POP 04 - Música & Tecnologia

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vembro Nº 04 . No

,90 2009 R$ 14

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velhas virgens a geração iPod a febre tecnobrega o revival do vinil cérebro eletrônico os seminovos

música

mutante

A decadência do mercado fonográfico: agonia de uns, alegria de outros.

exclusivo!

llo João Marce ando o Bôscoli tram mos do futuro e os ru sical. mercado mu


________ editorial Deus criou a música. E o diabo (que é o pai do rock) criou a internet! Certamente esse é o raciocínio daqueles que se beneficiavam do antigo modelo da indústria fonográfica, na era A.D. (antes do digital). Já a imensa maioria dos consumidores de música e alguns de seus produtores, pensam justamente o contrário; já que a internet e seu modelo anárquico-democrático de distribuição de informações providenciou lugares na primeira fila para quem quiser assistir o grande circo musical mundial. Ouvimos gente que trabalha com produção, ouvimos artistas e músicos, ouvimos fãs e consumidores de música digital, ouvimos gente que trabalha pela regulamentação e quem defende o livre acesso, ouvimos gente e ouvimos música. Há quem tente regulamentar, há quem viva para achar um meio de burlar essa regulamentação. Há quem ouça, quem produza e quem ganhe dinheiro com isso. Há música tocando em celulares, iPods e em fones de ouvidos ao redor do mundo. É sempre música. E isso é o mais importante. Elaine Gomes

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NAPOP04... 04 GARIMPO As últimas novidades sobre as novas tecnologias.

14 CAPA Na trilha da música digital: vivemos a revolução?

38 FESTA COMPLETA Com o Móveis Coloniais de Acaju a ordem é não parar!

08 A GERAÇÃO iPod Eles baixam MP3 e não enxergam nenhum problema nisto.

22 VISIONÁRIO João Marcello Bôscoli fala sobre a Trama Virtual e suas novas ideias.

40 VELHAS VIRGENS Brincando com o estereótipo de “machos-alfa”, a trupe conquista fãs.

10 ESPAÇO DEMARCADO O Myspace se consolida como novo celeiro de novidades.

28 ADVOGADO DE DEFESA? Nehemias Gueiros Jr. aponta o dedo na cara do mainstream.

42 OS SEMINOVOS Gorillaz tupiniquim? Conheça a mais nova banda-cartoon da internet.

12 FAÇA UMA POSE! O Youtube e as novas celebridades.

32 SINFONIA ROBÓTICA Uma nova forma de criar música.

44 TECNOBREGAS A mania que veio do Pará.


________ POP embro 2009

Nº 04 . Nov

CONSELHO EDITORIAL José Alves Trigo Eduardo Rocha EDITORA-CHEFE Elaine Gomes DIRETOR DE ARTE Alex Oliveira FOTOS Equipe de reportagem Divulgação ILUSTRAÇÃO (Capa) Sandra Pio REPÓRTERES Ariane Mazza Vinicius Gonçalves REVISÃO Elaine Gomes Claudia Urbaniski DIRETOR COMERCIAL Caio Cassinelli

JR

46 REVOLUÇÕES POR MINUTO Como o Radiohead e o Arctic Monkeys revolucionaram a música.

56 O LADO B Reativaram a única fábrica de vinil do país – e o hype continua!

48 ATÉ PARECEM MODERNOS Os cabeças do Cérebro Eletrônico falam sobre a nova indústria musical.

58 EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO? Conheça a mídia SMD, criada pelo sertanejo empreendedor Ralph.

52 ZÉ RODRIX As últimas notas de um grande músico.

60 GUIA Confira os últimos lançamentos musicais comentados.

54 SEJA UM BEATLE! Encarne o Fab Four nos games!

63 OPINIÃO Uma carta para o senador Azeredo.

POP Uma publicação da JR Comunicações Ltda. Redação: Rua Dom Teodosio, 444 São Paulo - 2996 6694 PARA ASSINAR revistapop@terra.com.br

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comunicações


GARIMPO

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lily allen contra o MP3 Quem diria... A cantora Lily Allen é contra o download ilegal de arquivos na internet. Eis o passado da moça: em 2005 no auge do myspace, a inglesinha soltou algumas canções no site e, ao lado do Arctic Monkeys, tornou-se um dos primeiros grandes sucessos 2.0. Agora alavancada de musa dos internautas à popstar, ela dispara (contraditória) no seu blog: “A troca de arquivos online é legal porque é uma forma de uma nova geração de fãs nos conhecer’. Isso é ótimo se você é um artista estabelecido, no fim de sua carreira, com um monte de discos para atrair um novo público; artistas que estão começando não têm esse luxo.” Lily, porém, não sai em defesa das gravadoras: “Falando assim, parece que eu estou ficando do lado dos donos das gravadoras. Não estou. Eles foram ingênuos e complacentes com a nova tecnologia - e gastaram todo o dinheiro que ganharam, em seus gordos salários; não com desenvolvimento da indústria. Mas à medida em que eles perdem muito dinheiro para a pirataria, eles não vão cortar os próprios salários - eles param de investir em direção artística. O texto foi uma resposta a um artigo publicado no jornal britânico Times, em que integrantes de bandas como Radiohead, Pink Floyd e Blur (reunidos sob a sigla Featured Artists Coalition) declararam-se contra o projeto de lei que visa instaurar, no Reino Unido, um projeto parecido ao que Nicolas Sarkozy apresentou na França, onde aquele que baixar música ilegalmente pela internet poderá ser banido da rede caso reincida na prática. Para os fãs, a palavra é uma só: ingratidão. ALEX OLIVEIRA

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_______ O Líder do grupo Mundo Livre S/A e as gravadoras

Marcelo Fróes é produtor cultural, publisher do tablóide musical International Magazine há 15 anos e dono do selo Discobertas, que já lançou CDs de Zé Ramalho e Renato Russo, dentre outros. Foi responsável pelas reedições de discografias importantes - como Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Nara Leão, Vinicius de Moraes, Mutantes, Raimundo Fagner e Roberto Carlos. Ele falou, com exclusividade, para a POP sobre o mercado de vinil: “O vinil nunca foi embora. Simplesmente virou uma coisa cool para os brasileiros – fãs e colecionadores. Hoje é cool o cara ter um tocadiscos e alguns vinis na sala, para tirar onda. Lá fora, principalmente na Inglaterra, todos os produtos de Paul McCartney, U2 ou Oasis, por exemplo, sempre saíram e continuam saindo em vinil. Alguns artistas brasileiros fizeram tiragens de seus discos em vinil, mais como uma onda promocional, como Ed Motta, Maria Rita, Los Hermandos e Nando Reis, dentre outros. Mas efetivamente não tem como voltar a ser produto de massa” ELAINE GOMES

A cantora Shakira sobre o download ilegal

Zero quatro, líder do grupo pernambucano Mundo Livre S/A, está com saudade das gravadoras. Numa entrevista recente para o portal UOL, o vocalista da banda que é a principal expoente do movimento mangue-beat, soltou o verbo.“Percebo que, a despeito de toda a questão do acesso democrático e da maior visibilidade que chegaram com a internet, um fato inegável é que a web tem desestruturado quase todas as cadeias que se envolvem com a digitalização, do jornalismo à música. Hoje é moda celebrar a web, dizendo que finalmente nos livramos dos malas da indústria fonográfica. Se o mangue beat tivesse surgido num ambiente parecido com o que rola hoje, com gravadoras em crise, talvez o mangue beat tivesse se limitado a uma ou duas comunidades de Orkut, uma coisa de gueto. A Sony foi a Recife, contratou o Chico Science e bancou o primeiro clipe da banda, que rodou direto na MTV. Finalmente a indústria olhava para nós. E teve um efeito multiplicador forte. As pessoas esquecem isso. Hoje há uma situação sem indústria, sem cadeia produtiva. Está se instalando uma religião da tecnologia, um fundamentalismo tecnológico. Fala-se muito em economia sustentável, mas na cultura não existe consumo sustentável”. AO

curtas e certeiras Para inglês ouvir: o Spotify é a nova sensação na Europa. Criado por suecos, o serviço é uma espécie de rádio com um enorme acervo de músicas “on demand”, resumindo: clicou e escutou. Por 9,90 euros por mês, os usuários tem acesso a mais de 6 milhões de músicas. O modelo da empresa agradou a indústria fonográfica, que liberou um enorme acervo para o aplicativo. O Zune, MP3 player da Microsoft, bolou uma campanha com Chris Plasse, o nerd de Superbad, para viver Densel Washigton em Dia de Treinamento. O curta é divertidíssimo! Já imaginou o Kurt Cobain bancando o Bon Jovi? Johnny Cash cantando “Ring of Fire” no programa do Gugu? Pois são estes deleites surreais que o Guitar Hero 5 proporciona. Os fãs, claro, torceram o nariz. AO

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Fróes:O retorno do vinil é coisa de gente cool!

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curtas

“Eu gosto disso porque me sinto próxima dos meus fãs e de pessoas que gostam de música. É uma forma de democratizar a música. E a música é uma dádiva”


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q

do it yourself! Beaterator vai além do jogo e mira na produção musical.

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Jogos como Guitar Hero e Rock Band proporcionaram aos jogadores a experiência de interação com a música através dos instrumentos. Os fãs pediram mais. Beaterator vai além e proporciona aos jogadores uma experiência completa: você produz sua própria música. Desenvolvido pela RockStar, em parceria com o produtor-estrela Timbaland, o título foi lançado em 29 de setembro nos Estados Unidos para o Sony PSP. Mais barato que os programas profissionais de criação de músicas (nos EUA sai por US$40), Beaterator é uma ferramenta completa de criação e edição, desenvolvida para que os fãs de música componham por meio de uma interface já conhecida: a de games. “Eu queria que as pessoas tivessem a sensação de também criar um beat – saber que todo mundo consegue”-, diz Timbaland, sobre o que motivou para a participação no jogo. O produtor forneceu mais de três mil beats, sons e loops para a brincadeira. As músicas produzidas pelos jogadores podem ser exportadas e disponibilizadas na internet.Beaterator eleva o patamar dos games musicais, ao mesmo tempo que sacode a indústria – afinal produzir música é como jogar videogame? “Duas músicas do meu novo disco foram feitas no Beaterator!” Timbaland dá a resposta. ALEX OLIVEIRA

Marvin Gaye, David Bowie, Gwen Stefani, Cypress Hill, Billy Squier e Beastie Boys... eis alguns dos nomes que irão figurar na “versão pickup” de Guitar Hero. Saem as guitarras quebradas e entram os músicos do futuro: DJ Hero é o lançamento da Activision para todos os consoles de última geração, onde brincar de bancar o DJ é o chamariz. Um apetrecho que simula uma pickup (aquelas mesas cheia de botões onde os DJS fazem suas mixagens) acompanhará o pacote. A expectativa dos jogadores pelo game só aumentou depois que foi anunciado que a dupla francesa Daft Punk faria parte do game. O jogo já está nas lojas.

vinil rules!

Nos EUA, o vinil cresceu 37% em 2007 Em 2008, o aumento foi de 128% No primeiro semestre de 2009, mais 50%

“Eu vou praticar e depois desafiá-los. Mas eu estava nas gravações originais, não tenho que me qualificar!” Paul McCartney quando questionado se já jogou “Beatles Rock Band.”


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mashup supremo Conheça Kutiman e o primeiro álbum exclusivo do youtube Imagine um indivíduo em frente ao computador - por horas a fio - pesquisando ritmos e estilos, entre vídeo-aulas de diversos instrumentos e momentos solitários de inúmeros músicos do youtube. Imagine um produtor musical juntando todos esses achados da internet, no youtube, e criando músicas com toda essa galera; como um mashup supremo. Depois do Kutiman... o youtube (e consequentemente a música) nunca mais serão os mesmos.Kutiman é um músico e produtor israelense que após lançar um disco em 2007 pelo selo alemão, ‘Melting Pop Music’, descobriu as vídeo-aulas no youtube, do baterista Bernard Purdie. No início ele queria tocar em cima das levadas do Purdie, mas acabou percebendo que poderia encontrar outros músicos, também na internet. Foram meses de pesquisa entre centenas de vídeos, que acabaram reduzidos à apenas 100. Todos os selecionados pelo produtor, estão devidamente identificados pelos perfis no youtube. E como se não bastasse fazer uma única faixa utilizando essa técnica de colagem, o cara lançou o primeiro disco exclusivo do youtube, com sete faixas sensacionais, mesclando diversos vídeos encontrados na rede social. Eis o mais revolucionário lançamento do ano. Numa tacada, e meio sem querer, o cara discute o compartilhamento de arquivos, direito autoral etc... Não deixe de baixar e ver todos os vídeos. http://tiny.cc/QHhJd

“Barrar os arquivos? Esquece, não há o que fazer, aliás é uma tremenda estupidez conter o avanço da internet.” Romulo Fróes

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A cada dia aumenta o número de downloads e reprodução de música online entre adolescentes do mundo todo, eles são...

a geração iPod


_______ A Esses são os jovens da geração Y. Eles são talentosos, descompromissados e têm muita vontade de trabalhar, mas não querem, de maneira nenhuma, que isso interfira em suas vidas e vivem conectados, além de estarem sempre com um fone de ouvido. Pelo excesso de dinamismo é muito difícil prender sua atenção. Se aborrecem com facilidade e são cheios de opiniões. É difícil convencer um jovem da geração Y a fazer algo que vá contra suas idéias. Eles são os filhos da Geração X, as pessoas conservadoras, altruístas, que fazem tudo como manda o figurino e têm medo de arriscar. É justamente das pessoas que não têm medo do amanhã que estamos falando, aquelas que consideram que a tecnologia vem acima de tudo e que um download não faz mal a ninguém. Muito pelo contrário.

O LANCE É MÚSICA PORTÁTIL! De uns anos para cá, a garotada tomou gosto pelo MP3. Muito mais prático e acessível, pode ser ouvido em qualquer lugar, a qualquer hora e de uma forma muito discreta nos iPods, MP4 e celulares. Já música em no formato WMA, comum em CDs, não pode ser reproduzida em muitos desses aparelhos portáteis. E quem consegue se manter discreto com o diskman em mãos? Em apenas 10 minutos, você pode ter a musica que quiser, onde quiser e na hora que quiser, apertando apenas um botão. Com o avanço do MP3 na sociedade atual, surgiram muitos programas de compartilhamento de música, como LimeWire, SoulSeek, E-mule, Kaaza entre outros. Houve também a disseminação de site e blogs que disponibilizam músicas para download, além das comunidades em redes sociais, como a já falecida Discografias, que foi excluída

“Se você for na minha casa vai ver que tem um monte de CDs na estante. Pode apostar que são todos dos meus pais. Não é prático!” justamente pela questão dos direitos autorais. Um estudo realizado pelo MPD Group, em 2008, diz que 52% dos jovens entre 13 e 17 anos preferem ouvir rádios online a fazer downloads. Muitos desses jovens alegam medo de represália dos pais pelo download ilegal, outros alegam o medo de infectar seus computadores com vírus ou baixar por engano um spyware. Mesmo com essa mudança na tendência do mercado de downloads, esse número ainda é alto entre os jovens de 18 a 25 anos. Cerca de 60 % deles fazem download com frequência e dizem que graças à ferramenta conseguiram ampliar o horizonte musical, dando chance a bandas antes pouco conhecidas. Do total, apenas 20% dizem que, se eles gostam realmente da banda/artista compram o CD. Mas fazem o download mesmo assim. “O CD é só pra dizer que tem, é muito difícil ouvir direto dele”, diz Helder Jacomo (17), apaixonado por música POP. Hoje em dia o CD é considerado por muitos, como coisa de gente velha.“Se você for na minha casa vai ver que tem um monte de CDs na estante. Pode apostar que são todos dos meus pais”. É muito mais prático e barato procurar aquele álbum em um site de busca qualquer, do que ir à uma loja. Dizem por ai que o CD é o novo vinil, vai se tornar coisa rara e adorado apenas por colecionadores. O fato é que os jovens de hoje têm pouca tolerância com o antigo, mesmo que ainda faça parte da sua realidade. Quanto mais moderno o reprodutor de MP3 de um jovem, maior é a probabilidade de ele ser aceito no grupo dos ‘ban ban bans’. E quando o assunto é pagar pela música começa outra choradeira. Alguém aqui gosta de pagar por um disco de alumínio que toca exatamente a mesma coisa que o MP3? O download já faz parte da cultura desses adolescentes e querer mudar isso agora não vai ser uma tarefa fácil para ninguém. ARIANE MAZZA

q Os álbuns que têm o maior número de downloads anuais são as trilhas sonoras de novelas globais, seguidos por indie rock, black e rock clássico. Só no Brasil já foram vendidos mais de 6,9 milhões de ipods. E esse numero só tende a aumentar. As rádios online mais populares do país: Rádio UOL, Rádio Terra, Rádios Online, Rádio Oi, Rádios, RádiosBr, Globo Rádio, Tudo Rádio e Portal Rádios.

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forte presença da música é claramente observada no nosso cotidiano com a constante presença dos fones de ouvidos em lugares públicos como ônibus, metrô, calçadas e praças. É possível ver grupinhos conversando animadamente mas, mesmo assim, cada um com o seu fone, sempre mantendo a distância do mundo real, ou conservando um certo excesso de individualidade.


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espaço

demarcado

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Cada vez mais popular, o MySpace abre espaço para quem quer ser músico e não sabe por onde começar

ILUSTRAÇÃO - DEVIANTART


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uem nunca ouviu falar do MySpace? A rede social, que é quase como orkut e afins, disponibiliza uma rede interativa de fotos, blogs e perfis de usuários. O grande diferencial da ferramenta é capacidade de hospedar conteúdos em MP3. O site foi criado em 2003 e é a rede social número um do mundo, com mais de 110 milhões de usuários. Por ser um site ativo - novos recursos são adicionados com freqüência -, o MySpace recebe novos membros todos os dias. Os perfis possuem duas seções comuns, ‘Sobre mim’ e ‘Quem eu gostaria de encontrar’. Contém também as seções ‘Interesses’ e ‘Detalhes’, e um espaço com emoticons engraçadinhos onde você define seu humor. A página possui, ainda, um blog e um espaço destinado para o download de fotos, no qual você escolhe uma delas para ser a padrão - foto mostrada na página inicial. Vídeos também podem ser baixados no perfil. Através de uma customização por Código HTML, é possivel deixar o perfil com a cara do usuário. As músicas são adicionada através do Música MySpace, serviço que convida as bandas a postarem seus trabalhos.

como Britney Spears e Madonna também têm seu perfil por lá. Por ser muito popular, é povoado por músicos, muitos atores, diretores de cinema, apresentadores, modelos e empresas, que têm o próprio perfil no site. Toda popularidade também contribui para o aumento dos fakes, ou falsos perfis, como é comum em todas as redes de páginas pessoais. O serviço está apagando esses perfis aos poucos. É verdade que o MySpace está descobrindo grandes nomes no mundo musical e não há como falar de todos eles, mas vamos falar da primeira grande revelação, a banda Arctic Monkeys.

