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CAPÍTULO DOIS
Dois anos depois
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— AH, CACETE. NÃO. — FIQUEI COMPLETAMENTE IMÓVEL NA FRENTE DO motorista. — Me diz que isso é algum tipo de piada.
Eu não o tinha visto desde que ele me levou para casa naquele dia, anos atrás, mas eu tinha descoberto seu nome e algumas outras coisas: Nathaniel Bradley, o animal de estimação favorito do meu pai. Ele estava atualmente entrando em no curso de Negócios na NYU, o que eu admito ter sido algo impressionante. O que não impressionava era ouvir meu pai falando dele o tempo todo. Isso era insuportavelmente irritante. Foi surpreendente que, quando fui visitar meu pai, Nathaniel não estivesse sentado em seu colo como um cachorro ganhando carinho ou algo do tipo.
Se bem que, analisando bem, percebi que ele não caberia no colo do papai. Nathaniel claramente deixou de lado aquele visual magrelo e ossudo para se transformar em um cara que parecia viver de chuteiras, ombreiras e que fazia parte das fantasias de todas as mulheres. Nathaniel sorriu enquanto eu olhava boquiaberta para ele, o que me fez deixar de lado os pensamentos estúpidos. Sim, ele estava devastadoramente bonito. Não, eu não o desejava, e definitivamente não queria que ele pensasse isso.
— Vim te levar para o baile.
— Prefiro caminhar.
— Nesses saltos? — Seus olhos viajaram lentamente pelo meu corpo até chegarem aos meus sapatos. Lutei contra a vontade de me cobrir. Não era como se ele estivesse olhando para mim de um jeito bizarro, tipo, eu-te-quero ou algo parecido, mas esse cara, por mais irritante que fosse, era realmente muito bonito, o que deixava a coisa toda estranha. Por que meu pai contratava caras gostosos para me levar para os lugares? Quer dizer, não eram caras no plural, porque eu duvidava que houvesse muitos que se parecessem com Nathaniel. Eu observei a expressão divertida em seu rosto, me lembrando de como ele foi desagradável da última vez, e imediatamente expulsei de mim a atração quando vi seu olhar satisfeito.
— Eu tiro se for preciso.
— Você? — ele zombou. — Você já andou descalça alguma vez na vida, princesa?
— Não me chame assim. — Revirei os olhos e passei por ele, me acomodando no banco traseiro do carro.
Se ele fosse me levar, deveria haver limites claros entre nós dois. Ele era empregado do meu pai, o que significava que era meio que meu empregado também, então eu não tinha que me dirigir a ele. Na verdade, a maioria dos funcionários de papai eram da família, e mesmo aqueles que não eram me tratavam como se eu fosse da família deles, então eu nunca pensei em criar algum tipo de separação entre mim e os funcionários. Eu não ousaria. Mas esse cara trouxe à tona essa parte feia que havia em mim, com seu cabelo escuro indomável, a mandíbula esculpida e aquela arrogância estúpida que fazia seus olhos azuis brilharem.
— Não é costume o cara pegar a garota em casa para irem ao baile? Mordi o lábio para ficar quieta. Eu não ia responder. Eu não ia responder. Eu não ia responder. A verdade era que Ben e eu tínhamos terminado na semana passada, mas decidimos ir juntos de qualquer maneira; além disso, o baile aconteceria bem onde ele morava, então parecia uma perda de tempo ele vir me buscar na minha casa do outro lado da cidade. Ele era um cuzão egocêntrico que achava que nossa relação não estava valendo a pena para ele, então preferia não fazer nenhum esforço. Não que eu fosse dizer isso a Nathaniel Bradley. Ele provavelmente ficaria do lado de Ben.
— O gato comeu sua língua, Presley?
— Por que você não está em alguma festa da faculdade ou algo assim?
Você não tem nada melhor para fazer em um sábado à noite?
