“A Simetria e o Conceito de Beleza” Ana Catarina Gomes de Oliveira Ana Maria Lucas Conceição Eduardo Manuel Marques do Rego José Manuel da Costa Ferreira Maria Alice Rebelo Escaroupa Pereira Ricardo Jorge da Conceição Henriques Pimentel Universidade de Aveiro catarinagomes76@hotmail.com analucas.ua@hotmail.com edurego@gmail.com ferreira.joma@gmail.com escaroupa@gmail.com ricardojchp@gmail.com
Resumo: O projecto “A Simetria e o conceito de Beleza” serviu como base de investigação à implementação das tecnologias de comunicação Web 2.0 ao serviço de pedagogias de construção colaborativa e cooperativa do conhecimento, em alunos dos 2º e 3º ciclos, em torno de um conteúdo transversal a diversas disciplinas. Com estas práticas de desenvolvimento da interacção, mais do que atingir objectivos meramente referentes a conteúdos programáticos, pretendeu-se testar a emergência do conhecimento e da aprendizagem partilhada, a aquisição e desenvolvimento de capacidades como a literacia informática, a capacidade de selectividade na pesquisa e aquelas que se relacionam com o trabalho social, entre elas, as que se relacionam com comportamentos assertivos. Sendo a aprendizagem um processo reconstrutivo, os alunos foram cognitiva e afectivamente envolvidos no trabalho a realizar, através de metodologias de construtivismo social. Para desenvolver este projecto procedeu-se à planificação do tema e seleccionaram-se duas ferramentas tecnológicas fundamentais: o Blog, como espaço de discussão e interacção, e a Wiki para a construção de um jornal online. Seguem-se as reflexões sobre os impactos esperados e os resultados obtidos no horizonte temporal de aplicação do projecto.
Palavras-chave: colaboração, interacção, Web2.0.
1. INTRODUÇÃO Este projecto resulta do trabalho desenvolvido pelo grupo “Marecas 2.0” no âmbito na disciplina de Multimédia e Arquitecturas Cognitivas do Curso de Mestrado/CFE em Multimédia em Educação-2007/2008, da Universidade de Aveiro. Reconhecer a simetria no mundo real e estabelecer uma eventual relação com a beleza tem sido um dos problemas ou dificuldades com que se deparam os alunos desde os primeiros anos de ensino. Trata-se de um tema transversal a diversas disciplinas e níveis de ensino, assim como uma ampla área que acarreta, de igual forma, dificuldades de exploração. Partindo da selecção desta temática e da definição deste problema e dificuldades, procurámos desenvolver um conjunto de actividades e estratégias que promovessem o conhecimento e a aprendizagem entre alunos dos 2º e 3º ciclos de duas escolas diferentes através de práticas de interacção utilizando ferramentas tecnológicas. Com as actividades propostas, visámos construir uma rede de conhecimento e a constituição de uma comunidade de prática que constrói o seu próprio conhecimento através da partilha na resolução de problemas. Desta forma, procuraremos fazer emergir uma aprendizagem partilhada, desenvolver competências tecnológicas de comunicação e 1
despertar uma maior sensibilidade aquando da identificação/apreciação da simetria e beleza no mundo real.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
versão final, deverá contar com a participação dos alunos e será o resultado de todo o trabalho de pesquisa, discussões e interacções ocorridas num Blog, criado para esse efeito. Estes dois espaços foram dinamizados, quase na totalidade, pelos alunos com o intuito de os responsabilizar o máximo possível pela construção do seu próprio conhecimento.
Aquando da iniciação teórica da disciplina de Multimédia e Arquitecturas Cognitivas, foi proposto um trabalho de projecto que fomentasse as Práticas de Desenvolvimento da Interacção enquanto mais-valia no processo educativo e de aprendizagem participativa. Deste modo, a interacção é uma das bases do desenvolvimento Humano e, foi com ela, enquanto âncora de aprendizagem social, que se proporcionaram aprendizagens aceleradas e evolutivas do conhecimento.
Inicialmente, estava também previsto a construção de um portfólio fotográfico no Flickr. Contudo, o facto de os alunos estarem pouco familiarizados com a utilização destas ferramentas e serviços e, portanto, poderem vir a revelar dificuldades na coordenação da informação em três espaços diferentes, fez com que esta ideia fosse abandonada pois julgámos não ser fundamental para o sucesso destas actividades. Foi, no entanto, utilizada uma conta no SlideShare para partilhar no Blog os trabalhos em PowerPoint e em Word (versão pdf) realizados por alguns alunos.
