COMPETITIVIDADE DO SETOR DOS ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS DA REGIÃO DO ALENTEJO – A ESTRATÉGIA “DO PRADO AO PRATO” ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS INDUSTRIAIS DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS
RELATÓRIO FINAL
junho 2022
Autores: Equipa da CONSULAI | Área de Estudos e Estratégia
Edição: Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais Avenida 5 de Outubro, 21, 2º esquerdo 1050-047 Lisboa, PORTUGAL Tlf: 00351 213 511 770 Email: iaca@iaca.pt WebSite: www.iaca.pt
Impressão e Acabamentos: Relgráfica, Artes Gráficas Depósito Legal: 501952/22 00000/22 Tiragem: 100 cópias ISBN (Versão Impressa): 978-989-53558-4-6 ISBN (Versão Eletrónica): 978-989-53558-5-3
Lisboa, 2022
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Competitividade do setor na região do Alentejo
ONDE ESTAMOS
FUNDÃO
LISBOA
BEJA
Competitividade do setor na região do Alentejo
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ÍNDICE ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................................ 4 SIGLAS ............................................................................................................................................... 7 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 8 CARACTERIZAÇÃO MUNDIAL DO SETOR.............................................................................................. 9 PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE MATÉRIAS‐PRIMAS ....................................................................... 9 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS...................................................................... 15 CENÁRIO NACIONAL .......................................................................................................................... 19 PRODUÇÃO DE MATÉRIAS‐PRIMAS ........................................................................................................ 19 COMÉRCIO EXTERNO .............................................................................................................................. 24 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS...................................................................... 28 ESTRUTURA DO SETOR ........................................................................................................................... 33 A REGIÃO DO ALENTEJO.......................................................................................................................... 36 PRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 36 ANÁLISE DAS EMPRESAS DO SETOR NA REGIÃO DO ALENTEJO ......................................................... 40 CASO DE ESTUDO DAS EMPRESAS ASSOCIADAS DA IACA .................................................................. 42 Caracterização geral da empresa ................................................................................................... 42 Caracterização geral do setor ......................................................................................................... 44 Investimento no setor e na região ................................................................................................. 46 Evolução das empresas .................................................................................................................. 50 Estratégia “Do Prado ao Prato” ...................................................................................................... 54 PERSPETIVAS.....................................................................................................................................58 Tema 1. Estado atual e futuro do setor dos alimentos compostos para animais .......................... 59 Tema 2. Possíveis parcerias e inovações no setor .......................................................................... 60 Tema 3. Proteína, que alternativas?............................................................................................... 61 Tema 4. Estratégia “Farm to Fork” (“Do Prado ao Prato”) ............................................................. 62 CONCLUSÃO......................................................................................................................................64 FONTES .............................................................................................................................................65 ANEXOS ............................................................................................................................................66 QUESTIONÁRIO....................................................................................................................................... 66
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Competitividade do setor na região do Alentejo
ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1 ‐ EVOLUÇÃO DA ÁREA MUNDIAL DE TRIGO, MILHO E SOJA (FAOSTAT) .......................................................... 9 FIGURA 2 ‐ EVOLUÇÃO DA ÁREA MUNDIAL DE CEVADA, COLZA E GIRASSOL (FAOSTAT) ................................................ 10 FIGURA 3 ‐ EVOLUÇÃO DA ÁREA MUNDIAL DE GRÃO‐DE‐BICO, ERVILHA, CENTEIO E TRITICALE (FAOSTAT) ....................... 10 FIGURA 4 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE MILHO, TRIGO E SOJA (FAOSTAT)................................................. 11 FIGURA 5 – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CEVADA, COLZA E GIRASSOL (FAOSTAT) ....................................... 11 FIGURA 6 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE TRITICALE, GRÃO‐DE‐BICO, CENTEIO E ERVILHA (FAOSTAT) ............... 12 FIGURA 7 ‐ COMÉRCIO INTERNACIONAL DE MILHO, REFERENTE A 2020 (FAOSTAT) .................................................... 12 FIGURA 8 ‐ COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CEVADA, REFERENTE A 2020 (FAOSTAT) .................................................. 13 FIGURA 9 ‐ COMÉRCIO INTERNACIONAL DE SOJA, REFERENTE A 2020 (FAOSTAT) ...................................................... 13 FIGURA 10 ‐ COMÉRCIO INTERNACIONAL DE TRIGO, REFERENTE A 2020 (FAOSTAT)................................................... 13 FIGURA 11 ‐ COMÉRCIO INTERNACIONAL DE GIRASSOL, REFERENTE A 2020 (FAOSTAT) .............................................. 14 FIGURA 12 ‐ COMÉRCIO INTERNACIONAL DE COLZA, REFERENTE A 2020 (FAOSTAT) .................................................. 14 FIGURA 13 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS (ALLTECH) ........................ 15 FIGURA 14 ‐ DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL, EM 2020 (ALLTECH) ............................................................... 16 FIGURA 15 ‐ VARIAÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL NOS ÚLTIMOS 20 ANOS (2000/2020) (ALLTECH) ............................... 16 FIGURA 16 ‐ 5 MAIORES PRODUTORES MUNDIAIS (MILHÕES TONELADAS) (ALLTECH) .................................................... 16 FIGURA 17 ‐ PRODUÇÃO MUNDIAL POR ESPÉCIE (MILHÕES TONELADAS) (ALLTECH) ...................................................... 17 FIGURA 18 ‐ CINCO MAIORES PRODUTORES EUROPEUS + PORTUGAL E VARIAÇÃO NO PERÍODO 2000/2020 (ALLTECH) ...... 18 FIGURA 19 ‐ PRODUÇÃO EUROPEIA POR ESPÉCIE (103 TON) (ALLTECH) ...................................................................... 18 FIGURA 20 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO NACIONAL DE MILHO (IACA | GPP) ............................................. 19 FIGURA 21 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO NACIONAL DE TRIGO (IACA | GPP).............................................. 20 FIGURA 22 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO NACIONAL DE CEVADA (IACA | GPP) ........................................... 20 FIGURA 23 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE MILHO GRÃO EM PORTUGAL, NOS ÚLTIMOS 10 ANOS (INE) ........................... 21 FIGURA 24 – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CEREAIS EM PORTUGAL, NOS ÚLTIMOS 10 ANOS (INE) ................................. 21 FIGURA 25 – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE OLEOPROTEAGINOSAS EM PORTUGAL, NOS ÚLTIMOS 10 ANOS (INE) .............. 22 FIGURA 26 ‐ EVOLUÇÃO DAS ÁREAS CULTIVADAS DE CEREAIS EM PORTUGAL (INE) ....................................................... 22 FIGURA 27 ‐ EVOLUÇÃO DA ÁREA CULTIVADA DE OLEPROTEAGINOSAS EM PORTUGAL (INE)........................................... 22 FIGURA 28 ‐ EVOLUÇÃO DAS ÁREAS CULTIVADAS DE MILHO (INE) ............................................................................. 23 FIGURA 29 ‐ COMÉRCIO EXTERNO DO MILHO (GPP) .............................................................................................. 24 FIGURA 30 ‐ COMÉRCIO EXTERNO DO TRIGO (GPP) ............................................................................................... 24 FIGURA 31 ‐ COMÉRCIO EXTERNO DA CEVADA (GPP) ............................................................................................. 25 FIGURA 32 ‐ TIPOLOGIA DE CONSUMO DOS CEREAIS EM PORTUGAL (PERÍODO 2019/2020) (GPP)................................ 25 FIGURA 33 ‐ COMÉRCIO EXTERNO DA ERVILHA (GPP) ............................................................................................ 26 FIGURA 34 ‐ COMÉRCIO EXTERNO DO FEIJÃO (GPP) .............................................................................................. 26
Competitividade do setor na região do Alentejo
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FIGURA 35 ‐ COMÉRCIO EXTERNO DO GRÃO‐DE‐BICO (GPP) ................................................................................... 27 FIGURA 36 ‐ EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL PORTUGAL‐PAÍSES TERCEIROS PARA CEREAIS (GPP) ........................... 27 FIGURA 37 ‐ EVOLUÇÃO DO CONSUMO TOTAL DE MATÉRIAS‐PRIMAS PARA ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS E % DE UTILIZAÇÃO DE CEREAIS (IACA) .................................................................................................................. 28
FIGURA 38 ‐ DISTRIBUIÇÃO DA QUANTIDADE DE ALIMENTOS COMPOSTOS POR TIPOLOGIA DE ANIMAL E FASE DE DESENVOLVIMENTO DOS BOVINOS (DGAV) .................................................................................................. 29
FIGURA 39 ‐ DISTRIBUIÇÃO DA QUANTIDADE DE ALIMENTOS COMPOSTOS POR TIPOLOGIA DE ANIMAL E FASE DE DESENVOLVIMENTO DAS AVES (DGAV)
....................................................................................................... 30
FIGURA 40 ‐ DISTRIBUIÇÃO DA QUANTIDADE DE ALIMENTOS COMPOSTOS POR TIPOLOGIA DE ANIMAL E FASE DE DESENVOLVIMENTO DOS SUÍNOS (DGAV) .................................................................................................... 30
FIGURA 41 ‐ DISTRIBUIÇÃO DA QUANTIDADE DE ALIMENTOS COMPOSTOS POR ESPÉCIE E OBJETIVO DE PRODUÇÃO (OVINOS E CAPRINOS), EQUÍDEOS E COELHOS (DGAV) .................................................................................................. 31
FIGURA 42 ‐ DISTRIBUIÇÃO DA QUANTIDADE DE ALIMENTOS COMPOSTOS POR ESPÉCIE (ANIMAIS DE COMPANHIA E OUTRAS ESPÉCIES) (DGAV) .................................................................................................................................. 31
FIGURA 43 ‐ EVOLUÇÃO DOS ÍNDICES DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS, NO PERÍODO 2015‐2020 (INE) .................................................................................................................................................... 32 FIGURA 44 ‐ EVOLUÇÃO NACIONAL DO Nº DE EMPRESAS DO SETOR DOS ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS (INE) ....... 33 FIGURA 45 ‐ EVOLUÇÃO DO VOLUME DE NEGÓCIOS DAS EMPRESAS DO SETOR (INE) ................................................... 34 FIGURA 46 ‐ EVOLUÇÃO DO VAB DAS EMPRESAS DO SETOR (INE) ............................................................................ 34 FIGURA 47 ‐ Nº COLABORADORES NAS EMPRESAS DO SETOR (INE) ........................................................................... 34 FIGURA 48 ‐ FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO DO SETOR (INE)........................................................................... 35 FIGURA 49 ‐ EVOLUÇÃO DAS ÁREAS DAS CULTURAS DE CEREAIS NA REGIÃO DO ALENTEJO (INE) ..................................... 36 FIGURA 50 ‐ EVOLUÇÃO DA ÁREA DA CULTURA DE GIRASSOL NA REGIÃO DO ALENTEJO (INE) ......................................... 37 FIGURA 51 ‐ EVOLUÇÃO DAS PRODUÇÕES DE CEREAIS NA REGIÃO DO ALENTEJO (INE) .................................................. 37 FIGURA 52 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE MILHO NA REGIÃO DO ALENTEJO (INE) ...................................................... 38 FIGURA 53 ‐ EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE GIRASSOL NA REGIÃO DO ALENTEJO (INE) .................................................. 38 FIGURA 54 – PROPORÇÃO DA PRODUÇÃO NA REGIÃO DO ALENTEJO, A NÍVEL NACIONAL PARA AS CULTURAS DO TRIGO, CEVADA E MILHO (INE) ........................................................................................................................................ 38
FIGURA 55 ‐ EFETIVOS PECUÁRIOS NA REGIÃO DO ALENTEJO (103 ANIMAIS) (INE) ...................................................... 39 FIGURA 56 ‐ CLASSIFICAÇÃO PELO TEMPO DE ATIVIDADE NO SETOR ........................................................................... 41 FIGURA 57 ‐ CLASSIFICAÇÃO DA DIMENSÃO DA EMPRESA ........................................................................................ 41 FIGURA 58 ‐ ATIVIDADE DAS EMPRESAS ............................................................................................................... 42 FIGURA 59 ‐ VOLUME DE NEGÓCIOS ................................................................................................................... 43 FIGURA 60 ‐ PESO DA FATURAÇÃO ...................................................................................................................... 43 FIGURA 61 ‐ Nº DE COLABORADORES .................................................................................................................. 44 FIGURA 62 ‐ DIFICULDADES DO SETOR ................................................................................................................. 44 FIGURA 63 ‐ AMEAÇAS AO SETOR ....................................................................................................................... 45 FIGURA 64 ‐ MEDIDAS PARA AUMENTO DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS ............................................................. 46
