Balonamento, projeto gráfico (desenvolvido com autor) e diagramação. Livro de HQ.

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Fernanda Baukat José Aguiar

DEBAIXO D’ÁGUA

Fernanda Baukat José Aguiar

DEBAIXO D’ÁGUA

Curitiba - 2023

Copyright © 2023 Fernanda Baukat e José Aguiar

Realização: Quadrinhofilia Produções Artísticas www.quadrinhofilia.com.br

Roteiro: Fernanda Baukat e José Aguiar

Desenhos e direção de arte: José Aguiar

Assistente: Maria Luiza Moreira

Projeto gráfico e diagramação: Aline G. S. Scheffler e José Aguiar

Revisão: Sabrina Lopes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Aguiar, José Debaixo D’água / José Aguiar, Fernanda Baukat ; ilustrações José Aguiar. -- 1. ed. -- Curitiba, PR : Quadrinhofilia, 2023.

ISBN 978-85-66235-08-1

1. Histórias em quadrinhos I. Baukat, Fernanda . II. Aguiar, José. III. Título.

23-145450

Índices para catálogo sistemático:

1. Histórias em quadrinhos 741.5

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

CDD-741.5

Dedicamos este livro

às nossas mães e a todas as mães, de todos os tempos e lugares.

Agradecemos a todas as pessoas que tornaram este projeto possível, principalmente à Fundação Cultural de Curitiba; à Celepar e à Divesa, pelo incentivo; ao Fulvio Pacheco, pelo apoio.

À nossa equipe maravilhosa, por seu trabalho incansável e impecável: Aline G.S. Scheffler, Sabrina Lopes, Malu Moreira e Carol Roehrig.

À nossa família e aos amigos, pela compreensão de que um projeto dessa dimensão demanda menos tempo de convivência: Tere, Marlene, Ismael, Joaquim, Claudia, Jasmine, Zdi, Kelley, Helena, Hallana e Max.

A todas as pessoas que nos inspiraram com a matéria viva da qual é feita este livro: Maria Juracy Aires, nossa amada doula; Aline, Ismael e Joaquim; Claudia, Jasmine e Malu; Mariana, Felipe e Tito; Bruna, Sylvain e Valentin; Ana Paula, Guilherme e Benjamin; Carlos, Ingret e Eduardo; Isabella, Raphael e Ana Clara; Mabel, Adriano e Levi.

A Arnaldo Antunes, pela trilha sonora que nos inspirou nessa jornada. Aos nossos filhos, Heitor e Violeta, por tudo.

PREFÁCIO

Este livro é uma conversa entre nós em diferentes épocas. Foi sendo construído primeiramente a quatro, depois mais quatro mãos, que chegaram e nos trouxeram toda essa bagagem que nos permite estar aqui hoje, com tantos sentimentos, mas também com tantas reflexões sobre tudo o que aconteceu e ainda ressoa em nós. Ele é o diálogo entre nossas versões mais jovens e inexperientes e nossas versões mais recentes, 14 anos depois. (Ainda e sempre inexperientes para o que ainda virá, logicamente). É o ressoar daquelas vozes desde 2009, quando nos confrontamos com nossos primeiros sonhos e primeiras vivências, primeiros esboços de roteiros, primeiros desenhos.

E este novo filho, em forma de papel, nos trouxe um desafio enorme. Mesmo sendo uma história tão íntima, não queremos falar só de nós. Muitas vezes nos questionamos sobre nossos privilégios. O primeiro foi poder ter contato com outras experiências. Isso nos obrigou a sair da zona de conforto, fugir do padrão e do que seria mais prático. Tudo isso porque eu, como mulher, me questionei o porquê de não ser respeitada no momento mais íntimo e mais confuso da minha vida. Pois é o momento em que confrontamos a vida e a morte. É o momento em que eu teria que estar mais segura e ter mais apoio, para seguir o que a natureza sabiamente fez por séculos. Mas obviamente com a segurança de ter à disposição o que a ciência e tecnologia desenvolveram, caso realmente fosse necessário.

