Almanaque Brasil 119 - março de 2009

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Para Alzira, Clara e Elis

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lguns anos atrás, minha filha Laura me contou que não era religiosa e não sabia rezar, por isso resolvera doar sangue. Não conheço nenhuma oração mais poderosa do que esta. Faz bem à alma de quem doa e ajuda na cura de anônimos. Com ela aprendi também a comemorar o Dia Internacional da Mulher. Todo dia 8 de março visito minha mãe, dona Alzira, para almoçar meu prato predileto: arroz com açafrão, ovo frito e salada de tomate. Na primeira visita comemorativa, sentamos junto a uma pequena mesa redonda de sua modesta varanda e, por mais que eu tentasse alegrá-la com brincadeiras, ela pôs seus olhos miúdos no portão, como se olhasse longe no horizonte. Segurando minha mão, pediu desculpas pelas privações que seus meninos e meninas enfrentaram na infância. Foi inútil tentar confortá-la, dizendo que tudo passara, que graças a sua grande força ela constituiu uma família. Lembrei que por esse imenso Brasil pobre tantas mães fizeram o mesmo sacrifício, e ainda assim fracassaram. Alzira pôs de volta os olhos miúdos no horizonte imaginário, e então se permitiu chorar. Naquela hora, tive vontade de colocá-la em meu colo para que adormecesse e esquecesse da culpa. Ela talvez não saiba, mas visitá-la é sempre um reencontro feliz com minha infância. Foram as dificuldades que me prepararam para fazer minha vida na contramão de todas as mais pessimistas previsões. Na última visita que fiz a minha mãe, lembrei que agora sou avô de gêmeas, Clara e Elis, presente de Renata e de meu filho, Bento, nascidas no Dia de Reis, 6 de janeiro. Espero ter outros bons anos de vida para vê-las crescer. E quando puderem entender, pousadas sobre meu colo, contarei que o meu Dia Internacional da Mulher será sempre o Dia de Dona Alzira. A bisa.

Elifas Andreato

Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular. Machado de Assis

A R M A Z É M DA M E M Ó R I A N AC I O N A L Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisor Lucas Carrasco Assistentes de arte Guilherme Resende e Paula Chiuratto Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Posigraf

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Mendonça

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Capa: Arte de Dennis Vecchione.

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Ilustrações paula chiuratto

Solução na p. 32

“Chega de bossa nova. Chega de cantar para dois ou três intelectuais uma musiquinha de apartamento. Quero o samba puro, que tem muito mais a dizer, que é a expressão do povo.” Desse modo Nara Leão marcou o rompimento com a bossa numa entrevista à revista Fatos & Fotos, em 1964. A ex-musa do movimento passou a se aproximar dos sambistas de morro, ou “dos artistas populares genuínos”, como definia. Esse encontro está registrado no disco Opinião de Nara e na foto ao lado, enquanto aprendia os sambas de Zé Keti e Nelson Cavaquinho em seu famoso apartamento de Copacabana.

o regime militar. Dialogava com o governo, acalmava conservadores e radicais. Separou-se desses últimos no fim da ditadura, criando um partido de centro. Foi quando elegeu-se governador em sua terra natal. “Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste País uma grande nação. Vamos fazê-la.” Fez essa proclamação ao Colégio Eleitoral em 1985. De forma indesejada, já que se empenhou muito na fracassada campanha por eleições diretas, havia sido escolhido líder máximo da República, o primeiro depois dos militares. Mas escondia um debilitado estado de saúde que, na véspera da posse, o fez parar no hospital. Morreu no aniversário do “herói enlouQuecido”, seu conterrâneo, depois de seguidas cirurgias e 34 dias de agonia no País. (NP)

reprodução/AB

esde criança gostava de discursar. A moderação atribuía ao nascimento, no dia 4 de março de 1910, em Minas Gerais: “Não há mineiro que não seja conciliador”. Presidente da Câmara Municipal de São João del Rei, o advogado liderava a campanha para prefeito. Eis que Getúlio Vargas fecha os órgãos legislativos e cancela as eleições. O jeito foi tocar a vida como empresário, sem imaginar que mais tarde estaria ao lado de Vargas. Como seu ministro da Justiça, na gestão de 1951, fez de tudo para cessar o movimento golpista que levaria o presidente ao suicídio. Quando Jânio Quadros renunciou e conservadores queriam impedir que o vice, Jango, ocupasse seu lugar, foi essa mesma figura quem articulou o parlamentarismo como solução. E adivinha quem assumiu o cargo de primeiro-ministro? Passou para oposição com o golpe de Estado que instaurou

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M ARÇO 2 dia nacional do turismo MAR ADENTRO

Inácio abandonou a areia pra vender picolé em pleno mar

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rogério de paula

sertanejo se habitua às agruras do sertão. Todo dia, centenas de turistas deixam a Inácio Pereira gostava do calorzão do costa rumo ao paraíso escondido sob as interior do Rio Grande do Norte, mas da ondas. Porém, em praia que surge e some terra seca conseguia pouco. Faltava comida, não há quiosque, barraquinha... Inácio, remédio, oportunidade. Sem estudo, anos a então, permitiu que a maré governasse fio fez tijolos em uma cerâmica de Parelhas, seu serviço. a 232 quilômetros de Natal. Demitido, há 15 Logo cedo, ele recheia a geladeira ambuanos juntou uma muda de roupa, a foto da filante com picolés. Depois, cruza o oceano. lha e migrou para a Paraíba. Cercado de água, o “picolezeiro” marítimo Inácio Pereira: 200 picolés por dia. Era de encher os olhos ver o mar esverdeavende 200 picolés por dia. Com lata de lixo do tocando o céu. Na areia, Inácio acabou a tiracolo, recolhe os papéis de sorvete paempurrando um carrinho de picolé, como tantos no litoral brasira preservar a clientela e o mar. leiro. Certo dia, descobriu que, do vai-e-vem das águas, surge uma Aos 44 anos, mantém a forma com a natação que o ofício exige. Não praia que só existe do meio-dia às três da tarde. É Picãozinho, a dois há freguês que não queira posar para foto ao lado do vendedor maquilômetros da capital paraibana mar adentro. rítimo de picolés. Ele capricha no sorriso que, sob a pele bronzeada, Exposta ao sol, Picãozinho tem recifes de corais e água cristalina. faz sumir os olhos da cor do mar. (Laís Duarte) Saiba Mais O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway (Bertrand Brasil, 2005).

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dia internacional da cor MANTO SAGRADO

Suecos amarelaram diante do azul da seleção canarinho

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imediato à concentração e, com todos os opa de 1958, dois dias antes da final jogadores a sua frente, disse com voz secontra a anfitriã Suécia. Os jogadores rena e segura: “Está decidido: vamos jogar da seleção brasileira estão aflitos, de azul, a cor do manto de Nossa Senhora alguns quase aos prantos. As cores dos uniformes coincidiam, e um sorteio deciAparecida. Ela vai dar a força que precisadiu que os donos da casa iriam a campo mos para ganhar o título”. de amarelo. O Brasil provavelmente jogaO entusiasmo foi geral, e a nova camisa foi ria de branco, a mesma cor com a qual encomendada às pressas a uma confecção perdeu a Copa de 1950. Para os jogadosueca. Os números e distintivos foram retirares, supersticiosos, certamente um sinal dos do uniforme amarelo e recosturados no seleção de 1958, em foto colorizada. de mau agouro. azul pelo massagista Mário Américo e pelo O chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, percebeu o roupeiro Francisco de Assis no hotel em que a equipe se concentrava. abatimento e procurou alguma solução para animar os atletas. Nos Na grande final, os suecos mal viram a cor da bola. Foram goleados por 5 a 2, e o mundo passou a conhecer os garotos Pelé e Garrincha. céus. Trancou-se no quarto e, diante da imagem de Nossa Senhora O Brasil conquistava o primeiro de seus cinco títulos mundiais. (BH) Aparecida, começou a rezar. Até que surgiu a solução. Dirigiu-se de reprodução/ab

Saiba Mais Assista aos gols da final. Acesse o Youtube (www.youtube.com) e procure pelos termos “Brasil”, “Suécia” e “1958”.