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Competitividade do setor na região do Alentejo
FIGURA 65 ‐ VANTAGENS DA REGIÃO DO ALENTEJO ............................................................................................... 46 FIGURA 66 ‐ VALOR INVESTIDO NOS ÚLTIMOS 5 ANOS ............................................................................................ 47 FIGURA 67 ‐ ÁREAS DE INVESTIMENTO NOS ÚLTIMOS 5 ANOS .................................................................................. 47 FIGURA 68 ‐ TEMAS ESPECÍFICOS DE INVESTIMENTO NOS ÚLTIMOS 5 ANOS ................................................................. 48 FIGURA 69 ‐ RAZÕES PARA A REALIZAÇÃO DO INVESTIMENTO ................................................................................... 48 FIGURA 70 ‐ ÁREAS A INVESTIR NOS PRÓXIMOS 3 ANOS .......................................................................................... 49 FIGURA 71 ‐ TEMAS ESPECÍFICOS A INVESTIR NOS PRÓXIMOS 3 ANOS......................................................................... 49 FIGURA 72 ‐ VALOR A INVESTIR NOS PRÓXIMOS 3 ANOS .......................................................................................... 50 FIGURA 73 ‐ AUMENTO DE PRODUÇÃO NOS ÚLTIMOS 5 ANOS .................................................................................. 50 FIGURA 74 ‐ EVOLUÇÃO DO VOLUME DE NEGÓCIOS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS .................................................................. 51 FIGURA 75 – EVOLUÇÃO DO QUADRO DO PESSOAL NOS ÚLTIMOS 5 ANOS .................................................................. 51 FIGURA 76 ‐ ALTERAÇÕES À ESTRUTURA SOCIAL DA EMPRESA NOS ÚLTIMOS 5 ANOS ..................................................... 52 FIGURA 77 ‐ EVOLUÇÃO DOS EMPRÉSTIMOS A MÉDIO E LONGO PRAZO NOS ÚLTIMOS 5 ANOS ......................................... 52 FIGURA 78 ‐ TIPOLOGIAS DE APOIOS PÚBLICOS RECEBIDOS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS......................................................... 53 FIGURA 79 ‐ DIFICULDADES NO ACESSO AOS APOIOS PÚBLICOS ................................................................................. 53 FIGURA 80 ‐ CONHECIMENTO DA ESTRATÉGIA "DO PRADO AO PRATO" ..................................................................... 54 FIGURA 81 ‐ MUDANÇAS QUE A ESTRATÉGIA VAI IMPLEMENTAR............................................................................... 55 FIGURA 82 ‐ FACILIDADE DE IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS DA ESTRATÉGIA .............................................................. 55 FIGURA 83 ‐ ALTERNATIVAS PROTEICAS À CULTURA DA SOJA .................................................................................... 56 FIGURA 84 ‐ OS INSETOS ENQUANTO ALTERNATIVA PROTEICA .................................................................................. 56 FIGURA 85 ‐ ÁREAS MAIS RELEVANTES PARA APOSTA NA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ............................................... 57
Competitividade do setor na região do Alentejo
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SIGLAS CE – Comissão Europeia CEE – Comunidade Económica Europeia DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária
ha – hectare INE – Instituto Nacional de Estatística
EM – Estado Membro da União Europeia
PAC – Política Agrícola Comum
FAO – Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas
PEPAC – Plano Estratégico da PAC 2023‐2027
FEFAC – European Federation
Feed
Manufacturer’s
FMI – Fundo Monetário Internacional GEE – Gases com Efeito de Estufa
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GPP – Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral do Ministério da Agricultura
UE – União Europeia UE27 – União Europeia com 27 Estados‐membros (s/ o Reino Unido) VAB – Valor Acrescentado Bruto
Competitividade do setor na região do Alentejo
INTRODUÇÃO A indústria de alimentos compostos para animais é um importante elo na cadeia de valor do setor agrícola e agroalimentar. A sua importância é ainda maior em regiões em que estes setores têm um peso muito relevante no tecido empresarial. Nesta perspetiva, a IACA, enquanto representante deste setor, desenvolveu um estudo em que se avalia a sua importância na região do Alentejo, do ponto de vista económico e social. Este documento será um instrumento essencial de posicionamento político face à tutela e para demonstrar aos restantes stakeholders a relevância deste setor para a dinamização de toda a fileira agrícola e agroalimentar que tem registado um importante incremento nos últimos anos. No relatório foram avaliados os principais vetores de importância do setor a nível regional, nomeadamente:
Valor económico do setor
Valor acrescentado bruto
Valor acrescentado nacional e regional
Integração na cadeia de valor
Importância, direta e indireta, no emprego
Relevância nas indústrias a montante a jusante
Integração com os centros de conhecimento científico
Utilização de tecnologia
Importância no investimento setorial e nos outros setores na região
Para este estudo foram identificadas as empresas de alimentos compostos para animais com sede na região do Alentejo (NUTS II), e analisados alguns indicadores da sua atividade. Foi realizado um questionário online às empresas associadas da IACA, com sede na região, de forma a perceber o panorama geral do setor e, em particular, na região do Alentejo. E, por fim, foram entrevistados cinco especialistas das mais diversas áreas, que analisaram o setor e identificaram as principais necessidades e tendências para o futuro.
Competitividade do setor na região do Alentejo
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CARACTERIZAÇÃO MUNDIAL DO SETOR PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS A produção mundial de cereais, oleaginosas e proteaginosas tem evoluído de forma positiva ao longo dos últimos 60 anos. A área agrícola utilizada nestas culturas tem aumentado gradualmente, pouco acentuada nos cereais e leguminosas, e muito evidente no caso das oleaginosas, triplicando a área cultivada em pouco mais de 50 anos, ultrapassando atualmente os 300 milhões de hectares. No entanto, os cereais continuam a ser o setor com a maior área de produção, superior a 700 milhões de hectares em todo o mundo, e representando quase 50% da área agrícola útil mundial (que não inclui as áreas de pastagens permanentes e prados naturais, que representam mais de 3,3 mil milhões de hectares). Conforme se verifica na Figura 1, as três culturas com maior área agrícola utilizada são as culturas do trigo, milho e soja, respetivamente, e representando em conjunto cerca de 548 milhões de hectares.
Figura 1 - Evolução da Área mundial de trigo, milho e soja (FAOSTAT) 250
Milhões hectares
200 150
Milho Soja
100
Trigo
50 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Da área utilizada para cereais, o trigo continua a ser a cultura que ocupa o maior número de hectares, com uma média de cerca de 220 milhões de hectares cultivados anualmente, não registando praticamente nenhuma oscilação significativa nos últimos 10 anos. A cultura do milho ocupa a segunda maior área, tendo vindo a registar um ligeiro aumento ao longo deste período, atingindo um novo máximo em 2020, em que ultrapassou a barreira dos 200 milhões de hectares cultivados. Na mesma tendência, encontra-se a soja, que nos últimos 10 anos aumentou em cerca de 25% a sua área cultivada, destacando-se como a principal cultura oleoproteaginosa.
9
10 9
Competitividade dosetor setorna naregião regiãododo Alentejo Competitividade do Alentejo
Figura 2 - Evolução da Área mundial de cevada, colza e girassol (FAOSTAT) 60,0 50,0
Milhões hectares
40,0 Cevada
30,0
Colza Girassol
20,0 10,0 0,0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Figura 3 - Evolução da Área mundial de grão-de-bico, ervilha, centeio e triticale (FAOSTAT) 18,0 16,0 14,0 Milhões hectares
12,0
Triticale
10,0
Grão de bico
8,0
Centeio
6,0
Ervilha
4,0 2,0 ,0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Analisando a Figura 2, é possível observar que a cevada é o terceiro cereal mais cultivado no mundo, ocupando uma área média superior a 50 milhões de hectares. Já as culturas de triticale e centeio ocupam áreas aproximadas de 4 milhões de hectares (Figura 3). A colza, enquanto cultura alternativa à soja, tem estabilizado a área média cultivada anualmente, que ronda os 35 milhões de hectares, representando apenas cerca de 28% da área de soja cultivada, em 2020. A área anual destinada ao girassol tem registado uma tendência ligeiramente crescente, prevendo atingir já nos próximos anos os 30 milhões de hectares cultivados. As leguminosas, nomeadamente o grão-de-bico e a ervilha, registaram um aumento médio de 25% de área cultivada nos últimos 10 anos, refletindo a aposta mais significativa que o setor agroalimentar tem vindo a fazer nas leguminosas, tanto para alimentação humana, como para alternativas proteicas na alimentação animal.
Competitividade Competitividadedo dosetor setorna naregião região do Alentejo Alentejo
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Segundo os dados mais recentes da FAO, a produção de cereais, oleaginosas e proteaginosas tem, na generalidade, vindo a aumentar, com especial destaque para o milho, que nos últimos 10 anos registou um aumento da sua produção a nível mundial em cerca de 33% (Figura 4).
Figura 4 - Evolução da produção mundial de milho, trigo e soja (FAOSTAT) 1 400 1 200
Milhões toneladas
1 000 800
Milho Soja
600
Trigo
400 200 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Figura 5 – Evolução da produção mundial de cevada, colza e girassol (FAOSTAT) 180 160 140 Milhões toneladas
120 Cevada
100
Colza
80
Girassol
60 40 20 0
12
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 6 - Evolução da produção mundial de triticale, grão-de-bico, centeio e ervilha (FAOSTAT) 18,0 16,0
Milhões toneladas
14,0 12,0
Triticale
10,0
Grão de bico
8,0
Centeio
6,0
Ervilha
4,0 2,0 ,0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Neste período, a cevada aumentou a sua produção em cerca de 19%, atingindo as 157 milhões de toneladas (Figura 5), no entanto, a cultura da ervilha foi a que registou o maior aumento nos últimos 10 anos (Figura 6), registando um acréscimo de produção de 39%, estando perto de atingir os 15 milhões de toneladas. O girassol registou uma ligeira descida em 2020, mas a tendência geral desta cultura, conforme é possível observar pela Figura 5, tem sido o aumento ligeiro da sua produção, em cerca de 2,5%. Relativamente ao comércio internacional das principais matérias-primas, destacam-se os EUA e o Brasil enquanto principais países exportadores, com mais de 100 milhões de toneladas comercializadas, com especial referência para as culturas do milho e soja, sendo as que apresentam maiores volumes transacionados. O maior fornecedor mundial de matérias-primas é a China, com uma importação, em 2020, de 88,59 milhões de toneladas de soja.
Figura 7 - Comércio internacional de milho, referente a 2020 (FAOSTAT) Cinco maiores países exportadores (M ton) Brasil
42,75
EUA
41,56
Argentina
36,08
Ucrânia Roménia
24,46 6,68
Competitividade do setor na região do Alentejo
Cinco maiores países importadores (M ton) Japão
15,99
México
15,47
Vietname
11,45
Coreia do Sul
11,37
Espanha
10,01
13
Figura 8 - Comércio internacional de cevada, referente a 2020 (FAOSTAT) Cinco maiores países exportadores (M ton) França
Cinco maiores países importadores (M ton)
7,17
Rússia Austrália
China
2,52
Ucrânia
3,91
Irão
2,87
Argentina
5,93
Arábia Saudita
3,94
2,35
3,29
Países Baixos
2,16
Bélgica
2,01
Figura 9 - Comércio internacional de soja, referente a 2020 (FAOSTAT) Cinco maiores países exportadores (M ton) Brasil
74,07
EUA Argentina
Cinco maiores países importadores (M ton)
52,39 10,05
China
88,59
México
4,85
Argentina
4,55
Paraguai
4,90
Egipto
4,26
Canadá
4,01
Países Baixos
4,11
Figura 10 - Comércio internacional de trigo, referente a 2020 (FAOSTAT) Cinco maiores países exportadores (M ton) Rússia
31,87
EUA
27,07
Canadá
22,81
França Ucrânia
14
19,96 13,29
Cinco maiores países importadores (M ton) Indonésia
10,96
Egipto
10,42
Turquia Itália Filipinas
10,00 7,47 7,15
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 11 - Comércio internacional de girassol, referente a 2020 (FAOSTAT) Cinco maiores países exportadores (103 ton)
Cinco maiores países importadores (103 ton)
Roménia
Turquia
2 046,75
Bulgária
732,03
Países Baixos
Rússia
713,99
Bulgária
Moldávia
577,47
Espanha
Cazaquistão
539,93
Alemanha
1 239,49 664,32 624,23 534,87 448,27
Figura 12 - Comércio internacional de colza, referente a 2020 (FAOSTAT) Cinco maiores países exportadores (103 ton) Canadá
8 250,29
Ucrânia
3 021,04
Cinco maiores países importadores (103 ton)
China
Austrália
1 616,77
Japão
França
1 590,83
Bélgica
Países Baixos
923,50
5 672,90
Alemanha
Países Baixos
2 737,45 2 359,21 1 940,92 1 535,97
Dada a atual situação internacional, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, é possível analisar que ambos os países têm um peso muito importante na produção e exportação de cereais a nível mundial, naturalmente refletido nos preços destas matérias-primas. Outra nota de interesse prende-se com o facto dos 5 maiores países exportadores de girassol se localizarem no leste da Europa e na zona de conflito, assistindo-se atualmente a uma escassez na oferta e à consequente subida de preços, que poderá acentuar-se com o prolongar do conflito.
