Revista Alimentação Animal n.º 112

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N.º 112 ABRIL A JUNHO 2020 (TRIMESTRAL) ANO XXXI 3€ (IVA INCLUÍDO)

COVID-19 QUE LIÇÕES DEVEMOS RETIRAR PARA A INDÚSTRIA DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL?

A LI ME N TAÇÃO A N I M A L

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A LIMEN TAÇÃO AN IM A L


ALIMENTAÇÃO ANIMAL EDITORIAL

QUE LIÇÕES DEVEMOS RETIRAR DA COVID-19? Já muito foi dito e escrito acerca dos impactos e das consequências que o atual cenário pandémico nos trará. Contudo, independentemente dos impactos sanitários e económicos globais, que são catastróficos e com uma dimensão ainda por apurar, já é possível refletirmos acerca das lições que podemos e devemos retirar. Assim, interessa realçar, como não poderia deixar de ser, o reconhecimento do nosso setor José Romão Braz

como essencial, o que nos permitiu desenvolver a nossa atividade, sob rigorosos planos

Presidente da IACA

de contingência, mesmo durante o Estado de Emergência. Tal facto, demonstrou a capacidade das empresas do setor em manter o regular abastecimento aos seus clientes e estes a jusante, sem que o consumidor tivesse sentido qualquer tipo de limitação no acesso aos produtos de origem animal. É importante reconhecer a extraordinária resposta que o sector agroalimentar foi capaz de dar, reafirmando a sua vital importância económica e social. Sai reforçada a necessidade de continuarmos a apostar na autossuficiência alimentar, que pode ser determinante em momentos de crise em que cadeias logísticas possam ser afetadas. No entanto, as questões ligadas à sustentabilidade e ao ambiente continuam na ordem do dia e muito provavelmente, considerando o horizonte 2030 e a Estratégia “Farm to Fork”, bem como o plano de recuperação da Comissão “Next Generation EU”, sofrerão uma pressão adicional para implementação e tomada de medidas concretas pelos vários intervenientes no setor alimentar. Assim, a visão 2030 da FEFAC partilhada pela IACA que assenta nos três pilares: Segurança Alimentar, Nutrição Animal e Sustentabilidade, continua atual e interessa reforçar a sua concretização, pois só dessa forma conseguiremos responder aos

ÍNDICE

desafios que temos pela frente.

03 04 TEMA DE CAPA PRADO 38 DO AO PRATO

sustentável. Não nos iludamos, apesar do setor agrícola, apenas representar cerca de

EDITORIAL

42 48 INVESTIGAÇÃO 50 SPMA 51 NOTÍCIAS DAS EMPRESAS ESTRATÉGIA

54 AGENDA

A Inovação e a Investigação serão fundamentais para a realização da visão 2030 e para tal o FeedInov será um instrumento fundamental para o setor em Portugal e uma medida concreta que demonstra o nosso comprometimento com as metas de um desenvolvimento 10% do total das emissões, já existem projeções que nos mostram que com as medidas previstas para os sectores dos transportes e produção de energia elétrica, a importância relativa da agricultura nas emissões globais tenderá a subir até 2050, pelo que temos de “pôr mãos à obra” para continuarmos a aumentar a eficiência alimentar e a sustentabilidade da nossa atividade. A Alimentação Animal é uma história de sucesso, e se considerarmos a diminuição dos índices de conversão nas ultimas décadas, as projeções que temos disponíveis, a economia circular da qual somos designados, justamente, de “campeões”, uma visão de valorização dos efluentes gerados na pecuária e o contributo essencial para o Mundo Rural, temos de estar confiantes no papel que continuaremos a desempenhar para garantir a sustentabilidade do Planeta e dar uma resposta cabal para a importância da proteína de origem animal na garantia de uma alimentação para todos, considerando as previsões de crescimento da população a nível global. Independentemente das alterações dos hábitos que os consumidores possam vir a demonstrar no período pós-covid e dos impactos que se fazem sentir no nosso país ao nível da redução do consumo via canal HORECA, os argumentos que apresentámos durante este período difícil e crítico da nossa existência, são sinais encorajadores quanto à resiliência e capacidade de adaptação da Indústria da Alimentação Animal em particular e do Setor Agroalimentar em geral. O futuro pertence-nos! A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

N.º 112 ABRIL A JUNHO 2020 (TRIMESTRAL) ANO XXXI 3€ (IVA INCLUÍDO)

COVID-19 QUE LIÇÕES DEVEMOS RETIRAR PARA A INDÚSTRIA DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL?

QUE LIÇÕES RETIRAR DA COVID-19? Se na edição anterior da Revista “Alimentação

Uma enorme fragilidade que urge ser resolvida, já

Animal”, fomos apanhados de surpresa pela pan-

o sabíamos, e há que estabilizar, agilizar procedi-

demia da COVID-19, obrigando-nos a alterar com-

mentos e tornar mais previsível o funcionamento

pletamente as perspetivas e o alinhamento, é

das operações portuárias.

importante recuperarmos o tema nesta edição, não só pelo impacto nas nossas vidas, seja no plano sanitário, social ou económico, ou no que vai ficar durante e para além da crise, sendo certo que vamos enfrentar enormes dificuldades em todos os setores, que já se fazem sentir como resultado do confinamento a que fomos obrigados desde 18 de março, com os sucessivos Estados de Emergência e de Calamidade, para além das cercas sanitárias, nomeadamente em Ovar e S. Miguel. Reconhecida pelo Governo como um setor essencial, a Alimentação Animal não parou e as empresas estiveram sempre na linha da frente, com rigorosos planos de contingência, empenho e resiliência, garantindo o abastecimento a milhares de explorações e milhões de animais, de criação e de companhia. Ultrapassando dificuldades de logística e estrangulamentos no terreno, esta foi claramente uma das lições da COVID-19: a cadeia de abastecimento não foi interrompida, demonstrando uma notável capacidade de cooperação e mobilização. Nos bastidores, a IACA esteve envolvida em Grupos de Acompanhamento e de Contacto, no quadro dos Ministérios da Economia e Agricultura, levando a “voz” dos associados, os seus problemas e estrangulamentos, aos decisores políticos e autoridades oficiais, o que permitiu que tudo funcionasse na “estranha normalidade”.

Caso contrário, terão de ser encontradas outras opções e não é por acaso que nesta edição da Revista “Alimentação Animal” temos um artigo sobre o Complexo Portuário, Industrial e Logistico de Sines e as infraestruturas que estão a ser pensadas, com investimento que se quer estruturante e de grande mais-valia para o País. A concorrência é naturalmente bem-vinda. Este período de confinamento, a par do encerramento do canal HORECA, veio tornar mais visível a ligação entre energia e alimentação e a dependência de proteínas vegetais, sobretudo de bagaços, provenientes da produção do biodiesel, como o bagaço de colza. Sem consumo de gasóleo, as petrolíferas reduziram fortemente a procura e as extratoras pararam ou limitaram a atividade, com consequências penalizadoras para a Indústria. Foi ainda publicado um Despacho durante o Estado de Emergência a fixar a incorporação de biodiesel em 6.75%. Temos ainda a questão dos óleos alimentares usados que são maioritariamente importados e que IACA e ACICO alertaram por diversas vezes, e publicamente, na comunicação social. Ficou a promessa do Governo de legislar no muito curto prazo sobre as taxas de incorporação mínimas do biodiesel. Esta é outra lição, a de que precisamos de uma política coerente e equilibrada neste dossier das energias renová-

integrante, o envolvimento das organizações repre-

veis. Uma situação que atingiu toda a Europa e

sentativas dos diferentes setores, com a distribui-

que se alargou aos DDGS, com a forte redução

ção e a logística, consolidou a ideia de que os con-

do consumo de bioetanol.

assegurados, depois de uma fase inicial de algum açambarcamento e instabilidade.

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a Fileira Pecuária.

Ao nível da cadeia alimentar, de que somos parte

sumidores iriam ter bens de primeira necessidade

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Em nome da competitividade do Setor e de toda

Uma Europa que se preocupou, e bem, com os corredores verdes, com o reforço do Mercado Único e não permitiu que países limitassem as

O funcionamento do Porto de Lisboa foi sempre um

suas exportações, como chegou a ser avançado

problema, desde as greves marcadas no início da

pela Roménia. Situação bem diferente é não se

pandemia, à necessidade de uma requisição civil,

perceber que devemos ter stocks estratégicos

e contactos com a tutela, no sentido de se evita-

para enfrentar novas crises globais, pese embora

rem atrasos, sobrecustos, quer na componente de

a boa cooperação internacional, designadamente

importação, quer nas exportações.

ao nível do G20.


Já tínhamos a perceção que a União Euro-

se colocam, desde logo, os investimentos

Estado da Agricultura e do Desenvolvimento

peia não pode ficar tão dependente em

necessários para a tecnologia e a investi-

Rural, Engº Nuno Russo, e depoimentos de

matérias-primas essenciais de Países Ter-

gação, para que ninguém “fique de fora”, ou

distintas personalidades, nacionais e interna-

ceiros, sobretudo nos aditivos, vitaminas

a imposição dessas metas às importações

cionais, com análises e testemunhos da maior

e em tantos outros setores que se deslo-

de Países Terceiros e se os produtos finais

importância e que nos vão certamente levan-

calizaram para a China e outros mercados.

terão preços suficientemente atrativos para

tar novas interrogações, que muito agradece-

Mas nunca como hoje, essa vulnerabilidade

os consumidores.

mos. Desde a produção agrícola e pecuária,

foi tão evidente. Mais uma lição que fica e importa definir que papel queremos assumir na cadeia de fornecimento à escala global.

Até porque temos agora uma crise de mercado que é muito profunda e que se pode prolongar para além de 2021. Necessitamos,

O caminho pode ser agora o da tão desejada

pois, mais do que nunca, de um orçamento

reindustrialização mas, para já, a retoma vai

e de fundos adequados, à altura das ambi-

ser com base na economia verde, em nome

ções, para que tenhamos uma agroindústria

do Ambiente, do Clima e da Sustentabilidade.

dinâmica e resiliente, porque competitiva e

A Estratégia “Farm to Fork”, para concretizar no horizonte 2030, que apresentamos nesta Revista, inclui metas ambiciosas que não podemos ignorar e que, pelo menos ao

ao encontro das necessidades dos consumidores e da Sociedade. Sendo certo que, sem

alimentação animal, agroalimentar, sanidade e distribuição, sem esquecer o comportamento dos consumidores, que também foi alterado durante a pandemia. Na situação atual, com a abertura de fronteiras entre os diferentes países, em que tudo é ainda muito volátil, são enormes as inquietações e as incertezas.

pecuária, não existirão modelos sustentáveis

No entanto, num horizonte de grandes trans-

de produção.

formações, temos a certeza de que a Nutrição

nível do bem-estar animal e na redução dos

Para nos ajudarem a refletir sobre todas estas

antibióticos, irão ser incorporadas na revi-

questões, centrais para o nosso futuro, publi-

são da PAC, no quadro dos Planos Estra-

camos nesta edição da “Alimentação Animal”

tégicos Nacionais. Muitas interrogações

uma entrevista de fundo com o Secretário de

Animal não deixará de desempenhar um papel da maior relevância nesta Estratégia. E com ele, novas oportunidades! Jaime Piçarra

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

ENTREVISTA AO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO DESENVOLVIMENTO RURAL Nuno Russo

“A biotecnologia pode dar um importante contributo para o avanço do melhoramento vegetal, desde que os produtos obtidos sejam considerados seguros para o Homem, animais e ambiente.”

“No panorama agroalimentar nacional, o principal setor da indústria transformadora em Portugal, a alimentação animal é uma das mais relevantes.”

“Vivemos um momento que pede que repensemos e alteremos comportamentos e métodos de trabalho, um momento que exige que reforcemos e valorizemos o que de bom produzimos.” 6 |

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No momento atual o país regressa, paulatinamente, à normalidade possível após 2 meses de confinamento devido à situação pandémica. Num primeiro momento pensou-se que o impacto desta situação no setor agroalimentar iria ser tímido, mas, na realidade não foi isso que se verificou. Qual o ponto de situação que pode fazer acerca dos impactos da COVID-19 no setor agrícola e agroalimentar em Portugal? A situação da pandemia foi acompanhada pelo Ministério da Agricultura desde o início, sempre em articulação com as diversas áreas governativas envolvidas, e o trabalho levado a cabo permitiu, assim, garantir o abastecimento alimentar em todo o território, não se tendo verificado situações de rutura assinaláveis. Isto fica a dever-se, largamente, à resiliência e dedicação, dos trabalhadores e das empresas, e ao espírito de missão de todos os agentes do setor. Este acompanhamento aconteceu (e acontece) em permanente diálogo com o setor e as respostas apresentadas foram reflexo disso mesmo. Houve, no entanto, impactos significativos em algumas atividades específicas, fruto da sua elevada dependência do normal funcionamento do canal HORECA, como é o caso dos pequenos frutos, dos produtos de pequenos ruminantes (leite e carne), dos leitões e de alguns outros produtos obtidos a partir de raças autóctones. Na fase inicial, a não abertura de mercados locais e feiras de produtos tradicionais, por razões de saúde

pública, também tiveram impactos negativos no escoamento dos produtos locais. Uma fase cujos efeitos tentámos minimizar, designadamente através do lançamento da campanha "Alimente quem o Alimenta" e da plataforma associada. E foi com muito agrado que verificámos sinais de alguma revitalização do comércio de proximidade. Também foram identificados algumas dificuldades nos setores de maior orientação exportadora, para além da do mercado nacional, como é o caso dos produtos hortofrutícolas, do vinho e, também, das plantas e flores, afetados pela diminuição da procura externa e pelas contingências na logística do transporte, e pelo encerramento de algumas fronteiras. Por estes motivos, estamos já focados na retoma económica. A preocupação do Ministério é, sem dúvida, recuperar o ritmo de crescimento que caracterizava o setor agroalimentar e a evolução positiva da balança comercial do setor, verificada nos últimos anos, e antes do surgimento da pandemia. Os agentes do setor têm reclamado que deveriam estar a beneficiar de mais medidas de apoio e que elas deveriam ser mais céleres. Que medidas, tomadas por parte da União Europeia e do Governo de Portugal, já estão a chegar ao Setor? E o que está programado? As ajudas à armazenagem privada, a antecipação de pagamentos das ajudas diretas e as ligadas ao Programa de Desenvolvimento Rural


já estão todas concretizadas ou ainda faltam agilizar outros tipos de ajudas? Confrontados com os efeitos da pandemia COVID-19 e sempre em articulação com as outras Áreas Governativas envolvidas, apresentámos um plano de medidas excecionais que, para além de integrar medidas transversais a toda a economia nacional, inclui medidas específicas, com o objetivo de assegurar o funcionamento do setor agrícola e mitigar as quebras registadas na procura. Um plano participado que, como assinalei, resulta de um conjunto alargado de contributos das organizações representativas do setor, tendo vindo a ser atualizado ao longo do tempo, consoante as necessidades identificadas e as respostas da Comissão Europeia. Os apoios estão, genericamente, todos no terreno e temos ainda procurado simplificar e agilizar a relação com o Ministério e os organismos. A Agricultura não parou e o país reconheceu isso. E é nosso objetivo, designadamente neste período difícil e desafiante, continuar a criar proximidade e a extinguir barreiras. Queremos estar ao lado dos agricultores e, assim, garantir alicerces que permitam ao setor ser parte da resposta no momento de estabilização e de retoma económica. A pandemia por COVID-19 e as consequentes alterações ao fluxo logístico de produção e disponibilização de alimentação animal e humana fez ressurgir a ideia da necessidade de reservas de crise ou de stocks estratégicos, à semelhança do que acontece com os combustíveis. O que pensa acerca deste tema? Fazemos parte de uma União Europeia, temos uma Política Agrícola Comum e essa é a maior garantia de reservas de crise e/ou de stocks estratégicos, ainda que se mantenha como objetivo o aumento da capacidade produtiva nacional, que é também essencial para o desenvolvimento do território e para a redução das assimetrias sociais. Aliás, a resposta garantida pela Agricultura nacional, neste período ímpar, é também reflexo da integração num projeto europeu cujos alicerces temos de manter seguros e firmes. Concorda com a ideia de que a sociedade urbana e alguma elite portuguesa se distanciou da produção agroalimentar? O que pretende fazer o Ministério da Agricultura para voltar a dar relevância e reconheci-

mento social a esta atividade? Neste âmbito, existirá algum conselho que possa dar aos agentes do setor? Não falaria em distanciamento. É natural que, perante o normal funcionamento do sistema, não nos questionemos sobre como tudo é garantido. Contudo, perante a pandemia COVID-19 e os seus efeitos, a sociedade uniu-se. Prova disso foi a resposta, por exemplo, das grandes cadeias, que apostaram nos produtos endógenos, e dos municípios, que mobilizaram todos os esforços na garantia do funcionamento dos mercados. Todos se organizaram em prol da valorização dos produtos nacionais e responderam positivamente ao apelo que lançámos. Os cidadãos não foram exceção, bastará olharmos para a adesão à campanha "Alimente quem o alimenta". E os produtores demonstraram uma capacidade de adaptação, de reinvenção e de superação inquestionável. De repente, os mercados passaram a estar online e havia inúmeros projetos de distribuição de cabazes. A Agricultura não parou e ainda fez mais do que isso, procurou dar passos inovadores, testar e não hesitou perante soluções como a plataforma que lançámos – www.alimentequemoalimenta. pt –, a qual aproxima produtores e consumidores, dando presença digital a produtos que nos distinguem e orgulham. O conselho que se pode deixar, e porque é um desafio que se coloca diariamente à equipa do Ministério da Agricultura e ao setor primário, é que haja capacidade de aumentar os níveis de organização, nomeadamente através do associativismo setorial/profissional. É uma frase feita, mas que a pandemia evidenciou como nunca: juntos somos mais fortes. Logo, mais capazes de superar as adversidades e de prosperar na confiança. Qual a posição do Ministério da Agricultura face à utilização de novas tecnologias aplicadas à agricultura, como os OGM ou os NGT (novas técnicas de melhoramento de plantas)? A inovação no setor do melhoramento de plantas, é desejável e essencial para a obtenção de variedades melhoradas melhor adaptadas às condições edafoclimáticas, às alterações climáticas, mais resistentes a pragas e doenças, e que permitam também obter produtos alimentares inovadores e seguros.

O melhoramento vegetal tem sido realizado pelo Homem desde o surgimento da agricultura, tendo permitido aumentar a produtividade das culturas de forma muito significativa, e atendendo a que a expansão da terra arável é limitada, esse aumento é determinante para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A biotecnologia pode dar um importante contributo para o avanço do melhoramento vegetal, desde que os produtos obtidos sejam considerados seguros para o Homem, animais e ambiente. Neste domínio, consideramos que a regulamentação europeia é garante dessa segurança, atendendo às exigências em temos de análise de risco. Que relevância reconhece à alimentação animal no funcionamento da cadeia alimentar e na competitividade da produção pecuária nacional? No panorama agroalimentar nacional, o principal setor da indústria transformadora em Portugal, a alimentação animal é uma das mais relevantes. O controlo rigoroso e permanente das matérias-primas utilizadas é o primeiro passo para garantir a segurança da cadeia de alimentos, e os níveis de exigência são reconhecidos e apontados como garantias de qualidade do que se produz em Portugal. No entanto, o esforço ocorre ao longo de todo o processo de fabrico e distribuição dos alimentos para animais até à produção pecuária nacional. Pela importância que a alimentação animal tem na produção pecuária, seja ao nível dos custos de produção, seja pelo impacto no maneio, saúde e bem-estar animal, na qualidade e segurança dos produtos de origem animal, é fácil concluir que a competitividade da Fileira Pecuária depende, em grande parte, da capacidade competitiva e da qualidade dos produtos colocados no mercado pela Indústria de Alimentos para Animais. Recentemente o Comissário Europeu do Ambiente Virginijus Sinkevičius emitiu declarações que associam a propagação da COVID19 à produção intensiva de animais, aliando a sua voz à de grupos de pressão, cuja posição é, neste caso concreto, sustentada por desinformação e notícias falsas. Que posição teve o Ministério da Agricultura português face a estas declarações? E relativamente às notícias falsas que frequentemente circulam A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

nos media digitais, existe, ou poderá vir a existir alguma estratégia do Ministério da Agricultura para mitigar esta desinformação? Num mundo dominado pela globalização, pela urbanização, pelo aquecimento global e pelas mudanças nos hábitos de consumo, a questão da segurança da cadeia alimentar é considerada uma prioridade para os governos, para os produtores e para os consumidores., A segurança da cadeia alimentar compreende as normas e regulamentos, os sistemas e mecanismos, as ações e comportamentos destinados a proteger os géneros alimentícios de contaminações ao longo de toda a cadeia, procurando sempre garantir a proteção do consumidor. Este conceito envolve múltiplos aspetos e tem evoluído ao longo do tempo. No âmbito da pandemia COVID-19, os colaboradores do setor agroalimentar foram sempre abrangidos pela definição de serviços essenciais, tendo sido assim assegurado a resposta à necessidade de preservar a confiança do consumidor na qualidade, segurança e disponibilidade dos produtos. Considera que a reforma da PAC está a ter em conta as atuais necessidades orçamentais para a transição para uma economia verde? Ou a ambição está a ser maior do que o orçamento disponível? Neste âmbito, que papel pensa poderem ter os pagamentos no quadro do Eco Regime? A reforma da Política Agrícola Comum é um processo em curso, obviamente condicionado pela saída de um dos Estados-Membros da União Europeia. Conciliar as ambições com as disponibilidades financeiras disponíveis e as estratégias de todos os Estados-Membros é um exercício complexo, sensível e moroso. Não há economia verde sem agricultura, não há agricultura sem sustentabilidade económica, ambiental e social. Assim sendo, o nosso compromisso é claro: contribuir para todos os objetivos e metas europeias, assim haja uma justa compensação para todo o setor agrícola português, permitindo uma transição justa e inclusiva. O Pacto Ecológico Europeu e, mais especificamente, a Estratégia “Do Prado ao Prato” prevê metas bastante restritivas relativamente à diminuição da pegada carbónica da alimentação e outras, como redução da utilização de pesticidas, fitofármacos, antibióticos ou o reforço da 8 |

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agricultura biológica e maior bem-estar animal. Tendo em conta que a nível global a alimentação animal representa, segundo a FAO, 45% da pegada carbónica dos produtos alimentares de origem animal e que, especificamente no caso de Portugal, a maioria das matérias-primas tem de ser importadas e, consequentemente, mais oneradas em termos de pegada ecológica, que soluções existem à disposição dos industriais de alimentação animal em Portugal para cumprirem estes objetivos? Como pensa que será possível harmonizar estes interesses sem que isso implique eliminar uma parte do tecido produtivo português que é simultaneamente um factor de desenvolvimento rural e de fixação de população no interior do país? Ainda no que respeita às exigências da estratégia “Do Prado ao Prato”, uma das ações recomendadas é a Medição da Performance ambiental da produção. Prevê-se algum tipo de apoio financeiro para implementar estas ferramentas de diagnóstico? Portugal, de acordo com os recentes dados divulgados pelo Eurostat, é o Estado-Membro com maior redução no uso de fitofármacos. Entre 2011 e 2018 houve uma redução consolidada de 43% na venda deste tipo de produtos, logo, na sua utilização. É com esta capacidade de alcançar resultados que analisamos os objetivos, obviamente financiados pelo Pacto Ecológico Europeu e no âmbito da Estratégia "Do Prado ao Prato". São ambiciosos, sem dúvida. Mas a estratégia pretende aliar crescimento a sustentabilidade, rendimento e produção, qualidade e hábitos saudáveis dos consumidores. O Ministério da Agricultura está a preparar uma estratégia, igualmente ambiciosa, de concretização das políticas nacionais e comunitárias, que envolve uma componente de inovação muito forte, aliando o conhecimento à capacidade de produzir mais com menos recursos. A Agricultura tem de consolidar uma posição central na construção de respostas aos desafios da sociedade, desafios estes em constante mudança e cuja superação depende desta aliança da tradição à inovação partilhada, do conhecimento aplicável à investigação participada. É essa aposta que alimenta a Agenda de Inovação para a Agricultura 2030, a qual construímos em diálogo com o setor e que apresentaremos em breve.