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dia da intimidade ALÉM DE NAPOLEÃO

Dom João VI tinha medo de siris, caranguejos e trovoadas

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domingos antônio sequeira/museu imperial (petrópolis)

Outra preocupação eram as tempestale nasceu João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Andes. O som dos trovões tirava-lhe o sono. tônio Domingos Rafael de BraNas noites de chuva, tratava de escondergança, mas entrou para a história como se, vigiado de perto pelo roupeiro. Nos dom João VI, o último monarca absoluto aposentos iluminados por muitas velas, monarca e servo se uniam em oração a de Portugal e o único do Reino Unido do são Jerônimo e santa Bárbara. As preces Brasil, Portugal e Algarves. E pensar que chegou ao poder por acaso: a mãe ensó cessavam quando relâmpagos e trovolouquecera e o irmão mais velho, natural adas davam sossego. sucessor, morrera de varíola. De passear pelas ruas do Rio de Janeiro Dom João chegou ao Brasil em 1808. Veio nos fins de tarde, o rei gostava. O histode mala, cuia e corte, fugindo das tropas riador Tobias Monteiro conta que no aparato obrigatório para as andanças estava de Napoleão Bonaparte. Os súditos fizeram festa para receber a majestade, mas, um banheiro portátil. Lá pelas tantas, o só depois de instalada a família real, desmonarca ordenava, um criado preparava cobriram que o rei, como qualquer moro equipamento. “O rei descia da carruatal, não era desprovido de medos. Houve gem e dele se aproximava o camarista, quem o descrevesse como um homem de que lhe desabotoava os calções”, narra dom joão VI olhos assustados, inseguros. o historiador. Onde quer que estivesse, Em uma ocasião, a alteza apresentou sintomas de inflamação e na frente de súditos, oficiais ou membros da corte, dom João senfebre causadas por uma picada de carrapato. Os médicos prestava-se no vaso sanitário. Satisfeitas as necessidades, o passeio prosseguia, regado à muita comida e bebida. creveram banhos de mar para a cicatrização. Com medo de ser atacado por siris ou caranguejos, dom João ordenou a construção Em 1821 dom João se despediu do Brasil. Partiu do porto do Rio deide uma Banheira especial, feita de madeira, à prova de mordidas. xando para trás um lugar bem diferente do que encontrara. O País tinha agora unidade política e territorial, comércio pujante, universiSentava-se dentro da caixa, suspensa por escravos, e a miraculosa água salgada entrava por pequenos furos, garantindo o banho dades e importantes bibliotecas. Intimidades à parte, o rei com fama real e o tratamento da ferida. de fraco ajudou a moldar a corajosa identidade nacional. (Laís Duarte) Saiba Mais 1808, de Laurentino Gomes (Planeta, 2007).

março também tem 1 Dia da Vindima 2 Dia da Luta contra a Censura no Brasil 3 Dia Nacional do Meteorologista 4 Dia das Sociedades de Amigos de Bairro 5 Dia do Filatelista Brasileiro 6 Dia de Nossa Senhora de Nazaré 7 Dia Mundial da Oração 8 Dia Internacional da Mulher 9 Dia de São Domingos Sávio 10 Dia do Sogro

11 Dia Estadual do Motociclista (SP) 12 Dia Mundial do Café 13 Dia do Conservacionismo 14 Dia do Careca 15 Dia Mundial do Consumidor 16 Dia da Era Espacial 17 Dia Internacional da Marinha 18 Dia da Chuva 19 Dia Mundial do Artesão 20 Dia do Gari Goianense

21 Dia Mundial da Poesia 22 Dia Mundial da África 23 Dia Mundial da Meteorologia 24 Dia da União dos Povos Latino-Americanos 25 Dia do Especialista em Aeronáutica 26 Dia do Mercosul 27 Dia do Acupuntor 28 Dia do Revisor 29 Dia da Central do Brasil 30 Dia do Futebol de Salão 31 Dia da Inclusão Digital

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dia do bibliotecário COISA ESQUISITA

Os livros de São Francisco Xavier foram parar na cadeia

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Patrícia Santos/AE

s crianças bateram na casa de Sidnei Pois se era assim, ele mesmo montaria uma biblioteca para o distrito. E logo começaram Rosa sem saber que ele era bibliotecário, responsável pela organização a chegar livros doados, extravasando os lide muitos acervos. Simplesmente batiam mites da garagem que o pai voluntariamente de porta em porta quando precisavam de ofereceu. O bibliotecário angariou patrocíum livro. O vizinho não tinha nada que nios e deixou uma lista, “tipo de casamento”, na loja de materiais de construção para pudesse ajudar na tarefa escolar, mas resolveu procurar no acervo municipal. Foi estruturar o lugar. sidnei rosa: “o livro tem que estar na mão do leitor”. quando descobriu que em São Francisco E os livros da cadeia? Sidnei diz que reXavier, distrito de São José dos Campos, ceberam tratamento inadequado: foram em São Paulo, os livros não estavam nas prateleiras, mas trancafiapara uma sala úmida, eram limpos com pano molhado. Quando os dos na antiga cadeia pública. ofereceram para a biblioteca, ele recusou. Agora pleiteia um convêNa subprefeitura, diziam que a chave da cela ficava na escola. Na nio com o município, já sob outra gestão. Aos cinco anos, a Biblioescola, mandavam pegá-la na subprefeitura. Disposto a resolver o teca Solidária oferece, sem burocracias, 13 mil títulos. Os repetidos caso, Sidnei indicou locais que poderiam abrigar os livros expostos. servem de pontapé inicial para novos projetos em regiões carentes: (NP) Mas o poder público não topou. “O livro tem que estar na mão do leitor”, conclui Sidnei. Saiba Mais Biblioteca Solidária: www.bibliotecasolidaria.com.br

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dia do ator que figura

Hugo Bidet. Profissão: “Não sou músico” O

Reprodução/ab

apelido surgiu após promover um Entre um chope e outro, atuava em pechurrasco para 50 amigos em seu ças de teatro e filmes. Era artista plástico de talento. Mas, quando perguntaapartamento. Na falta de panelas, vam sua profissão, respondia com pesar: colocou as carnes de molho em bidês. De tão popular, o “sobrenome” passou a ser “Não sou músico”. impresso até em seus talões de cheque. Está na história também por fundar a feiHugo Bidet tornou-se uma lenda de Ipara hippie da praça General Osório. Escrevia ainda roteiros para tevê e colaborava nema dos anos 1960. Diziam que estava em todos os bares do bairro (no mescom o Pasquim. Inspirado na figura, aliás, mo horário). Sempre de bolsa – foi um Ivan Lessa e Jaguar criaram o personagem dos primeiros homens cariocas a usá-la B.D., sucesso nas páginas do jornal. hugo bidet, à esquerda. – e, geralmente, na companhia de um raEm 1977, após escrever uma carta em tinho branco. que dizia estar “louco, irremediavelmente A alegria maior eram os desfiles da Banda de Ipanema, da qual foi louco”, deu um tiro no céu da boca. Não morreu. Pediu ajuda ao vium dos fundadores e uma espécie de baluarte. Empunhava um imzinho, foi tranquilamente ao táxi e ainda brincou com conhecidos no ponente trombone e, no meio da algazarra, ninguém percebia que caminho. Mas, nove dias depois, Ipanema perdia um dos ícones do ele apenas fingia tocar o instrumento. tempo em que o bairro “era só felicidade”. (BH) Saiba Mais Ela é Carioca – Uma enciclopédia de Ipanema, de Ruy Castro (Companhia das Letras, 2000).



araquém alcântara

O Brasil é a essência e o resumo da natureza do planeta. Uma fotografia ideológica. É a forma como Araquém Alcântara define o trabalho ao qual se dedica há quase 40 anos, desde que decidiu registrar a ostensiva poluição de Cubatão. De lá para cá, lançou 39 livros. Entre eles, o premiado Terra Brasil, o livro de fotografia mais vendido do País. Ele acaba de publicar Cabeça de Cachorro, com Drauzio Varella, em que retrata uma das regiões mais inacessíveis da Amazônia. Fala com entusiasmo sobre suas viagens e 12

Edi pereira

aventuras Brasil afora. Também é incisivo – e pouco otimista – no que diz respeito à destruição da natureza.“As próximas gerações não verão as paisagens que estão registradas nas minhas fotos. A não ser que algo mude. Urgentemente.” Quais foram as influências diretas do seu trabalho? Muitas. Destaco George Love, um fotógrafo apaixonado pela Amazônia. Era uma epifania ver suas fotos. A literatura também foi fundamental. Com 14 anos, o que queria mesmo era ser escritor. Lia compulsivamente livros estrangeiros e brasileiros, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa. Assim como via os filmes de Akira Kurosawa, Glauber Rocha. Um dia fui assistir a um filme de um diretor chamado Kaneto Shindô. Saí alucinado do cinema. Algo me dizia: “Bem que você poderia dizer as coisas por meio da fotografia...”. No dia seguinte, pedi uma máquina emprestada para uma amiga de faculdade. Eu nunca tinha tirado uma foto sequer.

Qual era a reação das pessoas, num tempo em que temas ecológicos não estavam na moda? Ninguém estava nem aí com o assunto. Havia uns grupinhos que falavam: “Lá vai o baixinho chato com seus bichos, com suas mulheres desdentadas...”. Para eles, fotografia boa era norte-americana ou europeia. Na casa do sujeito não tinha um livro nacional sequer. Eram macaquinhos que imitavam tudo que era estrangeiro. Havia um grande preconceito com fotografias simples, que falassem da realidade brasileira. Mas também acho que hoje em dia é muito da boca para fora. Todo mundo fala em ecologia, mas chega em casa e chuta o cachorro, fica uma hora e meia no banho, e por aí vai.

E quais foram as suas primeiras fotos? Foram das prostitutas do porto de Santos. Passei a noite inteira com uma Yachica elétrica 35mm na zona portuária. Não consegui tirar foto nenhuma. De manhã, havia uma prostituta cansada no ponto de ônibus. Me aproximei, bem inibido, e perguntei: “Posso fotografá-la?”. Ela levantou a saia e respondeu: “Fotografa aqui, seu filho-da-puta!”. E eu fiz a minha primeira foto.