Embora a interacção esteja presente nas nossas escolas, pelo menos mais visível desde que se quase baniu a lição magistral como forma una de pedagogia, é extremamente importante potenciar essa interacção através das novas janelas comunicativas que as ferramentas Web2.0 trouxeram para o nosso quotidiano.
A intervenção do grupo de professores para a dinamização deste projecto relacionou-se com a elaboração de algumas actividades e estratégias que visaram ajudar os alunos na construção social do conhecimento acerca da temática proposta. Neste sentido, e como o público-alvo são alunos do 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico, foram planificadas actividades dinâmicas, bem estruturadas e simples, para que pudessem ser facilmente percepcionadas.
Perante esta nova e mutável realidade, urge uma concertação entre aquilo que é a Escola e a vivência tecnosocial emergente sob pena de deixarmos de, enquanto serviço educacional e de social-evolução/formação, prestar aquela que é a nossa missão basilar: proporcionar um meio favorável à aquisição de competências culturais, cognitivas, emocionais e sociais que permitam aos cidadãos participarem activamente nesta sociedade contemporânea tão multicultural e multifuncional.
Figura 1 – Imagem do Blog BelaSimetrias criado para a interacção entre os alunos.
3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO De forma a proporcionar um meio favorável à aquisição de competências, referido acima, decidimos explorar conteúdos relacionados com a temática da simetria, por ser uma área transversal a diversas disciplinas e níveis de ensino e também por se tornar uma área vasta e complexa que costuma revelar-se de exploração difícil. Para atribuir um contexto mais específico para esta aprendizagem, os alunos foram incentivados a relacionarem a simetria com o conceito de beleza. Esta relação entre a simetria e a percepção da beleza constitui uma área de estudo científico bastante recente e que ainda gera alguma polémica, pelo que pareceu servir de mote perfeito para o desenvolvimento de um projecto que visa o estudo das interacções e da aplicação das TIC em contexto educativo. A dinâmica deste projecto passou, então, pela utilização de uma Wiki para a construção de um jornal científico online, onde o primeiro artigo a ser publicado teria de estar relacionado com a temática acima descrita. Este artigo, na sua
As actividades propostas tiveram como finalidade alcançar alguns objectivos orientados para a promoção do espírito de partilha e colaboração na realização das tarefas, para o incentivo de um trabalho cooperativo como meio de optimização na resolução de problemas. Para além destes objectivos, pretendemos igualmente responsabilizar os alunos pela construção do seu próprio conhecimento (autoconstrução), tendo sempre em conta a valorização de uma aprendizagem partilhada. Ao nível educacional, pretendemos que os alunos adquirissem e desenvolvessem competências tecnológicas relativas às ferramentas de 2
comunicação, despoletassem uma maior sensibilidade aquando da apreciação da simetria no mundo real e, por fim, procurassem explorar padrões, fomentassem o gosto pela investigação de propriedades e relações geométricas. Assim, as actividades propostas foram: •
A pesquisa e partilha de informações no Blog BelaSimetrias. Os alunos são, também, os seus autores e, por isso, responsáveis pela sua dinâmica;
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Elaboração de um jornal científico online, Wikiência. Neste espaço, os alunos colocarão os seus artigos após a discussão ocorrida no Blog.
Figura 2 – Imagem da Wiki criada para a colocação dos artigos relacionados com Simetria por parte dos alunos.
Para que os alunos desenvolvessem as actividades referidas, foram, do mesmo modo, definidas algumas estratégias que, a nosso ver, poderiam ajudar na sua orientação, nomeadamente, a constituição de pequenos grupos de trabalho. Ou seja, reconhecemos que a colaboração e a partilha do trabalho em grupo favorecem não só as actividades mas também o produto final. Outra das estratégias implementadas tendo em vista as dinâmicas de interacção teve a ver com a atribuição de papéis/funções para cada grupo de trabalho, pois tornaria a investigação menos repetitiva e a discussão de grupo mais rica e dinâmica. Após a pesquisa e investigação, os alunos publicaram no Blog os seus textos, fotografias, imagens, para que os outros grupos pudessem dar o seu feedback. O facto de terem sido desafiados a integrar este projecto alunos de três turmas, de duas escolas e de dois ciclos de ensino diferentes veio, na nossa opinião, enriquecer este feedback.
