdida que eu tinha feito em minha vida... e ela ainda disse isso. Ela ainda sentia isso. Ela me amava. Porra. ~ 236 ~


O que eu deveria fazer sobre isso? Quando uma batida soou em nossa porta, existia uma voz pequena e estranha que dizia que talvez eu devesse amá-la de volta. O problema era que eu não sabia nada sobre amor. Eu nem sequer sabia como ele era. Mas talvez, possivelmente, tinha algo a ver com a sensação de inchaço no peito quando os olhos dela se arregalaram, quando a voz de sua mãe chamou do outro lado da porta. Sim, ele poderia possivelmente parecer como algo assim.

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Evan

Minha mãe estava na porta. Minha mãe estava na porta onde eu estava nua com um homem para quem tinha acabado de declarar meu amor. Depois de finalmente ouvir toda a história horrível dele. Eu senti como se tivesse sido pega com a mão no pote de biscoitos. Mesmo que a porta estivesse trancada. Mesmo que eu fosse uma mulher adulta. Mesmo que eu não tivesse conhecido minha mãe até um dia antes. Era ridículo. Ainda assim, eu disparei na cama, agarrando freneticamente o lençol para me cobrir, como se a mulher tivesse visão de raio-x ou algo assim. — Só um minuto, Gabriela, — Luce chamou, rindo abertamente do meu comportamento estranho quando ele se levantou e foi pegar as roupas para nos cobrirmos. — Ev, temos que nos vestir, boneca, — ele disse, sorrindo quando me sentei congelada. Ele se inclinou para baixo, vasculhando minha mochila e pegando roupas. — E você precisa se preparar para as perguntas. — Quando eu obviamente não pareci entender por que, ele deu de ombros. — Seu rosto, Evan. Cristo. Eu quase esqueci.

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Tanta coisa tinha acontecido, parecia. Eu nem sequer tinha sentido o latejar, eu estava tão distraída. Mas quando saí da cama e me vesti, tudo começou de novo aborrecido, mas insistente. Totalmente vestida e me atrapalhando para colocar os sapatos, Luce foi até a porta, dando-me um pequeno sorriso por cima do ombro. — Pronta ou não, — ele avisou, destrancou a porta e a abriu. — Eu pensei em parar aqui. Fica no caminho, — ela explicou enquanto entrava, toda sorridente, claramente encantada por passar mais tempo comigo, o que me fez sentir bastante culpada por querer sair do país o mais breve possível. — Eu estou tão feli... não, — ela disse, congelando na metade do caminho na porta, cada centímetro de seu corpo estalando reto. — Você! — ela acusou, virando-se para Luce, as mãos se curvando em punhos. — Não! — eu explodi, pulando da cama, me jogando na frente de Luce. — Não. Luce não fez isso. Ele não fez. — Eu insisti, meus olhos segurando os dela. — Alguém veio ao quarto ontem à noite enquanto Luce estava comprando comida no mercado. — Quem? — ela perguntou, os dentes cerrados. — Quem aqui fez isso? — Alguém que tinha um ressentimento contra Alejandro, — Luce forneceu. — Da última visita que ele teve nesta área. Ele queria vingança. — Diga-me que ele não a conseguiu, — ela disse, o lábio tremendo de raiva. — Ele não conseguiu, — Luce assegurou a ela. — O que você vê é tudo o que aconteceu. E ele não será um problema novamente. Gabriela olhou para mim com olhos familiares, por alguns longos minutos. Então ela me deu um aceno de cabeça. — Bem, vamos para a cidade passar mais algumas horas juntas. Então você precisa ir. O primeiro voo, — ela disse, passando por mim para, e eu não estou brincando, começar a fazer nossas malas.

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— Gab... mamãe, — eu disse, descobrindo que isso de alguma forma não parecia estranho de se dizer, apesar de tão cedo. — Nós podemos... — Não, — ela disse, balançando a cabeça e empurrando minhas roupas descartadas dentro da mochila. — Você tem que ir. Você precisa se afastar daqui, por via das dúvidas. — Eu quero passar tempo com... — Sim. Sim. E com um homem como este, — ela disse, balançando um dos moletons com capuz de Luce para ele, antes de enfiá-lo em sua mochila. — Eu tenho certeza que você pode encontrar um jeito de me levar para lá, não? Luce me atirou aquele tipo de sorriso ‘eu te disse’. — Eu posso arranjar isso, Gabriela. Assim que você estiver pronta. — Tudo será resolvido. Com a internet, todas as coisas são possíveis hoje em dia, — ela disse, enfiando a mão no bolso, retirando um telefone e entregando-o para Luce. — Seu número, para que eu possa entrar em contato. Você vai me enviar uma mensagem assim que aterrissar. — Ela estava dizendo tudo isso enquanto desfazia as camas. — Espere, — ela disse, indo de volta lá fora. Passaram-se dois longos minutos de nada antes de ela voltar empurrando em um maldito carrinho de limpeza com ela. — Venha, comecem a trabalhar, — ela disse, acenando para o carrinho. Então, bem, então nós começamos a trabalhar. Quando terminamos, eu tinha certeza que era o quarto de hotel mais limpo de qualquer país do mundo. — Por favor, diga que você pagou em dinheiro, — ela disse enquanto empurrava o carrinho para fora. — Nós pagamos, — eu concordei. A única coisa que eu paguei com um cartão foram as reservas para o voo. Mas a partir daí ninguém sabia onde nós estávamos. Nós éramos essencialmente fantasmas. Claro, pessoas tinham nos vistos, mas isso não significa muito.

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— Eu fui cuidadoso, Gabriela, — Luce prometeu enquanto seguíamos para o ônibus que nos levaria para a cidade. — É bom ser excessivamente cauteloso, mas eu fui cuidadoso. — Bom, — ela disse, tocando o joelho dele. — Eu posso confiar em você com a minha Evangeline, sim? Ele olhou para mim por um segundo, olhos penetrantes, depois para minha mãe. Sua voz, quando ele respondeu, estava cheia de convicção. — Sim. Então fomos para a cidade, nossas malas nos ombros. Nós almoçamos. Nós conversamos. Nós compramos bugigangas. Então minha mãe beijou minhas bochechas e me abraçou como se sua vida dependesse disso, quando nos deixou no ônibus que voltou na direção do aeroporto. Nós prometemos ligar. Ela prometeu nos visitar assim que a papelada estivesse pronta. E com isso, nós estávamos no nosso caminho de volta para casa. Foram oito horas até nós estarmos de volta em Jersey, sem escala. Então de lá, foi uma hora e meia até estarmos de volta em Navesink Bank. A maior parte desse tempo, tudo o que houve foi silencio. Havia tantas coisas para nós dois meditarmos. Eu, o passado dele, a visita com a minha mãe, o homem que me machucou. Ele, expor suas vulnerabilidades para mim, o assassinato, a limpeza, minha declaração. Não havia distância, por assim dizer. Na verdade, assim que caímos em nossos assentos no avião, a mão dele foi para a minha coxa

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e ficou lá durante toda a viagem. Enquanto ele assistia a um filme e eu olhava pela janela, pensando. Foi bom, eu senti, ser capaz de sentar e pensar sobre as coisas sem ter que me preocupar que a outra pessoa estivesse se preocupando com o meu silêncio. Foi apenas... confortável. — Tudo bem, — Luce disse enquanto entrávamos no meu carro que ainda estava no aeroporto. — Você quer o Diego ou você quer ir para casa? — É errado que eu queira apenas mais um dia? Eu sei que Barrett está indo bem com Diego e... — Ev, você vai ter que dividir a custódia daquele maldito pássaro com ele de agora em diante. Eu vou mandar uma mensagem para ele e avisá-lo que nós estaremos lá amanhã para buscá-lo. Não passou despercebido isso. Nós. Nós estaremos lá amanhã para buscá-lo. O jeito que meu coração se apertou. me avisou que eu não tinha apenas mergulhado meu dedão no amor. Ah não. Eu estava nadando nele. Talvez isso fosse um pouco assustador. Mas eu estava bem com isso. — Evan, — Luce disse, o jeito que ele disse me fez pensar que ele talvez tenha dito isso mais de uma vez. — Sim? — Você está me deixando, ou eu vou com você? — Quando houve um silêncio de um segundo, ele se apressou em acrescentar: — Só preciso saber se eu deveria estar mentalmente me preparando para a escalada. — Você mal dorme há dias, Luce. Venha para casa comigo e durma.

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Ele se virou, mas mesmo com meus olhos na estrada pude ver o sorriso que ele tentou esconder. — Se eu ficar com você em qualquer lugar perto de uma cama, Ev, a última coisa que eu estarei fazendo é dormindo. — Bem, que tal algum não dormir seguido por algum dormir? — Eu ofereci quando entrei na minha garagem, minha casa quase parecendo estranha apesar de ter sido apenas alguns dias. — Eu acho que posso fazer esse trabalho, — ele concordou quando descemos do carro. — Alguma chance de você poder juntar alguns daqueles burritos fodões em algum momento também? — ele perguntou, pegando nossas malas e indo em direção à porta. — Eu acho que posso lidar com isso. Nós entramos, movendo-me pela casa para largar minha correspondência na mesa de jantar e voltando para trás quando não ouvi seus passos me seguindo. — Bugigangas, — eu informei, encolhendo os ombros quando seus olhos caíram em mim. — Você tem mais algumas bugigangas? — Ah... sim. Por toda parte, eu acho. — Alguma que você bebe? — Eu, ah, tenho um conjunto de caneca de café, sim. Luce passou por mim, indo para os meus armários, um após o outro, até encontrar aquelas em questão. — Ev, boneca, — ele disse, virando-se com duas delas. — Estas não estão lacradas. — Eu sei. Eu não as coloco na lava-louças nem nada. — Sim, mas... quem diabos sabe com que tipo de merda eles costumavam pintá-las. — Essa merda, — eu disse, tirando-as de suas mãos, — eram frutas silvestres. Eu os vi fazerem elas para mim. Elas foram secas ao sol. Por que você está tão obcecado com elas? ~ 243 ~