É possível despertar a consciência a partir das fotos? Eu acredito na ação transformadora da arte, de mudar consciências. Com as fotos, consigo espalhar belezas. E a beleza é a verdade. E a verdade é Deus, é a eternidade. Aí fico 15 dias no meio da mata para conseguir pegar o olhar de um tucano, apenas para cumprir meu papel de repartir belezas. Nunca rebusquei as fotos, não uso grandes angulares para deformar, não faço acrobacias ou experimentos de laboratório. Em suma, não transfiguro a realidade. Apenas luto igual a um cão para pegar a luz certa.

E fotos de “outra natureza”, quando começaram? Em meados de 1972. Peguei a câmera e fui pra Cubatão, na época o lugar mais poluído do mundo, de uma industrialização inconsequente, a ponto de crianças nascerem sem cérebro. Eu queria registrar aquela realidade. Não conhecia o conceito de “sustentabilidade”, mas já tinha aquilo em mim.

Quando foi a primeira viagem à Amazônia? Fora de Manaus, no meio da mata mesmo, em 1979. Fui fotografar uma inauguração de uma revenda de pneus. Lá escutei um cara falar para o


outro: “E aí, aquela onça continua aparecendo por lá?”. Grudei no cara e perguntei onde era o “lá”. Pedi para um amigo fotografar os diretores da empresa e fui atrás da onça. Nos metemos no meio dos igarapés. Quando olhei para o lado, vi a onça brincando com um galho. A foto está no livro Brasil Iluminado. Quais ecossistemas brasileiros mais te fascinam? A caatinga é o ecossistema mais intrigante. Quando se olha para ela, totalmente seca, quase cega os olhos devido a todo aquele branco. Aí basta dar uma chuvinha e ela desnuda toda a sua energia, surge o verde naquela imensidão branca. A mais dadivosa e feminina é a Mata Atlântica. Há orquídeas, bromélias, avencas... A Amazônia é rude, te afasta. É uma dificuldade imensa ver animais lá. Já o Pantanal é maravilhoso, um grande desfile de bichos. O Brasil é a essência e o resumo da natureza no planeta. Só falta gelo, e mesmo assim há lugares onde se pode encontrá-lo. Somos uma das belezas mais grandiloquentes do mundo. Superior ao badalado ecossistema africano? Não faço esse tipo de comparação, porque é uma loucura comparar o que é eterno. Mas, se não temos os big five [leão, elefante, leopardo, búfalo e rinoceronte], possuímos muito da África em algumas regiões. Nós temos desertos e dunas. Se você adormecer no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na divisa entre Minas e Bahia, por exemplo, ao acordar vai achar por alguns instantes que está na África. É a mesma coisa. Só faltará um leão ou um elefante...

E quais são as soluções? É necessário um grande clamor para dar à Amazônia um futuro sustentável. É preciso tomar vergonha na cara e criar uma grande revolução tecno-científica para a região. Temos que lembrar que lá moram mais de 20 milhões de pessoas, e é fundamental criar um plano de desenvolvimento para resgatar a dignidade da população. Temos que transpor o abismo entre a ganância e a consciência planetária. Se isso não ocorrer, as próximas gerações não verão as paisagens que estão registradas nas minhas fotos. A não ser que algo mude. Urgentemente. É diferente fotografar bicho e gente? São histórias diferentes. No caso dos bichos, você tem que se transformar nele para capturá-lo. O animal é espontâneo. Mas, se estou conversando com alguém e me deu vontade de fotografar, não posso. Na hora que pego a máquina, a pessoa perde a naturalidade. A fotografia é o exercício da paciência e da contemplação. Meu barato é fotografar o que me comove. A minha natureza é feita de bichos e homens.

Possuímos o último grande reservatório de natureza integral, mas somos o povo que mais devasta.

Deve haver lugares fascinantes e ainda pouco conhecidos, não? O Pico da Neblina, no norte do Amazonas, é um deles. Fabuloso e de uma diversidade incrível. A cada 10 metros dá para ver vários tipos de orquídeas que só existem lá. Também há diversas plantas carnívoras. Um sistema incrível. É tão complexo que se sair um dinossauro dali não me assustaria. Essa beleza toda ainda não foi entendida. Como era feito o financiamento de suas primeiras viagens? Eu arrumava um jeito. Pedia aqui, pedia ali, conseguia carona. E nem foi tão antigamente assim. Em 1996, eu estava para acabar o Terra Brasil e não tinha grana para subir o Pico da Neblina. Estava para pintar um patrocínio. Quando cheguei a São Gabriel da Cachoeira, um município com 90% de índios, liguei para São Paulo: “Saiu o dinheiro?”. Foi uma felicidade receber a resposta positiva. Ou seja: mesmo sem saber que tinha dinheiro, eu fui. Sempre falo pra moçada: tem que acreditar sem ver, tem que se arriscar, senão não se constrói o sonho. Só de uns cinco anos para cá meu trabalho ganhou notoriedade mundial, e aí ficou um pouco mais fácil. Antes era mais complicado. Mas já publiquei quase 40 livros. Será que precisaria de 80 para ganhar notoriedade? Seu trabalho tem um forte viés de crítica, de denúncia... A minha alegria é fazer uma fotografia inteiramente engajada. Nós possuímos o último grande reservatório de natureza integral, mas somos o povo que mais devasta, que menos conhece a riqueza do nosso patrimônio cultural. Estamos desertificando a Amazônia pela ganância, pelo lucro fácil. Somos um país burro, conformado. Não sabemos o que queremos para a região. Entra governo, sai governo, e só se vê hipocrisia.

Já teve problemas com os índios? Em 1997, fui sequestrado pelos Caiapós Menkragnoti, na Aldeia do Baú, sudoeste do Pará. Os índios tinham brigado com a Funai, o Ibama e a Polícia Federal porque haviam proibido o garimpo. Por ironia, o cara que me “catou” se chamava Tikatô. Eles queriam 1.500 reais, 250 litros de gasolina e um quilo e meio de pimenta verde... Eu tentei justificar que estava fazendo uma matéria para a Veja, quando um bradou: “Veja acabou. Agora é Época!”. Não acreditei... Eu estava sem grana. Como havia um avião, sugeri descer para Novo Progresso e ir ao banco. Primeiro, eles desconfiaram. Depois, concordaram, e foram dois fortes guerreiros apontando armas 765mm para mim. Chegando na cidade, o prefeito me disse: “O único jeito é soltar algum dinheiro para eles fazerem um supermercado”. Dei 300 reais e eles me liberaram... Deve ter tido problema com “homens brancos” também... Ah, sim... Um deles, sem querer, acabou dando a epígrafe do meu próximo livro. Era um madeireiro que havia sido avisado que eu fotografara um caminhão dele, cheio de madeiras ilegais. De repente, ele aparece num carrão, com revólver na cintura e me fala, arrogantemente: “Eu queria que você falasse bem daqui. Fico apreensivo quando fotografam os caminhões cheios de tora. Dá a impressão que é madeira ilegal”. E emendou: “Pois aqui, seu moço, homem não tem palavra, mulher não tem honra, terra não tem dono e árvore não tem raiz”. Respondi no ato: “O senhor acaba de me dar a epígrafe do meu novo livro”. Claro que depois disfarcei para não tomar um tiro. E os próximos projetos? São vários. Quero lançar ainda este ano Sertão Sem Fim, A Amazônia de Araquém e Atala, com o chef Alex Atala, e um outro de paisagens. Também penso num livro que se chamaria Histórias de um Fotógrafo Viajante. A cada viagem que faço, volto cheio de histórias. O meu mapa do Brasil é feito de histórias, personagens e lugares. Não me interessa onde é Minas Gerais, onde é a Bahia, onde é a região Sudeste. O que interessa é onde mora a dona Carminha, do Raso da Catarina, e o seu Edésio, de Grão Mogol. Não parece música? É música. O que faço é música.

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ESPECIAL

Texto: Bruno Hoffmann

Arte: Guilherme Resende

PA S S E S D E L E T R A

A tabelinha é conhecida: música e futebol. Ao longo da história, dezenas de importantes compositores trataram de levantar a bola do esporte em suas canções. De Lamartine Babo a Jorge Ben Jor, de Chico Buarque a Lupicínio Rodrigues, todos amaciaram a redonda e deram passes de letra para exaltar essa paixão nacional.

