Almanaque Brasil 121 - Maio de 2009 (2)

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a minha juventude, 1º de maio era o dia do Torneio Início, um campeonato de futebol com times de várzea que ocorria no estádio do Nacional, na Água Branca, zona oeste de São Paulo. As equipes eram divididas em grupos de quatro. Quem perdesse era eliminado da competição. Os vencedores de cada grupo jogavam contra os vencedores do grupo seguinte. E assim a bola rolava sucessivamente até o fim do dia, quando os dois melhores disputavam a grande final. Com direito a taça, churrasco e muita cerveja. A torcida – formada por familiares dos jogadores, todos operários – fazia daquele dia uma festa. As mesas eram postas com fartura, e as crianças brincavam no generoso e arborizado espaço do clube. Era um dia especial. Eu era um dos atacantes reservas do serva, cuja sigla significa Sociedade Esportiva e Recreativa da Vila Anastácio, bairro em que eu morava. Tratava-se de uma boa equipe. Alguns jogadores tornaram-se profissionais em times paulistas. Ou seguiram carreira em outros estados – caso do meu irmão Eurípedes, o Nenê, que durante alguns anos brilhou no Dom Bosco, de Cuiabá. Eu era reserva, e poucos reservas entravam em campo nos minutos finais se a equipe estivesse em vantagem. O que eu mais queria, nas poucas oportunidades que tive, era marcar um gol naquele campo oficial, com gramado, torcida e redes no gol – coisa rara nos campos de várzea. Tentei algumas vezes, mas o tal gol era sempre adiado para o próximo ano. No último torneio que participei, entrei na metade do segundo tempo, quando o time já ganhava com folga e estava com a vaga garantida na final. Num lance bonito, recebi a bola na ponta esquerda, dei um corte no zagueiro com a canhota (que nunca prestou para muita coisa) e, já dentro da área, meti a bola no ângulo oposto. Foi lindo ver o goleiro batido, a rede balançando, o time todo de braços abertos para o abraço. E os gritos e aplausos da minha pequena torcida de operários. Passados tantos anos, ainda trago na lembrança este momento singelo, quando um aprendiz de operário sem nenhuma aptidão para o futebol pôde desfrutar de seu dia de glória. Elifas Andreato

O presente vemos apenas de perfil. É o passado que temos diante de nós.

ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Elifas Andreato Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisor Lucas Puntel Carrasco Assistentes de arte Guilherme Resende e Paula Chiuratto Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano Diretor editorial

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Henry James (1843-1916), escritor britânico.

nossa capa

Aumente seu nível de brasilidade E ainda ganhe pontos para viajar

Ronaldo Fraga

BRUNO MAGALHÃES/DIVULGAÇÃO

Um dia de glória

Humor, ousadia e brasilidade são alguns dos elementos que permeiam a obra do estilista mineiro Ronaldo Fraga. Dentro das comemorações dos 10 anos do Almanaque, ele criou uma capa exclusiva para a edição de maio da revista. Formado em estilismo pela ufmg, Ronaldo é pós-graduado na Parson’s School of Design, de Nova Iorque, e na Saint Martins School, de Londres. Entre as coleções que desfilou na São Paulo Fashion Week, destacam-se as inspiradas na vida e obra de ilustres brasileiros como Drummond, Guimarães Rosa, Nara Leão e Bispo do Rosário. Para além das passarelas, Ronaldo desenvolve uma série de projetos de geração de trabalho e renda em comunidades ligadas à indústria da confecção, utilizando elementos e saberes da cultura local. Em 2007, recebeu a Comenda da Ordem Cultural, concedida pelo governo brasileiro a personalidades que se destacam em ações pela cultura do País. Saiba mais sobre o capista de maio em: www.ronaldofraga.com.br

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Ilustrações paula chiuratto

Solução na p. 24

le nasceu na cidade de Caetité, no sertão da Bahia, em 13 de maio de 1933. De família pobre, teve de trabalhar na juventude como lavrador, peão e garimpeiro. No fim dos anos 1950, embarcou para São Paulo para tentar a carreira como cantor e compositor. O sucesso não veio de imediato, e teve de se virar como engraxate. Logo, porém, viria a primeira gravação: Quem És Tu?. A canção, romanticamente amargurada, chamou a atenção do público. Ele também se destacava pelo visual inusitado: chapéu, óculos escuros e preto do pescoço aos pés, inspirado nos filmes de faroeste que assistia na infância. Durante décadas o repertório dor-de-cotovelo embalou os corações machucados de todo o Brasil, principalmente do Nordeste, onde tinha seu maior público cativo. Em uma das músicas, supli-

ca: Por favor leve essa carta / E entregue àquela ingrata / E diga como eu estou / Com os olhos rasos d’água. Os críticos musicais torciam o nariz. O público, entretanto, lotava as apresentações. Para os que o chamavam de brega, respondia: “Eles não sabem do que estão falando. Minha música é romântica. Fala dos sofrimentos do amor de uma maneira bonita”. E emendava: “Enquanto houver corno, mulher sofrida e bêbado no Brasil, eu vou ser sucesso”. Em 1972, viria a canção mais conhecida da carreira. Nela, afirma à amada não se tratar do melhor amigo do homem. Sucesso nacional. Ganhou até uma bem-humorada versão em inglês. Em 2005, a atriz e fã Patricia Pillar rodou um documentário sobre uma série de shows em São Paulo, Ceará e Caetité. O cantor morreu em 2008, com um legado de 500 canções gravadas. (BH)

31 de março de 1964. Em visita ao Rio de Janeiro, como se vê na foto ao lado, o presidente João Goulart é reverenciado por subtenentes e sargentos da Aeronáutica. A situação, no entanto, não passava nem perto de representar os ânimos dos militares brasileiros. Poucas horas depois, em Juiz de Fora, um gruBranco iniciava uma marcha que exigia a deposição do presidente, contando com o apoio de parte da população. A ditadura militar que nos assombrou de 1964 a 1985 começaria no dia seguinte.

reprodução/AB

po de militares da Escola Superior de Guerra comandado pelo general Castelo

Maio 2009


VOCÊ SABIA?

18/5/1850

INAUGURADO O TEATRO SANTA ISABEL, EM RECIFE. EM PLENA ESCRAVIDÃO, O PROJETO NEOCLÁSSICO FOI ERGUIDO POR TRABALHADORES LIVRES.

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Para intendente, lugar de pobre era na cama

enigma figurado

Vadico era o grande parceiro. Aracy de Almeida e Marília

REPRODUçÃO/AB

Baptista, as principais intérpretes. Quando morreu de tuberculose, aos 26 anos, em 4 de maio de 1937, já tinha imortalizado suas crônicas, ironias e provocações musicais. Branco e de classe média, provou que sabia fazer samba também. Parece inofensivo na foto ao lado, mas o bairro carioca de Vila Isabel nunca mais foi o mesmo depois de seu maior poeta.