De volta à atualidade… Estamos a assistir em quase todos os países a uma tendência protecionista e de nacionalização do consumo. Portugal não é exceção, mas, se por um lado esta tendência pode salvaguardar os agricultores e produtores pecuários nacionais das importações, também limita, naturalmente, a exportação dos nossos produtos. Como vê a harmonização destes dois objetivos? Quando pensa que poderemos assistir ao relançamento da atividade exportadora e abertura de mercados? A nossa expectativa é que os mercados mundiais continuem a reabrir gradualmente e que as exportações regressem aos níveis que registávamos antes deste contexto de pandemia. Já estamos a trabalhar para que isso aconteça muito em breve, e os dados conhecidos apontam para sinais de esperança e confiança. Portugal faz parte do maior mercado comum mundial, uma mais-valia que não podemos, nem devemos desperdiçar. Para tal, as medidas excecionais e, agora, as de retoma confluem para esse objetivo. Mais produção, mais competitividade, mais qualidade e sustentabilidade garantirão sempre mais capacidade de resposta às necessidades nacionais e maior robustez exportadora, ambas geradoras de mais rendimento e de valor acrescentado para o setor agroalimentar. Que lições devemos retirar da crise COVID para o futuro? Toda esta entrevista retrata a lição que tem resultado da crise pandémica que estamos a viver. Vivemos um momento que pede que repensemos e alteremos comportamentos e métodos de trabalho, um momento que exige que reforcemos e valorizemos o que de bom produzimos. Permitam-me terminar com Tolentino de Mendonça, que partilhou connosco uma maravilhosa reflexão, uma lição, no último 10 de junho: “No itinerário de um país, cada geração é chamada a viver tempos bons e maus, épocas de fortuna e infelizmente também de infortúnio, horas de calmaria e travessias borrascosas. A história não é um continuum, mas é feita de maturações, deslocações, ruturas e recomeços. O importante a salvaguardar é que, como comunidade, nos encontremos unidos em torno à atualização dos valores humanos essenciais e capazes de lutar por eles”. O futuro será o que dele quisermos fazer.


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O PAPEL DA INDÚSTRIA EUROPEIA NO PÓS COVID-19 Como conciliar a recuperação económica com base em metas/restrições "verdes" e mais ambientais com um setor dos alimentos compostos para animais e da pecuária competitivo e sustentável? Qual poderá ser o nosso papel no pós COVID-19? Asbjørn Børstin* Presidente

"A FEFAC acredita no caminho de uma pecuária e produção de alimentos compostos para animais mais sustentáveis, mas precisaremos das ferramentas certas e do acesso à inovação que permitem os avanços tecnológicos"

É difícil exagerar os impactos que a crise da COVID19 está a provocar nas pessoas em todo o mundo. A cadeia de valor da produção animal não é exceção. Esta enfrenta o seu próprio conjunto de desafios e a indústria dos alimentos compostos para animais está a fazer o possível para se adaptar às novas circunstâncias. Todos os setores económicos precisam de recuperar destes tempos sem precedentes, incluindo a agricultura e a pecuária. Com a estratégia agrícola da UE, a expectativa política é de que esta recuperação seja "verde". A FEFAC acredita no caminho de uma pecuária e produção de alimentos compostos para animais mais sustentáveis, mas precisaremos das ferramentas certas e do acesso à inovação que permitem os avanços tecnológicos. Olhando para a crise da COVID-19, que estará connosco durante mais tempo do que queremos admitir, gostaria, antes de mais, de salientar a incrível capacidade dos produtores de alimentos compostos para animais e das suas cadeias de fornecimento para se adaptarem aos desafios. Não dececionámos os nossos clientes da agropecuária, que passaram por momentos preocupantes sobre se os fornecimentos de alimentos compostos não seriam interrompidos quando a crise realmente começou a atingir a Europa. Temos de prestar homenagem a todos os trabalhadores, quer aqueles que operam em fábricas de alimentos compostos para animais, quer os motoristas, pelo seu empenho e pela aplicação séria dos requisitos de segurança. Foi da maior importância a nossa experiência na implementação de medidas de biossegurança. Na minha opinião, uma lição-chave a ser aprendida é que a Europa deve estar agradecida por ter podido contar com cadeias de fornecimento eficientes e flexíveis e importações sem interrupções. É irónico que estas mesmas importações, expressas como uma forma de 'dependência' quando se trata da soja (nunca é o caso das bananas, café ou abacate), sejam vistas como uma questão fundamental quando se trata de sistemas alimentares sustentáveis. Os efeitos das medidas de bloqueio nos padrões de consumo leva-

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ram a uma disponibilidade reduzida de proteínas para utilização nos alimentos compostos para animais na Europa. Por exemplo, a reduzida disponibilidade de grãos de fermentação devido ao menor consumo e produção de cerveja. Mas também o fornecimento de bagaços proteicos produzidos na UE foi afetado, devido a ajustamentos nas metas de mistura de biocombustíveis. Esta lacuna poderia ser compensada com bagaço de soja importado. No entanto, a ameaça de uma expansão descontrolada do vírus na capacidade logística dos países exportadores é claramente um novo elemento a integrar na avaliação da sustentabilidade dos nossos fornecedores. No entanto, isto não elimina o facto de que a pergunta 'de onde retiramos as nossas proteínas para os alimentos compostos?' é o principal desafio que temos de enfrentar nos próximos anos nas deliberações da Estratégia Farm to Fork. E os apelos à "soberania" dos alimentos e rações da UE só se tornarão mais fortes. Nesta matéria, defendo uma "perspetiva de bioeconomia". A FEFAC está totalmente de acordo com a ambição expressa na Estratégia Farm to Fork de "promover proteínas vegetais cultivadas na UE, assim como matérias-primas alternativas, tais como insetos, alimentos marinhos (por exemplo, algas) e coprodutos da bioeconomia". Insetos, mas também micróbios e fungos, podem desempenhar um papel interessante. Deve ser possível chegar a uma situação em que estes 'organismos intermediários' consumam biomassa de fluxos de resíduos que são posteriormente consumidos por animais produtores de géneros alimentícios. Isto contribuiria muito para a ambição de reduzir as perdas de nutrientes, em particular, o azoto. O setor europeu da produção de insetos está a declarar claramente a sua abertura para inovar nesta direção, por exemplo, através da utilização de antigos alimentos que contêm carne ou peixe. A indústria de alimentos compostos para animais deve estar aberta a discutir os parâmetros de acordo com os quais isto pode ser feito de uma forma que não ponha em causa os nossos compromissos com a segurança alimentar. Quando se trata do futuro dos biocombustíveis baseados em culturas, é necessário pensar em bioeconomia do ponto de vista da produção de alimentos compostos para animais na renovada ambição política da Comissão Europeia. A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, lançada em conjunto com a Estra-


tégia Farm to Fork, destacou a necessidade de "minimizar a utilização de culturas destinadas à alimentação humana e animal para a produção de energia". Evidentemente que concordamos com a ideia de que a biomassa segura e nutritiva deve ser destinada essencialmente à utilização de alimentos e rações. A este respeito, o estado de “biocombustíveis avançados” não deve ser concedido, de modo algum, a matérias-primas para alimentos compostos para animais, como melaço ou gordura animal utilizados durante séculos como valiosos ingredientes dos alimentos compostos para animais. Dito isto, as significativas quantidades de farinhas proteicas e DDGS que ficam disponíveis através da produção de biocombustíveis a partir de colza, girassol ou cereais são completamente ignoradas. Com efeito, desde a sua criação em 2009, a Diretiva Energias Renováveis tem sido o maior motor das farinhas de proteínas vegetais da UE destinadas à indústria da alimentação animal, mesmo sendo política orientar a produção de energia renovável. A separação tradicional entre as diferentes gerações de biocombustíveis está desatualizada e não corresponde ao quadro completo da bioeconomia de como criar uma cadeia de valor sustentável moderna, pelo menos, ao nível da UE. A indústria dos alimentos compostos para animais é um dos pontos de escoamento das biorrefinarias, que não deveriam ser penalizadas por causa de pontos de vista por princípio contra os biocombustíveis baseados em culturas.

No que diz respeito ao uso da terra, as ambições da Estratégia de Biodiversidade da UE que estão a chamar mais atenção são os objetivos de reduzir a utilização de pesticidas e fertilizantes, separar as terras agrícolas para não produção e aumentar a percentagem de terras para a agricultura biológica. Sem dúvida, isto terá um impacto na produção agrícola da UE, em particular, no potencial de fornecimento de proteínas à indústria de alimentos compostos para animais. Não existe outra forma de compensar a perda de terras e fatores de produção agrícolas, além dos avanços revolucionários nas técnicas de inovação de melhoria de plantas. Congratulamo-nos com o potencial reconhecido pelas Novas Técnicas Genómicas. A disponibilidade de terras na Europa já era limitada, e o

Também é necessária inovação para apoiar a redução de emissões ambientais. Existem soluções de nutrição animal para a redução das emissões de metano, mas ainda não são acessíveis, devido a uma estrutura legal que não é suficientemente incentivadora. A revisão anunciada da legislação sobre aditivos para os alimentos compostos para animais oferece uma oportunidade que nem operadores nem autoridades devem perder, no sentido de ajudar a cumprir as promessas do Pacto Ecológico Europeu de forma eficiente, que se pode tornar um exemplo para Países Terceiros. O desafio ambiental é de natureza global e a União Europeia não pode considerá-lo apenas isoladamente.

nosso Continente terá de adotar totalmente tecnologias inovadoras para nos resgatar. Os objetivos previstos para sistemas de produção de alimentos mais verdes também requerem um bom entendimento e avaliação de segurança dos alimentos para animais e géneros alimentícios, tanto pelas autoridades competentes como pelos operadores. Pode questionar-se se estaremos equipados adequadamente, por exemplo, para prevenir e mitigar ocorrências de micotoxinas, que impactam o nosso principal desafio como produtores de alimentos compostos, para manter elevados padrões de segurança.

* Asbjørn Børsting trabalha há 40 anos no setor agroalimentar a vários níveis, cobrindo tanto as atividades comerciais como ex-CEO da empresa de Cereais e Alimentos Compostos DLG, e através do trabalho com a elaboração de políticas agrícolas nacionais e da UE, como CEO no Conselho Agrícola Dinamarquês. É Diretor da Associação comercial dinamarquesa Cereais e Alimentos Compostos – DAKOFO, desde há quase 6 anos. Atualmente, ocupa igualmente o cargo de Presidente do Painel Dinamarquês de Bioeconomia. Foi eleito Presidente da FEFAC para o Mandato 2020/23, na Assembleia-Geral de 03 de junho.

A LI ME N TAÇÃO A NI M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

O FUTURO ESTÁ NAS NOSSAS MÃOS

Jorge Tomás Henriques Presidente

"Entendo ser o momento de identificarmos as nossas fraquezas e capitalizar as nossas forças, aumentando a nossa excelência, resiliência e sustentabilidade, rumo a um futuro que está nas nossas mãos (re)construir!"

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Escrever algumas destas linhas há seis meses atrás

mente a zero. Apesar de se manter operacional,

pareceria um ato totalmente desligado da realidade.

a indústria agroalimentar acabou por sofrer um

A verdade é que o mundo mudou literalmente de

enorme impacto com a suspensão do consumo fora

um dia para o outro. A crise em que mergulhámos

de casa e foram muitas as preocupações que surgi-

veio colocar a nu a vulnerabilidade global, não ape-

ram com toda a indefinição que se gerou, podendo

nas em relação à saúde da população, mas também

dar como exemplo o impacto do encerramento de

em termos políticos, económicos, sociais e ambien-

fronteiras no transporte de mercadorias, o abas-

tais. Considerando que já se debatia antes da pan-

tecimento de matérias-primas, os critérios para

demia que o chamado “business as usual” não era

a atividade laboral. De destacar que os principais

sustentável, agora é ainda mais evidente. Não nos

responsáveis pela continuidade do abastecimento

podemos dar ao luxo de perder de vista o grande

foram os empresários e os trabalhadores desta

desafio que temos pela frente: como “reinicializar”

indústria, que não baixaram os braços e que con-

as nossas economias e sociedades de forma a pro-

tinuaram a garantir a produção. Acreditamos que

mover um crescimento sustentável e conciliador

no futuro próximo os consumidores irão dar ainda

das diferentes vertentes? Os objetivos traçados

mais valor à disponibilidade de alimentos seguros,

no Pacto Verde Europeu e na Estratégia Farm to

diversificados, sensorialmente e nutricionalmente

Fork da UE, para garantir a neutralidade climática

adequados e produzidos de forma sustentável, pelo

e sistemas alimentares mais sustentáveis, ganham ​​

que o papel deste setor torna-se determinante. No

agora enorme relevância, merecendo o nosso foco

caminho a percorrer para a saída deste período

de atuação enquanto associações. Daquela que

negro das nossas vidas existirá também uma opor-

ficará na história da humanidade como a crise

tunidade única para as empresas estabelecerem as

COVID-19 do início do século XXI, que obrigou o

bases para uma nova realidade de produção e con-

mundo a “encerrar”, começamos agora a retirar as

sumo sustentáveis, como forma de enfrentarem um

primeiras lições em relação à segurança alimentar

mercado global em constante mudança ao nível das

(abastecimento), que necessita de um debate muito

expectativas, preferências e perceções dos consu-

consistente no âmbito da formulação das orienta-

midores. Ao nível da cadeia de abastecimento, os

ções políticas para o futuro. Devemos, por exemplo,

canais e segmentos de mercado anteriormente ainda

procurar compreender a verdadeira solidez dos

pouco explorados (por exemplo, encomenda on-line

sistemas alimentares da Europa, que afinal podem

e entrega direta) e a procura constante de modelos

não estar tão desligados como por muito tempo se

de negócios inovadores, vieram para ficar. Tomar

fez crer acabando por alimentar e potenciar uma

decisões ousadas ao nível da gestão dos negócios

dependência externa provavelmente excessiva. Por

para acelerar a transição digital e ecológica, investir

outro lado, e de forma muito mais evidente, fica

em inovação social, estabelecer novas parcerias ao

agora claro, para os mais céticos e mais distraídos,

nível da cadeia de abastecimento e colocar ainda

que a indústria agroalimentar é um setor essencial

mais foco nos consumidores, serão parte do ADN

e estratégico para o nosso país (e para a União

das empresas. Esta é também uma oportunidade

Europeia), tanto na produção de géneros alimentí-

para, sem hipotecar a ideia de um comércio global,

cios como de alimentos para animais, devendo ser

reduzir a dependência de países terceiros, apostar

vista como prioritária por parte de todos o deciso-

numa rede logística segura, na inovação e na digita-

res políticos e agentes económicos que conduzirão

lização, concorrendo assim para o aumento de redes

a desafiante tarefa de recuperação económica e

de eficiência, e contribuir, em suma, para a criação

social. Na verdade, a inexistência de roturas de

de um mercado único forte e solidário e para haver

produtos nas prateleiras, representou não só a

uma distribuição de valor muito mais equitativa na

garantia da segurança alimentar (abastecimento),

cadeia de abastecimento. Entendo ser o momento

como da segurança dos géneros alimentícios (ino-

de identificarmos as nossas fraquezas e capitalizar

cuidade) e da segurança nutricional. No espaço de

as nossas forças, aumentando a nossa excelência,

uma semana, a rotina de compras, as prioridades

resiliência e sustentabilidade, rumo a um futuro

dos consumidores e a tipologia de refeições mudou.

que está nas nossas mãos (re)construir! Estou con-

Por outro lado, um elo muito importante da cadeia

vencido que a indústria portuguesa agroalimentar

de valor, o canal HORECA, ficou reduzido pratica-

ficará mais forte!


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

QUE LIÇÕES DEVEMOS RETIRAR DA CRISE COVID-19

Eduardo Oliveira e Sousa Presidente

"A Agricultura não pára, mas tem um futuro incerto pela frente. Não apenas na sequência dos impactos que ainda virão, mas também porque há uma mudança em marcha"

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

“A Agricultura não pára" … foi assim que a CAP se posicionou logo no início da declaração do Estado de Emergência. E de facto a agricultura não parou. Logo após o final do impacto inicial da inexplicável corrida aos supermercados em busca de papel higiénico, que por arraste levou a alguns constrangimentos no regular abastecimento de produtos alimentares, rapidamente as pessoas perceberam que a agricultura estava a assegurar a cadeia de abastecimento e nada iria faltar nas prateleiras. Foi um esforço conjunto com o setor da distribuição, transportes e logística e muito particularmente dos produtores de alimentos para animais, que montaram uma verdadeira estratégia de gestão de crise, com bons resultados, mas cujos esforços são impercetíveis para a maioria dos cidadãos. Todo este período terá levado muitos a refletirem um pouco mais sobre a importância do setor agroalimentar. Estar em casa com tempo para cozinhar, cuidar dos alimentos, etc, terá proporcionado conversas em torno da agricultura e quero acreditar que alguns estarão hoje um pouco mais despertos e conscientes do valor dos produtos e um pouco menos preocupados com as questões exageradamente empolgadas nos últimos anos em torno dos modos de produção, utilização dos recursos e pegada carbónica provocadas pela agricultura e especialmente pela pecuária. Foi notória a adesão ao apelo para que se dê preferência a produtos nacionais. Foram desenvolvidas cadeias de solidariedade e incrementados novos modelos de negócio, como a compra on-line e a distribuição porta a porta, numa verdadeira e efetiva mensagem de que é possível entrar na "onda" do lema europeu… “do prado ao prato”. Sei que não é esse o sentido da expressão. Apenas me ocorreu referi-la por analogia ao que se passou com alguns setores ou produtos. Mas todo este período não foi, nem poderia ser, um mar de rosas. Muito pelo contrário. Muitos foram os agricultores que sofreram na pele os enormes impactos da repentina transformação comercial, ou mesmo a sua quebra. À cabeça, o desaparecimento do canal HoReCa (Hotéis, Restaurantes e Cafetaria), que levou à anulação do consumo de vários produtos, como os leitões para assar ou os queijos de pequenos ruminantes, tão comuns à mesa dos restaurantes. As exportações, pelo encolher dos mercados de destino, caíram a pique,

levando setores como os frutos vermelhos, o vinho e especialmente as flores e plantas ornamentais, a volumosas perdas físicas e financeiras. Os impactos noutros setores, como o leite ou a carne, obrigaram a Comissão Europeia a acionar o mecanismo de intervenção, pagando pelo armazenamento ou transformação de leite em pó. Rapidamente se apercebeu que a dotação financeira não está a ser suficiente para as quantidades em jogo, mas a Comissão não aprovou ainda o reforço orçamental necessário que vimos reivindicando. A agravar esta situação, já por si muito dramática, os apoios entretanto criados pelo governo para ajudar a tesouraria das empresas e segurar o emprego, não tiveram expressão visível no apoio ao setor agrícola. A burocracia e pouca adaptabilidade das medidas dirigidas ao setor agro-industrial e alimentar, acabaram por reduzir a um mínimo os apoios diretos, levando a que a grande maioria dos agricultores e empresários tenham feito face às dificuldades acrescidas com recurso aos seus próprios meios e mecanismos de negociação ao seu alcance, nitidamente insuficientes numa situação de crise com os contornos da atual. Em resumo. A Agricultura não pára, mas tem um futuro incerto pela frente. Não apenas na sequência dos impactos que ainda virão, mas também porque há uma mudança em marcha. Mudança de âmbito comportamental, mudança de políticas europeias e mudança de Quadro Financeiro Plurianual (QFP). Por outro lado, antes de ter acontecido o que aconteceu, no final do ano passado, a Presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, deu a conhecer o Green Deal, um programa com enfoque na sustentabilidade da economia, através de ambiciosas metas de proteção ambiental e de descarbonização da economia até 2050, cujos impactos nos atuais modos de produção de dezenas de produtos, dos agrícolas aos industriais e até nos serviços, são não apenas desconhecidos, como obrigarão a toda uma "revolução" face às alterações a que esse desígnio obrigará. Este programa engloba duas estratégias muito impactantes no setor agropecuário, denominados Farm to Fork – em português do prado ao prato – e a Estratégia para a Biodiversidade 2030. São grandes linhas de orientação e princípios a serem integrados nas medidas de política futuras. Contudo, o facto de o anúncio destas estratégias ter ocorrido


em plena pandemia (20 de maio), enfatizando modelos de agricultura e seguramente um aumento dos custos de produção, sem atender aos impactos gerados pela crise pandémica, revelou alguma insensatez, provocando um imediato reacender das posições muitas vezes extremistas que norteiam a "onda" ambientalista radical em crescimento nos países mais desenvolvidos, onde a fome e a carência são, para as gerações mais novas, pouco mais que referências históricas. Impõe-se por isso que o assunto seja revisto antes de se avançar para a fase de regulamentação e produção legislativa, que muito provavelmente se traduzirá num acréscimo de custos e de limitações ao já pesado caderno de encargos da política agrícola comum que hoje conhecemos. Inicia-se no segundo semestre deste ano a presidência alemã da UE. É assim plausível que, dentro de pouco tempo, seja encerrado o orçamento da União e conhecido o Quadro

Financeiro Plurianual. De seguida, possivelmente já durante a presidência portuguesa, no primeiro semestre de 2021, serão provavelmente encerradas as negociações da “nova” PAC. Sendo Portugal um país do sul da Europa, pequeno e predominantemente mediterrânico, trata-se de uma oportunidade de ouro para fazermos valer a especificidade dos nossos modelos de agricultura, com destaque para as questões relacionadas com a pecuária extensiva, o regadio e a nossa particular floresta, o montado. São temas que obrigarão a uma forte ação política e deverão ser muito bem defendidos, pois são muito desconhecidos da grande maioria dos representantes políticos dos países do norte da Europa, e mais ainda dos de leste que, por estarem em fase de afirmação e crescimento, desenvolverão todos os esforços no sentido de obterem reforços e apoios para os seus modelos de produção e realidade social.

