Balonamento, projeto gráfico (desenvolvido com autor) e diagramação. Livro de HQ.

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BISCAIA

AGUIAR

STAHLSCHMIDT


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Roteiro:

Paulo Biscaia Filho

Ilustrações:

José Aguiar

Arte-final:

André Stahlschmidt

Curitiba - 2023


Roteiro e Direção: Desenho, decupagem e direção de arte: Arte-final: Produção Executiva: Assistente de Produção: Edição e montagem: FX Digitais: Elenco de vozes: Mixagem de áudio e trilha sonora: Diagramação e balonamento: Projeto Gráfico: Revisão: Assistente: Produção de pré: Tratamento de Imagens: Administração de Mídias Sociais: Captação de Recursos: Consultor Histórico: Coordenação do Projeto: Produção geral: Coprodução:

Paulo Biscaia Filho José Aguiar André Stahlschmidt Caroline Roehrig Leandro Oliveira Paulo Biscaia Filho Nyck Maftum Kenni Rogers Diorlei Aparecido do Espírito Santo Caroline Roehrig Leandro Oliveira Paulo Biscaia Filho Demian Garcia Demian Garcia Aline Scheffler Aline Scheffler e José Aguiar Fernanda Baukat Malu Moreira Rafaelle Cristina Vigor Mortis Leandro Oliveira Caroline Roehrig Clóvis Gruner Paulo Biscaia Filho Vigor Mortis Infinitas Produções e Quadrinhofilia

Conheça a versão animada da HQ

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Biscaia Filho, Paulo Agora talvez você seja compreendido / roteiro Paulo Biscaia Filho ; ilustrações José Aguiar ; arte-final André Stahlschmidt. -- Curitiba, PR : Quadrinhofilia, 2023. ISBN 978-85-66235-09-8 1. Crimes 2. Brasil, Febrônio Índio do, 1895-1984 3. Histórias em quadrinhos I. Aguiar, José. II. Stahlschmidt, André. III. Título. 23-175045

CDD-741.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5 Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253


Paulo Biscaia Filho Se pudesse se auto-intitularia “Sanguinário Bucaneiro Intergaláctico”, mas a verdade é que é Mestre em Artes pela Royal Holloway University of London, Bacharel em Artes Cênicas pela PUC-PR e atualmente Doutorando em História pela UFPR. É professor na UNESPAR nos cursos de Artes Cênicas e Cinema, do qual foi um dos criadores e autor do livro ‘Palcos de Sangue’ , além de corroteirista dos volumes 1 e 2 da graphic novel ‘Vigor Mortis Comics’. Atuou por 9 anos na Cinemateca de Curitiba como Programador e Coordenador. É idealizador e curador do festival DJANHO! (ex Grotesc-O-Vision). Diretor, roteirista e editor à frente da companhia Vigor Mortis com mais de 30 produções teatrais. Foi vencedor de diversos prêmios com seus longas-metragens “Nervo Craniano Zero”(Melhor Diretor no New Orleans Horror Film Festival e Melhor Filme no Montevideo Fantastico) e “Morgue Story - Sangue, Baiacu e Quadrinhos” (Melhor Filme de Horror no Illinois Film Festival). Em 2018, lançou o longa “Virgin Cheerleaders in Chains”, sua primeira coprodução nos EUA. O filme/websérie “A Macabra Biblioteca do Dr. Lucchetti” teve sua estreia em 2022, também ganhando o prêmio de Melhor Filme pela Crítica no Rio Fantastik. Atualmente está finalizando seu próximo longa, uma comédia romântica de horror metafísico no pós apocalipse intitulada “Nunca Terão Paz”.