DESCOBRINDO TALENTOS Com três álbuns lançados, a banda britânica Arctic Monkeys, formada por Alex Turner (guitarra e vocal), Jamie Cook (guitarra), Nick O’Malley (baixo) e Matthew Helders (bateria e vocal de apoio), iniciou seus trabalhos em 2002 na cidade de Sheffield. Inicialmente, com o nome Big Bang, eles faziam cover do Led Zepplin. Quando Alex descobriu que sabia fazer músicas, eles mudaram o nome da

banda para Arctic Monkeys e gravaram uma fita demo. Em 2003 começaram a fazer shows pela Inglaterra e as fitas demo não supriam as necessidades dos fãs, por isso, sem que os membros da banda soubessem, foi criado um perfil no MySpace onde eram disponibilizadas todas as músicas da demo. O sucesso foi tão grande que não demorou muito para que o Arctic Monkeys passasse a ser conhecido no mundo todo. Em 2004 a popularidade dos garotos chamou a atenção da imprensa britânica. Foi quando Mark Bull, um fotógrafo amador, filmou toda a apresentação da banda e fez o videoclipe da música Fake Tales Of San Francisco e lançou em seu site. A partir daí, tudo são flores para os meninos do Arctic Monkeys. O Brasil também teve a sua revelação pelo MySpace, trata-se de Mallu Magalhães. Com apenas 15 anos, a adolecente gravou quatro músicas de sua autoria e postou no site. Logo depois da publicação, duas músicas da pequena cantora foram usadas em comerciais de grandes empresas. Agora, Mallu está na turnê do seu primeiro álbum. ARIANE MAZZA

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TODOS QUEREM SEU ESPAÇO em setembro de 2007 e já tem uma versão em português. Não é tão popular quanto nos Estados Unidos, mas muitos artistas nacionais, como Ivete Sangalo e Pitty, utilizam a ferramenta. Muitas bandas e músicos utilizam o MySpace como uma forma de divulgação, muitas vezes transformando seu perfil em site oficial. Mas a ferramenta não é usada apenas por aspirantes a músicos. Celebridades

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No Brasil, o serviço iniciou atividades


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faça

uma pose!


________ A CELEBRIDADES INSTANTÂNEAS Para disponibilizar conteúdos, o YouTube utiliza o formato Adobe Flash e hoje é o mais popular site do tipo, com mais de 50% do mercado. Hospedando uma imensa quantidade de filmes, videoclipes e materiais caseiros, o YouTube foi eleito em novembro de 2006, a invenção do ano pela revista norte-americana Times. Toda essa tecnologia ajudou a criar as celebridades instantaneas. A teoria dos 15 minutos de fama, ditada por Andy Warhol e cantada pelos Titãs no disco A Melhor Banda Dos Ultimos Tempos da Última Semana, nunca esteve tão evidente. A maior das provas vivas desses minutinhos de fama é a cantora escocesa Susan Boyle, que conquistou o mundo cantando I Dreamed a Dream, de Les Miserables, no famoso programa de caça talentos Britain’s Got Talent. Ela conseguiu transcender a fama do YouTube e já estão falando até em um filme contando sua vida. Outro grande exemplo é a musa do Piaúi Stephany, quem fez fama com o videoclipe Eu sou Stephany. Com apenas 17 anos, a forrozeira ganhou notoriedade depois de postar no YouTube o clipe caseiro, onde joga os cabelos, toma banho de espuma e faz uma coreografia sexy no maior

Nascem novas estrelas Todos os dias surgem no Youtube, novos aspirantes a Madonnas e Michael Jacksons. A POP selecionou os mais engraçados! Conexão Davis

André Arteiro “Antes que eu me queime”

Eduardo Magnavita “Mulherengo”

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A principio é um programa de entrevistas feito exclusivamente para o YouTube, mas em cada programa Davis Maneghel aparece cantando uma paródia diferente, sempre chamando as pessoas a assistirem o Conexão. Quase uma Xuxa. http://tiny.cc/EMMe4

Em seu perfil no YouTube, André Arteiro se intitula como O Novo Rei Do Pop. A música é uma versão bizarra de IF U Seek Amy, de Britney Spears e já obteve mais de 20 mil acessos. Vale conferir os comentários dos internautas. Hilário! http://tiny.cc/yHxNC

A maior das provas vivas desses minutinhos de fama é a cantora escocesa Susan Boyle, que conquistou o mundo cantando num programa inglês estilo Beyonce, tudo para provar que é “linda e absoluta”. A musa absoluta já tem pelo menos seis vídeos fazendo sucesso no YouTube e está preparando o videoclipe de Fumaça, primeiro rap que fala sobre o conteúdo do narguile. Não foram apenas os anônimos

A versão divertida da música Womanizer de Britney Spears. Com mais de 60 mil acessos, a música é do tipo que gruda na cabeça. E para quem quiser se deliciar cantando com Eduardo, na descrição do vídeo tem a letra toda. http://tiny.cc/mN5ea

que caíram nas graças do YouTube. Madonna esteve recentemente envolvida no caso Warner, que exigiu que o Goggle deletasse do site todos os clipes da estrela. Até a diva Pop já está percebendo o poder do site e dando o ar da graça por lá.Uma atuação no programa americando Saturday Night Live marcou o reecontro de Madonna com o YouTube. Na atração, a cantora troca puxões de cabelos e ofensas bobinhas com a também cantora Lady Gaga. No final, ela fazem as pazes com um beijo. O vídeo tornou-se um dos principais hits do YouTube. Assim, parece que Madonna e a Warner perceberam que não adianta gastar milhões de dólares na execução de um vídeoclipe e privar seus espectadores dele. O que dá lucro mesmo é o popular. O que vale mais no mundo virtual é a criatividade e o entusiasmo de quem faz. Quanto mais cômico e inusitado melhor. Os efeitos especiais milionários a gente deixa para a televisão e cinema. ARIANE MAZZA

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proposta é simples: o YouTube é um site que permite que seus usuários carreguem e compartilhem vídeos no formato digital. Quando foi desenvolvido por Chad Hurley, Steve Chen e Jared Karim em 2005, ninguém conseguia imaginar o sucesso que o site alcançaria. Em 2006 o YouTube formou aliança com o Google por US$ 1,65 bi em ações.


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na trilha da música digital A evolução do hábito de ouvir, produzir e compartilhar música, enquanto o mercado fonográfico tradicional agoniza - para desespero de poucos e alegria de muitos

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texto: elaine gomes ilustrações: sandra pio


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á três décadas levamos a música no bolso. Há uma ela corre solta pela rede mundial de computadores. Pode não parecer, mas é pouco tempo pra tanta mudança. A chegada da internet abalou, minou e implodiu o mercado fonográfico mundial que, deitado eternamente em berço esplêndido, achava que a festa jamais acabaria. Mas acabou. O berço balança hoje pelas mãos da demanda.

O esquema tradicional das majors era o de escolher o que vender e empurrar ouvido abaixo dos consumidores, pelas rádios. Eles produziam tendências e escolhiam (de acordo com critérios de uma subjetividade que jamais entenderemos) quem estaria nas paradas de sucesso, nas trilhas das novelas e de nossas vidas. Era uma música de qualidade tão baixa, que só quem viveu pra ver a Discoteca do Chacrinha nas tardes de sábado, é capaz de mensurar! O vinil nacional imperava. Na década de 1970 (a ditadura vigente na época, aqui no Brasil, é só uma desculpa pra essa forma engessada de trabalhar pouco e ganhar muito, que a indústria fonográfica cunhou) esperávamos muito pelo lançamento de um LP, que demorava a vir e quando era lançado, ainda corria o risco de ser tão mal produzido que não tinha encarte com letras, nem o invólucro plástico que deveria proteger o disco. Na década de 1980, o Brasil entrou na rota das turnês internacionais (que antes era um acontecimento mais que bissexto) e começamos a encontrar nas lojas, com mais facilidade, discos de bandas estrangeiras menos populares que Michael Jackson. Isso foi uma vitória a se

comemorar. E comemoramos! Nessa época havia opção das fitas cassete, que eram geralmente de péssima qualidade. Hoje, olhando pra trás, é fácil perceber como éramos mal servidos.

A música no fone de ouvido Oficialmente, o walkman surgiu em 21 de junho de 1979, no Japão (data e local de lançamento do anúncio da Sony apresentando seus primeiros modelos). Mas a música portátil já fazia história seis anos antes, e no Brasil. Andreas Pavel, um alemão morador de São Paulo, registrou aqui o stereobelt, um pequeno componente portátil para reprodução em alta fidelidade do som gravado. Com o anúncio da Sony, Pavel, como dono da idéia original, processou a empresa. Ganhou na Alemanha e perdeu nos EUA. Diz a lenda que, há alguns anos, ele pensava em procurar a Apple para receber royalties sobre as vendas do iPod, mas ele nega essa história. Uma pessoa com um fone de ouvido é a protagonista de sua própria trilha sonora, onde os sons do resto do mundo são mero pano de fundo. Se o mundo tivesse botão de volume, certamente estaria no mute. Ouvir música virou uma experiência individual, por princípio dos fones pendurados nos players. Mas ao mesmo tempo em que se isola, esse ouvinte está hiperconectado e em sintonia com o novo mundo digital. Dessa condição de isolamento, renasce a vontade de compartilhar uma música que encantou; e é nessa

circunstância que surgiram os sites de compartilhamento de faixas.

O começo do fim

Quando foi criado, o Napster (dorminhoco - que era o apelido de seu criador Shawn Fenning) tinha como grande aspiração a simples possibilidade de intercâmbio de músicas entre os computadores. Quando Fenning distribuiu o programa para os amigos, ele mudou a história da música e resgatou o aspecto social da rede. Se no início dos anos 1990, a internet apareceu como forma de facilitar a troca de informações, no final da década essa troca seria acelerada graças à popularização do MP3. O resto dessa história todo mundo conhece: em 1991 o Napster foi cancelado (depois de brigar muito, inclusive com a banda Metallica), mas “a semente do mal estava plantada”. Outros programas de compartilhamento de músicas estão aí, em pleno funcionamento. Uns mais visados, outros menos. Periodicamente alguns caem, outros aparecem, mudam de nome, mas mantêm o volume de downloads incrivelmente alto. Segundo a ABPD, em 2007 a venda de fonogramas digitais via internet no mundo, cresceu 40%, movimentando US$2.9 bilhões e alcançando 15% do mercado (isso, só considerando a venda de downloads, que é infinitamente menor que o volume dos baixados gratuitamente). Quem não tem um programa de download de música instalado em

Uma pessoa com um fone de ouvido é a protagonista de sua própria trilha sonora, onde os sons do resto do mundo são mero pano de fundo


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_______ l a it ig d o ã ç lu o v re a A década d 1999

Maio: Nascimento do sistema peerto-peer (p2p), que permite a troca de arquivos on-line. O principal deles, batizado de Napster, é lançado em maio e, em dezembro, processado pela RIAA (Recording Industry Association of America, entidade que representa os interesses das gravadoras americanas) por infringir direitos autorais.

2000

Abril: a banda Metallica entra com ações contra o Napster. No mesmo ano a cantora Madonna, que havia se reunido com os executivos da companhia para uma possível parceria, resolve processar a empresa.

2001

Outubro: um consórcio de estúdios de cinema e de gravadoras entra com ação contra as três maiores empresas que sucederam o Napster: Kazaa, Morpheus e Grokster.

2002

2003

Abril: corte federal dos EUA decide que Kazaa, Morpheus e Grokster não podem ser processados pelas infrações de direitos autorais cometidas pelos usuários. Setembro: a RIAA anuncia a primeira leva de ações contra indivíduos que trocavam arquivos em redes p2p.

2004

Fevereiro: Kazaa é processado civilmente por infração dos direitos autorais em uma corte australiana. Dezembro: a MPAA, associação dos estúdios de cinema norte-americanos, anuncia ações contra usuários do BitTorrent.

2005

Junho: a Suprema Corte dos EUA decide que os serviços de troca de arquivos podem se responsabilizados se eles encorajarem usuários a trocar arquivos protegidos por direitos autorais.

2006

2009

2007

Parlamento francês recua e rejeita lei antipirataria por infringir o direito do livre discurso e da presunção de inocência da Declaração dos Direitos Humanos

Fevereiro: Reino Unido abre a discussão sobre legalização de downloads. Governo Britânico relaxa leis de direitos autorais para que usuários domésticos não sejam processados.

Julho: Trama lança o sistema de download remunerado Outubro: Dona de casa norte americana Jammie Thomas é condenada a pagar US$222 mil por fazer download ilegal de músicas protegidas por direitos autorais.

Abril: Parlamento francês aprova lei antipirataria. Usuários pegos fazendo download ilegal poderão ser multados e proibidos de usar a internet.

Agosto: Inglaterra estuda punir download ilegal com restrição de acesso à web.

2008

Outubro: Comunidade Discografias do Orkut, com 755 mil participantes, é apagada por decisão judicial. Protesto de internautas reúne 20 mil assinaturas.

Fevereiro: surge o BitTorrent, tecnologia que divide o arquivo em diversas partes, tornando o download mais rápido.

seu computador que atire o primeiro cabo USB.

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Quero ver quem paga pra gente ficar assim O mercado fonográfico amarga suas más escolhas, sua falta de visão e o abismo que criou entre os produtores de música. De um lado, uma minoria de artistas fabricada pelas majors, reproduzida ad nauseam em programas de grande audiência na televisão e nas rádios e ocupando a maioria das prateleiras das lojas. De outro, milhões de músicos cada vez mais conhecidos pelo público, hoje disperso na internet, que buscam alternativas para viver da produção artística. Esses artistas também estavam mal servidos e não encontra-

vam o espaço que a internet ofereceu. O resultado do encontro dos consumidores de música, cansados de pagar caro pelas bandas que não escolheram; com os artistas que, não conseguiam ser gravados, era inevitável. A essa mistura, acrescentou-se uma rede mundial multiplicadora que acendeu o estopim da bomba que abalou cada estrutura de um modelo de negócio que demorou, mas naufragou. Tudo isso sem mencionar os preços praticados aqui. O Brasil é o 6º país onde o CD é mais caro. Se compararmos o preço de um CD vendido em Amsterdã- US$28,97, com o praticado aqui US$23,37 veremos que a diferença nem é assim tão grande. A grande diferença está no poder de compra do salário do brasileiro. Numa conta simplista (e triste), considerando

Outro enorme indicador do quão as coisas vão mal para a indústria tradicional é o fato de eles terem diminuído pela metade o patamar de vendas necessário para que determinado artista seja premiado com discos de ouro, platina e diamante


________ que o euro está cotado em R$2,54 e o salário mínimo holandês está fixado em 1.264,80 euros, qualquer trabalhador holandês com mais de 23 anos (já que o salário é determinado por faixa etária) recebe R$3.212,60 contra os nossos irrisórios R$465,00. Considerando o dólar a R$1,80, o CD holandês custa R$52,15, e o brasileiro R$42,06. A diferença é que se um holandês maluco quiser torrar seu salário em CDs, comprará 61 e ainda poderá comprar um par de tamancos com o troco. O brasileiro esvaziará o bolso e voltará pra casa com 11 CDs, e a pé, já que o troco não pagará a passagem de ônibus. Essa é a receita da pirataria. Seu combustível e a razão de existir.

A Associação Brasileira dos Produtores de Discos apontou que em 2002 foram vendidos 75 milhões de unidades de CDs no Brasil, contra míseros 31,1 milhões em 2007. De lá pra cá esses dados, curiosamente não foram atualizados. Outro enorme indicador do quão as coisas vão mal para a indústria tradicional é o fato de eles terem diminuído pela metade o patamar de vendas necessário para que determinado artista seja premiado com discos de ouro, platina e diamante. Segundo a ABPD, enquanto as vendas e o faturamento do setor fonográfico brasileiro caíram 17,2% e 31,2% respectivamente, em 2007, a música digital cresceu incríveis 185% no mesmo período. A movimentação do setor (considerando vendas pela internet e celulares) chegou a R$24,5 milhões, 8% do mercado de música no Brasil. Esse foi o primeiro dado referente ao mercado digital brasileiro divulgado pela associação. Em abril deste ano, o presidente da ABPD, Paulo Rosa, falou sobre esse indicador: “Consideramos o crescimento do mercado digital fundamental

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ABPD: nuvens negras, tempestades no céu


_______ para os negócios com música gravada, sendo necessário neste ano de 2008, o engajamento de nosso setor em discussões com os provedores de serviço de acesso à internet, para a busca de soluções visando a redução dos atuais níveis de pirataria online. Isto já vem acontecendo em vários países, com resultados concretos principalmente na França e Inglaterra”. Mas não é bem assim. É verdade que nos quatro cantos do mundo, se ensaiam medidas reguladoras para a prática de downloads gratuitos de música. A França fez alarde com sua lei punitiva, para em seguida voltar atrás, argumentando que ela feria a Carta dos Direitos Humanos. Sabidamente o motivo estava muito mais ligado à reação terrível que a lei despertou nos internautas (eleitores) franceses. A Inglaterra, sempre dirigindo na contramão, lançou há alguns anos, leis que afrouxavam a regulamentação dos downloads e hoje estuda uma forma de punir a prática.

o que pode e o que não pode

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Lojas online O que é: Lojas que vendem músicas digitais na web ou no celular Como funciona: No Brasil, o DRM (gerenciamento de direitos digitais) impede o usuário de colocar a música direto no iPod. Para fazer isso, o comprador deve baixar o arquivo digital, copiá-lo para um CD, converter para MP3 e só então colocar no iPodLojas de celular permitem copiar a mesma música no computador ou no telefone Quanto custa: O preço das faixas no Brasil está entre R$0,99 e R$4,00 Exemplos: iMúsica e Sonora, além das lojas de downloads das operadoras de celular Streaming Legal O que é: Sites que tocam músicas direto da internet, sem baixá-las para o computador. Como funciona: São como rádios online que permitem montar a progra-

mação Alguns endereços chegam a cobrar pela execução das faixas Quanto custa: A mensalidade do site Last.fm custa U$3,00 Exemplos: Last.fm, Sonora e MySpace Music Rádio Online O que é: Emissoras de rádio convencionais costumam transmitir a programação pela internet; também há rádios que funcionam somente pela web Como funciona:No site das rádios há um “tocador” para ouvir a transmissão Programas como o Winamp e o iTunes têm repositórios de links para ouvir rádios online Quanto custa: Gratuito Exemplos: Radios.com.br e Radiosonline.com.br Domínio Público O que é: Músicas que já perderam a