Não é conhecida ainda a "fisionomia" dessa futura PAC, mais amiga do ambiente, mais objetiva em questões de proteção de recursos, como a água, o solo e a biodiversidade. Mas também com objetivos colaterais, integrando na estratégia Farm to Fork princípios de alimentação equilibrada e modelos agro-industriais, em conjugação com uma agricultura menos utilizadora de fertilizantes e fitofármacos, objetivos que também estão na base da estratégia da Biodiversidade 2030. São conceitos, ou "recados", mais que "receitas", mas há que estarmos atentos e devidamente fundamentados na técnica e na ciência para que este novo sentir em torno da agricultura e da pecuária possa ser, na prática, algo que se adeque aos nossos modelos de produção e que nos permita assegurarmos as nossas atividades agrícolas e pecuárias de uma forma equilibrada e economicamente viável. O orçamento da PAC deverá contemplar a adaptação a esta desejada mudança.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

O DIA SEGUINTE

Vitor Menino Presidente

"...o retalho alimentar apresenta um grau de exposição diminuto, o que por si dá uma indicação dos desafios que a fileira enfrentará nos próximos anos, no sentido de se robustecer e se dotar de poder negocial nas relações comerciais da cadeia de abastecimento"

E de repente, ainda em fevereiro, já a palavra do ano 2020 tinha sido encontrada. Bom, na verdade há que escolher entre coronavírus e covid-19, mas não passa de uma questão gramatical, já que a polissemântica dos dois conceitos produziu (e produzirá) um impacto substantivo no quotidiano de cada um. Desde o início de março que Portugal, seguindo (felizmente tardiamente) as tendências europeias, se vê no meio de uma crise sanitária, classificada pelos mais altos responsáveis políticos como uma batalha contra o covid-19 e, se há dano colateral que emerge sempre no meio dos furacões das crises, é a perceção do que nas nossas vidas são os dedos e o que são os anéis. Desde o início de março que a expressão "linha da frente" surgiu para classificar os profissionais que estão efetivamente no ativo para mitigar ao máximo os impactos deste vírus na saúde dos portugueses. Todos os reconhecimentos são poucos face ao trabalho inexcedível dos profissionais de saúde, das forças de segurança, dos funcionários municipais, dos trabalhadores dos supermercados, dos militares das forças armadas e tantos outros que estão a dar o seu melhor para acudir aos cidadãos, aos consumidores, aos contribuintes ou aos eleitores. Mas não esqueçamos, também, aquele grupo de gente que está na retaguarda deste campo de batalha a garantir a produção de bens essenciais para que nada falte aos supracitados. Um grupo de gente que em tempos de bonança é desvalorizado, vilanizado e considerado dispensável pelo poder político, mas que na tempestade são os mais imprescindíveis. Mas, passando à frente da emergência, importa saber que mundo nos espera no novo período d.C (depois de Covid) e, desde logo, são perspetiváveis alterações a três níveis: • Alterações de âmbito comportamental; • Impactos socio-económicos; • Agenda política.

Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

No que respeita ao primeiro ponto há uma experiência social relativamente recente que nos indica o poder do trauma coletivo na indução de novos hábitos sociais: o 11 de setembro e os eventos subsequentes – Atocha, Charlie Hebdo, Bataclan, Metro de Londres e de Bruxelas, etc… – vieram levantar questões na sociedade ocidental sobre valores considerados adquiridos, como a segurança e a liberdade. Veio também tornar aceitáveis procedimentos de cibersegurança, antes considerados

espionagem e veio ainda abrir brechas no comportamento social comum. A crise que agora atravessamos poderá criar traumas sociais mais profundos do que o terrorismo, sobretudo porque todos os 7 mil milhões de habitantes do planeta estão a experimentar as consequências do vírus. Desde logo se percebeu uma alteração dos hábitos de consumo na China, com uma transferência de consumo para o comércio online. A severidade da quarentena imposta no país asiático não deu grandes hipóteses aos consumidores chineses se não recorrer às plataformas online para se abastecerem. Com o retomar da vida normal, é observado que este padrão de consumo se mantém, já fora do período de reclusão. Veremos como sucederá na Europa, mas este é um indicador importante para a fileira da carne de porco e para todos os produtos agroalimentares que poderão sofrer inevitáveis alterações na forma como são apresentados ao consumidor, se o perfil do consumidor se alterar bruscamente. Outro aspeto que importa monitorizar na era d.C. é o grau de sociabilização que as comunidades vão manter. Os países mediterrânicos são conhecidos pelo gosto que mantém pelas relações pessoais, pelas reuniões familiares ou mesmo as formas mais pessoais de fazer negócios (como os famosos almoços de negócio). Também a norte, o fenómeno da "época dos barbecues" tem uma importância económica tremenda, ao ponto de ser um habitual propulsor anual do preço da carne de porco, assim que o tempo começa a favorecer estes convívios de fim-de-semana. Ou seja, do ponto de vista do mercado interno, a alteração do padrão comportamental no que se refere ao grau de sociabilização dos povos europeus pode ser um ponto crítico nas dinâmicas de mercado que se vão estabelecer depois da crise sanitária. Analisando os impactos socio-económicos desta crise, o primeiro fez-se sentir de imediato com o encerramento da restauração, provocando grandes e gravosos impactos sobre a produção de leitão para assar. Resta saber se estes impactos serão circunstanciados neste tempo de emergência ou se, finda a letargia, a dimensão da crise económica será tal que o encerramento de muitos estabelecimentos não será apenas temporário. Para além da restauração, importa ter em conta outros setores da atividade económica que influem no consumo da carne de porco. O turismo foi também um dos setores mais imediatamente afetados e sobre o qual não se esperam grandes notícias nos


tempos que aí vêm. É mais um ponto nevrálgico para o setor das carnes que viam o consumo aumentar em Portugal nos últimos 6 anos, muito por conta do aumento do turismo. Pelo lado positivo concorre o fator desde sempre menos agradável para a fileira da carne de porco. Em tempos de crises económicas, a carne de porco nunca foi dos produtos mais afetados porque é um produto nutritivo e barato, o que leva muitos portugueses a aumentar o consumo desta carne em detrimento de outras carnes ou de outras fontes proteicas. No entanto, é importante que a fileira se comece a preparar para as sempre agressivas promoções da grande distribuição… Finalmente, no plano político, estamos perante uma contingência que inevitavelmente fará a União Europeia mudar as prioridades, sob pena de ver ruir o projeto económico comum. Não quer isto dizer que a agenda ambiental deixará de estar em cima da mesa, mas há, para já, incêndios que lavrarão com maior intensidade. Além do mais, a pressão social sobre temas como as alterações climáticas não será a mesma e mesmo que fosse, os factos trazidos à luz das evidências através desta crise poderiam trazer uma nova perspetiva sobre a verdadeira contribuição da produção animal para a poluição atmosférica. Mas isso já seria depositar muitas esperanças na boa fé dos lobbies que interferem nestas matérias. Em suma, a forma como nos reergueremos desta calamidade que afeta o mundo todo será um enorme desafio a todos os níveis. A agência financeira Moody's considera que a produção de proteínas e a agricultura está moderadamente exposta aos impactos económicos

provocados pela pandemia, mas que o retalho alimentar apresenta um grau de exposição diminuto, o que por si dá uma indicação dos desafios que a fileira enfrentará nos próximos anos, no sentido de se robustecer e se dotar de poder negocial nas relações comerciais da cadeia de abastecimento. Vamos a (mais) esta luta e que o bom momento que o setor vinha a viver sirva de respaldo para que as opções agora tomadas sejam as mais acertadas!

Figura 1 – Perspetivas Moody’s sobre o impato nos setores de atividades económicas a nível mundial do novo coronavírus

A LI ME N TAÇÃO A NI M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

COVID-19 E O MERCADO DO PORCO Como todos sabem, a pandemia de Covid-19 afe-

europeus, o que provocou alguma perturbação

tou todos os setores da economia a nível mundial.

nos mercados.

O setor europeu da carne de porco não esca-

A sustentabilidade do mercado europeu tem

pou à regra, apesar de ter sido moderadamente

assentado nas exportações para a China. Este

afetado.

País tem mantido elevados níveis de importação,

Em Portugal, o grande problema colocou-se ao nível dos produtores de leitões, uma vez que, com a restauração fechada, ficaram sem mercado para os leitões de assar. Temos de ter em António Tavares Presidente do Grupo de Trabalho da Carne de Porco

consideração que, atualmente, 20% dos porcos

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

naquele País levou a graves problemas de logística, levando a grandes atrasos na descarga de contentores nos portos chineses. Registaram-se, por isso, grandes atrasos nos envios de carne de

abatidos são leitões.

porco europeia.

Por outro lado, num trabalho de melhoria da qua-

Por outro lado, os USA exerceram uma grande pres-

lidade dos leitões, os produtores investiram em

são no mercado chinês, com preços muito baixos.

genética que não é apropriada para a engorda

O mercado europeu abanou, mas, atualmente,

dos animais.

estes pontos negativos estão ultrapassados e

Ao nível do mercado europeu tivemos uma des-

os preços internos estão a subir.

cida acentuada de preços em maio, mas estamos

Neste momento vamos entrar no verão com

a recuperar em junho.

"O maior desafio que se põe à produção é o programa europeu “FROM FARM TO FORK" que, se não for revisto, vai trazer grandes constrangimentos aos produtores e a toda a fileira de produção europeia de carne de porco"

mas, nos primeiros meses do ano, o Covid-19

uma situação de mercado atípica, uma vez que

Os principais efeitos internos do Covid-19 foram

normalmente há um aumento de consumo nos

uma descida do consumo, com o fecho da restau-

países do sul devido ao turismo, o que este ano

ração e, também, a proibição de ajuntamentos

não se vai verificar.

de pessoas, que inviabilizou a realização dos

Em resumo, a produção europeia está estável,

barbecues no norte da Europa.

o consumo em baixa, mas as exportações para

Outro aspeto altamente negativo e preocu-

a China cobrem facilmente esta descida de con-

pante prende-se com a Peste Suína Africana,

sumo, pelo que se adivinha um futuro a curto-mé-

uma vez que parou a gestão do controlo da

dio prazo bom para os produtores.

população de javalis na Polónia e o perigo da doença avançar para a Alemanha aumentou consideravelmente.

O maior desafio que se põe à produção é o programa europeu "FROM FARM TO FORK" que, se não for revisto, vai trazer grandes constrangimen-

Também de registar o aparecimento de clusters

tos aos produtores e a toda a fileira de produção

de casos em pessoal empregado em matadouros

europeia de carne de porco.


A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

QUE LIÇÕES A RETIRAR DA CRISE COVID-19

Fernando Bernardo Diretor-Geral

"Esta Pandemia veio pôr à prova os sistemas convencionais de abastecimento de alimentos às populações, a resiliência das produções agrícolas, a eficiência dos sistemas de distribuição alimentar transnacionais"

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

O primeiro semestre de 2020 ficará para sempre

sões antigas sobre a importância estratégica da

marcado na História como uma memória exce-

soberania alimentar e sobre todas as condicio-

cional; um tempo em que a Humanidade se viu

nantes da acessibilidade e da disponibilidade dos

confrontada com os medos mais primordiais que

bens essenciais. Aprendemos a abastecermo-nos

povoam o subconsciente de todos os seres huma-

sem precisar de sair de casa. Sucedeu também que

nos: o terror milenar das grandes calamidades

determinados canais de escoamento de produtos

sanitárias que sobressaltam o nosso imaginário

muito exclusivos colapsaram gerando constrangi-

desde as “grandes pragas do Egito”. Na História

mentos nas produções a montante. Esse ensina-

da Civilização estas “pestes” foram sempre vividas

mento convoca-nos para a importância de acautelar

com um sobressalto comunitário, melhor ou pior

sempre a existência de canais de distribuição de

sucedido nas medidas que sempre foram adotadas

produtos o mais diversificados possíveis.

para minimizar os seus impactos. De todas elas

Temporariamente registaram-se melhorias bruscas

a Humanidade foi capaz de colher ensinamentos

muito significativas na qualidade do ar atmosfé-

e com as novas lições adquiriu habilidade para

rico nos países muito industrializados, reduzindo

seguir em frente, resguardando-se, readaptando-se,

drasticamente os níveis de CO2; mas desconhece-

superando-se. Esses terríveis sobressaltos sociais

mos se a diminuição da pressão desse gás, compo-

corresponderam sempre a avanços civilizacionais

nente do ar, afetou o desenvolvimento vegetativo

que trouxeram progresso, por mais dolorosas e

das plantas.

trágicas que tenham sido as suas consequências

Excecionalmente os serviços públicos tiveram de

sociais e afetivas. O que não nos mata, torna-nos

adotar formas de organização laboral em regime

mais fortes. Com a COVID-19 não será diferente.

de teletrabalho, mas desconhece-se ainda quais os

Ainda é cedo para se porem em perspetiva todas

impactos que e esse regime trouxe para a produ-

as lições que a Humanidade irá colher da grande

tividade dos serviços.

Pandemia de 2020, até porque ainda estamos no

Tivemos de aprender de súbito a reunirmo-nos por

meio dela, mas existem já alguns elementos que

videoconferência e com isso poupámos gastos em

nos permitem entender alguns dos seus impactos.

deslocações, viagens, combustíveis, transportes,

Esta pandemia convoca-nos a refletir sobre a ver-

ajudas de custo, tempos mortos de espera, mas

dadeira incerteza e a real vulnerabilidade da exis-

não sabemos se os assunto que abordámos nessas

tência humana. Nos últimos anos, o pensamento

reuniões virtuais permitiram chegar às mesmas

dominante tinha-nos feito acreditar que éramos

conclusões que se obteriam caso a reunião tivesse

senhores supremos do mundo que nos rodeia.

sido realizada presencialmente.

Quantas vezes nós, seres humanos, ignoramos as

As disrupções que a Pandemia provocou no nosso

incertezas da nossa existência, confundindo as

quotidiano subverteram os valores e os referen-

probabilidades geradas pelos nossos modelos esta-

ciais mais elementares da convivialidade humana:

tísticos com a realidade? Quantas vezes ignoramos

precisamente nestes momentos em que nos senti-

a nossa vulnerabilidade fingindo estar no controlo

mos existencialmente ameaçados, que desejamos

do nosso destino? Esta Pandemia mostra o quanto

instintivamente estar perto da nossa família e dos

nós estávamos errados. Nesta Pandemia tivemos

amigos, segurar-lhes as mãos, abraçá-los - estamos

de nos confrontar de novo com as questões mais

proibidos de estabelecer contato físico - todas as

básicas da condição humana.

expressões físicas de bondade e de compaixão pas-

Esta é uma daquelas Pandemias que tanto atin-

saram a corresponder a doença e a morte. Por isso

giu os povos desenvolvidos como os que estão

as pessoas aceitam a condição de se isolarem em

em desenvolvimento, ao contrário das anteriores

casa, impossibilitadas de visitar os seus parentes

que flagelaram sobretudo os mais desfavorecidos

mais próximos; impedidos de ir ao trabalho, inibi-

e isso apanhou de surpresa as sociedades domi-

das de frequentar a escola, impossibilitadas de

nadas pelas tecnologias.

frequentarem espaços públicos culturais e lúdicos.

Esta Pandemia veio pôr à prova os sistemas con-

As sociedades urbanas tiveram nesta Pandemia

vencionais de abastecimento de alimentos às

uma oportunidade única para entender o valor

populações, a resiliência das produções agrícolas,

societal do trabalho que é desenvolvido no mundo

a eficiência dos sistemas de distribuição alimentar

rural. Sem a solidariedade incondicional dos traba-

transnacionais. Também ressuscitaram as discus-

lhadores e dos produtores do setor primário e da


agroindústria, que prosseguiram nas suas fainas, todos os processos de disponibilização de bens essenciais teria entrado em rotura, impossibilitando o acesso aos meios que permitiram que não faltassem géneros alimentícios e outros bens essenciais na casa de todos nós. O que a Pandemia da COVID-19 nos veio lembrar a todos foi que a vida é um episódio frágil, uma lição de humildade, e que a nossa sobrevivência está intrinsecamente dependente de muitos atores sociais sem o contributo dos quais a população sucumbiria à míngua dos elementos que são essenciais para assegurar a nossa sobrevivência física: os alimentos, os dispositivos de proteção individual ou a assistência médica e medicamentosa. A Pandemia veio deixar sublinhado o risco que existe quando ignorarmos as nossas interdependências e a importância da coesão social.

A Pandemia da COVID-19 deixa-nos mais uma lição, a de que os nossos sistemas económicos, políticos e sociais apenas podem servir as nossas necessidades e propósitos quando nos compelem a cooperar numa escala adequada. Na maioria das nossas iniciativas, somos absolutamente interdependentes. Nenhum indivíduo consegue alcançar sucesso sem a cooperação de outros. Cooperamos em diversas escalas - local, regional, nacional e internacional. Esta Pandemia mostra-nos com a maior clareza que toda a Humanidade está no mesmo barco; demonstra-nos que o vírus só pode ser derrotado nalgum lugar quando for neutralizado em todos os outros lugares; mostrando-nos a terrível loucura que é assumir que é possível isoladamente, alcançar a condição de segurança. Atualmente, estamos no meio de um teste às capacidades humanas e que já mudou

muito as nossas vidas à escala global. A globalização mostrou ter uma vulnerabilidade que, não sendo totalmente desconhecida, não era suficientemente valorizada. Hoje todos percebemos que viajar rapidamente e massivamente à volta do mundo comporta riscos muito elevados de difusão de doenças graves a nível planetário. As formas de corporação servem para ajudar as sociedades a gerir riscos, para melhor atender às questões da defesa do interesse público. Determinadas organizações internacionais, como a OMS ou a FAO, são o sedimento do reconhecimento de que, quando surgem ameaças globais à humanidade, se torna imprescindível recorrer à colaboração ou cooperação global. Essas são algumas das questões que o SARSCoV-2 incendeia nas nossas consciências. Todos precisamos estar à altura de saber honrar a santidade da vida.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

AS LIÇÕES QUE DEVEREMOS RETIRAR DA COVID-19 No momento de escrever estas linhas a pedido

do PIB, neste ano de 2020, na ordem dos 12-15% e

do Eng. Jaime Piçarra, no fim de maio do presente

uma taxa de desemprego superior a 20%).

ano de 2020, é verdade que a sociedade da Península Ibérica (da União Europeia em geral) já teve a oportunidade de receber várias lições cruciais Carlos Buxadé Carbó Consultor

"Como tal, devemos todos ter bem presente como lição resumo deste texto o seguinte: o vírus SARS – CoV–2 está a provocar no mundo, um gravíssimo problema ou crise de Saúde Pública, NÃO uma crise de Segurança Alimentar"

ou perceber algumas consequências importantes.

uma intervenção da União Europeia (UE-27) na nossa economia (com tudo o que isso pode significar, assumindo, claro está, que a UE-27 con-

emanam da crise, inicialmente sanitária e poste-

corda em intervir, uma questão que hoje não

riormente económica, geradas pelo aparecimento

reúne propriamente consenso. É precisamente

involuntário e massivo do coronavírus SARS – CoV

por tudo isso que as “lições” mais importantes,

– 2 nas nossas vidas e, paralelamente, da COVID-19,

emanadas da COVID – 19, estão ainda por escrever

que é a doença infeciosa provocada pelo referido

e irão escrever-se, como já referi, ao longo dos

coronavírus que, a nível mundial, se estima que já

próximos meses.

conta com mais de 5 milhões de casos confirmados e cerca de 350.000 mortos. Não obstante, na minha opinião, as consequências ou lições mais importantes ainda estão por escrever e surgirão nos próximos meses, na nossa sociedade, pela mão do binómio crise sanitária – crise económica. Este binómio, que se iniciou em Espanha de forma quase paralela à declaração da FASE 0 e do início dos confinamentos, irá, sem dúvida alguma, gerar um grande número de consequências ou lições nos próximos meses. Infelizmente, no caso específico de Espanha (em Portugal, a crise sanitária, na minha opinião, foi muito mais bem gerida), a desastrosa gestão do desde o passado mês de janeiro, estava informado sobre o coronavírus em questão), está a ter e irá ter consequências muito graves que, como já avancei, irão produzir muitas “lições”. Assim, por um lado, haverá inquestionavelmente algumas lições relacionadas com os importantes problemas sociais e morais que irão alterar significativamente (já estão a alterar) a escala de valores dos cidadãos residentes no nosso país (entre outras questões porque não será nada fácil “digerir” 50.000 mortes (ou o número final que se venha a apurar), de

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

agora exigirá (ou melhor, exigirá necessariamente)

No caso em apreço, estas lições são aquelas que

nosso governo (apesar de já ter reconhecido que,

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Na minha opinião, tudo o que foi afirmado até

Não obstante, cingindo-nos às “lições” que a COVID – 19 já ensinou, até ao dia de hoje, ao nível do setor pecuário, que constitui a base temática do meu texto, vou cingir-me a algumas de enorme importância: a COVID – 19 NÃO é, nem nunca foi, como já foi repetidamente afirmado em favor das pós-verdades e falsidades divulgadas, um problema de Segurança Alimentar subsidiariamente ligado a um problema de Saúde Pública e, além disso, vinculado este problema de Segurança Alimentar fundamentalmente aos produtos pecuários. E, tal como expliquei oportunamente num dos boletins semanais on-line da ÁGORA TOP GAN: o que foi dito e publicado não é verdade. Lição: no dia de hoje, e é absolutamente conveniente deixá-lo muito claro aqui também: nada está mais longe da realidade. A verdade é que diferentes organizações mundiais de grande prestígio que trabalham no âmbito da Segurança Alimentar, não conseguiram encontrar, como o ratificaram, entre outras, a OMS e a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFISA), evidências científicas de que o coronavírus, que nos interessa aqui, é transmissível por via alimentar; ou seja, por via digestiva direta.

entre as quais cerca de 90% de pessoas da terceira

O que é certo, e esta é outra lição produzida, é que

e quarta idade, o que é, em termos morais, tremen-

perante a não aplicação das práticas de higiene ade-

damente injusto e inaceitável). Por outro lado, e em

quadas nos diferentes processos de manipulação

paralelo, teremos de enfrentar uma outra fonte de

dos alimentos (não utilização dos dispositivos de

importantes lições práticas em virtude das conse-

proteção, não aplicação de programas de limpeza

quências económicas negativas muito significativas

e desinfeção adequados, etc. etc.), estes podem

que nos irão afetar a todos (previsões atuais: queda

estar contaminados ao serem mal preparados ou


mal manipulados e/ou intervirem neles pes-

Mas, também é muito verdade, próxima lição,

mundo, um gravíssimo problema ou crise

soas portadoras do vírus.

que a contaminação dos alimentos pode ter

de Saúde Pública, NÃO uma crise de Segu-

lugar nos lares se existirem neles pessoas

rança Alimentar.