Competitividade do setor na região do Alentejo
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PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS A importância cada vez maior do setor dos alimentos compostos para animais está refletida no aumento da sua produção mundial, que só em 2020 registou um crescimento de 1% relativamente ao ano anterior, sendo que nos últimos 10 anos aumentou cerca de 37%, e, nos últimos 20 anos, mais de 100%. Em 2020, a produção mundial de alimentos compostos para animais atingiu o valor mais alto de sempre, com 1.188 milhões de toneladas produzidas. Nos últimos 10 anos tem aumentado de forma ligeira, mas muito consistente, só registando uma ligeira inflexão do nível de crescimento, no ano de 2020, possivelmente devido ao reflexo que o impacto da pandemia e a retração dos mercados originou no setor nesse mesmo ano.
Figura 13 - Evolução da Produção Mundial de alimentos compostos para animais (Alltech) 1400
Milhões toneladas
1200 1000 800 600 400 200 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Conforme é possível observar na Figura 14, o continente asiático foi responsável por mais de 1/3 da produção mundial, destacando a Europa, com 22% da produção, em 2020. Na Figura 15 destaca-se, igualmente, a Ásia, quando se refere à evolução da produção de alimentos compostos para animais nos últimos 20 anos, em que este continente registou um aumento de 221%, praticamente o dobro da média mundial, que foi de 112%. Os menores registos de crescimento registados foram a América do Norte, com cerca de 46%, e a Europa, com pouco mais de 58%, para o mesmo período temporal (2000/2020).
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Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 14 - Distribuição da Produção Mundial, em 2020 (Alltech)
1% 2% 4%
Ásia
15%
Europa
36%
América do Norte América Latina África
20%
Médio Oriente Oceania
22%
Figura 15 - Variação da produção mundial nos últimos 20 anos (2000/2020) (Alltech) 250% 200% 150% 100% 50% 0%
Total
Europa
América do Norte
Ásia
América Latina
África & Médio Oriente
O comércio internacional dos alimentos compostos para animais é dominado pela China e EUA, ambos com uma produção superior a 200 milhões de toneladas, e o seu somatório corresponde a cerca de 38% do total da produção mundial.
Figura 16 - 5 maiores produtores mundiais (milhões toneladas) (Alltech) 240
China
216
EUA
78
Brasil India
39
México
38
Competitividade do setor na região do Alentejo
17
Figura 17 - Produção mundial por espécie (milhões toneladas) (Alltech) 335 286
160
129
116 49
Frangos
Porcos
Poedeiras
Produção de leite
Produção de carne
Aquacultura
29 Animais de companhia
Os frangos de engorda são o setor que mais requisita a indústria dos alimentos compostos, apresentando uma necessidade correspondente a 28% da produção mundial, correspondente a 335 milhões de toneladas, seguido do setor da suinicultura, com uma produção de 286 milhões de toneladas. De referir que o setor avícola (frangos e poedeiras) representa cerca de 42% do total da produção mundial. A nível europeu, os maiores produtores de alimentos compostos são a Alemanha e a Espanha, com produções muito equiparadas no ano de 2020, atingindo produções médias superiores a 24 milhões de toneladas. Em 2020, a produção em Portugal situou-se no 3,95 milhões de toneladas. A grande maioria dos países europeus registou um aumentou substancial na produção de alimentos compostos para animais entre o ano 2000 e 2020, no entanto, França, com -9%, e os Países Baixos, com -6%, diminuíram a sua produção ao longo deste período. O Reino Unido e Espanha registaram evoluções elevadas, de 44% e 42% respetivamente, enquanto Portugal não aumentou mais de 1% nos últimos 20 anos.
18
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 18 - Cinco maiores produtores europeus + Portugal e variação no período 2000/2020 (Alltech) 30,0
Milhões toneladas
25,0
50%
24,29
24,04
40%
20,8
30%
20,0
16,36
15,0
14,65
20%
14,5
10%
10,0
0%
3,95
5,0 0,0
Alemanha
Espanha
França
Reino Unido
Itália
Países Baixos
Portugal
‐10% ‐20%
Figura 19 - Produção europeia por espécie (103 ton) (Alltech)
8 189 55 252
47 472
Aves Porcos Bovinos Outros
52 312
Relativamente à distribuição da produção europeia pelas espécies, tal como na análise mundial, as aves são o setor mais consumidor, com cerca de 55 milhões de toneladas, que correspondem a 34% da produção europeia total, no entanto, tanto os porcos como os bovinos têm um peso muito similar, representando, respetivamente, 32% e 29% da produção a nível europeu.
Competitividade do setor na região do Alentejo
19
CENÁRIO NACIONAL PRODUÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS No contexto nacional, a produção de matérias-primas para produção de alimentos compostos para animais, tem verificado uma tendência geral de diminuição na última década, particularmente relacionada com a diminuição na produção do milho, já tendo atingindo níveis de autossuficiência na ordem dos 50%, e que registou uma diminuição de 20%, só nos últimos 5 anos (2014 a 2019), atingindo o valor mais baixo em 2018. As necessidades de milho como matéria-prima para a indústria dos alimentos compostos para animais ultrapassou, em 2018, as 1,4 milhões de toneladas (Milho MP), aumento este que contrastou com a diminuição da produção para valores abaixo das 800 mil toneladas (Milho PT). No geral, o grau de abastecimento do mercado interno da cultura do milho diminuiu (Milho %PT), no período de 2013 a 2019, de 35% para 22% (Figura 20), refletindo cada vez mais o aumento da dependência de países terceiros para o abastecimento nacional de matériasprimas. No caso do trigo e da cevada, esta dependência é ainda maior, pois o grau de abastecimento do mercado interno de trigo, devido às baixas produções nacionais deste cereal, correspondeu a 3%, no ano de 2019. Segundo o GPP, o grau de abastecimento do mercado interno para a cevada, nesse ano, foi de cerca de 11%. Tendo em conta que a grande maioria da produção de milho e de cevada é para utilização na indústria dos alimentos compostos para animais, esta está muito dependente dos mercados e dos preços praticados no exterior, retirando, em parte, a estabilidade que o setor necessitaria.
Toneladas
Figura 20 - Evolução da produção e consumo nacional de milho (IACA | GPP) 1600 000
40,0%
1400 000
35,0%
1200 000
30,0%
1000 000
25,0%
800 000
20,0%
600 000
15,0%
400 000
10,0%
200 000
5,0% 0,0%
0
2013
2014
2015
Milho MP
20
2016 Milho PT
2017
2018
2019
Milho %PT
Competitividade do setor na região do Alentejo
Toneladas
Figura 21 - Evolução da produção e consumo nacional de trigo (IACA | GPP) 450 000
9,0%
400 000
8,0%
350 000
7,0%
300 000
6,0%
250 000
5,0%
200 000
4,0%
150 000
3,0%
100 000
2,0%
50 000
1,0% 0,0%
0
2013
2014
2015 Trigo MP
2016 Trigo PT
2017
2018
2019
Trigo %PT
Figura 22 - Evolução da produção e consumo nacional de cevada (IACA | GPP) 12,0%
160 000 140 000
10,0%
Toneladas
120 000 8,0%
100 000
6,0%
80 000 60 000
4,0%
40 000 2,0%
20 000 0
0,0%
2013
2014
2015
Cevada MP
2016 Cevada PT
2017
2018
2019
Cevada %PT
Os restantes cereais têm mantido uma produção constante, apesar de insuficiente para as necessidades nacionais, tanto para consumo humano como para alimentação animal. É possível observar, de acordo com a Figura 26, que a área total destinada à grande maioria dos cereais cultivados tem vindo a diminuir, tal como o milho (Figura 28), no entanto a produção total tem sido semelhante, no somatório dos cereais analisados (Figura 24), o que indica um aumento da produtividade das culturas. No caso das culturas de leguminosas e girassol, o aumento da produção de ervilha tem-se destacado, ao contrário das culturas de fava e de grão-de-bico, que continuam a representar percentagens muito reduzidas em relação às restantes culturas, no entanto, a área de cultivo de grão-de-bico tem registado um ligeiro aumento nos últimos 7 anos (2014-2020). A cultura do
Competitividade do setor na região do Alentejo
21
girassol, nos últimos 10 anos, tem registado grandes variações, atingindo o seu pico de produção em 2016, com cerca de 26 mil toneladas, no entanto, desde esse ano que tem vindo a registar uma diminuição da produção, motivada pela grande redução da sua área de cultivo, que diminuiu para quase cerca de um terço da área, em 5 anos (Figura 27).
Figura 23 - Evolução da produção de milho grão em Portugal, nos últimos 10 anos (INE) 1 000 000 900 000 800 000
Toneladas
700 000 600 000 500 000
Milho regadio
400 000
Milho sequeiro
300 000 200 000 100 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Figura 24 – Evolução da produção de cereais em Portugal, nos últimos 10 anos (INE) 100 000 90 000
Toneladas
80 000 70 000
Aveia
60 000
Centeio
50 000
Cevada
40 000
Trigo duro
30 000
Trigo mole
20 000
Triticale
10 000 0
22
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 25 – Evolução da produção de oleoproteaginosas em Portugal, nos últimos 10 anos (INE) 30 000 25 000
Toneladas
20 000
Ervilha Fava
15 000
Girassol 10 000
Grão‐de‐bico
5 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Figura 26 - Evolução das áreas cultivadas de cereais em Portugal (INE) 60 000 50 000
Hectares
40 000
Aveia
30 000
Centeio Cevada
20 000
Trigo duro Trigo mole
10 000
Triticale 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Figura 27 - Evolução da área cultivada de oleproteaginosas em Portugal (INE) 22 500 20 000 17 500 15 000 12 500
Hectares
10 000 7 500 5 000 2 500 0
Ervilha Fava
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
751
937
622
709
1140
716
1556
1674
1545
2335
338
657
435
422
392
297
421
352
318
368
Girassol
22418
18030
18088
15554
19929
18214
13460
9492
7316
6362
Grão‐de‐bico
1010
1159
786
920
1630
1987
1833
2594
2435
2931
Competitividade do setor na região do Alentejo
23
As áreas de leguminosas têm registado uma situação ligeiramente crescente, como é o caso da ervilha e grão-de-bico, no entanto as áreas destinadas a estas culturas representam menos de 4% da área total analisada. A área de produção de cereais, no geral, tem seguido um sentido decrescente.
Figura 28 - Evolução das áreas cultivadas de milho (INE) 120 000 100 000
Hectares
80 000
Milho forrageiro 60 000
Milho regadio Milho sequeiro
40 000 20 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Se analisarmos estas variações de produção e de áreas das culturas cerealíferas, leguminosas e oleaginosas, é possível verificar que as culturas temporárias têm perdido área de produção, em especial para as culturas permanentes nas áreas de regadio, no entanto, os aumentos das produtividades das culturas, a nível geral, têm conseguido, em parte, colmatar esta diminuição de área cultivada.
24
Competitividade do setor na região do Alentejo
COMÉRCIO EXTERNO É amplamente conhecido que Portugal é altamente deficitário em matérias-primas, particularmente nos cereais, e, obviamente, na soja, quando nos referimos ao problema geoestratégico da proteína. De acordo com os dados do GPP, a evolução das importações de cereais (milho, trigo e cevada) têm vindo a aumentar, com especial destaque para o milho e para a cevada, conforme visível nas figuras seguintes (Figura 29 e Figura 31). No caso específico do trigo, as variações registadas ao longo dos últimos 10 anos indicam que a compra desta matéria-prima está muito dependente dos preços de mercado, em particular para o consumo humano, no entanto, a quantidade média das importações tem-se mantido constante, no período analisado. Os principais países fornecedores destas matérias-primas para Portugal foram, em 2020, a Ucrânia, para o milho, o Reino Unido, para a cevada e França, para o trigo. Figura 29 - Comércio externo do milho (GPP) 3 000 000
Toneladas
2 500 000 2 000 000 1 500 000 1 000 000 500 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
Milho ‐ Exportação
2016
2017
2018
2019
2020
2018
2019
2020
Milho ‐ Importação
Figura 30 - Comércio externo do trigo (GPP) 180 000 160 000
Toneladas
140 000 120 000 100 000 80 000 60 000 40 000 20 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
Trigo ‐ Exportação
Competitividade do setor na região do Alentejo
2016
2017
Trigo ‐ Importação
25
Figura 31 - Comércio externo da cevada (GPP) 400 000 350 000
Toneladas
300 000 250 000 200 000 150 000 100 000 50 000 0
2011
2012
2013
2014
Cevada ‐ Exportação
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Cevada ‐ Importação
O consumo destas matérias-primas está distribuído, de acordo com a Figura 32, pela sua tipologia de consumo, em que mais de 90% do milho e cevada tiveram como destino a alimentação animal, em oposição ao trigo, que apenas representou 21% para utilização nos alimentos para animais. O grau de autoaprovisionamento (Produção/Consumo aparente), nesse período, foi de apenas 5,3% para o trigo, 14,3% para a cevada e 26,5% para o milho, apontando a grande dependência nacional destas matérias-primas e, como tal, a necessidade de importar quantidades elevadas. Figura 32 - Tipologia de consumo dos cereais em Portugal (período 2019/2020) (GPP)
26
Competitividade do setor na região do Alentejo
Em relação às leguminosas, os valores são diferentes, pois, para além da grande maioria da matéria-prima ter como destino o consumo humano, no caso da cultura da ervilha, nos últimos 10 anos, Portugal passou, em 2015, de país importador para exportador, o que poderá ser um bom indicador para a indústria dos alimentos compostos para animais, pois a ervilha é considerada uma das alternativas proteicas viáveis, para diminuir a importação de soja. No entanto, a sua produção ainda é muito baixa, e a quantidade transacionada ainda não é representativa, se analisarmos as outras leguminosas, como o feijão e o grão-de-bico. No caso do feijão, as importações e exportações têm-se mantido a par, apesar de Portugal ser um modesto exportador e um grande importador desta cultura. Em 2019, Portugal importou uma quantidade muito elevada de grão-de-bico, superior a 41 mil toneladas, em relação aos valores médios de referência dos últimos 10 anos, que raramente ultrapassaram as 20 mil toneladas anuais.