4. RESULTADOS ESPERADOS
alunos muitas resistências ou dificuldades, nomeadamente, em ser reconhecida no mundo real, a concretização deste projecto assentou na tentativa de explorar este conceito de forma mais intuitiva e colaborativa, capaz de fazer emergir o conhecimento através da partilha e da interacção entre alunos e professores. Partindo de um desafio inicial – pesquisa de simetrias e assimetrias na natureza, fazer a respectiva identificação e proporcionar a discussão, utilizando ferramentas cognitivas/tecnológicas como o Blog e a Wiki – procurámos promover uma rede de saber e de partilha de conhecimento, pois cremos que o papel da comunicação é fulcral na realização de aprendizagens já que a partilha e troca de ideias parece potenciar a construção e aquisição de conhecimentos. Isso deve-se, provavelmente, ao facto deste tipo de aprendizagem se basear na inteligência colectiva e, assim, emergirem as vantagens associadas a esta metodologia como sejam: o desenvolvimento da argumentação e resolução de problemas, o incremento da criatividade, estimulação da pesquisa, discussão e argumentação e aceitação de divergências de pensamento e opinião. Nesta sequência, foi intenção no desenvolvimento deste projecto de que a realização colaborativa de um conjunto de actividades proporcionasse uma adesão natural e uma motivação maior junto dos alunos no que diz respeito à Simetria e à sua (eventual) relação com a Beleza. A visibilidade da sua participação, o reforço positivo e o incentivo constituiriam também estratégias capazes de os levar à superação de dificuldades, quer de aprendizagem, quer de relacionamento e conduta cívica. A utilização das TIC, nomeadamente, das ferramentas da Web2.0, permite colocar os alunos em contacto com tantos pontos de vista diferentes quantos os utilizadores da internet que se interessem em comentar as suas pesquisas e trabalhos divulgados. Assim, é possível gerar e obter informação e soluções que ultrapassam o limite dos recursos da sala de aula e uma maior dinâmica de trabalho colaborativo. Tendo como público-alvo alunos do 6º e 7º anos, e não querendo descurar um pouco de ambição, prevemos que o papel do professor seja o de orientador e o de “permitir que se aprenda sem ensinar”. Assim sendo, a sua actuação deverá permitir: •
A construção de uma comunidade de prática capaz de proporcionar o intercâmbio e o conhecimento em rede o que permite fomentar o desenvolvimento de uma consciência cultural e a realização de projectos comuns;
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A aquisição de hábitos de aprendizagem colaborativa, através do envolvimento dos alunos na troca de experiências, conhecimentos e opiniões proporcionando uma construção mais ampla e dinâmica do saber;
Sendo a simetria um tema estudado desde os primeiros anos de ensino básico e que encontra em grande parte dos
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Um papel mais activo por parte dos alunos na construção da sua própria aprendizagem, visível no controle e gestão das informações que recebem;
Pretendeu-se, então, o desenvolvimento de um trabalho com ferramentas cognitivas/tecnológicas que não seja visto exclusivamente como consulta e "copy/paste" das informações disponíveis e que este não seja encarado como mais um trabalho, mas sim um projecto capaz de ter continuidade e fazer crescer o conhecimento.
5. METODOLOGIAS O estudo da simetria é desenvolvido ao longo dos diversos ciclos do Ensino Básico e por mais do que uma área disciplinar – Matemática, Ciências da Natureza, Educação Visual e Educação Visual e Tecnológica. Estas disciplinas utilizam preferencialmente, e sempre que possível, o Método de Resolução de Problemas no ensino e aprendizagem dos seus conteúdos. Ora, é sabido que este método valoriza e procura desenvolver a capacidade de pesquisar e seleccionar informações relevantes com o objectivo de obter soluções para problemas identificados. A aplicação deste método em contexto de sala de aula é, muitas vezes, feita de forma redutora por diversos motivos entre os quais podemos identificar: •
A morosidade do processo pela sua natureza, o que por vezes põe em risco o cumprimento dos extensos programas escolares;
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A idade e maturidade dos alunos que normalmente não permite a concretização deste método na íntegra;
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O acesso a outros pontos de vista restrito aos restantes colegas do grupo de trabalho e da turma.