— Foram férias interessantes, Evan, mas nós estamos de volta à realidade agora. E, na realidade, você estava sendo envenenada. Nenhuma nova linha significou que quando você ficou longe do veneno tempo suficiente, você ficou livre da merda. Por isso tem que ser alguma coisa aqui. Você testou sua água quando se mudou? — Não, eu sou um idiota que não faz uma inspeção adequada, — eu disse, revirando os olhos. — Claro que a água foi testada. — Tudo bem, o que mais você tem por aqui que não foi comprado em uma loja em algum lugar? E eu quero dizer uma loja real, boneca, — ele disse com um sorriso, — não algum mercado em um país do terceiro mundo. Eu bufei com isso, imaginando que a maioria das coisas feitas em aldeias eram muito mais seguras do que as coisas feitas nas principais fábricas cheias de contaminações quem-sabia-qual. — Hum... eu tenho algumas joias no meu quarto. Há alguns pentes no banheiro. — E isso? — ele perguntou, tocando a enorme, intrincada e lindamente trabalhada tábua de carne, que ocupava a maior parte do espaço do meu balcão. — Isso é dos EUA, — eu disse, encolhendo os ombros. — De uma loja? — Um presente de um amigo do meu pa... de Alejandro. Deus, quando eu pararia de chamá-lo de pai? Dias? Semanas? Anos? Eu nunca chegaria lá? — Ele fez isso? — Sim, ele faz coisas muito legais com madeira. Ele corta as árvores na fazenda ele mesmo. — Qual é o nome do amigo de Alejandro, boneca? — Larry, — eu disse com um encolher de ombros. — Ele é um fazendeiro no sul. Tem uma enorme lavoura e hectares de animais. Ele ~ 244 ~


não confia no governo para alimentá-lo ou algo assim. Ele era um pouco lunático. Mas legal. Ele guardou todas as minhas bugigangas em seu celeiro por vinte anos. — Larry, hein? Que estado? Eu senti minhas sobrancelhas se unirem. — Mississippi. Por quê? — Faça-me um favor, — ele disse, estranhamente. — Não use mais isso, ok? — Você acha que esta é a fonte? — Você quer correr o risco? Você mais do que ninguém sabe os efeitos a longo prazo da exposição ao arsênico. Eu sabia. Problemas abdominais. Taquicardia. Edema pulmonar. Problemas renais. Pancreatite. Convulsões. Coma. Lesões. Anemia aplástica. Neuropatia periférica. Hipertensão. Diabetes. Câncer de pulmão, bexiga, rim, linfoide, fígado ou câncer de pele. Sim. Ok. Eu não ia usar a tábua novamente. Ou as xícaras, mesmo sabendo que estavam seguras. — Tudo bem. Sem usar mais coisas que eu não comprei em lojas. — Só até termos respostas, — ele ofereceu aproximando-se e envolvendo os braços em volta dos meus quadris. — Combinado? — Combinado, — eu concordei, inclinando-me para ele. — Então, eu ouvi algo sobre uma cama... — ele disse, os olhos ficando quentes. Então ele viu algo sobre uma cama. Então houve burritos. ~ 245 ~


E dormir. Mas aparentemente não muito sono. Eu acordei na manhã seguinte, grogue, desorientada e com os lábios ardendo porque eu tinha dormido sobre meu rosto por algum motivo. A realidade voltava lentamente. Voltando para casa. O surto de Luce sobre as minhas bugigangas. Sexo rápido, quente, forte, suado e delicioso. Comida. Então dormir. Mas Luce deve ter ficado acordado por um tempo, porque o lado dele da cama estava frio. Eu tropecei para fora da cama, indo escovar meus dentes e colocar meu cabelo em alguma aparência de ordem antes de encará-lo. Mas eu senti assim que entrei na sala de estar. Alguma coisa estava errada. Quando eu comecei a procurar pelo o que me deu aquele malestar, encontrei meu notebook aberto sobre a mesa. Ao lado havia uma nota. E duas tiras de papel com coloração laranja nelas.

Fui caçar. Luce

Curiosa, eu me sentei, piscando o sono para fora dos meus olhos por um longo minuto para que pudesse me concentrar na tela. O navegador era algo que eu nunca tinha visto antes e definitivamente não instalei no meu computador. Mas lá estava mesmo assim. E eu tinha um pressentimento que era aquela coisa da dark ~ 246 ~


web, que eu o ouvi mencionar antes. Onde ele descobria a sujeira das pessoas. Onde ele descobriu sobre Alejandro. E ele tinha uma página aberta dedicada a Larry Manson. Do Mississippi. Claro. É claro que meu pai não era amigo de nenhum fazendeiro lunático que não confiava no governo com seu suprimento de comida. Não. Porque meu pai era um especialista em venenos. E ele era um estuprador em vários continentes. Ele não tinha amigos normais. Ele tinha amigos criminosos. Ele tinha amigos estupradores. Larry Manson tinha sido preso por estupro quando tinha dezoito anos, tendo drogado e se aproveitado da filha de seu vizinho, abusando dela com objetos estranhos em vez de seu pênis. Ele pegou dez anos. Ele foi solto quando tinha vinte e oito anos. Ele nunca voltou para a prisão. Não porque ele parou de estuprar, mas porque ele parou de ser pego. Isso foi provavelmente devido a todos os relatórios de pessoas desaparecidas registrados legalmente de mulheres de dezoito anos, as quais todas se pareciam misteriosamente como sua primeira vítima, em todo o estado do Mississippi. Alguns corpos acabaram sendo encontrados, mas muito decompostos para alguém sequer saber o que aconteceu com eles. A pesquisa continuou a partir daí, deixando-me ciente que Luce era também uma aberração que sobrevivia quase sem dormir ou era ridiculamente bom com suas habilidades de investigação online.

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Talvez ambos. Mas algumas coisas estavam claras. Ele estava a caminho do Mississipi, procurando Larry Manson. Ele ia matar de novo. E enquanto parte era para as outras vítimas femininas, eu tinha certeza que uma parte era devido a ele querer me machucar também. Eu sabia disso porque aqueles pedaços de papel com coloração laranja na mesa, perto do notebook e da nota, eram testes de arsênico. Laranja significava alto nível positivo. E minha maldita tábua de carne estava desaparecida.

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Luce

— O que eu posso dizer, Larry? — eu disse, virando a tábua de carne nas minhas mãos. A coisa realmente era uma obra de arte, uma mistura de diferentes grãos, todos habilmente colocados juntos em um padrão adorável. Veja, o único problema com ela era que estava tão cheia de arsênico que os testes ficaram com um tom de laranja mais brilhante do que os que o gráfico de níveis mostrava. — Eu não gosto de homens que tentam envenenar mulheres. — Ele estava amarrado em seu celeiro. Normalmente, eu não gostava de fazer trabalhos fora do local. Era complicado. Era mais difícil limpar as evidencias. Mas eu também não gostava muito de transportar pessoas através das fronteiras do estado e violar leis federais também. — Isto é, acho que é apenas uma regra geral. Ninguém gosta de homens que machucam mulheres. É medíocre. É covarde. Isso sugere que seu pau é quase tão impressionante quanto um lápis. Mas de qualquer maneira, discordo. Eu realmente, realmente não gosto de homens que tentam envenenar minha mulher, — eu disse, girando ao redor, balançando o pedaço gigante da tábua de carne e batendo-a na lateral da cabeça do homem. Eu não era alguém que fazia tortura. Mas o que eu podia dizer? O homem não confessaria. Eu precisava que me dissesse que ele fez isso.

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E eu precisava saber o porquê. Porque não importa quanta pesquisa fiz na noite anterior depois que Evan desmaiou e eu ganhei uma ou duas horas, não consegui descobrir o porquê. Sim, ele era amigo de Alejandro. Sim, ela era sua filha adotiva. Sim... o quê? Evan não era o tipo de Larry. Ele só gostava de mulheres pequenas, gordinhas e loiras. Ele nunca se desviou. Então ele não podia estar chateado por Alejandro nunca o ter deixado pegar sua filha. Qual diabos era o motivo então? — Homens se voltando contra outros homens por causa de algum fodido rabo de saia, — ele amaldiçoou, cuspindo sangue no feno no chão. Rabo de saia. Que porra é essa? Quem ainda usava frases assim? Que fodido retrógrado. — Cristo, — eu rosnei, balançando a cabeça. — Por que envenenar a porra da tábua de carne? O que Evan já fez para você? — Fez daquele cara uma vadia, — ele disse, balançando a cabeça. — De Alejandro? — eu perguntei, apertando os olhos para ele. — Ele estuprou mulheres em todos os países que visitou, mesmo depois de estuprar a mãe de Evan e sequestrar a filha dela. — As coisas que aquele homem fez antes dela... Hã. Merda. Eu queria arrancar o coração do seu peito e espremer a vida dele. ~ 250 ~


Ele não estava exatamente errado. Embora eu não conseguisse encontrar nenhuma evidência real on-line, pois provavelmente antecedia a dark web, havia histórias atribuídas a um homem que se encaixava nas descrições de Alejandro. Estupros ritualísticos e sádicos. Tortura longa e prolongada que deixava mulheres meio mortas e normalmente, totalmente desligadas mentalmente. — Você sabe, ele me forçou a concordar em cuidar dela se alguma coisa acontecesse com ele. — Cuidar dela não significava matá-la, imbecil. — Muitas interpretações desta frase, idiota. — Por que arsênico? Por que não simplesmente matá-la quando ela veio para pegar sua merda? Ah, — eu disse, curvando meu lábio. Sim. Para a maioria dos cabeças de merda como Larry, o ato de assassinar era sexual. O estupro em si era poder. A matança era o que deixava seus paus duros. A única mulher pela qual ele foi para a cadeia, ele aparentemente sodomizou com um objeto desconhecido. Eu aposto minha vida nele se masturbando nos cadáveres antes de enterrá-los. Ele não queria matar Evan com suas mãos porque ela não era seu tipo. Porra de bênção, eu acho. — Que porra poderia importar? Ele está morto. Ela se mudou. Por que matá-la agora? Por que não a dez anos atrás? — Ele desviou o olhar, recusando-se a responder. Eu odiava os fodidos como ele, aqueles que me faziam jogar jogos de adivinhação, ler suas linguagens corporais para descobrir tudo sozinho. — O quê? Por que Alejandro iria ver os sinais nela? Algum dia rastrear de volta para você? — eu soltei um suspiro. — É uma pena que ele não tenha feito as honras. Eu odiava aquele fodido torcido, mas ele teria tornado isso realmente excruciante para você.