Figura 33 - Comércio externo da ervilha (GPP) 800 700
Toneladas
600 500 400 300 200 100 0
2011
2012
2013
2014
2015
Ervilha ‐ Exportação
2016
2017
2018
2019
2020
2019
2020
Ervilha ‐ Importação
Figura 34 - Comércio externo do feijão (GPP) 50 000 45 000 40 000 Toneladas
35 000 30 000 25 000 20 000 15 000 10 000 5 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
Feijão ‐ Exportação
Competitividade do setor na região do Alentejo
2016
2017
2018
Feijão ‐ Importação
27
Figura 35 - Comércio externo do grão-de-bico (GPP) 45 000 40 000
Toneladas
35 000 30 000 25 000 20 000 15 000 10 000 5 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
Grão de bico ‐ Exportação
2016
2017
2018
2019
2020
Grão de bico ‐ Importação
No geral, de acordo com o GPP, a balança comercial de Portugal relativamente aos restantes países do mundo é francamente deficitária, tendo sido agravada no período de 2009-2011, e desde esse momento que apenas conseguiu recuperar uma parte dessa margem negativa, sendo que em 2018, o valor das importações aumentou mais de 30%, voltando a aumentar o défice. Figura 36 - Evolução da balança comercial Portugal-Países Terceiros para Cereais (GPP) 500 000 000 € 376 738 718
400 000 000 €
406 487 675 342 109 010
356 362 661 283 020 676
272 673 048
300 000 000 €
268 388 056
295 747 732
291 542 021
197 433 154
200 000 000 € 116 459 476
100 000 000 € 1 839 803
3 267 114
3 331 802
3 744 961
7 204 353
21 341 541
12 279 698
18 329 574
20 178 579
26 798 759
11 831 618
0€ ‐100 000 000 € ‐200 000 000 € ‐300 000 000 € ‐400 000 000 € ‐500 000 000 €
2009
2010
2011
2012
2013
Saldo (exp‐imp)
28
2014 Exportações
2015
2016
2017
2018
média período
Importações
Competitividade do setor na região do Alentejo
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS No contexto nacional, a produção de alimentos compostos para animais tem registado algumas oscilações ao longo dos últimos 60 anos. Se analisarmos o contexto histórico, é possível verificar que as maiores oscilações na produção nacional se verificaram em anos com impacto histórico a nível económico e social em Portugal:
Em 1974, com a revolução de abril, registou-se um grande aumento de produção nos anos seguintes, até 1981;
A partir de 1981, com a crise petrolífera, Portugal não conseguiu a estabilidade financeira desejada, necessitando de recorrer à ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional), entre 1983 e 1984, anos em que se verificaram grandes decréscimos na produção;
Com a entrada de Portugal na ex-CEE, em 1986, registou-se novo crescimento, de forma muito consistente, até atingir um máximo em 1993, de cerca de 3,8 milhões de toneladas produzidas;
Após esse período, a produção foi-se mantendo relativamente estável, apenas ocorrendo uma descida mais acentuada a partir da crise financeira mundial de 2008;
A partir de 2015, Portugal tem vindo a recuperar o volume de produção de alimentos compostos para animais, atingindo, em 2020, o valor de 3,95 milhões de toneladas.
Outro facto perfeitamente identificável na Figura 37, é a grande descida do consumo de cereais como matéria-prima, atingindo níveis mínimos históricos entre 1988 e 1991, com uma utilização pouco superior a 20%, sendo que, nos anos anteriores à entrada na CEE, a percentagem de cereais utilizados na produção de alimentos compostos para animais ultrapassava os 60%.
Milhares toneladas
Figura 37 - Evolução do consumo total de matérias-primas para alimentos compostos para animais e % de utilização de cereais (IACA) 4000
80,0%
3500
70,0%
3000
60,0%
2500
50,0%
2000
40,0%
1500
30,0%
1000
20,0%
500
10,0%
0
0,0%
Total
Competitividade do setor na região do Alentejo
Cereais (%)
29
A distribuição dos alimentos compostos por espécie animal, a nível nacional, tem registado evoluções diferentes ao longo dos últimos anos. Os bovinos e os suínos têm perdido quota de mercado, enquanto as aves e os restantes animais, onde se incluem os animais de companhia, têm registado aumentos graduais da percentagem de consumo.
Analisando o consumo de alimentos compostos por espécie animal em 2020, as principais espécies consumidoras são as vacas leiteiras e os novilhos de engorda (bovinos), as galinhas poedeiras e os frangos de carne (aves) e os porcos em crescimento (suínos). No caso mais específico dos bovinos (Figura 38), das 1.032 mil toneladas produzidas, cerca de 40% foram distribuídas aos novilhos de engorda (inclui acabamento) e 49% às vacas de leite, totalizando mais de 89% das necessidades de consumo desta espécie.
Figura 38 - Distribuição da quantidade de alimentos compostos por tipologia de animal e fase de desenvolvimento dos bovinos (DGAV)
30
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 39 - Distribuição da quantidade de alimentos compostos por tipologia de animal e fase de desenvolvimento das aves (DGAV)
Nas aves, as poedeiras representaram 23% do consumo de alimentos compostos, no entanto, a engorda de frangos (que inclui os pintos), totalizou cerca de 27% da produção total para aves, que se situou nas 1.806 mil toneladas. Relativamente aos suínos, os porcos de engorda (inclui o crescimento e acabamento) representaram, em 2020, cerca de 67% da produção específica para a suinicultura, que atingiu as 1.296 mil toneladas. Figura 40 - Distribuição da quantidade de alimentos compostos por tipologia de animal e fase de desenvolvimento dos suínos (DGAV)
Competitividade do setor na região do Alentejo
31
Figura 41 - Distribuição da quantidade de alimentos compostos por espécie e objetivo de produção (ovinos e caprinos), equídeos e coelhos (DGAV)
Figura 42 - Distribuição da quantidade de alimentos compostos por espécie (animais de companhia e outras espécies) (DGAV)
Nas restantes espécies, apenas uma nota referente à produção de alimentos compostos para cães, que em 2020, atingiu um valor de 154 mil toneladas.
32
Competitividade do setor na região do Alentejo
Relativamente à evolução dos preços dos alimentos compostos para animais e das principais matérias-primas (cereais), a grande maioria dos índices de preços apontou para uma descida dos mesmos até 2017, sendo que em 2018 todas as categorias de alimentos compostos analisados tinham aumentado, como reflexo do aumento dos cereais, que se acentuou nesse mesmo ano. As previsões para 2021, apenas tendo em conta o aumento em cerca de 14% dos cereais, registaram essa mesma tendência para o preço dos alimentos compostos para animais, sendo que em 2022 esse aumento ainda está a ser mais pronunciado.
Figura 43 - Evolução dos índices dos preços dos alimentos compostos para animais, no período 20152020 (INE) 120 116
Alimentos compostos
Percentagem (%)
112
Alimentos compostos para aves
108 104
Alimentos compostos para bovinos excluindo vitelos
100
Alimentos compostos para suínos
96 92 88
Cereais e subprodutos da moagem
84
Outros alimentos compostos
80
2015
2016
2017
2018
2019
Competitividade do setor na região do Alentejo
2020
33
ESTRUTURA DO SETOR Analisando resumidamente a estrutura do setor dos alimentos compostos para animais, é notória a diminuição do número de unidades fabris, decrescendo em cerca de 13% nos últimos 10 anos (período de 2011 a 2020). De acordo com os dados fornecidos pelo INE, o número de empresas na região Centro, onde atualmente se localizam cerca de 50% das indústrias, tem-se mantido estabilizado, no entanto, nas restantes regiões, verificou-se uma ligeira redução do número de indústrias, refletido com maior impacto a nível nacional. A região do Alentejo tem o segundo maior número de empresas, com sede na região.
Figura 44 - Evolução nacional do nº de empresas do setor dos alimentos compostos para animais (INE)
No entanto, o volume de negócios das empresas tem aumentando ligeiramente, atingindo em 2020, 1.556 milhões de euros, ultrapassando assim os valores registados em 2012 e 2013. O maior aumento verificou-se na região Centro, onde também se localizam cerca de metade das empresas. A região do Alentejo correspondeu a cerca de 17% deste valor. A evolução do VAB neste período de 10 anos também foi favorável, apesar de apresentar grandes variações anuais, atingindo um valor máximo de cerca de 160 milhões de euros em 2020. A região do Alentejo contribuiu para este resultado com cerca de 16% do valor total nacional, com 20 milhões de euros de VAB.
34
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 45 - Evolução do Volume de Negócios das empresas do setor (INE)
Figura 46 - Evolução do VAB das empresas do setor (INE)
Figura 47 - Nº Colaboradores nas empresas do setor (INE)
Competitividade do setor na região do Alentejo
35
O número de colaboradores das empresas do setor, a nível nacional, tem-se mantido acima das 3.300 pessoas, e demonstra ser um setor estável relativamente à empregabilidade dos trabalhadores, pois a oscilação no número de trabalhadores nesta indústria não ultrapassou os 8%, sendo que a região do Alentejo correspondeu, em média, a 17% deste número de colaboradores.
Figura 48 - Formação Bruta de Capital Fixo do setor (INE)
Relativamente à formação bruta de capital fixo do setor, que corresponde ao investimento realizado, registou algumas variações ao longo do período de 2011-2020, registando valores a nível nacional frequentemente superiores a 20 milhões de euros, com exceção dos anos de 2011 e 2016. Em 2020, segundo o INE, a região do Alentejo foi a região que registou maior aumento do valor investido no setor, representando cerca de 16,7% do valor total nacional. No geral, a região do Alentejo tem registado um ligeiro crescimento, acompanhando a tendência nacional, tanto no volume de negócios das empresas, como no VAB e na formação bruta de capital fixo, correspondendo, em média, a 1/6 do valor nacional.
36
Competitividade do setor na região do Alentejo
A REGIÃO DO ALENTEJO PRODUÇÃO O Alentejo é a maior região de Portugal, abrangendo os Distritos de Évora, Beja e Portalegre, e parte dos Distritos de Santarém, Lisboa e Setúbal. De acordo com o recenseamento agrícola de 2019, a SAU da região do Alentejo tem uma área de 2 144 066 hectares, que representa 55,9% da SAU total, e, dos quais 509 271 hectares correspondem a terras aráveis, com culturas temporárias e pousio. As pastagens permanentes na região do Alentejo representam uma área de 1 310 017 hectares. Conforme é possível observar na Figura 49, as culturas de cereais que sofreram maiores reduções de área no Alentejo foram o milho, a aveia e o trigo mole, sendo que o triticale entre 2013 e 2014 duplicou a área de produção. A cevada tem mantido a área de cultivo média, bem como o trigo duro. A cultura do girassol registou uma grande quebra na área cultiva, nos últimos 10 anos, com uma redução superior a 70%, perfeitamente visível na Figura 50.