Tendo em conta estas limitações, assim como as dificuldades que esta temática costuma apresentar aos alunos, procurámos abordá-la através de alguns recursos multimédia, preferencialmente fora do contexto de sala de aula, e que permitem uma adesão e uma dinâmica mais interactiva na descoberta da aprendizagem. Na verdade, o desenvolvimento de recursos, assentes na leitura e escrita de documentos multimédia e em diversas formas de comunicação online, tem demonstrado ser uma mais-valia na integração de saberes e na contextualização da aprendizagem nas escolas. A utilização de formatos de informação - figuras, sons, textos, vídeos - tem feito com que os alunos assumam uma atitude de partilha no que diz respeito à construção de novas aprendizagens. Diremos que com os recursos Web 2.0 que utilizámos e com as estratégias de actividades propostas procurámos fomentar junto dos alunos
uma maior interacção e cooperação na construção do seu conhecimento. Para um tema como o que pretendemos desenvolver, como é o caso da relação entre o conceito de Simetria e o de Beleza no mundo real, pensámos em várias actividades e estratégias e em como as iríamos aplicar, de forma a conseguir atingir os nossos objectivos. Neste sentido, e como o nosso público-alvo são alunos do 2º e 3º ciclos (do 6º e 7º anos da Escola EB 2/3 de Avelar (Ansião) e do 6º ano da Escola EB 2/3 de Penafiel N.º2), escolhemos actividades dinâmicas, bem estruturadas e simples, para que pudessem ser facilmente percepcionadas pelos alunos, e que passaram por: •
Formação de pequenos grupos;
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Pesquisas individuais e em grupo;
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Dinamização do Blog BelaSimetrias;
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Colocação de artigos no Blog por parte dos alunos;
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Inserção de comentários individuais ou em grupos aos artigos dos colegas;
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Elaboração de um artigo para o jornal científico online, Wikiência, a partir das aprendizagens realizadas através da interacção no Blog.
Apesar de se tratar de um projecto cujo objectivo central passa por incentivar os alunos para a partilha e troca de conhecimentos fora do contexto da sala de aula, optámos por disponibilizar alguns tempos lectivos, concretamente, das áreas curriculares não disciplinares de Estudo Acompanhado e Área de Projecto, para apoio e orientação nos trabalhos, uma vez que nos deparámos com a limitação de alguns alunos no acesso e domínio das ferramentas tecnológicas seleccionadas. Assim, para alguns alunos, foi necessário, previamente, criar contas de email para que fosse possível efectuar os registos e criar os dados de acesso, para o Blog e para a Wiki, para todos os que participaram no projecto. A decisão de o fazer pelos alunos prendeu-se com as restrições de tempo para a concretização deste projecto uma vez que, assim, foi possível evitar as dificuldades inerentes a registos mal efectuados, acelerar o início das actividades e manter com mais facilidade um registo dos alunos envolvidos para mais tarde ser possível fazer uma análise de participação mais rigorosa. Do mesmo modo, foi dada uma pequena formação prévia no que diz respeito à publicação nas ferramentas escolhidas para que os alunos pudessem realizar o seu trabalho com a autonomia necessária. Concretamente, foi exemplificado, através da elaboração de um tutorial, como criar um artigo e efectuar os respectivos comentários. A aprendizagem do funcionamento do Blog foi relativamente rápida, permitindo, 4
dessa forma, que os alunos mostrassem um maior empenho na sua exploração e dinamização. Assim, o crescente ritmo de publicação de artigos, realizada de forma autónoma, e comentários superou, sem dúvida, todas as expectativas. Figura 3 – Imagem do tutorial sobre como criar um artigo
No entanto, emergiram algumas dificuldades porque alguns alunos fizeram as suas pesquisas e guardaram-nas em formato Word e, por isso, houve necessidade de dar também alguma formação ao nível do tratamento das imagens e do seu isolamento como objecto digital, bem como ao nível da utilização de outros programas inseridos no Microsoft Office, nomeadamente o PowerPoint cujos ficheiros podem ser partilhados de forma mais dinâmica e apelativa através do serviço SlideShare. Isto permitiu que os alunos enriquecessem os seus conhecimentos na utilização destas novas ferramentas tecnológicas, que neste nível etário ainda não dominam, de forma natural, descontraída e lúdica. Refira-se, desde já, que a vontade e a motivação demonstradas facilmente fizeram ultrapassar as dificuldades e o espaço de interacção e de descoberta rapidamente saiu do contexto de sala de aula. A título ilustrativo, refiram-se os testemunhos de alguns alunos que referiram que se dirigiram a espaços públicos de acesso à internet ou a casa de familiares para poderem dar continuidade ao trabalho, em virtude de não terem acesso a partir de casa. Tanto no espaço de sala de aula, como fora dela, o nosso papel, enquanto professores, foi o de orientadores e facilitadores da aprendizagem, assim como o de impulsionadores da interacção entre alunos que, nalguns casos, não se conheciam uma vez que, não frequentam o mesmo espaço escolar.
