Andrelino da Silva (Lino sapo)
InĂŞs
Ao meu Deus o único que não me abandonou e que me deu o privilégio de nascer em Cachoeira do Sapo. A todos aqueles que um dia tiveram o gosto de pisar nessa terra, banhar em nossas águas e respirar o nosso ar, e que hoje dormem o sono da eternidade. Andrelino da Silva Inês
Inês, fábula que utiliza fatos históricos para remontar o surgimento do nome de Cachoeira do Sapo, é uma forma de utilizar a literatura como um pedido de socorro às agressões sofridas por esse animal que nos deixou como legado o seu nome incorporado ao do lugar. É uma leitura gostosa e envolvente que nos faz reviver os tempos da comercialização a lombo de jumentos como também resgata algumas crenças de nosso povo.
Inês
Contam os antigos, que já ouviram de outras pessoas mais antigas, que há muito tempo, quando tudo era muito difícil, existia um digníssimo senhor que vivia unicamente da agricultura. Ele, a esposa e a filha, devido aos maus invernos, mas a família estava sempre unida e feliz. Assim, viviam naquele sertão do Rio Grande do Norte, nas proximidades da nascente do Rio Potengi e do Rio dos Ventos. Num local remoto e longe dos núcleos populacionais. Com a filha crescida, aparece um jovem agricultor, que era afilhado do casal, querendo a mão da moça em casamento. O pai logo concordou, pois sabia, pela procedência do rapaz, que sua amada filha estaria em boas mãos. Logo, sem muita pompa ou agito, aconteceu a cerimônia nupcial.
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Com o passar do tempo, a jovem percebe que não era aquilo que sonhara para sua vida, estava morando longe de seus pais e passando necessidades diversas. Cansada de tanto sofrimento, principalmente pela falta de alimento, ela resolve voltar à casa dos seus pais. Ao retornar, com um bebê na barriga, seu pai não a aceitou, alegando que, naquela situação, iria denegrir o nome da família. Os costumes da época implicavam em desmoralização para o pai que tivesse uma filha separada dentro de casa, ainda mais esperando um bebê. Temendo essa desonra, o pai não a aceitou. Inês ficou muito desgostosa: primeiro, perde o esposo e agora, seu pai não a recebe. Inês fica sem saber para onde deveria ir e o que faria de sua vida. E agora?! Seus pais que deveriam apoiá-la, não a aceitaram em casa. Sem qualquer outra opção, lançou-se no mato, sem ter pelo menos noção do que iria fazer. Sua barriga já se percebia, deveria estar no quarto mês de gravidez, e com a simpatia que fez com o coração de galinha para saber o sexo do bebê, descobriu que seria uma menina. Inês havia aprendido isso com sua mãe, que já havia utilizado este método quando havia engravidado dela. Além desse método, ela também passou pernas de veados nas canelas da menina para andar rápido e também deu a Inês água de chocalho para desenvolver a fala.
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O único método que não utilizou com Inês foi o de colocar o primeiro piolho da pequena em um livro, e só não o fez por falta de um, mesmo assim colocou o primeiro piolho entre as folhas amareladas de sua caderneta de compras do barracão da fazenda de seu Zé Osnofa. A simpatia era para que a menina pudesse aprender a ler, e ela só não aprendeu porque não havia escola nas proximidades; a mais próxima ficava a mais de quinze léguas. Mesmo assim, ela aprendeu o suficiente para saber quando não era mais possível permanecer onde nasceu e foi com esse pensamento que a corajosa mãe, mesmo fragilizada, entrou no mato sem destino, sem temor, com muita dificuldade de locomoção, por conta da barriga já crescida, ela encarou o xique-xique e a macambira. Andou por um dia inteiro. Já cansada, parou em uma grota e ali resolveu ficar. Dormiu naquela noite ao som dos grilos e dos sapos que coaxavam. Dezenas, centenas de anfíbios embaixo de pedras em algumas poças d´água cantavam em coro, ora celestial, ora infernal aos ouvidos da sofrida Inês. O dia vem... A morte vem... A vida vem... A vida vai... O dia vai... A morte vem... As idéias se confundem na mente da temerosa mãe. Inês 08 01
Durante aquela noite, a jovem não dormiu os minutos pareceram se alongar e o frio pareceu não querer abandoná-la. Os ruídos da mata deixaram-na em estado de pavor.