________ No Brasil, tivemos o substitutivo do projeto de lei 89/2003, do senador Eduardo Azeredo (PSDB/MG) que ficou conhecido como “projeto de controle do cibercrime”. Os mecanismos do projeto abriam a possibilidade de criminalização de diversas práticas importantes e usuais na cibercultura, além de comprometer iniciativas de democratização do acesso à rede. A quarta versão desse substitutivo foi aprovada pelo Senado em julho deste ano; uma versão mais branda. O texto original era tacanho a ponto de punir todo e qualquer armazenamento de dados sem a autorização do “legítimo titular”. Como se os navegadores não armazenassem dados no computador enquanto navegamos; deixando claro que nenhum dos juristas e políticos envolvidos na elaboração dessa legislação, entende de internet. Na questão musical, ficamos quase na

validade dos direitos autorais ou cujos artistas liberaram o direito de reprodução Como funciona: Canções de artistas antigos são catalogadas em sites específicos ou colocadas para download por blogueiros Quanto custa: Gratuito Exemplos: Domínio Público e Creative Commons Repositórios de MP3 O que é: Páginas com músicas digitais disponibilizadas pelas bandas. Pode ser o site oficial da banda ou site da gravadora Como funciona:É possível ouvir músicas por streaming ou até baixar faixas ou álbuns completos Quanto custa: Gratuito Exemplos: Trama Virtual, Palco MP3, FiberOnline

mesma. O único avanço real do projeto foi em relação ao crime de pedofilia. A grande novidade ficou por conta da decisão inédita do Tribunal de Justiça do Paraná em favor das gravadoras contra o software de compartilhamento de arquivos K-Lite Nitro, que, divulgado em setembro passado, pegou artistas e internautas de surpresa. Pela decisão, a empresa responsável pelo desenvolvimento e manutenção do K-Lite está proibida de disponibilizar o site enquanto não instalarem filtros capazes de evitar a troca ilegal de arquivos protegidos por direitos autorais. É uma briga que não parece ter fim A internet tem como uma de suas principais características, a “desterritorialização”, a derrubada de fronteiras. É um território neutro, descontrolado e anárquico. As regulamentações nesse sentido engatinham, enquanto internautas ganham espaço, conquistam saberes e poderes na velocidade da luz. Logicamente a questão da remuneração pela produção musical, mais cedo

Aplicativos para celular O que é: Programas para ouvir rádios no mundo todo no telefone Como funciona: O aplicativo deve ser baixado e instalado no celular. O telefone acessa a internet e toca as rádios Quanto custa: Os aplicativos são gratuitos, mas o consumo de dados do celular é cobrado de acordo com a tarifa da operadora, geralmente um bocado alta. Exemplos: Mundu Radio, Shoutcast radio, Nokia Internet Radio e WebPlayer. Youtube O que é: Vídeos com músicas protegidas por direitos autorais são colocados no site pelos usuários.

ou mais tarde, terá que ser definida; mas isso não pode ser feito de forma a penalizar o ouvinte, o fã. É preciso que se invista em novos modelos, que se conheça a internet, que se explore de maneira inteligente a maior fonte de informação e distribuição que o mundo já viu. Adaptação e bom senso, em generosas doses diárias, talvez ajudem. O mercado fonográfico mundial se estabeleceu em outra época, sobre outras plataformas; e terá que entrar na fila para poder brincar outra vez, aprendendo e aceitando as novas regras do jogo. Enquanto isso não acontecer, os músicos sairão perdendo, os internautas e consumidores de música sairão perdendo, mas muito menos que perde a cada minuto um mercado que não foi capaz de acompanhar o ritmo da tecnologia.

B

Como funciona: Pela lei brasileira, quem faz o upload do vídeo e quem assiste, está cometendo um crime Quanto custa: Gratuito Blog O que é: Assim como no Orkut, os usuários criam blogs para compartilhar os links dos sites que armazenam arquivos, como o Rapidshare Como funciona: Na busca de blogs do Google, é possível procurar pelo nome de bandas e/ou músicas para encontrar esses blogs e, em seguida, baixar os arquivos Quanto custa: Gratuito Torrent O que é: Método de download coletivo entre internautas Como funciona: Programas

SAIBA MAIS http://www.abpd.org.br

especiais como o uTorrent lêem arquivos “.torrent” que redirecionam para uma rede de usuários que compartilham o download de um filme, uma música, um álbum ou mesmo de discografias Quanto custa: Gratuito Exemplos: PirateBay Orkut O que é: Comunidade de usuários que compartilham links de arquivos para download Como funciona: Faixas de álbuns completos ou discografias são compactadas em arquivos “.rar” e “.zip” e colocados para download em sites como Rapidshare e Megaupload Quanto custa: Gratuito Exemplos: Comunidade Discografias

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Substituindo o incerto pelo duvidoso


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_______ FOTOS - ALEX OLIVEIRA


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visionário J

oão Marcello Bôscoli é uma metralhadora de idéias, daquelas giratórias e ininterruptas. Sua percepção do que está por vir em termos de tecnologia e mercado fonográfico lhe garantem a fama de Midas da música moderna. Dono da gravadora Trama, Marcello- que é filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli, não se acomoda e não para de procurar novos caminhos. João Marcello recebeu a POP em seu estúdio paulista, no bairro de Pinheiros.


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________ Você é dono de uma gravadora que tem muito pouco ou quase nada das grandes gravadoras tradicionais que estão amargando os frutos da tecnologia. Numa observação simplista, dá pra dizer que eles criaram um modelo engessado onde as pessoas ficavam ilhadas naqueles quadradinhos e não conseguiram antecipar nem se adequar às novas tecnologias. De maneira nenhuma isso foi percebido e quando a coisa aconteceu, eles se perderam completamente. Foi uma tremenda comida de bola mesmo? Eles não tinham outra opção que não se perder. As majors encontraram, num determinado momento, um modelo econômico que fazia todo o sentido do mundo pra eles, que funcionou bastante, e esse modelo foi esticado até o limite. Até a chegada da chamada revolução digital nos anos 1990, quem fabricava o vinil eram eles. Quem detinha toda a cadeia de distribuição eram eles, quem determinava o que tocava no rádio eram eles. Era uma coisa totalmente verticalizada. Com a revolução digital, ficou muito mais barato gravar, ficou possível publicar na rede, promover e vender, de forma que grande parte desse poder que eles detinham simplesmente ruiu. Foi uma indústria que escolheu esse caminho retrógrado. Ela teve a chance de apresentar o MP3 ao mundo. Ela teve a chance de baixar seus números absurdamente e ganhar muito mais em escala; e ela escolheu errado e continua escolhendo nos dias de hoje.O que aconteceu, na verdade, é que eles perderam a chance de participar da elaboração de um novo modelo de música maior do que a própria música jamais foi. Vocês não perderam essa chance. A gente não tem aqui no

Brasil outro selo de música que tenha tido a visão que vocês tiveram ou que tenha tido a iniciativa que vocês tiveram. A Trama, assim como vários outros pequenos selos, não só acreditou e utilizou a internet, como a internet viabilizou nosso negócio em si. Sempre 80% do cast da Trama são artistas desconhecidos. Assim que se tornam conhecidos, eles seguem suas vidas. Ou montam um selo próprio, ou assinam com uma major, ou vão trabalhar por conta própria e montam uma produtora. Isso naturalmente é um caminho, e aí a Trama faz uma turn over e tem uma nova seleção de artistas novos. É importante que de tempos em tempos nossos relacionamentos com alguns artistas se desfaçam, para que haja espaço para renovação.Entre o grande programa de audiência da TV aberta e o começo nos ensaios na garagem, é preciso que haja um caminho, estações, circuitos de alcances diferentes. A internet é um instrumento de divulgação e publicação de obras super democrático no qual a gente se apóia o tempo inteiro.A Trama acabou se beneficiando dessa mudança de era com o contraste daquele jeito engessado das majors onde era tudo pré estabelecido: o tipo de capa, o tipo de produto com cara de linha de montagem ruim e hoje há essa liberdade toda dessa geração que passou a produzir álbuns muito autorais. Falando do ambiente, da cena independente, a primeira relação que se faz é com o trabalho marginal. Só vocês pegaram de cara o trem da tecnologia, isso é uma associação que se faz com a Trama. Em que momento vocês perceberam que a tecnologia era a grande saída? O primeiro grande passo foi dado numa reunião que fizemos por volta do

Parece que tem alguém ganhando dinheiro com essas discussões; toda a vez que ocorre uma mudança de mídia vem uma Cassandra e grita; “vai acabar o mundo”, eu não entendo isso, as coisas convivem.” “Está na Bíblia, no Torá, no I Ching: bota muito poder na mão de alguém que ela se intoxica com esse poder.”


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FOTOS - ALEX OLIVEIRA

Você acha que se naquele primeiro selo, naquela época,

FOTO - ALEX OLIVEIRA

tivesse tido essa idéia do download patrocinado, a coisa tinha ido pra frente? Acho que não, por que a gente não tinha um fluxo de dentro da internet. Outras coisas não deram certo pela impossibilidade de fazer essas coisas numa época em que o ambiente virtual era apertado. Hoje você baixa um álbum virtual num tempo que era impensável. Naquela época você precisaria de dias pra baixar um álbum e não seria uma experiência legal. Temos um banco de idéias, por exemplo, a gente já tem o DVD virtual pronto, só que dependemos da extensão da banda larga. Hoje o número de banda larga começa a possibilitar essa idéia. Não adianta eu colocar um DVD pra você baixar de graça se a prática dessa teoria vai ser um desastre, se vai demorar dias. A Trama virtual tem, hoje em dia, 65 mil bandas e todo mês entram mais de mil bandas novas. Vocês têm um esquema de download remunerado, como é isso? Cada vez que você baixa uma música, faz isso gratuitamente, e um patrocinador paga pro artista. No final do mês, a gente fecha o valor dos patrocinadores, divide pelo número de downloads e

paga direto na conta corrente da banda. São vários apoiadores pra esse tipo de patrocínio e essa prática já tem mais de dois anos. É uma iniciativa inédita no mundo. Até o presente momento, só a gente está fazendo isso. É importante que as pessoas saibam que a gente não olhou pro modelo pronto do MySpace, por exemplo. A gente fez antes... A Trama Virtual veio antes do Youtube, claro que o nosso é só de música, mas a idéia saiu daqui. Assim como a iniciativa de download remunerado é nossa, e o álbum virtual, pelo qual você não paga nem se quiser! Você pode baixar a parte gráfica em alta resolução. São coisas inéditas. Você pode baixar a capa em JPEG pra colocar no seu player. Depois sai o álbum físico, mas as coisas não brigam. São formatos diferentes pra vários segmentos de mercado.

Toda essa disponibilização de música gratuita não esvazia os shows? Nós achamos que é justamente o contrário. Quanto mais as pessoas baixam, mais interesse elas têm. Os shows nunca estiveram tão cheios. Não há uma ligação que faça com que o cara que baixou deixe de ir ao show. A experiência de ouvir uma música em

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ano 2000, quando o André (Szajman seu sócio) sugeriu que nós fizéssemos uma loja digital, do tipo que o iTunes veio fazer depois; pra colocar todas as demos que recebíamos. Eu sempre dizia que o volume de demos guardadas estava aumentando, aumentando e era preciso fazer alguma coisa com aquilo, já que era impossível lançar ou ouvir 10% daquilo. Então resolvemos fazer um selo virtual, uma vitrine onde as pessoas poderiam publicar suas obras. Pra ser sincero, eu achei a idéia legal mas não achei que fosse ter o alcance que acabou tendo. A loja digital não deu certo, as vendas eram poucas, muito menores que as de hoje -que ainda são pequenas- e não se sustentou. Era o projeto Piromania, onde você gravava seu CD e a gente te entregava pronto, com capa e tudo em três dias e o site da Trama virtual. A Trama virtual quando começou, há cinco anos, a gente já tinha um projeto de tecnologia, quem cuidava disso era o Gordo Miranda. Nessa época eram quinhentas bandas, eu já ficava admirado, depois eram mil e quinhentas, três mil, cinco mil bandas. Eu vi que realmente tinha alguma coisa acontecendo ali...


_______ casa e ver essa música ser executada ao vivo, são coisas muito diferentes. Essas discussões, que são discussões vazias, não são novas, foi assim o rádio e a TV, depois a TV e o cinema, a mídia impressa e a digital...Parece que tem alguém ganhando dinheiro com essas discussões; toda a vez que ocorre uma mudança de mídia vem uma Cassandra e grita; “vai acabar o mundo”, eu não entendo isso, as coisas convivem.Por exemplo, hoje, o vinil que era uma mídia considerada moribunda, achou seu espaço e está crescendo, só no ano passado 19% no mundo. Você liga numa fábrica de vinil e não consegue nada pros próximos quatro meses, e isso no exterior, nós nunca fabricamos vinil aqui no Brasil. Esse esquema de patrocínio é o que viabilizaria o que vocês falam no manifesto Trama que diz que a liberdade de criação está acima dos interesses de mercado? Na verdade, a criação artística sempre tem que estar. Eu não costumo trabalhar com artistas que fazem um tipo de pesquisa de mercado pra saber que música eles vão fazer; buscando novas tendências com um ouvido comercial. Isso funciona muito bem pra uma agên-

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FOTO - DIVULGAÇÃO

cia de publicidade, eu acho bem bacana, mas não é o nosso trabalho. Não existe lógica no nosso negócio. As majors, por exemplo: pra cada sucesso que elas conseguem emplacar, imagine quantos artistas foram lançados até acertarem um. Não tem uma maquininha de fazer sucessos, se fosse assim teríamos um Michael Jackson e uma banda como os Beatles por ano. Há o imponderável no nosso negócio, onde você trabalha sem ter garantia de nada. Você passa a ir atrás da sua essência e dos seus valores. Qual é o principal valor pra mim? Que a pessoa acredite na música que ela faz, e que ela faça aquilo que ela acha que tem que fazer, ou isso vira outra coisa. Uma vez você disse que decidiu começar uma gravadora pra poder ter mais poder de decisão. A impressão que eu tenho, conversando com você é que você é um cara que soube usar as tecnologias, mas soube usar suas idéias. Foram as suas idéias que fizeram a Trama acontecer, não é só a Rádio Trama, nem os downloads remunerados, é tudo ao mesmo tempo agora. Você faz tudo acontecer, e é o que mantém a coisa toda fresca, viva... são idéias.

Na verdade é a participação de todo mundo. Quando você coloca um site, escreve um nome lá “Trama Virtual” e tem todos os meses um milhão e trezentos mil streammings e downloads de 65 mil bandas diferentes, é uma energia muito forte, que nem sou eu que movimento, como não movimenta apenas a mim! Por exemplo: Móveis Coloniais de Acaju, até agora baixaram dez mil álbuns virtuais. É uma corrente. Cada cara que baixa, que ouve, foi atingido por um trabalho nosso, mas isso não está diretamente relacionado a mim, ao Marcello. Na verdade tem até uma parte a ver comigo, mas a fonte, a força é a banda. A intenção aqui, na medida do possível, e ainda que numa realidade bem restrita, é criar um terreno fértil pras pessoas gravarem suas obras. Agora, se você pergunta se seria minha área original pensar nisso, aí não seria mesmo. Imagine um baterista que tem um selo que iria pensar num álbum virtual ou num esquema de download remunerado. Isso é uma mídia, isso não deveria ser problema meu! O que aconteceu foi uma deturpação. O modelo original faliu e diante de um modelo de gravação falido, a necessidade inventou o novo formato. Meu trabalho não é inventar formatos de mídia no século XXI, isso é trabalho de engenheiro e eu não sou engenheiro. A necessidade fez com que isso acontecesse. Mas como as majors não viram essa necessidade? Ficaram só investindo em marketing? Era um modelo falido, o marketing é até bem legal. O problema foi eles terem escolhido uma ferramenta como o rádio, ainda que tenha tido o respiro que o videoclipe trouxe, e da cor que ele trouxe ao processo. Era muito poder nas mãos de pouca gente, é uma coisa que nunca deu certo. Está na Bíblia, no Torá, no I Ching: bota muito poder na mão de alguém que ela se intoxica com esse poder. Assim que a revolução digital mostrou a que veio, a primeira al-


________ FOTO - ALEX OLIVEIRA

Como você vê as tentativas de legalização de download? A maior parte da música ouvida no mundo, sempre foi de graça; desde que o Marconi colocou o rádio pra funcionar. É assim gente, desculpe! Parem pra pensar: estamos em 1995, no auge das majors com o CD, mudança de mídia, todo mundo comprando pra caramba, o Brasil era o sexto ou sétimo mercado do mundo. Era uma situação super confortável! Os caras estavam ganhando tanto dinheiro naquela fórmula deles, investindo só em execução em rádio. Então por que nunca vendeu tanto quanto a audiência de rádio? Eu explico: se você pegar a audiência das dez maiores rádios do Brasil durante um ano e comparar com o número de discos vendidos; está na cara que você expõe sua obra a um número enorme de pessoas e só uma parte dessas pessoas compra seu disco. Com a internet é a mesma coisa! Você expõe sua obra pro maior número de pessoas possível, e quem se interessar compra, se não se interessou, um abraço. Tem músicas que você quer só ouvir, não quer comprar. Isso não muda! E esse controle, essas propostas de legalização de download, você acha que são inócuos? Perda de tempo. O patrão é o público, e o público não está gostando. Acabou aí. Você pode fazer o business plan que você quiser, contratar a consultoria que

você quiser, ou a policia digital que você quiser... O público que é aquele com o qual você deveria ficar numa boa, está com ódio de você. É outro tiro no pé! Tem duas coisas que eu nunca entendi, que esses caras nunca mergulharam que é onde está o dinheiro mesmo: licenciamentos e show. Hoje você pega

Música é uma atividade emocional, precisa envolvimento.”

as bandas novas e os caras te falam: eu vendo mais camisetas e bottons, que discos. É por isso que eu falo, quando você me diz que nós somos inovadores: a gente não é inovador, essa jogada de fazer camiseta, mochila, botton... isso existe desde sempre. Dá pra brigar com a pirataria?O que dá pra se fazer pra coibir? Guerra perdida. A pirataria ensinou duas coisas pra indústria: preço e logística. Isso não é só falado por mim, o vice-presidente da Microsoft esteve aqui ano passado, foi até a Santa Ifigênia e disse que tem que se aprender com essa molecada da pirataria, tem que se andar perto deles. O que a meninada mais reclama de CD é o preço! Os caras estão insistindo num preço errado e isso só se percebeu com a pirataria que foi fruto desse preço errado! Depois que o negócio pegou fogo, você tem que tentar controlar o incêndio com regras que possam ser

aplicadas, que sejam viáveis, ou vira papo de boteco “a dialética da pirataria”. Quanto aos downloads, uma coisa é clássica e precisa ser dita: a internet é anárquica. Os modelos, as empresas, os modelos de negócio, as multinacionais e grandes corporações são antianárquicas. Cada corporação é um livro de regras. Quando você pega o mundo dos negócios que é ultra pragmático e junta com a internet que é anárquica é claro que vai dar confusão! Ou se cria uma regra possível de seguir ou vamos ficar eternamente nessa choradeira. Um exemplo é a TV aberta, que é a mídia mais assistida do Brasil e é de graça! Você compra o aparelho, paga a energia elétrica e está tudo lá, é um modelo que funciona. E tem dinheiro aí! O caminho que eu vejo é esse que a gente usa: o patrocínio. Isso funciona em todas as outras mídias, há de funcionar na música! Qual é teu sonho tecnológico de produção? Eu tenho um sonho que é a gente poder baixar DVD. A gente começou isso esse ano no UOL chama Live Road Cast. Não tenho tempo de acompanhar o que os outros estão fazendo, mas outro dia vi uma cantora que associou sua imagem à uma marca de produtos de beleza. Uma coisa feita com elegância, com beleza. Não tem nenhuma inovação em associar o artista à marca. Bach fazia isso com a Igreja. Dá pra gente fazer associações honestas, sinceras, elegantes; numa escolha de visões coesas do artista e da empresa. Meu dia a dia é tentar aplicar as coisas que eu gosto, e eu gosto muito de ciência, compro muitas revistas sobre isso, com a arte. Arte e ciência. ELAINE GOMES

B

PARA VER E OUVIR www.tramavirtual.uol.com.br http://albumvirtual.trama.uol.com.br

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ternativa que se imaginou foi que as majors compensariam suas perdas investindo em shows. É isso? Tem como compensar essas perdas que as majors tiveram? Existe uma receita crescente no mundo digital. Acho que as grandes gravadoras vão perceber que o papel delas mudou e vão ser distribuidoras de conteúdo na internet. Não tem opção. Ou elas se dobram e participam dessa receita, ou elas não se dobram e as pessoas continuam baixando de graça.