conceitos pretendidos nesta fase escolar. Por outro lado, o facto de os adolescentes serem, na sua maioria, sensíveis à influência dos seus pares, juntamente com as diferenças de desenvolvimento intelectual e de maturidade emocional, torna especialmente importante para os professores a criação de um ambiente no qual a aprendizagem seja apoiada por regras estabelecidas pelos professores, numa fase inicial, e pela própria comunidade, numa fase posterior. Neste âmbito, o trabalho de grupo torna-se fundamental para a aprendizagem especialmente quando se reveste também de algum carácter lúdico. Procurámos fazer recair o enfoque na teoria construtivista da aprendizagem, uma vez que os alunos interagiram entre si e com o meio que os envolve, recorrendo às novas tecnologias. Poderemos acrescentar alguns episódios acerca da procura intrínseca do conhecimento, quando os alunos foram procurar exemplos de simetrias na natureza que os rodeia, como sendo, os animais domésticos, as flores do seu jardim, as janelas das suas casas, entre outros exemplos que se poderão visualizar no Blog. Sobressaiu, assim, o papel activo por parte dos alunos, visível no controle das informações que receberam e na gestão do seu próprio ritmo de aprendizagem, realçado pelo conceito multimédia. Enquanto professores, procurámos criar hábitos de utilização das TIC que promovessem uma maior autonomia e interacção, de forma a conduzi-los para uma construção mais ampla e dinâmica do saber. Para além de uma maior autonomia da aprendizagem, os recursos tecnológicos e multimédia que os alunos começaram a utilizar possibilitam o desenvolvimento de uma consciência cultural, que fomenta a partilha de experiências e a realização de projectos comuns. Por outro lado, o factor tempo é libertado uma vez que os alunos têm acesso à mais variada informação, tornando as suas pesquisas mais eficazes e menos morosas. Figura 4 – Imagem da Ficha de Avaliação da participação e trabalhos realizados pelos alunos
Com efeito, os professores dos 2º e 3º Ciclos, onde se insere o público-alvo deste projecto, encontram-se perante o desafio de lidar com muitos e diversos aspectos relacionados com a leccionação dos conteúdos e com ritmos de desenvolvimento que vêm influenciar a aprendizagem dos 5
A avaliação do projecto foi feita principalmente através da análise da observação do nível de participação dos alunos, da sua evolução, da dinâmica gerada pelas interacções e da influência das estratégias aplicadas sobre estes factores. Esta opção prendeu-se com o facto de considerarmos que, globalmente, este projecto ainda se encontra numa fase inicial e irá ser alvo de um desenvolvimento muito mais aprofundado. No entanto, numa das turmas, os trabalhos desenvolvidos no âmbito deste projecto enquadraram-se na unidade de trabalho em curso na disciplina e, por isso, contaram para a avaliação final de Período. Surgiu, então, a oportunidade de criar e testar uma ficha de avaliação que se adequasse a trabalhos realizados segundo esta metodologia.
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS Importa, nesta fase, fazer uma reflexão incisiva sobre o impacto que as estratégias de interacção implementadas, cimentadas em ferramentas de comunicação Web 2.0, tiveram sobre alunos e professores. Relativamente ao envolvimento dos alunos participantes, todos voluntários, podemos considerar que o balanço foi muito positivo, atendendo à participação alargada dos alunos no Blog e, já na parte final do trabalho, à transposição de conteúdos para a Wiki, tendo em vista a construção do jornal online. O elevado grau de envolvimento dos discentes ganha mais destaque se lhe juntarmos as vicissitudes inerentes ao hiato temporal de duas semanas e o facto de a maioria do público-alvo ter partido de um grau zero de proficiência no uso deste tipo ferramentas tecnológicas. GRÁFICO 1 – Visitas ao Blog BelaSimetrias durante as duas primeiras semanas.