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O sol nasceu como muito era esperado e com ele os raios iluminaram uma nova vida. Inês olhou ao seu lado e pôde ver o quanto aquele lugar era lindo, era mais que isso, era mágico. Repentinamente, um ânimo bateu outra vez em sua vida, estava se sentindo em casa naquele distante e desconhecido lugar. O tempo passou. Inês se familiarizou com o local. Durante o dia, procurava raízes e frutos para sua alimentação. O cantar ouvido por ela, o ecoar por entre a vegetação tornou-se uma canção de ninar. Dorme... Dorme... Amanhã novo dia nascerá... Amanhã uma criança nascerá... Amanhã a felicidade vai raiar... A mamãe 01 ouvia os sapinhos durante a noite. Durante o dia, ela dividia com
eles a água das poças onde moravam: a jovem Inês tomava a água; os bichinhos cantores tomavam banho e se acasalavam. Os grilinhos, que também cantavam na segunda voz durante a noite e em solo durante o dia, viam tudo e achavam bela a harmonia.
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Tornou-se amiga dos pássaros: que cantos encantadores ti aliam!! Jamais causaram medo, transmitiam em suas melodias rotineiras uma paz constante. Cobras, lagartos, também foram ganhos pela simpatia de Inês, a melhor e inseparável amizade que arranjou, porém, foi a do sapo, o mesmo que ao chegar o olhou com indiferença por lembrar que seu pai um dia falou que o bezerro da vaca Estrelinha morreu porque um sapo olhou para ele no curral. O sapo mostrou-se como é na sua essência, inofensivo, e acabou conquistando a amizade de Inês, cuidando dela sempre e contrariando as crenças populares. O amigão fazia companhia durante o dia e a vigiava durante a noite, quando ela estava dormindo, para que os insetos não a machucassem. Foi uma grande amizade e ela o tratava com muito carinho.
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Depois de algum tempo, chegou a hora de Inês ter seu filho. Uma noite de chuva, entre o ronco dos trovões e o clarear dos relâmpagos, ela deu à luz. Depois de muito sofrer com as dores e com a dificuldade de ter uma filha sozinha, Inês pôs no mundo. Quando o dia amanheceu, seu amigo sapo já estava ao seu lado, pois, passara a noite vendo seu sofrimento sem nada poder fazer para ajudá-la. Às vezes, cantava, tentando amenizar as dores da amiga, mesmo assim ela se contorcia de dores e se banhava de suor. Mesmo a noite estando fria, na alta madrugada, foi ele que saiu em toda carreira, passando por cima de pau e pedra para chamar o gavião para cortar com seu bico o cordão umbilical da criança. Inês 12
Na manhã seguinte, a notícia foi anunciada pelo sabiá, que fez questão de contar a todos do nascimento. Aos poucos, vários animais foram chegando como se viessem visitar a mais nova integrante do lugar. Como esperado pela mãe e para felicidade geral das corujas, o bebê era uma linda menina.
Inês a levou
ao peito, mas sentiu suas forças se indo.