Figura 49 - Evolução das áreas das culturas de cereais na região do Alentejo (INE) 45 000 40 000 35 000
Hectares
30 000 25 000 20 000 15 000 10 000 5 000 0
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Aveia
43002
32012
40458
41746
32169
33737
27103
29202
28936
29686
Cevada
14698
16143
16614
15655
19477
19118
21543
18747
19551
16766
Milho regadio
34176
36416
42997
38262
32234
25577
25129
27359
29219
25317
Trigo duro
2794
3662
1298
1497
2493
4491
3930
3995
3819
3218
Trigo mole
29233
40110
39815
36539
28314
25445
18000
16340
17826
19856
Triticale
19048
19301
28840
28645
21225
19541
15815
14856
14159
13502
Competitividade do setor na região do Alentejo
37
Figura 50 - Evolução da área da cultura de girassol na região do Alentejo (INE) 25 000
20 000
Hectares
15 000
10 000
5 000
0
Girassol
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
22154
17905
17693
15383
19078
17203
12662
8919
7086
6173
Relativamente à evolução das produções de cereais, as culturas da aveia e triticale não sofreram alterações significativas, mantendo os valores médios de produção, e as culturas da cevada e trigo aumentaram substancialmente nos últimos 10 anos, sendo que, no caso da cevada, triplicou nesse período. Pelo contrário, as culturas do milho e do girassol diminuíram as suas produções, no mesmo período analisado, em parte devido à diminuição das respetivas áreas cultivadas. Na Figura 54, é possível observar a dependência da região do Alentejo na produção de cereais, mais especificamente a cultura do trigo e da cevada, que correspondem a cerca de 90% do total nacional, enquanto o milho corresponde aproximadamente a metade da produção nacional. Figura 51 - Evolução das produções de cereais na região do Alentejo (INE) 90 000 80 000 70 000
Toneladas
60 000 50 000 40 000 30 000 20 000 10 000 0
38
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Aveia
41742
25694
55799
61408
43515
59774
39796
48865
42926
40049
Cevada
18838
18942
29973
35327
41477
43425
51857
55560
62360
53665
Trigo duro
3815
4219
2473
3587
5432
12294
8971
10864
10939
9398
Trigo mole
35689
44979
72753
81049
62410
65292
40380
44300
48779
56805
Triticale
21791
15951
45032
45273
36917
38445
24525
26555
22763
22296
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 52 - Evolução da produção de milho na região do Alentejo (INE) 600 000 500 000
Toneladas
400 000 300 000 200 000 100 000 0
2011
Milho regadio 421646
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
472372
522099
480494
435305
329215
345091
363884
399305
322209
Figura 53 - Evolução da produção de girassol na região do Alentejo (INE) 25 000
Toneladas
20 000 15 000 10 000 5 000 0 Girassol
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
12348
9533
10566
15922
22575
23698
18413
15091
11190
9554
Figura 54 – Proporção da produção na região do Alentejo, a nível nacional para as culturas do trigo, cevada e milho (INE) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30%
2013
2014
2015
Milho
2016
2017
Cevada
Competitividade do setor na região do Alentejo
2018
2019
2020
Trigo
39
A produção pecuária é, igualmente, uma das principais atividades agrícolas da região, e, dada a sua dimensão, com exceção das aves, a região do Alentejo detém as maiores percentagens de efetivos animais a nível nacional, com especial destaque para os ovinos, que representam quase 2/3 do efetivo nacional, só nesta região.
Figura 55 - Efetivos pecuários na região do Alentejo (103 animais) (INE) Espécie
Bovinos
Suínos
Ovinos
Caprinos
Aves
Região
2018
2019
2020
Portugal
1 632
1 675
1 691
Alentejo
764
805
810
%
47%
48%
48%
Portugal
2 205
2 256
2 259
Alentejo
956
999
1 003
%
43%
44%
44%
Portugal
2 208
2 220
2 253
Alentejo
1 361
1 382
1 427
%
62%
62%
63%
Portugal
333
316
312
Alentejo
102
99
93
%
31%
31%
30%
221 792 359
219 037 180
Portugal
218 684 229
Alentejo
34 752 505
-
16%
-
%
Equinos
27 585 293 13%
Portugal
92
97
94
Alentejo
34
35
33
37%
36%
35%
%
No entanto, a grande maioria das explorações são extensivas, em que o pastoreio e as forragens representam uma grande percentagem da alimentação dos animais. A nível regional, o Alentejo representa uma baixa percentagem no fabrico de alimentos compostos para animais, representando apenas cerca de 7% da produção nacional. O setor da suinicultura é o mais relevante, representando 13,7% do total nacional produzido para os suínos, no entanto, a produção de alimentos compostos para as aves apenas representou 3% do valor nacional para este setor pecuário.
40
Competitividade do setor na região do Alentejo
ANÁLISE DAS EMPRESAS DO SETOR NA REGIÃO DO ALENTEJO Um dos principais objetivos deste Estudo prende-se com a análise da competitividade das empresas de alimentos compostos para animais, na região do Alentejo (NUTS II). Para tal, foi selecionada uma amostra de 33 empresas com sede na região, de acordo com a informação disponível na Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), sendo alvo de análise contabilística do ano 2020, recorrendo à plataforma de pesquisa INFORMA, tendo sido excluídas as empresas em nome individual, e as empresas cuja atividade de produção de alimentos compostos para animais era secundária e pouco significativa para o volume de negócios. Os dados contabilísticos foram analisados através do software Microsoft Excel. Foram analisados vários indicadores que se consideraram pertinentes para uma melhor avaliação das empresas, tendo em conta os Balanços e as Demonstrações de Resultados. Foram igualmente recolhidos os dados de caracterização das empresas, como o número de colaboradores ou os anos de atividade da empresa. Na caracterização da empresa, foram selecionados os seguintes parâmetros:
Nº de colaboradores
Capital social
Antiguidade
Dimensão do volume de negócios
A análise destes parâmetros permitiu concluir que, em 2020, o número médio de trabalhadores por empresa é de 30,7 empregados, o valor médio do capital social das empresas analisadas é de 1 568 051 euros e o seu volume médio de negócios foi de 19,36 milhões de euros. A antiguidade da empresa é classificada de acordo com os anos de atividade da mesma, sendo considerada “Madura” se tiver mais de 20 anos de atividade, e “Adulta”, se tiver entre 6 e 19 anos de atividade. Conforme se observa no gráfico, a grande maioria das empresas é classificada como “Madura”, tendo, como tal, mais de 20 anos de atividade no setor.
Competitividade do setor na região do Alentejo
41
Figura 56 - Classificação pelo tempo de atividade no setor
21% Madura Adulta 79%
A dimensão das empresas foi analisada de acordo com o seu volume de negócios relativo ao ano de 2020, sendo dividida em 4 categorias: micro, pequena, média e grande empresa. Da análise realizada, é possível observar que existe uma distribuição relativamente similar entre estas 4 categorias, com maior prevalência das “pequenas empresas”. Figura 57 - Classificação da dimensão da empresa
15%
21%
Micro Pequena Média
24%
Grande
40%
Relativamente à análise contabilística das empresas selecionadas, está disponível uma análise dinâmica dos dados, na plataforma Microsoft PowerBI. A análise pode ser consultada no seguinte link:
42
Competitividade do setor na região do Alentejo
CASO DE ESTUDO DAS EMPRESAS ASSOCIADAS DA IACA No decorrer do ano de 2021, foi realizado um questionário online, utilizando a plataforma online “Forms” da Microsoft, às 17 empresas associadas da IACA com sede na região do Alentejo, com o objetivo de questionar os mesmos sobre um conjunto variado de temas relacionados com o setor dos alimentos compostos para animais, abordando temas como o desenvolvimento, inovação, sustentabilidade e o futuro do setor. O questionário foi separado por temas, e posteriormente analisado, estando aqui refletidas as respostas dos associados.
Caracterização geral da empresa Grande parte das empresas questionadas tem mais do que uma atividade, sendo a “Preparação de alimentos compostos” a principal atividade para a maioria. A “Preparação de aditivos”, enquanto atividade mais específica do setor, apenas foi associada a duas das empresas questionadas. Figura 58 - Atividade das empresas
8% Preparação de aditivos
32%
Preparação de alimentos compostos
60%
Preparação de pré-misturas
As empresas são, na sua grande maioria, classificadas como “Adultas”, pois iniciaram a sua atividade há mais de 20 anos, sendo que apenas uma empresa iniciou atividade há menos de 10 anos. Este nível de maturidade das empresas também se reflete no seu volume de negócios, em que mais de um terço das empresas indicou que, no ano de 2020, o seu volume de negócios foi superior a 20 milhões de euros.
Competitividade do setor na região do Alentejo
43
Figura 59 - Volume de negócios
> 20 M€
18% 35%
entre 10 M€ e 20 M€ entre 5 M€ e 10 M€
24%
entre 1 M€ e 5 M€
23%
Relativamente ao peso que as exportações têm nesse volume de negócios, a grande maioria tem poucas relações comerciais com o exterior, indicando um peso da exportação inferior a 5%, sendo que apenas uma empresa associada tem mais de 10% de volume de faturação referente às exportações. Figura 60 - Peso da faturação
6%
12%
entre 10% e 20% entre 5% e 10%
82%
< 5%
As empresas do setor, na sua grande maioria (mais de 76%) têm, no seu quadro de pessoal, mais de 20 colaboradores, sendo um valor tipicamente usual para esta atividade, conforme verificado igualmente na análise das empresas do setor na região do Alentejo.
44
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 61 - Nº de colaboradores
12%
> 50 colaboradores
23%
12%
entre 20 e 50 colaboradores entre 10 e 20 colaboradores entre 5 e 10 colaboradores
53%
Caracterização geral do setor As empresas associadas foram questionadas relativamente às dificuldades que o setor dos alimentos compostos para animais em Portugal atravessava em 2021, e a grande dificuldade prende-se com o custo das matérias-primas, sendo quase transversal a todas as empresas questionadas. Figura 62 - Dificuldades do setor
Redução do número de produtores pecuários Preço de venda muito baixo Falta de mão‐de‐obra Disponibilidade de matéria‐prima Dependência de matéria‐prima oriunda de países terceiros Custo das matérias‐primas Concorrência interna Concorrência externa Baixa diferenciação dos produtos Aparecimento de operadores que integram a produção 0
2
4
6
8
10
12
14
Os outros pontos indicados pelos associados, e que representam uma dificuldade crescente, são a redução do número de produtores pecuários, a dependência de matéria-prima com origem em países terceiros (como atualmente é possível verificar com o conflito na Ucrânia), e o aparecimento de operadores que integram a produção.
Competitividade do setor na região do Alentejo
45
As maiores ameaças, identificadas pelos associados, que o setor dos alimentos compostos para animais enfrentará nos próximos anos, serão as continuadas campanhas contra o consumo de produtos de origem animal, e o aumento do custo das matérias-primas, que já atingiu níveis máximos históricos, em 2022. Figura 63 - Ameaças ao setor
Substituição de alimentos compostos por pastagens e… Políticas europeias (ex: Green Deal, PAC, …) Legislação nacional cada vez mais restritiva Facilidade de importação de outras geografias Custo das matérias‐primas Concorrência interna Concorrência externa Concentração da produção de alimentos para animais Campanhas contra o consumo de produtos de origem… 0
2
4
6
8
10
12
Para colmatar estas dificuldades e ameaças, será necessário aumentar a competitividade do setor e das empresas, e para isso, os associados consideram que deverão ser tomadas medidas importantes, como:
Aposta na inovação e na tecnologia das indústrias;
Realização de parcerias com os produtores de matérias-primas, com foco nas empresas e produtores nacionais;
Substituição de matérias-primas com origem em países terceiros, diminuindo a dependência e a incerteza, por um lado, e tendo um impacto positivo na diminuição dos custos e da pegada de carbono associada a essas matérias-primas.
46
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 64 - Medidas para aumento da competitividade das empresas
Substituição de matérias‐primas com origem em países… Promoção das carnes nacionais Parcerias com produtores de matérias‐primas Parcerias com instituições/laboratórios/universidades Melhoria da qualidade das matérias‐primas Investimento em energias alternativas/renováveis Aposta na inovação e tecnologia Apoios públicos ao investimento 0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Relativamente à região do Alentejo, as duas principais vantagens que os associados consideraram que tem impacto na competitividade são a proximidade à produção, possibilitando parcerias, medida esta já identificada anteriormente como sendo importante para o aumento da competitividade do setor e das empresas, e o acesso a matérias-primas produzidas
na
região,
diminuindo,
em
parte
a
dependência
da
importação,
e
consequentemente, a diminuição dos custos de transporte e redução significativa do impacto ambiental provocado pela importação dessas matérias-primas. Figura 65 - Vantagens da região do Alentejo
Proximidade à produção Não tem qualquer vantagem face a outras regiões Logística (acessos rodoviários, …) Facilidade no licenciamento Acesso a matérias‐primas produzidas regionalmente 0
1
2
3
4
5
6
7
8
Investimento no setor e na região Apesar do considerável volume de negócios associado a este setor, existe um baixo investimento associado. Nos últimos 5 anos, apenas uma empresa questionada investiu mais de 5 milhões de
Competitividade do setor na região do Alentejo
47
euros nas suas instalações, sendo que cerca de um terço dos inquiridos, investiu menos de um milhão de euros. Figura 66 - Valor investido nos últimos 5 anos
6% entre 5 M€ e 10 M€
35%
entre 1 M€ e 5 M€
59%
< 1 M€
Os principais investimentos realizados pelos associados nas suas instalações incidiram essencialmente nas áreas da Produção, Qualidade e Segurança Alimentar, sendo este último ponto uma das “bandeiras” do setor. Figura 67 - Áreas de investimento nos últimos 5 anos
Viaturas Receção de Matérias‐Primas Qualidade e Segurança Alimentar Produção Higiene e Segurança no trabalho Expedição Automação Armazenamento Ambiente 0
2
4
6
8
10
12
14
16
Relativamente aos investimentos realizados em temas específicos para a melhoria das empresas, os associados investiram maioritariamente na formação dos colaboradores e na aquisição de novas tecnologias.