Não se pode nunca subestimar o facto da conhecida persistência, mais ou menos prolongada, do SARS – CoV – 2 nas pessoas ou em algumas superfícies que estão ou podem estar em contacto com os alimentos durante o seu processamento ou no seu processo de embalamento (ração em plástico, em papelão, em madeira, em aço inoxidável etc.). Bem entendido que a persistência do vírus em cada caso é função da natureza das condições sanitárias das

portadoras do vírus envolvidas e/ou não se aplicarem as medidas de higiene (lavagem frequente das mãos, etc.) e de manipulação adequadas.

Em resumo, que culpa tem o coronavírus de que, por exemplo, não se apliquem massivamente os testes imprescindíveis às pessoas; de que não estejam implementados e/ou sejam

Mas, felizmente, também se sabe que o refe-

seguidos os planos de higiene pessoal adequa-

rido vírus se destrói com calor (alguns minu-

dos; de que se ignorem os planos de limpeza e

tos a T> 70ºC), com produtos desinfetantes

desinfeção dos locais envolvidos e/ou de que

(leia-se água oxigenada, etanol etc.), desde que

se manipulem ou embalem mal os alimentos?

as superfícies tratadas com estes produtos estejam limpas, claro.

Como lição final: por favor, objetivemos, profissionalizemos, JÁ todas as questões relacio-

pessoas envolvidas, da superfície de con-

Como tal, devemos todos ter bem presente

nadas com o SARS – CoV – 2 e com a doença

tacto e do cripto e microclima: temperatura

como lição resumo deste texto o seguinte:

COVID – 19 e não criemos alarmes que nada

e humidade relativa.

o vírus SARS – CoV – 2 está a provocar no

têm que ver com a realidade.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

REAGIR AO IMPACTO DO CORONAVÍRUS – AGIR PARA ENFRENTAR O MEDO, A ANGÚSTIA E A PARALISAÇÃO No final de fevereiro, empresas importantes da

os seus impactos, mais difícil e demorada será a

família Centromarca diziam-me que estavam a

recuperação que necessariamente se lhe seguirá.

seguir orientações das casas-mãe e a estabelecer

Vamos ter, para além disso, uma situação econó-

planos de contingência e a perguntar umas às outras

mica – a nível pessoal e global – mais débil, mais

onde arranjariam uns litros de gel de limpeza ou

imprevisível e mais complexa. O nosso país vai atra-

álcool-gel. E sim, era preciso pensar num local de

vessar, seguramente, uma nova crise económica de

confinamento para o caso de aparecer alguém com

dimensão ainda incalculável… e não será o único.

suspeita de contaminação na empresa.

A problemas que estavam já presentes, como os

A 4 de março decidimos na Centromarca, depois de

da dívida do Estado e dos particulares, dos défi-

alguma hesitação, deixar cair uma iniciativa presencial, destinada a centenas de pessoas, que tínhamos agendada para a primeira semana de abril, porque Pedro Pimentel

dois dos palestrantes que viriam do estrangeiro

Diretor-Geral

nos referiram que as suas empresas não os autorizavam a viajar e porque começávamos a temer que pudéssemos ter uma menor adesão do que a que projetávamos.

"…o que estará realmente em causa será a capacidade de construir devidamente este equilíbrio entre preço, prateleira e promoção, de um lado, e inovação, responsabilidade social e comunicação, do outro"

Aos 54 anos de idade e na primeira pessoa, confesso que se no final de 2019 ou mesmo no final de fevereiro me tivessem dito que teríamos de enfrentar uma crise como esta, responderia que sim que o Covid-19 iria causar alguns problemas no turismo ou na circulação das pessoas, mas era algo mais ou menos longínquo e de duração e impacto limitado. Uma espécie de mistura de vulcão islandês com a gripe das aves. Esta crise foi, pois, inesperada, inédita e, até há muito pouco tempo, praticamente impensável. É a primeira verdadeira crise da era da globalização, com efeitos e impactos à escala global. E pela forma como, de modo fulminante, nos atingiu, obriga-nos a questionar fundamentos, a repensar valores, a reorganizar estilos de vida, a alterar comportamentos e mesmo a colocar em causa verdades que tínhamos até aqui como consolidadas e irrenunciáveis. Nesta altura, apesar das estratégias de desconfinamento e das diferentes teses sobre o formato e a velocidade da retoma, estamos ainda em plena

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

cits públicos ou do envelhecimento populacional, somam-se agora os provocados por esta paralisia pandémica, como são os casos do golpe profundo no turismo, da paralisação e potencial destruição de uma parte importante do canal Horeca, da dificuldade acrescida de colocação dos nossos produtos em mercados igualmente em crise, com menor poder aquisitivo e onde se multiplicam esquemas protecionistas ou do definhamento do mercado interno. Não são, pois, difíceis de antecipar, consequências muito negativas a nível do emprego e de rendimento disponível das famílias e a multiplicação dos fenómenos de pobreza, mais envergonhada ou mais visível aos nossos olhos. Tem havido, entretanto, uma grande pressa em definir aquilo que normalmente se convenciona chamar de ‘Novo Normal’, desenhando-o a partir do seu comportamento neste período de crise e confinamento e realçando as diferenças em relação ao ‘Normal’ anterior. Parece-me apressado e, acima de tudo, prematuro. Afinal estamos perante uma situação atípica e excecional e os nossos comportamentos, hoje, são, diria, típicos duma situação atípica, expectáveis numa situação de exceção. Ponto forte deste denominado ‘Novo Normal’ é a maior apetência e a explosão da compra via e-commerce. No universo do grande consumo, recorde-se, a base de partida era muito baixa: não mais do que 1% do total das vendas. Ainda assim, os dados mostram-nos que as taxas de crescimento das compras

crise. Uma crise de que temos a perceção exata de

eletrónicas não diferiram substancialmente das

quando começou, mas que – nesta altura – ninguém

taxas equivalentes relativamente às das compras

se aventura a prever exatamente quando terminará.

físicas. Para além disso, como sabemos, o e-com-

Apesar disso há, diria, duas verdades inquestioná-

merce não aumenta a compra, apenas promove a

veis: foi a saúde que nos ‘enterrou’ nesta crise e será

alteração do canal de compra e, para além disso,

a saúde a ditar a forma e a velocidade do regresso a uma progressiva normalidade e quanto maior o

nesta altura apenas 3 dos 10 maiores retalhistas da distribuição alimentar em Portugal possuem

período da crise, mais profundos e nefastos serão

canal digital ativo. Por isso, devemos esperar pelo


pós-crise para aferir a dimensão efetiva desta alteração de comportamento. Não me espantaria, no entanto, que este fosse o ‘gatilho’ que há anos se esperava para dinamizar, em Portugal, o comércio online ao nível do retalho alimentar. Seja porque muitos consumidores se iniciaram agora neste canal, seja porque outros perceberão que este é o momento para o fazerem muito mais frequentemente, seja porque abrindo-se esta oportunidade novos (e importantes) operadores serão mais facilmente tentados a desenvolver as suas próprias estratégias online, aumentando a abrangência e penetração, fomentando a concorrência e elevando o grau de exigência no serviço prestado. Depois de assentada a poeira, esta crise trará também consequências mais perenes para a

– tem de ser para os bons, mas também para os maus momentos. As marcas deverão mostrar humildade e relevância, partilhando as dificuldades dos nossos consumidores e dando-lhes a possibilidade de manterem essa viagem connosco. Deverão gerar alternativas – novos produtos, inovações – que permitam a cada um de nós manter uma qualidade de vida tão próxima quanto possível dos padrões desejáveis. Deverão comunicar de uma forma positiva, para começar a acender a luz no fundo do túnel. Sendo que isso terá de ser feito num período em que as empresas irão enfrentar uma situação económica mais complicada e um mercado em profunda depressão. Um mercado em que a competição será ainda mais acesa e muito assente em inves-

timento no ponto de venda e no linear. Um mercado em que a redução de valor motivará um aquecer de tensões e o reacender a tentação de utilizar atalhos, ética e legalmente reprováveis, para reconstruir resultados. Em conclusão, o que estará realmente em causa será a capacidade de construir devidamente este equilíbrio entre preço, prateleira e promoção, de um lado, e inovação, responsabilidade social e comunicação, do outro. E essa capacidade será o que colocará as marcas no topo das prioridades da cabeça, do coração e da carteira dos consumidores e que distinguirá quais as que, no final desta crise, melhor terão ultrapassado as enormes dificuldades que se estão e irão gerar.

nossa vida diária e, obviamente, para a forma como cada um de nós sente e se comporta ou como, por exemplo, se relaciona com as marcas ou com o consumo. Aventuro-me mesmo a prever que vamos ser todos mais assépticos e cautelosos. Vamos ser mais estáticos e confinados. Vamos ser mais racionais e programáticos. Vamos ser mais digitais, mas, em simultâneo, mais atentos ao toque humano. Vamos privilegiar quem, a produto e preço, adicione serviço e, infelizmente, vamos ser menos sociais, mais isolados, mais angustiados. Mais especificamente no universo do grande consumo, o consumidor nacional terá ‘sus más y sus menos’. Mais compras online, mais consumo em casa, mais recurso a delivery services, mais produtos convenientes, mais preocupação com higiene e limpeza. Ao invés fará, seguramente, menos visitas às lojas, menos compras de impulso, menos consumo out-of-home, menos compra de produtos indulgentes, menos aquisição de produtos relacionados com a nossa vida no exterior. Há um ano, com a entrada de novos operadores num mercado com baixas perspetivas de crescimento, falávamos recorrentemente de

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um bolo que não iria crescer e em que, com a maior competição, as fatias seriam necessariamente mais finas. Agora, vamos estar perante um bolo realmente mais pequeno. Perante isto e não obstante isto, as marcas têm de se mostrar, uma vez mais, verdadeiros companheiros de viagem dos nossos concidadãos. E esse ‘casamento’ – tal como os outros

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CURTAS REFLEXÕES SOBRE O IMPACTO DA COVID-19 Não será seguramente fácil fazer uma previsão,

forma de globalização. Diferente, é certo, mas não

com uma alta probabilidade de êxito, sobre todas

o deixa de ser.

as implicações de como o SARS-CoV-2 irá condi-

No entanto, esta crise revelou-nos o risco da des-

cionar para o nosso futuro.

localização dos meios de produção críticos para

Independentemente da anunciada crise económica

países com mão de obra e custos baixos, trazendo

e social já atualmente visível, afetando direta ou

um enorme grau de dependência e risco para socie-

Rui Gabriel

indiretamente quase todos os setores, é opinião

dades que vivem basicamente do setor terciário.

Médico-Veterinário, Consultor em Saúde Animal

de muitos economistas e responsáveis da própria

Merece uma reflexão para a sociedade entender

Comissão Europeia, que muitos países, incluindo

que custos de produção deslocalizados por fatores

Portugal, poderão recuperar a situação económica

meramente competitivos, causa uma fragilidade e

no prazo de dois anos, dada a natureza sanitária

dependência de terceiros, quando uma crise desta

desta crise, contrariamente à natureza financeira

natureza surge. Acresce uma concorrência pouco

de crises anteriores, que minaram a confiança e cre-

sã e desleal na aquisição desses mesmos meios,

dibilidade das instituições e do sistema financeiro.

como tem sido visível na presente crise.

Esperemos que estes economistas estejam certos.

Não valerá a pena reinvestir no setor industrial,

É visível o impacto desta crise na digitalização da

depois de definidos os setores estratégicos de

economia, onde Portugal avançou uns anos face ao

cada país? Valerá a pena mantermos o risco de

previsto, resultando no incremento de mudanças que

continuarmos a depender da vontade de terceiros

vieram para ficar, nomeadamente no e-commerce,

para garantirmos necessidades básicas?

"Existem no mínimo três setores a que todos os Estados deveriam garantir autossuficiência total: energia, água e alimentos, aos quais somaria também uma reserva estratégica de meios de saúde incluindo medicamentos e equipamentos"

no teletrabalho, nas reuniões virtuais (veja-se, por exemplo, a astronómica valorização da plataforma Estas alterações vão afetar, com os seus aspetos

Garantir a autossuficiência alimentar

positivos e negativos, a organização das empresas,

Existem no mínimo três setores a que todos os

incluindo a reestruturação dos espaços de trabalho,

Estados deveriam garantir autossuficiência total:

como já algumas empresas tinham adotado, nomea-

energia, água e alimentos, aos quais somaria tam-

damente as tecnológicas.

bém uma reserva estratégica de meios de saúde

Independentemente destes considerandos, que

incluindo medicamentos e equipamentos.

são comuns na comunicação social, gostaria de

A área alimentar é desde há alguns anos um setor de

adicionar três reflexões pessoais sobre o impacto

extrema dependência externa em Portugal, em alguns

do SARS-CoV-2 e o que poderíamos aprender e

casos fruto da própria política económica europeia.

aplicar no futuro.

Tem sido desígnio nacional lutar para atingirmos

Zoom…), no marketing digital, etc.

a autossuficiência alimentar. Esta crise mostrou

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Reforçar a industrialização nacional, face ao risco da globalização

a capacidade de organização e de produção da

Tem havido alguma discussão acerca desta crise

se a crise tivesse dimensões muito superiores, uma

poder significar o início de fim da era da globaliza-

maior duração e um maior impacto a nível global,

ção. Creio ser extremamente arriscado fazer uma

será que Portugal teria capacidade e recursos pró-

previsão desta natureza. Por dois motivos: Primeiro

prios para continuar a garantir abastecimento ali-

pelo poder e impacto da própria globalização. Não

mentar com o mesmo nível de excelência? Também

podemos esquecer que independentemente de

por isso, se impõe que aceleremos a estratégia que

todas as justas críticas que possam ser feitas aos

nos conduzirá à autossuficiência alimentar e com

seus efeitos, a globalização retirou da miséria e

todas as valências da opção dos consumidores

da fome muitos milhões de pessoas e contribuiu

pelos produtos nacionais.

para o crescimento global da economia e da qua-

O impacto na redução da pegada ecológica, os

lidade de vida das populações. Em segundo lugar

impactos positivos no desenvolvimento regional,

porque a própria digitalização da economia é uma

na fixação da população em zonas rurais, no com-

fileira alimentar em Portugal, que merece também o aplauso de todos nós. Mas a questão impõe-se:


bate à desertificação do interior, entre muitos outros, são fatores adicionais para reforçar a necessidade de incrementarmos e acelerarmos essa estratégia.

O desafio para a indústria farmacêutica – inovação em vacinas Várias figuras públicas já nos haviam alertado, há vários anos. Cedo ou tarde, chegaria uma nova pandemia e a humanidade não estaria preparada para a enfrentar. Não foi seguramente por falta de avisos que esta pandemia se desenvolveu. E temos que ter a noção que independentemente de potenciais novas vagas de SARS-CoV-2, no futuro outras pandemias irão surgir, não ao ritmo anunciado de duas novas pandemias por século, mas infelizmente em número superior. A Indústria Farmacêutica Humana tem feito, nos últimos anos, um extraordinário esforço e contribuído para a descoberta de muitas e

novas moléculas para doenças emergentes e com grande impacto na saúde das populações, nomeadamente nas doenças oncológicas, neurodegenerativas, do foro psiquiátrico, hormonal, entre muitas outras áreas críticas, e que muito contribuiu para o aumento da esperança e da qualidade de vida. Mas existe uma área em que a inovação, no setor da Medicina Humana, não acompanhou o mesmo ritmo de inovação. Trata-se da terapêutica e prevenção das doenças infecciosas, nomeadamente em novos antibióticos, novos tratamentos antivirais e principalmente na prevenção através de inovadoras vacinas. Reconhece-se o esforço gigantesco, nunca antes visto, na forma como a Indústria Farmacêutica a nível global está a trabalhar na busca de vacinas para o SARS-CoV-2, área em que todos esperamos um êxito tão cedo quanto possível, reduzindo os 10 a 12 anos que seria expectável para a aprovação de um novo fármaco em condições normais.

É curioso, verificar, nesta área específica, que a Indústria Farmacêutica de Saúde Animal tem precisamente o seu foco na inovação em vacinas, sendo que cerca de 50% dos projetos de inovação submetidos na Europa nos últimos anos, são exatamente em vacinas. E, neste sentido o contributo da Saúde Animal, dentro do conceito “One Health”, é extremamente útil para a inovação em imunologia, dada a multiplicidade de vacinas para tão diversas doenças e espécies animais, com os êxitos que se reconhecem, no passado e no presente, como o caso da erradicação da raiva em Portugal. Esperamos, pois, que a Indústria Farmacêutica alargue a sua Inovação para esta área e que os países e organizações internacionais reforcem as verbas e os esforços na prevenção e terapêutica das doenças infecciosas. Somente assim poderemos estar mais tranquilos para enfrentar uma nova pandemia.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

O PAPEL DA DISTRIBUIÇÃO ALIMENTAR Qual o papel da distribuição alimentar? O que vai mudar na relação com os consumidores?

Presidente

produtores, conseguindo potenciar o transporte consolidado de produtos frescos para os nossos

O que poderá mudar no Clube dos Produtores?

entrepostos. Tudo isso foi possível dado o nível

Como conciliar o relançamento de uma econo-

parceria existente nos nossos produtores. No entanto, das muitas candidaturas que rece-

Independentemente da situação económico-social

Continente foi possível perceber que muitos

do nosso país, a Sonae MC desenvolve, desde 1998, uma relação próxima com produtores do

um crescimento sustentado da produção nacional, capitalizando a nossa gastronomia e o modo de estar português. Ajudar os produtores portugueses no escoamento dos seus produtos, na fase de emergência nacional, foi e continua a ser objetivo do Continente,

bemos para integração no Clube de Produtores pequenos produtores precisam ainda de muito apoio no que respeita o conhecimento de boas práticas no uso de fitofármacos e até mesmo em questões legais relacionadas com a rotulagem. Tivemos assim, um papel pedagógico junto daqueles produtores. O papel do retalho deverá, por tudo isso, apoiar a integração de toda a cadeia de abastecimento, pela promoção da comunicação e partilha de conhecimento entre os diversos stakeholders

enquanto empresa de retalho, ao abrir a integra-

assim como constituir-se como um acelerador

ção de novos membros no Clube de Produtores

da inovação e incorporação de novas tecnolo-

Continente.

gias, junto dos seus fornecedores, materiali-

Em março lançámos o convite e, em apenas

zando-se em produtos de excelência, seguros e

duas semanas, acolhemos mais de 40 novos

sustentáveis.

membros. Reforçamos as compras à produ-

Neste enquadramento, e à luz da estratégia

ção nacional sendo que estávamos já, mesmo

“Farm to Fork”, nós – Clube de Produtores Con-

antes da pandemia, a aumentar os volumes.

tinente – estamos a trabalhar em conjunto com

A título de exemplo, triplicámos a compra de

os produtores várias iniciativas, que permitirá

carne bovino a produtores nacionais, durante

estarmos todos alinhados às metas estabelecidas

o período COVID.

por aquela estratégia, no âmbito do Pacto Eco-

Também nas vendas online, durante a crise sanitária, registamos um acréscimo nas vendas, no entanto o “offline” – as lojas, serão sempre desti-

lógico. Não tenhamos dúvidas que será pedida responsabilidade a todos os atores da cadeia de abastecimento sobre o tema da sustentabilidade.

nos de compras para os nossos clientes. Desde os

Desse conjunto de iniciativas, gostaria de desta-

hipermercados, pela oferta alargada de produtos,

car algumas. Uma delas, centra-se no caminho que

permitindo ao cliente desfrutar da variedade, às

precisamos fazer tendo como objetivo a redução

lojas Bom Dia, enquanto formato de proximidade,

do uso de fitofármacos na produção hortofrutí-

todos estes espaços continuarão a ter um papel

cola. É de facto uma das frentes que queremos

importante nas compras dos consumidores.

trabalhar com os nossos produtores e caminhar

Desde março que a cadeia logística tem sofrido

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

de profissionalismo, empenho e sentimento de

sustentável e competitiva?

Clube de Produtores Continente – promovendo

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pegada de carbono. Promovemos parcerias entre

local e relação com os pequenos produtores?

setor agroalimentar e agropecuário – através do

"Para relançarmos uma economia verde e termos cadeias de abastecimento sustentáveis e competitivas será importante trabalharmos mais as parcerias estratégicas entre: – conhecimento – agricultura – indústria – distribuição"

garantindo o máximo de frescura e o mínimo de

As compras online, os circuitos curtos, consumo

mia verde, com uma cadeia de abastecimento

Ondina Afonso

tores de frescos, muitos de pequena dimensão,

para o conceito de “resíduo zero”.

imensa pressão e, por isso, tivemos de traba-

Uma outra iniciativa, diretamente ligada ao setor

lhar múltiplas vias de abastecimento às lojas.

da carne, tem como meta a comunicação das boas

Otimizamos as entregas diretas – do produtor

práticas já existentes nas explorações dos nos-

à loja, algo que já fazíamos com imensos produ-

sos produtores, e relativas ao bem-estar animal.


Aliás, Portugal é exemplo nesta matéria

sustentáveis e competitivas será impor-

damente, criarmos uma segurança alimen-

e temos todos a obrigação de esclarecer

tante trabalharmos mais as parcerias estra-

tar – food security – no que respeita à dis-

os consumidores sobre os princípios com

tégicas entre: conhecimento – agricultura

ponibilidade de alimentos, promovermos a

que os nossos produtores agropecuários

– indústria – distribuição.

produção animal que garanta a biodiversi-

se pautam todos os dias!

Para além disso, importará também aumen-

dade e o bem-estar animal – do campo ao matadouro; comunicar melhor a “qualidade

Uma terceira iniciativa, alinhada à pro-

tarmos o grau de autoaprovisionamento em

moção de perfis alimentares saudáveis,

alguns subsetores da agricultura. Portugal

está a ser desenvolvida no âmbito da

não é autossuficiente em diversas de cate-

Academia do Clube de Produtores. Esta

gorias de produtos. Duas delas são essen-

Academia, enquanto programa de capa-

ciais para a economia agrícola e agroali-

citação destinado aos produtores, pro-

mentar: os cereais e a proteína animal. A

porciona sessões sob diversos temas,

dependência de outros mercados, ficou

nomeadamente Nutrição e Promoção da

ainda mais visível durante a crise sanitá-

Saúde pela alimentação.

ria. Será, por isso, importante criarmos

O Clube de Produtores Continente procu-

verdadeiros projetos de fileira alinhados

rará estar sempre na vanguarda da produ-

aos princípios do Pacto Ecológico, nomea-

ção nacional.