José Aguiar É mestre em Tecnologia e Sociedade pela UTFPR. Premiado quadrinista, também publicado na Europa. Indicado ao Prêmio Jabuti pelos seus livros Reisetagebuch – uma viagem ilustrada pela Alemanha, Coisas de adornar paredes, A infância do Brasil e CWB. Este último também foi finalista do Prix BD Alternative do Festival de Angoulême, na França. Sua tira de humor Nada com coisa alguma é publicada no jornal O Globo. Escreveu sobre cultura pop na Folha de SP e no site Omelete. É autor do livro Narrativas gráficas curitibanas, que resgata a história dos quadrinhos, charges e cartuns em sua cidade natal. Autor também da webcomic adolescente Malu, disponível em www.maluca.com.br. Suas tiras podem ser lidas em seu Instagram @quadrinhofilia. Sua obra mais recente foi a graphic novel autobiográfica Debaixo D‘água em parceria com Fernanda Baukat. Com Biscaia, fez o premiado evento Cena HQ e as HQs Vigor Mortis Comics e Museu dos Horrores, além da codireção de arte no filme/websérie “A Macabra Biblioteca do Dr. Luchetti”.

André Stahlschmidt Após trabalhar na área de design gráfico e impressão, há alguns anos dedica-se a construir carreira como ilustrador e quadrinista full-time. Conta com trabalhos publicados no Brasil, com destaque para as participações nos álbuns do personagem Undeadman, criado por Leonardo Melo e a graphic novel Fantasmogênese - Em Busca da Loira Fantasma, em parceria com Antonio Eder; e no exterior publicou histórias curtas com autores independentes e a minissérie Titan - Mother of Monsters, da roteirista britânica Colleen Douglas.

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Introdução

Em 1997, quando a Vigor Mortis foi criada para ser um espaço onde desenvolveria na prática os estudos feitos para a minha dissertação de mestrado sobre Grand Guignol, decidi que nossa primeira montagem teatral teria sua dramaturgia inspirada em relatos reais de assassinos em série. A peça se chamava “PeeP - Através dos Olhos de um Serial Killer”. Na lista de histórias constantes na narrativa da peça figuravam os horrores de Ed Gein, Jeffrey Dahmer, Albert Fish, entre outros. Foi durante a pesquisa e levantamento dos monstros da vida real para a montagem que me apareceu, pela primeira vez, o nome de Febrônio Índio do Brasil. No entanto, intencionalmente não o incluí na dramaturgia de PeeP, pois entendi imediatamente que sua trajetória era complexa demais para estar em uma produção que versava muito rapidamente sobre cada um dos assassinos selecionados. A história de Febrônio demandava uma dramaturgia própria e isolada. Foi em março de 1999 que estreamos durante o Festival de Teatro a peça “DCVXVI - Eis o Filho da Luz”. Uma montagem em que a vida e os crimes de Febrônio deveriam receber o espaço adequado para delinear todas as suas complexidades. Na época, eu dirigi a peça com a impetuosidade e arrogância do jovem que era. O resultado, apesar das lindas interpretações encabeçadas por Clóvis Inocêncio como o protagonista, foi um espetáculo frágil e que explorava pouco as características singulares em torno daqueles assassinatos. O fracasso da peça foi avassalador e, ao mesmo tempo, purificador. Fez com que eu me afastasse do teatro e da criação artística em geral por quase cinco anos. Naquele período, aprendi a pôr os pés no chão e eliminar a arrogância de outrora. Com o tempo, eu e a Vigor Mortis fomos voltando à atividade criativa e, desta vez, com muito mais êxito em nossas realizações. Aprendi a me reconectar verdadeiramente com o público, ao mesmo tempo que minhas atividades como professor na UNESPAR também me trouxeram maturidade. A história de Febrônio havia virado para mim apenas aquele enorme equívoco de um passado cada vez mais distante. Duas décadas se passaram e, em 2019, surgiu a oportunidade de dar continuidade à minha formação acadêmica e fazer o Doutorado em História pela UFPR. Durante uma conversa em um café na Praça Santos Andrade, apresentei ao Clóvis Gruner, que viria a se tornar meu orientador e que eu já conhecia por ser colega comentarista no saudoso “Light News” da Maria Rafart, a minha ideia de retomar a pesquisa sobre Febrônio Índio do Brasil. Clóvis recebeu a ideia com enorme entusiasmo e me dediquei a montar um projeto que conseguiu conquistar uma vaga no programa. Vinte anos depois da peça, passei a compreender melhor quem era Febrônio. Jamais totalmente. Isso já sabemos que é impossível, mas agora, cursando o terceiro ano do Doutorado e com a tese sendo encaminhada, fiz a devida remoção de impurezas e coleta de materiais vastos para construir uma narrativa adequadamente mais sólida exigida por um personagem complexo como este.