48
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 68 - Temas específicos de investimento nos últimos 5 anos
Pesquisa & Desenvolvimento Novas tecnologias Internacionalização Formação a colaboradores Energias renováveis Automação 0
2
4
6
8
10
12
14
No geral, as empresas associadas realizaram estes investimentos para manter os níveis de crescimento da atividade da empresa, pois sentiram, não só, a necessidade em modernizar as instalações, como também, a redução de custos de produção. De referir que apenas uma empresa questionada teve como objetivo dos investimentos a sua expansão para novos mercados, refletindo algum receio, ou mesmo conformismo, do setor. Figura 69 - Razões para a realização do investimento
13%
Crescimento da atividade da empresa
5% 29%
8% 19%
26%
Necessidade de modernizar as instalações Necessidade de reduzir custos de produção Novos produtos Obrigações legais Procura de novos mercados
Quando questionados se pretendem investir nos próximos 3 anos, apenas duas empresas responderam negativamente, por motivos diferentes, sendo que uma das empresas questionadas não dispõe de capitais próprios suficientes, e a outra empresa está em insolvência e ainda não tem nenhum plano de ação para o futuro. A empresa do setor mantém a coerência no que consideram ser as principais áreas de investimento para o futuro, apostando, igualmente, na Produção e na Qualidade de Segurança Alimentar. A área ambiental aparece como o terceiro investimento mais importante, com um peso relativo de 17%.
Competitividade do setor na região do Alentejo
49
Figura 70 - Áreas a investir nos próximos 3 anos
5%
Ambiente
17%
28%
Armazenamento
11%
Higiene e Segurança no trabalho Produção
11% 28%
Qualidade e Segurança Alimentar Receção de Matérias‐Primas
Relativamente aos temas específicos que as empresas consideram mais importantes, como aposta para um futuro investimento, a Inovação, Investigação e Desenvolvimento é a opção que reúne mais consenso. Figura 71 - Temas específicos a investir nos próximos 3 anos Energias renováveis
15%
21%
Formação a colaboradores
18%
12%
34%
Inovação, Investigação & Desenvolvimento Internacionalização Novas tecnologias
Tendo em conta estes investimentos sugeridos, a grande maioria dos associados estaria disposta a investir até 5 milhões de euros nos próximos 3 anos, sendo que apenas uma das empresas se disponibiliza financeiramente a investir entre 10 e 20 milhões de euros no mesmo período.
50
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 72 - Valor a investir nos próximos 3 anos
7%
entre 10 M€ e 20 M€
40% entre 1 M€ e 5 M€
53% < 1 M€
Evolução das empresas Nos últimos 5 anos, 71% das empresas inquiridas aumentaram a sua produção, e 50% indicaram que o crescimento foi superior a 20%. Figura 73 - Aumento de produção nos últimos 5 anos
17%
> 20%
50%
entre 5% e 10%
33% < 5%
A evolução do volume de negócios das empresas nos últimos 5 anos registou uma grande variabilidade entre os inquiridos, em que a maior percentagem de respostas se situou nos extremos, ou aumentando o seu volume de negócios mais de 20%, com 29% das respostas, ou reduzindo o volume de negócios em mais de 20%, com 23% das respostas dos associados.
Competitividade do setor na região do Alentejo
51
Figura 74 - Evolução do volume de negócios nos últimos 5 anos
Aumentou entre 10% e 20%
18%
23%
Aumentou mais de 20% Aumentou menos de 10%
12%
29%
Manteve‐se
18%
Reduziu mais de 20%
Relativamente ao quadro de pessoal ao serviço nas empresas, a grande maioria manteve o mesmo número de colaboradores nos últimos 5 anos, com algumas empresas a registar um ligeiro aumento, demonstrando, uma vez mais, que o setor dos alimentos compostos para animais é composto por empresas com um nível de consolidação muito seguro. Figura 75 – Evolução do quadro do pessoal nos últimos 5 anos
Reduziu mais de 20% Reduziu entre 10% e 20% Reduziu menos de 10% Manteve‐se Aumentou menos de 10% Aumentou entre 10% e 20% 0
1
2
3
4
5
6
7
8
Nos últimos 5 anos, a maioria dos associados não mencionou quaisquer alterações à estrutura social da empresa, sendo de referir as duas empresas que indicaram a aquisição de outras empresas do setor.
52
Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 76 - Alterações à estrutura social da empresa nos últimos 5 anos
Não Transferência do titulo de fabricantes de alimentos compostos para animais Saída de sócios Entrada de novos sócios Aumento de capital social Aquisição de outra(s) empresa(s) (do setor) 0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
O endividamento das empresas consultadas é relativamente baixo, sendo que 30% dos inquiridos reduziram os empréstimos a Médio e Longo Prazo, e 23% dos associados indicaram que tiveram de recorrer nos últimos 5 anos a capitais alheios, aumentando ligeiramente o seu endividamento. De referir que cerca de ¼ das empresas referiu que não teve necessidade de recorrer a capitais alheios para manter a sua atividade, ou mesmo para a realização de investimentos. Figura 77 - Evolução dos empréstimos a médio e longo prazo nos últimos 5 anos
6%
Aumentou ligeiramente
23%
24%
Manteve‐se idêntico Não temos necessidade de recorrer a capitais alheios
24%
23%
Reduziu ligeiramente Reduziu significativamente
Questionadas se beneficiaram de algum apoio público, 38% das empresas associadas referiu que o principal apoio público beneficiado foi a redução de impostos. Em paralelo, 38% das empresas indicaram não terem beneficiado de qualquer apoio.
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53
Figura 78 - Tipologias de apoios públicos recebidos nos últimos 5 anos
9%
Apoios à contratação de pessoal
5%
38%
10%
Apoios à formação de pessoal Apoios ao investimento produtivo Não beneficiei
38%
Redução de impostos (ex: SIFIDE, CFEI, …)
As principais dificuldades que as empresas sentiram no acesso a esses financiamentos foram a burocracia elevada (27% das respostas), tempo de demora na resposta aos processos e dificuldade em tornar elegíveis investimentos específicos (ambos com 14% das respostas), sendo que 45% dos inquiridos indicaram não existir nenhuma dificuldade relevante no acesso aos apoios públicos. Figura 79 - Dificuldades no acesso aos apoios públicos
14%
Burocracia elevada
27%
Dificuldade em tornar elegíveis investimentos específicos Nenhuma relevante
45%
14% Tempo de demora na resposta
No que se refere à inovação, investigação e desenvolvimento de novas tecnologias, apenas 35% das empresas associadas participaram num ensaio ou projeto de inovação, nos últimos 5 anos, o que, para um setor em constante desenvolvimento, é manifestamente baixo. Dos 6 projetos de inovação indicados, a grande maioria, uma vez mais, focou-se na área da produção. Apesar do interesse demonstrado nas áreas da inovação, investigação e tecnologia, ao longo do questionário, estes últimos números indicam uma fraca apetência das empresas do setor para participarem em projetos desta natureza, sendo manifestamente baixo o número de projetos realizados no período de 5 anos. Apenas 3 projetos foram realizados em parceria com
54
Competitividade do setor na região do Alentejo
Instituições ou Universidades, sugerindo uma fraca transmissão de conhecimentos entre a indústria e a investigação.
Estratégia “Do Prado ao Prato” Neste tema foram abordadas questões muito gerais, para tentar compreender qual o nível de informação que o setor possui sobre esta estratégia que irá impactar o setor num futuro próximo. As empresas foram questionadas se tinham conhecimento sobre a Estratégia “Farm to Fork”, (“Do Prado ao Prato”) apresentada pela Comissão Europeia, e, designadamente, as principais metas. Apenas um associado mencionou o seu desconhecimento sobre o tema, no entanto, a maioria dos inquiridos conhece escassamente a Estratégia, e de forma muito superficial. Figura 80 - Conhecimento da Estratégia "Do Prado ao Prato"
6%
Conheço bastante bem
12%
23% 59%
Conheço razoavelmente
Já ouvi falar, mas ainda não tive oportunidade de analisar detalhadamente
Relativamente às mudanças que a Estratégia “Farm to Fork” irá originar no setor da alimentação animal, os associados consideraram como sendo os 3 principais pontos da Estratégia:
Incentivo à adoção de técnicas e modos de produção que sejam mais sustentáveis;
Contribuição para a melhoria da qualidade e segurança alimentar;
Promoção da inovação, investigação e desenvolvimento tecnológico.
Alguns dos inquiridos ainda demonstraram algum ceticismo relativamente às mudanças que poderão surgir, nomeadamente com um possível aumento de custos de matérias-primas, custos operacionais, custos com certificações ou necessidade de investimento para se adaptarem às exigências da Estratégia.
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Figura 81 - Mudanças que a Estratégia vai implementar Reduzir o número de empresas no mercado Promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico Obrigar a mais investimentos Não tenho conhecimento Não sei avaliar Incentivar técnicas de produção mais sustentáveis Criar mais custos com certificações Contribuir para melhorar a segurança alimentar Aumentar os custos de operação Aumentar importação de matérias‐primas Aumentar a competitividade do setor 0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
No entanto, a grande maioria das empresas considera que está minimamente preparada para responder à Estratégia “Do Prado ao Prato”, e para implementar algumas das medidas propostas. Figura 82 - Facilidade de implementação das medidas da Estratégia
6%
6%
Certamente iremos implementar algumas medidas Considero que não
Será difícil, mas talvez consigamos implementar algumas medidas
88%
Outro ponto abordado no questionário, refere-se à pertinência da pesquisa e avaliação de novas fontes alternativas de proteína, sendo que a grande maioria das empresas (94% das respostas) considera muito importante o desenvolvimento deste tema. Quando questionadas sobre quais as fontes alternativas de proteína mais indicadas, observouse uma grande heterogeneidade nas respostas dos associados, indiciando que este tema ainda necessita de ser debatido com maior profundidade, e que, provavelmente, será acelerada pela proposta sobre cadeias de abastecimento livres de desflorestação, recentemente apresentada pela Comissão Europeia. Dos produtos indicados, apenas a cultura da fava não foi consensual.
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Competitividade do setor na região do Alentejo
Figura 83 - Alternativas proteicas à cultura da soja
Tremoço Subprodutos da indústria alimentar (coprodutos) Insetos e derivados Fava Farinha de carne Ervilha Algas 0
1
2
3
4
5
6
7
Já relativamente aos insetos, enquanto alternativa proteica, cerca de 2/3 dos inquiridos consideram como sendo uma alternativa viável, no entanto, será necessária mais informação para que possam apostar nesta alternativa a nível industrial. Figura 84 - Os insetos enquanto alternativa proteica
6%
25%
Desconheço o produto Sim
50%
19%
Sim, mas necessito de mais informação Não
Abordando um tema mais generalista, foi questionado aos associados, quais as áreas que consideram serem as mais relevantes relativamente ao tema da sustentabilidade, e, tanto as energias renováveis, como a diminuição do desperdício através da utilização de subprodutos para alimentação animal reuniram 1/3 das respostas das empresas associadas.
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Figura 85 - Áreas mais relevantes para aposta na sustentabilidade ambiental Diminuição da pegada de carbono
16%
16% Diminuição do desperdício (aproveitamento para alimentação animal) Coprodutos Energias renováveis
34%
58
34%
Substituição de matérias‐primas com grande impacto ambiental
Competitividade do setor na região do Alentejo
PERSPETIVAS Que futuro? Nos últimos dois anos, a conjuntura mundial tem sido marcada por diversas adversidades, tanto ao nível sanitário, económico-financeiro, social, como da própria integridade dos países. Posto isto, a questão inicial “que futuro?” tem particular significado, pois as possíveis respostas não são, pelo menos segundo os especialistas do setor da alimentação animal, de desenvolvimento simples. As perspetivas são bastante complexas, tantos são as condicionantes e políticas a ter em conta, muitas delas, de sinal contraditório. Por outro lado, a guerra na Ucrânia e os múltiplos impactos económicos e sociais, conduzirão a novos alinhamentos geopolíticos com consequências na evolução do setor, e em toda a fileira. No entanto, e anterior ao início deste desenrolar de acontecimentos, já o setor se preparava e “sofria em antecipação” face à nova Estratégia integrada no Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), que propunha grandes alterações a vários níveis. A Estratégia “Do Prado ao Prato” está no centro do Green Deal com o objetivo de tornar os sistemas alimentares justos, saudáveis e amigos do ambiente. Esta Estratégia visa acelerar a nossa transição para um sistema alimentar sustentável que deverá:
ter um impacto ambiental neutro ou positivo;
ajudar a mitigar as alterações climáticas e a adaptar-se aos seus impactos;
inverter a perda de biodiversidade;
garantir a segurança alimentar, a nutrição e a saúde pública, assegurando que todos tenham acesso a alimentos suficientes, seguros, nutritivos e sustentáveis;
reforçar a saúde e bem-estar animal;
preservar a acessibilidade dos preços dos alimentos, gerando simultaneamente retornos económicos mais justos, fomentando a competitividade do sector de abastecimento da UE e promovendo o comércio justo.
