Caderno Litoral

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Sexta-feira, 24 de junho de 2011

GAZETA DO POVO Editora responsável: Anna Paula Franco litoral@gazetadopovo.com.br

Para entrar e ficar à vontade: casas de família abrem as portas para hospedar turistas em Paranaguá

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Encrustada na Serra do Mar, usina de energia elétrica também é opção de passeio no litoral

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Fantasmas em alto-mar Os quase 50 navios naufragados no litoral do Paraná atiçam o imaginário popular de quem mora ou visita nossas praias. Peças tiradas do mar contam um pouco da história da navegação naval do estado Páginas 4 e 5

Capital do siri, Antonina faz do crustáceo o carro-chefe da nova culinária local

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litoral

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Informações úteis

Programe-se

Ambulância

192

Polícia Ambiental Guaratuba

(41) 3443-6858

Corpo de Bombeiros

193

Polícia Ambiental Ilha do Mel

(41) 3426-8004

Defesa Civil

199

Polícia Ambiental Morretes

(41) 3462-2870

Polícia Civil

197

Polícia Militar

190

Polícia Rodoviária

198

Copel

0800 5100116

Sanepar Disque turismo

115 (41) 3254-1516

Procon

0800 411512

IAP (Litoral)

(41) 3422-8233

Barcas para as ilhas do Mel, das Peças, Guaraqueçaba e Superagüi

(41) 3455-2616

Ilha do Mel (controle de vagas) (41) 3455-1144

Disque-denúncia

Ecovia

Ambiental

Ferry-boats Guaratuba/Matinhos

0800 6430304

Disque-denúncia (drogas)

181

0800 410277 (41) 3472-1024

Paranaguá

Antonina

(41) 3432-1272

Hospital Regional do Litoral

(41) 3420-7400

Guaraqueçaba

(41)3482-1232

Hospital Paranaguá

(41) 3423-3466

Guaratuba

(41)3442-8192

Morretes

(41) 3462-1115

Guaraqueçaba

Paranaguá

(41) 3420-2952

Hospital Brigadeiro Eppighaus (41) 3482-1264

Pontal do Paraná

(41) 3455-1341

Antonina

Guaratuba Santa Casa de Misericórdia

(41) 3442-2271

PS Municipal

(41) 3442-8214

Hospital Dr. Sílvio Bitencourt

Linhares

(41) 3432-1244

PARANAGUÁ

recebe os turistas para a festa que reúne celebrações religiosas com eventos populares, como almoços e festas noturnas. A programação conta com shows pirotécnicos, artísticos, culturais e folclóricos, apresentações, bailes, bingos, leilões e barracas com comidas típicas e de artesanato. A festa será em frente à Igreja Matriz.

u Aniversário do município –

Paranaguá completa 363 anos e as festividades pelo seu aniversário, comemorado no dia 29 de julho, acontecem desde a segunda quinzena do mês. A partir do dia 17, a Praça 29 de Julho será lugar de eventos como o Festival de Cultura e a Feira das Nações. No dia 29 de julho serão realizados sessões cívicas em homenagem à cidade.

ILHA DO MEL

MATINHOS

u Festa da Sororoca – O Mercado

do Pescador sedia entre os dias 8 e 10 de julho a 5ª edição da Festa da Sororoca. O evento gastronômico traz diversos pratos, como sororoca na telha, na brasa e na folha de bananeira. Também fazem parte da programação exposições de, shows e competições esportivas.

u Festa da Tainha – Durante os

Terminais rodoviários

Hospitais

Hospital e Maternidade do Litoral (41) 3432-4444

Nossa Senhora dos Navegantes (41) 3452-2000

Morretes

Pontal do Paraná (Praia de Leste)

Hospital e Maternidade Morretes (41) 3462-1114

Posto 24 Horas

(41) 3972-7078

Pedágio BR-277 (ecovia) Eixos

Automóvel, camioneta ou caminhonete, furgão

Preço

2

R$ 12,50

Automóvel, camioneta ou caminhonete com semi-reboque

3

R$ 18,80

Automóvel, camioneta ou caminhonete com reboque

4

R$ 25

Motocicleta e motoneta

2

R$ 6,30

Ferry-boats Guaratuba/Matinhos

Horários

Das 6h20 às 7 horas

saída de 20 em 20 minutos, em cada um dos sentidos de embarque.

Das 7 horas às 21h30

saída de 10 em 10 minutos, em cada um dos sentidos.

Das 21h30 às 23h59

saída de 20 em 20 minutos, em cada um dos sentidos .