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calçaram chuteiras para salvar a escola

ra década de 1950. Dona Isolina, diretora de uma escola municipal em Araguari, no Triângulo Mineiro, amargava as contas no vermelho. Para saldar as dívidas, pensou em organizar um jogo com renda revertida para a escola. O diretor de futebol Ney Montes sugeriu uma partida diferente, de vanguarda. Mulheres em campo certamente chamariam mais atenção. A diretora reuniu 40 voluntárias para salvar o caixa escolar. No dia marcado, estádio lotado para ver a mulherada. Sucesso tamanho que a cidade vizinha, Uberlândia, quis repetir a partida. Foi preciso chamar a cavalaria para conter a torcida curiosa. Futebol de mulheres nunca tinha sido visto. A notícia do interior foi parar nas páginas da revista O Cruzeiro. Era só o que faltava para as meninas de Araguari virarem atração nacional. Excursionaram pelo Brasil, desfilaram em carro de bombeiros em Salvador, Belo Horizonte. Foram convidadas até para jogar no México. Porém, por força da lei, a sensação durou

O time de futebol feminino de Araguari, em foto de 1958.

pouco. Um decreto proibia mulheres de praticar esportes coletivos por serem “violentos e perigosos para a anatomia feminina”. Os sonhos das pioneiras jogadoras foram por água abaixo. Elas pediram para praticar na escola, só por diversão. Mas os pais proibiram. Hoje, as senhoras jogadoras de Araguari se lembram com saudade da época em que eram craques em fazer história. E, certamente orgulhosas, veem o Brasil ser festejado por ter a melhor jogadora de futebol do mundo: Marta. (Laís Duarte)

Leia matéria sobre os primórdios do futebol feminino no Brasil no site do A lmanaque . www.almanaquebrasil.com.br

REPRODUÇÃO/AB

dia da vitória

Mocinhas de Araguari

Decreto de 1808: toque de recolher às 10 da noite.

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ACERVO TERESA CRISTINA DE PAIVA MONTES

9/5

13/5/1982

INAUGURADO O CENTRO CULTURAL SÃO PAULO. ERGUIDO DURANTE A DITADURA MILITAR, PRETENDIA UMA OCUPAÇÃO DEMOCRÁTICA DO ESPAÇO.

de maio de 1808. A Intendência da Polícia da Corte proíbe que vendas, casas de jogos e botequins fiquem abertos depois das 10 da noite em todo o Brasil. Assim explicava o motivo de mandar pra cama mais cedo o público desses lugares: evitar “ajuntamento de ociosos”, incluindo escravos que “faltam ao serviço e se corrompem” ou, ainda, “dão ocasião a delitos”. A Intendência havia sido criada pouco depois da chegada da corte portuguesa ao Brasil. Sua função era botar ordem na casa e, de quebra, evitar que os ideais da Revolução Francesa se espalhassem por aqui. O intendente não queria saber de burburinho e decretou várias providências que disciplinavam o tempo livre dos trabalhadores e escravos. No caso do “toque de recolher”, cada pessoa que fosse pega em local proibido depois do horário permitido levava multa de 1.200 réis. Metade para a intendência, metade para o oficial de justiça. (NP) Saiba Mais Polícia no Rio de Janeiro – Repressão e resistência numa cidade do século 19, de Thomas Holloway (FGV, 1997)


o baú do Barão

PALMA, MARACANÃ, PIRAPIRÊ...

5/5 dia da comunidade

Além do real, o Brasil tem muitas outras moedas

“O mar é quando há uma margem. O rio é quando há duas.”

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Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

ANOS DOURADOS

“É com os pés, é com as mãos, o Brasil ACERVO CONF. BRASILEIRA DE BASQUETE

é bicampeão”

REDE DE BANCOS COMUNITÁRIOS/DIVULGAÇÃO

uem pensa que o real é a única moeda que circula no Brasil está redondamente enganado. Se estiver na cearense Maracanaú, por exemplo, o sujeito pode entrar num mercado e pagar as compras com 10 maracanãs. Em Dourados, no Mato Grosso do Sul, pode sacar do bolso 5 pirapirês. Ou 2 girassóis, se estiver em Cariacica, no Espírito Santo. Calcula-se que o equivalente a 80 mil reais esteja impresso em cédulas com nomes alternativos pelo Brasil. Todo esse dinheiro vem dos bancos comunitários, entidades que cedem empréstimos sem a burocracia e os juros dos bancos comuns. Só que esta ação não parecia suficiente para desenvolver as regiões onde eles atuam. O comum é que o morador com crédito vá consumir nas lojas dos grandes centros. Criar um dinheiro aceito apenas pelo varejo local acaba sendo mais eficaz para girar a economia da comunidade. “A gente reproduzia o sistema colonial: a periferia mandava para o centro as riquezas em troca de alimentos e produtos não duráveis”, explica Joaquim de Melo Neto. Há nove anos ele fundou o banco Palmas, que faz circular as notas de palmas no Conjunto Palmeiras, favela de Fortaleza. Desde então, 25% dos moradores dizem ter aumentado a renda e 20% afirmam que conseguiram trabalho. Até o ministro de

Os campeões mundiais de basquete, após a partida final.

Economia Solidária da Venezuela veio conhecer a instituição, em 2006. Há quem alerte para o perigo de falsificações e inflação. Mas a Secretaria Nacional de Economia Solidária aposta no lado positivo do projeto. Já ajudou mais de 30 bancos de moeda própria e pretende criar mais 150 até 2010. (NP)

Conheça mais moedas alternativas brasileiras no site do Almanaque.

de quem são estes olhos?

Ao pular muros, o dono destes olhos assistia a competições ao vivo. Paulistano, era vizinho do palco do esporte em que se consagrou. Foi para a Europa pela primeira vez aos 17 anos, usando um documento do pai. Sorte: nasceu em 23 de maio de 1972, mesmo dia do aniversário do progenitor, e os nomes são iguais. Muitas vezes injustiçado, é o esportista com maior número de participações em sua categoria. Confira a resposta na página 24.

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seleção brasileira de basquete havia sido campeã mundial no Chile em 1959. A conquista, porém, foi manchada pela punição à União Soviética, que perdeu os pontos por se recusar a enfrentar Formosa. No Mundial de 1963, no Brasil, era o momento de provar quem era o melhor. Comandada pelo técnico Kanela, a seleção foi derrubando adversário por adversário. Até que chegou o momento de enfrentar os invictos soviéticos. O jogo foi disputado, mas terminou com o folgado placar de 90 a 79. A última partida foi contra os Estados Unidos, em 25 de maio de 1963. Mais de 20 mil pessoas se acotovelavam no Maracanãzinho. Jogo tenso, decidido apenas nos últimos segundos: 85 a 81 para os brasileiros. Enquanto o capitão Wlamir levantava a taça, a torcida cantava, lembrando-se do mundial de futebol conquistado um ano antes: “É com os pés, é com as mãos, o Brasil é bicampeão.” (BH) Saiba Mais Site da Confederação Brasileira de Basquete: www.cbb.com.br Maio 2009


ISABEL OU POLIANA?