Segundo a Estratégia, colocar os nossos sistemas alimentares num caminho sustentável também traz novas oportunidades para os operadores da cadeia de valor alimentar. Novas tecnologias e descobertas científicas, combinadas com o aumento da consciência pública e da procura de alimentos sustentáveis, beneficiarão todas as partes interessadas. A produção agrícola na União Europeia (UE) vai sofrer uma redução significativa com a implementação total da Estratégia “do Prado ao Prato”, no entanto, poderá também levar a outras oportunidades, como por exemplo, a totalidade das medidas irá reforçar os serviços dos ecossistemas, como a proteção do clima e da água. A queda da produção expectável será superior a 20% para uma grande parte das culturas agrícolas e pecuárias, tendo um impacto direto no preço dos produtos. Estima-se um aumento em mais de 50% do preço da carne de vaca, e de 30% para o leite. Com um impacto mais direto
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para o setor da alimentação animal, é expectável, uma subida dos preços das sementes oleaginosas superior a 18% e, para os cereais, espera-se um aumento de 12,5%. A Estratégia também prevê ajudar as empresas de alimentos e bebidas, principalmente as PME, a sobreviver à pandemia de Covid-19 e a prosperar depois dela. A indústria de alimentos e bebidas é o maior setor transformador da Europa e será essencial para ajudar a reiniciar a economia da Europa e proteger empregos. No entanto, ainda existem alguns aspetos de especial preocupação para a indústria dos alimentos e bebidas, como é o caso da redução do excesso de embalagens sem comprometer a segurança alimentar, a estratégia de apoio de recuperação da Covid-19 das PME da cadeia de abastecimento de alimentos, o estabelecimento de níveis máximos de certos nutrientes nos bens alimentares ou o princípio da rotulagem nutricional harmonizada na UE.
Face a todos estes desafios, foram identificados alguns dos especialistas do setor da alimentação animal, das áreas da produção, da investigação ou das políticas associadas ao setor, e tentamos perceber quais os pontos de vista e as informações mais importantes que os especialistas poderiam oferecer a este Estudo.
Tema 1. Estado atual e futuro do setor dos alimentos compostos para animais De acordo com um dos especialistas consultados, os desafios são muito conjunturais, pois estão criadas as condições para uma “tempestade perfeita”: incrementos da energia, inflação e todas as matérias-primas (cereais, oleaginosas, proteaginosas e aditivos) associados a uma enorme instabilidade política mundial – que seria desejável que se resolvesse no curto prazo - mas que a tendência não será essa. A combinação destas situações leva a que o setor dos alimentos compostos para animais esteja a atravessar um período sem precedentes, com especial impacto na soja e nos cereais. Esta tendência altista das matérias-primas está associada também ao aumento, quase exponencial, dos preços dos fertilizantes. Esta conjuntura deve-se, por um lado, à aplicação de uma política de stock por parte da China, ao proibir a exportação, em especial, de adubos azotados. Por outro lado, cerca de 70% da produção de adubos potássicos provém da Bielorrússia, que atualmente está envolta num conflito de grande escala, e que se prevê que venha a ter impacto nos preços dos adubos. Esta conjuntura torna imprevisível a produção de cereais na próxima campanha, e não sendo possível produzir cereais sem adubos, que iria implicar uma redução das produtividades, a opção será uma transferência de hectares para culturas que precisem de uma menor quantidade
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Competitividade do setor na região do Alentejo
de adubos azotados, como o caso geral da soja, ou, na Europa, das leguminosas. Por outro lado, podem abrir-se oportunidades para a valorização dos efluentes pecuários, pela utilização de fertilizantes orgânicos. Atualmente, o mercado livre representa cerca de 34% da quota de mercado, no entanto, tem vindo a diminuir face a um crescimento do mercado integrado de rações, dada a própria conjuntura da pecuária. A agropecuária, e o próprio setor dos alimentos compostos, vai evoluir para um sistema de integração, e será uma tendência a diminuição da pulverização das explorações. Atualmente esta integração já representa mais de 90% nos produtores de aves e tem registado um grande aumento nos suínos. Não há previsão de crescimento para o mercado dos alimentos compostos para animais, no entanto, um dos estímulos do setor tem sido a comercialização de animais para exportação, dinamizando o mercado dos bovinos e ovinos. Relativamente ao futuro do setor, existem três desafios para o setor agropecuário, num período de 3 a 10 anos:
Imagem para o consumidor: é importante alterar a imagem para fora daquilo que realmente representa o setor agropecuário, e da importância que representa para a sociedade. Um dos exemplos da imagem, é o mito de que a alimentação animal compete com a alimentação humana. 70% dos nutrientes não é utilizada diretamente pela alimentação humana, como é o caso dos coprodutos, como exemplo de “reciclagem alimentar”;
Missão de conseguir conciliar Sustentabilidade ambiental vs Sustentabilidade alimentar (food security). A capacidade de alimentar uma população crescente, conciliando o aumento da produção e mantendo a sustentabilidade ambiental, é um dos grandes desafios;
E por último, por exemplo, o setor tem de assumir a liderança das respostas, passando de reativo para proativo na questão da comunicação.
Tema 2. Possíveis parcerias e inovações no setor Estamos a entrar numa nova era que vai obrigar o setor a investir muito na investigação. Os conceitos nutricionais têm vindo a ser alterados, e esse trabalho será na área dos alimentos medicamentosos. Vai obrigar os produtores a alterarem a sua maneira de trabalhar, muito à imagem do Centro e Norte da Europa – existem muitos produtos e conceitos que ainda têm de ser afinados.
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Um dos exemplos já atuais é a questão das micotoxinas: a renovação da tecnologia associada às análises, mais rápida e mais precisa, podendo gerir a “política” de entrada de matériasprimas na formulação de rações. A inovação no setor também passa pela eficiência alimentar, com uma formulação cada vez mais adequada. A eficiência alimentar é absolutamente crítica, e a parceria estratégica do FeedInov como papel colaborativo entre empresas, academia e investigação, e que procura encontrar soluções a nível nacional e valorizar os produtos nacionais, é essencial. No entanto, a primeira grande etapa que passa pela eficiência, produzindo o mesmo com menos recursos, ainda está muito longe de atingir os seus objetivos, e ainda falta muito caminho a percorrer. A eficiência alimentar está, igualmente e diretamente, relacionada com a eficiência ambiental. Isto significa que uma maior eficiência alimentar passa por diminuir a quantidade de alimentos fornecidos aos animais, com os mesmos resultados na produção, através de uma formulação mais eficiente. Como tal, esta diminuição da quantidade, aliada ao cada vez maior aproveitamento dos subprodutos da indústria alimentar, terá, sem qualquer dúvida, uma redução dos impactos ambientais e ecológicos. Atualmente, a eficiência alimentar tem uma enorme importância neste ponto. A percentagem de gases de efeito de estufa relativo à alimentação animal irá aumentar, ao contrário de outros sectores. Mas isto porque esses sectores têm mais potencial para diminuir, já que os sistemas atuais de produção animal estão muito próximos de uma eficiência produtiva ótima. Este aumento está de acordo com o que tem vindo a ser apresentado pelo setor pecuário, em que “a redução das emissões na agricultura ocorrerá a um ritmo menor que noutros setores, o que leva a que o seu peso nas emissões nacionais se possa situar entre 29 a 34% em 2050 (contra os atuais 10,8%)”. Esta informação só vem reforçar a importância em dar continuidade à inovação no setor, apostando não só na eficiência alimentar, mas em outras áreas que, num futuro próximo, possam representar uma diminuição no impacto ambiental do setor.
Tema 3. Proteína, que alternativas? A dependência da soja vai continuar, não é possível substituir na sua totalidade, podendo incorporar nas formulações mais ácidos aminados ou determinados coprodutos ricos em proteína. No entanto, esta dependência poderá não ser superior a 10 anos, com a evolução tecnológica.
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Competitividade do setor na região do Alentejo
Atualmente, todos os preços das alternativas e complementos estão indexados ao preço da soja, por unidade de proteína, ou seja, a sua substituição por outra matéria-prima apenas pelo preço será indiferente. A colza poderá ter alguma possibilidade de substituição nos países produtores como França, mas a soja será sempre a grande fonte de proteína a nível mundial. Poderão existir outras fontes de proteína, mas serão sempre marginais. Em Portugal, o maior potencial para alternativa à soja seriam as culturas de proteaginosas, em particular a ervilha (em França é um produto usual), mas os produtores ainda não têm tirado partido deste produto. Existe uma “diabolização” da soja, pois existem pontos negativos, mas não se deve generalizar, pois continua a ser a principal fonte de proteína mundial. A produção atual de soja não será suficiente para alimentar o mundo, no entanto, espera-se que os novos e/ou os outros produtos (com elevada % de proteína) possam ser uma das formas para alimentar a população no futuro. A ideia não é retirar a soja, mas sim aumentar a produção dos outros produtos alternativos. Relativamente a inovações, as farinhas de insetos e de algas serão potencialmente uma fonte de proteína, e que se tornam cada vez mais atrativos com o aumento dos preços. O revês é a resistência a novos produtos, muitas vezes por falta de informação nutricional dos produtos (e da sua digestibilidade), e que não estão devidamente testados. A realidade da procura de novos produtos e do avanço tecnológico na indústria dos alimentos compostos tem, em seu apoio, grandes grupos económicos que realizam todos os estudos e ensaios, deixando as pequenas indústrias à mercê da investigação “generalista”. A eficiência alimentar poderá ser uma solução para a substituição da soja, utilizando o conceito de nutrição de precisão, e no caso específico da proteína, a utilização de aminoácidos.
Tema 4. Estratégia “Farm to Fork” (“Do Prado ao Prato”) O setor é pouco informado, e com pouca “vontade”, vai ter de ser empurrado pela regulamentação. O setor vai evoluir não pelos estímulos, mas pela regulamentação e obrigatoriedade. O que está em cima da mesa é algo mais complexo, que abrange toda a cadeia de valor, como, por exemplo, analisar a pegada ecológica de todo o percurso, com grande dificuldade na realização desse processo na produção de matérias-primas, que em grande parte é importada.
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O senão destas alterações está relacionado com o impacto económico: “quanto é que paga a mais?” e ainda não existem “contas feitas”. A indústria ainda não se mostra interessada em pagar mais à produção por estes incrementos, o que irá dificultar a implementação no produtor. Assim, o grande desafio será o cumprimento das metas do Pacto Ecológico - produzir com eficiência, qualidade e segurança - e que irá requerer grande comunicação e envolvimento, pois é o que vai mudar os paradigmas do que foi criado até hoje para o setor da alimentação. É a melhor resposta que o setor poderá dar, exemplar e de liderança, com o cumprimento do Farm to Fork, dando exemplos para outros setores, inclusive para a alimentação humana. O grande desafio é ter a capacidade de conseguir implementar o Green Deal e todas as estratégias que estão inerentes à própria eficiência alimentar, com o grau de sustentabilidade alimentar. A resposta ao Pacto Ecológico Europeu passa pelo Green Feed e pelo Green Label. A formulação passa pela avaliação não só económica e nutritiva, mas também pelo impacto ambiental desses alimentos, trabalhando a imagem do produto e da organização. A implementação do Green Feed e do Green Label será um grande desafio, nomeadamente, para analisar a importância da pegada ecológica. Resumidamente, existem quatro perguntas que os produtores deverão fazer:
“Como é que posso medir a pegada ambiental de forma credível?”
“Como posso reduzir a pegada ambiental sem impacto negativo na performance da produção e dos custos?”
“Como posso comunicar os meus esforços na sustentabilidade de uma forma credível para reforçar os valores da minha marca enquanto produtor?”
“Qual é o retorno do investimento na implementação dos processos de sustentabilidade e nas ferramentas da pegada ecológica (custos)?”
Deverá ser possível que o setor consiga responder a estas quatro perguntas, num curto espaço de tempo. No entanto, o setor não está a partir do nível “zero”, pois já existem metodologias à disposição de quem as queira utilizar, e que são aconselhadas pela CE. Por exemplo, relativamente ao Green Labelling, que pese embora este tema esteja longe de estar concluído, existe um consenso relativamente à metodologia Product Environmental Footprint (PEF) no que respeita à informação constante na rotulagem, e, que se deverá recorrer à base de dados Global Metrics for Sustainable Feed (GFLI) cuja informação é recolhida utilizando a metodologia Life Cycle Assessment (LCA), a qual avalia a utilização de recursos e a emissão de poluentes de uma determinada matéria-prima na alimentação animal.