Durante a madrugada

saída com intervalos de uma a duas horas, em cada um dos sentidos.

Tipo de veículo

finais de semana entre os dias 22 e 31 de julho, a comunida­de de Nova Brasília serve tainha frita, assada e cozida na folha de bananei­ra. A festa também terá eventos comunitários, bingos, forró caiçara, apresentações de fandango e a escolha da rainha da festa.

u Festa da Tainha – Matinhos

realiza pela 12ª vez a sua Festa da Tainha, de 15 a 17 de julho. O evento, que acontece no balneário Gaivotas, traz variados preparos do

GUARATUBA u Festa do Divino – De 8 a 17 de julho a comunidade de Guaratuba

Matinhos

Tipo de veículo

GAZETA DO POVO

Eixos

Preço

Automóvel, camioneta, furgão

2

R$ 5

Caminhão leve, ônibus, caminhão

2

R$ 10

Automóvel e camioneta com semi-reboque

3

R$ 15

Automóvel e camioneta com reboque

4

R$ 20

Motocicletas e motonetas

2

R$ 2,50

Luas Nova

Cheia

21/07 (23:34) a 28/07

5/08 (21:54) a 13/08

Crescente

Minguante

28/07 (18:59) a 5/08

13/08 (15:55) a 20/08 (07:01)

Notas

Incentivo

peixe, como assado, recheado e na folha de bananeira.

PONTAL DO PARANÁ

u Festa do Peão de Porcadeiro

– O mês de julho é dedicado à Festa do Peão de Porcadeiro, que acontece do dia 1º ao dia 31 na Comunidade de Guara­guaçu. No evento, os participantes mostram sua habilidade em pegar o porco, imobilizá-lo e soltá-lo em um tempo mínimo, sem utilizar qual­ quer tipo de violência. O prato princi­pal do evento é o Porco no Rolete. u Pesca ao Robalo – No dia 9 de

julho o Iate Clube de Guaratuba sedia a 8.ª edição do Sul Brasileiro de Pesca ao Robalo. Mais de 350 competidores de diversos estados irão participar do evento “pesque e solte”, que terá largada às 8 horas. O festival é aberto ao público. Mais informações www. sulbrasileirodepesca.com.br.

Turismo

Começa Festival Litoral entra em guia nacional de Turismo z A primeira edição do Festival de

Turismo do Litoral será realizada entre os dias 18 e 21 de agosto, no Centro de Eventos de Morretes. Criado no ano passado, o evento se tornou mais uma iniciativa de pro­ moção do turismo na região após as fortes chuvas que atingiram o litoral no mês de março. O festival pretende reunir a co­­ munidade e o empresariado local com especialistas e o poder público para debater sobre os benefícios do turismo. No evento será realizado o seminário técnico “Turismo de Sazonalida­de”, que apresenta alter­ nativas para estimular o turismo local durante todo o ano. Na programação, ainda há feiras, exposições e apresentações cultu­ rais abertas para a comunidade e visitantes. Informações no site www.festivaldolitoral.com.br.

Antonio More/Gazeta do Povo

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z Paranaguá, Antonina e Morretes

(foto) estão entre as 15 cidades do estado escolhidas pelo Ministério de Turismo que irão participar do projeto Governança para o Turismo no Paraná. O programa apresenta os principais atrativos naturais e culturais de cada município em um site que estará disponível a partir de julho. Técnicos do ministério estive­ ram nas três cidades e classifica­ ram cada local de acordo com os

visitantes que recebem. A hierar­ quia leva em conta a mobilização de turistas internacionais, nacio­ nais, regionais e locais, além da infraestrutura de cada ponto. Além de divulgar os atrativos, o programa tem ainda o objetivo de movimentar a economia local e estimular os municípios a ofe­ recerem estrutura adequada. As cidades que não foram selecio­ nadas podem participar da segunda fase do projeto.

Expediente

Fonte: Simepar

Caderno Litoral é um suplemento es­pecial da Gazeta do Povo de­senvolvido pela editoria de Projetos Especiais. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Edito­r Execu­ tivo: Guido Orgis. Edição: Anna Paula Franco. Diagra­ma­ção: Joana dos Anjos e Allan Reis. Capa/Foto: Arquivo pessoal Mario José Natalino. Re­da­ção: (41) 3321-5494. Fax: (41) 3321-5472. Co­­mer­­cial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: projetos­espe­ciais@ga­zeta­do­povo.­com.br.­Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curi­tiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente.