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— O quê? E você, não? — Normalmente eu sou muito curto e grosso com a matança. Um saco na cabeça. Uma faca na garganta. Simples, na verdade. Veja, eu não sou um fodido doente que sai machucando alguém como algumas pessoas. Eu só quero livrar o mundo de fodidos doentes como você. Normalmente, até te dou uma escolha. Você pode ir para a polícia ou morrer. — Mas eu não estou tendo esta escolha. — Não. Quero dizer, o que, para que você possa ficar em custódia protetora até você morrer? Não pode estar assim tão longe. Você tem o quê? Uns bons cinquenta quilos acima do peso. Você tem que ter pressão alta, colesterol, e eu odeio pensar com o que suas artérias se parecem. Seus tornozelos e panturrilhas são do tamanho de fodidas melancias com retenção de líquido. Insuficiência renal. Você não tem esse tempo sobrando, de qualquer maneira. E embora possa ser meio poético para você estar preso em uma cela respirando ar que cheira a merda o tempo todo, e comendo a comida do governo que você odeia tanto, eu temo que você não vai conseguir escolher isso. — Porque aquela cadela pertence a você. Eu soltei um suspiro. — Odeio dizer isso para você, mas esta é a América. No século 21. Ninguém pertence a ninguém mais. Mas enquanto ela não ficar enjoada de mim, sim, estou com ela. E mesmo se ela ficar enjoada de mim, eu ainda me importo com ela. Veja, é assim que relacionamentos normais e saudáveis funcionam. Eu sei que o conceito é estranho para você. — Certo, eu deveria seguir o conselho de algum pequeno hacker magricela. Cristo. Ele era um otário. Seu passado de abuso, e incluindo querer matar Evan, eu queria eliminá-lo. Apenas por ser um ser humano miserável. Graças a Deus ele morava em sua fazenda gigante e muitas vezes não incomodava as pessoas com sua personalidade terrível.

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— E agora o que, merdinha? — ele perguntou, completamente imperturbável pelo fato de ele estar amarrado e eu, obviamente, tinha todo o poder. No entanto, eu tinha a sensação que isso era uma fachada. Ele era um homem acostumado a ter o poder. Ter tomado isso deve estar comendo-o por dentro. — Eu deveria pegar essa merda, — eu disse, pegando o frasco de herbicida com um grau tão alto em arsênico que eu fiquei preocupado em sequer tocar o recipiente. Ele usou isso junto com um conservante de madeira que não produz mais (por causa do nível de arsênico), na tábua de carne de Evan. — E forçá-lo para baixo em sua garganta. Até a última gota. Então você poderia lentamente, e dolorosamente, ver o que você teria eventualmente feito para Evan. Mas não quero que você ocupe mais deste ar. Então... nós vamos fazer isso do jeito rápido. Bem, não totalmente rápido. Cortar sua garganta teria sido o caminho mais rápido. Mas também era o mais bagunçado. Eu estava plenamente consciente de que estávamos em um celeiro cheio de feno e equipamento. A limpeza seria intensamente trabalhosa e frustrante, para dizer o mínimo, se eu tivesse sangue por toda parte. Então, o saco plástico é o que ia ser. E não era rápido. E era muito assustador não ser capaz de respirar. Mas eu tinha a sensação que esse fodido sufocava as mulheres que ele vitimava, então, ei, era um final adequado. Era bom para ele ver o tormento pelo qual elas passaram, de não ser capaz de respirar em seus momentos finais antes da morte. Três delas. Que era um longo tempo para levar alguém a morrer.

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É verdade que elas desmaiariam dentro de vinte segundos. Mas vinte segundos de não ser capaz de recuperar o fôlego era muito aterrorizante. Um final adequado, eu achava. Eu não gostava de enterrar corpos. Eu fiz isso por necessidade no Brasil, mas criava uma probabilidade muito maior de ser pego do que, digamos, derreter o corpo completamente e não deixar vestígios para trás de que eles sequer existiram. Levando isso em conta, o homem possuía cerca de trinta acres. Dez deles eram lotes para cultivo. O Sr. Manson se tornaria, na forma mais verdadeira da palavra, fertilizante. Várias horas mais tarde, depois de lavar o corpo completamente, eu o arrastei até o canteiro do jardim, cavando um buraco profundo o suficiente para enterrar três corpos, deixando-o cair dentro, cobrindo-o de novo e depois plantando algumas vagens em cima dele. Elas estariam despontando em algumas semanas. O solo não ficaria revirado. Eu voltei para o celeiro, recolhi todo o feno em toda a área em que estive com Larry e o levei de volta para a casa, lavando nossos dois conjuntos de roupa com alvejante, secando-os e queimando-os lentamente junto com o feno em sua lareira até que não restasse nada além de cinzas. Eu me vesti de novo. Eu fiz meu caminho de volta para a velha estrada de terra ao lado da propriedade dele, onde tinha um carro aos pedaços que comprei por uma bagatela na volta para Jersey. Eu troquei as verdadeiras por placas falsas, para impedir que fossem rastreadas de volta para mim por qualquer modo que fosse. Eu entrei nele, e dirigi esse calhambeque todo o caminho de volta para Navesink Bank, apenas parando duas vezes para abastecer, e numa dessas vezes ligando para o departamento de polícia da cidade de ~ 254 ~


Larry, para dizer anonimamente que eu estava preocupado porque não o tinha visto há algum tempo. Normalmente manteria os tiras o mais longe possível da cena de crime, mas ele tinha animais. Aqueles que pastam no campo com sua própria fonte estariam bem. As galinhas e cavalos... nem tanto. Eu posso ter feito um monte de coisas sombrias na minha vida, mas era preciso ser um verdadeiro monstro para matar animais por outras razões que não por comida ou piedade. Eu parei em um lugar que você lava seu próprio carro, gastando mais de uma hora me assegurando de tirar cada partícula do Mississippi dele, então o devolvi ao seu esconderijo e fiz o caminho de volta para Evan a pé. Foram apenas quatro dias. Mas pareceu uma vida. E cada vez que pensava nela nesse ínterim, lá estava ela novamente - aquela sensação quente e de inchaço no peito. Esta sensação só parecia se intensificar enquanto eu subia o caminho até a porta da frente dela, levantando a mão para bater e imaginando se ela ficaria chateada ou entenderia. O que diabos eu deveria dizer quando ela... — Barrett? — eu perguntei, bruscamente ficando mais reto ao vêlo dentro da casa dela. — Que porra você está fazendo aqui? — Diego, — ele disse de um jeito meio “dã, seu idiota”, enquanto ele se movia para o lado para me deixar passar. — Você não liga, você não escreve, você podia ter sido morto em uma vala em algum lugar... — Evan disse casualmente quando ela me notou entrando, dando-me um sorriso enquanto andava com os pratos em direção à mesa de jantar. — Eu perdi alguma coisa? — Talvez algo sobre doces de estrangeiros, sequestro e, ah, o estado da minha cueca. — A... o quê? — ela engasgou com uma risada.

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— Acho que isso é uma coisa americana, hein? — eu perguntei, olhando para Barrett. Quando o olhar de Evan foi para lá, Barrett deu de ombros. — Nós fomos todos criados para nos assegurarmos de que usávamos roupas íntimas limpas, para o caso de termos um acidente de carro. — Ah... por que isso importaria? — ela perguntou, apertando os olhos. — Porque o médico e as enfermeiras podem ver, — Barrett informou quando Diego soltou um grito épico que fez a mim e até mesmo Evan estremecer, mas Barrett ficou imóvel enquanto ele levantava a mão para o pássaro voar. — Isso é idiota, — concluiu Ev, balançando a cabeça. — Certo, bem, você vai dizer oi ou o quê? Um sorriso puxou meus lábios e eu atravessei a sala para ela, a coisa quente e inchada tão intensa que quase deixou difícil respirar. Seu rosto parecia melhor. O corte no lado de sua cabeça estava quase selado, vermelho e irritado, cercado por um punhado de hematomas azuis e roxos ainda, mas curando. A cisão no lábio tinha desaparecido, provavelmente já cicatrizada e impacientemente tido a casca arrancada por uma Evan constrangida. Ela não parecia mais tão quebrada. — Oi, — eu disse, as mãos deslizando em volta da parte inferior das costas dela, puxando seus quadris a se alinharem com os meus, mesmo com uma audiência, sentindo o meu próprio desejo começar a percorrer através de mim. — Como foi sua viagem de caça? — Bem-sucedida. — Vocês não têm que falar em código, — Barrett nos disse casualmente, levando Diego até a base de uma árvore e colocando-o no chão. — Eu varri o lugar. — Ah, você fez o que agora? — Ev perguntou, se afastando para trás, para que pudesse olhar em volta de mim.

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— Eu varri o lugar. — Para quê? — Ev perguntou, claramente por fora. — Insetos. O que mais? — Como cupins ou... ah, — ela murmurou um pouco constrangida quando eu ri, puxando-a para mim e beijando sua têmpora. — Como dispositivos de gravação. Por que você varreria minha casa? — Porque ele está aqui, — eu informei com um encolher de ombros. — Barrett gosta de garantir que nada seja ouvido. É uma das características mais interessantes dele, o seu cuidado. Porque, sejamos francos, investigadores particulares nem sempre trabalhavam perfeitamente dentro da lei. Barrett especialmente, graças a algumas habilidades muito impressionantes de hacking que transmitia de forma muito ilegal, e montando sua operação literalmente do outro lado da rua do Departamento de Polícia de Navesink Bank, queria se assegurar que nenhuma de suas habilidades jamais voltasse para incomodá-lo. — Apenas sinta-se em casa, cara, — eu disse, os lábios inclinados para cima, mas sobrancelhas franzidas enquanto Barrett se movia pela cozinha pegando utensílios e guardanapos, e depois indo para a geladeira para bebidas. Evan estava tentando evitar seus lábios de sorrirem, mas perdendo a batalha. — Dê-nos licença por um minuto, Barrett, — ela disse, estendendo a mão para pegar a minha e me puxar pelo corredor até o quarto. — Um hacker desliza para fora, outro desliza para dentro, — eu provoquei, observando enquanto ela passava a mão pelo cabelo, fazendo os fios se acomodarem em um novo jeito. Era uma coisa estranha e pequena, mas eu tinha sentido falta disso enquanto estava fora. — Você estava certo, — ela declarou, parecendo uma mistura de divertida e estupefata. — Bem, eu sempre gosto de ouvir isso, — eu disse com uma risada e abaixei a mão para retirar meu moletom. — Mas sobre o que estava certo desta vez? ~ 257 ~


— Ele e Diego, tipo, se... conectaram. E ele aparece duas vezes por dia para vê-lo. Eu ri disso, lembrando que disse que eles provavelmente teriam que dividir a custódia. Barrett nunca me soou muito como uma pessoa de animais, mas exceções aparentemente podiam ser feitas para alguém tão inteligente quanto um papagaio. — Diego me chama de właściciel agora. Polonês. Eu conhecia isso, porra. — Que porra significa właściciel? — Proprietária, — ela informou, sacudindo a cabeça. — Do que ele chama Barrett então? — eu perguntei curioso. — Przyjaciel. Amigo, — ela explicou, ainda ficando a meio quarto longe de mim quando me sentei na beira da cama. — Você está brava comigo? — O quê? Não, — ela disse, balançando a cabeça. — Quero dizer, um pouco de notícia teria sido legal, mas não. — Então eu não consigo descobrir por que você ainda está a meio quarto de mim, — eu disse com cuidado, sem querer soar como se estivesse exigindo que ela viesse para cá, querendo saber sua reação genuína. — Eu só... não sabia se talvez você precisaria de um pouco de... espaço. Você sabe, tipo, depois... — Boneca, você precisa de espaço, você sabe, tipo, depois? — eu perguntei, tentando manter o humor leve, se bem que era um assunto um tanto pesado. Porque, embora não tivéssemos falado muito sobre isso, minha suposta carreira era absolutamente um fator. A reação dela ao que eu fazia era o maior fator. — Hum... não. Eu acho que não.