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ão há como negar: futebol e música são as duas grandes paixões nacionais. Também é motivo de orgulho para uma nação que sempre sofreu “de complexo de vira-lata”, como definia Nelson Rodrigues. Somos o país que mais vezes conquistou o mundo e mais encantou com craques legendários, como Pelé, Rivellino, Z ico, Romário e Ronaldo. Na música não ficamos para trás: criamos o chorinho, o samba, a bossa nova, uma nova música popular. Era inevitável que ambos os temas se juntassem em determinado momento. E, quando ocorreu, surgiram canções divertidas e emotivas, contando sonoramente a história do futebol brasileiro ou narrando a paixão que ele desperta. Como prova da importância dos assuntos na identidade nacional, é célebre o encontro entre Chico Buarque e Garrincha na Itália, em 1969. Eles não se entendiam. Garrincha, amante da bossa nova, só queria saber de João Gilberto; Chico,

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apaixonado por futebol, só falava de histórias da bola. Como se sabe, há muitos cantores arriscando pontapés. E muitos boleiros testando o microfone. O Rei do futebol é um deles. Além de ter composições interpretadas por artistas como Jair Rodrigues, Pelé gravou até um compacto simples com Elis Regina. As canções – Perdão Não Tem e Vexamão – eram do Rei. Músicas populares foram ainda parar nas arquibancadas, com adaptações feitas pelas torcidas. Em geral, colocam o nome do time em determinado verso, uma provocação ao adversário em outro e um palavrão para fechar a história. Impublicáveis. Neste Especial reunimos histórias inusitadas, emotivas e saborosas de 11 músicos que, a partir de sua arte, exaltam o esporte bretão. Uma seleção que joga por música. Está lançado o time dos sonhos do Almanaque. Que role a bola.

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Já rezei pra são Jorge pro Mengo ser campeão

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Wilson Batista

O sambista Wilson Batista era fanático pelo Flamengo. Num certo domingo, foi assistir a uma partida entre o time do coração e o Botafogo, no estádio de General Severiano. O Flamengo foi derrotado. Wilson se revoltou, saiu xingando todo mundo e até se recusou a pagar a passagem do bonde. O amigo Antônio Almeida tentou acalmá-lo, mas recebeu uma resposta de bate-pronto: “Pô, eu tiro o domingo para descansar e vejo meu time perder?”. Com o mote, ali mesmo compuseram E o Juiz Apitou: Eu tiro o domingo para descansar / Mas não descansei / Que louco fui eu / Regressei do futebol / Todo queimado de sol / O Flamengo perdeu pro Botafogo / Amanhã vou trabalhar / Meu patrão é vascaíno e de mim vai zombar. Wilson também compôs, em parceria com Jorge de Castro, Samba Rubro-Negro. Era uma exaltação aos jogadores da época: O mais querido tem Rubens, Dequinha e Pavão / Eu já rezei pra são Jorge pro Mengo ser campeão. Nos anos 1980, João Nogueira atualizou os craques: O mais querido tem Zico, Adílio e Adão... Recentemente, foi a vez de Diogo Nogueira, com alguma boa vontade na rima (e nos “craques”): O mais querido tem Souza, Obina e Juan / Eu já rezei pra são Jorge pro Mengo ser campeão...

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Lupicínio Rodrigues

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Até a pé nós iremos Em 1953, uma greve de bondes paralisou Porto Alegre. Operários faltaram ao trabalho, casais deixaram de se ver e torcedores não puderam acompanhar as equipes no estádio. Entre eles, um gremista chamado Lupicínio Rodrigues. Desconsolado, sentou-se à mesa de um bar, sacou a caneta e lá mesmo compôs o que viria a ser um dos mais emblemáticos hinos de time de futebol: Até a pé nós iremos / Para o que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / Com o Grêmio onde o Grêmio estiver...

Noel era vascaíno?

Ninguém sabe para qual equipe torcia Noel Rosa. Mas especula-se que seja o Vasco da Gama, por citá-lo em Quem Dá Mais: Ninguém dá mais de um conto de réis? / O Vasco paga o lote na batata / E em vez de barata / Oferece ao Russinho uma mulata. O futebol também se faz presente em Conversa de Botequim, considerada uma das mais elaboradas crônicas musicais da história. Entre as ordens do personagem ao pobre garçom, está: Vá perguntar ao seu freguês do lado / Qual foi o resultado do futebol.

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Ai, Corinthians, cachaça do torcedor...

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Paulinho Nogueira

mais 11 craques da música e seus times Tom Jobim

Fluminense

Vinicius de Moraes

O surgimento de Pelé foi um calvário para o Corinthians. O Rei tinha no time do Parque São Jorge sua vítima preferida (detalhe: dizem que Pelé era corintiano na infância). Durante o período, a equipe não ganhou nada. Foram 22 anos, oito meses e sete dias sem gritar “É campeão!”. A fiel torcida, no entanto, só crescia. Mas a cada ano, a cada título perdido, a cada bola na trave, a angústia aumentava, como mostra Paulinho Nogueira em Meus 20 Anos: Até um simples empate que podia consolar / Geralmente é conquistado quando é preciso ganhar / Mas nessas poucas vitórias / Algumas sensacionais / A gente esquece de tudo / Não desanima jamais / Ai, C orinthians, cachaça do torcedor... Também cansado de sofrer pelos anos de fila, Sílvio Santos decidiu trocar o malfadado coração corintiano. A operação não deu certo: Ai, doutor, eu não me engano / Botaram outro coração corintiano.

4

Renato Barros

Botafogo

João Gilberto

Adoniran Barbosa

Cartola

Vasco

Corinthians

Fluminense

Gilberto Gil

Chico Science

Mano Brown

Bahia

Santa Cruz

Tom Zé

Cássia Eller

Roberto Carlos

Corinthians

Atlético Mineiro

Vasco

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Santos

Quem não falar do Sport é mudo

Renato e seus Blue Caps eram os alvos dos gritos femininos durante os anos 1960, com repertório e estilo de vida Jovem Guarda. Mais tarde, um outro público passou a adorá-los: os torcedores do Sport Recife, que se animam ao som do viciante frevo Sport Estremece a Terra, composto por Renato Barros. Para muitos, um hino não-oficial do clube: Vivendo com o Sport essa emoção / A galera se engrandece muito mais / Quem não falar do Sport é mudo / Cazá! Cazá! / E pelo Sport, tudo!

O homem dos 11 hinos

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Lamartine Babo

Lamartine Babo entrou na história da música brasileira pelas marchinhas. Mas também tem lugar de destaque por ter criado o hino de 11 times do Rio: Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, América, Bangu, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Madureira e do extinto Canto do Rio. Todos foram compostos em 1949, após ter sido desafiado pelo dono de uma gravadora a fazer os hinos para os principais clubes cariocas. Há versos inusitados, como o do Bangu (Em Bangu se o clube vence há na certa um feriado / Comércio fechado, a torcida reunida até parece a do Fla-Flu). O hino do Botafogo é o único que aparece a palavra perder (Não pode perder, perder pra ninguém). No do Canto do Rio, o futebol fica em segundo plano: Aquela morena / Do Canto do Rio / Que torce e faz cena / E causa arrepio / Queimada da praia... Propositalmente, o último hino composto foi o do América, clube de coração de Lamartine: Hei de torcer, torcer, torcer / Hei de torcer até morrer, morrer, morrer / Pois a torcida americana é toda assim / A começar por mim...


Se garante na cozinha. E ainda é Vasco doente

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Aldir Blanc

Após ela gritar “Mengo” num gol do Zico, o marido tira o cinto e a espanca. A comemoração era um gesto irrefutável da falsidade da esposa. Assim começa Gol Anulado, com letra de Aldir Blanc e música de João Bosco. O marido sentia-se traído pela mulher que, para ele, era honrada, trabalhadora e, acima de tudo, vascaína:

Suas pernas cansadas correram pro nada Mané Garrincha viveu seus últimos anos de forma amargurada, entregue à bebida. Em 1973, Moacir Franco fez Balada nº 7 (a camisa que Mané usava em seu tempo de jogador). O tom da letra, como não podia deixar de ser, era melancólico: Mas pela vida impedido parou / E para sempre o jogo acabou / Suas pernas cansadas correram pro nada / E o time do tempo ganhou / Cadê você, cadê você, você passou...

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5 Moacir Franco

Eu sempre disse contente / Minha preta é uma rainha / Porque não teme o batente / Se garante na cozinha / E ainda é Vasco doente... A canção se encerra com uma genial analogia entre o término do amor e o maior anticlímax do futebol: Eu descobri que a alegria / De quem está apaixonado / É como a falsa euforia / De um gol anulado.

Nasceu desse jeito uma outra tricolor Ao nascer a primeira filha de Chico Buarque, Sílvia, o compositor Cyro Monteiro mandou uma camisa do Flamengo de presente à recém-nascida. Chico, torcedor fanático do Fluminense, compôs como resposta Receita para Virar Casaca de Neném, subvertendo as cores do time: Pintei de branco o teu preto / Ficando completo / O jogo de cor / Virei-lhe o listrado do peito / E nasceu desse jeito / Uma outra tricolor. Mera ilusão. Sílvia tornou-se flamenguista.

Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade

11 Jorge Ben Jor

Parecia uma narração radiofônica: Tabelou, driblou dois zagueiros / Deu um toque, driblou o goleiro / Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade em gol. Dessa forma Jorge Ben Jor exaltava um atacante do Flamengo do começo dos anos 1970. Com o visual peculiar e os

dentes saltados, Fio Maravilha ganhou a simpatia dos torcedores e de Ben Jor. Anos mais tarde, entretanto, o jogador processou o compositor. Queria receber algum por ter o nome citado na canção. Ben JoR então mudou o nome do protagonista da música: Filho Maravilha. E acabou com a conversa.