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Hospedagem

Famílias de Paranaguá abrem as portas de suas residências e recebem turistas como hóspedes

2 casas foram habilitadas para receber turistas durante a primeira edição do programa Hospedagem Familiar, lançado no ano passado em Paranaguá.

Serviço Mais informações sobre o programa Hospedagem Familiar estão disponíveis no site www.fumtur.com.br

Casa de família com café, internet e academia

T

uristas que, mesmo longe de casa, procuram por um ambiente acolhedor para se hospedar encontram, em Paranaguá, a oportunidade de conhecer um novo tipo de acomo­ dação. Incentivados pela Fundação Municipal de Turismo (Fumtur) e pelo Moto Clube Robalos Rebeldes, alguns morado­ res da cidade estão abrindo as por­ tas de suas casas para hospedar visitantes. Realizado desde o ano passado, o programa Hospedagem Familiar foi criado para atender à alta demanda por hotelaria durante o Paranaguamotos – Encontro Nacional de Motociclistas, que ocorre no mês de agosto. Nas últi­ mas edições do evento, os cerca de 1,2 mil leitos disponíveis na cida­ de não foram suficientes para aco­ modar todos os participantes, que chegaram a dormir em barracas montadas nas praças. Inédito no litoral paranaense, o programa é baseado em experiên­ cias que já acontecem na Europa. Ao invés de apenas se instalar em um hotel, o turista é recebido pelo anfitrião, que cuida pessoalmente de todas as suas necessidades, durante a estada na cidade. Os valores das diárias são equivalen­ tes a hospedagens convencionais, em estabelecimentos de categoria semelhante. “A diferença é que não se presta somente o serviço, mas oferece-se um ambiente que é familiar e que favorece a troca de cultura”, destaca a coordenadora do programa, Dayanny Pires de Oliveira. O turista escolhe a resi­ dência onde deseja se hospedar pelo site da fundação e paga 50% do valor da diária para efetuar a reserva.

Vagas As famílias interessadas em rece­ ber turistas passam por uma sele­ ção, que avalia a localização e a estrutura das residências. Os moradores também recebem orientações sobre como receber bem os hópedes e indicar os pon­ tos turísticos da cidade. Assim como os hotéis, as residências são classificadas nas categorias econô­ mica, turística e superior. Na primeira edição, o progra­ ma teve 20 casas inscritas, mas apenas duas ficaram disponíveis

A

Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Entre e fique à vontade

Carolina Gabardo Belo, especial para Gazeta do Povo

Cássia Pereira investiu R$ 1,2 mil em reparos, móveis e roupa de cama para receber dez motoqueiros no ano passado.

“A diferença entre as outras formas de hospedagem é que não se presta somente o serviço, mas oferece-se um ambiente que é familiar e que favorece a troca de cultura.” Dayanny Pires de Oliveira, coordenadora do programa Hospedagem Familiar, de Paranaguá.

devido à estrutura que oferecem. Para este ano, a expectativa é con­ tar com novas famílias anfitriãs. A mobilização dos interessados já começou. A hospedagem familiar funcio­ na o ano inteiro, com possibilida­ de de acomodar visitantes durante as festas da Tainha e das Nações, que ocorrem nos próximos meses. O programa foi premiado pelo Ministério do Turismo como uma

das melhores práticas entre os 65 municípios indutores do desen­ volvimento turístico, que tem foco em investimentos nos padrões de qualidade na recepção de viajan­ tes. Os primeiros resultados tam­ bém animaram os integrantes da Fumtur, que já têm planos futuros para o programa. “Pensamos na hospedagem familiar como uma opção para a Copa do Mundo de 2014”, revela Dayanny.