_______ FOTO - VINICIUS GONÇALVES

advogado de

defesa?

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ehemias Gueiros Jr.é advogado especializado em Direito Autoral desde 1985, quando ingressou na antiga gravadora Discos CBS, atual Sony Music. Exerceu cargos de gerência e diretoria jurídica na indústria musical, passando também pela BMG Ariola, antiga RCA Victor. Atualmente, lidera o escritório Gueiros & Associados com sede no Rio de Janeiro, prestando assessoria jurídica e consultoria específicas nas áreas do Direito Autoral, Propriedade Intelectual e do Show Business, no Brasil e no Exterior. Articulado, inteligente e conhecedor dos desdobramentos que permeiam cada resolução relativa ao mercado fonográfico, Dr. Nehemias recebeu a POP em São Paulo e falou de cultura, ética, música e política.


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A mídia digital desestabilizou totalmente o esquema tradicional do mercado? Exatamente, mudou o modelo de negócio. Eu digo sempre, com bom humor, que a internet foi um castigo divino da indústria fonográfica que durante cem anos se locupletou dos artistas, fez o que quis, lançou e relançou à vontade pagando migalhas e agora chegou a hora de lidar com a realidade. Ou ela abandona essa tática agressiva de processar college raves, universidades e campi, donas de casa e jovens que baixam música, ou ela deveria ter investido os bilhões que tem – já que tem muito mais que a maioria- e se adaptar às novas tecnologias, como o iTunes fez, como o Napster preconizou (ainda que inicialmente de forma ilegal). A tecnologia é inexorável. Não adianta a gente tentar se livrar dela; o caminho é adaptação. A Trama tem um sistema de download remunerado que funciona para quem baixa, para a banda e para os patrocinadores. É um caminho inteligentíssimo de não deixar de pagar direitos autorais e parecer o bonzinho aos olhos da mídia, uma vez que possibilita ao ouvinte baixar se pagar. Não se pode punir o ouvinte. Veja o Radiohead, Flying Lizzards e o próprio Gilberto Gil que estão soltando

teasers gratuitos. O Radiohead teve um ou dois milhões de donwloads e quando saiu o CD, ele já tinha cerca de seis milhões de cópias vendidas. Isso prova que há táticas para fazer o download funcionar, até que ele pegue efetivamente e as pessoas aprendam que é muito melhor baixar de forma segura e com qualidade as faixas, além da capa e das letras; ou poder baixar novamente se vier com algum problema de qualidade. Isso é muito melhor que você arriscar seu computador baixando uma música de qualidade ruim que pode estar repleta de vírus. Fora estar se arriscando, já que está cometendo um ato ilícito, a enfrentar algum tipo de processo futuro. A saída é a qualidade? Por exemplo, a Virgin Records acaba de fechar sua mega loja na Times Square, que era um divisor de águas e um termômetro da venda de discos no Mundo, depois do fechamento da Tower Records há três anos. Os caras colocaram no papel e viram que estavam muito próximos do prejuízo e que simplesmente não valia mais sustentar aquela estrutura toda pra vender produtos físicos. Richard Branson dono da Virgin se retirou e vai abrir um esquema de download em parceria com as majors. O caminho é esse, não vão sumir as lojas de CD assim como não sumiu o vinil. O vinil, inclusive, está fazendo um come back muito simpático pra alguns nichos de mercado, que não só os DJs, que sempre preferiram as carrapetas. Como o vinil, o CD físico vai ser uma coisa cult , um fetiche dentro de dez, quinze anos. As gravadoras vão ter que cortar custos, e já estão fazendo isso depois de amargarem um prejuízo da ordem de 30% ao ano nos últimos cinco anos; e finalmente despedirem os “gerentes de jardim” e “diretores de banheiro” que tinham cargos, salários e benefícios absurdos, em detrimento da qualidade do investimento. Hoje a gravadora não investe em praticamente nada,

só em marketing; o CD chega pronto. Em qualquer armário de quarto você grava um CD de alta qualidade. Grava e regrava digitalmente em quantas faixas quiser. A gravadora tem hoje o trabalho de inserir o artista no mercado, que é o que ela sabe fazer bem: a distribuição. O que estamos vendo é um remanejamento das atribuições e responsabilidades das gravadoras, que não vão morrer, mas certamente terão de aprender a brincar. Mas as majors estão mesmo aprendendo a brincar direito? Com muito custo, reclamando e resmungando e a golpes de fórceps, mas estão. Mesmo tentando jogar toda a culpa na pirataria... E a pirataria? Ela realmente triunfou? A pirataria triunfou na história da humanidade. Nem adianta insistir com isso. Triunfou no mundo físico, vem triunfando e triunfará no mundo virtual. Basta você ver o seguinte: pra que você precisa de uma instituição chamada polícia? Desde que as primeiras milícias foram criadas na Inglaterra no século XVII, até as polícias organizadas de hoje? Por que o crime certamente triunfou. Sem querer ser pessimista, mas o crime precisa ser controlado como um diabetes ou outra doença que você não cura, mas controla. Se a polícia é necessária no mundo físico, é sinal de que o crime sempre esteve presente. O mal, o ilícito, o ilegal... O mesmo que acontece com produtos de consumo geral, acontece com entretenimento. A gente sempre vai conviver com a pirataria, mas há caminhos e formas. Que caminho? O binômio qualidade e preço baixo. Hoje em todos os segmentos da economia o caminho pra solucionar é o mesmo. O mundo amarga uma crise econômica e há empresas que aproveitaram a crise pra decolar. São empresas que souberam

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Como o senhor vê essas tentativas de regulamentação e cobrança das faixas baixadas na internet? O ECAD está estudando uma possibilidade de cobrar. Como sempre, o ECAD numa sanha avassaladora, antes mesmo de entender a natureza jurídica de uma nova modalidade de reprodução, quer taxar. Download nada mais é que uma nova forma de distribuição, e se o ECAD entende que aquele site que disponibiliza músicas pra download deve ser taxado, por que ele não cobrou das gravadoras que disponibilizam CDs? É a mesma coisa, só mudou a plataforma que agora é virtual.


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extrair a gordura daquilo que praticavam e aprenderam a subir a ladeira com a própria crise. É parar pra ver que se está vendendo uma coisa cara com pouca qualidade... De repente há um departamento com muita gente que pode ser remanejada, ou há custos que podem ser diminuídos, até o preço final pode cair. É preciso que haja adaptação. No setor de audiovisual é preciso seguir esse modelo, embora seja um modelo de difícil adaptação pra esses profissionais que se acostumaram ao luxo, ao caviar e aos jatinhos particulares... Agora acabou a brincadeira, acabou a festa. A internet chegou pra democratizar, pra baixar os preços e delinear de forma vertical o acesso à cultura, à informação etc. O mercado do entretenimento está tendo que se adaptar a duros golpes, principalmente aqueles que gastavam muito; mas para alegria daqueles que não tinham esse acesso viabilizado. É um reequilíbrio em que o direito autoral precisa ser respeitado, já que a primeira coisa que as novas formas de reprodução alvejam são os direitos autorais. O que se percebe é que o direito autoral está quase sumindo, está sendo anulado. As novas bandas que disponibilizam faixas gravadas de forma artesanal, não têm quase nenhum controle sobre esse tipo de reprodução. É verdade, mas nesse caso, o artista está abrindo mercado para poder ser alçado à fama. E quando isso acontece, como aconteceu com o Radiohead ele percebe que vender discos é bom e ele passa a querer receber por isso; e aí começa a briga... O Radiohead já era uma banda famosa, fez isso como um paradigma, lançou sua música como teaser na internet de forma gratuita e com uma estratégia sensacional: cada um paga pela faixa o quanto acha que deve. Se não pagar nada, tudo bem, se pagar uma, duas ou cinco libras também! Só que quem pagava acima de um determinado valor ganhava um bônus que era

mais ou menos algo assim: na hora em que você comprar o CD físico, já ganha um ingresso pro show e passe livre pro camarim pra tirar fotos com a banda! Você conquista o público com bônus, como faz uma linha aérea; cria um programa de fidelidade. São as boas e velhas estratégias de marketing que funcionam há muito tempo, não são nenhuma novidade. Apenas estão sendo aplicadas no novo e maravilhoso mundo da internet. Eu sou um eterno otimista. Com toda a turbulência que a tecnologia causa quando chega, ela é inexorável. Eu vejo um mercado adaptado pro download e pro CD físico daqui a cinco, dez anos. Os modelos já estão aí. As majors, ainda que se fundam, não vão sumir, mas vai haver um remanejamento de preço, qualidade e acesso; essa é a realidade. O mundo mudou sua velocidade, hoje é tudo mais acelerado. E é incrível que o setor que mais tenha resistido, tenha sido justamente o do mercado fonográfico, onde supostamente deveriam estar os executivos mais antenados, mais abertos ao que é moderno. Modernos, antenados e muito bem posicionados financeiramente. Eu realmente não entendo o que deteve esses jovens executivos a patinarem por tanto tempo, e ainda patinam até hoje, e a adotarem e recorrerem à medidas drásticas e agressivas, policiais e judiciais, quando podiam ter sido líderes nessa mudança de paradigma. Acabaram deixando isso pro Steve Jobs, que tinha muito menos recursos que as majors, mas teve visão e fez o iTunes e criou um novo sistema a partir do paradigma desenvolvido pelo Napster.O que eu costumo dizer é que a indústria perdeu o trem. Quando chegou à estação o trem já tinha partido. A cultura do milhão tem que mudar. Só se apostava no que rendia um milhão: Sandy & Junior, Roberto Carlos, Madonna. Tudo que era novo e chegava era engavetado, os caras só se interessavam pela venda garantida, pelo fácil.

Também tinha o egocentrismo e a sensação do poder de decidir o que o resto do mundo vai ou não vai ouvir... Certamente, e quanto mais alto, maior o tombo. Os novos nichos, tudo isso de genial e novo que está começando como os meninos dos Móveis Coloniais de Acaju, por exemplo, afloraram graças à internet e sua capacidade de fazer circular informações. Veja a riqueza, a pluralidade, a diversidade de gêneros musicais que temos aqui. E vamos centralizar nossa conversa só aqui no Brasil: veja tudo o que estava completamente engavetado, impossibilitado de existir pela cultura analógica que vigorava. Hoje temos bolsões musicais que anteriormente não tinham a menor possibilidade de chegar até o sudeste. Eu vejo esse remanejamento como positivo é como se as gravadoras tivessem que voltar pra escola (como acontece com a gente quando estoura o número de pontos na carteira de motorista). Elas estouraram e foram obrigadas a voltar pra escola e reaprender aquilo que elas ensinaram ao mundo. Isso é incrível, desde Caruso, um dos primeiros discos gravados, que assinou um contrato de três linhas: “eu cedo para a RCA Victor eternamente meus direitos”. Essa arrogância esses contratos escravocráticos, isso tinha mesmo que acabar. Essa reeducação é muito positiva, e necessária. A transição está longe de ser concluída, mas já mostrou que atrai investimento, que gera receitas e que veio pra ficar. A questão de baixar ou não baixar faixas gratuitas pela internet vem sendo bastante discutida e é muito defendida, principalmente pelos jovens; mas vai diretamente de encontro à ética. A juventude brasileira não tem ética? A questão ética é muito séria e ela só aflora quando a pessoa é vítima de um comportamento antiético. Essa meninada que hoje age como se isso não fosse importante vai crescer, amadurecer


________ FOTO - VINICIUS GONÇALVES

“A tecnologia é inexorável. Não adianta a gente tentar se livrar dela; o caminho é a adaptação.” e entrar no mercado de trabalho, onde naturalmente, de uma forma ou de outra, essa consciência ética e profissional vai aflorar. Não tenho muita preocupação com isso. A fase rebelde, desobediente e irreverente da juventude esteve presente na vida de todo o adulto, é só uma questão de tempo.Essa juventude vai amadurecer e aprender por bem ou por mal que as questões éticas são necessárias em qualquer segmento profissional e pessoal. No entretenimento não será diferente. Legislação punitiva pra download então é uma bobagem? Eles estão tentando mudar a lei autoral, há uma comissão empenhada em mudar essa lei pela terceira vez, a lei 9.610. Querem acabar com a figura do distribuidor, e é uma besteira! Estão sendo mal assessorados e mal conduzidos, achando que farão com que a internet se ajuste aos seus interesses.

FOTO - VINICIUS GONÇALVES

O próprio governo, em suas esferas jurídicas, tem pouco conhecimento do direito autoral. A internet nada mais é que uma ferramenta de comunicação. É verdade que ela é veloz, é inigualável, a maior biblioteca que se tem notícia na história da humanidade ao toque de um mouse, mas ela continua sendo apenas uma ferramenta de armazenamento e transmissão de informações. A lei é que precisa se adaptar à modernidade da internet e não o contrário. A natureza do ilícito é a mesma no mundo real e no virtual. É errado esse pensamento de que a internet precisa de novas leis, as leis é que precisam se adaptar a ela. Um dos problemas dessa regulamentação é que alguém terá a autoridade e não existe mais divisão geográfica no mundo com a internet. Não há mais territorialidade nem jurisdição, essa questão é fundamental. Mas ainda assim há subdivisões no cyber espaço; e há como trabalhar nisso. Acho que dentro desse futuro próximo uma das adaptações legislativas é a possibilidade de rastreamento mais eficaz. De onde partiu e para onde seguiu? Quem é o provedor? Quem é o beneficiário? Quem não pagou e quem não recebeu? É preciso localizar a origem e o fim das mensagens, envio ou reprodução. É uma questão de identificação das ações. Vai ser mais difícil, é claro, mas precisa ser feito. Vai exigir que se criem novas tecnologias? Sim, mas isso tudo faz parte da adaptação que não foi feita até então e agora tem que correr pra alcançar as

ações. Ontem o ECAD apresentou na palestra feita na OAB, uma nova marca d’água, um novo fingerprint que estará funcionando já no final do ano e que permitirá rastrear uma música em qualquer mídia onde ela esteja sendo reproduzida. Vai cair como uma luva ou como uma bomba, dependendo do lado em que a pessoa está! O ECAD vem aumentando sua arrecadação em cerca de 25% ao ano. Arrecadou R$320 milhões só no ano passado, mas também redistribuiu uma parcela maior (eles redistribuem 75% do que arrecadam). Ainda assim é injusta, pois o ECAD tem 150 mil afiliados e só 75 mil tocam nas rádios, é uma ditadura que tem que ser combatida. A ditadura das rádios? Combater de que maneira? É preciso que se acabe com a concessão de emissoras de rádio para políticos. Se você tenta regulamentar a execução, no dia seguinte, como num passe de mágica, um projeto de lei isentando esse pagamento é aprovado! Enquanto o Brasil, a Anatel e a ANAC continuarem concedendo as concessões de rádio e TV para os políticos isso não vai acabar. Os mecanismos devem ser combatidos e envolvem muito mais coisas que sequer imaginamos. Não entendo o motivo da imprensa não combater esse tipo de prática. É que os jornais também têm donos... Lá na nascente do rio a coisa tem que ser feita para que o curso da água se mantenha limpo e claro. ELAINE GOMES

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“Agora acabou a brincadeira, acabou a festa.”


sinfonia rob贸tica


“Um dia os homens vão criar máquinas e, através de números, vão expressar emoções” Ada Lovelace


_______ A música é uma arte milenar. Desde sempre o homem procurou expressar-se através de sons melodiosos. Carregada de sentimentos, a música pode representar o que se passa, ou se passou, na mente e coração de quem a compôs.Seria possível, então, que seres desprovidos de emoção pudessem compor e executar canções? Jônatas Manzolli, professor e pesquisador da Unicamp, responde: sim. As composições musicais feitas por robôs são objeto de estudo deste paulista nascido em Campinas.

A SINFONIA ROBÓTICA EM 4 COMPASSOS

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Para começar, é necessário um estudo do estilo de composição que se deseja. O computador trabalha com padrões préestabelecidos, ele representa o processo criativo num programa, no qual é possível sintetizar a ideia da composição. Isso se dá através de funções matemáticas chamadas de algoritmos. São os algoritmos que definem qual o formato, a partitura musical.

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COMBINAÇÃO MATEMÁTICA Música e matemática, à primeira vista, podem parecer coisas bem antagônicas. Mas basta um olhar mais aprofundado para descobrir que, na verdade, são complementares. Os programas de computador são capazes de inúmeras possibilidades. Para isso utilizam funções matemáticas que são chamadas de algoritmos. “Você usa uma função modelo matemática, esses modelos geram certas saídas e essas saídas tem características musicais. Dessa forma você pode

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compor em estilo”, explica Jônatas. “Então você faz um estudo do estilo de composição e tenta desenvolver um processo algorítmico que crie padrões que, de uma certa forma, se parecem com os padrões definidos pelo estilo. Então você acaba tendo uma representação do processo criativo num programa de computador, você sintetiza a ideia da composição”. Para tentar compreender melhor essa linguagem basta entender que tudo o que fazemos, todas as nossas ações são algorítmicas. Os algoritmos

A composição algorítmica passa a ter características humanas quando é possível intervir na criação no momento em que ela está ocorrendo. Gestos feitos por usuários passam a controlar os rumos da composição.

