Caderno de Saude - Gazeta do Povo

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Quarta-feira, 8 de junho de 2011

GAZETA DO POVO Editor responsável: Adriano Justino saude@gazetadopovo.com.br

Compare próteses removíveis e fixas e escolha a melhor

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Doença crônica do pulmão atinge tabagistas e não-tabagista

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Cozinha não é brinquedo Maior preocupação entre os pais, queimaduras acontecem mais nas férias. Você sabe onde se escondem os riscos em sua casa? Páginas 6 a 9

Produtos ganham selos, mas você sabe o que significam?

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saúde

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Notas

Eu superei

Leitura

Rafaela Bortolin

Q

Walter Alves/Gazeta do Povo

Um guia de primeiros socorros

“É muito triste acordar e não poder colocar os pés no chão e sair andando. É uma falta inexplicável.” Laura Rodrigues Rocha, psicóloga clínica.

mais de dois anos sem clinicar, sei que vai ser difícil conseguir pacientes, mas estou motivada”, diz. Sobre a receita para não se deixar abater, ela não pensa duas vezes. “Bom humor. Seria fácil ficar reclamando e desistir de tudo, mas não sou assim. Gosto muito de mim, tenho uma família maravilhosa e ótimos amigos. Não desisto do meu corpo. Quero viver intensamente.” Serviço Laura pretende prestar apoio psicológico a pessoas que passaram por uma situação semelhante a sua. Para entrar em contato, o e-mail é laura_rrodrigues@hotmail.com

Informação

Pais de crianças diabéticas têm encontro marcado

“Quero viver intensamente” uem vê a psicóloga clínica e psicoterapeuta corporal Laura Rodrigues Rocha escrevendo, conversando com os amigos e se divertindo com a família, nem imagina o esforço que ela faz para se manter sorridente. Paraplégica há mais de dois anos, ela garante: mesmo com as limitações impostas pela falta de mobilidade do corpo, não abre mão de manter o pensamento positivo. Sua vida começou a mudar em novembro de 2008. “Na época, construía uma casa. Um dia, fui visitar a obra. O portão não estava amarrado adequadamente e, quando tentei fechá-lo, ele se soltou do trilho e caiu em cima de mim. Tentei segurá-lo, mas não teve jeito”, diz. O resultado foi uma grave fratura na coluna, que comprometeu o movimento do corpo da cintura para baixo, e uma transformação radical em sua rotina. “Sempre fui muito ativa. Vivia na correria, adorava passear, acordava cedo e só ia dormir lá pela meia-noite. Hoje, tenho dificuldade de manter um dia a dia agitado porque sinto dores neuropáticas muito fortes pelo corpo”, diz. A reclamação, segundo ela, é recorrente entre as pessoas com paraplegia. E não há medicamentos que amenizem a dor. “São 24 horas por dia sentindo um incômodo parecido com queimações, agulhadas, facadas e cortes com lâminas. É terrível.” Para tentar resolver o problema, Laura diz que passa o dia procurando atividades para não ficar parada. “A preferida é escrever”, diz. E o hobby até rendeu prêmios – e um incentivo a mais para continuar lutando. “Em novembro do ano passado, me inscrevi em um concurso de escrita de uma editora e fui a vencedora. Hoje tenho dois livros prontos ainda não publicados.” Outra boa notícia é que, no fim de maio, Laura recebeu uma proposta para voltar a trabalhar. “Minha meta é retornar aos atendimentos aos poucos. Como estou há

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z O livro Primeiros Socorros – Um Guia Prático, escrito pelo médico Dráuzio Varella e Evandro Carlos Jardim, e editado pela Claro Enigma, ensina o que fazer quando os principais acidentes ocorrem e uma lista de cuidados a se tomar para que eles nem cheguem a acontecer. O livro é dividido em treze partes – pancadas na cabeça; cortes e machucados; queimaduras; insolação; choque elétrico; fraturas e entorses; distensões, torções e estiramentos; mordidas de animais; intoxicações; convulsões; engasgamento; afogamento; e parada cardiorrespiratória. Inclui uma lista de telefones úteis, como o do Samu, além de um glossário com os termos técnicos utilizados ao longo do livro. Custa R$ 16, na Livraria Cultura – www.livrariacultura.com.br

z No dia 25 de junho, sábado, das 9h30 às 11 horas, a Associação Paranaense do Diabético (Apad) promove um encontro com pais e cuidadores de crianças e adolescentes diabéticos com o tema “Deixar as crianças serem crianças”. Na pauta, adesão infantil ao tratamento, como conviver com as reações das crianças diabéticas, como os pais podem lidar com suas ansiedades e medos, adaptação à nova realidade imposta pela doença, controle alimentar e emocional. A ação

partiu de uma ideia da psicóloga clínica e professora da PUCPR, Patrícia Guillon Ribeiro, que observou que o comportamento dos pais na interação com a criança se modifica depois do diagnóstico da doença e que esse padrão comportamental parental interfere na forma como a criança lida com a diabete. Os encontros são mensais e gratuitos. A Apad fica na Avenida Iguaçu, 4.263 – Seminário. Informações pelo site www.apad. org.br e pelo (41) 3244-7711.

67% dos brasileiros Lavam as mãos uma ou mais vezes ao dia, com ou sem sabonete. O resultado do estudo internacional conduzido pelo Global Hygiene Council – conselho composto por especialistas em áreas relacionadas à Saúde e Higiene, mantido pela empresa Reckitt Benckiser – coloca o Brasil na liderança junto com a Alemanha, e na frente de outros países como Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, África do Sul, França, Malásia, Austrália, China, Índia, Arábia Saudita e Emirados Árabes.