Num terreno tão baldio, o quanto a vida é dura

O clima do Festival da Record de 1967 era quase de estádio. Os artistas eram recebidos com aplausos descomunais ou com vaias retumbantes. A apresentação da música Beto Bom de Bola, de Sérgio Ricardo, incluiu-se no segundo caso. Ao cantar os versos Num terreno tão baldio / O quanto a vida é dura /

Onde outrora foi seu campo, resmungou aos músicos: “Não consigo nem ouvir o som”. Levantou-se e bradou, enfurecido: “Vocês ganharam!”. Arrebentou o violão e arremessou-o contra o público. Foi desclassificado.

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Sérgio Ricardo

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Assis Valente

Esperando a felicidade Por Bruno Hoffmann

Ele passou 50 anos numa frenética busca pela alegria, sentimento que poucas vezes encontrou. Suas canções se tornaram crônicas cariocas e, principalmente, espaço para a confissão dos dissabores. Teve o prazer do reconhecimento, de se

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sentir parte de algo. Mas quando perdeu a

reproducão/ab

notoriedade, decidiu encerrar a vida em

E

ra fim da tarde de 11 de março de 1958. Mergulhado em dramas pessoais e com um enorme sentimento de solidão, o baiano de 49 anos escreveu, com sofreguidão, uma longa e detalhada carta na qual explicava a bobagem que viria a fazer. “Morro por minha vontade. Estou sentindo apenas a cruel saudade de tudo e de todos.” Assinou o papel e, sentado num banco em frente à Praia do Russel, no Rio, bebeu guaraná com formicida. Morreu minutos depois. Levara uma vida de abandono, amargura, vaidade e fugaz reconhecimento. Não se conformava com o ostracismo que o mundo havia lhe imposto. Mas não era apenas isso. Para entender o que lhe fez chegar

frente ao mar do Rio de Janeiro. Não pôde ver o sucesso que faria anos depois.

ao suicídio – a derradeira de três tentativas –, é necessário voltar ao começo de tudo. O menino José de Assis Valente nasceu em 19 de março de 1908 na Bahia. A cidade natal é confusa para os biógrafos. Uns dizem que foi entre Bom Jardim e Patioba. Ele, numa entrevista ao Cine Rádio Jornal, afirmou ser de Campo da Pólvora (“por isso tenho essa pele queimada”). O certo é que teve uma infância atribulada. Ainda pequeno, foi levado de casa e criado por outro casal, que mudou para Salvador e, pouco depois, para o Rio. Com um detalhe: sem ele, que ficou sozinho na capital baiana. Virou-se como podia. Profissionalizou-se ainda jovem: especialista em prótese dentária. Mas o que queria era ser artista, a atração principal, receber aplausos. Os


ução/a fotos: Reprod

b

Em 1939, Carmen Miranda se muda para os Estados Unidos. Foi um baque. Ele sentiu-se traído e abandonado.

À direita, Com Carmem miranda

primeiros passos foram como orador de circo, improvisando versos de poemas, e desenhista de uma revista soteropolitana.

Entre próteses, desenhos e sambas Em 1928, decidiu mudar para o Rio. Logo empregou-se na oficina de um protético. Mas gostava mesmo era de desenhar, atividade que tomava suas noites e rendia algum dinheiro nas revistas da cidade. Logo conheceu o compositor Heitor dos Prazeres, também ligado às artes plásticas, e a história começou a mudar. Heitor se impressionou com a facilidade de o baiano compor versos, sempre intuitivos. Com o decisivo incentivo do amigo, Assis teve o primeiro samba gravado: Tem Francesa no Morro, por Araci Côrtes. No mesmo ano faria o que considerava a sua melhor canção, criada na noite de Natal de 1932: Boas Festas. Estava sozinho em casa, triste, quando viu a imagem de uma menina com os sapatinhos sobre a cama, esperando o presente de Papai Noel. Foi o suficiente: Anoiteceu, o sino gemeu / E a gente ficou feliz a rezar / Papai Noel, vê se você tem / A felicidade pra você me dar / Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...

Sucesso em Carmen Miranda Ainda em 1932, Assis assistiu a uma apresentação de Carmen Miranda, jovem cantora que o encantou instantaneamente. Carmen também ficou entusiasmada por aquele baiano cheio de elegância, educado e com um sorriso cativante. Ele passou a compor canções exclusivamente para a Pequena Notável. Foram 24 gravações, quase todas sucessos. Entre elas, E o Mundo Não se Acabou, Recenseamento e a genial Camisa Listrada: Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí / Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati... Estava no auge da fama, sentindo-se importante e ama-

do pelo público, quando Carmen, em 1939, decidiu mudar para os Estados Unidos. Foi um baque. Assis sentiu-se traído, abandonado. E, pior: tinha dificuldade de compor para outras cantoras. Daí em diante a carreira começou a decair. Novos ritmos tocavam nas rádios e sua música passou a ser considerada obsoleta. Não conseguia – e muitas vezes não queria – acompanhar as novidades. Emplacou alguns sucessos, como o clássico Fez Bobagem, de 1942, gravado por Araci de Almeida. Mas sem a mesma repercussão de antes. Também não teve êxito no casamento com Nadyle da Silva Santos, que durou menos de três anos. Com ela teve sua única filha. Vendo a fama de longe e com dívidas quase impagáveis, tentou o suicídio duas vezes. Não parou de compor, mas boa parte das criações servia apenas para lotar as gavetas. Poucos queriam gravar um compositor que só estampava as manchetes por tentar se matar. Cada vez mais se afastava das pessoas. Até que, uma semana antes de completar 50 anos, conseguiu dar cabo à vida. O sucesso que sempre perseguiu viria pouco depois. Não mais na voz de Carmen Miranda, mas pelas sucessivas regravações a partir dos anos 1960 – destaque para os Novos Baianos, que transformaram Brasil Pandeiro num estrondoso sucesso nacional. Uma das mais regravadas é o samba Alegria, um marco na carreira e, sobretudo, uma das mais elaboradas sínteses de sua existência. Uma vida na qual a dor e o prazer coexistiram numa eterna busca por um sentimento que nunca alcançaria: Esperando a felicidade / Para ver se eu vou melhorar / Vou cantando, fingindo alegria / Para a humanidade não me ver chorar... SAIBA MAIS A Jovialidade Trágica de José de Assis Valente, de Francisco Duarte Silva e Dulcinéa Nunes Gomes (Martins Fontes/Funarte, 1988) Ouça as canções pelo blog Eu Quero um Samba: www.euqueroumsamba.blogspot.com

O M elhor Produto do Brasil é o Brasileiro CÂMARA CASCUDO

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Enigma Figurado

ligue os pontos

ão se deixe enganar pela pose comportada. Roberto e Erasmo Carlos começaram na música com o rapazote, mas ele nada tinha de bom moço ou do estilo Jovem Guarda. Mudou-se para os Estados Unidos aos 16 anos e voltou, expatriado, trazendo a influência dos ritmos negros de lá. Um dueto com Elis Regina iniciou a trilha de sucesso do vozeirão. Quase 30 anos depois, passa mal num show. Em 15 de março de 1998, a música brasileira perde seu “síndico”. (NP)

R.:

reprodução/ab

N

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a Requintada obra barroca, foi feita no cenário do Ciclo do Ouro, em 1736. Recebeu 400 quilos de ouro e 400 de prata nos ornamentos rococó.

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b No início feita de barro e palha, foi reconstruída duas vezes, sempre no mesmo local escolhido pelo cacique Tibiriçá em 1591.

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c Construção de 1772, guarda imagem do protetor dos baianos. Todos os anos, milhares de pessoas lavam suas escadas.

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d Pronto em 1943, o projeto de Niemeyer não foi bem recebido pela Igreja. Alegavam que a fachada lembrava uma foice, símbolo do comunismo.

O Calculista das Arábias

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

acervo da família

O geômetro Bháskara tinha uma filha muito amada, Lilaváti. Mas a posição dos astros, quando ela nasceu, indicavam que jamais casaria. Então o pai resolveu escrever um livro matemático que perpetuasse seu nome na lembrança dos homens. E começou: A quinta parte de um enxame de abelhas pousou na flor de Kadamba, a terça parte numa flor de Silinda, o triplo da diferença entre estes dois números voa sobre uma flor de Krutaja, e uma abelha adeja sozinha, no ar, atraída pelo perfume de um jasmim e de um pandnus. Diz-me, bela Lilávati, qual o número de abelhas? Se a menina respondeu corretamente, qual foi o número que pronunciou?

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BRASILIÔMETRO teste o nível de sua brasilidade 1 Último presidente do regime militar, empossado em 15/3/1979: (a) Figueiredo (b) Geisel (c) Médici (d) Sarney 2 Assinou trilha da série O Sítio do Pica-PauAmarelo, lançada em 7/3/1977: (a) Gil (b) Vinicius (c) Caymmi (d) Toquinho

Palavras Cruzadas

3 Capital planejada, construída em 1°/3/1849: (a) Brasília (b) Belo Horizonte (c) Manaus (d) Palmas 4 Duração da Guerra do Paraguai, que terminou em 4/3/1870: (a) 66 anos (b) 60 anos (c) 16 anos (d) 6 anos 5 Promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 19/3/1964: (a) Operários (b) Católicos (c) Conservadores (d) Evangélicos 6 Oswaldo Cruz, que assumiu a saúde púbLica carioca em 26/3/1903, combateu a: (a) Malária (b) Febre amarela (c) Desnutrição (d) Dengue 7 Assina o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, publicado em 18/3/1924: (a) Raul Bopp (b) Mário de Andrade (c) Oswald de Andrade (d) Drummond 8 Para disputar a presidência, em 26/3/1994, FHC deixou o: (a) Itamaraty (b) BNDES (c) MEC (d) Ministério da Fazenda Respostas na p. 32 AVALIAÇÃO – Conte um ponto por resposta certa: 0 a 2 – Brasilidade na reserva 3 a 4 – Meio tanque 5 a 8 – Tanque cheio

“A vida é mais simples do que a gente pensa; basta aceitar o impossível, dispensar o indispensável e suportar o intolerável.”