Assim, e para relançarmos uma economia verde e termos cadeias de abastecimento

e a autenticidade” dos nossos produtos e, por último, apostarmos na digitalização de toda a cadeia de abastecimento. Este último ponto permitirá gerir melhor a produção e os stocks, evitando-se quer a rutura de alimentos nas prateleiras quer o desperdício na produção.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

IMPORTÂNCIA DO PROGRESSO CIENTÍFICO NA PRODUÇÃO ABUNDANTE DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS – UM ÊXITO SEM PRECEDENTE HISTÓRICO No final da II Grande Guerra (1945) Portugal era

milhões de seres humanos; e v) juntamente com os

um dos países mais atrasados da Europa, essen-

progressos alcançados na medicina, vieram elevar a

cialmente agrícola e pobre, representando o custo

esperança de vida, nomeadamente dos Portugueses,

da alimentação mais de 60% do rendimento das

que aumentou cerca de 20 anos.

famílias (hoje não chega a 20%). Todavia grande parte da população sofria de subnutrição, enquanto, atualmente, o problema alimentar mais grave prende-se ao excesso de peso corporal, que afeta quase metade dos Portugueses.

Aconteceu, porém, que aquando do início do uso dos adubos azotados, ocorreu um incidente que muito sensibilizou a opinião pública e, por isso, foi legislado no sentido de limitar o teor de nitratos na água potável. De facto, em 1945 a “doença azul

Entretanto, no pós-guerra registaram-se progressos

dos bebés” foi associada a teores elevados de

notáveis, tanto na produção vegetal (mecanização

nitratos em águas utilizadas na reconstituição de

Manuel Chaveiro Soares

agrícola, uso de adubos e pesticidas de síntese,

leite administrado, via biberões, a bebés. Trata-se

Engenheiro Agrónomo, Ph. D.

ampliação do regadio), como na produção animal

de uma doença extremamente rara e existem opi-

(melhoramento genético dos animais, sua alimen-

niões contraditórias sobre os efeitos do ião nitrato

tação e profilaxia). Como consequência, por um

presente na água potável (Varennes, 2003).

lado ocorreu uma redução acentuada da população ativa agrícola (então representava quase metade da população ativa total e, atualmente, corresponde a 5% aproximadamente), tendo emigrado ou des-

"...e até se sublinha que durante a presente pandemia o actual sistema alimentar é capaz de garantir um abastecimento a preços acessíveis para os cidadãos"

locado-se para os grandes centros urbanos, onde veio contribuir para o crescimento da indústria e dos serviços. Por outro lado, os aludidos progres-

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

ao Parlamento Europeu, datada de 20.05.2020, recomenda-se a aplicação prudente dos fertilizantes a fim de reduzir a perda de nutrientes em pelo menos 50%, salientando-se que a utilização de azoto conduz a emissões de óxido nitroso para a atmosfera.

sos proporcionaram uma maior produtividade dos

No tocante aos pesticidas de síntese, parece perti-

trabalhadores agrícolas, das culturas vegetais e dos

nente considerar o inseticida DDT, usado em larga

animais de produção – concorrendo assim para o

escala a partir de 1941 designadamente para o

decréscimo dos custos de produção, em paralelo

combate à malária, estimando-se que tenha preve-

com o aumento dos rendimentos das famílias dos

nido cerca de 500 milhões de mortes! Mas então o

três mencionados setores de atividade, tudo con-

referido primeiro pesticida moderno não tinha ainda

tribuindo para uma melhoria acentuada da alimen-

sido estudado em profundidade, nomeadamente não

tação dos Portugueses.

se conhecia a sua acumulação na cadeia alimentar

No que à produtividade das culturas vegetais diz

30 |

Acresce, porém, que em comunicação da Comissão

e os efeitos sobre espécies não visadas.

respeito importa agora destacar a importância dos

Em 1962, porém, Rachel Carson publicou o livro

“químicos”, designadamente adubos inorgânicos,

intitulado Primavera Silenciosa, onde alerta para

com relevo para os azotados de síntese, e pesti-

os efeitos secundários sobre o ambiente susce-

cidas também de síntese química, especialmente

tíveis de serem causados pelos pesticidas de

fungicidas e insecticidas – utilizados no pós-guerra.

síntese.

Este destaque parece justificar-se porque: i) os

Todavia e no que respeita à saúde humana, resulta-

referidos fatores de produção obtidos por síntese

dos de investigações publicadas em 2002 e 2006

química contribuíram decisivamente para retirar

por organizações internacionais (CDC e OMS) clas-

da fome amplas regiões do mundo (beneficiando

sificaram o DDT como «ligeiramente danoso» para

inclusive muitos Portugueses); ii) permitiram que

os seres humanos, acrescentando que tinha mais

a população mundial tenha triplicado (!); iii) contri-

benefícios do que prejuízos em muitas situações,

buíram para um melhor valor nutritivo das dietas

como é o caso dos campos de refugiados infestados

promovendo assim também uma maior estatura da

por mosquitos, conforme sublinha o médico e admi-

atual geração; iv) salvaram da malária centenas de

rável humanista Hans Rosling (cf. Factfulness,2019).


A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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31


ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

Por muitos considerado o paradigma dos

87,7 contos em 1980, o que conduziu ao

dade destes aditivos causarem uma pressão

pesticidas perigosos, do ponto de vista toxi-

aumento da procura de proteínas de origem

seletiva capaz de conduzir ao aparecimento

cológico o DDT é seguro para o Homem,

animal, sendo que naquele ano a capitação

de resistências antimicrobianas (RAM).

cumprindo sublinhar que os manipuladores

diária era de apenas 23 g/dia e, atualmente,

de DDT, nomeadamente em fábricas de sín-

eleva-se a 77 g/dia.

tese, não manifestaram qualquer sintoma de intoxicação.

Consequentemente, na base do princípio da precaução, em 01.01.2006 a União Europeia

O denominado «período de ouro do cresci-

baniu o uso de antibióticos como promo-

mento da economia portuguesa» estimulou

tores de crescimento. Posteriormente, em

Na sequência dos mencionados incidentes

a produção nacional de carne, leite e ovos,

01.01.2017 os EUA tomaram idêntica decisão.

e tendo-se melhorado substancialmente o

nomeadamente a partir do fim da década

padrão alimentar das populações dos países

de 1950.

industrializados, a sociedade tornou-se avessa ao risco e os media alimentaram esse sentimento, em vez de fomentarem o bom senso, passando a dar destaque aos ditos produtos naturais. Mas estes, afinal, não são também produtos químicos, cujos átomos se ligaram por reações químicas? Muitos deles não são até potentes venenos? A referida aversão ao risco não será de certa maneira uma ingratidão para os cientistas que, através da síntese química e da biologia molecular, proporcionaram um bem-estar, em

Entretanto, entre nós a autoridade sanitária veterinária nacional (DGAV) e o sector suiní-

O setor da produção animal revelou-se muito

cola estabeleceram um acordo em ordem à

dinâmico e competitivo, assegurando a autos-

redução substancial do consumo de antibióti-

suficiência do País em leite e produtos avíco-

cos, em particular no que concerne à colistina.

las, sendo próximo de 70% o autoaprovisiona-

Recentemente, no âmbito da estratégia do

mento em carne de porco (a vizinha Espanha é o principal exportador).

prado ao prato, delineada pela Comissão Europeia, reconheceu-se que a RAM está asso-

A competitividade alcançada deve-se às eleva-

ciada à utilização excessiva e inadequada dos

das produtividades atingidas, para o que muito

agentes antimicrobianos na medicina humana

têm contribuído o melhoramento genético dos

e veterinária, propondo-se uma redução de

animais, a alimentação, o condicionamento

50% até 2030 nas vendas na UE de agen-

ambiental, o bem-estar animal, a biossegu-

tes antimicrobianos para animais de criação

rança e a profilaxia, com relevo para o avanço

e agricultura.

história da humanidade?

notável no domínio das vacinas (que permitiu,

Como alternativa mais eficaz para minimi-

Entretanto, importa considerar que as auto-

condições salutares e eficientes).

termos de alimentação e de saúde, inédito na

ridades científicas competentes apertaram o crivo da segurança dos produtos fitofarmacêuticos – tanto no que respeita à saúde humana, como no que concerne ao ambiente. Por seu lado, os agricultores melhoraram substancialmente as práticas agrícolas, especialmente a partir da década de 1980, quando se iniciou a Proteção Integrada em Portugal (que se viria a generalizar), utilizando os pesticidas de síntese ao mínimo necessário. Importa relevar que entre 2011 e 2018 Portugal apresentou um decréscimo acentuado (43%) do uso de fitofármacos – tendo sido o Estado-Membro com a maior redução de vendas e uso de pesticidas. Acresce que o controlo nacional, referente ao ano 2017, de resíduos de pesticidas em produtos de origem vegetal, provenientes tanto do modo

nomeadamente, a produção concentrada, em Cabe notar que o início da moderna produção animal foi acompanhado pela emergência da indústria de alimentos compostos para animais, que viria a dispensar um apoio técnico

zar o uso de antibióticos e baseando-me na minha longa experiência no maneio de galinhas reprodutoras, sugiro, designadamente, a adoção de medidas de higiene rigorosas e programas de vacinação adequados, condições de conforto e de alimentação consen-

inestimável aos produtores pecuários, nomea-

tâneas com as exatas necessidades das aves.

damente no aconselhamento da administra-

Devo acrescentar que, pessoalmente, tenho a

ção de dietas nutricionalmente equilibradas

perceção que a principal causa da RAM reside

e adequadas às necessidades do animal – em

no âmbito da medicina humana, decorrente

função da espécie, idade, função zootécnica

mormente dos casos de automedicação, para

e nível de produção – a que hoje chamamos

tal recorrendo inclusive à compra de antibió-

alimentação de precisão (para o efeito muito

ticos via Internet.

contribuiu o facto de no século XX se terem descoberto e produzido à escala industrial todas as vitaminas, aminoácidos essenciais mais limitantes, e ainda outros aditivos, como antioxidantes e enzimas, também utilizados na suplementação dos alimentos compostos).

Em suma, no pós-guerra a síntese química e, mais recentemente, a engenharia genética, vieram contribuir decisivamente para a melhoria da alimentação e da saúde de uma população que triplicou desde o fim da II Grande Guerra (de 2,5 para 7,7 mil milhões),

de produção convencional como do biológico,

Entretanto, no início da década de 1950 veri-

sendo expetável que se venham a desenvolver

revela que a quase totalidade dos produtos

ficou-se que subprodutos provenientes da

novas tecnologias que produzam alimentos

analisados obedece aos rigorosos requisitos

produção de antibióticos estimulavam o cres-

em laboratório a baixo custo, o que iria dar

legais (DGAV,2019).

cimento dos animais, o que sugeriu a adminis-

um contributo importante para a sustenta-

tração de doses sub-terapêuticas de antibió-

bilidade do ambiente.

No que respeita à produção animal e em particular no tocante a Portugal, importa começar por salientar que o extraordinário crescimento

ticos a animais de produção para promover o crescimento e prevenir doenças.

Por último, no que concerne ao Pacto Ecológico Europeu, recentemente apresentado,

económico verificado no pós-guerra elevou o

O uso destes promotores de crescimento veio,

são louváveis os propósitos no que tange à

PIB per capita de 23,1 contos em 1950 para

porém, suscitar dúvidas quanto à possibili-

otimização da utilização dos fatores de pro-

32 |

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL


(www.andritz.com)

dução e ao combate à resistência aos agentes

uso de pesticidas e melhorar a adaptação das

antimicrobianos – se bem que neste caso não

plantas às alterações climáticas.

seja dada ênfase à medicina humana. Aliás, também não é considerado em profundidade o relacionamento no âmbito do comércio internacional (OMC). Por outro lado, embora se reconheça que o agricultor da UE ganha cerca de metade dos restantes trabalhadores, não se afloram as injustas relações comerciais entre os agentes do sector agroalimentar e as grandes cadeias internacionais de distribuição alimentar e até se sublinha que durante a presente pandemia o atual sistema alimentar é capaz de garantir um abastecimento a preços acessíveis para os cidadãos (sem sequer deixar uma palavra de apreço para aqueles que

Entretanto, cumpre ter em atenção que a fome

estima que 30% de toda a comida produzida

devido a pragas e doenças. Perante este quadro, uma ampla intervenção de solidariedade por parte da UE assumiria um humanismo mui

ceu tanto as condições de vida difíceis dos europeus antes dos progressos advindos da ciência e da tecnologia (adubos, pesticidas, vacinas, antibióticos, desinfetantes, etc.), como as dificuldades ainda hoje enfrentadas nos países mais pobres do mundo, nos quais trabalhou arduamente com vista a minorar o

mínimas de biossegurança, ilustra claramente

seu sofrimento.

os riscos sanitários a que os consumidores

A terminar e a propósito de solidariedade

à agricultura biológica. É interessante assinalar que, no Pacto Ecológico em apreço, dá-se grande ênfase ao objetivo de incrementar a área dedicada à agricultura biológica, mas não se faz qualquer referência à biotecnologia e sua importância, contrariamente às expectativas apresentadas

FERTILIZANTE ORGÂNICO / COMPOSTO ORGÂNICO BIOMASSA / PELLETS / ENERGIA

éticos perfilhados pelos europeus.

prestigiado professor de medicina conhe-

são expostos nestas circunstâncias inerentes

LINHAS DE PROCESSO AGRO-INDÚSTRIA / ALIMENTO COMPOSTO ANIMAIS

dignificante, em sintonia, aliás, com os valores

algumas ações meritórias, sendo que aquele

de capoeira criadas ao ar livre, sem condições

Ensaque

culturas alimentares são perdidas anualmente

alimentos para os seus concidadãos).

científica; entre outros, o exemplo das aves

Granulação

no mundo vai para o lixo e cerca de 40% das

samento de Hans Rosling poderiam inspirar

opinião só se poderá justificar por iliteracia

Arrefecimento

de pessoas em 2100; por outro lado, a FAO

pecuário, a fim de assegurarem a produção de

confiança dos consumidores, o que na minha

Moagem

lação mundial deverá atingir 11,2 mil milhões

sete dias por semana especialmente no sector

do-se, nomeadamente, que esta assegurará a

Construtores / Instaladores Estruturas / Transportadores / Tubagens / Software Elétrico

mais que a população da UE) e que a popu-

Quero crer que o exemplo de vida e o pen-

a expansão da agricultura biológica , referin-

(www.technipes.com)

ainda afeta 821 milhões de pessoas (bastante

não fizeram quarentena, muitos até trabalham

No aludido Pacto Ecológico também se advoga

(www.geelencounterflow.com)

humana, seja-me permitido prestar homenagem a um distinto agrónomo – aristocrata de nascimento e homem de grande nobreza pelos seus valores humanitários – , que em 1957 renunciou à atividade de investigação científica e adquiriu uma propriedade a fim de se dedicar à produção de leite de vaca, com dois propósitos principais: contribuir para a

em 2000 (Lisbon European Council) e 2001

melhoria da alimentação dos Portugueses e,

(Stockholm European Council). Com efeito,

face às características da mencionada proprie-

nestes dois eventos considerou-se que a bio-

dade, proteger da erosão terrenos declivosos,

tecnologia seria um contribuinte para, nos 10

tendo para o efeito instalado prados perma-

anos seguintes, tornar a economia europeia

nentes, aplicando para o efeito uma técnica

como a mais competitiva e dinâmica com base

entretanto introduzida entre nós. Acresce que

no conhecimento. Afinal, não só a biotecnolo-

se tornou um produtor de referência para o

gia não foi apoiada, como o crescimento eco-

setor – em termos científicos, técnicos e

nómico da UE se revelou anémico (a economia

humanos –, tendo ademais contribuído para

portuguesa, em particular, estagnou durante

a formação de muitos interessados no estudo

a época em apreço); e, contudo, no tocante

da produção animal, inclusive o signatário e

aos alimentos, a UE importa anualmente

os seus alunos de agronomia, sendo que um

mais de 30 milhões t de soja geneticamente

deles, dada a sua elevada competência pro-

modificada e nem sequer promove o ensino da

fissional – o eng. António Castanheira – viria

importância da biologia molecular na produção

a ser convidado para prosseguir a iniciativa

de alimentos, nomeadamente para reduzir o

do saudoso eng. Arriaga e Cunha.

HRV

e G R O U P

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

ALIMENTAR OS EUA EM TEMPOS DE COVID-19

David Green Diretor da U.S. Sustainability Alliance

"O USDA reconhece a necessidade de “inovação arrojada e transformadora”, a qual se tornou mais premente do que nunca, e está a trabalhar numa estratégia de inovação que ajudará os agricultores dos EUA a responder às exigências futuras"

Como respondem os agricultores e a cadeia de abastecimento alimentar norte-americanos à pandemia

dores estão a comprar a maioria dos alimentos no

Sempre à mercê do tempo e das flutuações dos pre-

tema alimentar teve de se adaptar, no entanto,

ços de mercado, lidar com a incerteza não é novidade para os agricultores. Porém, nada poderia tê-los preparado para a pandemia de Covid-19, que transformou a vida tal como a conhecemos praticamente da noite

comércio local. O tipo de alimentos que compram também mudou (nunca a farinha, o fermento e os legumes congelados foram tão populares). O sistem embatido em dificuldades consecutivas. Os gigantes do processamento de carne Tyson Foods, Smithfield Foods e JBS foram duramente atingidos pelo vírus, o que motivou encerramentos

para o dia. Habituados a comprar os alimentos que

temporários, o abate de animais e quebras no

entendem, quando e onde entendem, os consumidores

fornecimento de carne. O acesso à mão de obra

depararam-se subitamente com prateleiras vazias nos

é outra questão. A fruta e os produtos frescos

supermercados à medida que as pessoas açambar-

têm de ser apanhados, mas há falta de trabalha-

cavam produtos com receio de que se esgotassem.

dores – ou estão doentes ou não podem viajar

Paradoxalmente, em muitas explorações agrícolas, o

para ocupar os seus postos sazonais habituais

problema foi o excesso e não a escassez, com agricul-

devido ao fecho de fronteiras ou a questões de

tores forçados a deitar fora leite e a devolver legumes

transporte. Estas perturbações na cadeia de

aos campos. Não se tratou de não haver alimentos

abastecimento, aliadas à descida vertiginosa dos

suficientes ou de os haver em demasia, mas sim de

preços das mercadorias, têm um grande peso nos

uma mudança na procura que a cadeia de abasteci-

agricultores, originando uma queda dos níveis de

mento teve de fazer por acompanhar. Os agricultores e

otimismo dos agricultores por três anos.

criadores de animais norte-americanos enfrentam um desafio inédito, mas continuam a encontrar formas de levar os alimentos às nossas mesas e de salvaguardar

Ajuda essencial para os agricultores

o seu próprio sustento.

O Coronavirus Food Assistance Program (CFAP) é programa de assistência alimentar face ao coro-

Desafios e perturbações excecionais

34 |

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

navírus que vai disponibilizar até 16 mil milhões de dólares (pouco mais de 14 mil milhões de euros) em

A cadeia de abastecimento alimentar enfrenta

pagamentos diretos a agricultores e criadores de

uma pressão sem precedentes. Com os escritó-

animais afetados pela pandemia do coronavírus, o

rios, escolas e restaurantes fechados, os consumi-

que, para muitos, é uma boia salva-vidas.


Como parte do programa, o Cabaz de alimentos dos agricultores para as famílias conta comprar quase 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,65 mil milhões de euros) em produtos frescos, laticínios e carne aos agricultores. Estes serão embalados e distribuídos por bancos alimentares e organizações comunitárias, ajudando assim os agricultores que perderam os seus mercados e os consumidores mais carenciados. A cadeia de supermercados Publix também está a fazer a sua parte para ajudar os agricultores e as pessoas com mais dificuldades no acesso a alimentos. Esta cadeia sediada na Florida comprou mais de

Alguns agricultores afirmam que a venda direta faz mais do que mantê-los financeiramente à tona – está a gerar recordes de receitas. No norte do Wisconsin, uma associação de agricultores está a fazer milhares de dólares por semana numa época em que as vendas são normalmente zero. Outra boa notícia para os agricultores: a Community Supported Agriculture (CSA) registou um pico na procura. Trata-se de um programa em que os consumidores se inscrevem para receber regularmente um cabaz de produtos agrícolas que contém de tudo, desde fruta e legumes a mel e carnes de fontes sustentáveis.

mentares membros do Feeding America que atuam nas suas comunidades locais. Outro exemplo de ação perante a adversidade é o Dairy West’s Curds + Kindness Program, um programa que está a prestar apoio a agricultores e comunidades carenciadas. A iniciativa serve de elo de ligação entre os excedentes de leite e as fábricas de processamento de laticínios, que os convertem em produtos lácteos de alta qualidade, tais como queijo e manteiga, antes de os enviar para os bancos alimentares locais.

Inovação e novos modelos de negócios Ajudas financeiras como esta e diversos programas de apoio e empréstimos do governo são essenciais – sem eles, alguns agricultores

doras automotrizes a embaladores de carne robóticos. O aumento da automatização é algo em que a Tyson Foods já está a trabalhar no seu avançado Centro de Automatização do Fabrico de Springdale, no Arkansas. A Covid-19 também veio sublinhar vulnerabilidades na cadeia de abastecimento alimentar, sendo portanto provável que os agricultores e a indústria alimentar procurem aumentar a sua resiliência de forma a estarem melhor equipados para lidar com crises futuras. A digitalização pode melhorar a visibilidade; quando conseguimos ver onde estão os problemas e as perturbações, estamos muito melhor preparados para os mitigar.

454 000 quilos de alimentos e 455 000 litros de leite para doar aos bancos ali-

como fora dele – desde ceifeiras-debulha-

Aumento do recurso à automatização

O Departamento de Agricultura dos Estados

Existem indícios de que a tecnologia também está a ajudar os agricultores a lidar com a

se tornou mais premente do que nunca, e está

pandemia. Na Califórnia, a empresa suportada por capital de risco FarmWise revela

ajudará os agricultores dos EUA a responder

um aumento acentuado na procura do seu sistema robótico de monda desde o surto de Covid-19, o qual está a melhorar a eficiência perante a falta de mão de obra. Poderá a tecnologia desempenhar um papel ainda maior no futuro? É essa a convicção de

Unidos (USDA) reconhece a necessidade de “inovação arrojada e transformadora”, a qual a trabalhar numa estratégia de inovação que às exigências futuras.