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É muito difícil falar sobre Febrônio com o devido distanciamento. São variadas as suas facetas e é muito fácil cair em armadilhas de simplificação. Febrônio foi um louco, um assassino cruel, um profeta delirante, um escritor hábil, um estudo psiquiátrico singular, um caso jurídico referencial, um monstro no imaginário popular, um corpo abandonado no sistema manicomial, um paciente tranquilo e bem-quisto pelos enfermeiros. Tudo isso só começa a descrever quem foi o tal do autointitulado Príncipe do Fogo, o Filho da Luz, o “scelerado(sic) assassino” dos jornais. *** Este projeto composto por uma Graphic Novel e um Motion Comics marca mais uma parceria com o incrível José Aguiar, o mais talentoso quadrinista do sul do mundo e que tenho a sorte de ter como uma extensão e complemento aos delírios criativos que levo a ele. Ele é uma espécie de mão extremamente habilidosa que ocupa o vazio onde está a minha mão biologicamente incapaz de desenhar. Nesta empreitada, também faço uma extensão da minha pesquisa de doutorado que tem como foco os riscos e os caminhos narrativos sobre a história de Febrônio. Um equilíbrio árduo entre a impossibilidade de romantizar tal personagem, ao mesmo tempo que os detalhes de sua história são tão ricos que não há como não exercitar o fascínio junto aos olhos do público. O mesmo fascínio perturbador que um psicopata exerce sobre suas presas antes de matá-las. Importante notar que tudo que está no roteiro desta história tem registro de sua veracidade. Exceto, obviamente, os delírios de Febrônio e a indicação de que foi ele que matou o dentista Brunno Gabina. Uma hipótese jamais provada, ainda que provável. Em tempos em que há um interesse crescente sobre narrativas de assassinos que ocuparam grandes espaços na mídia, é importante refletir sobre a forma como esses retratos estão sendo pintados. Estamos diante de celebrações de criminosos infames, ainda que pela simplória categorização de “monstros hediondos”, ou encarando figuras perigosas e complexas que precisam ser estudadas e mais bem compreendidas para que, por fim, também possamos compreender demônios dentro de nós mesmos? É uma pergunta carregada com resposta, eu sei, mas é também a série de provocações que trago ao realizar este trabalho.

Paulo Biscaia Filho

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“Agora talvez você seja compreendido”, a história gráfica do Filho da Luz