Kathleen Norris


Diversão para pequenos

i l u s t r ac õ es

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iano

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e grandalhões

VOCÊ SABIA?

Cada Estado do Brasil é uma estrela lá no céu

O las que os navegantes sabiam que rota seguir. É olhando para cima que os índios descobriam os caminhos na

céu sempre influenciou a humanidade. É por ele que os astrólogos “leem” os signos. É pela posição das estre-

floresta, se ia chover ou se os deuses estavam zangados. A constelação do Cruzeiro do Sul é uma das mais importantes para os brasileiros. Ela se localiza ao sul do horizonte e forma uma enorme cruz. Inspirada nela, nosso dinheiro já se chamou cruzeiro. Aí veio a inflação e virou cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, real... E não é apenas na moeda (e nos times de futebol) que o Cruzeiro do Sul se faz presente. Ele também está na bandeira nacional. As 27 estrelas estão dispostas conforme o céu das 8h30 de 15 de novembro de 1889, data da proclamação da República. Elas também representam os nossos 26 estados e o Distrito Federal. Na poesia Ouvir Estrelas, Olavo Bilac (1865-1918) deFende que podemos conversar com os astros sem ser chamados de loucos. Basta ter amor para trocar uma ideia com os pontinhos prateados lá do céu: Eu vos direi: / “Amai para entendê-las! / Pois só quem ama pode ter ouvido / Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Quando os astros brincam de se alinhar

JÁ PENSOU NISSO?

O recorde mundial de salto com varas é de 6,14 metros. Se esse mesmo atleta praticasse o esporte na Lua, alcançaria a incrível marca de 37 metros! Já um corredor completaria os 100 metros rasos com apenas sete passos, em vez dos habituais 45. Isso tudo aconteceria porque a gravidade lunar é seis vezes menor do que a da Terra. É por isso que os astronautas parecem planar quando caminham sobre o satélite. Alguém que tenha 80 quilos pesaria o equivalente a 13 por aquelas bandas. Essas “Olimpíadas Lunares” só seriam ruins pela falta de incentivo do público. Lá o som não se propaga. Os jogos seriam realizados num silêncio absoluto.

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Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do Almanaque. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você.

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Eclipse lunar não é um fenômeno tão raro quanto parece. O último eclipse total ocorreu no Brasil em fevereiro do ano passado. O próximo será em dezembro de 2010. Ele acontece quando a Terra se alinha entre o Sol e a Lua. O satélite passa pela sombra gerada pela Terra, e fica com aspecto avermelhado devido aos raios solares que passam pelo nosso planeta. O eclipse solar total também não é incomum. Ocorre em geral a cada 18 meses ao redor do mundo. Mas há uma diferença fundamental no momento de contemplá-lo. Ao contrário do lunar, você não pode olhar sem proteção para o fenômeno. Os raios de sol podem prejudicar seus olhos.

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Vitória

Uma cidade forte Com vocabulário próprio, geografia singular, tradições milenares e sabores únicos, a capital capixaba é capaz de surpreender os viaJantes. Das suas entranhas saem as panelas de barro que receberam o primeiro registro de bem imaterial do Brasil. E da luta de seus antepassados o povo herdou o nome da cidade e a disposição para a batalha. Texto, fotos e ilustrações de Heitor e Silvia Reali

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Vitória: paisagem esculpida com majestosos rochedos e pontilhada de blocos de pedra nos mais ricos tons de castanho, cinza e café.

uem nasce em Vitória o que é? É capixaba, iá! Deixa eu falar, em Vitória, carece ter dicionário capixabês para não ficar injuriado. Os capixabas possuem um dialeto próprio, mas não adianta traduzir, é preciso saber usar. Deixa eu falar é como iniciam suas falas, o que não quer dizer que não costumem ouvir uns aos outros. Iá é quase o uai do mineiro, uma constatação ou pequena surpresa. Qual é, um cumprimento como olá. Carona fala-se ponga; lagartixa, taruíra. E chega por hora, para não ficar palha, sem graça. Capixaba, nome tão sonoro, não tem nada

de capixabês. No tupi, quer dizer roça, terra limpa para a plantação. Com o tempo, o nome passou a denominar todos os moradores de Vitória. Já Espírito Santo é outra história. Em chegando para fundar o povoado em 1535, o donatário Vasco Coutinho, por ser época de Pentecostes (festa católica celebrada 50 dias após a Páscoa), batizou a terra em homenagem à descida do Espírito Santo sobre os apóstolos. Porém, velho-de-guerra, logo viu que o local não oferecia muita segurança contra os ataques de índios e piratas holandeses e franceses. Mudou então a ciMarço 2009


Preste Atenção! Repare nos rochedos de Vitória. De formação granítica, os paredões envolvem a capital. Desde o imponente Morro do Penedo – que, com 136 metros de altura, surge das águas dando à paisagem uma dimensão mítica – ao sagrado penhasco do Santuário de Nossa Senhora da Penha e das Alegrias. Ali, do alto de seus 154 metros, se tem a melhor vista de Vitória. E tem também o pequeno rochedo em que se aninha a Capela de Santa Luzia, a mais antiga edificação do município. Todos fazem parte da vista do convento da penha.

identidade capixaba.

dadela para a Ilha de Guanaaní ou Guananira – mel em tupi. Altas montanhas de pedra, cercada de mar e de manguezal, com seu labirinto intrincado de árvores e solo lamacento. A localizaçao era estratégica. Bons de mar, mas não de escaladas, os piratas se pocaram, deram no pé. Os valentes índios goitacazes, entretanto, não davam trégua. A vitória só veio mesmo em 8 de setembro de 1551. Os índios bateram em retirada e a aldeia passou a se chamar Vila de Nossa Senhora da Vitória.

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Sabores da ilha Vitória fica em uma baía abraçada por montanhas, recortada por praias, enseadas, ilhas, ilhotas e maciços de pedra que emergem do mar de águas tranquilas. Conquista no primeiro olhar. Sua paisagem é esculpida com majestosos

rochedos que envolvem metade da ilha; a outra metade é pontilhada de blocos de pedra nos mais ricos tons de castanho, cinza e café. Em uma de suas ilhas, portugueses vindos da Ilha da Madeira em meados do século 19 instalaram uma pequena fábrica de cal. Estava dado o nome do lugar: Caieiras. Lá dona Idalina, uma das pioneiras, trouxe a receita de um prato elaborado com peixe, marisco, ostra, tomate e cebola. Adaptou-a aos peixes da terra como robalo e badejo e acrescentou carne de siri. Nascia a torta capixaba. Eliana Muniz Correa, bisneta de Idalina, faz também suas tortas de sabores e aromas únicos. Começou vendendo de porta em porta. O sucesso foi tiro e queda: montou um quiosque, aumentou o número de mesas na calçada e abriu um restaurante. Na Semana Santa a ilha fica um furdunço de tanta gente que vem saborear a tradição de Caieiras. Outras mulheres puseram mãos à obra, e hoje são mais de uma dezena de restaurantes. Mas Eliana continua a campeã de vendas, e logo vai revelando o segredo. Sua avó do lado materno era uma índia esperta. Sabia que em Caieiras muita gente fazia mandinga. Para despachar os malefícios, colocava no recheio da torta, muito bem picadinhos, coentro e três dentes de cravo – dupla imbatível de contra-feitiços.

torta capixaba e pirão.


Negro e prata Diz a receita que a torta capixaba, assim como a moqueca, só pode ser feita em panelas de barro. As melhores são produzidas pelas Paneleiras de Goiabeiras, um bairro de Vitória que preserva a tradição milenar. Confeccionada no passado pelas índias, é um trabalho rude, braçal, feito quase sempre por mulheres, que transmitem o saber de mãe para filha. O galpão das paneleiras é uma extensão do mangue. Elas extraem a argila, limpam as impurezas, moldam as peças, alisam com pedra de rio, levam para secar ao sol e preparam a fogueira ao ar livre. Com uma vassourinha de muxinga, açoitam as panelas com tanino, seiva de árvore do mangue. Mangue, panelas, tanino, carvão e a pele queimada pelo sol e pelo fogo são de uma só cor: negra. De prata, os cabelos, a roupa e os pés, iguais à cinza da fogueira. Resis-

Não deixe de conhecer

tentes, as paneleiras não recuam diante das dificuldades. Pelejam por um local melhor para trabalhar, nada muito, e por uma lojinha ali mesmo para receber os visitantes. Por todo esse valor, receberam em 2002 o primeiro registro de bem imaterial do Brasil concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Deixa eu falar bem alto: a bem dizer, quem nasce em Vitória não é capixaba, não. É vitorioso, iá!