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— Tudo bem. Bem, eu tenho certeza pra caralho que não preciso de espaço. Na verdade, eu preciso de um espaço tão pequeno entre nós quanto possível. Ela abaixou a cabeça para o lado, sorrindo timidamente. — E com isso você quer dizer... — Tire-as ou eu as arrancarei, — eu concordei, já arrancando minha camiseta do corpo. Ela sorriu então, parecendo aliviada, como se tivesse estado tão estressada quanto eu sobre como nós lidaríamos comigo vindo de um trabalho, nós dois sabendo a merda que eu tinha acabado de fazer. Mas o fato era, Evan não era uma mulher comum. Embora ela não soubesse sobre a merda desagradável que Alejandro fazia para as mulheres, ela estava plenamente consciente que ele usava seu conhecimento sobre venenos para principalmente torturar e matar homens, sempre soube isso sobre ele. Mas ela tinha sido capaz de compartimentar isso. Então, talvez eu tivesse que agradecer aquele fodido doente pelo fato que ela podia fazer o mesmo com o meu trabalho. Ela pegou sua blusa, arrastando-a para cima de seu corpo. Meu pau já estava duro e pulsando em minha calça e eu fiquei de pé para removê-la, observando quando as mãos dela deslizaram para baixo para remover a dela também, deixando-a em um conjunto de sutiã e calcinha pretos simples, nada excessivamente sexy sobre eles, mas era a coisa mais quente que eu já tinha visto. — Toda a roupa, Ev, — eu exigi, alcançando para arrastar minha cueca boxer para baixo, pegando um preservativo da minha carteira no processo, em seguida, parando para ver as mãos dela deslizarem atrás das costas para abrir o sutiã, e o material se soltou e então caiu de seu corpo, expondo as ondas perfeitas de seus seios e seus mamilos já pontos endurecidos. Minha mão abaixou para se fechar em torno do meu pau, acariciando-o um pouco distraidamente enquanto ela descartava o sutiã e movia as mãos para baixo em sua barriga, em um caminho para o cós de sua calcinha.

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— Porra, você está me matando aqui, — eu rosnei e ela provocantemente correu as pontas dos dedos sobre o tecido macio, deixando um dedo espreitar lá dentro e então de volta para fora. — Ah, foda-se, — eu disse, me afastando da cama e pressionando suas costas contra a parede, estendendo a mão entre nós para segurar a calcinha, depois puxando com força. Seus olhos se arregalaram e seus lábios se separaram em um silvo quando o barulho de algo rasgando a avisou que eu estava cumprindo minha promessa. Eu tinha ido longe demais, rápido demais. Minhas bolas estavam apertadas e meu pau estava quase dolorido, estava muito excitado. Eu não tinha tempo a perder. Minha mão deslizou entre suas coxas, acariciando sua boceta escorregadia e localizando seu clitóris, encontrando-o inchado. — Encharcada pra caralho. Ela soltou um suspiro trêmulo, inclinando-se para frente sobre mim e descansando a testa no meu ombro. — Senti sua falta, — ela admitiu, fazendo formar gotas de pré-sêmen no meu pau. Movi minha mão, desloquei meus quadris e deixei meu pau deslizar contra seus lábios molhados, sentindo o tremor percorrer através dela e sentindo um similar se mover através das minhas entranhas. — Porra, senti sua falta também, Ev. Eu falei sério em todos os sentidos. Senti falta de transar com ela, estar dentro dela, ouvir seus gemidos e choramingos, sentir suas unhas nas minhas costas, sua respiração na minha pele. Eu senti falta disso pra caralho, claro. Mas eu senti falta simplesmente dela também. Tinha praticamente parecido errado estar longe depois de passar tanto tempo com ela. Talvez isso fosse irracional. Isto é, eu só a conhecia há algumas semanas. Mas, levando isso em conta, nós tínhamos passado dias e noites juntos. Nós tínhamos esperado em longas filas nos aeroportos, assistido filmes nos aviões, andado em ônibus caindo aos pedaços, ~ 260 ~


suado como fodidos animais em caminhadas, feito refeições, dormido perto um do outro, dormido um com o outro. Nós compartilhamos cada pequeno detalhe sobre nossas vidas um com o outro. Nunca estive tão perto de outra pessoa como estava com ela. Então, eu senti falta disso. E senti falta do jeito que ela dormia como pedra, o jeito que ela cheirava, a provocação ou os sorrisos genuínos, o som de sua risada, o jeito que se agarrava a mim antes de dormir. Eu senti falta das histórias que ela contava sobre os lugares que tinha visto, tão ricas com detalhes intrincados, mesmo depois que o tempo normalmente faria isso desaparecer. Eu juro que você conseguia ver os vermelhos, roxos e dourados dos sáris na Índia, sentir o cheiro da hena quando elas tatuavam, com muito detalhes, temporariamente as mãos e os pés. Você conseguia sentir o sol inflexível nas suas costas dos desertos da África. Você conseguia sentir o gosto dos alimentos ultra condimentados que ela experimentou no México. Você podia ouvir as chamadas das araras selvagens na América do Sul. Eu pra caralho senti falta dela. E embora eu não tivesse a menor ideia de como me sentir sobre esse fato, não havia como mudar isso. Era apenas algo para levar em consideração na vida diária. Imaginei distraidamente se talvez isso mudaria minha vida, se talvez não quisesse ficar longe dela nos longos períodos que eu às vezes precisava para os trabalhos. Mas então, ela choramingou no meu pescoço e eu voltei para o presente, sentindo outra onda de sua umidade cobrindo meu pau. Não conseguia aguentar mais. Eu precisava estar dentro dela como precisava da minha próxima respiração. — Espere... ela disse enquanto eu andava para trás, puxando-a comigo para a cama. — O quê? — eu perguntei, virando, então ela era a que estava de costas para a cama. ~ 261 ~


— Barrett está... — Um homem crescido que sabe que depois que eu estive fora por meia semana, ia estar fodendo minha mulher assim que voltasse. Mas se você está preocupada, acho que você vai tentar ficar quieta, — eu disse com um sorriso malicioso. — Palavra-chave aí sendo, tentar, — eu adicionei e a agarrei, a virei e a empurrei para frente em direção à cama, pressionando suas pernas abertas para que eu pudesse me mover atrás dela, agarrando um lado da sua bunda com a minha mão e batendo no outro com força. Ela soltou um gemido alto e rouco. — Sim, acho que vai ser um desafio para você, né? — eu perguntei quando coloquei o preservativo. Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, eu bati meu pau profundamente dentro dela, lutando contra o desejo de gozar quando ela gritou em voz alta, tentando abafar o som com o rosto nos lençóis, mas na maioria das vezes falhando. Não havia como ir devagar, fazer durar, ser suave e doce. Tinha sido muito tempo para nós dois. Nós dois precisávamos extravasar como nós precisávamos da nossa próxima respiração. Então nós fodemos. Forte. Rápido. Barulhento. Eu acho que ela esqueceu completamente a existência de um homem chamado Barrett Anderson, muito menos que ele estava na casa. Porque no momento em que sua boceta se tornou um aperto no meu pau, me dizendo que mais um impulso iria mandá-la tremendo ao meu redor, ela estava à beira de gritar. Eu estendi a mão entre suas coxas, pressionando seu clitóris enquanto batia fundo, sabendo que era o impulso que enviaria nos dois em uma espiral para o esquecimento.

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Assim que eu pensei nisso, sua voz ficou presa e sua boceta começou a pulsar com força. Eu pressionei mais fundo ainda, gozando com o nome dela nos meus lábios. E assim que ela recuperou a voz, chamou o meu também. Nós dois caímos de volta na cama, lutando para respirar. Meu braço se estendeu para arrastá-la para mim enquanto seu corpo tremia suavemente com os tremores finais. — Sim, definitivamente não precisamos de nenhum espaço, — ela disse, aconchegando-se mais perto, soando de alguma forma zonza e sonhadora ao mesmo tempo. Obrigado porra, por isso. Eu não percebi o quanto precisava ouvir isso até ela dizer. Com segurança. E talvez com um pouco de sexo ainda em sua voz. — Fico feliz de ouvir isso, — eu disse, dando-lhe um aperto, em seguida, rolando-a de cima de mim para que pudesse ficar de pé. — Como você está andando neste momento? — ela perguntou, fazendo-me virar com um enorme sorriso, meu orgulho desfrutando deste pequeno estímulo no ego. — Boneca, eu estive na estrada todo o fodido dia. Eu acho que você estava colocando comida na mesa quando cheguei aqui. — Estou vendo, — ela disse, dobrando-se para cima e pegando suas roupas, o sorriso malicioso. — Fodê-lo e alimentá-lo. Isso é tudo o que você quer de mim, né? — Nem perto disso, — eu disse, dando-lhe um olhar intenso que fez seus olhos ficarem um pouco sonhadores, antes de eu pegar minhas roupas e sair para o banheiro. — Onde está Barrett? — Ev perguntou um minuto depois, encontrando-me no corredor e totalmente vestida, exceto que eu podia dizer que ela estava sem sutiã. E, ei, qualquer coisa que me desse acesso mais fácil ao corpo dela era algo que tinha todo o meu apoio. — E Diego?

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Nós caminhamos para a sala de jantar, encontrando o prato de Barrett vazio, mas com uma nota colocada ao lado. Pela primeira vez, não estava nem em polonês, nem em código.

Diego está positivamente traumatizado pela “reunião” de vocês. Estamos no escritório. B&D

— Ele continua sequestrando meu pássaro, — ela disse, sacudindo a cabeça enquanto enchia os pratos para nós dois. — Acho que é hora de aceitar que Diego não é mais seu. Você agora compartilha a custódia com Barrett. — Eu ficaria aborrecida, mas ele, de alguma forma, o ensinou a fazer seus negócios apenas no pé da árvore. E isto é um maldito milagre. Então, ele pode roubá-lo o quanto quiser. Ela se moveu para se sentar ao meu lado, pegando seu garfo. Minha mão pegou a dela, notando que ela tinha finalmente tirado o esmalte lascado. Meu polegar percorreu sobre sua unha, as linhas ainda lá do meio para cima, mas o crescimento recente estava claro. — A erupção foi embora também, — eu acrescentei, referindo-me ao seu peito. — Eu me sinto melhor também, — ela admitiu, apertando minha mão. — Não acredito que nem sequer percebi o quão mal estava me sentindo até parar. Eu tenho que lhe agradecer por isso, — ela disse, os olhos ficando suaves. Então ela fez a maldita coisa do caralho. Ela se inclinou e descansou contra o meu braço, sua cabeça no meu ombro. — Eu tenho que te agradecer por muitas coisas, — ela acrescentou. — Ev... — Eu disse, tentando deixar isso pra lá, tentando me livrar do desconforto estranho que sentia por dentro, por receber a gratidão dela.