E a essas outras experiências que dialogaram com a minha, com a nossa, sou muito grata. A primeira delas, a mais marcante e que conseguimos colocar um pouquinho na história em quadrinhos, é a história da minha mãe, Clara, que faleceu em 2003, quando minha irmã mais velha, Claudia, estava grávida da minha primeira sobrinha,

a primeira neta da família. A vida e a morte se apresentando e se complementando, para provar que é esse o grande ciclo que nos envolve.

As outras experiências, que vieram depois, são das amigas de longa data e também das amigas de que vieram com a barriga: Mariana Abbade, Aline Scheffler, Bruna Ruano, Catarina Portinho, Ana Paula Rocha, Mabel, Lucianne, Isabella Isolani, Luciana Navarro, Franciele Sander, Gladis das Santas, Elenice, Laura Janaina, Maria Studinski.

O segundo privilégio foi o de ter opções. De poder, mesmo com muito esforço, procurar, perguntar, consultar, desgostar e finalmente escolher o que achávamos mais adequado para o que buscávamos. Nem todas têm essas opções.

Naquela época, estava se começando a falar de “parto humanizado”, “protagonismo feminino” e tantos outros temas que hoje estão muito mais divulgados e familiares, mas, ainda assim, não deixam de ser relevantes. Ainda estamos numa cultura machista, em que o papel da mulher, principalmente no que diz respeito às escolhas relativas ao seu próprio corpo, é deixado em segundo plano.

Jamais vou esquecer do choque que foi entrar no mundo da maternidade, por vários motivos. O primeiro foi com poucas semanas de gestação, quando fui chamada de “mãe” por enfermeiras e enfermeiros da minha idade e até alguns mais velhos. Eu nem tinha assimilado ainda o que era uma gravidez e já era chamada assim, por desconhecidos. Esse foi o primeiro aperitivo que me prepararia para a perda de personalidade que viria a seguir. Naquele momento, você deixa de ser você, de ter seu nome, para cumprir um papel, um número, um procedimento, um meio. Será a despersonalização proposital, para que essa ex-mulher, agora mãe, cumpra esse papel sem questionamentos, sem escolhas?

Nossa história aqui contada é apenas mais uma. Ela é banal, ela é corriqueira, acontece todos os dias. Ela é brega, porque é cheia de amor. Mas ela é única. Porque cada nascimento é único. E, por ser banal, muitas vezes se esquece da mulher que está ali. E até mesmo daquele bebê que está chegando. O que é realmente melhor para ambos?

Existe uma única resposta? Obviamente que não. Mas existe informação.

E são essas experiências compartilhadas, dados científicos e informações de qualidade que, na minha opinião, deveriam ser o ponto de partida da escolha para qualquer mulher.

Quando estava grávida, li inúmeros relatos de parto. Cada um era único. Cada um ajudou a me encher de coragem para o que viria. E quando escrevi os meus relatos, cada um deles era um desabafo, uma vontade de fazer essa onda de coragem continuar, de chegar a outras mulheres, de dizer: “você não está sozinha”. Este livro, agora, é um pouco disso. Um ciclo que se fecha, recomeça e ressoa. “Não estamos sozinhas, nós somos poderosas”. Fernanda

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2 Trecho da música “Debaixo d’água”, de Arnaldo Antunes.
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Como você nasceu?

Como você quer que suas crianças nasçam?

De que forma a maneira de nascer reflete nossa forma de pensar, nossos preconceitos, nossa sociedade, nossa história?

Essas são questões que buscamos dividir com você durante a leitura deste livro. Debaixo d’água é uma história baseada em experiências muito íntimas vividas por nós entre 2009 e 2015. Um pouco antes, no ano de 2005, foi criada a Lei Federal 11.108/2005, conhecida como Lei do Acompanhante, que garante a presença de uma pessoa da escolha da mulher durante o trabalho de parto, no parto e no pós-parto. Lei que não era muito divulgada ou mesmo respeitada por médicos e maternidades, naquela época.