VITÓRIA TEM MAIS Praias bucólicas As praias das ilhas vizinhas, do Frade e do Boi, são mais bucólicas e ainda guardam aquele pungente aroma de maresia das praias prístinas. Algumas têm piscinas naturais, e os banhistas dividem espaço com coloridos barcos e pescadores costurando suas redes.

Bandas de congo

As escadarias que ligam a Cidade Alta à Baixa fazem

No aprazível vilarejo de Barra do Jucu, na Grande Vitória, um ritmo faz os ouvintes saçaricarem. É a batida do tambor com o som serralhado da casaca das bandas de congo. Estes conjuntos musicais descendem dos cantos e rituais dos índios, que a partir do século 18 se miscigenaram com as músicas e batuques dos negros. O instrumento mais característico é a casaca, que em alguns lugares do Brasil recebe o nome de reco-reco ou ganzá. O que a diferencia, em Barra do Jucu, é a cabeça esculpida na parte de cima do instrumento pelo artesão local mestre Vitalino, homônimo do ceramista pernambucano que fez fama pelo País.

parte da história capixaba. A escadaria Maria Ortiz foi assim batizada para homenagear uma moradora que comandou os habitantes numa luta contra os piratas holandeses liderados por Piet Heyn em 1625. Não fosse o forte calor dos trópicos, a escadaria Bárbara Lindenberg (foto), que une o Palácio Anchieta ao Porto, nos levaria a uma capital europeia, com esculturas e fontes. Vale a pena subir tantos degraus.

Oficina Ana Paula Castro Poucos lugares mostram a criatividade de um artista como esse ateliê. A múltipla arte de Ana Paula se traduz em esculturas, quadros e objetos nos mais diversos materiais. De peças regionais elaboradas em madeira ou argila a obras modernas feitas em aço ou acrílico, Ana sempre traz a natureza de seu Estado para dentro das obras.

SERVIÇO Como chegar A TAM oferece voos diários para Vitória, saindo das

Onde comer

principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br

Panela Capixaba Cardápio a base de pratos da cozinha capixaba, com

Onde ficar

destaque para os frutos do mar. Localizado no interior do HortoMercado, na Enseada do Suá, tem nas noites de quintas apresentações de chorinho. Tel.: (27) 3225-1506.

Bristol Praia do Canto Excelente localização e vista privilegiada. Inclui saboroso café-da-manhã, com grande variedade de itens. www.bristolhotels.com.br Diamond Suítes Com arquitetura moderna, fica de frente para a Praia de Camburi. Tel.: (27) 3395-3400.

Beco do Siri Localizado no tradicional reduto das desfiadeiras de siri, na Ilha das Caieiras, o restaurante da chef Eliana tem a torta capixaba como carro-chefe. Tel.: (27) 3233-2071. Março 2009

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Orquídea Orchidaceae

Flor das mil formas As flores podem ter o tamanho de uma cabeça de alfinete ou mais de 20 centímetros de comprimento. As cores vão do branco ao púrpura-escuro. Das 30 mil espécies registradas, o Brasil abriga 2.500. E, das milhares por descobrir, a maioria deve estar na Amazônia. Por Mylton Severiano

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ma coisa é certa. Neste momento, em toda parte do Brasil e do mundo estão acontecendo exposições de orquídeas e encontros de orquidófilos. Planta ornamental alguma exerce tanto fascínio quanto esta da família das orquidáceas, talvez a maior do reino vegetal. Surgimos no planeta milhares de séculos depois delas: vestígios de fósseis de orquídeas datam de no mínimo 64 milhões de anos atrás. Vem do século 10 a.C. a notícia escrita mais antiga. Belquis, rainha de Sabá (futuro Iêmen), que pensava conquistar Salomão, rei de Israel, levando-lhe um navio de pedrarias, acata o conselho de sua escrava: “Ao rei dos reis, leve um buquê de orquídeas”. Cinco séculos depois, o filósofo chinês Confúcio a cultiva e escreve num poema que a flor exala “o perfume dos reis”. Mais 200 anos e, no século 3 a.C., encontramos uma referência em Teofrasto, chamado Pai da Botânica, discípulo de Aristóteles: ele menciona o par de bulbos de espécies terrestres das margens do Mediterrâneo. Mas foi o médico grego Dioscórides que no século 1 as batizou de orchys – testículos, alusão a dois bulbos de outra espécie, possivelmente Anacamptis morio. E, se você observar bem, verá que a forma de muitas flores sugerem não só

aqueles órgãos sexuais masculinos como também os femininos (elas são em sua maioria hermafroditas). Aliás, Dioscórides usava orquídeas no tratamento de problemas sexuais. Na era da navegação, as orquídeas chegam à Europa vindas dos trópicos, e o comércio dessas flores toma impulso. Continuamos a cultivá-las pela beleza e pela surpreendente variedade de formas, perfumes e cores – do branco translúcido ao púrpura quase preto da mundialmente celebrada orquídea negra. Os 600 gêneros compreendem até 30 mil espécies, mas o número de híbridos já passa dos 100 mil. Um único fruto pode conter centenas de milhares de sementes. Mais: as espécies se cruzam produzindo híbridos férteis. Que continuam se cruzando. Assim, vamos com calma ao falar em perigo de extinção. Em sua maioria, são epífitas – se fixam em galhos e troncos, mas não são parasitas, como muitos pensam. A flor em geral tem três sépalas e três pétalas – a do meio, o labelo (pequeno lábio em latim), de colorido mais acentuado, pode ter perfume suave ou forte – até de baunilha e chocolate – para atrair o inseto polinizador e garantir a reprodução da espécie. E nisso elas são mestras.


Poesia vegetal Branca Verde-mar Azul céu Cor de sangue Vestida de escarlate Ornada de ouro Em forma de espada curva De labiozinho ondulado Língua de ametista Concavidade púrpura

Aberta Perfumada Encrespada Encapuzada De chicote Nua Curvada em arco Em forma de vaso De lança De leque

Enfeitada de fitas Salpicada Malhada Ruborizada De cheiro agradável Que habita as pedras Enganadora Sublime Digna de amor

Estes versos, traduzidos do latim, são nomes de espécies da família das orquidáceas.

Arte de seduzir

Inglesa apaixonada

iolanda huzak

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Margaret Mee/hebário Bradeanum

Por três décadas, a britânica Margaret Mee percorreu os rios amazônicos, coletando e pintando plantas, especialmente orquídeas e bromélias. Com arte e rigor científico, retratou minuciosamente as espécies. Margaret veio a São Paulo em 1952 cuidar da irmã, adoentada. Encantada com a Mata Atlântica, que ainda cobria boa parte do Estado, nunca mais saiu do Brasil. Mudou para Belém e, entre 1956 e 1988, fez 15 expedições pela floresta amazônica. Viajava em pequenos barcos com guias, às vezes levava algum amigo, como o paisagista Burle Marx, que a convenceu a fixar-se no Rio em 1968. Registrou orquídeas que se julgava extintas e descobriu novas espécies – algumas receberam seu nome. De personalidade apaixonada e rebelde, Margaret alertou o mundo para a devastação de nossas florestas. Ela, que enfrentou todo tipo de perigo nas matas, morreria em acidente de carro, aos 79 anos. Um ano depois, em 1989, foi criada a Fundação Botânica Margaret Mee, que apoia novos artistas e biólogos.

A

lém de exalar perfume, a orquídea usa outros truques para atrair polinizadores. Algumas assumem as formas de fêmeas de insetos e enganam os machos: trocam pólen usando movimentos de acasalamento. Uma espécie do gênero Catasetum, de flor masculina, ao sentir o toque do inseto, lança a mais de um metro um receptáculo de pólen que se agarra às costas dele. A orquídea ama a vida. Uma cápsula pode conter oito milhões de sementes, dependendo da espécie, leves o suficiente para o vento as levar por centenas de quilômetros.

Saiba mais Flowers of the Amazon Forests, de Margaret Mee (Antique Collecto-UK, 2006). Margaret’s Mee Amazon, de Margaret Mee (Antique Collecto-UK, 2004).


Eudócia

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Simplício Márcio Casimiro Virgílio Olegário Ardom

Propaganda em teco-teco

Urbano Gregório

E

sse causo envolveu uma certa campanha para eleição de prefeito lá na minha terra. Um tipo muito popular, chamado João Mataraia, contratou um desses pilotos de teco-teco para jogar uns folhetos onde se lia: “Vote em João Mataraia, o prefeito que não faia”. E para jogar os tais folhetos, era preciso um ajudante. Quem foi que ele convidou para essa empreitada? Um dos meus irmãos, que tinha o carinhoso apelido de Gracinha. Lá foram os dois pelos ares numa linda manhã de domingo. E aí começaram as artimanhas do piloto, que subia verticalmente rumo aos céus, para em seguida fazer um grande parafuso com o avião desligado. Quando o dito aviãozinho estava prestes a esborrachar-se no chão, o piloto fazia uma manobra brusca e gritava para o ajudante: “Joga!”.