— Claro que tenho, mas estou me divertindo muito dirigindo para uma pirralha superprivilegiada por aí. — Seus olhos brilharam quando olhou para mim pelo retrovisor.
Meus punhos se fecharam com tanta força, que minhas unhas afundaram em minhas palmas.
— Sabe o que tornaria esta noite muito melhor? Você não fazer parte dela, então você poderia simplesmente calar a boca pelo restante da noite?
— Vou pensar no assunto.
— Ele não é bom para você.
Essas foram as primeiras palavras que Nathaniel Bradley me disse quando voltei para o carro no final da noite. Eu me sentei no banco da frente desta vez e instantaneamente me arrependi da minha decisão quando ele soltou essa frase.
— Você literalmente só me deixou na festa. Como você poderia saber se ele é bom ou não para mim? — Revirei os olhos e balancei a cabeça enquanto Nathaniel se afastava do Ritz, o prédio onde o baile tinha acontecido e cuja cobertura pertencia aos pais de Ben.
— Ele nem te acompanhou até o carro.
— Porque ele mora no prédio.
— Ainda assim ele deveria ter te acompanhado até o carro.
— Talvez ele quisesse que eu ficasse. Isso o calou por dez segundos. Nathaniel limpou a garganta e continuou:
— Por que você não ficou ? Não é isso que as pessoas fazem na noite do baile?
— De que ano você é? — Eu fiz uma careta. — As pessoas não esperam mais a noite do baile para trepar.
— Acho que nunca esperaram. — Ele olhou para mim. — Quer dizer, por que você não ficou até mais tarde? Não deu nem meia-noite. Dei de ombros.
— Eu estava entediada.
— Entediada na casa do seu namorado? Eu suspirei pesadamente.
— Você pode me levar para casa em silêncio?
Minha noite não tinha saído como planejado. Para começar, Nathaniel não estava errado. Eu ainda deveria estar naquele prédio, de preferência no andar de cima, no quarto de Ben, nua. Em vez disso, eu saí no minuto em que as coisas começaram a ficar quentes e intensas. Tudo parecia errado. Em um minuto eu queria que ele rasgasse meu vestido, como sempre, e no seguinte eu me sentia fria como um peixe e queria dar o fora de lá o mais rápido que meus saltos permitissem. Ele não tinha feito nada de errado, mas algo estava definitivamente errado comigo. Tinha sido assim desde que meus pais finalizaram o divórcio no ano passado.
Minhas emoções pareciam estar enlouquecidas. Minha terapeuta disse que era normal. Ela disse que eu precisava me dar tempo para me curar. Eu sentia como se tivesse levado um soco com a notícia do divórcio, de modo que tudo o que se seguiu foi um pouco confuso. Eu tinha feito tudo o que podia para lidar de uma forma saudável com a culpa imensa que sentia. No fundo, eu sabia que não era minha culpa que mamãe decidisse abandonar o casamento. Não era minha culpa que ela parecesse estar procurando a felicidade na casa de outra pessoa em vez da nossa. Não era minha culpa, mas eu senti que talvez algo que eu pudesse ter feito fosse a causa de tudo isso. Talvez fosse porque eu a ouvi dizer que as crianças arruinaram tudo em seus relacionamentos. Crianças, no caso, seria eu, já que eu era filha única. Qualquer que fosse a razão para esse sentimento, eu queria permanecer anestesiada. E nesses momentos me meti em situações que faziam com que eu sentisse como se estivesse ausente de mim mesma. Esta noite teria sido mais um desses momentos, se eu não tivesse desistido de Ben. Eu pressionei a nuca no encosto e virei o rosto para olhar pela janela. Foi definitivamente melhor, para mim, ter vindo embora. Eu estava tão perdida em pensamentos, que quase pulei da cadeira quando Nathaniel falou comigo novamente.
— O que você vai fazer agora que está se formando?
— Vou para a faculdade. — Eu dei uma olhada para ele. — Dã.
Um lado de sua boca se contraiu, nesse momento percebi que pagaria um bom dinheiro para ver seu sorriso completo.