“Cada mês de retardo na introdução de novos alimentos para bebês entre 2 e 6 meses diminui de 6% a 10% o risco de excesso de peso na vida adulta.” Virginia Resende Weffort, professora de Pediatria da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e Presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

16 a 18 de junho Acontece em Curitiba o 2º Neodent International Congress, organizado pela maior empresa de implantodontia da América Latina, a Neodent, reunindo mais de 100 palestrantes nacionais e internacionais. Informações pelo site www.neodentcongress.com

“Para cada cem mulheres, um homem é diagnosticado com câncer de mama. Ele terá chances de adquirir a patologia se tiver casos de câncer de mama na família. Além da genética, obesidade, sedentarismo e alcoolismo são fatores de risco. O tratamento para ambos os sexos é semelhante: pode ser feito com quimioterapia, cirurgia, radioterapia ou com o uso de bloqueadores hormonais.” Cleverton Cesar Spautz, mastologista da Paraná Clínicas.

Interatividade Você tem alguma história de superação? Conte para nós. Escreva para saude@gazetadopovo.com.br

Expediente Caderno Saúde é um suplemento es­pecial da Gazeta do Povo de­senvolvido pela editoria de Projetos Especiais. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Edito­r Execu­tivo: Guido Orgis. Edição: Adriano Justino. Diagra­ma­ção: Joana dos Anjos e Allan Reis. Capa/Foto: Priscila Forone. Re­da­ção: (41) 3321-5316. Fax: (41) 3321-5472. Co­­mer­­cial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: saude@ga­zeta­do­povo.­com.br.­Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curi­tiba-PR. CEP: 80.010-020.Não pode ser vendido separadamente.

Próxima edição 13 de julho

Hc faz 50 anos


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Entrevista

Uma geração de prematuros Dâmaris Thomazini, especial para a Gazeta do Povo

z Uma nova geração que começa a frequentar os consultórios pediátricos desafia os médicos. São crianças prematuras – que nasceram antes da 37ª semana – e que podem ter o desenvolvimento afetado por esta condição. Segundo a endócrinopediatra Margaret Boguszewski, professora do departamento de pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esta geração tem hoje cerca de 10 anos de idade: “O problema, que não tínhamos 20 anos atrás, é saber se os prematuros irão apresentar problemas no desenvolvimento até tornarem-se adultos”, diz. Todos os anos, segundo o Ministério da Saúde, nascem no Brasil cerca de 3 milhões de crianças, 10% delas prematuras. Desse total, os problemas de crescimento podem afetar em torno de 30 mil. “Nos próximos anos, a demanda por atendimento dessas crianças será muito grande, até pelo aumento desse tipo de nascimento devido ao alto número de gestações de gêmeos e de fertilizações com quatro ou cinco embriões de cada vez”, explica Margaret. Durante um ano e meio ela analisou o banco de dados de um laboratório farmacêutico americano com informações sobre uma pesquisa mundial em que 3.215 crianças nascidas prematuras com idade entre seis e sete anos foram medicadas com hormônio do crescimento. Os resultados desta análise internacional, que mereceu recentemente uma matéria no Journal of Clinical

Endocrinology & Metabolism, órgão de divulgação da Sociedade Americana de Endocri­no­­logia, e a observação do crescimento das crianças prematuras sem intervenção de medicamentos no HC/UFPR, foram abordados por ela em entrevista para a Gazeta do Povo.

tros. Se ela cresce mais do que isso, houve recuperação espontânea. Mesmo que o crescimento seja menor, é preciso aguardar. Na faixa de cinco a seis anos, já foi dado o tempo de recuperação espontânea necessário para ver se o ritmo de crescimento é baixo.

Existe diferença no desenvolvimento da criança prematura? O período de crescimento pós-nascimento prematuro não é tão favorável quanto o que ocorre na barriga da mãe: a criança sai de um ambiente uterino equilibrado e é exposta a intervenções externas e fica suscetível a infecções. Quando a situação estabiliza, muitas delas não recuperam a capacidade de se desenvolver plenamente.

No Hospital de Clínicas da UFPR há pesquisas com aplicações de hormônios? A intervenção é complicada, porque precisa de um órgão financiador. A medicação é cara e o estudo em crianças é mais restrito. Neste momento não existe este tipo de ação no hospital. Fazemos uma pesquisa de análise do crescimento espontâneo e resgate desses dados. O que acontece são casos eventuais de crianças prematuras que precisam de atendimento e, analisados caso a caso, elas são tratadas.

Os prematuros não conseguem produzir hormônio do crescimento? Não necessariamente. A dificuldade no crescimento não é exclusividade de quem tem deficiência deste hormônio, mas sim pela condição de prematuridade e pela necessidade de cuidados externos. Crescem menos aquelas crianças que além de prematuras são consideradas pequenas demais para a idade gestacional aferida no parto: um nascido aos seis meses, que deveria pesar um quilo, e que ao invés disso nasce com apenas 800 gramas, por exemplo. Como foi feita esta análise do banco de dados? Ela foi realizada com crianças prematuras que não recuperaram a capacidade de crescimento durante os anos e que, por isso, tinham de usar o hormônio. Um dos fatores da baixa estatura era o fato de terem nascido prematuras. Nós analisamos o primeiro ano de tratamento dessas crianças e vimos que o seu ritmo de crescimento chegou a dobrar com a aplicação do hormônio. No experimento internacional, como as crianças recebiam o hormônio? Foi usado um medicamento sintético igual ao hormônio de crescimento produzido pelo organismo. Ele foi injetado diariamente nas crianças analisadas por no mínimo um ano. Esta não é uma inter-

Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Margaret Boguszewski,

endócrino-pediatra.

