A Limpeza

Para a oração ser válida, é preciso que o corpo, roupas e local de prostração estejam livres de urina, sangue, impurezas e dejetos. O tapete de oração não tem nenhum significado especial, mas é um acessório que pode ser utilizado exclusivamente para se fazer as orações, sendo dobrado e guardado após este uso específico, garantindo maior conforto e uma superfície que se preserva limpa.

Pode-se orar sobre papel, jornal, pano, toalha, papelão ou até sobre o solo, desde que estejam limpos.

É aconselhável que primeiro se vá ao banheiro. Também é uma boa prática ir ao banheiro antes das abluções, para não perdê-las pouco tempo depois.

Estas regras possuem uma sabedoria milenar e são preventivamente corretas para a saúde. É importante manter as unhas aparadas e limpas, sendo sunnah aparar unhas, pelos íntimos e das axilas e bigode nas sextas-feiras. O uso de esmaltes pode invalidar a ablução, na medida em que impede o contato da água com as unhas.

A escola Hanafi estabelece como limite aceitável a quantidade de sujeira de no máximo o tamanho de uma moeda de dirham - 5 cm - na roupa ou no corpo, embora preferencialmente, qualquer sujeira deva ser eliminada, não invalidando a oração.

Aconselha-se ao muçulmano não urinar em pé (exceto se não tiver alternativas), porque raramente pequenos respingos não atingem a roupa, podendo comprometer a validade da oração. Quem urinar em pé deve tomar cuidado, verificar a roupa, sendo recomendável passar as mãos molhadas várias vezes por cima da roupa enquanto não for possível trocá-la. É permitido (se necessário) orar de sapatos, se os mesmos estiverem com as solas limpas de urina, impurezas e dejetos.

É recomendado que após fazer as necessidades se remova a sujeira completamente usando água - ou pelo menos papel, mas preferivelmente água e, ainda melhor, combinar papel e água. Atentar para o fato de que se deve urinar por completo para que a urina não saia depois na roupa (porém vale a regra de 1 dirham – e nesse caso pode-se passar água sobre a parte respingada da roupa). É mais adequado primeiro usar o papel e em seguida a água. Não se deve segurar urina, fezes e gases por muito tempo nem orar com vontade de ir ao banheiro.

Gases anulam a ablução e a oração (se ocorrerem no meio de sua execução), salvo em caso de incontinência involuntária, em que o indivíduo está escusado. Porém não se deve ficar segurando fora das orações, pois pode gerar dores e problemas de saúde. O melhor neste caso é refazer a ablução. Em caso de incontinência, a pessoa faz a ablução e reza, mesmo que a flatulência ocorra acidentalmente. Não devemos nos incomodar com pensamentos como “acho que quebrei a ablução, eu acho que estou impuro”. Regra de ouro é: É preciso ter indícios e certeza como barulho, cheiro, sujeira visível no corpo ou roupa. Caso contrário, tratase de um sussurro da mente que deve ser ignorado.

Vale lembrar que não é permitido fazer orações, súplicas, práticas religiosas, dhikr (lembrança de Deus) e nem pronunciar verbalmente o nome de Allah dentro de banheiros ou lugares de dejetos, nem portar o Alcorão ou papéis, medalhas ou coisas com os nomes divinos neste tipo de ambiente (não há problema quando estiverem dentro da bolsa ou enrolados em tecido ou papel).

Não devemos transformar a higiene numa obsessão, mas fazê-la de forma tranquila, sem tensão e naturalmente incorporando os hábitos da sunnah. Estas regras foram estabelecidas para prevenir enfermidades e proteger espiritualmente.

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Cobrir-se

Deve-se rezar cobrindo: no caso dos homens a awrah (parte íntima), que engloba do umbigo até os joelhos, e no caso das mulheres, todo o corpo, menos rosto, mãos e pés (escola Hanafi). Nesta escola a oração é permitida para quem esteja excepcionalmente sem roupas disponíveis, devendo neste caso rezar sentado e não à vista das pessoas (privativamente). Deve-se nas orações diárias tomar o cuidado para que no momento de curvar-se e prostrar-se as roupas não se abram expondo a parte inferior das costas, o que invalida o Salat.