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Então, em gesto de despedida, olhou para todos que estavam ao seu redor e pediu, com a voz baixa saindo por entre os dentes abertos daquela boca trêmula, para cuidarem de sua filha. Sabia em sua pouca consciência que não iria sobreviver. Os animais ficaram entristecidos como se aquela dor os consumissem. Num último esforço, a moribunda mãe levantou sua filha e pediu para que a natureza que por diversas vezes a protegeu e a tratou como filha agora adotasse a sua pequena e fosse sua verdadeira mãe. E que aquele sapo que tanto esteve do seu lado permanecesse do lado de sua filha e a ajudasse a sobreviver naquele lugar tão distante, mas que foi seu verdadeiro paraíso na terra. Pediu que o bicho agisse como se fosse um parente da pequena. Após isso, ela morreu sem mesmo ter tido tempo de batizar sua filha com um nome. Os animais ficaram todos atordoados com o que acabara de acontecer, já haviam se acostumado bastante com aquela presença meiga, até as árvores sentiram a ausência de Inês, o umbuzeiro que estava carregado de umbú, de desgosto perdeu toda sua carga e até mesmo suas folhas amarelaram e caíram uma por uma como se fossem uma cachoeira de lágrimas torrenciais. Inês 14
Durante quarenta dias, o canto da morte foi fúnebre e ecoou em todos os cantos daquela serração. Os gaviões, que eram os amigos mais próximos, fizeram uma escala de serviços para vigiar o corpo, pois uma quadrilha de urubus que antes eram amigos queria devorá-lo. Três ratos foram presos e viraram almoço de carcará, os roedores tentaram roubar parte da carniça para vender aos urubus. O corpo permaneceu ao relento durante horas até que um grupo de preás e punares juntaram-se para cobri-lo com folhas de marmeleiros, contando com a ajuda de um batalhão de formigas que derrubaram as folhas. Depois de tanto lamento e de silêncio tão cortante, juntos ao lado do corpo coberto de folhagem e num desejo comum, após horas de reunião em assembléia, ficou decidido que todos deveriam dar o seu melhor para cuidar da recém-nascida, que dormia inocentemente à sombra de um juazeiro: a coruja fez uma observação em relação aos procedimentos que deveriam ser adotados, e quem faria o que. O sapo, figura de sabedoria apurada entre os demais, como já era de rotina, seria o encarregado de ministrar os serviços, e assim aconteceu.
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Todos estavam conscientes que deveriam se mobilizar para cuidar da pequenina. Que ao acordar sentido a falta do peito materno chorava de fome, e como todos pensaram que fosse pela tristeza de ter perdido a mãe, demoraram a fazer algo para silenciá-la. De repente, uma raposa que estava de filhote foi voluntária para amamentála. A raposa já conhecia um pouco a natureza humana e timidamente foi conseguindo amamentá-la. Os pássaros, como uma rotina e na maior alegria, traziam água no bico e colocavam na pequena boquinha do bebê. Todos cuidavam com muito amor e carinho, como se aquela criança fosse filha daqueles que estavam ali, transformando o ambiente em um verdadeiro recanto de felicidade, compondo um quadro perfeito, com valores de amizade e companheirismo sobre a tutela da mãe natureza. À noite, além de contar com o amigo sapo, o lugar era vigiado pelas cobras e pelos guaxinins. Os próprios animais esqueceram suas intrigas mortais e se uniram com a maior satisfação para ajudar a bebê, o que antes não era nada comum, ver um sapo de papo com uma cobra e mais ainda com um guaxinim, pois o sapo para ambos era visto como prato predileto, mudando nesse contexto seus hábitos alimentares em prol de cuidar da criança.