“O desenvolvimento dos prematuros é uma situação mundialmente aberta. Queremos saber como isto afeta o crescimento, se o metabolismo é alterado. O atendimento hoje busca a sobrevivência desses bebês. É preciso pensar em como chegarão à idade adulta.” venção capaz de ser feita de forma massiva em toda uma população. Alguma dessas crianças já se tornou adulta para que todo o seu crescimento fosse analisado? Não, este estudo é recente. Uma primeira geração de prematuros são adultos jovens na faixa de 20 anos e que provavelmente não tiveram intervenções. Já se sabe que existe o risco de um crescimento inadequado, mas a inter-

venção foi pensada para esta nova geração, pois o tratamento do prematuro é uma ação desta década. Por que não se trata o crescimento das crianças prematuras antes dos dois anos de idade? Porque há um período mínimo para que ela mostre se tem condições de recuperar o crescimento de forma espontânea. Entre os dois e três anos de idade, a média de crescimento é de 12 centíme-

Como as crianças que não recebem hormônio se desenvolvem? É pela alimentação reforçada? Até algum tempo existia a certeza de que a criança prematura tinha que ser superalimentada: havia fórmulas lácteas especiais para prematuros, com carga calórica e proteica maiores. Hoje não é mais assim. É preciso deixar a criança se recuperar sem sobrecarregá-la, afinal seu organismo é imaturo. O importante é garantir que o bebê não desenvolva doenças secundárias que possam atrapalhar seu desenvolvimento como problemas intestinais e respiratórios. É preciso manter a criança bem nutrida, mas dar chance para que ela se recupere sem forçá-la. Em que fase da vida o hormônio do crescimento é mais importante? Ele é importante a vida toda. O bebê produz o hormônio ainda no útero, mas ele tem um papel mais intenso a partir do segundo ano de vida. No primeiro ano de idade, o que mais influencia o crescimento do bebê é a questão nutricional e de saúde. Depois que paramos de crescer, por volta dos 20 anos, a produção do hormônio diminui, mas não para, pois todos precisam dele para regular o metabolismo, manter a quantidade de massa magra e também de gordura, controlar o colesterol no sangue e manter a densidade óssea.


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compare Perdi um dente Próteses trazem de volta o bem-estar estético e reabilitam a função mastigatória Dâmaris Thomazini, especial para a Gazeta do Povo

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má higiene bucal, problemas na gengiva e situações inesperadas, como acidentes, podem acarretar a perda de um dente, que afeta não só a estética, mas também a mastigação. Nessas horas, a dúvida recai sobre a prótese que ofere-

ce mais conforto e melhor custobenefício. “Existem dois tipos de pacientes, aqueles que buscam uma harmonia na questão estética e outros que procuram melhorar a função dos dentes, que não se adaptam a certos materiais e que querem conforto acima de tudo”, cita o especialista em prótese dentária pela Universidade de São Paulo (USP) e

professor do curso de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ederson Betiol. Disponíveis nos consultórios odontológicos, as quedas ou retiradas de dentes podem ser sanadas com próteses fixas (implantes) ou removíveis, como as dentaduras, e os preços variam de profissional para profissional. A escolha do tipo de prótese influencia não só o

ato de mastigar, mas também a percepção de textura dos alimentos. “O sucesso da escolha depende do uso feito pelo paciente. Um período de adaptação razoável dura cerca de 30 dias, depois disso, em caso de desconforto, ele tem que informar o dentista”, diz a dentista Vanessa Malucelli. Caprichar na higiene bucal em todas as fases da vida é a melhor

forma de evitar o uso de próteses. “Tenho um paciente de 90 anos que têm todos os dentes, enquanto vários pacientes jovens chegam ao consultório com várias perdas”, conta Ederson. Conf ira as maneiras mais populares de resolver a perda de dentes, converse com seu dentista e escolha a melhor para o seu caso:

Saiba sobre os mais populares tipos de próteses removíveis (P.R.) e de próteses fixas (P.F.): Tipo Uso Durabilidade média Higiene Manutenção

P.R. parcial não-flexível Quando há dentes remanescentes Quatro a cinco anos Realizada fora da boca A cada seis meses, uma reavaliação da prótese, pois a gengiva pode mudar de forma, exigindo a confecção de nova base

P.R. parcial flexível Opção temporária antes do implante Três a cinco anos Realizada fora da boca A cada seis meses, para verificar o estado dos dentes da prótese

Vantagens

Custo baixo e facilidade de higienização

Segundo a cirurgiã dentista Vanessa Malucelli, que utiliza as próteses em sua clínica, tem aparência natural, sem metal ou grampo visível, e seu material é bem leve

Procedimento menos invasivo que os implantes, sem cirurgias e baixo custo

Sem cirurgias, como a raiz é mantida, a percepção da textura dos alimentos é maior

Maior eficiência mastigatória do que as removíveis e melhor estética que as parciais por não ter grampos metálicos aparentes

Para Celso Russo, vice-presidente da Associação Brasileira de Odontologia no Paraná, deve ser provisório, pois o acrílico flexível não fornece a estabili­ dade das próteses convencionais. Seu custo de confecção é similar ao de outras próteses removíveis

Eficiência mastigatória é pior do que a obtida com as próteses fixas

Risco de fratura de raiz e custo elevado das próteses

Custo elevado, procedimento cirúrgico mais invasivo do que as fixas convencionais. A substituição da raiz pode acarretar perda de sensibilidade na mastigação

R$800 a R$3 mil*

raiz R$500 a R$2 mil* prótese R$800 a R$3mil*

Desvantagens

Preço médio

Eficiência mastigatória e conforto menores do que uma prótese fixa. Têm grampos metálicos que interferem na estética

R$500 a R$5 mil

R$700 a R$1 mil

P.R total Quando não há mais dentes Quatro a cinco anos Realizada fora da boca

R$500 a R$4 mil

P.F sobre a raiz Sobre a raiz, quando ela pode ser aproveitada Oito anos, mas pode demandar manutenção Escovação normal e uso de fio dental

Obs: os preços variam entre os profissionais. A qualidade do material e a necessidade de intervenções cirurgicas também influenciam no custo. *Valores se referem a unidades de dente.