Direção

Deve-se orar voltado para a Qibla, isto é, a direção sagrada – a cidade de Makkah (Meca), onde fica a Kaabah, templo construído por Abraão e concluído por seu filho Ismael, ponto mundial de devoção dos muçulmanos. Imagine a força espiritual de milhões de pessoas orando voltadas para o mesmo ponto e nos mesmos horários! Inúmeros milagres e fatos fantásticos foram relatados na Mesquita Sagrada.

No Brasil a direção é leste, com uma certa variação a norte (60 graus em relação a São Paulo). É aconselhável que o muçulmano tenha uma bússola, ou use um aplicativo de bússola, ou saiba se orientar pelo sol. Se não for possível saber a direção, ou estivermos orando dentro de veículo em movimento (o que torna impossível manter a direção), a direção deixa de ser obrigatória. A compulsoriedade de uma ação depende de ela ser possível ser executada.

Tempo

Deve-se cumprir cada uma das 5 orações obrigatórias dentro do seu tempo de validade, de preferência logo no início, pois as bênçãos são maiores (como uma chuva, que vai enfraquecendo). A oração é válida até o final de seu período, quando inicia a oração seguinte. Se não for possível fazer a oração dentro do tempo estabelecido, deve-se repor a oração mais tarde, assim que possível.

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Fajr (Alvorada) - do primeiro fio de luz do horizonte até o sol nascer. Zuhr (Meio Dia) - do meio dia astronômico (varia durante o ano) até o meio da tarde. Asr (Tarde) - do meio da tarde até o pôr do sol (a sombra de um objeto é o dobro do seu tamanho, na escola Hanafi. Nas demais escolas, do tamanho do objeto, ou seja, um pouco mais cedo). Maghrib (Anoitecer) - Do pôr do sol até a noite ficar escura. Isha (Noite) - Da noite escura até o Fajr. Nos dias atuais, existem aplicativos para telefones celulares que permitem saber o horário exato das orações.

Pode-se oferecer orações voluntárias 10-15 minutos após o nascer do Sol (Ishraq), Meio da Manhã (salat al duha), após Maghrib (Salatul Awwabin) e Madrugada (tahajjudd). A oração é proibida nos primeiros 10-15 minutos após o nascer do Sol, e não recomendada (mas não proibida) na última meia hora antes do sol se pôr. Porém nestes horários pode-se fazer dhikr, meditar (tafakkur), ler Alcorão, ouvir sermões. Estas proibições, dentre outras razões, têm relações com o fato de que povos politeístas cultuavam o Sol em tais horários. Da mesma forma o Islã adota o calendário lunar, de 354 ou 355 dias, que impede cultos idolátricos sobre a natureza. Cultua-se o Criador, não as criações efêmeras ou desejos do ego.

Sem um dos seis pilares da oração – ablução, limpeza, pudor (cobrir-se), direção, tempo e intenção, a oração é inválida e deve ser feita novamente.

* Ablução é a palavra usada em português para ghusl, tayammum e para wudu, sempre que se ler “ablução” ou “purificação”, entenda-se “purificação ritual”. ** Algumas fatwas (posições ou decretos de juristas islâmicos) minoritárias na escola Hanafi e outras escolas, permitem o masah sobre meias de tecido que forem bem grossas e robustas, de forma a ser possível caminhar uma boa distância sem que rasguem, e que a água passada pela mão úmida não atravesse imediatamente o tecido – porém a posição majoritária exige meias de couro ou impermeáveis.

*** Fonte: Riadhussálihin, capítulo 215, Hadiths 1196 a 1202.

Intenção (Niyat)

Nenhuma oração é válida sem intenção, ou seja, formular em silêncio “Intenciono fazer a oração de Fajr para ti Allah” (por exemplo). A intenção pode ser dita em qualquer língua. Em orações com número variável de rakats, devese dizer o número de rakats.

A oração islâmica é o ato mais sublime para mitigar o ego. É um ato de respeito e reverência ter higiene, retirar os sapatos e prostrar-se. É um exercício espiritual, uma arma daquele que busca o seu Senhor, um ato de autodisciplina, uma prática que deve ser aperfeiçoada diariamente. As orações obrigatórias somadas não tomam mais que quinze minutos do dia.

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