A chave de ouro Quando é que a vida e os negócios voltam ao “normal”? Ninguém sabe dizer com certeza. Mas uma coisa é certa: as coisas não voltarão

Erik Pekkiert, Gestor de Desenvolvimento de Negócio do programa de Robótica Agroali-

a ser como dantes. Diz-se que a necessidade

mentar da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos. Segundo ele, “os robôs são os agricultores do futuro”. A crise do coronavírus expôs a nossa dependência, talvez excessiva,

positivo da crise. Ao expandir o significado

de mão de obra manual. A tecnologia poderá ajudar a colmatar a lacuna tanto no campo

logias e fomentando a resiliência das nossas

aguça o engenho e talvez isso seja um aspeto da pior das hipóteses, a pandemia trouxe um novo ponto de referência para os planos de futuro, acelerando a adoção de novas tecnocadeias de abastecimento.

teriam dificuldade em sobreviver. Ainda assim, existem alguns exemplos de agricultores que estão a contornar a situação. Alguns estão a adaptar o seu modelo de negócios face à mudança da procura. Não podendo mais contar com a indústria de serviços alimentares, muitos estão a optar por modelos de acesso direto ao consumidor e a vender online. Enquanto uns oferecem a entrega ou recolha à porta, outros estão a funcionar em modo “drive-through” ou criaram bancas de produtos nas suas explorações. Esta abordagem está a ter sucesso, motivada pela vontade dos consumidores de comprar localmente e saber, agora mais do que nunca, de onde vêm os seus alimentos. A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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35


ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: UMA QUESTÃO DE SOBERANIA A seguir à pandemia vamos ter uma crise de

tanto mais fácil quanto maior for a importância

mercado, pelo que é essencial a celeridade da

e o valor que a sociedade atribui a este setor.

Europa na aprovação de medidas de apoio ao

Isso, atualmente, é particularmente relevante.

setor, tais como a antecipação de pagamentos das ajudas diretas.

Sendo certo que a seguir à pandemia teremos uma crise de mercado, é hoje essencial a cele-

Jaime Piçarra

Quando as perspetivas apontavam para um ano

ridade da Europa na aprovação de medidas

Secretário-Geral

particularmente intenso na Agricultura com as

de apoio ao setor, tais como a antecipação de

discussões em torno da revisão da PAC pós-2020,

pagamentos das ajudas diretas e as ligadas ao

do Quadro Financeiro Plurianual 2021/27 e, sobre-

Pograma de Desenvolvimento Rural, os apoios

tudo, do Pacto Ecológico Europeu, com a respe-

à armazenagem privada ou, ainda, as retiradas

tiva declinação para o agroalimentar, nomeada-

de mercado para salvar, no curto prazo, por

mente, na estratégia “Do Prado ao Prato”, em

exemplo, o comércio de leitões e outras carnes,

apenas um mês tudo mudou. No Velho Continente

o leite e os frutos vermelhos. Apoios adequados

a soberania alimentar enfrenta três desafios

e em tempo útil.

"É essencial voltarmos a refletir sobre a necessidade de stocks estratégicos (tal como acontece com os produtos petrolíferos), e alargar o prazo de implementação do Pacto Ecológico Europeu, em particular da estratégia “Do Prado ao Prato”

fundamentais: o afastamento da opinião pública do Mundo Rural, o comércio internacional num contexto europeu e os desafios políticos de uma Europa a uma só voz. As três estão interligadas.

dade de stocks estratégicos (tal como acontece com os produtos petrolíferos), e alargar o prazo de implementação do Pacto Ecológico Europeu,

em risco, também o é a alimentação quando

em particular da estratégia “Do Prado ao Prato”.

escasseia. O setor agroalimentar, baseado no

Isso permitirá aos diversos atores a discussão

Mundo Rural, sabe que é importante, mas fora

das medidas preconizadas, às empresas a cria-

dele, a crescente população urbana desconhe-

ção das condições efetivas de adaptação para a

ce-o, critica-o, e coloca em causa o seu contributo

produção numa economia verde e à própria UE a

para o equilíbrio social e económico. Argumen-

alocação de um orçamento à altura e na dimensão

tos a favor da sustentabilidade ambiental não

de todas estas ambições.

à ciência, é possível, e desejável, a convivência saudável entre a produção de alimentos à escala necessária e uma atuação ambientalmente responsável. Desta forma, paradoxalmente, contribuem para o aumento do que querem erradicar: o desrespeito pelo ambiente e bem-estar animal e uma concorrência desleal. Senão, vejamos: a tentativa, por vezes conseguida, de eliminação de algumas atividades do agroalimentar na Europa enfraquecem-no e, assim, abrem as portas à importação de produtos mais baratos, oriundos de mercados extracomunitários e que não estão sujeitos às mais elevadas exigências legais e padrões de respeito pelo ambiente, bem-estar animal e direitos dos trabalhadores, como

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

essencial voltarmos a refletir sobre a necessi-

A saúde é um valor mais premente quando está

ponderam, estranhamente, que, com o recurso

36 |

Mas os desafios persistem no médio prazo. É

Durante este período de emergência, a indústria da alimentação animal, em particular, não tem parado, contribuindo para que o setor continue a funcionar dentro da normalidade possível, mas da UE é urgente que venha a solidariedade que presidiu à sua constituição, bem presente no Tratado de Roma. A resposta a esta pandemia tem de corporizar esses objetivos e, enquanto aglutinadora de vontades dos Estados-membros, a União tem de ser visível, atuante, ágil, com capacidade de liderança e de falar a uma só voz, assumindo um novo papel junto dos cidadãos e na geopolítica internacional. Este apoio é, também, uma questão de soberania alimentar, e dos valores que defendemos, enquanto europeus.

acontece na Europa. A desejável intensificação

Por tudo isto, nunca a expressão “somos o que

das boas práticas na produção europeia é, aliás,

comemos” me fez tanto sentido.


A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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37


ALIMENTAÇÃO ANIMAL DO PRADO AO PRATO

ESTRATÉGIA DO PRADO AO PRATO – CRIAR UM SISTEMA ALIMENTAR SAUDÁVEL E TOTALMENTE SUSTENTÁVEL 1. Porquê apresentar agora a Estratégia do Prado ao Prato? A crise do coronavírus sublinhou a importância de um sistema alimentar sólido e resiliente que funcione em todas as circunstâncias e consiga garantir o acesso a alimentos suficientes a preços acessíveis para os cidadãos. Também nos tornou mais conscientes da inter-relação entre a nossa saúde, os ecossistemas, as cadeias de abastecimento, os padrões de consumo e os limites do planeta. É evidente que precisamos de fazer muito mais para nos mantermos a nós mesmos e ao nosso planeta saudáveis. A atual pandemia é apenas um exemplo. A ocorrência cada vez mais frequente de secas, inundações, incêndios florestais e novas pragas constitui um aviso constante de que o nosso sistema alimentar está ameaçado e deve tornar-se mais sustentável e resiliente. 2. Como serão atingidos os objetivos fixados na Estratégia do Prado ao Prato? A estratégia estabelece objetivos ambiciosos: • reduzir em 50 % a utilização de pesticidas químicos e o risco deles decorrente e em 50 % a utilização dos pesticidas mais perigosos até 2030, • reduzir as perdas de nutrientes em, pelo menos, 50 %, garantindo simultaneamente que não há deterioração da fertilidade dos solos, o que reduzirá a utilização de fertilizantes em, pelo menos, 20 % até 2030, • reduzir em 50 % as vendas de agentes antimicrobianos para animais de criação e de aquicultura até 2030, • e estender a agricultura biológica a 25 % das terras agrícolas até 2030. Por último, a estratégia inclui também o objetivo de que todas as zonas rurais tenham acesso a banda larga rápida até 2025, a fim de permitir a inovação digital. Com base na experiência adquirida com a aplicação da Diretiva Utilização Sustentável (DUS), é evidente que é possível fazer mais para reduzir a utilização global de pesticidas e o risco deles decorrente, promovendo práticas de proteção integrada, com vista a assegurar que, para proteger as culturas, 38 |

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são utilizados métodos sustentáveis, biológicos, físicos e outros métodos não químicos e pesticidas de baixo risco. Para preparar o caminho para a adoção de alternativas e manter os rendimentos dos agricultores, a Comissão tomará uma série de medidas, incluindo a revisão da diretiva relativa à utilização sustentável dos pesticidas, reforçará as disposições relativas à proteção integrada e promoverá uma maior utilização de formas alternativas seguras de proteger as colheitas contra pragas e doenças. A Comissão facilitará igualmente a colocação no mercado de pesticidas que contenham substâncias ativas biológicas e reforçará a avaliação dos riscos ambientais dos pesticidas. Os indicadores existentes não só fornecem informações sobre as vendas de pesticidas como também os categorizam em termos de risco, permitindo que os progressos na concretização dos objetivos sejam medidos anualmente. De forma a aperfeiçoar a abordagem, a Comissão irá desenvolver novos indicadores e propor alterações ao regulamento de 2009 relativo às estatísticas sobre pesticidas. Os Estados-Membros terão de adotar medidas ambiciosas e abrangentes para aplicar plenamente a legislação existente em matéria de poluição por nutrientes (N, P), a fim de evitar as respetivas fugas de nutrientes que poluem o ar e a água, tornando-se prejudiciais para a saúde humana e o ambiente. A Comissão irá desenvolver, com os Estados-Membros, um plano de ação para a gestão integrada dos nutrientes, com vista a reduzir e a prevenir mais poluição decorrente da utilização excessiva de fertilizantes e a promover a reutilização de nutrientes provenientes de diferentes tipos de resíduos orgânicos como fertilizantes. Isto contribuirá para concretizar a «ambição de poluição zero» do Pacto Ecológico da UE. A fim de limitar ainda mais o uso e promover uma utilização prudente e responsável dos agentes antimicrobianos nos animais, os novos regulamentos relativos aos medicamentos veterinários e aos alimentos medicamentosos para animais, a aplicar a partir de 2022, proporcionarão uma vasta gama de medidas concretas. O seu impacto no terreno contribuirá para diminuir a utilização de agentes antimicrobianos em animais de criação, cuja venda será monitorizada todos os anos. Para que seja possível alcançar o objetivo relativo à agricultura biológica na UE, é essencial assegurar


o desenvolvimento económico sustentável do setor e promover a procura. Além das medidas da política agrícola comum (PAC), como os regimes ecológicos, os investimentos e os serviços de aconselhamento, e das medidas da política comum das pescas (PCP), a Comissão apresentará um plano de ação para a agricultura biológica. Tudo isto ajudará os Estados-Membros a estimular tanto a oferta como a procura de produtos biológicos e assegurará a confiança dos consumidores, através de campanhas de promoção e de contratos públicos ecológicos. 3. Como é que a Estratégia do Prado ao Prato apoiará os agricultores, os pescadores e os aquicultores? Os agricultores, os pescadores e os aquicultores desempenham um papel crucial na aplicação do Pacto Ecológico. A estratégia visa recompensar os agricultores, os pescadores e outros operadores da cadeia alimentar que já transitaram para práticas sustentáveis, permitir a transição dos restantes e criar oportunidades adicionais para as suas empresas. As expectativas dos cidadãos estão a evoluir e a impulsionar uma mudança significativa no mercado alimentar. Os alimentos produzidos na Europa são já uma referência a nível mundial, sinónimo de alimentos seguros, abundantes, nutritivos e de alta qualidade. Esta transição permitirá aos agricultores, pescadores e aquicultores fazer também da sustentabilidade a sua marca e garantir o futuro da cadeia alimentar da UE. A transição para a sustentabilidade oferece a todos os intervenientes na cadeia alimentar a oportunidade de assumirem a posição de «precursores». Um exemplo de um novo modelo de negócio ecológico é o sequestro de carbono pelos agricultores e silvicultores. As práticas agrícolas que eliminam o CO2 da atmosfera contribuem para o objetivo da neutralidade climática e devem ser recompensadas, através da política agrícola comum (PAC) ou de outras iniciativas públicas ou privadas (mercado do carbono). A PAC continuará a ser um instrumento fundamental para apoiar os agricultores na transição para um sistema alimentar sustentável. A proposta de reforma da PAC de 2018 foca-se já na sustentabilidade e associa estreitamente o apoio da PAC à legislação em matéria de ambiente, clima e segurança dos alimentos. A proposta inclui instrumentos essenciais para alcançar os objetivos do Pacto Ecológico. Os

novos «regimes ecológicos» oferecerão um importante fluxo de financiamento para impulsionar práticas sustentáveis, como a agricultura de precisão, a agroecologia (incluindo a agricultura biológica), a criação de elementos paisagísticos, o armazenamento de carbono nos solos agrícolas e a agrossilvicultura. Os Estados-Membros e a Comissão terão de garantir que os regimes dispõem dos recursos adequados e são devidamente implementados nos planos estratégicos. A Comissão apoiará a introdução de um orçamento mínimo reservado para os regimes ecológicos. Além disso, a Comissão trabalhará com os colegisladores para assegurar que a ambição expressa no Pacto Ecológico se reflete plenamente na nova legislação da PAC. A Comissão também apresentará a cada Estado-Membro recomendações sobre os nove objetivos específicos da PAC, antes de os Estados-Membros apresentarem formalmente os projetos de planos estratégicos. A Comissão prestará especial atenção à concretização dos objetivos do Pacto Ecológico, bem como dos objetivos decorrentes da Estratégia do Prado ao Prato e da Estratégia de Biodiversidade para 2030. A Comissão solicitará aos Estados-Membros que estabeleçam valores nacionais explícitos para os objetivos dessas estratégias, tendo em conta a sua situação específica e as recomendações supramencionadas. Além do apoio significativo do próximo Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas à aquicultura sustentável, a Comissão prevê a adoção de orientações da UE para os planos de desenvolvimento sustentável da aquicultura dos Estados-Membros e a promoção do tipo de despesas adequado no âmbito do fundo. 4. Como será garantido o apoio financeiro necessário aos setores que terão de sofrer ajustamentos? A política agrícola comum (PAC) e a política comum das pescas (PCP) continuarão a ser instrumentos essenciais para apoiar a transição para sistemas alimentares sustentáveis, assegurando ao mesmo tempo uma vida digna aos agricultores, aos pescadores e às suas famílias. A investigação e a inovação (I&I) são determinantes para acelerar a transição para sistemas alimentares sustentáveis, saudáveis e inclusivos. No quadro do Programa Horizonte Europa, a Comissão propõe gastar 10 mil

milhões de EUR em I&I sobre alimentação, bioeconomia, recursos naturais, agricultura, pescas, aquicultura e ambiente, bem como sobre a utilização de tecnologias digitais e de soluções baseadas na natureza para o setor agroalimentar. O Fundo InvestEU fomentará o investimento no setor agroalimentar mediante uma redução do risco dos investimentos realizados pelas empresas europeias e facilitará o acesso ao financiamento por parte das pequenas e médias empresas (PME) e das empresas de média capitalização. Em 2020, o quadro da UE para facilitar os investimentos sustentáveis (taxonomia da UE), bem como a estratégia renovada em matéria de financiamento sustentável, mobilizarão o setor financeiro para que este desempenhe um papel crucial na transição e invista de forma mais sustentável, nomeadamente no setor da agricultura e da produção alimentar. A PAC tem também de facilitar cada vez mais o apoio ao investimento, de forma a melhorar a resiliência e acelerar a transformação ecológica e digital das explorações agrícolas. 5. De que forma a Estratégia do Prado ao Prato garantirá a segurança alimentar? Um sistema alimentar sustentável deve assegurar um fornecimento suficiente e variado de alimentos seguros, nutritivos, a preços acessíveis e sustentáveis para todas as pessoas em qualquer momento, mais ainda em períodos de crise. As alterações climáticas e a perda de biodiversidade constituem ameaças iminentes e duradouras à segurança alimentar e aos meios de subsistência. A Comissão continuará a acompanhar de perto a segurança alimentar, bem como a competitividade dos agricultores e dos operadores alimentares. O aumento da sustentabilidade dos produtores de alimentos acabará por aumentar a sua resiliência. A Comissão intensificará a sua coordenação de uma resposta europeia comum às crises que afetem os sistemas alimentares, a fim de garantir a segurança dos alimentos e do abastecimento alimentar, reforçar a saúde pública e atenuar o impacto socioeconómico dessas crises na UE. Com base nos ensinamentos retirados, a Comissão avaliará a resiliência do sistema alimentar e elaborará um plano de contingência para garantir o abastecimento e a segurança alimentares em tempos de crise. A reserva para crises no setor agrícola será renovada, de modo a A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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que todo o seu potencial possa ser utilizado desde o início em caso de crise nos mercados agrícolas. Além das medidas de avaliação e gestão dos riscos a ativar durante a crise, o plano criará um mecanismo de resposta a situações de crise alimentar coordenado pela Comissão e que envolverá os Estados-Membros. O mecanismo será composto por vários setores (agricultura, pescas, segurança alimentar, mão de obra, saúde e transportes), em função da natureza da crise. 6. Como é que o problema da pegada ambiental da produção animal será corrigido e o bem-estar dos animais melhorado? A pecuária é parte integrante da agricultura europeia e dos sistemas alimentares da UE. Para reduzir o impacto ambiental e climático da produção animal, será essencial desenvolver uma produção animal sustentável na UE. A política agrícola comum (PAC) acompanhará esta transformação através do apoio a soluções inovadoras e a práticas de produção sustentáveis. Promover-se-á também a procura sustentável através do desenvolvimento da rotulagem dos alimentos sustentáveis, tendo em conta a rotulagem relativa ao bem-estar dos animais, a fim de estabelecer uma ligação entre os esforços de sustentabilidade das explorações agrícolas e a procura dos consumidores. A Comissão facilitará também a colocação no mercado de aditivos para a alimentação animal sustentáveis e inovadores que contribuam para a redução das respetivas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e da poluição da água e do ar. Para incentivar os consumidores a optar por alimentos produzidos de forma mais sustentável, a Comissão está a rever o programa da UE em matéria de promoção dos produtos agrícolas, com vista a aumentar a sua contribuição para a produção e o consumo sustentáveis, em consonância com a evolução dos regimes alimentares. No que diz respeito à carne, essa revisão deverá centrar-se na forma como a UE pode utilizar o seu programa de promoção para apoiar os métodos de produção animal mais sustentáveis e eficientes em termos de emissões de carbono. Além disso, o Programa Horizonte Europa promoverá a investigação destinada a aumentar a disponibilidade e as fontes de proteínas alternativas, como proteínas vegetais, microbianas, marinhas e de insetos, e de substitutos de carne. 40 |

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O bem-estar dos animais melhora a saúde animal e a qualidade dos alimentos, reduz a necessidade de medicamentos e pode ajudar a preservar a biodiversidade. A Comissão está a avaliar as disposições existentes em matéria de bem-estar dos animais, nomeadamente no que se refere ao transporte de animais e ao seu abate, e procederá a uma revisão da legislação da União. A Comissão analisará também as opções de rotulagem em matéria de bem-estar dos animais, de forma a permitir que, por um lado, os consumidores façam a sua escolha e, por outro, os agricultores recebam incentivos para melhorar o bem-estar dos animais. 7. Como é que a Estratégia do Prado ao Prato contribuirá para reduzir a pressão sobre as unidades populacionais de peixes nos mares da Europa? A Comissão intensificará os esforços para que as unidades populacionais de peixes atinjam níveis sustentáveis através da política comum das pescas (PCP) onde subsistem lacunas de aplicação (por exemplo, reduzindo as devoluções inúteis de peixes ao mar), reforçará a gestão das pescas no Mediterrâneo em cooperação com todos os Estados costeiros e reavaliará, até 2022, a forma como a PCP aborda os riscos decorrentes das alterações climáticas. A Comissão adotará ainda iniciativas para garantir a sustentabilidade dos produtos do mar e o acesso dos consumidores a uma fonte de proteínas com uma pegada de carbono reduzida. A estratégia revista para a aquicultura da UE terá como objetivo estimular a produção e o consumo de produtos do mar da UE mais diversificados e promover normas ainda mais rigorosas em matéria de proteção do ambiente e bem-estar dos animais. Isto reduzirá a dependência de produtos do mar importados e a pressão sobre as unidades populacionais de peixe. A UE explorará também todo o potencial dos géneros alimentícios à base de algas e das fontes alternativas de alimentos para animais que sejam sustentáveis, para os quais existe uma procura crescente. 8. Como é que a Estratégia do Prado ao Prato incentivará as empresas de transformação e os retalhistas de produtos alimentares a produzir alimentos mais diversificados e sustentáveis? As empresas de transformação e os retalhistas de produtos alimentares influenciam as escolhas alimentares. A sua escala e con-

centração confere-lhes um poder considerável para colocar a produção e o consumo de alimentos no caminho da sustentabilidade. Através de iniciativas regulamentares e não regulamentares, a estratégia procurará orientar a indústria alimentar para práticas que permitam que a opção saudável e sustentável seja a mais fácil para os consumidores. Incentivar-se-á à assunção de compromissos voluntários, através de um código de conduta da UE para as empresas e práticas comerciais responsáveis. 9. O que fará a Comissão para ajudar os consumidores a fazer escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis? Os consumidores podem também eles próprios influenciar o tipo de alimentos que são produzidos (e a forma como são produzidos), bem como a sua origem. Os cidadãos querem consumir alimentos saudáveis produzidos num planeta saudável e merecem ter ao seu dispor informações claras que lhes permitam fazer escolhas informadas. Para incentivar a indústria alimentar a oferecer produtos alimentares saudáveis e sustentáveis, a Comissão proporá a introdução de rotulagem nutricional obrigatória na frente da embalagem e levará a cabo iniciativas para estimular a reformulação dos produtos, nomeadamente através da criação de perfis nutricionais que restrinjam a promoção (através de alegações nutricionais ou de saúde) de alimentos com elevado teor de gordura, açúcar e sal. A Comissão considerará propor a extensão das indicações de origem ou de proveniência obrigatórias a determinados produtos, tendo sempre em conta o impacto da medida no mercado único. Além disso, a Comissão analisará a possibilidade de harmonizar as alegações ecológicas voluntárias e desenvolverá um quadro de rotulagem dos alimentos sustentáveis que integre os aspetos nutricionais, climáticos, ambientais e sociais. Com vista a melhorar a disponibilidade e o preço dos alimentos sustentáveis e a promover uma alimentação saudável e sustentável, que inclua produtos biológicos, nas escolas e nas instituições públicas, a Comissão determinará as melhores modalidades para o estabelecimento de critérios mínimos obrigatórios para a contratação pública sustentável de alimentos. Paralelamente, a UE intensificará a sua luta contra a fraude alimentar, a fim de assegurar


condições de concorrência equitativas para os operadores e de reforçar os poderes das autoridades de controlo e execução. 10. Como é que a Estratégia do Prado ao Prato consegue garantir que são tomadas medidas contra o desperdício alimentar? A Comissão procurará intensificar a ação em toda a UE, mobilizando os Estados-Membros, as empresas do setor alimentar e a sociedade civil, nomeadamente através do trabalho da Plataforma da UE para as Perdas e o Desperdício Alimentares, e incentivando todos os intervenientes a aplicar as suas recomendações de ação. Estando empenhada em cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU de, até 2030, reduzir para metade o desperdício alimentar per capita a nível do retalho e do consumidor, a Comissão proporá, antes de 2023, metas juridicamente vinculativas de redução do desperdício alimentar em toda a UE. Essas metas serão definidas em função de valores de referência, obtidos na sequência do primeiro exercício de monitorização a nível da UE dos níveis de

resíduos alimentares, medidos de acordo com uma metodologia comum da UE. A Comissão estudará novas oportunidades para integrar a prevenção das perdas e do desperdício alimentares em todas as políticas pertinentes da UE e para adotar medidas de reforço da base factual para as intervenções de prevenção do desperdício alimentar. 11. Como é que a Estratégia do Prado ao Prato promoverá uma transição global para sistemas alimentares sustentáveis? A UE está empenhada em dar o exemplo na transição para sistemas alimentares sustentáveis, não só dentro das suas fronteiras mas também no exterior. Através da cooperação internacional, bilateral e multilateral, a UE promoverá práticas agrícolas e de pesca mais sustentáveis, reduzirá a desflorestação, reforçará a biodiversidade e melhorará a segurança alimentar e os resultados nutricionais. A Comissão integrará estas prioridades da Estratégia do Prado ao Prato nas orientações de programação para a cooperação com países terceiros no

período de 2021-2027. Os acordos comerciais bilaterais da UE constituem também um meio de promoção das normas ambientais da UE, assim como das normas de segurança alimentar, nos países terceiros. Muitos dos acordos bilaterais já incluem capítulos sobre comércio e desenvolvimento sustentável e sobre comércio e ambiente. Alguns contêm disposições em domínios como o bem-estar dos animais no abate ou a utilização de agentes antimicrobianos. A Comissão desenvolverá alianças verdes relativas a sistemas alimentares sustentáveis, para dar resposta a desafios distintos em diferentes partes do mundo, e procurará obter resultados ambiciosos na Cimeira da ONU sobre Sistemas Alimentares em 2021. Por último, a Comissão proporá o estabelecimento de um quadro legislativo para os sistemas alimentares sustentáveis, que, combinado com a rotulagem ou outros incentivos, poderá contribuir para elevar os padrões de sustentabilidade, de modo a tornar-se a norma para todos os produtos colocados no mercado da UE.