participação da empresária Cassia Lisboa Pereira, 46 anos, no programa de hospedagem familiar aconteceu de uma forma inesperada. Dona de uma loja, ela não tinha ideia de como receber turistas em casa. A oportunidade surgiu a partir da mobilização da Fundação Municipal de Turismo (Fumtur) com os moradores de Paranaguá. De olho na fonte de renda extra, a empresária fez pequenos repa­ ros na estrutura, além de comprar móveis e roupas de cama, investi­ mento que chegou a R$ 1,2 mil. Com a casa adaptada, ela recebeu dez pessoas durante o encontro nacional de motociclistas, que ocuparam quatro dos cinco quar­ tos da residência. “Acolher as pes­ soas na sua família é um compro­ misso muito sério. Temos que atender a todos sem colocar fun­ cionários para prestar o serviço, senão descaracteriza o programa. Por isso foi bem puxado”, conta. Classificada na categoria superior, a casa de Cassia dispõe de TV a cabo, internet sem fio e café da manhã completo. Ela, o marido e o filho adolescente deram conta de todo o trabalho. Os lucros obtidos com a hospe­ dagem ainda não cobriram os investimentos, mas a empresária garante que fez novos amigos com a experiência. “Ficamos em um clima família. Foi muito diverti­ do.” O grupo mantém contato fre­ quente e alguns turistas já fizeram reservas na casa de Cassia para a festa deste ano. Para o hóspede Divo Vidal, que mora em Palmeira (PR), o diferen­ cial da hospedagem familiar é se sentir em casa. “Tudo é muito con­ fortável”, afirma. Ele esteve em Paranaguá no ano passado e pre­ tende utilizar mais as hospedarias familiares. Prevendo mais movimento, a empresária prepara novas melho­ rias na casa. Já montou uma acade­ mia de ginástica e ainda pretende atender à principal reivindicação dos apaixonados por motocicle­ tas: construir uma cobertura para abrigar os veículos.


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rico e Fotos: Instituto Históaguá Geográf ico de Paran

Resgate

Imagens registradas durante o resgate dos objetos do “navio pirata” em Paranaguá, em uma das últimas expedições realizadas n

Pelo menos 50 embarcações afundadas no litoral do Paraná marcam o estado como ponto importante na história naval brasileira

Carolina Gabardo Belo, especial para a Gazeta do Povo

O

movimento das marés guarda sob as águas do lito­ ral paranaense inúmeras histórias de navios que afundaram na região. Pelo menos 50 embarcações naufragaram no estado em aproximadamente qua­ tro séculos, de acordo com levanta­ mentos de historiadores. A presença dos navios afundados no litoral mostra que o Paraná teve participação importante na história da navegação brasileira. Embar­ cações que seguiam com ouro e pra­ ta passavam pelo estado para rea­ bastecer com mantimentos e tam­ bém comprar mão de obra no mer­ cado de escravos. A Baía de Parana­­ guá é a que concentra mais navios sob as águas, localizados próximo a entrada do Rio Itiberê (acesso à cida­ de pelo mar), na região das ilhas do Mel, das Peças e Superagui. Apesar da pouca visibilidade, os naufrágios representam uma possi­

Na Praia de Caieiras, durante a maré baixa, é possível ver parte do Vapor São Paulo, encalhado e tombado na Baía de Guaratuba, em 1868.

bilidade de incremento do turismo e valorização da cultura local. Junto com a história de um navio surge também o imaginário popular. “As lendas transformam a praia comum em um lugar com histórias”, explica o diretor de turismo de Guaratuba, Mario José Natalino. Há alguns anos, a história da única embarca­ ção que afundou na cidade, o Vapor São Paulo, caiu no esquecimento entre os moradores. O município investe agora na retomada de seu passado por meio de oficinas nas escolas. “Significa um resgate da cidade, em que os moradores conhe­ cem sua própria história”, analisa.

Caçadores de tesouros Incentivados pelas lendas que envolvem os naufrágios, muitos aventureiros buscam tesouros sob as águas. Os itens mais procurados são moedas de ouro, além de objetos de prata e cobre. A busca é encarada com seriedade pelos caçadores de tesouros, que investem dinheiro alto nas expedições. “A tradição oral

é muito forte e as lendas atraem as pessoas. Se existe uma história, alguém vai procurá-la”, conta o tesoureiro do Instituto Histórico Geográfico de Paranaguá, José Maria Faria de Freitas. Em muitos casos, os objetos encontrados nas embarcações ficam restritos a colecionadores par­ ticulares como forma de recompen­ sa pelo apoio ao investimento, e sequer são catalogados. Nem mes­ mo os salvados, objetos que chegam à praia com o movimento do mar, são notificados. Por isso, os museus do estado guardam pouquíssimos objetos em seus acervos. Em Paranaguá, por exemplo, res­ taram apenas alguns canhões do chamado “navio pirata”, história de naufrágio mais conhecida da cida­ de. Pesquisas apontam que alguns objetos estão em cidades longe do litoral paranaense, como a Lapa. Da embarcação de Guaratuba, um dos últimos registros é de uma empresa de Joinville que teria ficado com as peças, mas nada foi localizado.

Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Histórias guardadas sob as á

Paranaguá exibe objetos que consegue resgata Columbia, exposta na praça da cidade.