P.F. sobre implantes Substitui a raiz por cirurgia e necessita colocação de prótese Para toda a vida, mas a prótese pode demandar manutenção Escovação normal e uso de fio dental


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Especial

Curso e mudança na rotina Mãe de Vicent (de 4 anos), Catarina (de 2 anos) e Maximilian (de 40 dias), a engenheira de alimentos Gabriele Montin conta que, para evitar problemas, há dois meses ofereceu à babá das crianças a oportunidade de fazer um curso de primeiros socorros. “Ela é quem passa a maior parte do tempo com eles e queria que tivesse noção do que fazer em caso de algum problema. Foi um investimento na saúde deles e uma forma de me sentir mais tranquila enquanto estou trabalhando”, diz. Para Patricia da Silva Ribeiro, a babá, o curso mudou bastante a rotina da casa. “Sempre me lembro das dicas. Quando ia passar roupas, por exemplo, não tomava cuidado com o ferro. Agora, deixo fora do alcance deles e reforço que eles não podem mexer.”

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Queimad um descuido, muitas sequelas

Temperaturas em declínio e férias à vista tornam a c

risco de queimaduras. Acidente é o que mais preocu

Segura. Ferimentos têm tratamento longo, doloroso

Daniel Castellano/Gazeta do Povo

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Rafaela Bortolin

Problemas mais comuns

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Entre os acidentes domésticos mais comuns, a queimadura exige atenção principalmente pelas consequências que ela traz para a vida da criança. Além da dor no dia do evento, há o processo de internação e recuperação, que pode durar meses. E quanto maior a área queimada, maior o risco de morte. “Mesmo que sobreviva, a criança tem sua qualidade de vida totalmente comprometida pelo acidente”, comenta Aramis Lopes, médico pediatra e presidente do departamento de segurança da criança e adolescente de Sociedade

arrinhos de controle remoto e ursinhos de pelúcia espalhados pelo quarto, bonecas com todo tipo de roupinhas e jogos de montar. Para as crianças até os 6 anos, tudo isso fica em segundo plano. A maior diversão é se aventurar pela casa, testar os limites e mexer em tudo para descobrir o que cada objeto faz. O cômodo preferido? “A cozinha. Tanto que cerca de 72% das queimaduras em crianças acontecem lá”, diz José Luiz Takaki, chefe do Serviço de Queimados do Hospital Evangélico. Estatísticas da ONG Criança Segura de 2010 revelam que a queimadura é o tipo de acidente que mais preocupa os pais e cerca de 71% deles tomam medidas em casa para evitála. E para prevenir, os especialistas são unânimes: o cuidado é permanente, e deve ser redobrado nas férias – quando as crianças ficam mais tempo em casa, geralmente ociosas. “Queimadura não é acidente. Por trás de cada criança queimada, existe pelo menos um adulto que foi negligente, mesmo que por alguns segundos. Esse momento de descuido é suficiente para desencadear ferimentos graves”, alerta Takaki.

“As queimadur são os maiores o organismo hu sofrer. Quando é uma criança, consequências ainda mais tris

David de Souza Gomez, médico responsável p Clínicas da Faculdade de Medicina da Universid


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duras:

Onde mora o risco Algumas medidas são essenciais para evitar que as crianças se queimem. Veja os acidentes que mais acontecem, a idade de maior risco e como evitá-las: Na cozinha 1 u A criança tenta se apoiar na tampa

do forno para andar. Mesmo depois de algumas horas desligado, ele ainda está quente e o bebê queima as palmas das mãos. u A criança corre pela cozinha,

esbarra nos cabos das panelas e elas caem no chão, derrubando água ou alimentos fervendo, o que causa queimaduras principalmente na cabeça, nos braços e no pescoço. u Os pais esquentam algum alimento

cozinha um perigo para as crianças, expostas ao

upa as mães, segundo estatísticas da ONG Criança

o e pode deixar sequelas

Brasileira de Pediatria (SBP). E o perigo não está tanto no processo de queimadura, mas nas inúmeras infecções que a criança pode pegar a partir desta lesão. São bactérias, vírus, vermes e fungos que aproveitam o tecido exposto para entrar no corpo e comprometer seriamente a saúde da criança durante todo o período de recuperação. “A queimadura deixa sequelas físicas e psicológicas que podem ser permanentes. A criança muda depois de uma queimadura: ela passa de uma vida saudável, fazendo normalmente suas atividades, para uma em que

ras profundas s traumas que umano pode o o paciente , as s são stes.”

pelo setor de queimados do Hospital das dade de São Paulo.

ou bebida no micro-ondas. A criança abre a porta do aparelho, derruba o conteúdo do recipiente e queima as mãos e o tórax.

Idade de mais risco Todas. Desde o bebê a partir dos oito meses, quando começa a engatinhar, até crianças no fim da infância.

tem que conviver com cicatrizes, precisa de acompanhamento permanente no hospital e sente vergonha das sequelas que ficam no rosto e no corpo”, diz Ingrid Stammer, mobilizadora da ONG Criança Segura. Mas os problemas não se limitam à saúde dos pequenos. Para os pais e responsáveis, o processo de recuperação também é doloroso. “Primeira­mente, vem a culpa de quem deveria estar cuidando da criança e se sente mal por ter deixado isso acontecer. Depois, vem a dificuldade do pai e, principalmente, da mãe, em diminuir o ritmo de trabalho ou até abrir mão dele para acompanhar o filho por meses no hospital em casos mais graves.”

Prevenção Cerca de 90% dos acidentes domésticos com crianças poderiam ser evitados se as pessoas seguissem as dicas de prevenção que a maioria dos adultos conhecem, mas que poucos põem em prática. “Queimaduras não são fatalidades, mas eventos que podem ser prevenidos”, alerta Maurício Pereima, cirurgião pediátrico e diretor científico da Sociedade Brasileira de Queima­duras (SBQ). “Os pais e responsáveis precisam sair da zona de conforto do ‘acontece na casa dos outros, não na minha’ eu

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Na churrasqueira u A criança pega álcool líquido, fósforos

ou isqueiros e tenta acender uma fogueira, lareira ou churrasqueira. u Um adulto ou outra criança joga

álcool líquido no carvão em brasa. A chama explode na sua direção.

Idade de mais risco Crianças a partir dos 5 anos.