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SINES: NOVO HUB LOGÍSTICO DO AGRONEGÓCIO O Complexo Portuário, Industrial e Logístico de Sines atravessa um período de grande dinamismo, em virtude de vários investimentos já em curso ou anunciados, dos quais se destacam: • Expansão do Terminal XXI de contentores, aumentando a sua capacidade de 2,3 para 4,1 milhões de TEUs; • Concessão de um novo terminal de contentores, Terminal Vasco da Gama, com uma capacidade de 3,5 milhões de TEUs, cujo concurso público está a decorrer; • Conversão do Terminal Multiusos, na sequência do anunciado encerramento das centrais termoelétricas a carvão de Sines e do Pego; • Infraestruturação da ZAL – Zona de Atividades Logísticas, integrada na Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS), adjacente ao porto de Sines; • Melhoria das infraestruturas ferroviárias e rodoviárias, designadamente ligação ferroviária Évora – Caia e via rápida Sines – Grândola (A2);

sólidos, carga geral, roll on-roll off (ro-ro) e contentores – podendo receber os maiores navios do mundo sem qualquer restrição de calado. O porto iniciou a sua atividade em 1977 para servir o polo petrolífero e petroquímico construído na mesma altura. O terminal de contentores (Terminal XXI) iniciou a sua atividade em 2004, dando um grande contributo para o crescimento do porto. Hoje é a carga com maior peso nas estatísticas portuárias. Mais recentemente, e tal como aconteceu com o Terminal XXI, o terminal de GNL tem tido um crescimento exponencial, reforçando a vocação energética de Sines. Em contrapartida, o Terminal Multipurpose tem vindo a reduzir a movimentação em virtude da forte diminuição das importações de carvão para as centrais termoelétricas, cujo encerramento está anunciado para 2023. É neste terminal que existe capacidade disponível para a movimentação de produtos agrícolas, que será reforçada nos próximos anos. O Terminal Multipurpose possui áreas disponíveis para armazenagem e movimentação de produtos agrícolas dentro do perímetro do porto e na ZAL.

• Lançamento da Sines Tech – Innovation and Data Center Hub na ZILS, onde se destaca a estação CLS da Ellalink que amarrará a primeira ligação por cabo em fibra ótica entre a Europa e a América do Sul (via Brasil). Sines apresenta, ainda várias vantagens competitivas do ponto de vista operacional, tais como estabilidade laboral, operação permanente (365 dias/ano e 24 horas/dia), taxas portuárias atrativas, alta produtividade e um conjunto de stakeholders pró-ativos. A CPLS – Comunidade Portuária e Logística de Sines, a associação que representa os principais stakeholders públicos e privados que operam em Sines, identificou vários setores considerados estratégicos, com potencial para utilizarem Sines para as suas atividades. Um desses sectores é a agroindústria, onde a oferta apresenta vantagens competitivas para a importação de produtos agrícolas. Vejamos porquê: O Porto de Sines é o maior porto nacional, movimentando cerca de 48 milhões de toneladas por ano ou 52% do total nacional(1). Tem cinco terminais especializados para todo o tipo de carga – granéis líquidos, petroquímicos, gás natural liquefeito, multiusos (granéis http://www.amt-autoridade.pt. Dados de 2018; em 2019 registou-se uma quebra, que ainda não será recuperada em 2020 devido à crise do Covid-19.

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Quadro 1 – Terminal Multiusos e Zona de Atividades Logísticas (ZAL)

O Terminal Multipurpose está vocacionado para a movimentação de granéis secos, carga geral e ro-ro. Tem ligação ferroviária direta à rede nacional (“on-dock rail”) e dispõe de um tapete rolante para transporte de carvão que, no futuro, poderá ser adaptado para o transporte de granéis para a ZAL. Sines tem uma localização geoestratégica privilegiada para um hub para produtos agrícolas, servindo de porta de entrada para a Península Ibérica e de plataforma de transbordo para servir outros mercados, designadamente no Mediterrâneo e na Costa Ocidental de África. O inegável sucesso do Terminal XXI no mercado de contentores atesta a competitividade de Sines em concorrência direta com portos no mediterrâneo ocidental. Como se sabe, as cadeias de abastecimento estão a ser sujeitas a profundas alterações introduzidas com tecnologias emergentes, tais como inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e blockchain. O objetivo


é aumentar a eficiência e a transparência, eliminando intermediários que não acrescentam valor. A crise provocada pelo Covid-19, que alterou o status quo, mostrou a fragilidade das cadeias de abastecimento tradicionais, acelerando a tendência hoje generalizada para centralizar a logística nos portos (“port-centric logistics” ou PCL). Dada a sua localização, acessibilidades e disponibilidade de espaço, Sines está bem posicionada para beneficiar desta evolução sistémica. A ligação de Sines ao mercado ibérico é assegurada preferencialmente por ferrovia, por razões económicas e ambientais. Sines está ligado à rede nacional e europeia (RTE-T), com portos secos estrategicamente distribuídos na Península Ibérica – ver Quadro 2.

O potencial de Sines como plataforma de transbordo foi objeto de um estudo recente, no contexto de uma tese de doutoramento na Universidade de Aveiro (ainda não publicada) sob orientação do Prof. Dr. Joaquim José Borges Gouveia. A argumentação é convincente: • A produção agrícola a nível mundial tem vindo a deslocar-se para Sul. Em 2014 o Brasil ultrapassou os EUA como maior produtor mundial de soja. • A soja é o principal ingrediente na produção de alimentos para consumo animal devido à sua eficiência orgânica: os grãos de soja produzem mais do dobro das proteínas por hectare do que qualquer outro produto agrícola. • O transporte tem grande peso no custo final dos produtos agrícolas, pelo que a utilização de navios de grande porte é vantajosa, tanto do ponto de vista económico como ambiental. • Sines tem uma localização privilegiada para um hub agroalimentar para servir os continentes europeu e africano– ver Quadro 3.

Quadro 2 – Ligações Ferroviárias de Sines ao hinterland ibérico

Sines é de longe a maior plataforma ferroviária de mercadorias em Portugal e a segunda maior na Península Ibérica, depois de Saragoça. Em 2019 registou cerca de 6.000 composições cobrindo todo o país e servindo regularmente vários portos secos espanhóis. O principal operador ferroviário, Medway, anunciou planos para expandir a sua rede em Portugal (sobretudo no centro e norte do país) e chegar ao centro da Europa em 2020. Para os operadores logísticos nacionais, a existência de entrepostos aduaneiros, cobrindo literalmente todo o país, ligados a Sines por ferrovia, permite desenvolver soluções logísticas integradas em que, do ponto de vista do recebedor/consignatário, as importações são entregues, sob controle aduaneiro, quase à sua porta. Esta facilidade foi recentemente melhorada, de forma significativa, com a criação do estatuto de Porto Seco, nos termos do Decreto-Lei 53/2019 de 17 de abril. Esta lei, que entrou em vigor em 1 de julho de 2019, visa potenciar a concentração e desalfandegamento das mercadorias que circulam entre armazéns de depósito temporário (ADTs), contribuindo para uma maior eficiência das cadeias de abastecimento. O conceito de Porto Seco aplica-se preferencialmente a carga contentorizada e admite o transito de mercadorias entre ADTs por via ferroviária, rodoviária ou fluvial com um mínimo de burocracia, utilizando a plataforma eletrónica “Janela Única Logística (JUL)”. Esta solução comporta inúmeros benefícios ao nível do incremento da capacidade das autoridades competentes atuarem sobre a execução dos processos de transporte, dada a maior visibilidade de toda a cadeia logística, da otimização das operações multimodais, por via da partilha da informação, e da redução dos custos de contexto.

Quadro 3 – Comércio de Soja e derivados da EU em 2012 (Fonte: Prof. Dr. Joaquim Borges Gouveia)

A utilização de Sines como plataforma de transbordo para produtos agrícolas do Atlântico Sul irá potenciar a capacidade disponível no Terminal Multipurpose e na ZAL e irá beneficiar os carregadores nacionais com menores custos, tirando partido de economias de escala. Em 2019 a CPLS estabeleceu uma ligação com os portos brasileiros do Arco Norte que pretendem aumentar a sua quota na exportação de produtos agrícolas da região Centro Oeste. Atualmente estes portos, que incluem Outeiro, Santarém e Vila do Conde no Paraná e Itaquí no Maranhão, exportam cerca de 24 milhões de toneladas por ano ou 25% do total das exportações brasileiras, que se cifram em cerca de 75 milhões de toneladas de soja e 25 milhões de toneladas de milho. O objetivo é incrementar a carga movimentado pelo eixo Arco Norte para 40 milhões de toneladas por ano, tirando partido da redução de custos decorrentes da utilização de um hub de distribuição em Sines. Noutra perspetiva o projeto Alqueva está a atrair investimentos consideráveis, principalmente na produção de culturas de regadio orientadas para a exportação, que exigem uma cadeia logística eficiente. Sines, além da proximidade do local de produção tem infraestruturas que permitem apoiar todas as atividades de armazenagem e de manipulação das produções. Aliado à eficiência da operação portuária, existe a ZAL – Zona de Atividades Logísticas planeada com armazéns refriA LI ME N TAÇÃO A N I M A L

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gerados e silos, capaz de dar o apoio a todas as empresas que queiram instalar-se nesta localização.

A proposta de valor de Sines como hub para a importação e transbordo de produtos agrícolas é sintetizada na análise SWOT apresentada resumidamente no Quadro 4.

Pontos Fortes

Pontos Fracos

1. Localização geoestratégica 2. Ligações regulares e semanais aos maiores portos do mundo (carga contentorizada) 3. Acesso marítimo sem restrições 4. Vasta área disponível 5. Boas ligações rodo-ferroviárias 6. Estabilidade laboral 7. Custos competitivos e alta produtividade 8. Livre prática digital (JUL) 9. Vocação energética de Sines 10. Hub tecnológico (SinesTech)

1. Projeto brownfield que requer alteração dos circuitos comerciais estabelecidos e conversão do terminal multiusos 2. Reduzida experiência na movimentação de produtos agroalimentares a granel 3. Inexistência de estruturas de armazenagem para cereais/grãos dentro do porto

Oportunidades

Ameaças

1. Deslocação da produção agrícola para Sul 2. Crescimento do eixo Arco Norte do Brasil 3. Investimentos em curso em infra-estruras portuárias e ferroviárias 4. Aposta na centralidade logística portuária 5. Infraestruturação da ZAL 6. Utilização de navios de maior porte 7. Restrições operacionais em portos concorrentes

NEGATIVO

POSITIVO

INTERNO

1. Instabilidade geopolítica 2. Mudança de ciclo pós - Covid-19 3. Atraso nos investimentos públicos

EXTERNO

Quadro 4 – Análise SWOT

A importação de produtos agrícolas para o mercado português sofre de várias ineficiências que resultam, em larga medida, da escala relativamente modesta do mercado e da dispersão dos fluxos de carga por vários portos, principalmente Leixões, Aveiro e Lisboa. Sines oferece uma oportunidade única para melhorar substancialmente a eficiência das cadeias de abastecimento por via da consolidação dos fluxos de carga e racionalização dos circuitos de distribuição. O exemplo do tráfego de contentores e de carvão, utilizando quase

Comentários das entidades relevantes para o Complexo Portuário e Logístico de Sines “O desenvolvimento de uma área dedicada ao agronegócio no porto de Sines vem reforçar a diversificação da atividade portuária e reafirmar a sua dimensão global. Além das exportações de muitos produtos agrícolas portugueses registarem um franco aumento, sendo reconhecidos pela sua enorme qualidade, Portugal – e Sines em particular – tem uma localização geoestratégica no que respeita à articulação intercontinental das principais rotas marítimas. Em 2019 as exportações do segmento agroalimentar cresceram mais que as importações (2,4% e 2,1%, respetivamente), destacando-se que os preparados à base de cereais cresceram cerca de 27,1% naquele ano em relação ao período homólogo. É um sinal de que existe espaço para nos posicionarmos no mercado global de bens agroalimentares, na agroindústria e no setor do agronegócio. Sines, como é do conhecimento de todos, é uma cidade cujo planeamento foi pensado para conciliar a área urbana com as áreas de desenvolvimento portuário, logístico e industrial. Por isso mesmo, existe uma enorme disponibilidade de espaços, bem infraestruturados, para a fixação de empresas, equipamentos, indústrias e logística. A Câmara Municipal, como sempre, encontra-se disponível para ser um parceiro colaborante e proativo no acolhimento do investimento produtivo, criador de postos de trabalho e de riqueza para o concelho e para a região.” Dr. Nuno Mascarenhas Presidente da Câmara Municipal de Sines

"Queremos potenciar o negócio do setor agroalimentar no Porto de Sines. Temos infraestrutura portuária com elevados índices de produtividade nas operações portuárias e com capacidade para receber os maiores navios de graneleiros interoceânicos. Temos áreas disponíveis para a instalação de armazéns, silos e indústrias de transformação. Funcionando 24/24h, durante todo o ano, o Porto de Sines garante aos seus clientes a estabilidade necessária da movimentação portuária, num regime tarifário flat rate. A capacidade existente no terminal multiusos para a movimentação de granéis sólidos, nomeadamente de produtos agroalimentares, que pode também criar sinergias, pela proximidade, ao terminal de contentores que oferece ligações diretas e semanais, aos principais mercados mundiais, acreditamos estarem aqui, no porto de Sines, reunidas as condições para uma eficiente logística do agronegócio e na criação de valor aos importadores e exportadores nacionais deste setor para, em conjunto, melhoramos as condições de competitividade da nossa economia.” Eng.º José Luis Cacho Presidente Autoridade Portuária de Sines

exclusivamente a ferrovia, demonstra a viabilidade de servir eficientemente todo o território nacional a partir de Sines. A CPLS identificou a agroindústria e, particularmente, a importação e transbordo de produtos agrícolas, como um sector estratégico para o desenvolvimento do complexo portuário, industrial e logístico de Sines. Nesse sentido, convidamos todos os associados da IACA que estejam interessados, a estudar e desenvolver connosco a melhor resposta a este grande desafio. Jorge d’Almeida Associação Empresarial de Sines Presidente da CPLS Gonçalo Eiras, aicep Global Parques e Direção CPLS Luis Miguel Silva, Administração do Porto de Sines e Direção CPLS

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“O Complexo Portuário, Logístico e Industrial de Sines é o interface transoceânico da frente atlântica ibérica por excelência. É em Sines que se encontra o grande porto de águas profundas da costa atlântica da Península Ibérica, cujas ligações rodoferroviárias estão a ser reforçadas, para um acesso logístico mais rápido e mais barato a todos os pontos de consumo e produção de Portugal e Espanha. Servida por rodo e ferrovias, a ZAL – Zona de Atividades Logística da ZILS – Zona Industrial e Logística de Sines disponibiliza 268ha contíguos aos terminais de contentores e de granéis sólidos do Porto de Sines. Prontos a ser ocupados por atividades de armazenamento e processamento.


Nós temos os recursos para o apoiar

Estamos aqui para o ajudar a concretizar a ambição de crescer. Temos um conhecimento profundo de nutrição e produção animal, sustentado em 100 anos de experiência, na presença em 75 países e numa forte aposta em Investigação. Como seu parceiro de negócio, queremos ser a força motriz do seu crescimento, através das melhores soluções nutricionais e mais sustentáveis práticas de maneio. Desta forma, cumprimos a nossa missão de alimentarmos animais saudáveis com responsabilidade.

A LI ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL ESTRATÉGIA

A ZAL Sines está assim posicionada para ser uma porta de entrada de produtos agro do Hemisfério Americano na Península Ibérica e na Europa; e para ser um centro de processamento e exportação de produtos agrícolas para mercados terceiros, nomeadamente das novas produções do perímetro de irrigação do Alqueva e das consolidadas produções da Extremadura e da Andaluzia espanholas. A aicep Global Parques, empresa pública com tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros, gere a ZILS e desenvolve a ZAL em conjunto com a Câmara Municipal e o Porto de Sines, no contexto da CPLS – Comunidade Portuária e Logística de Sines.” Dr. Filipe Costa CEO aicep Global Parques

“No processo de desenvolvimento do Alentejo são hoje reconhecidos como relevantes o ressurgimento do potencial de exportação agroalimentar (horto-fruticultura, economias do vinho e do azeite, e investimentos nas novas agriculturas), e toda a logística associada ao complexo de Sines. Na dinâmica de afirmação regional, os investimentos nas novas práticas agrícolas e agroalimentares trouxeram para o Alentejo empresas e pessoas, oportunidades e negócios. Atualmente, a agroindústria e as indústrias alimentares registam grande dinamismo e potencial competitivo, nomeadamente no Litoral Alentejano e no Baixo Alentejo, a partir do aproveitamento do Regadio de Alqueva. A Área portuária, industrial e logística de Sines representa uma das componentes mais expressivas da internacionalização da economia regional, fortemente integrada na economia nacional e na economia europeia e mundial. No quadro da Estratégia 2030, para o Alentejo, é fundamental o futuro papel de Sines na resposta a desafios da região, nomeadamente de valorização dos recursos estratégicos e de alargamento da base territorial da competitividade, em que a trajetória de relação com o “hinterland” se aprofunde, nomeadamente em áreas económico-produtivas que estabelecem uma relação de abastecimento/escoamento na qual Sines (no futuro, acrescentando a relação ferroviária a Elvas) constitua um ativo ainda mais relevante da Região. A linha ferroviária Sines-Elvas-Espanha será estratégica para o Alentejo. Trata-se de projeto de articulação das ligações ferroviárias entre os portos nacionais e centros logísticos e que é economicamente relevante para o Alentejo, por servir potencialmente o tráfego de mercadorias de Sines e abrir a possibilidade, a explorar futuramente, de ligação com as fileiras regionais mais relevantes. E são igualmente relevantes as interações entre o agroalimentar e a bioeconomia, situando as oportunidades que se perspetivam neste Domínio da Estratégia Regional de Especialização Inteligente para 2030, na integração económica e de mercados. Com particular interesse regional e em concordância com a estratégia europeia para fomentar a bioeconomia, esta vertente tem no Alentejo uma abrangência que inclui a inovação competitiva da alimentação e floresta, mas também da economia dos recursos marinhos, procurando desenvolver novas formas de produção, comercialização e consumo. No horizonte de médio prazo (final de 2023), com o desmantelamento da central de carvão, o Governo português deverá preparar um plano territorial para uma Transição justa abrangendo investimentos a realizar ao abrigo dos financiamentos da política de coesão. Esses investimentos deverão contribuir para a reestruturação do complexo de atividades económicas de Sines e abranger a reconversão profissional dos ativos atingidos, criando qualificações ajustadas a novas dinâmicas de atratividade territorial de Sines.” Dr. Roberto Pereira Grilo Presidente CCDRA,

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

"O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva é um Projeto estruturante no Sul de Portugal assumindo-se como um investimento âncora do desenvolvimento regional Alentejano. O seu conjunto de infraestruturas tem permitido concretizar o maior sonho do Alentejo e viabilizar, do ponto de vista económico-social, uma das regiões mais desfavorecidas da Europa. É na sua componente agrícola que os impactes são mais significativos, permitindo regar na atualidade 120.000 ha de terrenos agrícolas, aos quais se acrescentarão nos próximos anos, mais 50.000 ha decorrentes da denominada Segunda Fase do Regadio de Alqueva, já em construção. O sucesso do maior projeto Hidroagrícola alguma vez realizado em Portugal é de amplo conhecimento, sendo referenciado como um projeto modelo a nível mundial. As transformações que este território tem sofrido nos últimos anos são muito significativas e a sua contribuição para o desenvolvimento agrícola nacional é altamente relevante. As taxas de adesão ao regadio na área de influência de Alqueva são muito elevadas, ultrapassando já os 90% de adesão. O investimento público e privado aqui realizado, tem permitido um rápido aproveitamento das novas condições produtivas existentes na zona, às quais só faltava a garantia interanual de água. São assim múltiplas as fileiras produtivas que se têm fixado na região, sendo de destacar o olival, o amendoal, os cereais de primavera/verão (milho) e os outono-invernais, as oleagionosas, a vinha, os pomares, as hortícolas, a pecuária, sem menosprezar ainda outras culturas existentes na região. Todavia, o projeto de Alqueva necessita, para o seu pleno sucesso, de um conjunto alargado de outros investimentos e infraestruturas que o possam potenciar e aproveitar na plenitude, conferindo as tão desejáveis condições de competitividade à região. São assim de destacar as acessibilidades (rodoviária e ferroviária), a potenciação das infraestruturas aéreas existentes na região e claramente a aproximação de todos os agentes económicos na maximização de um ativo estratégico que se localiza de forma quase adjacente ao projeto Alqueva: o Porto de Sines. São muitos os produtos que já são exportados da região via esta infraestrutura (azeite, vinhos, gado e outros) e muitos os que já chegam também por esta via. Se é fulcral falar na capacidade de Sines para ser cada vez mais o centro exportador por via marítima de Alqueva, convém não esquecer a importância da sua proximidade a Alqueva para a receção de fatores de produção fulcrais às explorações agrícolas, de forma mais competitiva, como sejam o caso de adubos, agroquímicos e combustíveis. A região de Alqueva, num futuro próximo com cerca de 200.000 ha de regadio público existente, pode aspirar a produzir no cenário atual mais de 200.000 ton de azeite, 60.000 ton de amêndoa, 100.000 ton de milho e outras tantas de outros cereais e oleaginosas, para além de quantidades muito significativas de produtos hortícolas, frutícolas e pecuários. Num mercado cada vez mais global, o maior Porto de águas profundas da Europa e com maior dimensão nacional, será seguramente um forte aliado do projeto Alqueva e dos seus agentes económicos. É assim fulcral unir esforços para a potenciação conjunta destas infraestruturas e realizar os investimentos necessários para que cada vez mais se complementem". Eng. José Pedro Salema Presidente EDIA


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

EFEITOS DO ARMAZENAMENTO NO VALOR NUTRICIONAL DOS CEREAIS Os cereais são a base dos alimentos compostos

arabinose + xilose (A+X) que perfazem mais de

para animais em todo o mundo, e a sua percenta-

50% do total da fibra diatética.

gem de inclusão na dieta é alta. Eles contribuem com a maior parte do aporte energético do alimento composto, o que faz com que cerca de 75% da energia da dieta derive dos cereais. Por conseguinte, é importante que tenhamos uma boa caracterização nutricional e um controlo da

O objetivo deste artigo consiste em esclarecer, dando uma explicação técnica acerca das ações que foram realizadas historicamente em relação ao uso de cereais recentemente colhidos e refletir se ainda fazem sentido.

qualidade excelente, uma vez que os resultados do desempenho dos animais dependem destes fatores. Diego Parra Gerente Técnico da AB Vista EMEA

A utilização de cereais de novas colheitas está historicamente associada a uma mais elevada proporção de fibra solúvel comparativamente a cereais colhidos há mais tempo, o que resulta

Controlo da humidade após a receção de produtos acabados de colher Normalmente, encontramos um nível de humidade superior nos cereais acabados de colher comparativamente a cereais mais antigos.

numa maior viscosidade do conteúdo digestivo.