As condições em que as peças são retiradas do fundo do mar dificultam o trabalho de conservação. Em geral, os objetos são conservados de manei­ ra incorreta, o que danifica perma­ nentemente sua estrutura. “Assim a história se dissipa, como um navio perdido na neblina. Este é um patri­


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na década de 70 para recuperar partes da embarcação naufragada em 1718.

águas

Embarcações Cerca de 50 navios estão afundados no litoral paranaense. Veja as histórias mais conhecida

A

ar dos naufrágios, como a âncora do Navio

mônio coletivo e que o estado pode reverter como atração turística”, ava­ lia a arqueóloga do Museu Paranaense, Claudia Inês Parellada, que tenta remontar o quebra-cabeças da histó­ ria naval do estado com as poucas peças que restaram dos naufrágios paranaenses.

s histórias dos naufrágios ali­ mentam o imaginário popular. Os dias de maré baixa na praia de Caieiras, em Guaratuba, revelam partes do Vapor São Paulo. Em novembro de 1868, sob o coman­ do do oficial Jacinto Ribeiro do Amaral, marido da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga, a embarcação voltava da Guerra do Paraguai com cerca de 600 passa­ geiros, entre eles soldados feridos e médicos. Em meio ao nevoeiro, o vapor encalhou ao se aproximar da costa e tombou. Um soldado morreu e os demais tripulantes se abriga­ ram nas grutas e nas casas dos moradores do povoado por três dias, aguardando o resgate. Muitos suspeitam que Chiquinha Gonzaga estava a bordo do navio.

O principal argumento é de que a compositora era obrigada a acom­ panhar o marido em suas viagens. Mas nada comprovou sua presen­ ça entre os passageiros. Já em Paranaguá, os piratas são os protagonistas do naufrágio mais famoso da cidade. Entre os séculos 16 e 18, a abundância de ouro e prata nas colônias da América Latina despertou o inte­ resse de piratas, que saqueavam as embarcações que seguiam em direção à Europa.

99% dos objetos recuperados dos naufrágios no estado são perdidos antes de chegarem a museus ou institutos de preservação da memória.

Em 1718, o navio francês Le François, carregado de prata reti­ rada do Chile, seguia rumo à França quando foi atacado por piratas a bordo da sumaca Louise, próximo à costa brasileira. Conhecedora da Baía de Pa­ranaguá, a embarcação france­ sa tentou se proteger em águas paranaenses, mas foi seguida pelos piratas. Ciente do risco que se aproxi­ mava, a população parnanguara pediu proteção a Nossa Senhora do Rosário e foi atendida. Quando o navio pirata se aproxi­ mava da cidade, uma forte tem­ pestade se formou, fazendo com que a embarcação afundasse pró­ ximo à Ilha da Cotinga. Muitos piratas se salvaram e se estabele­ ceram na cidade, formando famílias que existem até hoje. Análises dos documentos recu­ perados na embarcação apon­ tam os sobrenomes Fedalto e Du Bois como de alguns dos piratas do Louise

Cormorant O cruzador da Marinha Britânica perseguia navios negreiros no litoral paranaense. Em junho de 1850, envolveu-se em uma batalha em frente à Ilha do Mel e foi atingido. O Cormorant não chegou a afundar, mas os brigues Donna Ana e Sereia foram incendiados. O Donna Ana se encontra na direção da Praia do Miguel, na ilha.

Dasland O navio saía do Porto de Paranaguá em 1970 e se chocou em outra embarcação durante a madrugada. Para não atrapalhar o fluxo de navios que de dirigiam ao porto, o Daslan seguiu para um banco de areia, onde, em dez horas, encalhou e tombou.

Argentino Assim como o Vapor São Paulo e o Daslan, o Argentino afundou depois de se chocar com um banco de areia. A embarcação está em mar aberto, próximo ao Farol das Conchas, na Ilha do Mel.

Mataripe Navio carregado de munição bateu nas pedras e acabou em frente à Praia Deserta, na Ilha de Superagui.

Conteúdo extra Veja fotos dos objetos resgatados dos navios de Paranaguá e Guaratuba e um vídeo sobre a lenda do padre que assombrava a praia de Caieiras no site www.gazetadopovo.com.br/litoral

Foto: Arquivo pessoal/Mario José Natalino

Lendas dão vida aos naufrágios


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Atração turística

Energia que vem do subterrâneo Mar, usina hidrelétrica em Antonina produz energia em uma construção incomum, aberta aos visitantes