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— Se não fosse por você, eu ainda estaria seguindo um estuprador em série pelo mundo. Não saberia que ele não era meu pai. Não teria encontrado minha mãe. Não saberia que estava sendo envenenada. — Você teria descoberto isso cedo ou tarde, Evan. — O quê? Quando eu tivesse insuficiência renal ou câncer? Nossa, aceite um elogio. Eu sorri com isso, inclinando o lado da minha cabeça para baixo, em cima da dela. — Tudo bem, eu aceito, — concordei, sentindo-me estranho. — Quer saber? — ela perguntou depois de um longo silêncio. — Não, o quê? — Eu acho que aceitarei você.

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Evan Dez dias

Ó bom Senhor, os filmes. Ok. Isto é, tudo bem, filmes eram ótimos e tudo. Mas Luce estava extremamente inflexível quanto a consertar minha deplorável ‘educação cinematográfica’. Cada conversa parecia levar a outro filme que eu simplesmente tinha que ver. Eu tinha um pressentimento, e o senti com um afundamento no estômago, que talvez Luce gostasse tanto de filmes porque podia viver através deles de um jeito que sua vida real não permitiria a ele viver. Ele viveu sua vida em jaulas. À disposição de seu pai, na floresta observando a maconha crescer, trancado em algum complexo de traficantes na cidade. Então, enquanto ele crescia e seguia em frente com sua vida foi, na maior parte, em uma casa em uma colina completamente sozinho. Ele mal mantinha conhecidos, muito menos amigos. Ele não teve romances. Ele não explorou. Ele não teve aventuras. Então, ele assistia tudo isso nos filmes. Ele podia ver o mundo, lutar guerras, se apaixonar, fazer viagens de carro com amigos, ir para o espaço sideral. Não era que eu não entendia; eu entendia.

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Era um pouco como me sentia sobre um bom livro, como eu gostava de me perder nos mundos. Embora, admito, eu não era, nem de longe, tão dedicada aos romances quanto ele era aos filmes. E eu tinha que dizer, quando ele se iluminava falando sobre uma incrível cena de ação ou algum ponto inesperado do enredo, e como eu tinha que ver, eu ficava encantada. E também sentia que, ao ver os filmes pelo quais ele era tão apaixonado, eu conseguia ver diferentes partes dele também. Isto é, eu não estava acostumada a passar todas as noites da minha vida enrolada em um sofá. Tudo bem que, estar enrolada lá com Luce era talvez um dos melhores sentimentos no mundo. Porque nós nunca assistimos apenas filmes. Seu braço estava sempre em volta dos meus ombros, e em algum momento no meio de um filme, seus dedos frequentemente encontravam seu caminho no meu cabelo, revirando os fios suavemente. Muitas vezes, minhas pernas acabavam em seu colo e sua mão livre acariciava para cima e para baixo nelas, levando-me à distração até os créditos passarem, e eu podia montar nele e ter o alívio da necessidade correndo através de mim. Então, depois de dez noites seguidas no meu sofá ou na minha cama com alguma joia de filme - e alguns deles que me fizeram levantar uma sobrancelha para ele - decidi que tinha tido o suficiente. Eu estava bem em seguir seus interesses preferidos, sabendo que meus próprios interesses eram, bem, fazer venenos e viajar, nenhum dos quais eu podia fazer em Navesink Bank, mas ele ia ter que ceder um pouco também. — Porra, boneca, — ele sussurrou quando saí do quarto. Como nós estivemos ficando de bobeira na casa por mais de uma semana, talvez eu tenha ficado um pouco preguiçosa com a coisa de se vestir. Na verdade, se eu conseguisse deslizar dentro de uma calcinha e de uma de suas camisetas, era muito. Nós acabávamos nus a maior parte do tempo, de qualquer modo. Então, sua reação ao meu vestido preto apertado e saltos não foi muito surpreendente. Eu coloquei algum tempo e cuidado no meu cabelo e maquiagem também.

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Eu imaginei que tirá-lo de sua zona de conforto podia levar a um pouco de persuasão de caráter sexual. Que era algo com a qual estava completamente bem. — O que é isso? — ele perguntou quando eu lhe entreguei um envelope. — Abra-o, — eu exigi enquanto me movia para ficar na frente dele. Ele olhou para cima, sobrancelhas levemente franzidas. — Ingressos de cinema? — Eu gosto de compartilhar seu interesse por filme com você Luce, mas estou prestes a enlouquecer ficando trancada nesta casa. Normalmente, iria querer te arrastar para algum clube de salsa ou dança, ou algo assim. Então, vamos chamar isso de um compromisso justo, ok? Ele me observou por um longo minuto, a cabeça abaixada para o lado. — Ok, — ele concordou, dando-me um aceno de cabeça. Não parecia um grande negócio para a maioria, mas tirar Luce de casa para fazer qualquer outra coisa além de ir para a cafeteria, ao Barrett ou ao supermercado, era uma verdadeira proeza. Esta foi uma pequena vitória para nós e, eu achava, um passo na direção certa.

Luce Cinco semanas

Eu sabia que esse dia chegaria cedo ou tarde. Nós sabíamos que ele viria cedo ou tarde.

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Porque, não importa o quão fortes meus sentimentos estavam se tornando por Evan, eu ainda era eu. Eu ainda precisava fazer as coisas que fazia, ainda tinha uma missão na vida que não envolvia maratonas de filmes, passeios de carro tarde da noite com conversas importantes e sexo suficiente para me fazer realmente precisar lembrar de me hidratar de tão intenso. Todas essas coisas eram maravilhosas pra caralho. Elas eram muito mais do que eu merecia. Mas elas não eram, e não podiam, ser tudo. Para qualquer um de nós. Isso significava que Evan estava fazendo uma procura em Navesink Bank por algumas oportunidades de emprego, ou mesmo oportunidades educacionais. Ela estava mantendo a mente aberta, e tentando encontrar algo para fazer com sua vida que desse sentido, que a fizesse feliz. Eu já tinha isso. E foi por isso que esse dia tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde. Eu estive ignorando meu pager por semanas. Era hora para eu voltar ao trabalho. Nós dois sabíamos que o dia chegaria, que eu não era, de nenhum modo, um ‘homem reformado’ e que minhas missões tinham que continuar. Eu podia dizer que Evan estava exatamente empolgada com isso? Não, claro que não. Não porque ela me veria de forma diferente, não porque ela tinha um problema com a minha matança dos canalhas. Não. Quando conversamos sobre isso, ela me disse que sua única preocupação era eu ser pego. E lá estava outra vez, aquela sensação apertada, inchada e quente no meu peito. Ela estava ficando mais forte à medida que o

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tempo passava, insistente e distinta o suficiente para eu não ser mais capaz de fazer nada além de chama-la do que era. Amor. Eu a amava. Eu a amava de um jeito que eu não sabia que era possível, com uma profundidade que não achava que possuía, com um coração que eu tinha certeza que tinha murchado e morrido no meu peito quando tive um rosto enterrado em um travesseiro aos sete anos de idade. Eu tinha certeza que qualquer bondade, qualquer coisa ainda capaz de sentir algo tão altruísta como o amor, tinha desaparecido. Aparentemente, eu estava errado. Evan despertou isso em mim. Tinha certeza que nada que eu fizesse, nem se eu tentasse por décadas, podia mostrar a ela exatamente o quanto tudo significava para mim. Era humilhante perceber o quanto errado você estava sobre si mesmo, que outra pessoa podia ver coisas em você que você não sabia que existiam. E ela me amava. Que era um milagre ainda maior. Ela me amava, apesar do meu passado, apesar da minha escuridão, apesar do que eu fazia para viver. Mas esta era a primeira vez que eu teria que, em essência, testar essa teoria. Nós estávamos vivendo em uma pequena e confortável bolha isolada. Claro, ela sem dúvida estava me arrastando para sair com ela cada vez mais, levando-me para ver filmes, música e saindo para jantar. Eu estive saindo a noite nas últimas cinco semanas mais do que eu estive nos últimos malditos cinco anos. E eu gostei. Mas nós não poderíamos viver para sempre em sua casa.

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Eu tinha que voltar ao trabalho. Ignorei um monte de criminosos menores que tinham sido enviados para mim durante o mês passado, ninguém sendo um canalha grande o suficiente para me arrastar para longe do que eu tinha acabado de encontrar com Evan. Mas então, recebi uma chamada com um 111. E um 111 era merda que precisava ser investigada. Um 111 era um traficante de pessoas. De crianças. Para o comércio sexual. Não importava o quanto eu adorava passar o tempo assistindo filmes e falar bobagens com Evan sobre suas viagens e planos para o futuro. Eu não podia simplesmente sentar lá e fingir que não sabia dessa informação, que não era a única pessoa que podia cuidar disso. — Três dias, — eu disse quando ela saiu do quarto. Três dias era a porra de muito tempo, mas era o que eu precisava. Eu estaria apenas a poucos minutos longe dela tecnicamente, mas podia muito bem ter sido um mundo de distância. — Ok, — ela disse, assentindo, soando completamente impassível. Então ela levantou algo em suas mãos, uma bolsa de couro com um cinto para usar na cintura. Houve uma estranha contração na minha barriga que eu não consegui identificar. — Boneca, o que é isso? — eu perguntei, ouvindo a incerteza na minha própria voz. Então ela virou a aba e apresentou um pequeno pedaço do que parecia ser madeira pontiaguda, presa dentro de uma cobertura plástica protetora. — Você disse um traficante de sexo infantil, certo? — ela perguntou, levantando a pequena seta para a luz, e cerrando os olhos para ela, então a devolveu, pegando outra. — Sim, — eu concordei, feliz por poder falar abertamente. Isso era graças a Barrett passando por aqui todos os dias ou a cada três, para

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pegar ou deixar Diego, dependendo de sua agenda, sempre fazendo uma varredura quando ele ia. O fodido cuidadoso. — Ok, este então, — ela disse, estendendo a segunda coisa agulha/seta. — Ev, o que é isso? — eu perguntei, tendo um pressentimento, razão pela qual meus lábios estavam inclinados para cima, mas querendo confirmação. — Algo que vai matá-lo. Rapidamente, — ela acrescentou, encolhendo os ombros. — Mas dolorosamente. Eu mencionei que eu a amava pra caralho? Porque eu a amava pra caralho. E enquanto eu enfiava o item no bolso e a puxava para um beijo, eu sabia. Eu sabia até os ossos. Nós íamos ficar muito bem.