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ra noite de 13 de maio de 1888. No Rio de Janeiro, a princesa Isabel havia acabado de assinar a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil. Deitada na cama da casa de Petrópolis, escreveu para o pai, o imperador dom Pedro II, que estava na Europa. A carta é entusiasmada. Dá detalhes sobre a euforia que tomou conta da cidade. Em tom respeitoso, começa dizendo que apenas fizera uma velha vontade do pai: “Partimos para o Rio a fim de eu assinar a grande lei, cuja maior glória cabe a papai, que há tantos anos esforça-se para um tal fim”. Sem deixar de destacar a própria participação: “Eu também fiz alguma coisa e confesso que estou bem contente de também ter trabalhado para ideia tão humanitária e grandiosa”. Em seguida, conta sobre o clima eufórico que tomou conta das ruas do Rio: “Os nossos autógrafos da lei e o decreto foram assinados às três e meia, em público, na sala que precede a grande do trono,

passada a arranjar depois de sua partida. O Paço (mesmo as salas) e o Largo estavam cheios de gente, e havia grande entusiasmo, foi uma festa grandiosa”. E prossegue: “Discursos, vivas, flores, nada faltou, só a todos faltava saber papai bom e poder tributar-lhe todo o nosso amor e gratidão”. Isabel descreve mais festividades na chegada a Petrópolis: “Chuvas de flores, senhoras e cavalheiros armados de lanternas chinesas, foguetes, vivas. Queriam puxar meu carro, mas eu não quis e propus antes vir a pé com todos da estação”. Três dias depois, a princesa envia uma nova carta. O tom é o mesmo: “Tudo está em festa pela lei. Reina entusiasmo grande por toda a parte”. E assina de maneira carinhosa: “Adeus, meus queridos e bons pais, aceitem mil abraços e beijos saudosíssimos e deitem-nos sua bênção. Sua filhinha que tanto os ama. Isabel, (BH) Condessa d’Eu”.

Leia a íntegra das cartas de Princesa Isabel a Pedro II no site do A lmanaque .

osa 20-6 gême21-5

Curiosos, dinâmicos e comunicativos. Os nascidos em gêmeos nunca estão parados e não gostam de abrir mão de nenhuma atividade. Costumam ser receptivos e tornar qualquer lugar aconchegante. Marcados pela dualidade, têm humor e opinião inconstantes. São muito ligados à família. O problema é a dificuldade em lidar com o desejo de posse pelas pessoas que amam.

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MONTAGEM SOBRE REPRODUÇÃO/AB

A entusiasmada carta da princesa Isabel a dom Pedro II

1 sexta 2 sábado 3 domingo 4 segunda 5 terça 6 quarta 7 quinta 8 sexta 9 sábado 10 domingo 11 segunda 12 terça 13 quarta 14 quinta 15 sexta 16 sábado 17 domingo 18 segunda 19 terça 20 quarta 21 quinta 22 sexta 23 sábado 24 domingo 25 segunda 26 terça 27 quarta 28 quinta 29 sexta 30 sábado 31 domingo

José Operário Zoé Tiago Floriano Peregrino Justo Estanislau Miguel Máximo Antonino Abades de Cluny Aquiles N. Senhora de Fátima Matias Isidoro Simão Stock Herádio João 1 Ema Bernardino de Sena Hospício Rita de Cássia Juliano Marciana Venerando Zacarias Agostinho Luciano Maximiano de Trèves Fernando Petrolina

São Fernando Fernando III de Leão e Castela foi o primeiro rei espanhol a ser canonizado, em 1671. Nasceu em 1201 e assumiu o trono de Castela aos 16 anos. Contribuiu para a unificação do país e ajudou na fundação da primeira universidade espanhola. Foi patrono das ordens de frades e incentivou o fim da discriminação religiosa.


Fases da Lua

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23nd/ia5l

dia mu cação da comuni social

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Projeto cria rede de comunicação entre ribeirinhos

“CARA CHATO!”

Hemingway não conseguia jogar Escravos de Jó

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DIVULGAÇÃO/PSA

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s estradas são os rios. As cidades, ribeirinhas. O acesso à educação e saúde, restrito. Esta é a realidade em que vivem as cerca de 30 mil pessoas atendidas pelo Centro de Estudos Avançados de Promoção Social e Ambiental, o Projeto Saúde e Alegria. Com atuação em Belterra, Aveiro e Santarém, três municípios no oeste do Pará, o trabalho do PSA começou em 1987. Tem como lema uma frase ouvida por seu fundador, o médico Eugênio Scannavino Netto, da boca de uma senhora que atendeu: “Saúde, alegria do corpo. Alegria, saúde da alma”. A bordo do navio Abaré, uma unidade móvel de saúde, o projeto chega a 73 comunidades. Paralelamente aos cuidados médicos, o PSA encara outros três eixos de atuação: Organização e Gestão Comunitária, Economia da Floresta e Educação, Cultura e Comunicação. Este último se apropria da educomunicação para levar informações que desenvolvam as comunidades. Para isso, foi criada a Rede Mocoronga de Comunicação Popular. Explica-se: mocorongo é quem nasce em Santarém. É, também, o nome do jornal trimestral que reúne informações enviadas pelas 26 comunidades que possuem seus próprios informativos. Seis delas são chamadas de “polos avançados” e receberam uma estrutura completa de comunicação, incluindo telecentros movidos a energia solar e rádios-poste, presentes também em inúmeras comunidades. Há ainda estrutura para produção regular de vídeos para a TV Mocoronga, apresentados também em mostras que premiam os melhores do ano. O prêmio? Um Mocoroscar. (Mariana Albanese) Acesse o site do A lmanaque e assista a um vídeo sobre a Rede Mocoronga. www.almanaquebrasil.com.br

REPRODUÇÃO/AB

Gravação de vídeo para a TV Mocoronga.

m 1944, Getúlio Vargas colocou o Brasil para lutar na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados. A Força Expedicionária Brasileira acampava em PorretaTerme, na Itália. Sem muito o que fazer no acampamento, o correspondente Egidio Squeff, vestindo uniforme militar a serviço do jornal O Globo, se distraía brincando de Escravos de O escritor norte-americano Ernest Hemingway. Jó na porta da barraca. Cantava a musiquinha e ia revezando entre as mãos e o chão uma pedrinha qualquer: “Tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar...”. Durante duas semanas uma figura ilustre parou por ali: o escritor norte-americano Ernest Hemingway, a caminho da Iugoslávia, vindo da Normandia. Ele atuava como espião contra fascistas em Cuba e seu faro costumava levá-lo para fronts de guerra, assunto muito presente em seus livros. Ali, em Porreta-Terme, a cena singela na porta da barraca despertou sua atenção. O autor de O Velho e o Mar se encantou com o Escravos de Jó. Só que não conseguia aprender a brincadeira de jeito nenhum. Era bem vivido nessa história de “guerreiros com guerreiros” fazendo “zigue zigue zá” e estava acostumado a desvendar coisas sublimes como em Por Quem os Sinos Dobram, seu livro mais recente na época. Mas não aprendia o jogo. Assim que chegava perto, Squeff começava a resmungar. Joel Silveira, repórter dos Diários Associados, cansou de ouvir o colega reclamando: “Lá vem o Hemingway que, além de chato, é burro. Como é que alguém consegue não aprender a jogar uma (NP) bobagem dessas?”. Saiba mais A Luta dos Pracinhas, de Joel Silveira e Thassilo Mitke (Record, 1983). Maio 2009


estação colheita

ULYSSES ESCLARECE

LUCIANO ANDRADE

Baioneta não é voto Cachorro não é urna

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m 15 de novembro de 1978, os eleitores iriam escolher senadores, deputados estaduais e federais. De um lado, a Arena (partido dos militares); do outro, o MDB (de oposição). Para buscar votos, o MDB organizou uma caravana pelo Nordeste. Na liderança, o presidente do partido, Ulysses Guimarães. Em várias reuniões, arbitrariedades e abusos deixaram o clima pesado. O momento mais tenso ocorreu em