Ao prepararmos este projecto tínhamos como objectivo a sua continuidade para além do período de tempo em que decorreu a disciplina de MAC. Assim, certas potencialidades comunicacionais das ferramentas que foram menos exploradas pelos alunos durante estas duas semanas poderão ser posteriormente desenvolvidas. A título de exemplo, a quantidade de artigos colocados para discussão no Blog foi
elevada mas a interacção em torno de cada um deles não se efectuou com tanta intensidade e profundidade. Esta situação pode ser explicada por uma série de factores condicionantes: as ferramentas serem novas para estes alunos e necessitarem de tempo para ser assimilada a forma adequada de uso e participação; os alunos se encontrarem, durante este trabalho, em situação de multitarefa (relembre-se que decorriam avaliações e o seu horário é bastante preenchido); o acesso restritivo aos meios tecnológicos fora das horas das disciplinas envolvidas; a atitude, perfeitamente habitual entre quaisquer indivíduos, de se concentrarem preferencialmente naquilo que consideram a sua obra e tomar menos atenção à obra que consideram de outrem. Refira-se que a esta última condicionante não é alheio o facto da construção colectiva de conhecimento não ser provavelmente, e por norma, o principal método de trabalho que os alunos executam nas nossas escolas. Devido a estes condicionalismos, não foi desenvolvida, em pleno, a mais-valia de comunicação interactiva entre pares e entre os dois grupos de alunos das duas escolas que poderia contribuir para um maior nível de construção colectiva do conhecimento. As sementes, porém, foram lançadas e assistiuse a um maior nível de interacção à medida que fomos avançando no período temporal do projecto e foi, inclusive, possível verificar a capacidade de auto-regulação de uma comunidade online num episódio em que um aluno referiu-se ao trabalho dos colegas de forma menos agradável, havendo uma resposta pela parte de um dos seus membros. Tal observação dá-nos garantias que este projecto demonstrou o potencial para a formação de uma comunidade de aprendizagem, um projecto que não tenha sido encarado como mais um trabalho e não se esgote em si próprio. Neste sentido, poderíamos extrapolar esse incremento de interacção que, naturalmente, se reflectiria no crescimento da colaboração e cooperação emergentes. No que diz respeito à evolução das aprendizagens e à aquisição de conteúdos relacionados com a simetria, verificouse que com este tipo de trabalho os alunos conseguiram estabelecer um conhecimento exemplificativo de objectos e situações de simetria superior àquilo que era habitual. Este facto encontra eco se pensarmos que, com a publicação dos artigos no Blog, a partilha das imagens encontradas por cada um foi potenciada a níveis não habituais. Relativamente à assimilação de conceitos matemáticos, verificou-se que os alunos compreenderam o conceito de simetria, identificaram um grande número situações onde existia simetrias, bem como vários tipos de simetria, não necessariamente só aqueles que são rigorosos no aspecto científico. Poucos apresentaram erros graves nas suas participações. Por outro lado, exploraram o conceito de forma muito mais dinâmica do que é habitual na exploração do conceito nestes níveis de ensino. De salientar que, sendo o tema normalmente abordado ao nível de figuras geométricas simples e das construções no plano, os alunos rapidamente 6
avançaram para o campo da natureza (paisagens), animais, plantas, simetria nos números e até simetrias no espaço a três Dimensões (3D). Os alunos tiveram ainda a possibilidade de atribuir sentido à Matemática com base nas suas experiências. Foi-lhes dado a oportunidade de conversar sobre as suas experiências e sobre como estas se relacionam com os conceitos matemáticos, de se escutarem mutuamente enquanto partilham ideias, de lerem matemática apresentada em diversos formatos e de escreverem sobre situações matemáticas. Tais situações permitem que os alunos comparem experiências, clarifiquem o seu raciocínio e desenvolvam a percepção de que a matemática que estudam na escola está interligada com a matemática que encontram no mundo real. Este trabalho permitiu também fazer conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento, como as Ciências Naturais e a Arte. Nas situações em que foi preferido o trabalho de grupo, os alunos que compreenderam mais rapidamente os conceitos foram responsáveis por explicá-los aos colegas antes de iniciar a organização/elaboração do trabalho, o que beneficiou a aprendizagem cooperativa e colaborativa. O trabalho em grupo proporcionou-lhes a oportunidade de desenvolver competências sociais e comunicativas, enquanto convivem com os colegas de grupo (aspecto importante nestes níveis etários). Os trabalhos de grupo tiveram ainda a função de mobilizar os encarregados de educação dos alunos para a cooperação na recolha/elaboração de materiais a