eles invadiram nossa praia O LITORAL BRASILEIRO NÃO FAZ DISTINÇÃO: PERSONALIDADES DE TODAS AS ÁREAS E DE TODOS OS CANTOS PROVARAM O SAL E O SOL DAS NOSSAS PRAIAS. SAIBA O QUE ROQUEIROS, JOGADORES DE FUTEBOL, CINEASTAS E FILÓSOFOS ESTRANGEIROS VIRAM POR AQUI.
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TEXTO NATÁLIA PESCIOTTA ARTE RODRIGO TERRA VARGAS
ão podemos dizer que o potencial turístico do Brasil seja totalmente aproveitado, mas os números não são de jogar fora: seis milhões de turistas estrangeiros visitaram o País em 2013, batendo os recordes anteriores. A atividade econômica é responsável por 3,7% do Produto Interno Bruto. O ano que começa guarda grande expectativa de desenvolvimento do turismo brasileiro, já que a Copa do Mundo, em junho, promete atrair atenção e milhares de turistas e celebridades estrangeiros. Muito antes de estar no olho do furacão, no entanto, estas terras já conquistaram personalidades do mundo todo com sua cultura e belezas naturais. Apesar de atrativos de norte a sul, com direito à maior floresta tropical do mundo, uma das maiores quedas-d’água do planeta e encantos mil no interior, nossos mais de nove mil quilômetros de praias se destacam, principalmente durante o verão. Sombra e água fresca fazem brilhar olhares estrangeiros escondidos por trás dos óculos de sol. Brigitte Bardot achou o paraíso em Búzios, Simone de Beauvoir estranhou a água de coco, David Beckham encontrou a alma do futebol. Em clima de praia, Mick Jagger virou João; Saint-Exupéry, Zé Perri; Orson Welles, Galegão Legal. Nas próximas páginas, um mergulho nos álbuns de fotos e lembranças desses e de outros turistas ilustres.
Janis Joplin viveu paz e amor EM AREMBEPE Uma indicação de alguém levou Janis Joplin e o namorado para a Bahia em 1970. De carona em carona, o casal percorreu 1.500 quilômetros entre o Rio de Janeiro e Salvador. Na praia do Rio Vermelho, a rotina da cantora norte-americana, que adorou o povo baiano, incluía inadiável banho de mar matutino. Logo seguiu para uma aldeia hippie nas redondezas de
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Salvador, na praia de Arembepe. A dona da voz rouca de Mercedes-Benz instalou-se na Casa do Sol Nascente, uma espécie de centro cultural, e sentia-se à vontade pela areia, empunhando uma garrafa de cachaça. Nas últimas férias de sua vida, teve um romance de verão com um pescador, que ganhou de presente uma mala de roupas da cantora.
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o trajeto pela orla carioca em 1925. Em visita ao Rio, o autor da Teoria da Relatividade teve uma programação ocupada por “solenidades e discursos enfadonhos”, mas pôde apreciar o litoral pelo caminho do porto até Copacabana, onde se hospedou.
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“ Uma das maiores emocoes da minha vida.” Assim Albert Einstein definiu Intelectuais TAMBÉM VÃO À PRAIA Conferências, congressos e palestras preencheram a agenda do casal de escritores e filósofos Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre em visita ao Brasil em 1960. Mesmo assim, para contradizer quem acredita que
intelectuais não vão à praia, os existencialistas franceses conheceram as areias de Copacabana. Simone provou água de coco e perguntou, inocentemente: “Mas como fazem para colocar a água aqui dentro?”.
A agitação do Rio de Janeiro e o burburinho da imprensa não estavam nos planos de Mick Jagger e da esposa, Marianne Faithfull, quando escolheram o Brasil como destino, no verão de 1968. Por isso, pouco depois de desembarcar na Cidade Maravilhosa, a dupla e o pequeno Nicholas mudaram a rota para Salvador. Na capital baiana alugaram um casebre bem simples. O astro dos Rolling Stones passou 19 dias tocando violão, brincando com as crianças da redondeza e participando de rodas de samba. “Mick se desnudou por completo de sua persona mítica”, escreveram Emílio Rondeau e Nélio Rodrigues em Sexo, Drogas e Rolling Stones. “Aquele Mick de Itapuã, que passava os dias só de calção, atirado nas redes, era apenas um cara comum. Para os humildes pescadores ele certamente era um João qualquer, só que gringo.”
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Em Itapua, MICK JAGGER VIROU JOÃO
"Foi uma das melhores ferias que vivi”, definiu Mick Jagger sobre sua experiência na Bahia, em entrevista à revista O Cruzeiro. “Todas as noites ficávamos até o nascer do sol tocando música brasileira, principalmente com tambores. Gente genial, aquela.” Devia ser sincera a opinião, pois no mesmo ano Mick voltou ao País com o colega de banda Keith Richards. Seis anos depois, veio com a segunda mulher, Bianca Jagger, para uma temporada de ócio, agora na praia de Joatinga, no Rio de Janeiro.