Conteúdo extra Entenda como a energia elétrica é produzida na Usina Parigot de Souza no site

www.gazetadopovo.com.br/litoral

Carolina Gabardo Belo, especial para a Gazeta do Povo

A

Usina Hidrelétrica Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina, é um pas­ seio inusitado para quem está acostumado com roteiros con­ vencionais no litoral paranaense. Diferente de qualquer outra atra­ ção da região, a usina da Copel é pouco visitada e está instalada em cavernas criadas nos subterrâneos da Serra do Mar. Além da localização, a estrutu­ ra e o funcionamento da usina são uma atração à parte. Criada na década de 70, ela utiliza a água do Rio Capivari, que fica represada na região de Curitiba (a 830 metros acima do nível do mar) e chega a Antonina por um túnel escavado no meio da serra. A peculiaridade do roteiro começa no caminho que leva a todo o maquinário da usina. É pre­ ciso seguir de carro por um túnel

Passeio começa na descida do túnel que chega até o maquinário da usina.

com 1,1 km de extensão e desnível de 105 metros, que possui ilumi­ nação discreta. No percurso, gran­ des pedaços de rocha ficam apa­ rentes, além dos cabos de alta ten­ são que, devidamente isolados, conduzem a energia até a subesta­ ção localizada do lado de fora. A sensação claustrofóbica desperta­ da no túnel acaba assim que se chega à usina. Com iluminação branca, o ambiente não parece estar debaixo da terra. No interior das cavernas, o visi­ tante acompanha todo o trajeto que a água faz para ser usada na geração

de energia. É possível sentir a passa­ gem da água pela tubulação ao tocar nos grandes tubos, que, mesmo com vários metros de diâmetro, estre­ mecem constantemente. A imagem mais característica da usina pode ser vista da sala de comando: os quatro geradores que rodam a 514 rotações por minuto (RPM). “A energia do gerador passa para os transformadores, que ele­ vam sua potência. Depois disso, na subestação a céu aberto, outros transformadores reduzem a tensão para o consumo residencial ou industrial”, explica o assistente téc­

nico de operações Luiz Carlos Zeni. O tour pela usina não é válido apenas para estudantes do ensino regular e alunos dos cursos de enge­ nharia. É uma oportunidade para o cidadão comum conhecer todo o processo de geração de energia. “A pessoa, na sua casa, olha para este benefício na lâmpada ou na televi­ são, por exemplo, e sabe como che­ gou até ali. É possível conhecer toda a cadeia de produção, ver quantos profissionais e quanta tec­ nologia é envolvida”, explica a supervisora administrativa da usi­ na, Elaine Broska Martins.

260 megawatts Produção abastece o litoral

Tubulação leva agua da represa do Capivari até as turbinas, construídas no subterrâneo da Serra do Mar.

Fotos: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Encravada na Serra do

Assim como as demais unidades geradoras da Copel, a usina de Antonina faz uma homenagem a ex-governadores paranaenses. Pedro Viriato Parigot de Souza governou o estado entre 1971 e 1973 e também foi presidente da Copel na década de 60. Com quatro geradores ligados ao Sistema Interligado Nacional, a usina tem capacidade de produzir 260 megawatts (MW), que corresponde a 8% da capacidade total da Copel. Com esta potência, a unidade é responsável por abastecer todos os municípios do litoral do estado e parte de Curitiba. Outro diferencial da unidade é o desnível entre a represa (localizada na região de Curitiba) e a usina (em Antonina), que chega a 750 metros. No caminho entre Curitiba e o litoral,

a água percorre 22 km de túneis pelo meio da Serra do Mar e a forte pressão com que ela chega ao maquinário possibilita que a energia seja gerada com pouco volume de água. A construção da usina demorou 10 anos. Oito apenas para as escavações nas rochas e dois para a instalação propriamente dita. De acordo com a Copel, os 630 mil m3 de rochas extraídas transformadas em brita poderiam pavimentar uma estrada de 400 quilômetros de extensão. Já as 900 mil sacas de cimento gastas na concretagem seriam suficientes para construir 30 edifícios de 50 andares. Serviço O acesso à Usina Governador Parigot de Souza é feito pela PR-340. As visitas podem ser feitas somente às terças-feiras e precisam ser agendadas pelos telefones 41-3432-1120, ramais 6729 ou 6782.


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Comunidade Resgate Cisnes brancos em ação

Alunos das escolas do litoral são recebidos pelos marinheiros da Capitania dos Portos: dia de integração comunitária.