Como prevenir Verifique se você realmente precisa ter líquidos inflamáveis em casa. O álcool líquido reage de maneira violenta ao fogo, com explosões. Troque-o pelo produto em gel, que oferece menos riscos. Guarde fósforos e isqueiros em armários trancados com cadeado e, na hora de usar a lareira, prefira as pastilhas sólidas próprias, ao invés do álcool.

Na despensa u A criança se queima com algum

produto de limpeza.

Como prevenir

Idade de mais risco

Coloque um portãozinho impedindo o acesso à cozinha. Explique que só os adultos podem entrar ali desacompanhados. Evite que ela fique próxima ao fogão quando alguém cozinha e não a deixe passar perto do forno mesmo horas depois do uso. Deixe as panelas nas chamas do fundo e os cabos virados para dentro.

Todas

Na cozinha 2 Os pais ou responsáveis têm o hábito de se alimentar ou pegar chaleiras, panelas, copos, xícaras e pratos quentes com o bebê no colo. Ele põe as mãos no recipiente, a peça vira e queima tanto o corpo da criança quanto dos adultos.

Como prevenir Não deixe líquidos inflamáveis e produtos de limpeza, como álcool, querosene, desinfetantes, soda cáustica, alvejantes e limpadores de forno, ao alcance da criança. Coloque estes produtos em armários trancados com cadeado.

Em toda a casa u Curiosa, a criança coloca o dedo ou

algum brinquedo na tomada, leva um choque e queimaduras nos dedos e braços. u Como os fios de aparelhos eletrônicos,

criança. O melhor é arrastar algum móvel, como uma mesinha, que dificulte o acesso às tomadas e fios.

Na sala de jantar u Ao tentar se apoiar para andar ou

curiosa com o que está na mesa, a criança puxa a toalha e os pratos e panelas quentes caem sobre ela.

Idade de mais risco Até os 6 anos.

Como prevenir Prefira toalhas menores, que cubram somente a mesa e não deixem sobras, e ensine a criança a não puxá-las.

No banheiro/no quarto u A criança se queima com a água do

banho. u Com a mamadeira quente demais,

a criança tem queimaduras nas mãos, lábios e boca.

Idade de mais risco Até 2 anos.

Como prevenir Se a criança toma banho em uma bacia ou banheira, comece com água fria e, só depois, água morna. No chuveiro, o processo é o mesmo. O ideal é testar a água com o dorso da mão ou o punho para verificar se está adequada – o cotovelo não é indicado porque a medida de temperatura não é regular nessa área. E não caia na tentação de esquentar um pouco mais só porque é inverno. Como os adultos têm a pele mais resistente, tendem a sentir as coisas mais frias do que realmente estão para os bebês. Faça o mesmo teste com mamadeiras, copos e xícaras.

Até 2 anos.

como tevê, DVD e computador, ficam aparentes e acessíveis, a criança os coloca na boca, gerando um choque e queimaduras nos lábios e boca.

Como prevenir

Idade de mais risco

Idade de mais risco

Enquanto cozinha, come, bebe líquidos quentes ou com panelas e utensílios aquecidos em mãos, não fique com a criança no colo e a deixe no carrinho, em um cercado ou algum lugar afastado.

Até os 4 anos.

Até 5 anos.

Como prevenir

Como prevenir

Coloque protetores ou pedaços de fita isolante nas tomadas e confira se todos os fios elétricos estão bem encapados e fora do alcance da

Não deixe o ferro em lugar de fácil acesso e, na hora de passar as roupas, fique em um cômodo reservado, longe das crianças.

Idade de mais risco

Na lavanderia A criança puxa o fio do ferro de passar roupas e ele cai sobre ela.


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Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Especial

Explicar é fundamental

Curso

Vicent e Catarina apenas brincam de colocar a mão na tomada. A mãe deles, Gabriele Montin, segue a à risca a lição de especialistas no assunto: limitar o acesso às tomadas e sempre explicar por que cada lugar pode ser perigoso. Ela faz de tudo para que os filhos não sofram queimaduras. “Quando era criança, meu irmão de dois anos se queimou e a recuperação foi um processo tão longo e sofrido que não meço esforços para que isso não aconteça com eles”,

O Espaço de Desenvol­­vimento Criança em Foco oferece cursos de Primeiros Socorros para pais e responsáveis. O próximo acontece no dia 30 de junho, às 14 horas, e a inscrição custa R$ 80. Informações no www.criancaemfoco.com.br

agir para evitar situações de risco”, diz David de Souza Gomez, médico dermatologista e responsável pelo setor de queimados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Prevenir exige menos trabalho do que se possa imaginar. O passo decisivo é os pais se reunirem com o cuidador ou babá e transmitir as orientações de forma clara para todos. “Os mesmos cuidados e regras valem tanto para o pai e a mãe quanto para a babá”, diz Vanessa Maria Freitas, enfermeira e professora do curso de Primeiros Socorros do Espaço de Desenvol­­ vimento Criança em Foco. Quanto às crianças, tudo deve ser explicado de maneira educativa. “Não basta isolar as tomadas com protetor porque, conforme ela cresce, descobre um jeito de tirálos. Ela sempre tem que saber o porquê dos cuidados”, diz Ingrid. Explicar tudo detalhadamente à criança é uma forma de ela saber o que fazer caso vá a algum lugar que não tem as adaptações feitas na casa dos pais. “Os filhos podem passar as férias na casa da avó ou um

fim de semana na casa de um amiguinho e não encontrar o ambiente tão seguro. Se ela conhece os perigos, vai se cuidar”, diz Nadia Almeida, médica dermatologista do Hospital Pequeno Príncipe.