Se o computador pode dispensar a presença do compositor, se a música pode ser feita apenas por representações numéricas, onde entram as emoções?


________ Quem é Jônatas Manzolli?

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Um pequeno robô foi criado e, medindo a variação da luz e a proximidade de obstáculos, era capaz de gerar seqüências melódicas. Para isso, utilizava sensores infra-vermelhos que se localizavam ao redor de seu corpo circular. De forma simples, o robô procurava a luz e fugia de obstáculos. Esta combinação de estímulo e movimento modificava o padrão sonoro executado ao vivo pelo computador.

são como receitas que explicam passo a passo o que devemos fazer para executar uma tarefa. São instruções mandadas pelo nosso cérebro numa seqüência lógica, finita e definida. Utilizamos algoritmos o tempo todo, de forma intuitiva e automática, na execução de tarefas diárias e corriqueiras. Mas se o computador pode dispensar a presença do compositor, se a música pode ser feita apenas por representações numéricas, onde entram as emoções? E o lado humano? Números são tão frios... Jônatas logo argumenta “Eu

modelos matemáticos de sistemas complexos em composição algorítmica, síntese sonora digital, desenvolvimento de sistemas interativos e interfaces gestuais. Suas composições e performances multimídia têm sido apresentadas no Brasil, Europa e EUA. É membro da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (SBME), da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), participa do Núcleo Brasileiro de Computação e Música (NUCOM) e do Grupo de Auto-organização do Centro de Lógica CLE, UNICAMP.

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tenho plena convicção de que isto é uma representação. O computador compõe sozinho, de acordo com regras que foram criadas. Só que aí, esses modelos podem ganhar várias possibilidades. Uma possibilidade, por exemplo, que foi o que eu desenvolvi no meu doutorado, é que agora esse sistema pode ser gestualizado. O que isso quer dizer? É você colocar uma interface que controla alguns desses parâmetros do próprio computador e modifica a música no momento em que ela está sendo tocada”. Neste momento, acontece um

O espaço da criação se ampliou e passou a ser uma sala inteligente que interagia com os visitantes através de redes neurais artificiais, com sensores capazes de identificar o sentimento das pessoas e, por seus movimentos, transformá-los em sons e luzes. Daí para um comportamento semelhante ao da genética, um robô ganhou autonomia para que pudesse determinar o que é interessante na trajetória de outros robôs.

fenômeno nunca antes experimentado no universo musical: o momento da composição e da execução é um só “Isso é um novo paradigma. A música só existe no tempo. O tempo de criação, o tempo de execução... todos esses tempos são diferentes. E a gente chama isso de tempo diferido. Cria num momento, executa em outro. Agora, se você tem um tempo para criar ou você coloca essa criação, não da forma de um processo impresso ou de um processo gravado, mas de forma aberta, você tem coisas que se

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Compositor e matemático, é o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS), UNICAMP. É Bacharel em Matemática (1979-84) e Música (1982-87) e Mestre em Matemática Aplicada (1986-88). Graduações e pós-graduação realizados no IMEEC, UNICAMP. Obteve seu PhD em Composição Musical (1988-93) na University of Nottingham, Inglaterra. Especializou-se em Música Computacional (1991-92) no Sonology Institute, The Hague, Holanda. Sua pesquisa concentra-se nas aplicações de


_______ encontram como num jogo”, explica Jônatas. “O momento de criação e de execução é o mesmo. O cara que ouve é o mesmo cara que toca, ele participa do processo de criar, executar e ouvir. Coisa que, também, o compositor faz. Quando o compositor está compondo uma peça no piano, toda hora ele ouve e imagina... Só que ele vai e volta. Do ponto de vista matemático, a gente chama isso de processo reversivo. Você pode voltar. Porque o tempo que você cria não é igual o tempo que você escuta a peça. Você pode voltar nesse tempo de criação, refazer e tal. Neste paradigma, não. É irreversível. E cada vez que você fizer essa peça ou interagir com esse objeto, terá uma música diferente”, completa. Além disso, as partituras criadas não são escritas. São algoritmos perfeitos que nunca poderão ser reproduzidos. As experiências com robótica e neurociência aplicadas à música, podem criar um novo paradigma na produção e comercialização desta forma de arte. As figuras passam a mudar, a composição deixa de ser fechada, individual, e passa a ser coletiva e carregada de possibilidades. Ainda não há uma forma de transformar esse tipo de produção musical com pouca, ou nenhuma, interferência humana em algo rentável e atrativo para o mercado. Num mundo que gira em torno do capital, os robôs vão ter que esperar para que suas composições sejam reconhecidas e desejadas.

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Interfaces Gestuais Na interface criada por Jônatas, em 1990, os gestos são responsáveis por direcionar a criação musical que está sendo executada pelo computador. Como? Ele explica: “Todo gesto tem um significado. Você faz gestos diferentes quando está triste ou feliz. Esses números, que se eu deixasse sozinho iam compor alguma coisa, eles passam a ter variedade que é dada pelo significado da interação, do gesto, de um usuário sobre o algoritmo. Assim conseguimos humaniza-lo”. Jônatas criou uma luva. “Qualquer movimento feito pelas

Os robôs ainda vão ter que esperar um tempo para alcançar reconhecimento mãos ganhava um significado, e aí, então, o computador criava uma relação entre o movimento, o gesto e a saída do som. Então, por exemplo, podia ser um movimento de expansão e contração e você ouvia um som que ficava mais forte ou mais fraco. Ou, um movimento de dedilhado e você ouviria um som, que tocaria uma escala”. Ele regia o computador.

média, seis milhões de libras suíças, a ADA era considerada uma sala inteligente. Projetada com sensores controlados por computadores que interagiam com os visitantes através de redes neurais artificiais. Essas redes recebiam estímulos externos para fazer, em tempo real, a leitura dos sensores, transformando a expressão do movimento das pessoas em sons e luzes. Na ADA todo o espaço era interativo. A instalação trabalhava com o conceito de emoções sintéticas. Os níveis de interação eram diversos, e o sistema variava sua produção de acordo com diversos fatores que estão no movimento da face das pessoas, a posição, a quantidade de movimentos, a pressão que ela exerce no chão... Isso tudo é gesto, e o sistema olhava para todos esses gestos e tirava deles um produto afetivo.

Roboser

Aural

Em 1998, Jônatas foi novamente pioneiro e, numa iniciativa inédita, colocou um robô para controlar o som. É uma aplicação de robótica à composição algorítmica. Nela um pequeno robô gera sequências melódicas utilizando sensores infravermelhos que se localizam ao redor do seu corpo circular. O robô, ao movimentar-se, mede a variação da luz e a proximidade de obstáculos. Na presença de intensidade luminosa, aproxima-se da fonte de luz. Na proximidade de obstáculos, afasta-se deles. Esta combinação de estímulo e movimento modifica o padrão sonoro executado ao vivo pelo computador. A sucessão de eventos musicais gera uma pequena improvisação que reflete a exploração do meio ambiente feita pelo Roboser. Com o Roboser, Jônatas criou um conceito chamado de “Objetos e Afetos”, uma análise sobre a capacidade que os humanos têm de colocar função emocional em objetos inanimados.

Composto por um conjunto de 4 robôs – um grande e outros três menores – representando o gesto, que, neste caso, é uma trajetória. No Aural, através de traços simples desenhados numa interface gráfica, o usuário envia uma trajetória a um robô que, ao se locomover, dispara um processo de produção sonora. A interação com outro robô, movimentando-se livremente no ambiente, modifica a execução da seqüência, usando um algoritmo chamado algoritmo genético. Jônatas explica “Aquilo que controla a música olha para a trajetória dos robôs como se fosse informação genética, assim como na natureza. É uma evolução do algoritmo, um aprimoramento. O computador é programado de forma a se comportar como se comporta a genética”. O robô grande era responsável por selecionar o movimento, o gestual dos robôs. Era como uma seleção natural, onde o mais adaptado sobrevive, mas os outros continuam sobrevivendo. “O som está dizendo aqui ‘ó, essa cara aqui é o melhor, neste momento’. As coisas vão acontecendo e a interface pode perceber que mudou de preferência”, conclui Jônatas. CLAUDIA URBANISKI

ADA Realizado em 2002, na cidade suíça de Neuchatel, a exposição ADA contou com pesquisadores de seis países. Jônatas era o representante brasileiro. Custando, em


_ A internet melhorou muito o acesso à música. Agora consigo baixar a música que ouvi no rádio hoje de manhã, sem necessariamente precisar comprar o CD, e fico sabendo das novidades do mundo da música muito mais rápido. Isabella Fassina, 21 anos, estudante de Fotografia

A tecnologia melhorou o acesso à raridades. Paradoxalmente, selos que trabalhavam cm raridades faliram... Mas hoje ficou muito mais fácil. Quando era adolescente, ficava anos para descobrir uma banda e levantar sua discografia completa. Hoje, em horas você faz isso com a internet. Eduardo da Rocha Marcos, 38, professor universitário.

Nossa, difícil pensar assim.. eu prefiro comprar o cd do que comprar uma música na internet. Mas se eu soubesse que seria uma música inédita da banda X e que não ia conseguir de jeito nenhum, talvez eu comprasse... não sei. Marcelo Seabra, 20 anos, estudante de artes plásticas.

A melhor ferramenta pra música é o Orkut.Nele existem comunidades que fornecem os links para o download da música ou do cd inteiro mesmo.Outro jeito que uso frequentemente é o Youtube,eu assisto algum clipe da música que eu quero e quando quero outra musica eu procuro outro clipe.

eles baixam!

João Pedro de Lia Catelan Sabino, 16 anos, estudante.


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festacompleta FOTO - ARIEL MARTINI


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B

PARA VER E OUVIR www.myspace.com/moveis www.moveiscoloniasdeacaju.com.br

ASCENSÃO EM FESTIVAIS A banda começou fazendo muitos shows em Brasília. Participavam de bailes de formatura, shows de diversos estilos musicais, festivais, tudo que aparecesse: lá estavam eles. Em 2003 surgiu a grande oportunidade: foram escolhidos como a única atração local do palco principal do Brasília Music Festival, onde tocaram com nomes como Live, Ultraje a Rigor e Charlie Brown Jr. A partir daí, sentiram necessidade de gravar um disco. Idem, o primeiro álbum dos garotos, foi gravado em outubro de 2004. O disco reunia 12 das melhores composições da banda na época. Com o disco, a banda passou a investir mais em apresentações fora de Brasília, nelas vendiam CDs, camisetas e botons personalizados. Logo nessa primeira oportunidade se cadastraram no site Trama Virtual, que acompanhou de perto a evolução dos meninos, dando um espaço no site, divulgando o grupo e patrocinando eventos. Pelo single Sem Palavras, a banda garantiu a 21° posição do ranking das 50 melhores músicas do ano pela revista Rolling Stone. Segundo os integrantes da banda, eles devem essa conquista aos downloads gratuitos, que, consequentemente aumentaram o numero de vendas do álbum. O nome comprido e muitas vezes confuso, teve origem com o intuito de ser diferente. Por isso, logo de início, adoraram o grandioso Móveis Coloniais de Acaju. Sonoro e diferente, trata-se de uma homenagem a um “obscuro episódio da história do Brasil, a Revolta do Acaju”. Segundo eles, em 1813 os índios javaés, que tradicionalmente usavam a madeira de acaju (cedro) para produzir móveis em estilo colonial, se uniram aos portugueses para expulsar da Ilha do Bananal (no atual estado do Tocantins) invasores ingleses que se apoderaram da região – um episódio que lembraria a

A principio um show comum, palco enfeitado com o tema do álbum mais recente, muita gente na plateia e uma gritaria sem fim pelo começo da apresentação. Quando os rapazes entram no palco o clima esquenta e é possível ouvir todas as vozes em um coro cheio de melodia. A energia dos integrantes parece nunca ter fim e eles sempre contam com a participação dos fãs em todas as musicas com uma eterna cantoria. Quando chega a vez da conhecida música Copacabana, banda e plateia se tornam um só. Uma roda no meio do publico é formada e abrigada pelos representantes do Móveis. Eles já têm uma coreografia ensaiada que, misteriosamente, até quem nunca foi a uma apresentação dos meninos consegue dançar sem errar um passo. Assim é formada uma banda com incontáveis integrantes, todos milagrosamente sincronizados.

O nome trata-se de uma homenagem a um episódio da história do Brasil Batalha dos Guararapes, no século XVII, em que os holandeses foram derrotados por uma união de portugueses e brasileiros. Além da estranheza, o nome já trouxe muita confusão. A revista Época, recentemente, publicou uma matéria dizendo que a Revolta do Acaju nunca aconteceu. E acusou a banda de fazer um trote grosseiro que desrespeita os índios e as pessoas que acreditam na história. Por isso a banda lançou a campanha Eu acredito na Revolta do Acaju, que além dos fãs, já tem muito adeptos do mundo das mídias como o jornalista Marcelo Tas. Atualmente, a banda se dedica a divulgação do novo álbum C_mpl_te (confira a resenha na página X), também com 12 faixas (página X). Que tem como single as músicas O Tempo e Falso Retrato. ARIANE MAZZA

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Q

uando se escuta pela primeira vez não há quem não arrisque um ‘parapapa’. Não é preciso decorar as letras das músicas para cair no ritmo dos brasilienses da banda Móveis Coloniais de Acaju. Assim que sobem no palco, os rapazes, nove para ser mais exata, passam um espírito de jovialidade e é impossível ficar parado. A banda de pop-rock foi formada em 1998 e veio para o cenário musical com a vontade de fazer o novo. Na composição, os jovens brasilienses, André Gonzáles (voz), BC (guitarra), Beto Mejía (flauta transversal), Eduardo Borém (gaita cromática e teclados), Esdras Nogueira (sax barítono), Fabio Pedroza (baixo), Fabrício Ofuji (produção), Gabriel Coaracy (bateria), Paulo Rogério (sax tenor) e Xande Bursztyn (trombone), pode ser confundida com outras bandas, sempre misturando estilos, que vão do rock e passam pelo ska até chegar à reverenciada MPB.

Sincronia eletrizante


_______ “A é engajamen ca ti lí o p r ti cu am que dis ais duras pessoas ach cutir relacionamento é m z anos: is fa to; acho que d de uma coisa que está aí lar de s a o douro. Falam lheres não se entendem. F r e sexo u mo os homens e m como relacionamento, a você faz é ro algo duradou de verdade é que tudo que o legal n oda. A gra a um empreg está fora de m alguém. Você não arrum das aspas de Paue a ncedipra ver se com ar seu amigo...” Essa é um entrevista co n a io m ss u re p em s, en g pra im ir V s das Velha nto: lão, vocalista nhas que seguem, aprese li s da à POP. Na

: s n e g r i v s a velh er!

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pud te n e g a m e u q o comend


________ É assim que a platéia convoca a trupe. Os músicos no camarim estão prontos, todos vestidos com roupas de caveira. Um último gole na bebida e vamos ao Rock n’ Roll.Em um telão no fundo do palco, aparece um poema de Baudelaire. “É preciso estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso...” O poema invade o ambiente narrado por Paulão (Paulo de Carvalho, 44). Quando acaba, já estão no palco: Alexandre Dias (Cavalo) e Roy Carlini nas guitarras, Tuca Paiva no baixo, e Simon Brown na bateria. Quatro batidas no chimbal e o show começa. Todos os instrumentos martelam o riff, luzes acendem, Paulão aparece, com seus cabelos compridos, barba descomunal, vestido como um Pirata, cetro com uma caveira em uma mão e microfone na outra... – Cu-ba-najarra! Cu-ba-najarra! Cu-ba-najarra!... – Canta chamando, e a platéia chega junto – Hoje é segunda a balada é muito louca, tira a mosca da minha sopa eu vou tomar cubanajarra... Daqui pra frente vai ser assim: Paulão troca de roupa e encarna vários personagens (de travesti a padre) até ficar de cueca samba-canção, joelheiras e cotoveleiras, banhado em cerveja – literalmente – e assim conduz a platéia em uma viagem louca durante o show. Juliana Kosso (vocalista, ex-Patotinhas) sobe no palco e, como Paulão, troca de roupa várias vezes e faz diversos papéis, como a Mulher do Diabo. A forma é o Rock n’ Roll, com grande influência do Blues. O conteúdo é o universo da boemia; homens caçando mulheres, mulheres enrolando homens, as maldades delas com eles, muita irreverência, macacadas no palco e tiradas bem humoradas. Com 23 anos de estrada, Velhas Virgens tem oito álbuns lançados, três DVDS, biografia, documentário, quadrinho, uma média de 100 shows por

ano e o recorde de público de 45mil pessoas na Virada Cultural (2009). Foi a primeira banda independente a lançar um DVD, ter uma marca própria e a lançar um álbum comercializado em bancas de jornal. Como fazer isso sem o poder das majors? A receita é simples: parcerias, bons shows e proximidade do público. Em 1986, Paulão resolveu aprender baixo. Na escola de música conheceu Cavalo, estudante de violão clássico e guitarra. Juntos montaram a banda e a dúvida apareceu: como chamá-la? “Perguntei se ele (Cavalo) já tinha algum nome”, lembra Paulão. ”Ele disse: Sim, Convenção de Bruxas. Eu disse: Bacana. Também tenho um, Velhas Virgens... Na verdade eu não gostava tanto assim de Velhas Virgens, se ele não gostasse nem iria insistir, mas ele gostou’” E assim começou a odisséia. Gravaram uma demo e se envolveram com a Prise Records. Essa parceria resultou no primeiro golpe do mundo musical. A gravadora pegou o CD, ficou dois anos com ele na gaveta, não lançou e ainda fez ‘um acordo’ com a banda pra devolver o material mediante pagamento... Depois disso, lançaram mais um disco pela Velas antes de fundar a Gabajú Records.

INDEPENDÊNCIA FORÇADA “Nossa independência não foi escolha, foi falta de... Ninguém absolutamente queria lançar a gente.Era sempre assim: ‘Velhas Virgens? Vocês não querem mudar o nome?’ ou: ‘Vocês não querem mudar o estilo das letras?’” Bater o pé foi o melhor a fazer; eles entraram no universo da música independente quando não tinha muita gente. Eles têm um esquema de marketing próprio que funciona bem: todo show tem uma ‘lojinha’ se vende a Pirataria Autorizada da Velhas Virgens. Os itens vão de álbuns, abridores de garrafa, canecas e calcinhas além do que é vendido no site. A distribuição dos álbuns é feita pela

MMF de Curitiba. As tiragens são pequenas, uma media de três mil unidades, o que dificulta a logística. O conteúdo das letras,além de diferente do que circula no mercado, e aparentemente machista, é uma grande brincadeira com a caricatura de roqueiros popstars. Um dos exemplos é a música Se Deus não quisesse, que repete “se Deus não quisesse que a gente bebesse/” colocando justificativas como: “não tinha criado o fígado, o lúpulo e o malte”; ou “não teria feito a mulher, os chifres e a solidão”.