Órgão criado no império organiza o tráfego marítimo e preza pela vida do homem em portos e costas

Carolina Gabardo Belo, especial para a Gazeta do Povo

C

riada pelo imperador Dom Pedro II em 1845, a Capitania dos Portos, presente nas então províncias marítimas brasileiras, tem atribuições especí­ ficas de “polícia naval, conservação do porto, inspeção e administração dos faróis, balizamento, matrícula da gente do mar e do tráfego do por­ to e das costas”, entre outras tarefas descritas no decreto da época. No Paraná desde 1853, a organização militar ligada à Marinha Brasileira pode ser considerada uma espécie de polícia “rodoviária” e departa­ mento de trânsito – um ‘Detran’ – dos mares. Assim como ocorre nas rodovias, a Capitania dos Portos tem a missão de defender a vida humana no ambiente marinho, além de organi­ zar o tráfego aquaviário. Sem outra instituição afim no estado – como uma Delegacia Marítima ou uma Estação Naval, por exemplo – o órgão acumula funções. Ao mesmo tempo em que controla o movimen­ to de embarcações nas águas, a capi­ tania é responsável pela ação de socorro e resgates, pela emissão de

Fotos: Angel Salgado/ Gazeta do Povo

Capitania atua além do alto-mar

Gincanas e palestras envolvem as crianças no aprendizado da defesa da vida no mar.

documentos de habilitações e ainda pela oferta de cursos de ensino pro­ fissional marítimo. O combate à poluição do mar também faz parte das suas atribuições. “Nossa capita­ nia é autossuficiente e tem estrutu­ ra para dar cabo dos obstáculos que surgem”, avalia o Capitão dos Portos do Paraná e Capitão-de-Mar-eGuerra, o comandante José Henri­ que Corbage Rabello. Mesmo com tantas tarefas simultâneas, o comandante come­ mora o índice de “zero erro” no despacho de navegações que che­ gam e saem do Porto de Paranaguá, nos últimos seis meses. A unidade paranaense também se destaca como a que oferece maior número de cursos profissionalizantes em

todo o Brasil. No próximo dia 11 de julho, a Capitania do Paraná irá receber pela primeira vez o comandante da Marinha do Brasil. A presença do alto comando da corporação é considerada como o reconhecimento pelo trabalho realizado pela unidade do Paraná.

Outros horizontes As atividades relativas à segurança portuária se dividem com as ações realizadas com a população local. “Precisamos trazer a comunidade para conhecer as coisas do mar”, afirma o comandante. Em datas fes­ tivas, a população conhece de perto o trabalho desenvolvido pelo órgão. Os visitantes, em especial alunos de escolas da região, participam de

Dentro da principal missão de cuidar da vida humana no mar, os militares da Capitania dos Portos são constantemente chamados para realizar atendimentos pelo litoral paranaense. As situações mais comuns são resgates de pessoas em embarcações que ficam à deriva, muitas vezes vindas de outros estados como Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Há emergências que chamam a atenção dos militares. A mais recente foi o atendimento a uma dona de casa que mora em Guaraqueçaba e foi resgatada em trabalho de parto em alto mar. O caso aconteceu em maio deste ano, quando a mulher fazia o trajeto entre Guaraqueçaba e Paranaguá em um barco de carreira. No meio do caminho, a gestante iniciou o trabalho de parto e a capitania foi acionada. O atendimento terminou com o encaminhamento da mãe ao Hospital Regional em Paranaguá. Fora das águas, a última grande ocasião em que os militares se mobilizaram foi durante a operação Águas de Março. Membros da capitania prestaram atendimento aos municípios do litoral paranaenses afetados pelas fortes chuvas que caíram no início de março. O órgão promoveu o acesso de bombeiros, equipes de resgates e donativos às regiões atingidas.

gincanas e palestras educativas e ainda visitam as embarcações e os acampamentos. As atividades cívi­ co-militares acontecem principal­ mente em duas datas especiais: no dia 11 de junho, Dia da Batalha Naval do Riachuelo, Data Magna da Marinha do Brasil; e no dia 13 de dezembro, Dia do Marinheiro. O atendimento para liberações de documentos navais e habilita­ ções para condução de embarca­ ções acontece diariamente, no período da manhã. Para receber o público, a capitania oferece um espaço construído especialmente a este serviço. Além disso, todos os procedimentos estão em fase de informatização, para dar mais agi­ lidade aos processos.