Evan Três meses

Três meses. Foi o tempo que levou para o amigo de Luce, Barney, fazer os documentos necessários para minha mãe. Barney tinha oitenta anos de idade, no mínimo, vivendo em um prédio que estava praticamente caindo, mas com um apartamento que tinha malditos acessórios de ouro. O melhor falsário na costa leste, como os rumores diziam. Razão pela qual demorou tanto tempo.

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Não porque ele tinha muitos clientes, mas porque ele era um perfeccionista absoluto. O que era bom. Quando se tratava de documentos governamentais falsificados, você os queria o mais próximo possível da realidade. Mas os papéis foram enviados para minha mãe na semana anterior. E o avião havia pousado há cinco minutos. Eu? Eu estava uma pilha de nervos. Por quê? Eu não tinha inteiramente certeza. Este sempre tinha sido o plano. Eu a queria nos Estados onde poderíamos realmente nos reconectar, onde poderíamos contar histórias e construir vínculos. Claro, havia uma parte de mim que tinha meu estômago embrulhado porque, como eu disse a Luce na cama na noite anterior, estava apavorada em compartilhar minhas histórias. Todas elas envolviam Alejandro. Eu finalmente parei de pensar nele em termos familiares: pai, papai, papi. Ele era Alejandro. Ele era o homem que me levou ao redor do mundo, mostrou-me coisas que eu nunca teria visto sem ele, claro, mas ele não era meu pai. Na verdade, meu pai de verdade era um agricultor qualquer do Brasil que morreu em um estranho acidente de ônibus apenas dois meses antes de eu chegar. Foi por isso que Gabriela tinha feito a decisão de tentar se mudar para os Estados Unidos, por mim, por nosso futuro. Ela sabia que se ficasse lá comigo, eu provavelmente acabaria casada jovem, trabalharia como uma empregada de limpeza ou em uma fazenda, teria um bando

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de filhos e continuaria um ciclo de pobreza no qual sua própria família havia estado há gerações. Foi o suficiente para enviá-la em uma missão de dois anos em todo o Brasil, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Guatemala e, finalmente,... México. Tudo o que eu pude pensar quando ela me disse isso por telefone uma noite foi, o quão cruel foi para ela viajar em segurança com um bebê através de oito países, tendo quando muito um arranhão, apenas para ser brutalizada assim que finalmente, finalmente alcançou o seu destino. — Ela sabe exatamente com quem você viajou, Ev, — Luce disse, dando de ombros. — Ela teve meses para assimilar a situação. Ela pode odiá-lo, pode nunca o perdoar - e não deveria - mas não espera que você altere suas histórias para torná-las mais palatáveis para ela. Eu estava tentando depositar minha fé para me apoiar nisso. O tempo diria. — Pare de torcer as mãos, — disse Luce, pegando uma delas, enrolando seus dedos nela e dando um aperto. — Não há nada para ficar nervosa. Ela ama você. Você a ama. Quando isso acontece, tudo se desenrola como deveria. Eu sabia que ele estava certo. Mas meu estômago não desatou até que ela subiu, entrou na parte de trás do carro e me abraçou por trás, soltando uma sequência de Português tão rápido que nada daquilo fez sentido. — Isso é tudo o que você trouxe? — Luce perguntou quando ele se afastou do meio-fio e nos levou na direção de Navesink Bank. A bagagem da minha mãe estava toda em uma grande mala com rodinhas. Além de sua bolsa, era isso. A verdade é que ela vivia em uma pequena casa e não poderia ter tido muitos bens, para começar, mas mesmo assim. — Eu quero um novo começo, — ela disse, encolhendo os ombros. — Tenho uma caixa sendo enviada por navio com roupas de cama e

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mesa. Isso é tudo que eu preciso, vou comprar coisas novas assim que eu começar a trabalhar. Ela permitiu que eu e Luce conseguíssemos um apartamento para ela, apenas cedendo quando nós informamos a ela que o dinheiro não era dos nossos bolsos (ou do esconderijo de Alejandro), mas do traficante de sexo infantil que tinha quase trinta mil em sua carteira de Bitcoin. Foi mais do que suficiente para pagar o apartamento dela por um ano inteiro, e fazer algumas alterações como, pintar as paredes, modernizar os eletrodomésticos e montar um quarto e uma sala de estar para ela. Foi simples para eu ser capaz de dar à minha mãe um bom começo na América, o qual ela queria para mim, assim como para ela. Vinte e quatro anos depois, claro, e depois de muito sofrimento também, mas aconteceu. Nós estávamos juntas. Nós estávamos construindo nossas vidas. E tudo isso, literalmente cada pedacinho disso, foi graças inteiramente a Luce. Se ele não estivesse procurando por - e achado - Alejandro, se não o tivesse feito desaparecer, se não deixasse claro que ele estava online, eu nunca o teria procurado. Se isso não tivesse acontecido, não teria descoberto a verdade sobre quem Alejandro realmente era; não teria sabido sobre (ou encontrado) minha mãe. E, você sabe, eu provavelmente estaria muito doente com envenenamento por arsênico. O mais louco para mim era que Luce nunca pareceu compreender a enormidade de sua presença na Terra. Ele tinha passado tanto tempo irritado, envergonhado, vingativo, que não era capaz de ver através de suas ações e que ele mudou inúmeras vidas. Talvez os homens que ele matou tenham machucado suas esposas ou crianças que passariam a estar livres de sua tortura. Todas as crianças que poderiam ter sido vítimas de molestamento, nunca tiveram que ter suas infâncias tiradas delas. Mulheres que haviam sido perseguidas, estupradas e espancadas, podiam dormir mais facilmente sabendo que seus agressores estavam mortos há muito tempo. Claro, ele era um vigilante.

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Ele matava pessoas. Mas isso não era tudo o que ele era ou tudo o que fazia. Era minha missão na vida faze-lo ver a extensão de seu alcance, a profundidade do significado de suas ações. Talvez eu não devesse estar muito bem em ter um namorado assassino. Talvez isso não fosse normal. Talvez nem fosse sensato. Mas, levando isto em conta, eu tinha crescido com alguém que tirava vidas para viver, tinha visto as consequências no mundo das ações de homens como aqueles que Luce matava. Eu entendia a necessidade de vidas serem interrompidas. Eu não me importava com o trabalho dele. Na verdade, algumas noites enquanto ele pesquisava, eu estava bem ao lado dele, lendo sobre seu ombro todas as coisas horríveis que as pessoas tinham feito e sugerindo quais venenos podiam ser a melhor aposta para eliminá-los. O que, de certa forma, fazia de mim uma cúmplice de pelo menos três assassinatos até agora. Um traficante de sexo infantil, um estuprador em série e um cafetão que bateu tanto em uma de suas prostitutas que ela teve que ter a mandíbula costurada para curar. Eu estava bem em fazer parte do fim disso. Eu sabia, no entanto, que algum dia isso acabaria. Algum dia, Luce ia precisar se aposentar, entregar as rédeas, encontrar um jeito diferente de passar o tempo. E estava tudo bem. Nós descobriríamos isso juntos quando chegasse.

Luce

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Três anos

Houve uma longa pausa, Evan me observando com um rosto que de repente eu não conseguia ler. — O que você acha? — eu perguntei, mexendo os pés, sentindome desconfortável. — Mais importante, — ela disse, ainda não revelando nada, — o que você acha? — Essas são os tipos de decisões que eu acredito que nós deveríamos tomar juntos. — Eu tentei. — Sabe, ou é o que eu tenho visto nos filmes, de qualquer maneira. Isso suavizou o rosto dela, fazendo seus lábios se divertirem. — Sabe, isto é... não é como se você tivesse que se aposentar do seu antigo emprego. Isto soa mais como um bico de meio período. Isto era verdade. Veja, isso começou inocentemente. Eu estava no She's Bean Around, tomando café como fazia o tempo todo, provocando Jazzy quando ela estava entre os clientes. Então entrou seu homem - detetive Lloyd. E Lloyd vinha fazendo grandes coisas para si nos últimos anos, fazendo um nome e reputação para si mesmo. Havia rumores de capitão ser um título que ele podia estar ostentando em breve, sendo um dos poucos membros na corporação que não estava no bolso de alguém. — Tudo bem, — ele disse, caindo em frente a mim em uma mesa, segurando uma xícara não descartável entre as mãos, porque Jazzy se recusava a lhe dar uma de papel porque ‘ele tem duas mãos e pode lavar uma maldita xícara de café’, ou algo assim. — Tudo bem, — eu concordei, as sobrancelhas se unindo e minha coluna parecendo um pouco mais rígida.

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— Não vamos sentar aqui e fingir que nós dois não sabemos quem você é, e o que você faz. — Esta é uma reunião oficial, detetive? Eu não deveria ter algemas? Ele exalou um suspiro, recostando-se na cadeira por um segundo e olhando para Jazzy, que lhe enviou uma piscadela atrevida que conseguiu fazer seu rosto duro parecer simplesmente uma imagem mais suave. — Sobre o que você faz, este sou eu falando extraoficialmente. Sobre esta próxima parte, é oficial. — Tudo bem, — eu disse, ainda mais confuso. — O que há de errado, Lloyd? — Eu trabalho incompetentes.

em

um

departamento

cheio

de

malditos

— Não é alguém de medir as palavras, hein? — eu perguntei com uma risada, sabendo o quão certo ele estava sobre a corporação. — Nós somos conhecidos por contratar consultores. Psicólogo. Desenhistas de perfis. Artistas. Fodidos paranormais... Eu sabia onde isto estava indo. E, estranhamente, minha primeira reação não foi de choque ou medo. Não. Eu senti... alívio. — E qual seria o meu verdadeiro título lá, Lloyd? — eu perguntei com um sorriso. — Vigilante Residente? Ele bufou, dando-me a coisa mais próxima de um sorriso que eu já tinha visto ele dar a alguém além de Jazzy. — Consultor Especialista em Crimes Cibernéticos deve servir. — Houve uma pequena pausa. — Consultores fazem a porra do banco, — ele acrescentou, adoçando o pote. Então, isto foi o que me levou a informar Evan da possibilidade.