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O berço da pequena era feito por folhas de plantas trazidas pelos gaviões que as retiravam dos mais altos galhos dos pés de angicos. Assim, ela foi crescendo no meio de todos, tendo-os sempre de dia, de noite, na chuva ou no sol. Aos dois anos, já andava de quatro pernas e ensaiava andar de duas, nadava como um peixe e subia nas árvores como os sonhins. Aprendeu a buscar seu próprio alimento. Como sua mãe, se alimentava de frutos, folhas e raízes. Geralmente cavalgava, montada nos veados, e havia tanta intimidade entre ela e os animais que começou a nascer um sentimento de amor, o que a fez se tornar uma verdadeira defensora da natureza. Morava na mesma grota em que sua mãe a teve e quando foi chegando aos cinco anos, achou na caveira de sua mãe, que sempre esteve do seu lado, uma pulseira com umas letras escritas, que era justamente o nome de sua mãe, Inês. Mas a pequena não sabia ler, só entendia a voz da natureza: falava com todos os animais da grota, entendia o vento, a chuva os relâmpagos e os trovões, além do mais conhecia todos os animais daquele lugar, um por um. Mesmo assim, colocou a pulseira em seu braço, como que por um instinto do seu lado humano. Inês 17
Continuou vivendo sempre em companhia dos animais, principalmente do sapo, que nunca a abandonava. Aquela era uma verdadeira estória de companheirismo e respeito às diferenças. A filha de Inês cresceu e tornou-se uma linda e selvagem mulher. Jamais fora resgatada, pois ninguém sabia de sua existência muito menos ela sabia que poderia viver em sociedade. Somente os animais a conheciam. Agora era ela que cuidava deles, quando estes estavam feridos pela ação de algum caçador. O lema era o mesmo desde a morte de sua mãe, todos se ajudavam, e assim, viviam felizes em sua grota.
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Em certo dia, sem alguém saber como, talvez por imprudência de algum caçador, a mata que escondia a grota pegou fogo. Todos os animais correram para sobreviver ao incêndio. Alguns filhotes ficaram presos em meio às chamas. Quando viu que os filhotes morreriam queimados, num gesto heróico e digno, se lançou no fogo para salvar os filhotes que lá estavam. O fogo consumia aquelas plantas secas com muita rapidez e tomava conta da copa de grandes árvores. A pobre coitada, mesmo com toda sua agilidade não conseguiu sair de dentro do fogo e morreu abraçada com os filhotes.
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Após o fogo acabar, os animais foram até o local para ver como se encontrava a heroína. Quando lá chegaram, urraram, uivaram e um som de tristeza tomou conta da grota ao verem o corpo da amiga, filha e protetora, todo queimado ao lado dos pequenos filhotes. Depois disso, vários animais ali morreram de fome, sede e tristeza, o próprio vento parou de soprar e o sol se escondeu por traz de algumas nuvens, deixando o dia nublado e sem vida. O amigo sapo ficou dilacerado e consumido pela dor. Também quis resgatar os filhotes junto com a amiga e só não foi porque ela o jogou dentro de uma poça d’água pra que não viesse morrer queimado. Em sua total tristeza se perguntava como viver sem aquela que para ele tinha tanto carinho e respeito. Pensou em se deixar levar por aquela dor que o consumia, mas quis fazer uma última coisa e entre seu ápice de tristeza, num gesto de amor, pediu para que a mãe natureza encarnasse o espírito da amiga em seu corpo. Queria que ela fosse imortal em seu corpo e que voltasse para proteger todos os animais, assim como ele havia protegido a menina desde que nasceu.
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A mãe natureza não teve muito trabalho em conceder o desejo do sapo, ela mesmo havia ficado muito triste com sua partida tão dolorosa, e para atender o desejo daquele que muito triste estava, junto com a dor que tomava a todos os corações selvagens, a mãe natureza concedeu o pedido do sapo. O espírito da protetora voltou e se encarnou naquele corpo rejuvenescido. Quando deu conta de si, a jovem ficou desgostosa por saber que seu melhor amigo deu à vida por ela. Por muito tempo andou solitária, sem ânimo, perdia seu melhor amigo, que era mais que isso, era um protetor. Seu silêncio permaneceu por dias, meses e anos, então a mãe natureza resolveu intervir naquela solidão e a explicou qual seria sua nova tarefa, frisou que ela não havia perdido seu amigo sapo e sim ela e ele agora eram um só, e com uma missão muito especial, cuidar de todos. Ela rapidamente entendeu, apenas não conseguiu permanecer naquele lugar onde tudo se passara, resolveu sair da grota. Foi para frente onde existia uma cachoeira. Mesmo abandonando o lugar, ficou em um ponto que permitisse estar sempre olhando para lá.