Capital da República, o Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a experimentar mais intensamente as mudanças advindas da nossa relativamente tardia e periférica modernidade. Uma experiência que se espalha e é vivenciada por outras capitais no período compreendido entre o final do século dezenove e começo do vinte e traduzida em diversos discursos e narrativas. No caso do Rio de Janeiro, as crônicas do parnasiano Olavo Bilac, o “jornalista das calçadas”; de João do Rio, dândi tropical a flanar pela “alma encantadora das ruas”; ou o olhar suburbano, ácido e muitas vezes desencantado de Lima Barreto, preenchiam as páginas dos diários e revistas ilustradas. São narrativas que permitem vislumbrar o impacto da modernização e das aspirações da modernidade entre a intelectualidade carioca e, em certa medida, o modo como essa experiência alterou modos de vida e condutas, forjou novas sensibilidades e ajudou a moldar o imaginário do período. Em outra grande cidade, São Paulo, a modernização e a modernidade contribuíram para impulsionar o movimento modernista que redundou na Semana de Arte Moderna de 1922. Evento emblemático, ela aspirou a construir uma nova identidade de Brasil, antropofagicamente nativa e cosmopolita. Longe de ser homogêneo, o modernismo paulista, em sua diversidade, quis ser a cara de um país antenado às vanguardas estéticas europeias, mas sem renunciar à “brasilidade tupiniquim”, espécie de mito fundador da nação, reinventado nos versos, romances e manifestos de Mário de Andrade e Oswald de Andrade ou nas telas de Tarsila do Amaral. Nossa belle époque singrou oceanos e chamou a atenção, entre outros, do poeta suíço Blaise Cendrars. Nos anos de 1920, já um poeta conhecido, Cendrars vivia em Paris. Um tanto desgastado pelo engessamento das vanguardas europeias, ele conhece os artistas Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, que o convidam a conhecer o Brasil. Cendrars topou e deu início a uma sequência de visitas ao país. Assiste ao carnaval carioca junto com Tarsila e Oswald. Na companhia de Mário de Andrade visita Minas Gerais e se impressiona com as esculturas do Aleijadinho. Na pulsante São Paulo, consolidou sua aproximação à nata do modernismo paulista e a alguns de seus mecenas, como Paulo Prado, autor de “Retrato do Brasil”, obra que o marcou profundamente. Foi em uma de suas estadias no Brasil, a terceira e última, de setembro de 1927 a janeiro de 1928, que o modernista suíço conheceu pessoalmente Febrônio Índio do Brasil.

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Mas a fama do “scelerado(sic) assassino” o precedia. Na imprensa, seus crimes há algum tempo estimulavam a imaginação de repórteres e cronistas, aparecendo com alguma regularidade em reportagens policiais e nos fait divers. Ele também era figurinha carimbada nas delegacias, cadeias e asilos da capital: desde a primeira prisão, em 1916, Febrônio acumulara quase três dezenas de passagens pelas celas da Casa de Detenção e do Hospital Nacional de Alienados por fraude, furto, roubo, vadiagem, entre outros crimes e delitos. Foi em uma dessas prisões, em 1920, na Colônia Correcional Dois Rios, em Ilha Grande, que Febrônio teve a visão que selaria seu destino. De acordo com ele, uma mulher de cabelos longos e loiros o escolheu como o “Filho da Luz” e lhe atribuiu a incumbência de declarar ao mundo que Deus não estava morto. Ainda de acordo com a visão, ele deveria tatuar-se e tatuar meninos com o símbolo DCVXVI: “Deus, Caridade, Virtude, Santidade, Vida, Ímã da Vida”. Foi nessa mesma época que começou a escrever “As revelações do Príncipe do Fogo”. Publicado em 1926, de forma independente, o livro chamou a atenção, entre outros, de Mário de Andrade. Fascinado pela escrita apocalíptica de Febrônio, o modernista guardou um exemplar em sua biblioteca mesmo depois que a polícia queimou toda a edição do livro e proibiu sua reimpressão. Quando foi preso e indiciado, entre agosto e setembro de 1927, acusado do homicídio de Alamiro José Ribeiro, Febrônio já não era, portanto, um criminoso qualquer. Não por acaso, sua prisão se tornou objeto de cronistas e repórteres que, carregando no sensacionalismo tão comum ao jornalismo da época, deram sua cota de contribuição à “peste febrônica”. Especialmente depois que, à acusação original somou-se uma segunda, a do assassinato com tons de crueldade e indícios de pederastia, do menor João Ferreira, o Jonjoca, de apenas 10 anos. Entre os homens da ciência e da lei, o interesse não foi menor. Responsável pelo laudo pericial, o renomado psiquiatra forense Heitor Carrilho atestou, em 1928, que Febrônio era “portador de uma psicopatia constitucional”, caracterizada por “desvios éticos”, um “louco moral” possuído por “perversões instintivas” decorrentes de seu “homossexualismo” e de “impulsos sádicos”, a que se juntavam “ideias delirantes da imaginação, de caráter místico”. A loucura de Febrônio, sua monstruosa degenerescência, o incluem em uma espécie de dialética da exclusão e inclusão, num jogo de tensões permanentes: é preciso “excluir” o que é anormal, para “inclui-lo” a uma ordem, discursiva e institucional, que se julga necessária (disciplinar, produtiva etc.). Mas, a condição para “inclui-lo” a esta ordem é “exclui-lo”, em nome da defesa social, do convívio comum. No caso de Febrônio Índio do Brasil, em que se cruzam um conjunto de “anormalidades” – a loucura moral, o delírio místico, perversões eróticas, notadamente o “homossexualismo” – a inimputabilidade é o dispositivo acionado. Nas palavras do filósofo francês Michel Foucault, “o degenerado é aquele (...) portador de perigo” que, incurável, “o que quer que se faça, é inacessível à pena”.