13 de maio de 1978, em Salvador. Policiais bloquearam a sede do MDB com cachorros e fuzis com baionetas. Ulysses aproximouse de um policial e bradou, enquanto empurrava sua arma: “Respeite o líder da oposição!”. Dentro da sede, fez um discurso histórico: “Meus amigos, foi uma violência estúpida, inútil e imbecil. Eles nos ajudam muito”. E encerrou com a frase que se tornou célebre: “Baianos, marchemos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto e cachorro não é urna”. (BH)

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ESCRITO NO CÉU

Pra construir a vida, só tijolo por tijolo

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os 10 anos que a psicóloga Raquel Barros passou na Itália, quatro foram em tratamentos de fertilização. Sem sucesso. Ela, que sempre quis ser mãe e não pôde engravidar, uniu forças para uma associação voltada a meninas que não tinham estrutura, mas engravidaram. De volta a sua cidade, Sorocaba, no interior de São Paulo, criou a Lua Nova. “O nome representa o lado obscuro da Lua, que existe, mas ninguém quer ver, como a realidade das meninas”, explica Raquel. A grande sacada é que os passos para a autonomia das jovens, muitas vezes envolvidas com drogas, se apoiam nos laços da maternidade, enquanto as mães que moram em abrigos comuns logo são separadas das crianças. Na Lua Nova elas constroem as próprias casas, tijolo por tijolo. “Dar força para quem já tem vontade” é a ideia. Para isso, além da empreiteira-escola, há uma panificadora e um ateliê de artes. As bonecas de pano que as meninas

A criadora da Lua Nova, Raquel Barros.

confeccionam têm tudo a ver com a própria história de mãe e menina. Foi a primeira atividade para geração de renda. Aos nove anos de existência, a instituição atua também direto no foco: as comunidades vulneráveis, carentes de oportunidades e informações. No meio de tanto trabalho, quis o destino surpreender Raquel. Dois anos depois de fundar a Lua Nova, a psicóloga descobriu que estava esperando gêmeas. Júlia e Sofia, hoje com sete anos, são outros brilhantes frutos do lado desconhecido da vida. (NP)

Assista a vídeos do projeto Lua Nova no site do Almanaque. www.almanaquebrasil.com.br

1 Dia da Literatura Brasileira 2 Dia Estadual do Imigrante Libanês (MG) 3 Dia do Pau-Brasil 4 Dia da Luta Contra a Hipertensão 5 Dia do Pintor 6 Dia do Engenheiro Cartográfico 7 Dia do do Oftalmologista 8 Dia do Artista Plástico 9 Dia Estadual da Polícia Civil (GO) 10 Dia Nacional do Guia de Turismo 11 Dia do Exército da Salvação 12 Dia da Escrava Anastácia 13 Dia do Preto Velho 14 Dia do Brinquedo 15 Dia do Gerente de Banco 16 Dia do Gari 17 Dia da Constituição 18 Dia da Boa Vontade 19 Dia do Físico 20 Dia do Comissário de Menores 21 Dia da Língua Nacional 22 Dia do Apicultor 23 Dia da Juventude Constitucionalista 24 Dia do Vestibulando 25 Dia da Costureira 26 Dia Nacional de Combate ao Glaucoma 27 Dia do Profissional Liberal 28 Dia do Gráfico 29 Dia do Geógrafo 30 Dia da Decoração 31 Dia Mundial sem Fumo

RENATO STOCKLER/DIVULGAÇÃO

dia das mães

Abacate, arroz, berinjela, caqui, feijão, maçã, mandioca, tangerina, chuchu.

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Leia o discurso completo de Ulysses no site do Almanaque.

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O que se colhe em MAIO



São Gabriel da Cachoeir a

Ponte entre povos Com apenas 40 mil habitantes, o terceiro maior município do Brasil tem área superior à de Portugal. Encravado no coração da floresta, São Gabriel da Cachoeira possui 90% de mata virgem e uma população fiel e enraizada em suas tradições.

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ão Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, oferece ao viajante um lampejo da sabedoria dos indígenas. De Manaus são 1.150 quilômetros pelo rio Negro, segundo maior rio em volume de água do mundo – só perde para o Amazonas. Em horas de voo, são quase três. Se o tempo estiver bom, vale ir direto para a janelinha espiar a mata virgem. Depois que a aeronave tomar a direção norte, o rio Negro desaparece, mas não sem antes dar um show, formando as ilhas de Anavilhanas, o maior arquipélago fluvial da Terra. A seguir começa a solidão da Amazônia. A floresta parece estender-se ao infinito. Extensões imensas de um verde que passa da

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conta. Habitada há 3 mil anos, a região noroeste da Amazônia brasileira apresenta um conjunto altamente diversificado de paisagens: matas fechadas com vegetação de porte alto, terras inundadas, savanas, capoeiras, palmeirais. Em comum, os rios que as serpenteiam e que, com a estiagem de outubro a fevereiro, desenham praias de areia branca de rara beleza. Quando nos aproximamos de São Gabriel da Cachoeira, a natureza torna-se ainda mais exuberante. Um imponente maciço azul parece levantar-se do meio do verde. É a Serra de Curicuriari, também coNhecida como Bela Adormecida, por sua formação que lembra a silhueta de uma jovem deitada.


Verdadeira Amazônia A cidade é pequena. A igreja matriz e o colégio salesiano são ainda suas maiores construções. O antigo povoado colonial-militar do século 18 abriga cerca de 40 mil habitantes, a maioria índios. É o terceiro maior município do Brasil em extensão, com área superior à de Portugal. E com 90% de mata virgem. O olhar sobre a região, entretanto, não se deve resumir à fauna e à flora, mas também à presença de uma população fiel e enraizada em suas tradições. Os indígenas são lúcidos no resguardo e na revitalização de sua cultura milenar, na briga contra sua cidadania encurralada, na luta por uma vida digna. Uma viagem a essa comunidade pode ser uma iniciação Sobre a verdadeira Amazônia. Há 21 anos os ventos começaram a soprar a favor dos 22 grupos étnicos que habitam a região. Foi quando surgiu a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. O direito dos índios em manter suas tradições encontrou aliados de peso. O Instituto Socioambiental, de ampla experiência no trabalho antropológico na região, uniu-se ao Iphan e, com os indígenas, conseguiram preservar a cachoeira Iauaretê, ameaçada de sumir do mapa pela construção de um campo de pouso. A cachoeira é local sagrado para muitas etnias. Os anciãos afirmam que dela surgiu a raça humana – índios e brancos. Porém, não todos os brancos: somente aqueles que juntam forças com os indígenas.