PRODUTOR ESCORRAÇADO Polêmica: que história é essa da briga com um produtor? – lei do jornalismo, perguntas delicadas no fim da entrevista – resposta: “A gente teve uma treta com o Pena Schmidt. Ele tinha uma gravadora que lançou várias bandas ‘estouradas’ na época. Vi trezentas bandas estouradas que não duraram um ano, nós somos a banda podre que ta viva há 23. Enfim, levamos uma fita da gente pra ele e foi assim: – Não quero receber, não conheço sua banda. Trabalho com isso há não sei quanto tempo e não conheço vocês. Se eu não conheço é porque não existem. Eu conheço todas as bandas do Brasil. – Mas você não quer ouvir? – Olha, quer ganhar dinheiro, ser alguém? Vai fazer outra coisa, se não você vai se foder. Vai gastar o seu dinheiro, vender o carro da sua mãe, a casa, colocar o dinheiro na banda sem saber se vai voltar. Agora, quer um conselho? Esquece o disco, esquece tudo, faça um bom show. Fazendo um bom show, as pessoas vão te pagar por isso; você vai ganhar dinheiro, fazer boas demos e acabar andando. Falando isso ele mudou nossa vida. Na hora, ficamos muito putos, mas ajudou. Ele só pisou na bola quando disse que estava abrindo um selo chamado Tinitus e que só ia gravar bandas que eram lendas nas suas cidades. Nenhuma banda que ele lançou está viva até hoje. Vai tomar no..., Pena Schmidt, nós somos as Velhas Virgens!” VINICIUS GONÇALVES

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– Bota pra f...., bota pra f...., bota pra...


_______ V os seminovos

não tem

preço

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FOTO - DIVULGAÇÃO

elhos são Chico, Edu Lobo, Caetano e Gil... Novos? Mallu Magalhães, Maísa, Jonas Brothers e Hanna Montana... Eles são Os Seminovos. Uma banda que saiu de Uberlandia (MG) e, com a internet, caiu no mundo, chegando a ir ao Programa do Jô e Domingão do Faustão. Seus clipes bem humorados viraram spam (Eu sou Emo e Festa de Arromba), propaganda na Alemanha (Ao Mestre com Carinho) e ainda levaram o prêmio de Web Hit do Ano (Escolha já seu Nerd) no VMB 2009. E o melhor, sem cobrar um centavo pelas músicas.

ORIGEM UNDERGROUND

Eram roqueiros oriundos dos anos 80 que tentaram viver o sonho da música na década perdida. Como não deu muito certo, resolveram, em pleno século XXI, voltar pra fazer rock quarentão simples, crítico e divertido. Nessa lacuna de mais de 20 anos, cada um seguiu um caminho. Mas nem por isso desistiram da música. Eles são: Neto Castanheira e Tchana (Luciano Camargo) nas guitarras, Neto Fog vocal, Alex Mororó bateria, e Maurício Ricardo no baixo. Músicos que saíram do mundo geek e chegaram ao Pistolão no Domingão do Faustão tudo graças à internet, ao download gratuito e aos fãs, mas me adianto na história. Ainda vivendo o sonho de serem músicos nos anos 1980, dois deles, Tchana e Castanheira, foram para Londres, onde gravaram discos em inglês e tocaram em locais sagrados na história da música como o Round House. Outros ficaram por aqui e não foram muito longe, musicalmente falando. No final,


________ festa de arromba Maurício Ricardo costumava fazer paródias de músicas para suas animações (www.charges.com.br). Um dia, com Neto e Alex, fizeram uma paródia de Festa de Arromba criticando o caso do Mensalão. Diferente do de costume, Maurício disponibilizou o download gratuito da música ao invés de fazer a charge. Não deu outra, bombou. Foi um sucesso tão grande que rendeu até um convite para ganhar ‘um beijo do gordo’ ao vivo. Nascia o embrião do

que seria a banda. “Vejam só que festa de arromba/ fez a turma do Mensalão/ pra festejar os saques/ dos cofres da união/ e dividir a grana/ que roubaram do povão”. O programa passou, o vídeo virou um spam tão enviado, que até o Erasmo Carlos recebeu. Porque não aproveitar a bagunça do mercado fonográfico para montar uma banda e seguir disponibilizando o download gratuito? As gravadoras estão ruindo com o avanço da internet, do mp3 e das redes P2P (kazaa, limewire, Torrents, etc). As pessoas não têm mais o costume de pagar por música. Porque não? Cultura não tem preço mesmo. Continuaram com o projeto. Convidaram Fog e Tchana para completar a banda e foram compondo e disponibilizando as músicas. Todas com uma grande veia humorística. A primeira música feita pela banda como um todo foi Do tipo I Love you, uma paródia de Drive my car, do quarteto fantástico, Beatles. Depois

de um tempo, fizeram o álbum Não tem preço primeiro da banda. Tudo gratuito. Até a arte da capa está no arquivo do download. É só baixar e montar o CD. Hit atrás de hit, a banda foi traçando seu caminho na internet. Músicas como Eu sou emo, que satiriza um tipo de roqueiro sensível – com mais de 80mil downloads e 1,6milhão de exibições no youtube – e E o bambu? – música que sacaneia a histórica piada que fizeram com o Silvio Santos – viraram spam de tão enviadas por e-mail. Conseqüência da grande quantidade de acessos, a banda acabou indo para o Garagem do Faustão. Detalhe: quem inscreveu a banda no quadro não foram os integrantes e sim os fãs. Hoje com dois álbuns lançados, a banda tenta dar o terceiro passo, sair em turnê. Compor as músicas e disponibilizá-las de graça na web, coisa que já fazem parte do cotidiano. Agora sair em turnê pelo Brasil é o desafio, just do it. “Hey, hey. Que onda, que festa de arromba”. VINICIUS GONÇALVES

B

PARA VER E OUVIR http://charges.uol.com.br/seminovos www.myspace.com/osseminovos

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desistiram do sonho e seguiram outros caminhos. Maurício Ricardo virou chargista e jornalista, abriu um site de humor que foi a porta de entrada para a banda no mundo virtual. A idade dos roqueiros varia de 30 a 40 anos. Não dava pra batizar a banda com outro nome além de Os Seminovos. Como eles dizem: “roqueiros usados, mas em ótimo estado de conservação.” E o mais legal, a banda nasceu, ‘por acidente’ no Programa do Jô.


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As “aparelhagens” e as bandas de música brega realizam cerca de 3.160 festas e 850 shows por mês na região metropolitana de Belém. Isso significa que acontecem mais de 100 festas e quase 30 shows por dia. A população comparece - e agradece!

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PARA VER E OUVIR http://www.bregapop.com/ www.bandacalypso.com.br/


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m território remoto com uma cultura distante... Assim é Belém do Pará. De lá vem o Tecnobrega, um estilo musical oriundo da periferia, marginalizado pela grande indústria. Mais que um estilo, o Tecnobrega derrubou paradigmas e instaurou uma nova forma de se produzir e distribuir música. Apropriando-se das novas tecnologias, os artistas deste ‘movimento’ utilizamse do acesso a equipamentos e computadores para montarem, no próprio quintal, estúdios caseiros nos quais gravam suas músicas e as multiplicam em CD’s e DVD’s que distribuem nos mercados populares e camelôs. Para divulgar as músicas existem as famosas “festas de aparelhagens” – grandes estruturas de sonorização e iluminação, nas quais os DJ’s lançam artistas e ditam as tendências musicais. Se o DJ toca uma música, ela certa-

mente se tornará um sucesso. Com isso, os artistas são contratados para se apresentar ao vivo e, no final, vendem diretamente ao público milhares de CD’s e DVD’s. Esse mercado de venda direta não compete com a venda por camelôs. Em geral, o produto é mais caro quando vendido nos shows. Ronaldo Lemos – um dos autores do livro Tecnobrega - explica, simplificadamente, como funciona o mercado: “São, basicamente, sete etapas: 1) Os artistas gravam em estúdios próprios ou de terceiros; 2) As melhores produções são levadas a reprodutores de larga escala e camelôs; 3) Ambulantes vendem os CD’s a preços baixos, compatíveis com a realidade local, e os divulgam; 4) DJ’s tocam nas festas; 5) Artistas são contratados para shows; 6) Nos shows, CD’s e DVD’s são gravados e vendidos; 7) Bandas, músicas e aparelhagens fazem sucesso e voltamos ao início do ciclo”.

Cavalo Manco E MILIONÁRIO Os precursores desse modelo de comercialização são a dupla Joelma e Chimbinha, da banda Calypso. Eles criaram o próprio selo e distribuíram seus CD’s para grandes supermercados populares, freqüentados por seus fãs.

Vendidos a preços baixos – entre cinco e dez reais – os CD’s não paravam nas prateleiras. Demorou muito pouco até que estourassem entre as classes populares do Pará e outros estados do Nordeste. Daí para o palco de um importante programa de televisão e ficaram conhecidos em todo o Brasil, por todos os públicos, foi um pulo. A Calypso recebeu inúmeras propostas de grandes gravadoras, interessadas em comercializar, de forma profissional, o sucesso da banda. Alegando já ter o seu próprio esquema – de grande sucesso, aliás – Chimbinha e Joelma recusaram todas as propostas. Essa atitude serviu de exemplo para outros tantos artistas paraenses. A indústria fomentada por eles não para de crescer. As festas de tecnobrega movimentam o comércio, criam empregos e divertem a população. Além disso, o tão almejado reconhecimento está vindo rapidamente. Um documentário cinematográfico, um livro, matérias na televisão e uma dezena de sites já abordam, com o respeito merecido, o sucesso da indústria tecnobrega. A marginalizada periferia de Belém do Pará agora está no centro. Pelo menos das atenções... CLAUDIA URBANISKI

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revoluções

por minuto

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Por que o Arctic Monkeys e o Radiohead são fenômenos da Era Digital


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Nasce o Radiohead Em 1991 os garotos se formaram na Universidade. Reuniram a On a Friday, começaram a gravar algumas demos e fazer shows nos arredores de Oxford. A qualidade sonora chamou a atenção de gravadoras e produtores. Não demorou nada até que, no mesmo ano, assinassem um contrato de seis álbuns com a EMI, que pediu que eles trocassem seu nome para Radiohead, inspirado numa canção do Talking Heads. De lá pra cá, foram lançados sete discos. Sempre atingindo grande sucesso de crítica e de público, a banda se destacou ainda mais quando lançou o sétimo disco.

Quer pagar? Quanto? Sem gravadora nem propaganda, o Radiohead acreditou em sua grande base de fãs para divulgar a novidade: In Rainbows, seu sétimo álbum, seria disponibilizado para download, no site da banda. O preço? Quem definia era o comprador. Não quer pagar? Tudo bem, pode baixar do mesmo jeito. Em poucos dias o álbum foi baixado mais de 1 milhão de vezes. A banda garante que a maioria das pessoas pagou alguma quantia pelo download. A iniciativa do Radiohead dividiu opiniões – alguns chamaram de oportunismo, outros de inovação – e gerou discussões sobre os formatos musicais e o papel das gravadoras. Algum tempo depois da venda virtual, In Rainbows foi lançado também no formato físico – um box com faixas bônus, vinil duplo e encarte especial – pela gravadora XL Recordings. Em 2008, ano seguinte ao lançamento, a banda publicou um balanço no qual declarava ter ganhado

ILUSTRAÇÃO - ALEX OLIVEIRA

mais dinheiro só com a distribuição digital de In Rainbows, do que com as vendas do álbum anterior Hail To The Thief. No total, foram mais de 3 milhões de exemplares vendidos – até a data da publicação – entre downloads no site oficial, cópias em CD e vendas através de lojas virtuais, como o iTunes. Enquanto o Radiohead distribuiu suas músicas espontaneamente, os garotos do Arctic Monkeys conquistaram um sucesso absurdo – e muito veloz – quase sem querer.

Compartilhamento de Macacos Quando Alex Turner e seu amigo Jamie Cook, da cidade de Sheffield, ganharam suas guitarras, no natal de 2001, não imaginavam do que seriam capazes. Aprenderam a tocá-las e se uniram aos amigos Andy Nicholson, que tocava baixo, e Matt Helders, para quem sobrou a bateria. Os garotos formaram o Arctic Monkeys, uma banda que fazia shows e distribuía CD’s demos gratuitamente. Não demorou até que as pequenas plateias se transformassem em verdadeiras multidões alucinadas, que sabiam de cor as letras que nem o vocalista, Alex, tinha tido tempo de aprender... Os CD’s distribuídos nos shows não eram suficientes. Todos queriam aquelas músicas. Fã de verdade é aquele que se ajuda, não é? Quem conseguia um cobiçado CD disponibilizava as faixas na internet para que os outros pudessem baixá-las. Foi a maior história de compartilhamento de música que já se viu. Em pouco tempo o Arctic Monkeys conquistou o topo das paradas. O álbum Whatever People Say I Am, That’s What’s I’m Not, lançado em 2006, bateu recorde como o álbum de estreia mais rapidamente vendido na história da música inglesa. Foram 120 mil cópias no primeiro dia de vendas no Reino Unido e 360 mil cópias naquela mesma semana. O fenômeno do compartilhamento de arquivos pode ser mais claramente sentido pela banda quando num show, em 2006, se surpreenderam com a plateia em coro cantando When The Sun Goes Down, música que ainda não tinha sido lançada. O álbum Favourite Worst Nightmare – o segundo da banda – chegou às lojas rapidamente, em abril de 2008, também com a expressiva marca de 225 mil exemplares vendidos apenas na semana de estréia. Os resultados atingidos pelos garotos de Sheffield apresentaram ao mundo uma alternativa para o lançamento e promoção de novas bandas, totalmente oposto ao viciado, e já desgastado, método do mercado fonográfico tradicional. CLAUDIA URBANISKI

q Antes de ser o Radiohead a banda se chamava On a Friday, uma referência ao único dia da semana em que se encontravam. Só com a distribuição virtual do álbum In Rainbown a banda lucrou mais do que com as vendas do disco anterior. Alex Turner e Jamie Cook não sabiam tocar guitarra, quando ganharam as suas, no natal de 2001. Matt Helder não queria tocar bateria, mas foi o que sobrou. Durante um show do Arctic Monkeys, o público começou a cantar, em coro, uma música que ainda nem havia sido lançada. Isso impressionou os meninos da banda. Alex Turner tem um projeto paralelo, juntamente com Miles Kane, que se chama The Last Shadow Puppets, rock com fortes influências da década de 60.

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ra uma vez cinco garotos que estudavam numa escola só para rapazes. Cansados daquele tédio, resolveram formar uma banda que tinha apenas um dia para ensaiar. A banda On a Friday era formada por Thom Yorke, Colin Greenwood, Phil Selway, Ed O’Brien e o caçula Jonny Greenwood. Sua primeira apresentação aconteceu no final do ano de 1986, alguns meses depois de terem se unido. Eles se formaram no ano seguinte, mas continuaram se reunindo nos finais de semana e feriados. Ainda bem...


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até parecem mode

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FOTO - DIVULGAÇÃO

sonoridade flerta com o tropicalismo. As letras reclamam das maluquices da modernidade. Da mistura saiu a banda Cérebro Eletrônico, que se em alguns momentos se dá à “ingrata missão de imitar o João Gilberto”, no final acaba por ser a responsável por injetar ânimo criativo na cena do rock independente. Formada inicialmente por Tatá Aeroplano e Fernando Maranho, a banda paulistana passou por diversas formações até chegar à atual com Isidoro Cobra, Gustavo Souza e Fernando TRZ. O segundo disco, “Pareço Moderno”, é o fruto desta última combinação cerebral. Atentos às novas formas de divulgação que a internet proporciona, os rapazes tomaram atitude pioneira. “Pareço Moderno” foi lançado em três formatos diferentes: cd convencional, pen drive e vinil. Um acordo com o selo Trama Virtual (onde o disco pode ser baixado na faixa) marcou este pioneirismo. A POP entrevistou Juliano, o presidente da Phonobase (selo independente), e o guitarrista Fernando Maranho sobre o impacto das novas tecnologias no mercado fonográfico.


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O que vocês acham do download gratuito? Fernando: Essa é uma questão polêmica dentro da banda. Tem alguns integrantes que são a favor da liberação total, outros que não. Então optamos pelo meio termo. O Juliano da Phonobase, que é nosso selo de gravação, bolou a idéia de lançarmos um EP virtual, desse modo liberamos apenas algumas músicas. Acho que resolveu a questão. Juliano (Phonobase): Acho que é inevitável. Mas precisamos todos – artista e público – encontrar uma maneira de remunerar o trabalho dos profissionais envolvidos na produção de um disco. Por mais que ressaltemos

Vocês baixam MP3? Vocês pagariam por um download? Fernando: Da mesma maneira, tem integrante que faz download adoidado e tem outros que não. Eu faço download de muita coisa e continuo comprando cds do que eu acho realmente bom. Mas com certeza, antes do mp3, eu comprava mais cds e vinis. Eu só pagaria por download se estivesse em algum site extramamente seguro e se fosse algum arquivo que eu não achasse fácil. Mas o ponto é que estamos percebendo que existe público pra tudo. Tem o cara que paga por download, tem aquele que não, tem aquele que ainda compra muitos cds, tem aquele aquele que gosta da edição especial, enfim, estamos numa época de segmentação total e temos que ter todas as opções para todo tipo de público. Acabou a massificação, o que eu acho ótimo. Juliano: Eu baixo e também compro quando realmente me interesso pelo artista. Dos artistas que sou relativamente fã, tenho todos os discos e ainda realizo o “ritual” de colocar o CD, ler o encarte, etc. Se os CDs fossem mais baratos compraria mais. Sobre essa questão dos preços é bom lembrar que cerca de 40% do preço do CD é imposto. Na época do finado Napster alguns artistas tentaram barrar judicialmente o acesso a estes arquivos na rede. Quais soluções vocês acredi-

tam que podem ser tomadas para resolver esta questão? Fernando: Eu sou a favor da liberação total do mp3. Acredito muito que um cara que faz download gratuito pode mostrar o som para um amigo que, por sua vez, pode vir a comprar um cd, ou uma camiseta, ou ir ao nosso show depois. Então, acredito que o mp3 gratuito funciona como multiplicador, assim como as estações de rádio funcionavam antigamente. Particularmente, acho uma babaquice e uma séria tentativa de restrição à liberdade dificultar o intercâmbio cultural. Acho que cultura tem que ser disseminada e os direitos autorais, a meu ver, deveriam ser financiados pelos fãs quem têm prazer ou obrigação moral de fazê-los e não por todos incondicionalmente. Mas, como eu disse, essa é uma opinião minha e na banda cada um tem uma opinião diferente. Juliano: Várias soluções foram e estão sendo testadas. Desde o download patrocinado até acordos de venda de celular com passe livre para baixar músicas, modelos de venda de cotas de um álbum antes de sua produção (como o Sellaband, Slicethepie, etc). Eu acho que cada artista – quando entende seu público – deve encontrar uma maneira específica de viabilizar seu trabalho. “Discografias”, a maior comunidade de downloads gratuitos do Orkut, foi fechada recentemente pela APCM. Medidas deste tipo ajudam a combater o download ilegal? Fernando: Eu, sinceramente acho difícil que uma pessoa que está acostumada a fazer downloads pela internet ficar tão desesperada a ponto de correr para a loja de cds mais próxima para fazer compras. Isso já aconteceu com o Napster e depois disso aconteceu diversas outras vezes em outros casos. Este é só mais um deles. As pessoas terão uma dificuldade momentânea para achar arquivos mas daqui há um, dois meses, elas se organizam

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ernos

que as tecnologias baratearam a produção, um disco bem feito, pagando todo mundo, ainda sai caro. No caso do Cérebro, da produção à prensagem e divulgação foram gastos cerca de R$30 mil. O que precisa ser feito (descoberto?!) é uma maneira justa tanto pro artista quanto pro público de remuneração de um trabalho que é como qualquer outro. De certa forma, a postura de “gastança” (e consequentemente de cobrança exagerada) das majors fizeram com que artistas que se auto-produzem pagassem o pato.