utilizar nos trabalhos apresentados. Relativamente aos professores, foi necessário potenciar o aspecto de facilitador e de orientador de aprendizagem, o que, sejamos claros, é diferente do papel mais ou menos central que costumam ocupar tradicionalmente. O bom impacto que esta metodologia teve nas aprendizagens dos alunos, pese-se todas as considerações feitas até aqui, também teve como impacto nos professores o aumento da confiança em métodos pedagógicos com os quais não cresceram e aprenderam. Sublinhamos, neste momento, que essa mudança de mentalidade no corpo docente terá que ser estendida à sociedade. Esta reflexão ganha tanto mais força quando se pensa nas reacções que a comunidade tem, muitas vezes, à implementação de metodologias e pedagogias diferentes daquelas que consigo foram usadas. Quem ainda não ouviu o clássico chavão: “No meu tempo é que era uma escola a sério?” Pensamos que esta resistência poderá ser ultrapassada, se estas formas de interacção permitirem uma maior participação da comunidade educativa no processo de ensino/aprendizagem, que se encontra a ser implementado em cada momento na escola dos seus filhos. Do mesmo modo, podemos efectuar reflexões ao nível de características próprias da interacção comunicacional entre os alunos e entre os alunos e professor. Na verdade, o uso de ferramentas de comunicação e interacção na Web2.0 parece quebrar alguns constrangimentos de relação que se
estabelecem presencialmente. Este facto pode vir a revelar-se útil para incrementar a participação de alunos com personalidades mais reservadas e introvertidas. Sob este mesmo ponto de vista, são claras as potencialidades ao nível da aprendizagem de relações sociais e de partilha e comunhão de tarefas. A assertividade e a capacidade de respeitar e negociar sobre outros pontos de vista podem ter aqui lugar de desenvolvimento. Todas estas situações foram pontualmente observadas, embora, naturalmente, não tenham sido alvo de observação e estudo analítico acurado. Algumas reflexões podem ainda ser extrapoladas em relação à capacidade de motivação. Assim, podemos relatar casos de alguns alunos do sexto e sétimo anos das duas escolas envolvidas que, aquando da proposta voluntária de trabalho, não se mostraram interessados em participar. Mais tarde, com o decorrer do projecto e o reforço de algumas estratégias definidas, inflectiram na sua decisão e pediram mesmo dados de acesso para que também pudessem contribuir. Casos menos positivos também aconteceram, casos de alunos que pretenderam abandonar o projecto, mas em menor número. Tais decisões pareceram estar relacionadas, principalmente, com dificuldades de integração e utilização da tecnologia pelo que, mais uma vez, o professor terá um papel fundamental como facilitador e integrador nestas metodologias de interacção que envolvam ferramentas menos conhecidas pelos alunos.
7. CONCLUSÕES Como conclusões referentes aos resultados desta metodologia de trabalho, destacamos os seguintes aspectos: •
Fomentaram-se capacidades e o grau de confiança na utilização das novas tecnologias entre todos os intervenientes;
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Forçou-se a combinação de ferramentas tecnológicas, facto que proporcionou mais-valias e optimização de resultados no trabalho proposto;
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Favoreceu-se a acessibilidade de produtos num espaço que pode ser visível, por todos, na escola e fora dela;
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A transposição para fora da escola e o fácil acesso aos trabalhos por parte da comunidade levam-nos a considerar que, com a evolução e conhecimento sobre esta plataforma de partilha, surjam a breve trecho participações fora do universo inicial de utilizadores. Este é talvez um novo paradigma de envolvimento dos encarregados de educação em trabalhos que os alunos se encontrem a realizar;
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O aspecto anterior possibilitou a interacção entre alunos de espaços escolares e realidades geográficas diferentes;
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Potenciou-se a construção do conhecimento com conexões efectivas de conteúdos teóricos à realidade;
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Permitiu-se a comunicação/troca de experiências entre os alunos, alunos/professor e professor/professor sem constrangimentos de tempo ou espaço;
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Diluiu–se a ligação entre um determinado docente e um determinado conjunto de alunos, todos podem ser professores de todos;
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Proporcionaram condições para que os docentes revissem estratégias de metodologia pedagógica, deixando papéis mais ou menos centrais no processo de aprendizagem dos alunos; Aumentou-se o grau de participação em alunos com características de inibição comunicacional.