Preste Atenção

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IGREJA MATRIZ de são gabriel da cachoeira: a maior construção da cidade

O amanhecer no rio Negro surpreende. Ainda sob a névoa matinal que ensombrece os contornos do relevo, tons quentes de carmim e laranja se espelham nas águas escuras do rio. Um instante mágico. Maio 2009


Sob o signo da união Mais do que o registro pelo Iphan como patrimônio cultural, Iauaretê desencadeou outra ação importante: a devolução dos basá busá – ornamentos sagrados de dança – para seus verdadeiros donos. Sentindo confiança em seus novos parceiros, os indígenas expressaram o desejo de reaver as peças cerimoniais que “jaziam” há mais de 70 anos no Museu dos Índios mantido pelas freiras do Patronato de Santa Terezinha, em Manaus. Apesar de quase um século fora de seu local de origem, este material nunca deixou de ter importância para a história e a cultura das etnias de fala tukano do rio Uaupés e do povo tariano. Entre essas peças, estão colares, as acângataras – uma espécie de cocar feito de penas de Arara, tucano, japu e garça –, cordas de pelo de macaco e cintos de dentes de onça e capivara. No histórico dia da restituição, em dezembro de 2008, vários chefes de tribos e numerosos indígenas do rio Negro estavam presentes. Muita gente e grande emoção. É sob o signo da união, portanto, que se deve conhecer São Gabriel da Cachoeira. 14

Ilha das Flores Mesmo quem já navegou pelos rios amazônicos e conhece sua natureza singular se encanta quando percorre os igarapés. A mata sombria iluminada pela luz que abre brechas entre as copas das árvores, formando fachos luminosos, cria uma atmosfera jurássica. Ouvir os pássaros é fácil, mas vê-los é quase impossível devido à densidade da floresta. Entre esse estranho jogo do real e das sombras, chega-se à comunidade baniwa Ilha das Flores. Ali plantam-se diferentes espécies de pimentas para um tempero especial. Mas não se permite que os não-indígenas vejam as plantações: “Olho de seca pimenteira”, dizem os baniwa. Longe de duvidar.

Wariró Loja de produtos indígenas do Alto do Rio Negro. Na espaçosa casa podem ser encontradas peças produzidas pelas diferentes etnias da região: cerâmicas e cestarias ricas em grafismos e tingidas com pigmentos naturais, tapetes, bancos, pulseiras, brincos e colares de sementes coloridas, além de CDs e livros que narram a história desses povos.

Não deixe de saborear

Pontão da Cultura

A pimenta produzida pelos baniwa em suas plantações secretas é imperdível. Resultado de uma mescla de várias sementes e condimentos, não é muito picante.

Inaugurado em dezembro de 2008, o local abriga a exposição Basá Busá – Ornamentos de dança até junho deste ano. Estão expostos cocares, colares e braçadeiras feitos de penas de pássaros, pelos de macaco e sementes silvestres.

s e rviç o Como chegar A TAM oferece voos diários para Manaus, saindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br Onde ficar

Hotel Deus Me Deu Localizado no centro da cidade, tem quartos simples, mas limpos. Tel.: (97) 3471-1395.

Instituto Socioambiental Com arquitetura moderna, inspirada numa maloca, fica em frente às corredeiras de São Gabriel. A melhor opção de alojamento. Prioriza pesquisadores. Tel.: (97) 3471-1156. www.almanaquebrasil.com.br

Onde comer

Restaurante do Conde Cardápio a base de peixes. A especialidade é o peixe com maracujá. Vale a pena. Em alguns dias tem apresentações de música ao vivo. Tel.: (97) 3471-1738.

Restaurante Íris Comida caseira. Tel.: (97) 3471-1288.



Ela deu v ida a i r ó m e m à TTAI ZÉLIA GA

Por Natália Pesciotta

Por trás da esposa dedicada, braço direito de Jorge Amado, estava uma lutadora, defensora dos próprios ideais. Mais atrás – ela mesma surpreendeu-se com a descoberta, aos 63 anos –, havia a escritora. A habilidade com as letras levou LUCIANA WHITAKER/FOLHA IMAGEM

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eu Ernesto e dona Angelina discutiam em casa, que também abrigava uma oficina mecânica. São Paulo, 1916. Ele queria que a filha chamasse Pia. Tinha visto num romance. “Não seria melhor Bacia ou Balde?”, ironizava a mulher. Acabou prevalecendo a opinião de Maria Negra, a empregada da casa, que sugeriu Zélia. A caçula da família nasceu em 2 de julho, dia da principal comemoração da Bahia. Mais tarde adotaria o estado como lar e dele receberia as ordens do Mérito, em 1995, e o título de Cidadã Baiana, 10 anos depois. Quando era pequena, cantava de cor o hino da Internacional Comunista e vendia jornais anarquistas nos eventos políticooperários que frequentava com os pais. Só que, durante a festa da paróquia do bairro, em lugar de panfletos, vendia rifas para a igreja. Estes e vários outros causos a menina juntou, já senhora, no livro de estreia: Anarquistas Graças a Deus (1979).

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Zélia a revelar todas as suas camadas e, de quebra, os contextos históricos em que viveu. Para escrever memórias, diria, só tendo memórias, oras.

Só tem memória quem viveu

A fina ironia do livro deu a Zélia o Prêmio Paulista de Revelação Literária. Teve 200 mil cópias vendidas em menos de 20 anos e rendeu uma minissérie em 1984. A partir daí, toda a vivência foi, aos poucos, se cristalizando em letras. Foram 10 livros de memória no total, mesclas de casos pessoais com a realidade do País, sem deixar de lado boas doses de humor. Criou ainda três livros infantis e um romance. A afinidade com a literatura vinha da infância. Zélia e as irmãs costumavam explorar o armário proibido da mãe, onde se guardavam preciosidades: O Inferno de Dante, teorias anarquistas de Bakunin e Koptkin. Lá embaixo, o preferido de todas, Os Miseráveis, de Victor Hugo. Durante mais de meio século ao lado de Jorge Amado, datilografando e revisando seus originais, a intimidade com os livros só se fortaleceu. Por que estreou apenas aos 63 anos? “É que quem escreve memórias precisa ter as me-


O encontro com Jorge Amado podia ser mais um romance do escritor, desses que Zélia adorava. Mas entrou para o rol de casos reais narrados por ela. mórias.” E reforçava: “É preciso ter atingido um certo nível, uma certa maturidade para entender as pessoas.”