— Qual faculdade? Que curso vai fazer?
— Negócios — eu disse lentamente, me perguntando se havia alguma pegadinha no fato de ele estar sendo legal comigo. — NYU, na verdade. Papai disse que é onde você está estudando, mas se nos encontrarmos lá, você pode simplesmente fingir que não me conhece.
Ele riu, um som profundo que fez meu pulso acelerar.
— Não tem problema, princesa. Eu não ia querer ser apedrejado por andar com uma humilde caloura.
— Estou surpresa que você tenha alguma outra pessoa com quem andar.
— Olhei para ele ao mesmo tempo que ele olhou para mim, e nossos olhos se encontraram. Por um segundo, quando mirei seus olhos, esqueci o que ia dizer. Pisquei e virei a cabeça quando me lembrei de quem Nathaniel era e da razão pela qual ele estava naquele carro para começo de conversa. Limpei a garganta e acrescentei: — E não me chame de princesa.
— Seu namorado também vai para a NYU?
— Columbia.
— Que chique.
— Nem é. — Eu fiz uma careta. A maioria dos nossos colegas ia para a Ivy League. Eu tive um terceiro ano muito ruim, então não tive chance de entrar. Meu último ano não tinha sido dos melhores, para ser honesta, o que eu não seria com Nathaniel. Ele não precisava saber que eu estava matando aula e que saí de potencial oradora para o status de “só tive uma opção de universidade porque meu pai é um grande doador da instituição”.
— Você está planejando trabalhar para o seu pai em algum momento?
— Acho que é isso que eu deveria fazer.
Ele parou no meio-fio do lado de fora do prédio do meu pai e olhou para mim enquanto manobrava, deixando o carro ligado. Eu encontrei seu olhar apenas porque estava confusa a respeito de não ter desligado o carro, e foi nesse momento que o vi olhando para mim. Se eu não estivesse de mau humor o tempo todo, tinha certeza que teria apreciado ter um cara como Nathaniel prestando atenção em mim, ele sendo um empregado ou não, mas eu estava de mau humor o tempo todo, então rebati:
— O que foi?
— O que você quer fazer da vida?
Abri a boca e a fechei em seguida, franzindo a testa. Ninguém nunca tinha me perguntado isso antes. Nem mesmo o orientador da faculdade me perguntou isso. Todos achavam que eu assumiria os negócios do meu pai. Não era como se eu pudesse explicar às pessoas que não queria me envolver com a cervejaria. Por causa da Cervejaria White Oak tive uma vida incrível. As pessoas pensariam que eu era uma completa idiota se não assumisse o lugar do meu pai um dia. Tinha sido do meu avô, passada para meu pai, e supunha-se que seria passada para mim. Nem papai me perguntou se eu queria ou não fazer parte da companhia, porque ele sabia que eu sentia que não tinha escolha, e ele gostava que fosse desse jeito.
Eu sempre tentei dizer a mim mesma que se ele fosse dono de algo mais legal, eu ficaria de boas em trabalhar lá pelo resto da minha vida, mas cerveja? Eu odiava cerveja. Eu nunca diria essas palavras em voz alta, mas odiava. Se eu pudesse escolher, faria algo um pouco mais significativo com a minha vida. Eu disse isso para minha mãe uma vez, e ela me garantiu que eu poderia fazer as duas coisas. Eu sabia que podia, mas realmente não queria ficar presa à cervejaria.
— Presley? — A voz de Nathaniel me trouxe de volta ao momento.
— Quero trabalhar para o meu pai. É o que eu preciso fazer — respondi e sorri. Eu nunca sorri para ele antes, então sabia que Nathaniel ficaria surpreso. Não importava que meu sorriso fosse falso.
Era o único que eu tinha para oferecer. Ninguém se importava que não fosse genuíno, porque ninguém olhava de perto o suficiente para saber a verdade. Por que iriam se importar?