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Respaldada pela autoridade clínica de Carrilho, a justiça condena Febrônio Índio do Brasil ao Manicômio Judiciário, do qual Carrilho é o primeiro diretor e Febrônio, seu paciente de número 0001. À exceção de uma fuga breve, de efêmeras 24 horas, em fevereiro de 1935, Febrônio passou o resto de seus dias institucionalizado. Assim, ao invés da pena máxima de 30 anos prevista no Código Penal de 1890, vigente à época de seu sentenciamento, ele se converteu, na prática, no único caso conhecido de prisão perpétua na nossa história judiciária: desde seu internamento até a morte, aos 89 anos, em agosto de 1984, Febrônio Índio do Brasil viveu recluso 57 anos. *** Uma parte dessa história é contada nas páginas dessa HQ. O roteiro de Paulo Biscaia Filho e a arte de José Aguiar não têm a intenção de compor um quadro exaustivo e biográfico, no sentido mais comum e tradicional da palavra. A trajetória de Febrônio é narrada sobrepondo camadas de temporalidades e acontecimentos de modo a ressaltar seu caráter descontínuo e disruptivo. Em “Agora talvez você seja compreendido”, a ficção é também um exercício transdisciplinar e narrativamente rizomático. A história contada aqui dialoga com as pesquisas do doutorado em História de Biscaia na Universidade Federal do Paraná, ainda que os efeitos de sentido e realidade que produzem sejam distintos – e possivelmente parte do público leitor também. Atenta à dimensão prática do passado, a HQ se inscreve no que chamo de uma “história gráfica”: sem a pretensão, própria à historiografia acadêmica, de oferecer uma narrativa “realista”, o que a leitora e o leitor encontrarão é uma narrativa que, não sendo real, ainda assim existiu ou pode ter existido no real. Não menos importante, “Agora talvez você seja compreendido” é a um só tempo fonte da pesquisa da qual é também extensão. Uma das intenções da investigação acadêmica de Biscaia é mostrar como as muitas narrativas sobre o “caso Febrônio”, ao tecerem diferentes versões ficcionais da personagem, compuseram igualmente aquilo que sabemos sobre ele. A novela gráfica de Paulo Biscaia Filho e José Aguiar acrescenta mais um olhar a essa multiplicidade narrativa. O resultado, como não poderia deixar de ser vindo de dois artistas e exímios narradores que já nos presentearam, nas páginas, palcos e telas, com outras tantas histórias, é intenso e complexo. E em se tratando de Febrônio Índio do Brasil, o Filho da Luz, tampouco poderia ser diferente.

Clóvis Gruner Curitiba, setembro de 2023.

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