Sávio Cândido Bernardo Cristina Matilde* Leocrécia Agapito Gertrudes Eduardo Quintila Alexandra Bento Léia Eusébio Gabriel Desidério Bráulio Ruperto Malco

Gracinha obedecia, assustado. E lá ia o avião pelos ares de novo. Nova acrobacia, agora diferente da primeira, e a ordem do piloto, sempre depois de um gole de cachaça: “Joga!”. E Gracinha tremendo, sem saber por que tanta ousadia. “Joga!”. E mais um gole da mardita. Foi então que lá pelo décimo mergulho do aviãozinho, com o piloto ainda insatisfeito com o resultado da missão, Gracinha tomou coragem: – Ô seu motorista! Precisa mermo esse trem voar tão baixo? E o piloto explodiu: – Ocê num sabe fazê propaganda pra essa gente, Gracinha! Num causo desses, a gente tem que dá o folheto bem na mão deles. Senão eles num lê! Eles num lê!

Jonas Zózimo

Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).

Benjamim

ARIES (21/3 a 20/4)

O nativo de Áries sempre reclama de sorte no amor, porém nunca está sozinho. Adora inventar atividades e jogar toda a sua energia naquilo que gosta de fazer. Movido por novos interesses, desaparece da vista dos amigos, mas reaparece repentinamente. Se quiser castigar um ariano, diga-lhe que não pode fazer nada. Sem ação, ele se torna impaciente, frustrado e aborrecido.

* Santa Matilde Depois da morte de seu marido, Matilde foi traída pelos filhos, que a acusaram de esbanjar os bens da família com os pobres. Retirada num convento, converteu os filhos ao arrependimento. Praticou milagres, fundou igrejas e fez profecias. Recuperou também o benefício para os pobres e doentes.

toni pires/folha imagem

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domingo segunda 3 terça 4 quarta 5 quinta 6 sexta 7 sábado 8 domingo 9 segunda 10 terça 11 quarta 12 quinta 13 sexta 14 sábado 15 domingo 16 segunda 17 terça 18 quarta 19 quinta 20 sexta 21 sábado 22 domingo 23 segunda 24 terça 25 quarta 26 quinta 27 sexta 28 sábado 29 domingo 30 segunda 31 terça 1

Estação Colheita O que se colhe em MARÇO Caqui, chuchu, goiaba, pepino, quiabo, limão, figo.

Crescente: 4/3 às 4h46 Cheia: 10/3 às 23h38

Minguante: 18/3 às 14h47 Nova: 26/3 às 13h06

CARTA ENIGMÁTICA – Morreu no dia de Tiradentes, depois de várias cirurgias e 34 dias de agonia no País. (Tancredo Neves) ENIGMA FIGURADO – Tim Maia SE LIGA NA HISTÓRIA – 1b (Catedral da Sé, São Paulo/SP); 2c (Igreja do Senhor do Bonfim, Salvador/BA); 3d (Igreja de São Francisco de Assis, Belo Horizonte/MG); 4b (Matriz de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto/MG). BRASILIÔMETRO – 1a; 2c; 3b; 4d; 5c; 6 b; 7c; 8d. O QUE É O QUE É? – Mercúrio. DE QUEM SÃO ESTES OLHOS? O CALCULISTA DAS ARÁBIAS – O enxame tem 15 abelhas. O problema é traduzido numa expressão de 1° grau, sendo x o número de abelhas: x/5 + x/3 + 3 (x/3 – x/5) + 1 = x Zé do Caixão

“Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante que o conhecimento.”

Albert Einstein


Batucando Além das composições musicais, Moacyr Luz ataca como letrista. Os sambas são co-assinados por bambas como Martinho da Vila, Wilson das Neves e Aldir Blanc.

Eddie assovia carnaval no inferno O início dos anos 1990 marcou um boom cultural em Pernambuco. No embalo dessa criatividade coletiva surgiram bandas como Mundo Livre S.A., Chico Science & Nação Zumbi e Mestre Ambrósio. Também nasceu a Eddie, banda olindense que nunca fez questão de associar a imagem ao Mangue Beat. E, nessa levada, o grupo acaba de lançar o quarto disco, Carnaval no Inferno, que mantém a proposta libertária e individual dos álbuns anteriores. Destacam-se os vocais limpos e envolventes,

além de arranjos com muito groove. Mas sem exageros à toa. As canções são divertidas, com ginga, sem cair no erro comum de criar apelos sonoros mais extensos do que a sinceridade musical pede. É um disco impactante e suave ao mesmo tempo. Mantém uma unidade conceitual que provém de mistura de ritmos pernambucanos, do entusiasmo das festas populares de Olinda, com influências de batidas e sonoridades de todas as partes. “É um álbum assoviável”, define, modestamente, o (BH) vocalista Fábio Trummer.

Poesia do Sopro O flautista Altamiro Carrilho lança caixa com três CDs. São o registro de um concerto no Teatro Municipal de Niterói e de gravações históricas da carreira. Amanhecer Elogiada por Mônica Salmaso, Paula Mirhan se junta ao compositor Wagner Barbosa para apresentar repertório de sambas, sambas-canção e baiões. 33

Caminhos traçados com ferro no chão As estradas de ferro são a representação física dos caminhos escolhidos para o desenvolvimento do País. No Sudeste era o café. No Sul, o carvão. A cana no Nordeste e a exploração de madeira no Norte. Numa ponta as regiões produtoras de riqueza; na outra, os portos que escoavam para o mundo nossa matéria-prima. Grande promessa para o transporte da jovem nação, o trem e seus cenários ganham espaço no livro Ferrovia e Fotografia no Brasil da Primeira República, de Pedro Karp Vasquez. As imagens, acompanhadas de textos sobre a expansão de cada região,

são de diferentes coleções, e foram produzidas entre 1891 e 1930. Algumas das construções que desbravaram o País custaram vidas de índios e de brancos, em disputas pelo espaço. Epidemias fatais em rincões inóspitos também não pouparam os forasteiros – entre eles, muitos estrangeiros. As fotografias revelam ainda outros aspectos. As da região amazônica, por exemplo, com trilhos e vagões quebrados, mostram o quanto o terreno é difícil de ser vencido pelo transporte ferroviário. (NP) Metalivros, 277 p., R$ 120.

Espelho do Brasil Daniela Name

A autora e a fotógrafa Selmy Yassuda conheceram de perto artistas de cinco centros de arte popular. O resultado é um belo registro das obras e vidas. Casa da Palavra, 159 p., R$ 82. Bondinho Vários

A revista de 1972, apesar de alternativa, atingiu tiragem de 50 mil exemplares. Esta coletânea de 36 entrevistas mostra o que pensavam na época figuras como Chico Buarque, Gilberto Gil e Os Mutantes. Azougue, 352 p., R$ 80. Na Mesa com Burle Marx Claudia Pinheiro (org.)

O paisagista Burle Marx oferecia banquetes memoráveis, preparando comida e decoração. No livro estão 60 das receitas irreverentes, sob estampas de toalhas que pintou. Batel, 192 p., R$ 88. Março 2009


Garoto esperto A mãe e o filho estão prestes a entrar no ônibus quando reparam na placa: “Crianças até 10 anos não pagam a passagem”. Para economizar dinheiro, a mãe sussurra: – Meu filho, você tem 10 anos, tá ouvindo?! E o garoto, meio assustado: – Sim, mamãe. Ao subir no ônibus, o motorista pergunta: – Ei, menino. Qual é a sua idade? – 10 anos... Desconfiado, o motorista emenda: – E quando é que você completa 11 anos? – Quando eu descer do ônibus, ué!

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Frango esfomeado Num restaurante fuleiro de beira de estrada, o sujeito chama o garçom e reclama: – Este frango está malpassado! E o garçom: – Mas como você sabe? Nem chegou a experimentar. – É que ele comeu toda a minha salada!

Imitação Minha senhora, quer fazer o favor de pedir ao seu filho que pare de me imitar? E a mulher, ao filho: – Pedrinho, eu já disse pra parar de bancar o bobo!

“Em toda família boa há sempre um sujeito à toa.” Poligamia A poligamia oferece muitas vantagens. Um homem casado no regime monogâmico briga diariamente com a mulher. Quando, porém, convola núpcias com muitas mulheres, as esposas brigam entre si e o marido descansa e diverte-se, assistindo de camarote. Uma lembrança feliz O médico, quase morrendo de fome por falta de clientes, fez um anúncio, comunicando que só atenderia mulheres moças. Desde então, seu consultório passou a ser frequentado por uma multidão... de homens. Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

Limite de velocidade Um carro lotado de velhinhas está andando a 15 quilômetros por hora em uma rodovia. O guarda, preocupado, pede para a velhinha encostar: – A senhora está apenas a 15 quilômetros por hora... E a velhinha: – É, estou no limite de velocidade. O guarda corrige: – Não, minha senhora. Quinze é o numero da rodovia. O limite de velocidade é 80 quilômetros por hora E, aliás, por que suas amigas estão tão pálidas? – Deve ser porque acabamos de sair da BR-232.

Ponto Final

“O plano que não pode ser mudado não presta.”

Pubilius Syrus




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