Sobre florestas e castelos

Aos 20 anos, Zélia casara com o militante comunista Aldo Veiga e dera à luz Luís Carlos. Depois que o pai foi preso pelo governo Vargas, a participação da moça no movimento de esquerda se intensificou. Foi quando conheceu Jorge Amado, durante o 1° Congresso de Escritores, organizado pelo Partido Comunista Brasileiro. O humorista Aparício Torelly, o Barão de Itararé, os apresentou. “Ao pousar pela primeira vez os olhos em você, meu coração disparou”, diria Jorge a ela mais tarde. Podia ser mais um romance do baiano, desses que Zélia admirava desde os 17 anos, mas a história era real, e quem contou foi ela, em Um Chapéu para Viagem (1982). Com Jorge eleito para a Câmara Federal, lá se foi o casal para o Rio de Janeiro, onde nasceu João Jorge. Um ano depois, com o PCB ilegal, partiram para o exílio. Em Paris, Zélia estudou Civilização e Língua Francesa na Sorbonne. Depois de fazer amizade com os Pablos Neruda e Picasso, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, o casal precisou partir novamente, expulso por ser comunista. O destino foi uma comunidade de escritores na Tchecoslováquia, experiência parecida com a dos antepassados Gattai. O avô de Zélia atravessara o oceano com os filhos pequenos, vindos da Itália, para viver numa comunidade anarquista no Sul do Brasil, a Colônia Cecília. Uma grande diferença é que os anarquistas italianos foram parar no meio da floresta, e os escritores comunistas num lindo castelo abandonado pela realeza. Nele nasceu a caçula Paloma, e as histórias ali vi-

vidas foram todas para O Castelo de Vidro (1988). Nessa época, Zélia tomou gosto pela fotografia. Guardou os registros de Jorge Amado capturados pela sua Rolleiflex para Reportagem Incompleta (1987).

“Chego a ver as cores”

Após passagens pela China, Mongólia e Rio de Janeiro, em 1963 finalmente o casal fixou-se na Bahia. As visitas de muitos amigos ilustres, sob as mangueiras do jardim, estão em A Casa do Rio Vermelho (1999). Só então, estimulada pelo marido, Zélia tomou impulso para escrever. Sempre sem consultar anotação alguma, contando apenas com as lembranças: “As coisas que vivi, que eu conto, não precisavam ter sido anotadas, porque me marcaram profundamente. E quando começo a escrever, me desligo do presente e volto a dar gargalhadas. Chego a ver as cores, os detalhes”. Por isso, depois da morte de Jorge, Zélia reviveu o romance dos dois, escrevendo sobre o amado. Faleceu sete anos depois, em 17 de maio de 2008. Ficou oficialmente imortalizada pela Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira que foi do companheiro. Na posse, em 2001, disse que trazia no sangue a qualidade de contadora de histórias. Mas revelou um segredo: “Muito cedo, comecei a entender que uma leitura ou uma história só prestam, empolgam e nos fazem sonhar quando transmitidas com prazer e emoção”. SAIBA MAIS Memorial do Amor (Record, 2004), o último livro publicado por Zélia Gattai, aos 88 anos. No site do Almanaque, assista a um vídeo com fotos de Zélia ao longo da vida.

O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO

Maio 2009

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ESPECIAL

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N

O título acima é o verso de um samba de Lamartine Babo. Uma demonstração de como os discos estão no imaginário nacional. Há 107 anos, o primeiro começou a rodar no Brasil. De lá para cá, eles ditaram modas, causaram polêmicas, emocionaram ouvintes e sofreram diversas transformações. E, apesar das tecnologias digitais, continuam sendo o grande registro musical da alma brasileira.

ão importa o formato. São os discos que registram a história musical do Brasil. Tal qual os livros, têm o papel de preservar uma época ou pensamento e guardá-lo para a posteridade. Dos vozeirões bolerais aos protestos combativos do rap, tudo cabe nesse democrático objeto circular. O primeiro a ser gravado no Brasil, em 1902, trazia o lundu Isto é Bom, de Xisto Bahia, na voz do cantor Baiano: O inverno é rigoroso / Bem dizia a minha vó / Quem dorme junto tem frio / Quanto mais quem dorme só / Isto é bom, isto é bom / Isto é bom que dói... A gravação era mecânica. Apenas em alto e bom som era possível registrar a voz e os instrumentos. E dá-lhe cantores dó-depeito, que se esgoelavam ao microfone. Só em 1926 surgiria a gravação elétrica. Uma revolução. A partir daquele momento era possível registrar novas nuances e gingas, e cantores de vozes pequenas ganharam passe livre nos estúdios. Mas os discos eram de 78 rotações, à base de cera de carnaúba. Neles cabiam apenas duas músicas. Até que em 1950 surgiram os

lps (long plays), com várias músicas de ambos os lados. Os

discos viraram produtos de massa. O elepê era o dono do pedaço até o fim dos anos 1980, quando surgiram os Cds (compact discs), menores e com som mais limpo. E, uma década depois – para o terror da indústria fonográfica –, o reduzido formato eletrônico mp3, com a possibilidade de troca gratuita de música pela internet. O que virá pela frente nesse intenso processo de mudanças é impossível saber. Mas, por sorte, um pouco da rica história da música brasileira está guardada nos discos. E nas próximas páginas deste almanaque.


Cartola estreou a bordo de um navio Como parte da chamada “política de boa vizinhança” norte-americana, o inglês radicado nos Estados Unidos Leopold Stokowski atracou seu navio no Rio de Janeiro em 1940. A missão: registrar “a mais legítima música brasileira”. Para tal, pediu ao maestro Heitor Villa-Lobos que reunisse artistas de samba, batucada, marchas de rancho, macumba e embolada. E assim fez Villa-Lobos. A gravação foi a bordo do próprio navio. Até o capitão foi espiar. Não era para menos: durante oito horas consecutivas passaram pelos microfones Donga, Pixinguinha, Dona Neuma, Zé da Zilda, Jararaca e Ratinho, João da Baiana, além de Cartola, que mandou Quem Me Vê Sorrindo. Estavam prontos os dois álbuns de Native Brazilian Music. O pagamento dos artistas? Entusiasmados cumprimentos... Muitos nem sequer ouviram a gravação. O disco nunca foi lançado no Brasil.

Cartola gravou o primeiro samba em 1940. Mas só em 1974 lançou o primeiro disco solo, com canções como Alvorada, Disfarça e Chora e O Sol Nascerá

Ol h a o Pad i l h a !

“Estou acostumado a acompanhar música. Conversa é a primeira vez”, resmungou um violonista durante a gravação de O Último Malandro, de Moreira da Silva. O samba-de-breque ainda não havia se popularizado, e aquele jeito de “brecar” a canção para falar ainda causava estranhamento. O disco continuou a ser feito mesmo com a lendária bronca. Entre as canções, a pérola Olha o Padilha, que narra a história de uma batida policial: Um tira forte aborrecido me abotoou / (...) E jogou uma melancia pela minha calça adentro / Que engasgou no funil /

Eu bambeei, ele sorriu. O episódio é baseado numa história real. Padilha era um temido delegado carioca dos anos 1950, que costumava colocar um limão dentro da calça de quem considerasse suspeito. Se não caísse no chão, era sinal que a calça era apertada – coisa de vagabundo ou homossexual. O “meliante” ia direto pra delegacia. O Último Malandro é considerado o melhor elepê de Moreira da Silva.