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novamente e acham outros meios para trocar arquivos.. Essa questão é antiga. Lembro de ouvir dizer que iam acabar com as fitas k7 há anos atrás, rs. Juliano: Não ajudam. É truculência, “violência autoral”. A indústria da música é a unica indústria que processa seus próprios clientes. De certa forma, ela está tentando ainda lucrar com um modelo que está falindo, mas que ainda dá lucros. Acho que acreditam que essa truculência irá ajudar a postergar o inevitável. Por que optaram por um selo independente? Fernando: Não foi muito uma questão de opção. Foi um caminho natural e eu diria necessário. Veio da necessidade de expressão artística livre, sem interferência de meios externos com a junção de um cenário musical onde as gravadoras quebraram por não acharem alternativas sobre essa questão da pirataria. E esse é o ponto, a meu ver, crucial na questão. Ao invés de buscarem alternativas, como a Phonobase busca, as gravadoras resolveram partir pra essa questão bruta antipirataria, achando que seria um caminho mais fácil ou certeiro e se perderam no limbo. O que nos ajuda muito, também, é que temos dentro da banda pessoas que são capazer de fazer trabalhos que não envolvem a música em si. Fazemos nossos próprios encartes, vídeos, website, etc. Não temos custo para produção disso tudo, o que facilita muito pra quem não tem investidor por trás. Juliano: Não somos necessariamente um selo, mas uma empresa que presta serviços relacionados à música. No caso do Cérebro, a idéia sempre foi a de tentar montar uma “célula” autônoma dentro da Phonobase, quase uma outra empresa. Dessa forma a gente funciona literalmente como sócios, discutindo as idéias, implementando as estratégias e dividindo os resultados. O objetivo é que a banda ande com as próprias pernas e nós, Phonobase, atuando como parceiro naquilo em que nem todo músico gosta ou quer fazer, a parte “burocrática” digamos assim.

Diversificar é a palavra chave. Discos, shows, merchandising, licenciamento, sincronização, patrocínios, leis de incentivo, etc.” “A Internet é uma ferramenta importante, mas que por si só não faz milagres. É preciso planejar o lançamento, estruturar as ações, executar tudo o que foi pensado de forma coerente e contínua.”

Como funciona a distribuição de um disco sem o aval de uma major? Juliano: Antes a distribuição era o calcanhar de Aquiles dos pequenos selos, mas hoje isso não acontece mais. No nosso caso, temos uma parceria muito boa e produtiva com a Tratore que cuida da logística de botar o disco nas lojas físicas e tb em alguns sites de venda de download como eMusic, iTunes, UOL Megastore, Terra Sonora, etc. Além disso, a internet é um canal de distribuição direto. Você pode comprar o disco diretamente do site do artista e, se esse volume não for extraordinário, dá pra realizar o trabalho de logística utilizando serviços dos Correios e outras empresas. Com a crise fonográfica, como se vive de música sem o esquemão tradicional: ‘Gravadora subdisia o artista”? Fernando: A verdade é que é muito difícil viver de música sem esse subsídio. Como eu disse, temos que nos preocupar e trabalhar em áreas que vão muito além da música. Do design à produção, venda de shows, até à venda de camisetas. O músico passou a ser empresário. Juliano: Diversificar é a palavra chave. Discos, shows, merchandising, licen-


________ Hoje lucra-se mais com shows do que com a venda de discos. Vocês acreditam que lançar um punhado de canções num álbum daqui a alguns anos vai ser viável comercialmente? O conceito “álbum” vai perder a sua importância? Voltaremos à era dos singles? Fernando: Já estamos na era dos singles. Grandes artistas já estão fazendo isso, como o Smashing Pumpkins que começaram a lançar apenas singles via mp3 pago. Mas ainda acreditamos no conceito de obra musical, com uma unidade que marca determinada fase. Acho que vai chegar a um ponto onde as pessoas vão ficar saturadas de tanta informação. Porque hoje em dia as pessoas estão interessadas em escutar grandes novas músicas todos os dias, o que é uma coisa realmente insana. Música não é chiclete. Música deveria dizer respeito à personalizade. Portanto, ainda acredito que as pessoas vão enjoar de tanta informação e voltar a dar valor FOTO - DIVULGAÇÃO

para obras mais fechadas e artistas em que elas realmente se identificam. Juliano: Primeiro, essa relação show=dinheiro não é tão direta assim. No caso específico do Cérebro, e diria de quase todas as bandas que estão aí começando, os cachês – quando há cachê – dificilmente conseguiriam manter uma família. O Brasil ainda não tem uma estrutura de shows que possa assegurar uma remuneração mínima para o artista iniciante. Veja, não estamos falando dos artistas que já consolidaram uma agenda de shows, aquele que faz a turnê de um álbum, toca no em locais para mais de 2000 pessoas, etc. Nós estamos falando de cases pequenas e médias que, asim como a banda, estão brigando para manter seu negócio funcionando. Quanto ao álbum, eu acredito que ele sempre existirá. Não sei se por uma demanda do público, mas certamente por uma necessidade do artista de compilar um período de sua história musical em um conjunto de canções. Isso sem falar dos álbuns temáticos, conceituais. Não teremos mais Sgt Peppers? Nem Araça Azul? Adoro discos... E este revival do vinil? Fernando: É mais um caso de segmentação. Como disse, acima, tem gente que gosta de tudo. Eu adoro o formato do vinil, mais pelo encarte do que pela bolacha. Acho que porque em casa nunca tive um parelho realmente decente e portanto, nunca gostei muito do lance dos riscos, de ficar pulando, etc. Mas já tive oportunidade de escutar vinil em pickups que valem milhares de reais e posso garantir que o som realmente é bem superior, então acho uma ótima o revival. Juliano: Mais uma indicação de que o álbum – como produto artístico – seja em vinil ou CD, está aí firme e forte. Myspace, Facebook, Orkut... de que forma a banda utiliza destas redes sociais para divulgação? Fernando: Nós fazemos parte e tentamos atualizar todas esses canais freqüentemente. São canais muito

importantes de comunicação e o Juliano está sempre bolando estratégias de divulgação além de promoções através desses canais. Chegou a um ponto onde nosso website virou um direcionador para esses sites externos, pois aí não duplicamos a informação e deixamos elas nos canais mais procurados hoje em dia que são o myspace e o orkut. Juliano: De todas as formas que essas mesmas ferramentas nos possibilitam. O público do Cérebro é um utilizador da internet e, portanto, podemos utiliza-la como uma ferramenta de comunicação. Como estas novas tecnologias funcionam no processo criativo da banda? Fernando: Através do feedback do público. Recebemos muitas mensagens via Myspace, principalmente. Isso não só nos estimula a criar coisas novas, como nos faz conhecer melhor que tipo de público é o nosso e que caminhos poderíamos seguir em função disso. Mallu Magalhães já foi parar no Faustão e vocês já tocaram no Altas Horas. A internet ajuda a popularizar a cena alternativa? Fernando: A internet ajuda muito. Hoje em dia o boca-a-boca foi substituído pelo mensagem-a-mensagem. A disseminação via internet é incrível. Mas percebemos que a televisão ainda é agrande força hoje em dia. Por nossa experiência, canais como a MTV ainda são a grande força de divulgação. A Mallu, mesmo, passou pra um nível de popularidade altíssimo depois que MTV resolveu abraçá-la. Mas, primeiro, ela bombou na internet. Então acho que essa é a escada atual. Juliano : A Internet é uma ferramenta importante, mas que por si só não faz milagres. É preciso planejar o lançamento, estruturar as ações, executar tudo o que foi pensado de forma coerente e contínua. Não é possível atribuir resultados a uma única coisa como a Internet. Isso é fruto de um trabalho maior, que abrange uma série de fatores. ALEX OLIVEIRA

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ciamento, sincronização, patrocínios, leis de incentivo, etc. A questão é que estabilizar o fluxo de caixa leva tempo quando se trata de uma banda em início de carreira. Não temos mais “advances”. O negócio agora é trablhar o dobro e talvez receber metade.


_______ As últimas notas de um

grande músico Z

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é Rodrix, também é José Rodrigues Trindade, que também é cantor compositor, escritor e publicitário. Inteligente, articulado e bem humorado, Rodrix, apareceu para o grande público em 1967, em um festival da Record. Entre as canções mais famosas de Zé Rodrix estão “Casa no Campo”, na voz de Elis Regina, “Mestre Jonas” e “Soy Latino Americano”. Nas décadas de 1980 e 1990, Rodrix abandonou a carreira musical para se dedicar à publicidade. Da vontade de fazer música, durante esse período, nasceu o grupo Joelho de Porco. Em 2001, voltou a se reunir com os companheiros Sá e Guarabyra para uma apresentação no Rock in Rio. Zé Rodrix recebeu a POP no intervalo de uma palestra sobre novas mídias na Casa do Saber, em São Paulo dia 7 de maio de 2009, para aquela que seria sua última entrevista; ele faleceu no dia 22 do mesmo mês.

Você se afastou do mercado fonográfico e se exilou no mercado publicitário. Foi algum tipo de protesto contra as práticas do mercado fonográfico da época? Em 1980 eu fui para RCA, onde fiz um compacto e um LP. O mercado de música tinha se profissionalizado a ponto de haver cada vez menos espaço para a criação e cada vez mais para as tais “fórmulas de sucesso”. A idéia de que um artista, pra fazer sucesso, tem que vender um milhão de cópias começou nessa época, em 1976. Quando chegamos em 1980, essa idéia já estava bombando. Eu já estava desgastado com isso e com uma ILUSTRAÇÃO - ALEX OLIVEIRA


________ Como você analisa o mercado fonográfico atual? Graças a Deus, ele deixou de existir. Só assim poderemos reconstruí-lo, em bases sólidas e cooperativas. Não dá mais pra viver de imposição. Essa mania de resolver o que vende e o que presta acabou com a MPB. Ela não tem nenhum ponto de contato com a alma brasileira. Ela fala para uma camada muito pequena da população que está dogmatizada e aprendeu a dizer apenas “isso é bom e isso é ruim”. O camarada liga o rádio, bota na Nova FM e acha que está cumprindo uma missão ideológica. Quem gosta de MPB gosta de artista e não de música. Do Caetano, por exemplo, eu gosto das músicas boas que ele fez. Das ruins eu não gosto mesmo e não sou obrigado a gostar. Aí vão dizer: “Pô, mas é o Caetano!”. Dane-se. O mercado fonográfico mudou? As gravadoras antigamente experimentavam e ousavam mais do que hoje em dia. Funcionava meio assim: você tinha os artistas populares, que vendiam muito. Algo parecido com o axé de hoje. O lucro com esse tipo de artista era repassado para outras produções, que não iriam vender muito, mas que encontrariam, em algum momento, seu público. A partir de 1981 esse modelo acabou e as gravadoras colocaram para fora quem não vendesse bastante. Por conta disso, hoje em dia, as experimentações ficaram todas no mercado independente. E como você vê o papel desse mercado independente? Ser independente não significa ter qualidade. O mercado independente tem tanta porcaria quanto o mercado das majors. Tornou-se apenas a alternativa possível para quem não conseguiu aquele contrato ideal. Hoje, com a tecnologia disponível, todos podem fazer seu próprio produto; mas ele só terá importância se interessar a

uma determinada fatia de público. A arte depende, além de grande honestidade de propósitos, de talento, vocação e sorte. Não adianta tentar substituir um destes fatores pelo excesso de qualquer um dos dois outros: é preciso equilíbrio. Qual sua opinião sobre a facilidade em se baixar faixas gratuitamente pela internet? Qual o impacto dessa prática no mercado musical? Da minha parte acho que esta é a realidade dos fatos, contra os quais não há argumentos. Hoje em dia, inclusive, se baixa mais música pelo celular que pela internet. Existem inúmeras formas de comercialização de música pelos meios digitais, mas elas só acontecem quando o interesse pelo que existe é suficiente para que o público deseje comprar, em vez de simplesmente baixar. E a pirataria? Pirataria não é exclusividade do mercado informal. A EMI Odeon lançou em CD meus três primeiros discos solo, sem me avisar. Nem pediu permissão pra isso. Minha vingança foi que eu sabia que existiam cópias piratas sendo vendidas na Galeria do Rock. Sabe o que eu fiz? Fui lá e autografei todas. Prefiro ser roubado pela iniciativa brasileira que por uma major internacional… A pirataria foi a praga que os artistas rogaram pras grandes gravadoras!!! Você acha que os internautas concordariam em pagar pelas faixas que baixavam gratuitamente? Se forem boas, se tiverem valor, comprarão sem dúvida. Arte descartável não costuma ser vendida, mas arte com permanência a cada dia tem mais valor, e este valor pode ser convertido em riqueza financeira na exata medida do interesse do publico e das oportunidades que seus autores lhes dêem. Música com valor vale dinheiro: música sem valor não vale nem o esforço de copiar. Nos últimos dez anos, o que mudou basicamente em termos de produ-

ção musical em função da existência das novas tecnologias? As tecnologias de produção são menos interessantes que as de replicação do fenômeno musical, que hoje em dia pode ser negociado e divulgado até mesmo durante a sua criação e execução, permitindo inclusive obras coletivas em que todos os que estiverem ligados neste momento podem dar sua contribuição. O antigo mercado se extinguiu, mas o novo ainda não sabemos o que será. Que setores da indústria musical tradicional estão, em sua opinião, fadados à extinção? Os velhos sistemas de venda de disco em lojas, colocando o produto à espera do eventual interesse do cliente. Sobreviverão todos aqueles segmentos que souberem levar o produto ao interessado, das mais diversas formas e sob os mais diversos sistemas. A cada dia se torna menos viável a existência dos MegaTrends ,e os MicroTrends nos levarão forçosamente a agir de forma direcionada sobre cada segmento de público, cada tribo ou até cada indivíduo que possa se interessar pelo que temos. Você acha que os grandes festivais de música fazem falta? Qual a importância desses eventos na história da música popular brasileira? Os únicos festivais que fazem falta são os universitários, que poderiam novamente estabelecer a ponte sobre o abismo que se criou quando os artistas brasileiros, dominados pela indústria, abandonaram o diálogo natural que tinham com os universitários e decidiram tornar-se grandes vendedores de música, trocando qualidade artística por sucesso financeiro. Um festival universitário nos mostraria como anda a cabeça deste público com quem podemos dialogar, e dentro de algum tempo perceber de novo as identidades, assuntos e formas artísticas que eles esperam de nós. Os festivais comerciais de televisão já estão mortos e enterrados. ELAINE GOMES

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série de outras coisas. Até que em 19 de janeiro de 1982 a Elis morreu. Nesse dia eu disse: “Parei, chega”.


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SEJA um Beatle! The Beatles: Rock Band constrói a lendária carreira dos garotos de Liverpool. A ideia é atrair os fãs de Beatles para que se aventurem no mundo dos games

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uitarra, bateria, baixo, microfone e um vasto repertório... Com tudo isso, os fãs dos Beatles e/ou os amantes de games já podem se divertir num jogo cheio de realismo e muita tecnologia. John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison são modelos tridimensionais – caricaturas da computação gráfica-, com bastante semelhança real. Todas as fases do Beatles estão representadas no game, desde o “iê-iê-iê” até a fase mais psicodélica dos garotos de Liverpool.

Para contar a história dos Beatles, os produtores utilizaram, com algumas alterações, a já consagrada plataforma Rock Band – que herda também características de sua série concorrente, Guitar Hero. Nas guitarras de plástico, basta apertar os botões indicados na tela e tocar na hora certa. A bateria funciona do mesmo jeito. Quem canta, além do tempo, precisa manter o tom correto. E, numa reformulação inédita, é possível cantar em até três vozes, para recriar as harmonias vocais características de algumas fases do Fab Four. Para atingir um público mais amplo, foram feitas mudanças para deixar o Rock Band mais simples. A ideia é atrair os fãs de Beatles para que se aventurem no mundo


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PARA VER E JOGAR www.thebeatlesrockband.com www.thebeatlesrockband.com/videos

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dos games. A jogabilidade ficou mais fácil: não é necessário, por exemplo, enfrentar inúmeros desafios para destravar músicas: o repertório inteiro já está liberado desde o início no modo Quick Play. Também é possível jogar descompromissadamente, sem correr o risco de falhar em alguma canção.

Riqueza de Detalhes Já que não era possível revolucionar tanto na jogabilidade, a Harmonix investiu, de forma louvável, na narrativa e nos gráficos. Utilizando magistralmente a interatividade para contar a história da banda, The Beatles: Rock Band constrói a lendária carreira dos garotos de Liverpool abusando de gráficos tridimensionais,

fotos e vídeos históricos misturados à sensação de estar ali, nos palcos e nos estúdios, junto com eles. A riqueza de detalhes impressiona: quem pegar o jogo e comparar com um vídeo gravado de um show original, vai se surpreender ao notar, por exemplo, que até a fita adesiva utilizada para prender o microfone de Lennon ao pedestal é exatamente igual. Além disso, lugares como o Cavern Club, em Liverpool, ou a emblemática apresentação no alto do prédio da gravadora Apple – a última apresentação ao vivo da banda, em 1969 -estão ali reproduzidos de forma perfeita. The Beatles: Rock Band está disponível para PlayStation 3, Nintendo Wii e Xbox 360. CLAUDIA URBANISKI

Combo Beatle Os fãs dos Beatles estão cheios de motivos para comemorar. Além do game, o catálogo completo das músicas da banda foi relançado após ter passado por um longo processo de remasterização digital. Resultado de quatro anos de trabalho, os 12 discos foram produzidos por engenheiros que trabalharam nos estúdios da Abbey Road, em Londres. Eles se utilizaram do que há de mais novo em tecnologia, mas não abriram mão de trabalhar em conjunto com equipamentos antigos, para manter a maior fidelidade possível à obra. Cada um dos 12 novos CDs inclui a arte original da versão britânica do disco e um extra com notas explicativas. Em algumas edições, os CDs vão trazer um pequeno documentário sobre o álbum. Há, também, a opção The Beatles in Mono, com as versões mono originais de dez álbuns.