É provável que quando os cereais são utilizados

Tal poderia conferir um efeito negativo, possi-

de imediato, o controlo da atividade da água não

velmente justificado por um maior desenvol-

seja tão relevante. Porém, o referido controlo é

vimento de clostridium, fezes de consistência

extremamente necessário em termos de armaze-

pastosa, cama húmida, menor digestibilidade dos

namento, a fim de evitar ou prevenir o desenvol-

nutrientes, o que resultaria num agravamento do

vimento de microrganismos e de fungos. De igual

desempenho.

modo, é bastante importante estar ciente do nível

Devido a tais condições, os fabricantes de alimentos compostos decidem frequentemente aplicar um conjunto de medidas, de modo a reduzir o impacto dos cereais da nova colheita: armazena-

de humidade para obter maior rigor na matriz de formulação, bem como saber qual será o seu comportamento durante a moagem na produção de alimentos compostos.

mento dos cereais da nova colheita durante um

Por outro lado, se não utilizarmos os cereais de

determinado período de tempo para reduzir a

imediato, será necessário armazená-los sendo

proporção de fibras solúveis em favor das fibras

fundamental estabelecer um bom controlo de

insolúveis, misturando uma proporção de cereais

humidade contemplando-o no HACCP. Os cereais

mais antigos com cereais acabados de colher, ou

que excederem o valor máximo de humidade per-

a sobredosagem de carbohidrases enquanto são

mitido nunca devem ser aceites.

utilizados cereais da nova colheita. Em matéria de fibra, é muito importante incluir os parâmetros relevantes para descrever a fibra

Armazenamento de cereais

de forma a que faça sentido do ponto de vista

Ao longo da história, os cereais têm sido armazena-

nutricional. Historicamente, analisámos apenas a

dos por diversas razões, sendo a mais importante

fibra bruta, porém, atualmente, sabemos que tal

a diminuição da viscosidade dos cereais associada

não é suficiente porque se trata apenas de uma

à diminuição da viscosidade intestinal. Alterando a

pequena percentagem do total de fibra diatética

proporção de fibra solúvel para fibra mais insolúvel.

com relevância nutricional limitada.

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Atualmente, constatámos que devido a alterações

Recomendamos que existam ferramentas e equa-

genéticas dos cereais, o problema da viscosidade

ções para verificar os parâmetros relevantes que

não é tão evidente como terá sido no passado. Com

incluem a fibra total, destacando a proporção de

o objetivo de esclarecer esta situação, decidimos


utilizar uma calibração NIR para analisar 18 amostras de trigo e

valor nutricional é um ponto chave para fomentar uma produção de

cevada recentemente colhidas, reanalisando as mesmas amostras

rações mais rentável. Assim sendo, é essencial analisar regularmente

e as mesmas frações 3 meses mais tarde para avaliar os efeitos do

os cereais antes da sua utilização, independentemente do tempo de

armazenamento na composição da fibra. Analisámos polissacáridos

armazenamento. Desta forma, a composição dos cereais é fornecida

não amiláceos (NSP) solúveis e insolúveis, A+X solúveis e insolúveis

imediatamente, atualizando em tempo real a matriz de formulação e

e glucose solúvel composta maioritariamente por beta-glucanos.

melhorando o seu rigor.

Foi armazenada um conjunto de amostras de cereais não moídos em condições semelhantes às existentes no silo.

Atualmente, estão disponíveis algumas ferramentas para avaliar a composição dos ingredientes. O principal método é o NIR, o qual prevê parâmetros nutricionais importantes para manter a matriz de formulação atualizada.

Utilização contínua de xilanase Foram realizadas diferentes ações para melhorar a qualidade dos cereais, evitando ou reduzindo o mais possível os efeitos antinutricionais. Por uma questão de segurança, alguns nutricionistas têm normalmente optado por efectuar uma sobredosagem da quantidade das carbohidrases durante a utilização de cereais da nova colheita. Provavelmente isto faria mais sentido com enzimas de primeira geração do início dos anos 90, quando a dose não era a ideal para lidar com problemas de viscosidade e existia também uma potencial perda de atividade durante o processamento das rações. Em contraste, para uma moderna xilanase termoestável, esta estratégia pode não ser necessária, pois o desenvolvimento de novas xilanases teve em consideração o rigor da dosagem e a respetiva resistência em condições adversas durante o processamento das rações. Contudo, alguns Ao contrário do esperado, verificámos diferenças muito reduzidas entre os cereais recentemente colhidos e após 3 meses de arma-

nutricionistas aplicam doses mais elevadas de xilanase como forma de assegurar que o desempenho dos animais não é prejudicado.

zenamento.

Por sua vez, alguns nutricionistas utilizariam unicamente carbohi-

Tanto os perfis dos NSP solúveis e insolúveis e de A+X solúvel e inso-

do ano, acreditando que, por exemplo, uma dieta à base de milho,

lúvel não sofreram alterações, confirmando que o armazenamento de cereais não tem qualquer impacto nas condições de viscosidade dos cereais e no intestino.

drases apenas alguns meses após a colheita e não durante o resto não precisa de carbohidrase. Porém, a recomendação é utilizar xilanase ininterruptamente. Conforme demonstrado anteriormente, as alterações na composição de fibra dos cereais armazenados não é

Para além da viscosidade, os cereais também são armazenados por

relevante para interromper a utilização de carbohidrase.

outras razões, onde se incluem razões económicas, e para assegurar

Os mecanismos através dos quais as xilanases melhoram o valor

o abastecimento. Em qualquer caso, os silos devem ter as condições necessárias para garantir a qualidade dos grãos.

nutricional da dieta deve-se à redução na viscosidade, promovendo a absorção e melhorando a eficiência das enzimas digestivas endógenas, melhorando a digestibilidade dos nutrientes. Contudo, não

Avaliação nutricional dos cereais Tal como referido anteriormente, neste estudo, não verificámos alterações significativas entre os cereais acabados de colher e 3 meses mais tarde. Por conseguinte, a convicção de que os cereais são armazenados com o objetivo de obter alterações nutricionais na composição da fibra não tem sustentabilidade. Todavia, estamos a falar de

se resume apenas a isto. Atualmente, é sabido que a utilização de carbohidrases, em especial as xilanases, se deve à sua capacidade na decomposição da cadeia do arabinoxilano, produzindo oligossacarídeos de cadeia curta, também denominados xilo-oligossacarídeos (XOS), com diferentes graus de polimerização. Estes XOS serão utilizados como substrato na microbiota intestinal, auxiliando a função intestinal.

um setor empresarial que movimenta grandes volumes e onde as

Para mais informações ou referências, contacte através do e-mail

margens de lucro são muito baixas, pelo que o rigor na avaliação do

eme@abvista.com A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SPMA

SECÇÃO DE PRÉ-MISTURAS E ADITIVOS

REFLEXÕES COVID-19 • Continuamos a viver a pandemia Covid-19, que mudou o mundo e a nossa forma de viver. Felizmente, o setor da Produção Animal manteve a sua atividade, pelo que as empresas de pré-misturas e de aditivos continuaram a trabalhar, adaptando-se a uma nova realidade de menor contacto social e de divulgação de informação através de meios tecnológicos. Feiras, congressos e reuniões têm sido cancelados ou adiados por todo o mundo, pelo que as próximas Jornadas de Alimentação Animal deverão ser feitas neste novo sistema. • O mundo mudou mas não parou – a Comissão Europeia apresentou a sua estratégia “Farm To Fork” para produzir alimentos sustentáveis, colocando em prática os princípios de redução de antibióticos na pecuária, novas regras de bem-estar animal (incluindo transportes e abate de animais), redução da pegada ambiental da produção animal e redução do desperdício alimentar. Estratégia ambiciosa, numa altura de generalizada crise económica e social europeia e mundial, que levou o secretário-geral da IACA, Engº Jaime Piçarra, a escrever, entre outros, um oportuno artigo no jornal Expresso, com o título “Biodiversidade & “Do Prado ao Prato”: a vitória de Pirro?” • Neste contexto de produção de alimentos, veio também o Prof. Manuel Chaveiro Soares relembrar o importante papel do conhecimento científico, através de um artigo para a FEFAC “Importance of scientific progress in the abundant production of healthy foods – an unprecedent historic success”, com publicação no Agroportal. • Quem também não parou foram as autoridades fiscalizadoras ligadas ao setor da alimentação animal (DGAV, DRs, IGAMAOT,…), em particular, as ligadas às áreas ambientais, demonstrando uma falta de articulação com as empresas de alimentos para animais e estas de grande necessidade em formação, aspeto que a IACA deverá ter em conta nas suas ações futuras.

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL


ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS DAS EMPRESAS

A ONE ALLTECH VIRTUAL EXPERIENCE, DEVIDO À COVID-19, REALIZOU-SE ESTE ANO ONLINE, DE 23 A 25 DE MAIO Participaram 25.000 pessoas de 108 países. Esta experiência vai continuar com conferências mensais até final de 2020, garante Mark Lyons, presidente e CEO da Alltech: Julho – Tecnologia aplicada à agricultura; Agosto – Agronegócio na Ásia; Setembro – Equinos; Outubro – Aquacultura; Novembro- Agronegócio em África; Dezembro – Retrospectiva do negócio e das mudanças ocorridas em 2020 para projectar o futuro.

Crise no leite Durante a ONE Alltech Virtual Experience deste ano, o analista Torsten Hemme, da IFCN Dairy Network, afirmou na sua palestra que 2020 será um ano de crise para o setor do leite. Apesar de em muitos países os produtores não sentirem ainda a descida do preço, no 3.º trimestre esse será o cenário mais provável, devido ao desequilíbrio entre procura (em baixa) e oferta (em alta). A crise poderá ser mais grave do que a sentida em 2009, alerta este especialista. A recuperação acontecerá em 2021 e em 2022 os preços voltarão a subir. Historicamente, a cada 10 anos há 2 ou 3 anos de crise no setor do leite. “E se os Agricultores fossem Pagos para Combater as Alterações Climáticas?”. Esta foi a per-

gunta lançada por Frank Mitloehner, professor e especialista em qualidade do ar no Departamento de Ciência Animal da Universidade de Califórnia, que fez uma apresentação sobre “Limpar o ar: Desmistificar os mitos da agricultura”.´

Agricultura e sustentabilidade No mesmo evento, Jack Bobo, CEO da Futurity Food, deixou algumas pistas sobre como melhorar a agricultura para alimentar de forma sustentável 10 biliões de pessoas em 2050. “Precisamos de produzir mais alimentos nos próximos 50 anos do que produzimos nos últimos 10.000 anos. É um enorme desafio”, disse acrescentando que “sustentabilidade global é priorizar a agricultura intensiva numa região para proteger o Ambiente noutro local. Sustentabilidade é uma viagem, não um destino”. Segundo Jack Bobo, “40% da terra do Mundo já é usada pela agricultura. O impacto de usar mais 20% a 30% de terra para produzir a mesma quantidade de alimentos seria devastador. (…) A Ciência e a tecnologia vão ajudar-nos a chegar lá. Devemos trabalhar juntos para resolver o problema. Se fizermos isso, podemos salvar o Planeta”.

Consumidor pós Covid-19 Já Jessica Adelman, ex-vice-presidente de assuntos corporativos da cadeia de supermercados Kroger, relevou as tendências do consumo e do comércio alimentar, afirmando que “precisamos de ser criativos porque a maioria das pessoas está a optar por fazer as refeições em casa. (…) Com a crise do Covid-19 estima-se que no 2.º semestre de 2020, cerca de 100 biliões de dólares transitem do canal Horeca para o retalho nos EUA”. Jessica Adelman acredita que “vai haver um boom nas vendas online de produtos alimentares. Nos meses de março e abril o e-commerce aumentou de 8% nos EUA e 32% da região Ásia-Pacífico. (…) O Covid-19 reorientou o nosso foco para importância da alimentação num estilo de vida saudável. (…) Podemos estar num ponto de viragem em que os consumidores permitam o regresso da Ciência ao debate da agricultura, alimentação e nutrição. A crise do Covid-19 levou os consumidores a valorizar o papel dos cientistas e médicos na segurança alimentar”.

A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS DAS EMPRESAS

CERTIFICAÇÃO FAMI QS A DM2 nasce de uma experiência de mais

A nossa equipa de veterinários e engenheiros

do nosso sistema de Gestão da Qualidade.

de 30 anos no setor de alimentação animal. Abrangendo todas as etapas deste setor, "do

As soluções que oferecemos cumprem os mais altos standards de qualidade e segu-

campo à mesa", mas sempre com a visão de querer ir mais longe. Ajudamos desde empre-

agrónomo combina perfeitamente produção e relacionamento, podendo realizar um trabalho de consultoria que se coloca no lugar do cliente busca, em conjunto soluções de

sas que produzem matérias-primas, corretores, aditivos a fábricas de ração, explorações

crescimento sustentável. Oferecemos e desenvolvemos soluções inte-

pecuárias e também de aquacultura. Para todos eles, oferecemos soluções técnicas

gradas e inovadoras no setor de nutrição animal, trabalhando com o cliente do ponto de vista interno ou externo à sua empresa e que se traduzem numa vantagem competitiva

que ajudam a obter resultados de produção mais rentáveis e saudáveis. O nosso lema: “A solução integral” que é também o nosso objetivo e para isso trabalhamos

para o seu negócio. A nossa missão é conseguir o reconhecimento

em estreita colaboração com nossos clientes, propondo-os de um ponto de vista externo à

como fornecedor de soluções técnicas e de mercado no setor de ração animal, com o

sua empresa, alternativas que se traduzem em uma vantagem econômica. A nossa ação leva-nos a propor colaborações de interesse comum com as diferentes empresas do setor, numa estratégia de b2b (“business to busi-

objetivo principal de fazer prosperar os nossos clientes como parceiros. Para a DM2, a qualidade é um factor importante no cumprimento desta missão. Somos certificados pelo sistema FAMI QS na sua

ness"), na qual desenvolvemos relacionamentos comerciais que são benéficos para todos.

mais recente versão 6 demonstrando o nosso compromisso de melhoria continua

rança alimentar.

Certificate No: 284850-2019-AFSMS-IBE-RvA

Initial certification date: 20 March 2019

Valid: 3 April 2020 – 2 April 2023

This is to certify that

DM2 MARTINS ASESORES, S.L. C/ Julián Camarillo, 10, Oficina 317,28037, Madrid, Spain

has implemented and maintains a Feed Safety Management System including Good Manufacturing Practice (GMP) in compliance with:

FAMI-QS Code of Practice - Version 6 - 2018-07-16

This certificate is valid for the following scope: Production of Specialty Feed Ingredients made from mixing process. Trade of Specialty Feed Ingredients made from Bioprocessing, Mining and mixing. Category DI, K, F

FAMI-QS Registration Number:FAM-1481 For the validity of this certificate please check www.fami-qs.org Place and date: Barendrecht, 3 April 2020

For the issuing office: DNV GL - Business Assurance Zwolseweg 1, 2994 LB Barendrecht, Netherlands

Erie Koek Management Representative

Lack of fulfilment of conditions as set out in the Certification Agreement may render this Certificate invalid. ACCREDITED UNIT: DNV GL Business Assurance B.V., Zwolseweg 1, 2994 LB, Barendrecht, Netherlands. TEL:+31(0)102922689. www.dnvgl.com/assurance

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

atuais abordagens (matéria-prima/alimento). O Myco-Marker® reforça a posição da Innovad na vanguarda da inovação, no campo das

micotoxinas e controlo de stress, que com frequência se assemelha a uma caixa negra para os intervenientes em produção animal.”


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FICHA TÉCNICA ALIMENTAÇÃO ANIMAL Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA NIPC­‑ 500835411

TRIMESTRAL ­‑ ANO XXXI Nº 112 Abril / Maio / Junho 2020

DIRETOR José Romão Braz

CONSELHO EDITORIAL E TÉCNICO Ana Monteiro Jaime Piçarra Pedro Folque Manuel Chaveiro Soares

COORDENAÇÃO

AGENDA DE REUNIÕES DA IACA Data 1 3 8 10 15 16 17 21 23 24 28 30 Data 1 4

Jaime Piçarra Amália Silva Serviços IACA

5

ADMINISTRAÇÃO, SEDE DE REDAÇÃO E PUBLICIDADE

8

(incluindo receção de publicidade, assinaturas, textos e fotos) IACA ­‑ Av. 5 de Outubro, 21 ­‑ 2º E 1050­‑047 LISBOA Tel. 21 351 17 70

7

13 14 15 18

EMAIL

19

iaca@iaca.pt

20

SITE

27

www.iaca.pt

28

EDITOR

29 Data 1

Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA

EXECUÇÃO DA CAPA

2

Salomé Esteves

3

EXECUÇÃO GRÁFICA

4

Sersilito ­‑ Empresa Gráfica, Lda. Travessa Sá e Melo, 209 4471­‑909 Gueifães ­‑ Maia

PROPRIETÁRIO

5 8

Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais ­‑ IACA Av. 5 de Outubro, 21 ­‑ 2º E 1050­‑047 Lisboa

10

DEPÓSITO LEGAL

17

Nº 26599/89

REGISTO EXCLUÍDA DE REGISTO NOS TERMOS DO DISPOSTO NA ALÍNEA A) DO N.º 1 DO ART.º 12.º DO DECRETO REGULAMENTAR N.º 8/99, DE 9 DE JUNHO, REPUBLICADO PELO DECRETO REGULAMENTAR N.º 2/2009, DE 27 DE JANEIRO

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15 16

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ABRIL • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • Task Force Covid-19 da FEFAC • Task Force Covid-19 da FEFAC • Task Force Covid-19 da FEFAC • Reunião de Direção da FIPA • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • Comissão Consultiva do Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar Mais (DGAV) • Task Force Covid-19 da FEFAC • Comité Feed Safety Management (FSM) • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • Reunião da Direção da IACA • Task Force Covid-19 da FEFAC • Comité Alimentos de Aleitamento da FEFAC • Comité de Sustentabilidade da FEFAC MAIO • Task Force Covid-19 da FEFAC • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • Comité Técnico de Regulamentação e Política Alimentar da FIPA • Intervenção no Programa digital "Favas Contadas" da CONSULAI • Webinar da ELANCO sobre o Impacto do Coronavirus no setor europeu da carne de aves • Reunião da CT 37 • Reunião do CIB • Comité Alimentos para Peixes da FEFAC • Reunião Direção da FIPA • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • Reunião da Direção da IACA • Reunião de apresentação do Hub Logistico do Porto de Sines • Webinar “ALLTECH ONE” • Comité Alimentos Compostos da FEFAC • Webinar CAP “A Agricultura no Mundo em Mudança” • Task Force Covid-19 da FEFAC • Task Force Covid-19 da FEFAC • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • V Curso de Iniciação à Produção e Alimentação de Aves FEDNA/CESFAC/IACA/USSEC JUNHO • V Curso de Iniciação à Produção e Alimentação de Aves FEDNA/CESFAC/IACA/USSEC • Webinar “Dia de Campo LVR 2020” • Webinar “Conferência global INTL FCStone sobre mercados agrícolas” • Conselho da FEFAC • 65ª Assembleia-Geral da FEFAC • V Curso de Iniciação à Produção e Alimentação de Aves FEDNA/CESFAC/IACA/USSEC • Comité Competitividade da FoodDrinkEurope • Reunião da FEFAC com o Diretor-Geral da DG Agri • V Curso de Iniciação à Produção e Alimentação de Aves FEDNA/CESFAC/IACA/USSEC • Webinar CAP “Coesão Territorial-Como evitar o abandono das zonas rurais” • Intervenção no Webinar Abreu Advogados “A segurança alimentar em tempos de pandemia. Novos desafios“ • V Curso de Iniciação à Produção e Alimentação de Aves FEDNA/CESFAC/IACA/USSEC • Task Force Covid-19 da FEFAC • Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho • Reunião da Direção da FIPA • Assembleia-Geral da IACA • Webinar USSEC sobre Sustentabilidade • Task Force Covid-19 da FEFAC • Reunião do Plano Estratégico da PAC (GPP) • Assembleia-Geral da FIPA • Task Force Covid-19 da FEFAC • Assembleia-Geral do CiB

De acordo com o RGPD, de 25/05/2018, a IACA reconhece e valoriza o direito à privacidade e proteção dos dados pessoais, pelo que conserva esses dados (nome e morada) exclusivamente para o envio da Revista “Alimentação Animal”, que nunca serão transmitidos ou utilizados para outros fins. A qualquer momento, poderá exercer o direito de retirar esse consentimento enviando-nos um e-mail para privacidade@iaca.pt


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