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Do castelo da Disney AOS CASTELOS DE AREIA Walt Disney foi uma das principais personalidades escaladas pelo governo dos Estados Unidos para estreitar laços com o Brasil nos anos 1940, durante a chamada Política de Boa Vizinhança. No Rio de Janeiro Disney fez todo tipo de passeio turístico: parque, evento, escola de samba e, claro, praia. Apesar de estar em empreitada político-diplomática, o norte-americano, que na ocasião criou o papagaio Zé Carioca, não deixa esconder que se divertiu pra valer durante a temporada tropical.
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Para Beckham, ALMA DO FUTEBOL ESTÁ NA PRAIA “Do jeito que as coisas aconteceram, foi realmente como férias para mim”, disse o jogador David Beckham sobre os 13 dias que passou no Rio de Janeiro, em 2000, para a disputa do Mundial de Clubes pelo Manchester United. A crônica esportiva creditou o fracasso do time inglês ao excesso de praia e farra dos jogadores, mas Beckham não teve culpa. Expulso na primeira das três partidas que seu clube disputou, estava dispensado dos campos e treinamentos.
E tratou de aproveitar. “Lembro de uma noite em que caminhei sozinho pela areia de Copacabana”, anotou o craque na autobiografia. “Nós ouvimos falar dela, mas vai muito além da imaginação.” Segundo ele, alguns garotos o reconheceram e o chamaram para bater falta com eles. Sobre a experiência, concluiu: “Se o futebol tem uma alma, é ali que ela vive: na praia, com aquelas crianças jogando bola. Eu nunca vou esquecer daquela noite”.
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Rod Stewart TAMBÉM BATEU BOLA EM COPACABANA O Rio de Janeiro foi o destino escolhido por Rod Stewart para descansar depois de cinco meses gravando um disco em 1978. Passou boa parte do tempo na vida noturna da cidade e quase foi expulso do Copacabana Palace depois de uma festa de arromba. Ainda sobrou tempo para curtir o sol e o mar carioca. Na praia, a diversão preferida do roqueiro inglês era jogar bola no fim da tarde. Os adversários costumavam ser os guardadores de carro da avenida Atlântica. Anos depois, o astro reuniria 3,5 milhões de pessoas para assistir a um show seu naquelas mesmas areias.
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Brigitte Bardot descobriu “PEQUENO PARAÍSO” EM BÚZIOS Não à toa a praia da Armação, em Búzios, tem uma estátua de Brigitte Bardot em tamanho real. A atriz francesa conta na autobiografia que redescobriu a alegria de viver durante as férias no litoral fluminense, em 1964. Também Búzios deve muito à passagem da femme fatale por lá. Foi a partir das férias da estrela de E Deus Fez a Mulher que o balneário tornou-se mundialmente conhecido. Nas duas vezes em que a loira visitou a região no mesmo ano, a imprensa
do mundo todo abasteceu páginas com fotos da atriz nas praias paradisíacas. Brigitte aprendeu músicas com pescadores, adotou um gato e ficou maravilhada com os beija-flores. A propaganda da francesa para o que chamou de pequeno paraíso chega a dar água na boca. Dizia ser uma lembrança inesquecível a “cor translúcida de um mar cheio de espuma”. “Mais parecia um champanhe azul com o qual eu me embriagava.”
Galegao Legal era o apelido do cineasta Orson Welles na comunidade de pescadores da praia de Mucuripe, em Fortaleza. O norteamericano esteve no Ceará em 1942 para filmar a história de heroicos jangadeiros para o inacabado É Tudo Verdade.
Maradona quis banhar-se NAS ÁGUAS DE PELÉ Maior rival de Pelé, Diego Maradona passou bons momentos na cidade em que brilhou o arqui-inimigo futebolístico. Ao lado do santista Serginho Chulapa, em 1998 o argentino comandou o bloco de pré-Carnaval Banda do Barril pela orla de Santos. Depois aproveitou para pegar um bronze no Guarujá, antes de seguir para o Carnaval carioca. O craque procurava emprego e chegou a se oferecer para jogar pelo Santos. Nada feito: a temporada de Don Diego não passou de férias.
Campeche ainda era uma praia afastada de Florianópolis quando servia de escala para aviadores do Correio Aéreo Francês. Um dos pilotos, Saint-Exupéry, que mais tarde escreveria O Pequeno Príncipe, ficou conhecido por lá como Zé Perri. Entre os anos de 1926 e 1931, o francês cultivou amizade com Manoel Rafael Inácio, o pescador Deca. Era só ver o amigo chegar que Deca corria para pescar um peixe de boas-vindas. Os dois gostavam de cozinhar juntos e comer biju. Só não combinavam numa coisa: Zé Perri tinha medo de navegar e Deca, de entrar no avião. REPRODUÇÃO
CARLOS MARQUES/ A TRIBUNA/ AE
Em Floripa, SAINT-EXUPÉRY VIROU ZÉ PERRI
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