Em cada idade Até os 4 anos, quando as crianças são mais curiosas e querem conhecer tudo que há dentro de casa, a preocupação deve ser passar as informações de maneira lúdica, dentro do seu nível de compreensão. “Ela ainda não tem uma associação clara que o fogo machuca, então explora a casa de maneira ingênua, sem saber muito bem o que está fazendo. Por isso, converse, mostre que frio e quente são diferentes e podem machucar”, orienta Ingrid. Depois dessa idade, o melhor é investir na conversa e aproveitar situações oportunas. Sempre que surgir um gancho, como a criança contar que um coleguinha de escola se queimou, pergunte o que ela sabe sobre isso, traga outros exemplos e dialogue, mas nada de mostrar imagens fortes ou fazer ameaças, o que pode ter o efeito contrário.

Atendimento Nada de receitas caseiras O que não faltam são receitas caseiras para aliviar a dor da queimadura e acelerar a recuperação. De creme dental a pó de café, passando por leite condensado, margarina, clara de ovo, gelo e enxaguante bucal, a variedade de produtos é grande, mas os especialistas são categóricos: esqueça todos eles. “Ao invés de ajudar, isso atrapalha, porque aumenta as chances de infecção e não interrompe o processo, a ferida continua queimando e o médico perde tempo tendo que limpar totalmente o local. Como esses produtos costumam grudar na queimadura, a limpeza agride a ferida e causa ainda mais dor à pessoa”, explica David de Souza Gomez, cirurgião plástico e médico responsável pelo setor de queimados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Por isso, a primeira orientação – mesmo em queimaduras com produtos químicos – é lavar a área com água corrente em temperatura

ambiente por cerca de 10 minutos, o que interrompe o processo de queimadura, alivia a dor e retira toda a sujeira. Não use soro fisiológico e não abane o local, o que pode agravar o ferimento. Depois, coloque um pano limpo molhado em cima da região afetada e encaminhe a pessoa para atendimento médico. “Se a roupa estiver grudada, não tente tirá-la, para não lesionar ainda mais a região e, em caso de queimadura elétrica, antes de tocar na criança, corte a energia para evitar que você também se queime”, recomenda Aramis Lopes, médico pediatra e presidente do departamento de segurança da criança e adolescente de Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Em Curitiba, os pacientes devem ser encaminhados para o Hospital Evangélico, referência no atendimento a queimados. Serviço Hospital Evangélico – Alameda Augusto Stellfeld, 1.908 – Bigorrilho. Telefone: (41) 3240-5000.


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Tipos As queimaduras são classificadas em três tipos, conforme o nível de agressão à pele: u Primeiro grau: bastante

frequente, ocorre com a destruição da epiderme, a camada mais superficial da pele. Ela fica vermelha e dolorida, mas os sinais somem em uma semana, não há bolhas e, após a cicatrização, não ficam marcas. u Segundo grau: compromete

a epiderme e a derme, uma camada mais profunda da pele. Causa dor intensa e bolhas. As mais superficiais demoram entre 10 e 15 dias para melhorar, enquanto as mais profundas levam pelo menos três semanas. Em ambos os casos, após a cicatrização, o local fica com uma cor diferente da que era antes, destoando do restante. Se a queimadura for profunda, a cicatriz tende a ficar em altorelevo. No caso de áreas de articulações pequenas, como dedos das mãos ou dos pés, o acidente gera uma limitação funcional e a pessoa perde o movimento dessas partes. u Terceiro grau: destrói

completamente a epiderme e a derme e compromete outros tecidos, como músculos, ossos, nervos e gordura, o que causa sequelas estéticas e funcionais. Não dói, porque a queimadura destrói as terminações nervosas. O paciente deve ser operado para que seja realizada a reconstrução do tecido lesado (enxerto). As partes implantadas ficam mais escurecidas que o restante da pele, enrugadas, com bordas mais altas e com suas funções limitadas. Com isso, a criança perde o movimento da região afetada. O tempo de recuperação varia, mas é de pelo menos um mês e pode chegar a vários anos. Em casos mais graves, o ferimento pode levar a amputação de áreas como dedos, mãos e pés.

“Para cada morte de criança por queimadura, há quatro outras que ficam com sequelas para o resto da vida.” Ingrid Stammer, mobilizadora da ONG Criança Segura.

Bolhas e “casquinhas” geralmente aparecem em queimaduras mais profundas e não devem ser drenadas (furadas) em casa. Este procedimento só pode ser feito em ambiente hospitalar, com autorização do médico responsável pelo atendimento, já que isso facilita a entrada de bactérias na lesão, levando a infecções. Da mesma forma, pomadas, analgésicos e anti-inflamatórios só podem ser usados com indicação médica.

“Mesmo que os médicos tratem da melhor maneira possível, a marca vai acompanhar a criança por muito tempo. Possivelmente, para o resto da vida.” Aramis Lopes, presidente do departamento de segurança da criança e adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Interatividade Hoje, às 15 horas, o médico, Manoel Alberto Prestes, do Serviço de Queimados do Hospital Evangélico, participa de uma conversa em tempo real subre queimaduras de crianças. Entre no site www.gazetadopovo.com.br e participe.

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Walter Alves/Gazeta do Povo

Muito cuidado desde cedo Francisco tem apenas 6 meses e está começando a engatinhar, mas a mãe, a farmacêutica Caroline Luise Prochaska, não descuida um minuto. Por enquanto, o maior perigo está na curiosidade dele. “Ele é tranquilo, mas bem curioso, então não tomo chá ou como qualquer coisa quente com o Francisco no colo. Tenho uma amiga que se queimou porque estava tomando café com o filho no colo e ele derrubou a xícara nela. Para evitar isso, ou o Francisco fica no carrinho ou longe o suficiente para que não consiga me alcançar”, diz. Segundo ela, o maior dos cuidados é explicar para o filho, desde pequeno, o que ele não pode fazer. “Conforme ele for crescendo, vou ensinando o porquê de tantos cuidados, para que ele tenha consciência dos perigos.”