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CONCLUSÃO A relação entre o setor dos alimentos compostos para animais e a região do Alentejo é de extrema importância para o desenvolvimento de ambas as partes. Por um lado, o setor pretende aproximar-se da produção, diminuindo a dependência de matérias-primas, apostando na diminuição de custos de armazenagem e de transporte, com um refletido aumento na sustentabilidade ambiental da empresa, e uma maior proximidade aos efetivos pecuários e do consumo, e, por outro lado, a região do Alentejo fica favorecida com o escoamento da produção, incentivando ao aumento das áreas de cereais, leguminosas e oleaginosas, bem como o aumento da atividade pecuária e das empresas ligadas ao setor. É urgente travar a desertificação, o abandono, rejuvenescer o tecido produtivo, as alternativas de produção, a diversificação da paisagem e do território, e a atividade pecuária em conjunto com a alimentação animal são alternativas e apostas para Portugal. A região do Alentejo deveria criar um Conselho Regional Estratégico, multidisciplinar e representativo da sociedade civil, no sentido de repensar o modelo do setor Agroalimentar face aos desafios do futuro e no contexto atual de soberania alimentar, tendo presentes, entre outros, importantes infraestruturas como o Alqueva, o aeroporto de Beja e o porto de Sines. Este Estudo mostrou, igualmente, que o setor é resiliente, mas conservador, e que tem de iniciar parcerias que permitam uma maior inovação, tanto na área da produção e, particularmente, na inovação dos produtos (e a sua eficiência alimentar), como da tecnologia utilizada. Terá igualmente de apostar, cada vez mais, na sua sustentabilidade ambiental, não só no sistema produtivo, como na formulação dos alimentos, e, consequentemente, na aquisição das matérias-primas. A produção de alimentos compostos para animais é, na sua grande maioria, a nível mundial e europeu, e mais especificamente na região do Alentejo, um complemento aos sistemas extensivos de pastoreio, pelo que não deve ser visto como uma “competição” com as pastagens e forragens, ou seja, não faz sentido falar em concorrência entre a alimentação animal e humana. Aliás, a atividade pecuária é essencial e da maior relevância para a eficiência na utilização de recursos disponíveis - que os seres humanos não conseguem ingerir - melhoria da gestão dos solos, do território, do espaço rural e no combate às alterações climáticas e à desertificação, com um inegável valor ambiental, para além da produção de alimentos de origem animal. O papel da IACA será de extrema importância para identificar essas parcerias, e para continuar a informar o setor de todas as suas possibilidades de melhoria, estimulando o tecido empresarial ligado direta e indiretamente ao setor, da região do Alentejo, na obtenção de soluções cada vez mais sustentáveis do ponto de vista económico, social e ambiental.
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FONTES SITES
www.dgav.pt
www.gpp.pt
www.fao.org
https://fefac.eu
www.iaca.pt
www.ine.pt
ARTIGOS
“Estratégia do Prado ao Prato – para um sistema alimentar justo, saudável e respeitador do ambiente” - Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões; Comissão Europeia, 2020
“Estudio del Sector de la Alimentación Animal en Galicia”; AGAFAC, 2020
“Farm to Fork Strategy – For a fair, healthy and environmentally-friendly food system”; European Comission, 2020
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“Feed & Food”; FEFAC, 2020
“From farm to table: 2020 feed statistics in charts”; FEFAC, 2020
Competitividade do setor na região do Alentejo
ANEXOS QUESTIONÁRIO Questionário às Empresas associadas da IACA Este documento está integrado na Estratégia da IACA para a Melhoria da Segurança Alimentar, Nutrição Animal e Sustentabilidade na alimentação, na região do Alentejo, tendo como objetivo questionar os associados da IACA em relação a vários temas que abordam o desenvolvimento, inovação, sustentabilidade e também, o que se espera para o futuro do setor.
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA EMPRESA 1. Nome da empresa 2. Nome do interlocutor 3. Cargo na empresa 4. Indique a atividade da empresa:
Preparação de alimentos compostos Preparação de pré-misturas Preparação de aditivos
5. Indique os anos de atividade da empresa:
< 3 anos Entre 3 e 10 anos Entre 10 e 15 anos Entre 15 e 20 anos > 20 anos
6. Indique o volume de negócios (referente ao ano de 2020):
< 1 M€ Entre 1 M€ e 5 M€ Entre 5 M€ e 10 M€ Entre 10 M€ e 20 M€ > 20 M€
7. Qual o peso da exportação na empresa?
< 5% Entre 5% e 10% Entre 10% e 20% > 20%
8. Indique o número de colaboradores:
< 5 colaboradores Entre 5 e 10 colaboradores
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67
Entre 10 e 20 colaboradores Entre 20 e 50 colaboradores > 50 colaboradores
9. Caracterize resumidamente o modelo de negócio da empresa. (venda a granel ou produto embalado, negócio familiar, mercado livre ou integrado, ligação a produtores, etc.) CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SETOR 10. Quais considera ser as maiores dificuldades do setor dos alimentos para a animais? (escolha as 3 mais importantes) Não esquecer que temos alimentos compostos, aditivos e pré-misturas
Custo das matérias-primas Concorrência interna Concorrência externa Baixa diferenciação dos produtos Falta de mão-de-obra Preço de venda muito baixo Redução do número de produtores pecuários Aparecimento de operadores que integram a produção Dependência de matéria-prima oriunda de países terceiros Disponibilidade da matéria-prima
11. Quais considera ser as maiores ameaças que o setor dos alimentos compostos para animais enfrentará nos próximos anos? (escolha as 2 mais importantes)
Custo das matérias-primas Políticas europeias (ex: Green Deal, PAC, …) Legislação nacional cada vez mais restritiva Campanhas contra o consumo de produtos de origem animal Facilidade de importação de outras geografias Substituição de alimentos compostos por pastagens e forragens (em sistemas extensivos) Concorrência interna Concorrência externa Concentração da produção de alimentos para animais
12. Que medidas concretas deveriam ser implementadas para aumentar a competitividade do setor e das empresas? (escolha as 2 mais importantes)
Substituição de matérias-primas com origem em países terceiros Melhoria da qualidade das matérias-primas Aposta na inovação e tecnologia Parcerias com instituições/laboratórios/universidades Investimento em energias alternativas/renováveis Parcerias com produtores de matérias-primas Apoios públicos ao investimento Outra (indique)
13. Qual considera ser a principal vantagem da região do Alentejo neste setor? (escolha a mais importante)
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Proximidade à produção Facilidade no licenciamento Logística (acessos rodoviários, …)
Competitividade do setor na região do Alentejo
Mão-de-obra com experiência Acesso ao mercado espanhol Acesso a matérias-primas produzidas regionalmente Proximidade de polos de investigação (universidades, laboratórios, institutos) Apoios regionais ao investimento Não tem qualquer vantagem face a outras regiões Só tem desvantagens face a outras regiões
INVESTIMENTO 14. Nos últimos 5 anos investiu nas instalações? (Sim/Não) a. Se sim, qual o valor aproximado de investimento nesse período?
15.
< 1 M€ Entre 1 M€ e 5 M€ Entre 5 M€ e 10 M€ Entre 10 M€ e 20 M€ > 20 M€
Quais as 3 áreas em que houve mais investimento nesses últimos 5 anos?
16.
Receção de Matérias-Primas Produção Armazenamento Qualidade & Segurança Alimentar Ambiente Higiene e Segurança no Trabalho Outra (indique)
Fez investimentos em alguns destes temas específicos, nos últimos 5 anos?
Novas tecnologias Estudos de mercado Energias renováveis Internacionalização Pesquisa & Desenvolvimento Formação a colaboradores Outro (indique)
17. Quais os principais fatores que conduziram a esses investimentos? (indique os 2 principais)
18. a.
Obrigações legais Necessidade de modernizar as instalações Crescimento da atividade da empresa Necessidade de reduzir custos de produção Existência de apoios públicos ao investimento Procura de novos mercados Novos produtos
Pensa investir nos próximos 3 anos? (Sim/Não) Se sim, quais áreas em que considera primordiais? (indique as 2 principais)
Receção de Matérias-Primas Produção Armazenamento Qualidade & Segurança Alimentar
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Ambiente Higiene e Segurança no Trabalho Outra (indique)
b. Se sim, quais os temas específicos que considera mais importante? (indique os 2 principais)
c.
Novas tecnologias Estudos de mercado Energias renováveis Internacionalização Pesquisa & Desenvolvimento Formação a colaboradores Outro (indique)
Qual o valor aproximado que estaria disposto a investir?
d.
< 1 M€ Entre 1 M€ e 2 M€ Entre 2 M€ e 5 M€ Entre 5 M€ e 10 M€ > 10 M€
Se não, qual o principal motivo?
EVOLUÇÃO DA EMPRESA 19. Nos últimos 5 anos aumentou a produção (em quantidade)? Sim/não a. Se sim, qual a percentagem desse crescimento?
b.
< 5% Entre 5% e 10% Entre 10% e 20% > 20%
Se não, qual o principal motivo?
20.
Nos últimos 5 anos, como evoluiu o seu volume de negócios?
21.
Reduziu mais de 20% Reduziu entre 10% e 20% Reduziu menos de 10% Manteve-se Aumentou menos de 10% Aumentou entre 10% e 20% Aumentou mais de 20%
Nos últimos 5 anos, como evoluiu o seu quadro de pessoal ao serviço?
Reduziu mais de 20% Reduziu entre 10% e 20% Reduziu menos de 10% Manteve-se Aumentou menos de 10% Aumentou entre 10% e 20% Aumentou mais de 20%
22. Nos últimos 5 anos houve alterações relevantes na estrutura social da empresa? (assinale todas as opções verdadeiras)
70
Entrada de novos sócios
Competitividade do setor na região do Alentejo
Saída de sócios Aumento de capital social Aquisição de outra(s) empresa(s) (do setor) Outras (quais)
23. Nos últimos 5 anos, como evoluiu o recurso a capitais alheios na empresa? (empréstimos de MLP)
Reduziu significativamente Reduziu ligeiramente Manteve-se idêntico Aumentou ligeiramente Aumentou significativamente Não temos necessidade de recorrer a capitais alheios
24. Nos últimos 5 anos, beneficiou de algum apoio público? (assinale todos os que se aplicam)
25.
Apoios ao investimento produtivo Apoios ao investimento não produtivo (ambiente, segurança, …) Apoios à internacionalização Apoios à contratação de pessoal Apoios à formação de pessoal Redução de impostos (ex: SIFIDE, CFEI, …)
Quais as principais dificuldades que sentiu no acesso a esses financiamentos?
Burocracia elevada Tempo de demora na resposta Falta de apoio qualificado na instrução do processo Dificuldade em tornar elegíveis investimentos específicos Dificuldade em entender a linguagem das instituições
26. Nos últimos 5 anos participou em algum ensaio/projeto de inovação? Se sim: a. Foi em parceria com alguma instituição/laboratório/universidade? Qual? b. Em que área(s)? (produção, qualidade, ambiente, etc.) ESTRATÉGIA “DO PRADO AO PRATO” 27. Conhece a Estratégia “Farm to Fork”, (“Do Prado ao Prato”) apresentada pela Comissão Europeia, designadamente as principais metas?
Conheço bastante bem Conheço razoavelmente Já ouvi falar, mas ainda não tive oportunidade de analisar detalhadamente Não sei do que se trata
28. Que tipo de mudanças acha que a Estratégia “Farm to Fork” irá originar no setor da alimentação Animal? (escolha as 2 opções que considera mais relevantes)
Aumentar os custos de operação Obrigar a mais investimentos Criar mais custos com certificações Reduzir o número de empresas no mercado Limitar a importação de alimentos compostos para animais de origens fora da UE
Competitividade do setor na região do Alentejo
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Aumentar a competitividade do setor Promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico Incentivar técnicas de produção mais sustentáveis Contribuir para melhorar a segurança alimentar Outro (especificar)
29. Considera que a empresa está preparada para responder à Estratégia “Do Prado ao Prato?”
Considero que não Será difícil, mas talvez consigamos implementar algumas medidas Certamente iremos implementar algumas medidas Será fácil implementar as medidas propostas pela estratégia
30. Que sugestões gostaria de ver refletidas na Estratégia Farm to Fork para ser possível implementar as medidas na empresa? OUTROS TEMAS 31. Considera relevante a pesquisa e avaliação de novas fontes alternativas de proteína? (Sim/ Não) a. Se sim, que fontes alternativas de proteína poderão ser as mais indicadas? (escolha as 2 opções que considera mais relevantes)
32.
Tremoço Grão-de-bico Fava Ervilha Subprodutos da indústria alimentar (Coprodutos) Algas Insetos e derivados Farinha de carne Outra (indique)
Os insetos poderão ser uma alternativa proteica?
Sim Sim, mas necessito de mais informação Desconheço o produto Não
33. No tema da Sustentabilidade, quais as áreas que considera serem mais importantes apostar? (escolha as 2 opções que considera mais relevantes)
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Energias renováveis Diminuição do desperdício (aproveitamento para alimentação animal) Coprodutos Substituição de matérias-primas com grande impacto ambiental Diminuição da pegada de carbono Outra (qual)
Competitividade do setor na região do Alentejo
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Competitividade do setor na região do Alentejo