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litoral

Sexta-feira, 24 de junho de 2011

GAZETA DO POVO

Gastronomia

Siri ganha versões na mesa caiçara

usada no preparo de

receitas que vão além

da tradicional

casquinha frita

Carolina Gabardo Belo, especial para a Gazeta do Povo

A

casquinha de siri não é o único modo de preparo do crustáceo. Ele é ingredien­ te de destaque nas refei­ ções de quem vive na praia. Os cardápios dos restaurantes do lito­ ral oferecem pratos variados pre­ parados a partir da iguaria: boli­ nho, ensopado, pastel, panqueca, quibe ou até mesmo hamburguer. Com grande produção e culiná­ ria diversificada, Antonina já é considerada a capital do siri. De acordo com estimativas da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e da Colônia de Pescadores, cerca de 400 pescadores dependem da cata do crustáceo. A atividade movi­ menta a economia do município e o número de famílias envolvidas neste mercado tende a aumentar, com a profissionalização na culi­ nária na comunidade. A cozinheira Jaci Dias Pereira, 60 anos, é uma das principais res­ ponsáveis pela popularização do siri na gastronomia local. Ela é a presidente da Associação dos Moradores do Portinho, Graciosa de Cima e Graciosa de Baixo – conhecida como Siri do Portinho – e também acompanha o marido na cata do crustáceo há quatro décadas. Para Jaci, o siri é o sustento da casa e o que financia a criação dos filhos. Ela conta que há alguns anos o ingrediente era pouco con­ sumido na cidade e destinado qua­ se que inteiramente para mercados de Santos e São Paulo, por interme­ diadores. “Depois que participei de um curso sobre cooperativismo, percebi o valor que o nosso produto tem”, conta. Foi então que come­ çou a mobilização para aumentar o consumo local, fazendo com que todos os restaurantes da cidade também investissem no prato e passassem a oferecer preparações variadas no cardápio. A criação de uma associação de moradores foi uma das ações para fomentar a produção e utilização do siri na gastronomia de

Daniel Castelano / Gazeta do Povo

Carne do crustáceo é

O risoto de siri é uma das variações do preparo do crustáceo, sempre presente na mesa do pescador e moradores do litoral.

Receita

400 pescadores

Risoto de siri para 10 pessoas Ingredientes 1,5 quilo de carne de siri 2 ½ xícaras de arroz 4 tomates ½ cebola picada Alho Sal Coentro e alfavaca frescos 1 xícara de sopa de coloral ou molho de tomate

Modo de preparo Em uma panela com pouco óleo coloque 500 gramas da carne do siri para aquecer. Em seguida, acrescente a cebola picada, uma pitada de alho, o coentro e a alfavaca picados em pedaços pequenos e deixe esquentar por poucos minutos. Depois junte o coloral ou o molho de tomate. A cozinheira Jaci orienta que devem

Antonina. Além de oficinas de artesanato e informática para geração de renda da comunidade, na sede da entidade, inaugurada em dezembro de 2008, funciona uma cozinha-escola e um restau­ rante. O estabelecimento abre nos

ser utilizadas poucas quantidades destes dois ingredientes para evitar que eles tirem o gosto do siri. Por último, adicione o arroz. Deixe refogar no modo tradicional de preparo do arroz, acrescentando água. Depois do cozimento, o arroz fica amarelado por conta do coloral ou do molho de tomate.

Molho Em outra panela, prepare o molho do risoto com os mesmos ingredientes utilizados com o arroz. O molho deve ter a consistência mais cremosa do que o risoto. Para servir, cubra a porção do risoto com o molho de siri e salpique cheiro verde fresco. Jaci sugere bolinhos de siri e salada mista como acompanhamentos do prato.

fins de semana, com cardápio à base de siri e outros frutos do mar. As receitas são das próprias cozi­ nheiras e demais mulheres da comunidade, que há décadas pre­ param os pratos com a carne do siri capturado em família.

dependem da cata de siri em Antonina, de acordo com a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e da Colônia de Pescadores.

Fresco Disponível durante todo o ano, o siri vai direto da baía de Antonina para a mesa. Os pescadores demo­ ram três horas para chegar aos pes­ queiros e saem da cidade com a maré ainda baixa. Quando vol­ tam, retiram a carne e já colocam à venda e para a produção dos pra­ tos. O ideal é retirar a carne do siri após o cozimento, em que ele é colocado vivo na panela com água fervente. Isso garante que a carne fique firme e não esfarele. No caso da carne congelada, ela deve des­ congelar dentro da geladeira. Outra dica da cozinheira Jaci é uti­ lizar temperos frescos, cortados na hora da preparação do prato. Serviço A Associação de Moradores Siri do Portinho serve os pratos feitos com siri durante os finais de semana. Rua Escoteiro Milton Oribe, 395 Portinho de Baixo, Antonina. Fone 41-3432-4851


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