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saúde

Quarta-feira, 8 de junho de 2011

GAZETA DO POVO

Doença crônica

Pulmões em frangalhos Bronquite crônica e enfisema pulmonar prejudicam gravemente quem fuma ou fica exposto a fumaça por diversos anos

Dâmaris Thomazini, especial para a Gazeta do Povo

P

rimeiro surge a tosse, justificada pelo avanço da idade. Depois vem a falta de ar para atividades corriqueiras, explicada pelo sedentarismo. Logo fica claro que esses sintomas se referem a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), um mal incapacitante e irreversível que atinge um milhão de brasileiros. No centro do problema, o tabaco, que agrava esses desgastes e que geralmente não sai da rotina do paciente, mesmo após a confirmação da doença. A DPOC se estabelece lentamente e principalmente em fumantes com mais de 40 anos, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A pessoa imagina que nada grave está acontecendo mesmo com uma progressão aparente da perda da capacidade respiratória.

Não apenas fumantes Os pneumologistas alertam que, além dos fumantes, a doença pode afetar também aqueles que trabalham em ambientes com fumaça, como petroquímicas e carvoarias, e até quem faz uso constante do fogão a lenha. “O doente com DPOC sofre com dois grandes problemas no pulmão: o enfisema, que destrói o órgão e produz grandes furos no tecido pulmonar, e a inf lamação dos brônquios, ou bronquite crônica, que o faz produzir e acumular muita secreção. Este quadro é irreversível, pois não há como reconstruir os tecidos destruídos e, além disso, a bronquite pode acarretar fibrose da estrutura pulmonar”, detalha o pneumologista Jairo Sponholz Araújo, do Hospital das Clínicas da Univer­s idade Federal do Paraná. No Brasil, de cada 10 homens vitimados pela bronquite crônica e enfisema pulmonar, oito são tabagistas. Nas mulheres, este número cai para seis.

“A DPOC se desenvolve quando o fumante atinge uma carga tabágica igual a 20: um maço por dia durante 20 anos, assim como dois maços por dia durante 10 anos.” Jairo Sponholz Araujo, pneumologista do Hospital de Clínicas.

Taxi para andar meia quadra Fumante há 56 anos, Joana Deda, 73, está em tratamento da DPOC no HC, em Curitiba. Segundo ela, os sintomas foram percebidos há cerca de 10 anos. “Eu sentia uma canseira até para atravessar a rua e chegar ao hospital. Antes eu fumava um maço inteiro por dia e agora fico só em três ou quatro cigarros. Estou usando o remédio receitado e assim o fôlego fica melhor”, conta ela. Sua filha, Rosa Deda, conta que há um ano precisou chamar um taxi para que Joana pudesse percorrer meia quadra e chegar até um dos ambulatórios do HC sem sofrer com a falta de ar. Com o tratamento, estas crises não aconteceram mais. Os medicamentos mais usados para melhorar a capacidade respiratória do paciente com DPOC são os broncodilatadores, mas o maior problema, segundo os médicos, é fazer com que a receita seja seguida de forma correta. “Este é o grande desafio com os pacientes: um remédio receitado para ser utilizado quatro vezes ao dia, por exemplo, tem adesão de 30%, já o de utilização única tem adesão de 80%, porque o tratamento interfere menos na rotina do indivíduo”, explica Jairo. Lançamentos da indústria farmacêutica já conseguem suprir esta demanda pela utilização do dilatador uma vez ao dia. No entanto, antes de usar a medicação, o primeiro passo a ser dado é parar de fumar. Paulo Sandoval, pneumologista do Hospital Cajuru, explica que os remédios servem para aliviar os sintomas da perda da capacidade funcional dos pulmões, porque a doença não tem cura: “Os broncodilatadores são utilizados para que o doente tenha uma sensação de conforto e um melhor desempenho em suas atividades diárias”, esclarece. Em casos graves, além dos broncodilatadores, o paciente precisa utilizar anti-inf lamatórios e tubos de oxigênioterapia domiciliar prolongada, o que interfere em todas as suas atividades diárias, afinal terá suas ações limitadas ao comprimento da mangueira que leva oxigênio a ele. “O paciente em estágio mais avançado sente dificuldades até para pentear o cabelo, isto torna-se um esforço sobrenatural”, observa Paulo.


GAZETA DO POVO

saúde

Quarta-feira, 8 de junho de 2011

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De olho nos selos Certificações em

Rafaela Bortolin

produtos são úteis, mas é preciso conferir se são feitas por órgãos isentos e se o produto cabe na sua dieta

A

batalha disputada nas gôndolas tem um reforço de peso: os selos e frases de efeito que “garantem” o caráter saudável de determinado alimento: entre eles figuram selos de sociedades, federações, associações médicas e empresas dos ramos médicos e alimentício, e expressões associadas a aprovação de determinadas classes de profissionais de saúde. Os selos chamam a atenção, prometem uma série de benefícios e, para muitos, são o fiel da balança na hora das compras. Mas os especialistas recomendam: antes de

Eles são confiáveis Veja as características dos principais selos emitidos por entidades médicas no Brasil: Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) Certifica alimentos que comprovem o oferecimento de benefícios à saúde, principalmente em relação à prevenção de doenças cardiovasculares. No selo, o símbolo da SBC vem acompanhado por uma frase que destaca a característica mais benéfica encontrada no alimento. São treze tipos diferentes de classificações, como “rico em fibras”, “reduzido teor de sódio” e “baixo teor de gordura total”. Para mais informações, o site é http://prevencao.cardiol.br/selo

Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) É emitido para produtos que comprovadamente fazem bem à saúde do estômago e dos intestinos e auxiliem na prevenção a doenças do aparelho digestivo. Todos os critérios de avaliação estão na página www.fbg.org.br.

Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) O selo “Alimento Saudável” tem como objetivo certificar alimentos com reconhecida qualidade nutritiva e eficiência na prevenção de doenças carenciais e de doenças transmitidas por alimentos (DTA), como toxinfecção, intoxicação alimentar, infecção alimentar e intoxicação química. Para saber mais sobre o selo, o site é www.abran.org.br.

Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) Certifica produtos com teores seguros de sódio, colesterol, gordura saturada e gordura trans para pessoas diabéticas ou que queiram prevenir a doença a partir de uma alimentação balanceada. Informações pelo www.diabetes.org.br

encher o carrinho do supermercado com produtos com selos de garantia, o consumidor deve ficar de olho no rótulo e garantir a isenção da certificação. “É preciso atenção para não cair em propagandas exageradas ou até falsas”, recomenda a nutricionista e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Gisele Raymundo. Para evitar problemas, leia com atenção o selo do alimento antes da compra e confira se é emitido por um órgão idôneo e de confiança, como sociedades, federações e associações que congreguem profissionais da Medicina. Citações como “aprovado pelos médicos”, “recomendado pelos cardiologistas” e “o preferido dos nutricionistas”, desacompanhadas de símbolos de entidades médicas, devem gerar desconfiança. Quanto aos selos emitidos pelas próprias empresas fabricantes do produto, o melhor é desconfiar e sempre procurar outras referências. “O ideal é não se deixar levar pelo marketing da embalagem e exigir uma garantia emitida por uma entidade imparcial, de preferência formada por médicos e pesquisadores da área de Saúde”, comenta Carlos Alberto Nogueira de Almeida, médico nutrólogo e diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Um ponto importante para não cair em ciladas é que, mesmo com recursos como selos de garantia, os consumidores não abram mão de ler atentamente os rótulos dos produtos, comparar as tabelas nutricionais de marcas diferentes e, principalmente, entender a composição do que estão levando para casa, se há compatibilidade com suas necessidades diárias.

Vantagens e ressalvas Segundo a professora Gisele, os selos de associações e sociedades médicas são importantes porque informam e dão oportunidade ao consumidor de optar por uma alimentação mais saudável. “Sempre que uma sociedade de profissionais endossa um produto significa que ele tem qualidade suficiente para ser consumido e, principalmente, que os nutrientes e benefícios alegados pela empresa produtora realmente são oferecidos.” Não só de selos se faz uma escolha. Porém, mesmo oferecendo uma série de benefícios, que vão desde a oferta de fibras até o baixo

Antônio More / Gazeta do Povo

Alimentação

Diabética, Fabíola confia nos selos, mas fica de olho na quantidade de gordura.

“Além de esclarecer a população sobre os benefícios dos alimentos certificados, os selos são uma forma de cobrar e estimular as empresas a investir em um alto padrão de qualidade em seus produtos.” Carlos Alberto Nogueira de Almeida, médico nutrólogo e diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

nível de colesterol e sódio, os alimentos certif icados também merecem atenção na hora do consumo. “Não é bom exagerar no consumo de um produto, nem mesmo fazer dele a única fonte nutricional do dia. O princípio básico é que esses alimentos só agem de maneira benéfica no organismo se forem combinados com uma alimentação balanceada e a prática regular de exercícios físicos”, explica Almeida. No caso das pessoas com problemas de saúde, a ressalva é ainda mais importante. “Antes de incluir qualquer produto na dieta, consulte um nutricionista para verificar a quantidade que pode ser consumida. Às vezes, a margarina é fonte

de fibras e ômega 3, mas tem índices de gorduras que merecem atenção e deve ser consumida em pequenas quantidades, especialmente entre os que têm problemas cardiovasculares”, recomenda Gisele.

Nas compras

Na casa da farmacêutica Fabíola Zacarias, ler atentamente a embalagem dos alimentos é fundamental na hora das compras. Diabética há mais de 20 anos, ela fica atenta à tabela nutricional dos alimentos e dá preferência aos que têm selos, principalmente o da Sociedade Brasileira de Diabete. “É comum produtos doces, feitos para diabéticos, terem excesso de gordura para compensar a falta de açúcar. Sei que este selo atesta não apenas a inexistência de açúcar, mas que o alimento é saudável.” Fabíola trabalha na Associação Paranaense de Diabéticos (Apad), e acompanha pessoas que vão ao mercado anexo à sede da entidade. Ela conta que ainda são poucas as que procuram os selos dos alimentos. “É uma pena, mas cabe aos consumidores se conscientizarem sobre as vantagens disso e cobrarem também das empresas produtos mais saudáveis.”


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saúde

Diagnóstico

Sonhos no laboratório

Veja como é feito o

exame que detecta

distúrbios do sono,

realizado no hospital

Vita Batel

Dâmaris Thomazini, especial para a Gazeta do Povo

Quarta-feira, 8 de junho de 2011

GAZETA DO POVO

1º passo

6º passo

Por volta das 21 horas, o paciente chega ao hospital e preenche um formulário sobre as características do seu sono, com o técnico de monitoramento do quarto. Ele relata se sofre com insônia, bruxismo (ranger de dentes), ronco, apneia ou outros distúrbios.

Perto das 7 horas da manhã, o paciente é acordado e todos os dados coletados são analisados. Dentro de uma semana sai o diagnóstico. Alguns planos de saúde cobrem os custos do exame, mas um teste particular pode sair em torno de R$ 500.

2º passo Ele veste um pijama e, com um travesseiro, para tornar o processo um pouco mais aconchegante, se retira para a sala onde irá dormir e ser observado.

3º passo Em um ambiente similar ao de um quarto de hotel e isolado acusticamente, o paciente recebe faixas no tórax e no abdome, além de eletrodos na cabeça e nas pernas, para registrar movimentos que podem acontecer durante a noite. Tem início a polissonografia, como é chamado o exame.

5º passo Enquanto o paciente dorme, um técnico do hospital passa a noite em claro e monitora toda a sessão com ajuda de câmeras e computadores que registram a função cerebral e respiratória, o movimento abdominal e da caixa torácica, além da quantidade de oxigênio no sangue.

4º passo Muitas vezes a pessoa tem tanta dificuldade para adormecer e sofre tanto com isso, que mesmo com eletrodos e faixas, e em um ambiente estranho, ela consegue dormir rapidamente, na esperança de finalmente descobrir o que a atrapalha.

Fonte: Ester London, neurologista chefe do serviço de polissonografia do hospital Vita Batel.


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