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Com o passar do tempo a grota virou rota para os tropeiros que a utilizavam como ponto estratégico para o deslocamento até os povoados da região. Com a beleza do lugar, o ambiente tornou-se privilegiado, passando a ser o ponto predileto do apoio e de descanso dos homens e dos animais. Como suas passagens pelo local eram semanalmente, um dia, os tropeiros acharam o esqueleto da heroína. E no braço da ossada uma pulseira com o nome de Inês. A partir desse dia, passaram a chamar o lugar de grota da Inês. E assim, o tempo ia passando, toda semana da quinta para a sexta eles estavam passando pela a grota onde arranchavam e passavam todo o dia. O lugar era para eles era perfeito, pois além do mais tinha uma cachoeira bem abaixo onde se banhavam e banhavam os animais, além de utilizar a água para cozinhar e beber sempre ao som de uma melodia de coaxar de sapo que para os tropeiros eram um bom sinal de que os negócios seriam bons, há tempos já haviam percebido que o canto do sapo dava sorte aos negócios.
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Já no costume e conhecendo todo o caminho do percurso da viagem, os burros seguiam em filas carregados de mercadorias. Em uma dessas viagens, um dos burros do lote que ia carregado com rapadura e mel tropeçou e caiu com a carga. Pobre jumento destruiu toda a carga, além de quebrar uma das mãos, caiu por cima de um tropeiro lhe quebrando a costela. A desorganização foi total. Tratava-se do burro guia, que agora estava com a mão quebrada e não podia guiar o lote. Os tropeiros pensaram em sacrificá-lo, mas como era um bom animal o deixaram solto para morrer sozinho. O acampamento foi erguido e depois do café foram para o banho na cachoeira, inclusive o tropeiro com a costela quebrada que se lamentando ia se desviando das pedras molhadas que tinha que transpor, porém era preciso ir ao banho. Seu corpo enfadado e suado já havia três dias que um pingo d’água não o molhava, o banho como sempre foi refrescante e mais uma vez acompanhado do coaxar do sapo. Após o banho, encheram os cabaços e levantaram acampamento. Depois de algumas horas, o ferido percebeu que suas costelas não mais doíam, não arriscou comentar, seguiu viagem. Uma semana depois, ao retornarem ao local, os tropeiros têm uma grande surpresa: o animal que havia ficado ferido se encontrava bom e nem parecia que tinha quebrado a mão.
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Foi curado exatamente como o tropeiro, sem deixar nenhuma cicatriz. Os tropeiros ficaram encantados, mas não sabiam como isso poderia ter acontecido. Sabiam que o local era o principal responsável por isso e que o sapo, com seu coaxar também, desse dia em diante começaram a utilizar a água da cachoeira como remédio para eles e os animais feridos, e desse dia em diante passaram a chamar o lugar sagrado de Cachoeira do Sapo. Com o passar do tempo, várias pessoas vieram morar nas proximidades da cachoeira e logo surgem as primeiras fazendas para criação de gado, que com seu desenvolvimento faz surgir um pequeno núcleo populacional, com o mesmo nome, de Cachoeira do Sapo. Durante vários anos o sapo foi ouvido com freqüência e algumas pessoas tiveram a sorte de vê-lo, mas na medida em que o lugar crescia junto com a população ele foi desaparecendo. Os antigos falam que a destruição da natureza e o extermínio das espécies fizeram com que o sapo fosse embora. Alguns falam que ele se encantou numa enorme pedra próxima ao lugar para vigiá-lo de dia e de noite. Outros afirmam que ele ainda está no mesmo lugar e que seu coaxar é capaz de curar qualquer enfermidade e trazer todo tipo de felicidade.
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Só que diz a lenda que ele não coaxará mais, enquanto o homem continuar destruindo a natureza, principalmente ela que lhe concedeu a vida e a responsabilidade de cuidar de todos que tiverem o privilégio de viver naquele lugar.