Durante nossa primeira gravidez, no ano de 2009, começou a haver uma maior divulgação das ideias de humanização do parto, principalmente por mães que contavam suas experiências em grupos de discussão e blogues na internet. Conceitos como “doula” ou “parto ativo”, apesar de não serem necessariamente novos, antes estavam restritos a determinados grupos que tinham acesso a livros ou cursos específicos. Hoje, 14 anos depois do primeiro contato com esse mundo, felizmente alguns desses conceitos já estão mais amplamente divulgados e começam a ser garantidos pelo poder público, por exemplo, com a Lei Estadual

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21.053 de 2022, que garante a presença de doulas em maternidades públicas no estado do Paraná. Mas, apesar dos avanços, infelizmente, ainda estamos longe de um cenário em que velhos hábitos sejam completamente mudados. Principalmente no que diz respeito à estrutura que é pensada para o parto, ainda centrada na figura no médico, em detrimento da parturiente, de seus desejos e necessidades. Em 2018, o Brasil ainda ocupava “[....] o segundo lugar no mundo em número de cesarianas. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece em até 15% a proporção recomendada, no Brasil esse percentual chega a 57%” (Fonte: Agência Senado).

Por mais que esta narrativa seja baseada em nossas vivências, este livro não é necessariamente uma autobiografia. Trata-se de uma reflexão a respeito dos processos que antecedem e culminam num nascimento. Processos, na grande maioria dos casos, banalizados por cesarianas desnecessárias, em que a mãe geralmente é reduzida a uma engrenagem, em vez de protagonista de um momento tão íntimo, mas que também pode revelar toda a sua força, muitas vezes, maior que o imaginado.

Hoje, o que era para ser um processo natural, repleto de beleza e humanidade, se torna produto comercial, cosmético e prático. Discutir essas questões no formato de história em quadrinhos foi a maneira mais sincera que encontramos para expandir esse tema tão importante para além de artigos científicos, sigilosos consultórios médicos ou matérias jornalísticas. É a forma que encontramos de lançar uma perspectiva humana e íntima sobre um tema que, acima de tudo, precisa ser tratado com carinho e sensibilidade. Sabemos que cada pessoa tem sua história, seus desafios e dificuldades e, cientes de nossos privilégios, queremos dividir nosso olhar sobre o assunto por acreditar que nossa HQ pode ser um convite à reflexão, um incentivo para o debate.

E esta é a nossa proposta para sensibilizar não somente quem já gerou uma vida, mas a todos, sobre quanto é importante decidir a forma como uma pessoa inicia sua vida em nosso mundo.

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A HQ a seguir foi o “embrião” deste livro.

Em 2011, o projeto PARTEJAR, realizado com recursos da Fundação Cultural de Curitiba, foi concebido por Fernanda Baukat, Bruna Ruano e Luciana Navarro.

Esse quadrinho foi parte de uma exposição coletiva intitulada Comparto – eu conto como foi esse caminho, com sete artistas de diferentes linguagens. Suas obras foram criadas a partir de suas experiências pessoais sobre parto, maternidade/paternidade.

A exposição desdobrou-se num evento com diversas atividades: workshop para gestantes, mostra de vídeos e debate no Goethe-Institut Curitiba.

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Fernanda e José são um casal à espera do seu primeiro filho. Gravidez e parto são coisas naturais, mas o que acontece entre essas duas etapas? Amor, fascínio, assombro, insegurança, dificuldades e burocracia fazem parte dessa jornada. Nesta obra, baseada em suas experiências pessoais, os autores relatam sua busca da melhor experiência de parto, para uma mulher que deseja dar as melhores boas-vindas a uma criança que irá nascer num dos países recordistas em cirurgias cesáreas desnecessárias.

Esta é uma história íntima, mas com a qual você pode se identificar, de uma forma ou de outra. Um convite para a sua reflexão. Afinal, quem já não foi uma vida crescendo na barriga de uma mãe preocupada, cansada, aflita ou feliz?

Realização:

Incentivo:

PROJETO REALIZADO COM RECURSOS DO PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA – FUNDAÇÃO CULTURAL DE
E DA
CURITIBA
PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA.

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