Pela gravadora Elenco, Cesar Villela fez antológicas capas para boa parte dos álbuns de bossa nova, consideradas revolucionárias até hoje. Veja algumas:

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Paulinho da Viola

“Meu primeiro amor morreu como a flor” Ele tinha (e continua tendo) a fama de artista reservado, que pouco expõe a intimidade. Mas Paulinho da Viola abriu exceção em Nervos de Aço, gravado após a separação de sua primeira esposa. A confissão começa na capa, produzida pelo diretor editorial deste almanaque, Elifas Andreato. Ela mostra o artista amargurado, às lágrimas, empunhando um ramalhete de flores.

As canções melancólicas vêm uma atrás da outra: Comprimido (na qual aborda o suicídio), Nervos de Aço, Sentimentos. Além da confissão definitiva: Não quero mais amar a ninguém / Não fui feliz, o destino não quis / O meu primeiro amor / Morreu como a flor ainda em botão / Deixando espinhos que dilaceram meu coração...

O jazzista norte-americano Jack Wilson gravou um disco inspirado na bossa nova em 1965. Nos créditos, um misterioso Tony Brazil ao violão. Tratava-se de Tom Jobim. Como tinha contrato com outra gravadora, Tom arrumou o pseudônimo de gosto duvidoso para poder tocar. Ganhou 210 dólares de cachê. 22

Chico Buarque

“Deu pra tirar um sarro”

Em 1972, Os Novos Baianos lançaram Acabou Chorare, considerado um dos grandes discos da música brasileira. O título enigmático surgiu após ouvirem uma história de João Gilberto. Sua filha Bebel havia caído e começou a chorar. Após ser acudida pelo pai, decretou: “Acabou chorare”.

Chico Buarque estava na Itália há mais de um ano quando recebeu a notícia de que as coisas no Brasil haviam melhorado. Decidiu voltar. Só o que encontrou naquele início de 1970 foi um cenário de tortura, arbitrariedades e censura. Consternado, compôs Apesar de Você, um recado ao governo de Médici. Enviou para a censura com pouca esperança de que a música fosse aprovada, mas os censores liberaram. O samba saiu num compacto simples. Em menos de um mês, 100 mil cópias vendidas. Só então os militares se tocaram. Mas o povo já cantava nas ruas os versos da esperança: Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia... A polícia tratou de invadir a gravadora e destruir as cópias do disco. Num interrogatório, perguntaram a Chico quem era o “você” da canção. “É uma mulher muito mandona, muito autoritária...” Numa carta a Vinicius, comentou o ocorrido: “Deu bolo com o Apesar de Você, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro”. 8

Boemia, aqui me tens de regresso / E suplicante te peço a minha nova inscrição. O sambacanção A Volta do Boêmio, interpretada por Nelson Gonçalves, se tornou em 1957 o primeiro disco brasileiro a chegar à marca de um milhão de cópias vendidas.


Sem padre, sem repórter. Sem arma, sem socorro O Brasil virou os olhos e ouvidos para a periferia em 1997. A força das letras de Sobrevivendo no Inferno tornou os Racionais conhecidos no País todo, e despertou a nação para a miséria e a violência dos bolsões de pobreza escondidos nas grandes cidades. A primeira música a ganhar projeção foi Diário de um Detento, escrita por um sobrevivente do massacre do Carandiru, em que narra os horrores do episódio: Sem padre, sem repórter / Sem arma, sem socorro / Vai pegar HIV na boca do cachorro / Cadáveres

A redescoberta de Noel Rosa Noel Rosa morreu em 1937. Até 1949 haveria apenas 19 gravações de suas músicas. Muita coisa permanecia inédita, e obras-primas estavam fadadas ao esquecimento. Até que Aracy de Almeida resolveu a questão. Com o apoio de Braguinha, então diretor artístico da Continental, gravou dois álbuns com repertório exclusivo do Poeta da Vila. Entre as preciosidades, Conversa de Botequim, O X do Problema, Silêncio de um Minuto e O Orvalho Vem Caindo. Na capa, uma magistral ilustração de Di Cavalcanti e texto de Lúcio Rangel. “Foram os primeiros lançamentos fonográficos no Brasil a ganharem capas coloridas e textos informativos”, explica o historiador Egeu Laus.

Um baiano bossa-nova Chega de Saudade (1959) é o histórico elepê de estreia de João Gilberto. E, apesar de iniciante no mercado fonográfico, mereceu um texto de exaltação na contracapa: “João Gilberto é um baiano ‘bossa-nova’ de 27 anos. Em pouquíssimo tempo influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores [...] Ele é simples, sincero e extraordinariamente musical. PS: Caymmi também acha”. O autor das linhas? Antonio Carlos Jobim.

ambores t s

e rufem o u Q

Wilson Batista produziu o disco Polêmica, uma compilação dos sambas compostos a partir da briga com Noel Rosa. Fez uma única exigência a Nássara, que ilustraria a capa. “Me desenhe com a camisa do Flamengo”.

no poço, no pátio interno / Adolf Hitler sorri no inferno / O Robocop do governo é frio, não sente pena / Só ódio, e ri como uma hiena. Mas a letra mais impactante é de Capítulo 4, Versículo 3. Trata-se de um relato violento e realista do cotidiano dos negros pobres do País: Para os manos da Baixada Fluminense à Ceilândia / Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia / De Guaianazes ao extremo sul de Santo Amaro / Ser um preto tipo A custa caro.

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E o disco mais vendido da história do País é...

Músicas para Louvar o Senhor, do Padre Marcelo Rossi (1998), com 3 milhões e 400 mil cópias.

SAIBA MAIS Acesse o site do Almanaque e confira vídeos com algumas das canções, além de informações completas sobre os discos citados na matéria.


O Calculista das Arábias

ligue os pontos

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

a Adversários soltaram um animal em campo e Henfil o transformou em mascote. O time foi cinco vezes campeão brasileiro e uma vez mundial.

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de seu estado. Venceu quatro campeonatos brasileiros, 25 estaduais e um mundial.

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c O preto só entrou no uniforme por falta de tintura castanha, rara em 1903. O mascote foi criado em 1946, mas a versão final é de 2001.

3

d O Palestra Itália teve o nome trocado na Segunda Guerra para o de uma constelação. Um dirigente astuto inspirou o mascote.

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acervo da família

b O mosqueteiro chegou em 1910 ao futebol

Diofante, um célebre geômetra grego, está encerrado num túmulo que traz um problema. “Eis o túmulo que encerra Diofante – maravilha de se contemplar! Com artifício aritmético, a pedra ensina a sua idade. Deus concedeu-lhe passar a sexta parte de sua vida na juventude; um duodécimo, na adolescência; um sétimo, em seguida, foi escoado num casamento estéril. Decorreram mais cinco anos, depois do que lhe nasceu um filho. Mas este filho apenas tinha atingido a metade da idade do pai quando morreu. Quatro anos ainda mitigando a própria dor com o estudo da ciência dos números passou-os Diofante, antes de chegar ao termo de sua existência.” Conseguiria você desvendar a idade com que morreu o geômetra?