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Claro, ela estava muito feliz com o trabalho que conseguiu em uma loja de vitaminas daqui, fazendo os suplementos com o mesmo entusiasmo que ela fazia os venenos. Exceto que agora, ela tinha, sua mãe, Barrett e eu como suas cobaias pessoais para tentar consertar o que quer que nos afligisse com suas novas dietas vitamínicas. E, sim, eu ganhei dinheiro - às vezes quantias muito substanciais de dinheiro – fora as contas Bitcoin de canalhas que eu eliminava. Só que não era estável o suficiente. Eu queria saber que sempre haveria algo vindo para mim. Mesmo se fosse do outro lado da lei do qual eu normalmente operava. — Você acha que eu deveria considerar isso, — indaguei. — Eu acho que embora seja legal que você veio até mim com isso, a decisão é sua. Não me importa o que você faz para viver. Eu só quero que você esteja confortável e feliz com a sua escolha. Então foi assim que me tornei um Consultor Especialista em Crimes Cibernéticos.

Evan Quatro anos

Eu desliguei o cronômetro do meu telefone, olhando para baixo a haste na minha mão, com uma sensação estranha como um estroboscópio no meu peito e barriga. Eu não tinha certeza se era preocupação, antecipação, esperança, inquietação ou uma mistura de todas elas. Tudo que eu sabia era que estava me deixando ainda mais enjoada do que eu já estava. O qual estava dizendo alguma coisa. Eu não sei o que diabos aconteceu.

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Eu tenho estado tomando pílula desde os dezenove anos. Eu nunca perdi um dia. Era uma coisa estranha. Mas eu estava olhando para baixo em duas linhas cor-de-rosa. Luce e eu, bem, nós nunca conversamos sobre crianças. Não sobre tê-las, de qualquer maneira. Eu nunca fui uma daquelas mulheres com febre de bebê. Eu nunca havia sentido aquela “crise do útero” sobre a qual ouvia mulheres conversarem quando viam um bebê fofo. Isso só não era como eu estava conectada. Eu gostava de bebês. Eu tinha dado banho, alimentado, balançado e cantado para inúmeros bebês em todo o mundo. Eu tinha visto alguns deles darem seus primeiros passos e dizerem suas primeiras palavras. Eu só realmente nunca pensei sobre ter um eu mesma. Eu acho que esse é o jeito da natureza dizer pronta ou não, aí vem ele! Houve três batidas curtas na porta, fazendo-me saltar com força. — Então, o que diz? Um riso estridente me escapou quando olhei para cima no espelho, para me encontrar sorrindo. Porque eu não tinha contado a ele. Eu não tinha sequer sussurrado sobre pensar que poderia estar grávida. Ele não tinha ideia de que eu comprei um teste. Eu só... queria saber antes que eu o preocupasse também. Mas, eu acho, este era o Luce sobre quem estávamos falando. Ele sabia - e via - tudo.

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Eu alcancei a porta, destrancando-a. Um segundo depois, ela se abriu e ele entrou. Quatro anos depois, ele ainda vestia um moletom preto com cordões brancos. Verdade que ele não era mais estranho comigo sobre suas cicatrizes, mas acho que era apenas um hábito. Na verdade, em seu último aniversário eu tinha dado a ele um vale presente para um estúdio de tatuagem onde um cara chamado Hunter, que se especializou em cobrir cicatrizes com tatuagens, elaborou para mim esse enorme desenho de uma peça biomecânica cheia de detalhes em preto e cinza. Eu queria que ele nunca visse ‘escravo’ quando se olhasse novamente. Estava nervosa dando isso a ele, mas ele tinha, na verdade... se iluminado. Mas ele me disse que a peça precisava de uma alteração. Ele não me diria o que era. Não até ele chegar em casa com ela em sua pele. Ele tinha feito Hunter acrescentar um coração anatomicamente correto, brilhante, vermelho e vívido no centro. E, se você olhasse perto o suficiente, você podia ver “Ev” em uma das válvulas. E eu, bem, chorei como um maldito bebê. Mas ele ainda era fã de seus moletons. Francamente, eu também. — Bem? — ele perguntou, parecendo um pouco convencido, como se estivesse orgulhoso de si mesmo. — Como você sabia? — eu perguntei, virando o teste para longe de seus olhos que tudo viam. — Você andou empurrando sua comida mais do que a comendo. Você está pálida. Seus seios estão doloridos. E, você sabe, você perdeu a porra da sua menstruação, Ev. Meio difícil não colocar tudo isso junto. ~ 281 ~


— Nós nunca conversamos sobre crianças, — eu disse, o tom cuidadoso. — Nunca foi um fator antes, — ele disse, encolhendo os ombros, pegando a haste e a virando. — Luce... Ele não falou por um longo momento. Então seus olhos frequentemente eram.

se

levantaram,

ilegíveis

como

eles

— Talvez nós deveríamos manter a cabana na floresta, — ele disse, os lábios se contraindo levemente. — Se isso for uma menina, e algum babaca quebrar seu coração... — Você não pode matar e derreter os namorados da nossa filha, Luce, — eu disse com um sorriso genuíno. — Quer apostar?

Luce Vinte e Dois anos

— Não. — Papai... — Louana, que tinha sido chamada de Lou desde praticamente o primeiro dia, disse naquele tom lamuriento que apenas filhas adolescentes poderiam realmente conseguir. Ela era a fotocópia de sua mãe e sua avó – alta e elegante com cabelo castanho-escuro brilhante, pele bronzeada e delicada estrutura óssea. A única coisa que ela tinha de mim eram seus olhos, os quais eram um pouco mais escuros, um pouco mais profundos do que os de Ev.

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Eu não consigo lê-los, Evan tinha reclamado quando Lou tinha sete anos e em uma fase particularmente ruim de tentar vender mentiras como verdades, assim como eu não consigo ler os seus. — Não, — eu repeti. — Esta é uma palavra que funciona em todos os idiomas. Inclusive em português. O qual você não precisa saber, já que não estará indo para o Brasil. — Todo mundo está... — Não. Não me obrigue a fazer isso, Lou — eu implorei. — Eu vou me odiar se tiver que usar essa maldita frase. — Os braços dela cruzados sobre o peito, seus olhos ficando desafiadores. Eu ficava sempre fora do meu controle com ela, e ela sabia disso. Porra. — Se todos os seus amigos saltarem do... Jesus Cristo. Eu não posso fazer isso. Ev, é a tua vez, — eu disse, passando a mão pelo meu rosto. — Lou, você sabe por que não vamos ao Brasil, — Ev disse, caindo ao meu lado, com as pernas subindo sobre as minhas. — Alejandro está morto por, o que, mais de vinte anos agora. Não acho que nós temos que nos preocupar com seus inimigos, mamãe. Sim, nós tínhamos decidido, quando ela tivesse idade suficiente, sermos brutalmente honestos com Lou. Ela cresceu para ser madura, equilibrada e racional, capaz de colocar as coisas em caixas e analisálas adequadamente. Ela sabia de Alejandro, o que tinha feito para sua avó, como tinha levado Ev e a criado, o que ele tinha feito para mulheres ao redor do mundo e o que fazia para viver. — Não, bela, — disse Gabriela suavemente, mas havia aço em sua voz também. — Diga aos seus amigos que Turks e Caicos são adoráveis nessa época do ano. Nós não queríamos manter Lou trancada e longe do mundo. Evan queria que ela tivesse o luxo de viajar como ela tinha crescido. Como tal, duas vezes por ano, todos os anos desde que ela tinha dois anos, nós estivemos escolhendo lugares para visitar. Isso foi feito com extremo escrutínio dos locais que poderiam ter quaisquer ligações com o falecido Alejandro Cruz. Lou tinha visto alguns dos lugares mais bonitos do mundo, tinha brincado com crianças de todas as culturas diferentes, tinha, - e isso

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me deixava nervoso só de pensar – quando ela era mais velha, flertado com garotos da idade dela em vários continentes. Mas o Brasil, embora fosse a terra natal de Gabriela e Evan, tinha sempre estado estritamente fora dos limites. Por causa de Alejandro, claro, mas também pelo que eu tinha feito enquanto estava lá. Isso talvez fosse justo para Lou? Não. Mas era assim que tinha que ser. A sobrancelha de Lou se ergueu, os olhos – os quais eu conseguia ler já que eram exatamente como os meus - ficaram curiosos. — Você pagaria por Turks e Caicos? — ela perguntou em toda a sua animação de dezoito anos de idade. Ev me lançou um olhar e dei de ombros. — Se isso significa que você não vai sequer pensar em visitar o Brasil até que você tenha, não sei, trinta, então sim, nós alegremente pagaremos por Turks e Caicos. Esta declaração foi seguida por um grito que fez Diego gritar alto. — Ah, xiu, — Lou disse, balançando a cabeça para ele. — Você só está com ciúmes porque não pode ir. Ok. Vou ligar para todo mundo. Ela saiu correndo, e Gabriela nos deu um aceno de cabeça enquanto voltava para a cozinha, onde estava preparando um enorme jantar de domingo. — Sabe, — disse Ev, descansando a cabeça no meu ombro. — Nós fizemos muito bem com ela. Você sabe, considerando que eu era uma especialista em venenos e você um matador vigilante. — Estou quase ofendido por ela ter saído tão normal, — eu concordei, fazendo-a rir enquanto meus braços a envolviam. — Nós vamos ter que dizer a ela sobre o que fizemos no Brasil algum dia, — ela disse, sendo uma voz da razão. — Claro, mas eu acabei de comprar mais doze anos para nós antes que tenhamos que abrir essa lata de minhocas.

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— Isso é verdade, — ela concordou, beijando meu pescoço. — Você sabe que ela levará o namorado nessa viagem, certo? Eu não sabia. Porque eu geralmente escolhia não pensar muito sobre aquele cara, acreditando de todo coração que nem um único cara na terra nunca seria digno dela. Por outro lado, o vil eu antigo teve Ev, então quem eu era para falar? — Porra... eu ainda tenho um pouco de soda lá em baixo, não é?

Fim!!!