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oncebido para superar os problemas do vinil e das fitas magnéticas, o Compact Disc (CD), hoje, contempla atônito sua derrocada. Juntos, CDs e majors, protagonizaram uma história de sucesso e luxúria. Agora enfrentam seu trágico destino: tanto o CD quanto as majors naufragam em um infomar de bits repleto de downloads.

O CD foi a antítese do herói. Personagem dúbio que, se por um lado barateou o custo de produção levando o lucro das gravadoras a patamares inimagináveis e música a todos os cantos do mundo; por outro, a popularização dos seus meios de leitura, execução e reprodução criou o ambiente perfeito para seu possível fim. Luzes se apagam, o CD sai de cena. Vilão, mocinho, traidor... O que será o CD e o que virá depois dele?

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Gravando e vendendo Desenvolvido pela parceria PhilipsSony, o CD revolucionou o modo de trabalhar a música. Tudo começou na década de 1950 quando a Philips deu a um grupo de cientistas a missão de desenvolver uma nova mídia que resolvesse os problemas das já existentes: vinil, rolos magnéticos e K7. Trinta anos depois, no dia 17 de agosto de 1982, o primeiro CD destinado ao público foi lançado no Japão. Apesar de caro e de qualidade inferior aos atuais, o CD foi evoluindo e monopolizando o mercado. A popularização dos leitores a laser, a possibilidade de se produzir música digitalmente, oferecer um som mais límpido, além do real aumento na capacidade de armazenar músicas e de ser compacto foram motivos de sobra pra transformar a nova mídia em um Best Seller.

“Nos anos 80 era diferente” Lembra Marcelo Costa, jornalista e crítico musical. “O disco era caro. Não era todo mundo que podia comprar e nem era comum ter vitrola. Além do mais os discos não chegavam. Renato Russo dizia que o movimento punk chegou a Brasília com uma revista e não com um álbum do The Clash.” O CD foi exatamente o que a Indústria Cultural pediu a Deus. Um jeito de massificar a produção musical, garantindo o monopólio dos meios de produção e distribuição de música por quase 10 anos. Além de criar um mercado mundial de consumo regido por seus caprichos. O consumidor não precisava mais esperar anos para conseguir um álbum, ou uma cópia em K7. Como também não tinha muita liberdade de escolha. Os “escolhidos” das gravadoras eram os que tocavam nas rádios, por causa do jabá,(acordos de execução massiva deste ou daquele artista em troca de dinheiro) e eram os que estavam nas prateleiras das lojas. Ter o poder de ditar o que vai ou não acontecer; quem não se acomodaria nessa posição? Nasce a cultura dos milhões de cópias. Junto com ela os templos do consumo de CDs, as megastores. Lojas como a Tower Records e a Virgin Mega Store de Nova Iorque, eram os termômetros que diziam quando um álbum era bom ou não. Quanto mais cópias vendidas em menos tempo, melhor. A ditadura do que vende mais.

Pra que pagar se eu posso baixar? As majors tinham o Graal: o CD e o avanço tecnológico para baratear a produção e criar um mercado mundial que obedece às suas regras. Mas a Arca da Aliança foi encontrada pelas novas tecnologias... Aproveitando a evolução tecnológica, a facilidade de ler e copiar CDs, o avanço da internet, os arquivos MP3, o novo público consumidor de música e as redes P2P de compartilhamen-


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Hype? A Livraria Cultura registrou um crescimento de 70% nas vendas de LPS em 2009

Vinil: no mínimo cool Som quente, analógico, único... são vários os argumentos dos militantes das

carrapetas. Nasceram em 1948 e até hoje estão vivas. Seus fãs têm todas as idades, são xiitas e se multiplicam. A Livraria Cultura registrou um crescimento de 70% nas vendas de janeiro a maio em comparação ao mesmo período do ano passado. A verdade é que o vinil está ganhando força no mundo inteiro. Os bolachões voltam à cena como um artefato cool nas salas da classe média. As cifras são chocantes: só nos EUA, comparando 2006, 2007 e 2008, o vinil teve um crescimento de respectivamente 37% e 124% de peças comercializadas, movimentando, só em 2007, US$23mi. Artistas no mundo inteiro apóiam a volta do formato. Ultimamente, a maioria dos artistas que vão ao badalado David Latterman Show levam seus álbuns em vinil. No Brasil, músicos como Ed Motta, Lenine, Skank e Pitty, debandam para o lado das carrapetas. O novo disco da roqueira baiana foi feito em vinil em LA, Lenine lançou sua coletânea só em vinil na Rússia.Aqui no Brasil eles ainda são caros por causa da carga tributária. Por enquanto as gravadoras precisam fazer vinis nos EUA, Europa ou Oceania, isso, somado aos impostos e a importação, salga os preços que variam de 80 a 120 reais. Mesmo assim, são um excelente exemplo de convergência. Não se compra apenas o LP, junto com ele vem a arte gigantesca da capa, encartes, que mais parecem pôsteres, e ainda o mesmo álbum em CD. O LP ainda não é a salvação, mas é um caminho bem legal. VINICIUS GONÇALVES

Back to gates: a volta do vinil brazuca Vendo isso, o audiófilo dono da Deckdisc e admirador das bolachas, João Augusto, comprou e está reestruturando a Polysom, a única fábrica de vinil da América do Sul. O empresário vê o mercado como algo pequeno e duradouro e pretende fazer discos com qualidade igual aos produzidos no exterior cobrando o menor valor possível. Afinal, como diz o slogan da fábrica Vinil Factory: Ninguém se lembra do primeiro download, já o vinil é pra sempre. A Polysom vai trabalhar para a Deck ou vai ser algo independente? A Polysom é totalmente independente, sem ligação com nenhuma gravadora e irá atender a todos que se interessarem em fabricar vinil. Ou seja, sua função é fabricar LPs e compactos que serão encomendados. Com a reativação da fábrica, o vinil vai ficar tão barato no Brasil quanto é lá fora? E como se faz o vinil? As matérias primas são: PVC, combustível, e acetatos importados e tudo é muito caro. Nos EUA não se paga 100% em importação e nem 40% de imposto no produto final. Mas estamos fazendo o possível para deixar o vinil o mais barato possível.

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to de música, ele tirou o poder das gravadoras, dando ao consumidor o direito de escolher e aos artistas a chance de aparecer. Nasce agora uma nova geração de consumidores. Jovens que não têm o hábito de pagar por música, que é baixada gratuitamente. Essa nova regra ditada pelos consumidores abala de maneira brutal a organização empresarial das majors. Frente a esse novo cenário as gravadoras, tardiamente, tiveram que fazer regime; cortar pessoal. Diretores e gerentes com grandes salários foram para o olho da rua. O velho hábito de vender apenas os CDs que eles escolhiam, na hora que bem entendiam, se foi. Nos últimos cinco anos, as majors amargaram um prejuízo em média de 30% ao ano. As megastores fecharam, estavam chegando perto do prejuízo. As vendas de CD caíram numa velocidade tão espantosa quanto o aumento no volume de downloads. Diversos pesquisadores brasileiros se reuniram para discutir os caminhos possíveis após o fim da ditadura do CD, o resultado é o livro “O Futuro da música depois da morte do CD”. Entre as discussões que vão desde a (i)legalidade dos downloads até as análises da história da música, uma das apostas mais charmosas, segundo autores, é a volta do Vinil.


_______ ILUSTRAÇÃO - ALEX OLIVEIRA

evoluçãoourevolução A tecnologia Semi Metalic Disc promete acabar com a pirataria, aumentar o faturamento dos artistas e ajudar o bolso do consumidor

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o ano de 2003 uma nova revolução dentro do mercado fonográfico foi apresentada. O cantor e empresário Ralf Richardson Silva, da dupla sertaneja Chrystian e Ralf, desenvolveu um conceito novo de reprodução musical, que tem como objetivo principal acabar com o flagelo da indústria fonográfica, a pirataria. O dispositivo é chamado de SMD (Semi Metalic Disc). Ralf entrou no negócio depois de amargar perdas para a pirataria. Procurou ajuda de amigos e especialistas em informática para desenvolver o sistema.

O SMD propõe uma estratégia diferente na comercialização de CDs. Trata-se de uma espécie de reinvenção do que era o vinil, que pode ser lido dos dois lados. A mídia é aparentemente igual ao CD comum e pode ser reproduzida em qualquer CD-player com a mesma qualidade de som. O que difere os dois é que o CD tem a capacidade de armazenar 78 minutos de música e é fabricado com alumínio compactado, já o SMD tem capacidade para 60 minutos de música e utiliza uma liga semi metálica na fabricação. No começo, a mídia tinha capacidade para quatro músicas e vinha numa embalagem simples de acrílico sem encarte. Encartes e créditos eram armazenadas na própria mídia. Hoje, com os avanços tecnológicos, o SMD suporta cerca de 16 a 18 músicas. As embalagens de acrílico foram substituídas por uma de papel cartão, e créditos e encarte podem ser impressos nela. Os SMDs também podem ser produzidos em diversas cores.

O valor da mídia é um atrativo considerável. É possível fazer 1000 cópias do seu SMD por um preço unitário de R$1,20. Uma realidade totalmente viável para os artistas independentes que sonham com o primeiro trabalho. A mídia é muito bem vista no mercado independente, graças ao baixo custo de produção e à promessa de uma margem de lucro de até 20% por unidade vendida. No momento de seu lançamento, a pirataria atingia 50% do mercado nacional de discos. Hoje, o mercado ilegal de discos atinge 75% da população nacional. Com a divulgação devida o SMD promete ser uma revolução do mercado de música no Brasil. Quem já adquiriu, também aprovou o resultado. Já estão disponíveis também os formatos SMDV (DVD) e SMDG (games). A lista de produtos e artistas tem grandes nomes como Arnaldo Antunes e Orquestra Imperial, entre outros. ARIANE MAZZA


________ GUIA Móveis Coloniais de Acaju c_mpl_te (2009) Tracemos um paralelo interessante: ambas bandas são de Brasília, cada uma delas a seu modo captou o “espírito” de suas respectivas gerações, nas letras, críticas sociais são diluídas no melhor que o rock nacional pode proporcionar. Onde o Móveis Coloniais se difere da Legião Urbana? Renato Russo não baixava musicas, o Móveis, em contrapartida, lançou um disco inteiro pela internet – e que disco! Complete é um respiro no insosso rock brazuca. Tem guitarras, naipe de metais, ska, psicodelia, MPB... atitude! O produtor-ídolo, Eduardo Carlos Miranda coordena a ânsia dos rapazes, apara as arestas e o que temos é uma compilação de canções com letras inteligentes, críticas e bem-humoradas. “Cheia de Manha” ironiza o culto das celebridades precoces. “O Tempo” é pop redondo, cheia de jogos de palavras e de instrumentação marcante. As letras, no geral, captam e recortam os “não-problemas” da molecada atual: ansiedade, consumismo e romances fugazes. Um upgrade nos ditos messiânicos de Russo. Assumindo a postura de banda-empresa, a turma organiza seu próprio festival, produz e vende seus produtos (camisetas, acessórios, discos, etc) e planeja suas turnês. Tudo reflexo da geração da filosofia “do it yourself” que, aprimorada, apontou o dedo na cara do mainstream. Num acordo ousado com o visionário João Marcelo Boscolli, complete foi lançado gratuitamente pela Trama Virtual onde até mesmo o encarte, os internautas levavam no download. Se o titulo do disco sugere que falta alguma coisa à banda, a resposta é fácil: sua audição. Alex Oliveira

FOTOS - DIVULGAÇÃO


_______ Romulo Fróes No Chão sem o Chão (2009) Enquanto esquenta a discussão sobre o armageddon na indústria musical, Romulo Fróes vai contra as profecias: No Chão Sem o Chão é (heresia!) disco duplo e disponibilizado pelo artista para download gratuito. Fróes despontou em 2004 com “Calado”, uma excursão melancólica ritmada pelo samba de raiz. Agora o clima é outro. Fruto de uma necessidade do cantor em não ficar estigmatizado simplesmente como “sambista”, os quase 120 minutos do disco soam rock denso, abstrato, vagaroso e bem intencionado feito... o samba, presente no álbum mesmo que de forma discreta. Romulo, o tempo todo foge do lugar comum. Em “Pra fazer sucesso” escancara o rótulo: ‘Eu sou um resto que eu detesto de um projeto cultural. Imobiliário, financeiro, otário quase oficial’ É assim provocativo, quase birrento que o paulista Romulo Fróes e sua música se fazem notar. A questão de como ter acesso (download, camelô, loja) é o que menos interessa. Alex Oliveira

vale a pena ouvir...

FOTO - TATIANA BLASS

Reinações de Narizinho, Alice no País das Maravilhas, Bossa Nova, Sérgio Sampaio... em Pareço Moderno, o Cérebro Eletrônico reprocessa a cultura pop, adiciona a história da MPB no caldeirão e desponta como algaritmo promissor nos beats da música hum... moderna.


________ FOTO - DIVULGAÇÃO

Mallu Magalhães Mallu Magalhães (2008)

Espaço democrático O que roqueiros e uma estrela de forró piauiense tem em comum?

Os Seminovos Várias Faixas

Velhas Virgens - Ninguém beija como as lésbicas

Stephany Pra se Apaixonar”

stephany As letras dos Seminovos não negam a origem da banda. “O nerd de hoje é o cara rico de amanhã”. Um bando que surgiu na internet só poderia compor sobre sua realidade. As canções disponíveis gratuitamente na internet é puro rock tosco – tudo formatado para as caixinhas stereo do seu computador.

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No décimo disco da carreira, o Velhas Virgens ainda investe na fórmula infálivel: palavrões, letras “irreverentes” e, claro, muito rock n’roll. O destaque vai para a faixa-título, uma ode a um fetiche machão mais que manjado: a troca de carícia entre duas mulheres. Para iniciados.

Pra se apaixonar é o segundo disco da cantora “sensaçãoyoutube”, Stephany. No repertório, dois de seus maiores hits: “Meu Mundo Desabou” e “Eu Sou Stephany” - ambas versões de big hits gringos. É forró do Piauí embalado pela voz marcante da musa linda e absoluta.

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Difícil imaginar esta cena dez anos atrás: uma adolescente esquisitaça, com pinta de nerd e violão desengonçado cantando tchubarubas no Domingão do Faustão. Soa um feito surreal em tempos de Wanessas e Sandys, onde meninas querem ser mulheres ou meninas demais. Mallu Magalhães é o oposto. A rapariga de 16 anos, paulista, despontou na internet, virou predileta dos blogueiros, da cena alternativa e ganhou todos os aplausos da mídia. O álbum de estréia é todo versado em inglês (com exceção de “O Preço da Flor”) e aposta na sonoridade soft como chamariz. A ensolarada “Tchubaruba” é a melhor do álbum e demonstra o faro pop da cantora. A produção do experiente Mário Caldato (no currículo Beastie Boys, Bebel Gilberto, Seu Jorge) aliado à capacidade multifacetada de Mallu - ela compõe, toca violão, gaita, piano e outros instrumentos – confirmam sua posição de nova artista brasileira que vale o clique. Alex Oliveira


_______ Adriana Peixoto Adriana Peixoto (2008) O clã Peixoto chegou à rede. Adriana Peixoto, sobrinha do mestre Cauby, depois de 15 anos cantando na noite paulista e carioca, finalmente lança seu disco de estréia com divulgação maciça na internet. Lançado de forma independente (selo Studium Brasil), os sambas de Adriana se fazem conhecer através da sua página no Myspace. O repertório do disco é focado em MPB e excursiona por estilos diversos: samba, samba-canção, samba-rock. A admiração da cantora por compositores consagrados, que lhe presentearam com canções inéditas, pode ser conferida nos créditos. Gente como Sueli Costa, Abel Silva, Dalmo Medeiros e Danilo Caymmi são os nomes por trás dos versos. Cada uma das faixas surpreende pela sonoridade, que ganha contornos latino-americanos com os arranjos e a produção musical do pianista Yaniel Matos, um dos expoentes da música cubana. A malandra “Zé Mané” e a atualíssima “De cabeça pra Baixo” (aqui a carioca observa descrente a degradação de uma romântica Rio de Janeiro) são canções que confirmam o talento da moça. De voz potente (Cauby comparou a sobrinha ao mito Elis), com Adriana, o legado dos Peixoto encontrou a geração internet. Alex Oliveira

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________ baixe este texto! Excelentíssimo Senador Eduardo Azeredo, Suas intenções com o Projeto de Lei que “regulamenta” a ação dos internautas podem estar cheias de bom mocismo político – o que nos remete ao batido clichê, “o inferno está cheio de boas intenções.” Ok, eu não quero ter meu cartão clonado – assim como também não pretendo utilizá-lo para torrar 40 contos num CD que obtenho através de um clique. Tá sentindo o drama? Olha Edu, a internet pode até ser obra da paranóia ianque de vigiar, vigiar e vigiar. Mas a partir do ponto em que as aranhas (nós) invadiram esta teia, fiando sua extensão, não tem como querer controlar: nós produzimos músicas, letras, vídeos... vídeos... O princípio básico afinal não é compartilhar? Crio melodias para serem ouvidas. Textos para serem lidos. Filmes para serem compartilhados. A arte

é a mesma, mudam-se os meios: democracia é baixar – e já são mais de 50 milhões de eleitores... Querer proibir o acesso completo deste conteúdo vasto, Dudu, é assumir uma postura negligente. O quê o Sr. estava fazendo enquanto milhares de blogueiros iniciavam a revolução na forma de ouvir música? Baixando um disco claro! E agora vem com este papo careta? Reprimir é repetir a história lá de trás. Enxergar novas possibilidades é querer evoluir. Pedófilos, estelionatários, assassinos sempre estiveram aí, atrás de nossas portas e agora a culpa é da internet? Acesse a pasta raiz, meu caro! Deu 100% aqui no download e preciso ver o episódio que encerra a temporada de Lost. Daqui a alguns segundos, postarei este texto no meu blog para logo em seguida meus feeds indicarem que você o recebeu. É pedir muito pra Vossa Excelência deixar um comentário? ALEX OLIVEIRA

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ILUSTRAÇÃO - ALEX BORBA


ATÉ PARECE MODERNO uma LESMA DE SOFÁ ser capaz de ANEDOTAS E PERIPÉCIAS e ainda dotar de um certo VENENO COR-DE-ROSA logo DOMINE O PÚBLICO. blogspot.com fim


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