Podemos, por isso, afirmar que, ultrapassando o período de adaptação que se pode estender por uma ou duas semanas, é possível desenvolver uma comunidade de aprendizagem efectiva onde o papel do professor vai perdendo cada vez mais a sua centralidade pois ela vai-se tornando cada menos necessária à medida que a dinâmica da comunidade se desenrola e consolida. Acreditamos ainda que as dificuldades encontradas no desenvolvimento de projectos semelhantes podem ser facilmente ultrapassadas através da experiência continuada e partilhada destas práticas, e sua divulgação. Só assim será possível eliminar o cepticismo ainda existente e criar as condições para que estas novas metodologias se tornem cada vez mais familiares a todos: docentes, discentes e comunidade educativa. Em suma, as ferramentas da Web2.0 permitem o emprego de uma metodologia de ensino/aprendizagem mais aberta, dinâmica e motivante que potencia a apreensão efectiva de conteúdos e de competências académicas, pessoais e sociais.
8. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer aos alunos que se voluntariaram a participar neste projecto e às suas famílias pelo apoio e disponibilidade demonstrados, nomeadamente, na possibilidade de acesso à internet fora da sala de aula e na captura de imagens de elementos e espaços domésticos. Agradecemos, ainda, aos professores António Moreira e Luís Pedro, e à monitora Margarida Lucas, todo o apoio prestado durante a realização deste projecto.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, A. A. (1999). Os Hipermédia em Contexto Educativo. Braga: IEP, Universidade do Minho. DIAS, P., GOMES, M. J. e CORREIA, A. P. (1998). Hipermédia & Educação. Braga: Edições Casa do Professor. FOSNOT, C. (ed.) (1996). Construtivismo e Educação – Teoria, Perspectivas e Prática. Lisboa: Instituto Piaget. GEDDES, Dorothy et al. (1992). Geometry in The Middle Grades. The National Council of Teachers of Mathematics, Inc. GEDDES, Dorothy et al. (tradução 2007). Princípios e Normas para a Matemática Escolar. Associação de Professores de Matemática e National Council of Teachers of Mathematics, Gabinete de Edição da APM, 1ª Edição, Setembro2007. REZENDE, Flávia. “As novas tecnologias na prática pedagógica sob a perspectiva construtivista” in Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Volume 02, número 1, Março 2002, p. 1-15. Universidade Federal do Rio de Janeiro. CARVALHO, A. A. (2007). Rentabilizar a Internet no Ensino Básico e Secundário: dos Recursos e Ferramentas Online aos LMS. In Sísifo/ Revista de Ciências da Educação, nº3, pp. 25-39. DIAS, Paulo. Hipertexto, hipermédia e média do conhecimento: representação distribuída e aprendizagens flexíveis e colaborativas na Web. In Revista Portuguesa de Educação, Universidade do Minho, Portugal, 13 (1), 2000, pp.141-167. MIRANDA, G. L. (2007). Limites e possibilidades das TIC na educação. In Sísifo /Revista de Ciências da Educação, nº3, pp. 41-50. GOMES, M. J. (2005). Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. In VII Simpósio Internacional de Informática Educativa – SIIE05, Leiria, Portugal: Novembro 2005, pp. 311-315. [Online] disponível em http://creazeitao.googlepages.com/BlogsUtilEducUNIVMI NHO.pdf e acedido em 23.Fevereiro.2008. WISEMAN, Mark (2007). Best wiki for classroom education. In all the wikis – website for online collaboration, Outubro 2007. [Online] disponível em http://allthewikis.com/wikifaqs/best-wiki-classroom-education/ e acedido em 22.Fevereiro.2008. 8
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ABSTRACT To implement the practice of collaborative work using the Web2.0 communication technologies with students aged 10-14, we applied the project “Symmetry and the Concept of Beauty” to the study of symmetry in Mathematics, Nature and Arts. With this cooperative and collaborative process we meant for the learners to achieve academic goals, to acquire the ability to communicate with each other and to create an
active learning community. As such, they were lead to interact with content, to access, manipulate, synthesize and communicate information with other learners and teachers and receive their feedback. We also intended for the learners to develop social interactions, to articulate learners’ characteristics, capabilities and opinions creating opportunities for interaction in online learning environments so that they would engage in the collaborative construction of appropriate and meaningful knowledge. Interaction and learning experience among students was supported by instructor direction and facilitation, centred mainly on content, to provide useful learning advantages. For this project a Blog and a Wiki were used to engage discussion between learners and to construct an online journal. The lifespan evaluation of this project was two weeks and the results are discussed in this paper.
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