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BIOGRAFIA
Andrelino da Silva (Lino sapo)
Andrelino da Silva (Lino Sapo) nasceu no dia 06/01/1981, na Escola Juvenal Lamartine no distrito de Cachoeira do Sapo/RN, filho de José Adelson da Silva e de Damiana Lúcia da Silva. Foi o segundo filho do casal num total de cinco. Após seu nascimento foram morar em outras casas do lugar, somando num total de doze e um pé de árvore. Começou seus estudos no Projeto Casulo, e sua primeira série fez na mesma escola que nasceu, agora reformada e em atividade. Aprende a ler, influenciado pelos livros de cordéis que seu pai lia. Em 1989, seu pai se separa de sua mãe, deixando-a apenas com seus cinco filhos onde a mais velha tinha 10 anos e a mais nova estava na barriga com dois meses. Andrelino encontra na escola uma oportunidade de fugir de sua realidade já que a fome e tantas outras necessidades o faziam sofrer diversas formas de preconceito, tanto racial quanto econômico. Faz seu ginásio na Escola Municipal Fransciquinho Caetano, em Cachoeira do Sapo, e conclui seu ensino médio na Escola Estadual Manoel Severiano, em 1998 com 17 anos. Considerado como vagabundo por andar com livros pra cima e para baixo, trabalhou como carregador de comer de porco durante nove anos, foi carvoeiro, batedor de tijolo e arrancador de toco. E, mesmo não tendo apoio, fundou o PLUJET, grupo de jovens que trabalhava com o desenvolvimento social e cultural de Cachoeira do Sapo, no qual ocupava a função de diretor de eventos. Em 1999, a pequena cidade completa 70 anos e Andrelino foi um dos responsáveis por inseri-la na mídia. No ano 2000, foi soldado do exército, onde começou a criar suas primeiras poesias Ao terminar seu ano no exército, retorna para Cachoeira do Sapo, onde funda, em 2001, o Arraiá do Sapo, o primeiro grupo de quadrilha matuta a disputar em festival e a ganhar seus primeiros troféus. Criador de peças de teatro e também ator, investiu na cultura de Cachoeira do Sapo, pesquisando e escrevendo histórias locais. No ano de 2003, veio trabalhar em Natal, como servente de pedreiro, e no ano de 2005, presta seu primeiro vestibular. Passando em décimo lugar para o curso de biblioteconomia, se tornando o primeiro cidadão Cachoeissapense a entrar na universidade federal, sem nunca ter feito cursinho. No mesmo ano, garante uma vaga no concurso para agente de saúde da Prefeitura Municipal de Riachuelo. Também começa a fazer o curso de história na Universidade Potiguar — UNP. Em 2006, torna-se palestrante do Projeto Conheça a UFRN, através do residente, motivando os alunos do interior do estado através de sua história de vida. Também leva para seu interior a idéia de que é possível chegar à universidade, e começa a dar aulas, solidariamente, para alunos tanto de seu interior como de outros. No ano de 2007, se torna conselheiro da residência universitária CAMPUS II, e durante esse mesmo ano escreve a fábula Inês. Em 2008, apresenta na Câmara Municipal proposta de um projeto de lei que para cada criança nascida no município um livro seja comprado, dedicado à criança e inserido na biblioteca pública do município. Suas poesias são trabalhadas a nível acadêmico e além de despontar o patriotismo, apresenta as situações econômicas das famílias humildes do interior do estado.
EDITORIAL
Revisão: Ciro Soares Danielle Robert Catalogação na Fonte por Silva, Andrelino da. [1981] Inês/Andrelino da Silva (Linosapo); Ilustrado por: Micarlos de Medeiros Viana Cachoeira do Sapo: Akli, 2008. 26p.: il., 20 cm. Contém ilustrações ISBN 978-85-0000-0 Literatura Infantil. I. Título CDU 029.0 S586i
© copyright by Andrelino da Silva Todos os direitos desta edição reservados a Andrelino da Silva (Lino Sapo)
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