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Ele não deveria estar aqui. Eu disse a ele na última vez no beco. Estava tudo acabado. Nós não podíamos mais fazer isso. Era errado em todos os níveis imagináveis. Mas lá estava ele mesmo assim, na entrada da loja, a chuva caindo em cascata pelas costas de sua camisa já encharcada, fazendo-a se agarrar nos músculos por baixo. Meu olho deslizou pelo seu braço, vendo uma gota de água deslizando pela intrincada tatuagem vermelha e preta que cobria quase cada centímetro quadrado de pele. Eu tive que forçar meu olhar de volta para cima, não o permitindo vagar para baixo em direção ao zíper de seu jeans, sabendo que eu encontraria seu pau se esticando contra o material grosso, implorando para ir até ele, cair de joelhos e chupá-lo profundamente. Sim. Olhos para cima. Eu precisava de lugares seguros para olhar. Como sua mandíbula. Havia barba lá, equivalente a uns bons três dias. Ele rasparia a parte interna das minhas coxas, deixando a barba queimar na pele sedosa por dias depois enquanto ele se movia para dentro, para encontrar meu clitóris e sugando-o com força, como ele sabia que eu gostava. Porcaria. Ok. ~ 286 ~


A mandíbula não era, com toda a certeza, um lugar seguro. Ponta da orelha, então. Sim, isso era tão inofensivo quanto você podia conseguir. Exceto, que eu sabia por experiência, que ele ronronava e afundava seus dedos na minha bunda quando eu traçava aquele ponto com minha língua, quando o beliscava com meus dentes. A orelha estava fora também, então. O que sobrava? O cabelo dele? Sim, não. Eu gostava de como seu cabelo ficava, com seu rosto enterrado entre as minhas coxas enquanto ele me devorava com a língua e me penetrava com os dedos. E eu gostava de como era a sensação de seu cabelo entre meus dedos quando ele estava enterrado dentro de mim, me montando forte e ferozmente. — Daya, — ele rosnou. Ele sempre rosnava assim. Ele nunca disse isso em um tom normal, era sempre naquele profundo estrondo primitivo e sexy que fazia minhas entranhas se transformarem em mingau, fazendo todas as minhas defesas desmoronarem. — Você não deveria estar aqui, — eu me forcei a dizer, sabendo que era inútil, mas tentando colocar algum tipo de defesa. Eu precisava parar de ser tão fraca. Eu precisava parar de ceder a ele. Não havia nada de errado com uma boa aventura com um homem. Mas Luce não era um homem qualquer. Luce era uma vigilante. Ele era o vigilante.

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Ele eliminava a escória da terra. E então ele vinha para mim, pau duro, corpo faminto, cheiro de sangue e morte e necessidade primordial. Mas eu disse a ele enquanto rebolava de volta para a minha calcinha no beco ao lado do meu prédio de apartamento, que aquela última vez era, na verdade, a última vez. Eu não podia continuar fazendo isso, não podia continuar vindo16 (literal e metaforicamente) quando ele dobrava o dedo. Eu precisava encontrar alguma força de vontade. Eu precisava que ele respeitasse meus - reconhecidamente muito vacilantes, quase nunca em pé – limites. Era errado. Mulheres normais não ficavam excitadas por homens que apareciam com o sangue de alguém ainda debaixo das unhas, cheirando a fumaça de fogueiras de corpos carbonizados. O que estava errado comigo? Mas então ele se moveu para dentro, estendendo a mão atrás dele para trancar a fechadura da porta e virar a placa para fechado. Ainda tinha três horas até fechar. É verdade que era uma noite de quartafeira, em novembro, e que significava que provavelmente estaríamos sem clientes até o fechamento, e que eu estava essencialmente sendo paga apenas para sentar e escrever, mas regras eram regras. A Creamery deveria estar aberta até as dez. Entretanto, se havia alguma coisa que eu tinha aprendido do meu tempo com Luce, era que ele sempre me fazia, de algum jeito, pensar que era uma boa ideia jogar as regras pela janela. Ainda assim, me movi para trás do balcão, limpando a superfície com um pano que eu tinha deixado ali, apesar de estar tão limpo quanto tinha estado quando o limpei cinco minutos atrás.

16 Foi usado o verbo ‘come’, que significa vir e gozar.

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Eu tinha a sensação de que ele não estaria tão limpo dentro de alguns minutos. — Luce, — eu disse, querendo que isso saísse firme, mas ouvindo apenas uma necessidade ofegante na minha própria voz. — Sim, é isso que você vai estar gritando em um minuto. Curvese sobre este balcão, — ele exigiu, espreitando para os lados, onde uma pequena porta ‘apenas funcionários’ estava situada, ignorando-a e entrando atrás do balcão comigo. Todo o ar pareceu sair voando dos meus pulmões quando ele veio até mim, fazendo-me inclinar a cabeça para manter contato visual. Uma gota de água deslizou por uma mecha de seu cabelo escuro e caiu livremente até encontrar um lugar. Sob o colarinho da minha camisa. Entre meus seios. Um arrepio percorreu meu sistema, fazendo seus olhos aquecerem ainda mais. Eu juraria que o sorvete nos freezers ao nosso lado começou a derreter. — Eu não tenho paciência para jogos, Daya, — ele disse, as mãos indo para os meus quadris, afundando na suavidade com força, virando-me, em seguida, empurrando-me para baixo sobre o balcão, minha bunda levantada para o ar. Eu podia sentir seu corpo ensopado pressionado atrás de mim, molhando a parte de trás das minhas coxas. Eu não deveria ter gostado disso. Quando ele entrava e exigia coisas, quando me empurrava para as posições que ele queria. Eu mal o conhecia. Eu nem sabia seu nome completo. Eu nunca o tinha visto a luz do dia. Ele só falava comigo diretamente antes e enquanto me fodia.

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Então ele fechava o zíper e saía. Eu deveria ter me sentido usada, enojada comigo mesma, alguma coisa. Mas tudo o que sentia era excitação. Suas mãos deixaram meus quadris, agarrando o cós do meu jeans e calcinha, e dando um puxão com força para baixo, o material raspando minha pele porque, aparentemente, Luce não tinha tempo para se atrapalhar com botões ou zíperes. Exceto o seu próprio. Quando ele libertava o seu pau esticado. — Bunda para cima! — ele exigiu quando meus quadris caíram um pouco. Um tapa pousou forte na minha nádega direita, o som ricocheteando nas paredes da pequena loja, a dor irradiando através de mim e fazendo outra pontada de desejo perfurar meu núcleo. Eu senti seu pau deslizar contra o local que provavelmente estava um vermelho brilhante de sua mão, deixando uma trilha molhada de pré-sêmen me marcando. — Você quer meu pau, Daya? — ele perguntou e seus dedos deslizaram entre as minhas coxas para acariciar minha boceta molhada, para encontrar meu clitóris e tocar seus dedos contra ele. Esta era mesmo uma complicada, complicada pergunta. Em um nível básico, animalesco e primitivo, eu queria seu pau? Mais do que queria minha próxima respiração. Minha boceta estava tão apertada que estava dolorida, tão molhada que senti deslizar pelas minhas coxas quando seu dedo começou a trabalhar em mim. Cada centímetro da minha pele parecia pronto para o seu toque. Cada pensamento na minha cabeça estava focado em todas as vezes anteriores que ele havia tomado meu desejo devasso e me dado orgasmos destruidores-de-mundos. Mas em um nível racional, lógico e inteligente, eu queria seu pau? Cristo. Sim. Sim, eu queria.

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Qual era o propósito em lutar? Não havia nenhum. Eu soube disso quando dois de seus dedos me invadiram, rápidos e implacáveis. Golpes, círculos e batidinhas contra a parede superior para pressionar no meu ponto G. Ele sabia exatamente o que eu queria, o que eu precisava. Um de seus dedos deixou minha boceta, deslizando para minha bunda enquanto os golpes se tornavam mais fortes, mais rápidos. Ele sabia exatamente o que tinha que fazer para me fazer esquecer que eu estava no trabalho, que havia câmeras, que as janelas para a rua eram de vidro e qualquer um podia olhar para dentro e me ver nua da cintura para baixo tendo minha boceta e bunda penetradas por um dedo, por um homem molhado não só com chuva, mas com sangue. — Porra, diga Daya, — ele exigiu, seu pau apunhalando contra a minha coxa, tão perto de onde eu realmente precisava dele. Não havia como eu não dizer. — Eu quero o seu pau, Luce, — eu choraminguei. Isso era o que ele precisava. Ele tinha que ouvir. Seu dedo deslizou para fora da minha boceta para se juntar ao outro dedo. Seu pau se deslocou. E ele bateu dentro de mim em um impulso forte, profundo e denso, esticando minhas paredes ao redor dele, fazendo-me quase dolorosamente ciente que ninguém mais podia me preencher tão completamente. Sua mão livre trilhou para cima das minhas costas, remexendo dentro do cabelo na base do meu crânio e afundando nele, mas descendo pelos fios, sabendo que doía mais afastando-se da raiz, sabendo que eu me excitava com aquela dor. Então ele se enrolou. E

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deu um puxão. Forte. Violento. Fazendo a parte de cima do meu corpo se levantar do balcão quando ele começou a me foder. Não havia um osso delicado em seu corpo. Ele fodia como ele vivia. Rude. Brutal. Sujo. Sem quaisquer limites. Seu pau bateu contra minha boceta enquanto seus dedos ainda na minha bunda, pressionando para baixo contra a parede da minha boceta, fazendo uma pressão quase intolerável, prometendo outro orgasmo que, como ele disse, me faria gritar seu nome. Eu sempre gritava. — Você pode fingir que não quer isso o quanto quiser, — ele rosnou, o ritmo ficando de alguma forma ainda mais rápido, mas como isso era sequer possível, estava além de mim. — Mas meu pau está nadando em sua boceta apertada agora, Daya. Você sempre quer o meu pau. Ele estava certo, eu queria. Por que eu lutava contra isso? — Isso mesmo, — ele rosnou quando minhas paredes se apertaram ao redor dele. Seus dedos começaram a pulsar para baixo e seu pau se tornou ainda mais impiedoso, sem dar ao orgasmo um segundo sequer para refluir, levando-me para cima mais forte, mais rápido, até que não havia como pará-lo. O orgasmo bateu através do meu sistema violentamente, fazendo seu nome um grito de entre os meus lábios enquanto minha boceta se fechava forte em volta dele, mais e mais. — Porra, aperte meu pau, — ele rosnou, empurrando através do meu orgasmo até as ondas finalmente pararem, fazendo todo o meu corpo parecer fluido. Então ele enterrou fundo e gozou com meu nome em seus lábios. Não durava. Não havia aconchego, nem palavras de amor, nem palavras doces. ~ 292 ~


Nem nada. Eu gozava. Ele gozava. Ele puxou para fora, fechou o zíper, apertou minha bunda e saiu pelos fundos. Levou-me um tempo quase embaraçosamente longo para me lembrar onde eu estava, que minha bunda estava de fora, que as janelas existiam. Peguei minha calcinha, puxando-a para cima e me debatendo com o botão e zíper do meu jeans antes de puxá-lo para cima e fechá-lo de volta no lugar. Quando eu me encostei na parede, respirando fundo, lembrei porque sempre tentava lutar contra isso. Porque sempre era assim que terminava, deixando-me satisfeita, mas vazia, renegando meu vigilante. Você sabe... até a próxima vez.

~ 293 ~


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