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

Aprovado em 10/5/1985, o Emendão instituiu: (a) “Pontes” nos feriados (b) Jornais sem intervalos (c) Eleições diretas (d) Reeleição Em qual cidade o dirigível Graf Zeppellin pousou pela primeira vez no Brasil, em 22/5/1930? (a) Brasília (b) São Paulo (c) Recife (d) Manaus Em 1/5/1928, Oswald de Andrade publica, sobre a arte moderna, o Manifesto: (a) Canibal (b) Antropofágico (c) Neoconcreto (d) Neoclássico Contemporâneo Oficializou o Dia das Mães em 5/5/1932: (a) Júlio Prestes (b) Vargas (c) Dutra (d) Café Filho Ayrton Senna acidentou-se em 1/5/1994 na curva: (a) Parabólica (b) Tamburello (c) do S (d) do M Noel Rosa, morto em 4/5/1937, não compôs: (a) Feitiço da Vila (b) Feitio de Oração (c) O Mundo É um Moinho (d) Filosofia

Respostas Rubens Barrichello JOSÉ PATRÍCIO/AE

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS – Diofonte morreu com 84 anos. Para resolver o problema, basta traduzi-lo a uma expressão de 1° grau. Sendo x a idade de Diofonte, temos: x/6 + x/12 + x/7 + 5 + x/2 + 4 = x BRASILIÔMETRO – 1d; 2c; 3c; 4b; 5b; 6b; 7c; 8c.

Após treinos escondidos, em 14/5/1952, qual destes grupos se apresentou pela primeira vez? (a) Tropa de Choque (b) Torcida Canarinho (c) Esquadrilha da Fumaça (d) Cavalaria da República

SE LIGA NA HISTÓRIA – 1b (Corinthians); 2c (Grêmio); 3d (Cruzeiro); 4a (Flamengo).

valiação

ENIGMA FIGURADO – Noel Rosa. O QUE É O QUE É? – Javali.

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CARTA ENIGMÁTICA –”Enquanto houver corno, mulher sofrida e bêbado no Brasil, eu vou ser sucesso.” (Waldick Soriano)

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

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Objeto milagroso de Frei Galvão, primeiro santo nascido no Brasil, canonizado em 11/5/2007: (a) Terço (b) Santinho (c) Pão (d) Pílula

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Conte um ponto por resposta certa

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O Brasil já foi uma terra de dinossauros P Há evidências de sua existência de norte a sul do País. Tinha de todo o

ouca gente se dá conta, mas o Brasil já foi povoado por dinossauros.

Os indícios mais impressionantes estão no Vale dos Dinossauros, na Paraíba. São 505 trilhas com vestígios de 51 espécies que habitaram essa região há 120 milhões de anos. Há pegadas que variam de cinco centímetros, de uma espécie não maior do que uma galinha, a 40 centímetros de comprimento, pertencentes a iguadontes, um bicho de quatro toneladas. Mas nem todos se conheceram, sabia? Há casos de dinossauros que viviam há 250 milhões de anos e outros há “apenas” 70 milhões. Eles não assustavam os índios, como alguns pensam. Os dinossauros são anteriores à existência dos nossos primeiros moradores. Sorte dos índios.

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Os dinossauros viveram sobre a Terra durante 160 milhões de anos. E como desapareceram completamente? Cientistas explicam que, há 65 milhões de anos, caiu no planeta um meteoro de aproximadamente 10 quilômetros. O impacto teria sido tão violento que abriu uma cratera com 200 quilômetros. Uma espécie de nuvem de poeira grossa tampou a luz solar durante seis meses. A Terra resfriou, as plantas não podiam fazer fotossíntese e os animais não tinham o que comer. Resultado: todos os dinossauros morreram.

JÁ PENSOU NISSO?

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ua

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E como eles desapareceram?

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tipo: os que só comiam vegetais, os assustadores carnívoros gigantes, os que voavam e até pequenos e inofensivos dinossaurinhos. Em 2006, foi descoberto o que é considerado o maior dinossauro que já viveu em solo brasileiro. Ele tem o complicado nome de maxacalissauro e os fósseis foram encontrados em Minas Gerais. Pesava nove toneladas e tinha impressionantes 13 metros de comprimento. No norte havia o amazonssauro, que vivia onde está hoje a Floresta Amazônica. O bicho media 10 metros de comprimento e só comia vegetais. Se vivesse hoje em dia, desmataria um bocado de floresta toda vez que fosse almoçar...

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O dino pouca capa tem porque pouca paca compra.

Já foram descobertas cerca de 800 espécies de dinossauros. O maior de todos é o superssauro, que pesava o equivalente a um Boeing 737. O torossaurus tinha a cabeça maior do que um carro dos grandes. Só o pescoço do mamenchissaurus media nove metros de altura. O giganotossaurus pesava mais do que 125 pessoas juntas. Os triceratopos possuíam dois chifres na testa e um no nariz. Alguns dinossauros voadores tinham quatro asas. Já imaginou como seria um bicho que juntasse todas estas características?!

Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do Almanaque. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você. SoluçÃO na p. 24

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JUM NAKAO

As pessoas não precisam estar mais bem-vestidas. Precisam ser melhores Estranho ouvir isso de um estilista? Pois a moda, para Jum Nakao, nada mais é do que uma “ferramenta de descoberta”. Ele não aposta em tendências e padrões, mas em um novo formato de mercado: “A gente precisa reconectar as pessoas à essência humana”. Desde que deixou a passarela mais importante do País, em 2004, decidiu dedicar a carreira ao resgate de valores. Ministra cursos no sertão, desenvolve objetos sustentáveis com comunidades na Amazônia. O que mais dói, 28 Edi pereira

conta, é perceber todo o potencial de recursos e saberes do País que fica “confinado ao silêncio”.

Qual é o papel que a moda pode desempenhar na sociedade?

Seu último desfile simbolizou este rompimento?

Eu vejo a moda como a relação do indivíduo com o lugar em que habita – sua cidade, seu país, a sociedade. A moda não deveria ter a característica do isolamento, que faz as pessoas perderem o senso de coletividade, de cultura, de sociedade. Se pensar nos guetos, por exemplo, eles traduzem visualmente crenças e cultura. Enfim, a moda é a última camada após as suas convicções. A moda sedimenta tudo aquilo que você é.

Foi uma apresentação fora do convencional. Eu queria mostrar que não importa do que a roupa é feita. E só usei papel no projeto, que chamamos de Costura do Invisível. Um papel pode conter ideias capazes de mudar o mundo. Pode conter a escrita e todo o seu significado, e ao mesmo tempo é algo em branco, um desafio. É algo barato, que só tem valor se você atribui valor a ele. Minha ideia era transformar o papel num monumento, num sonho. Gastamos quase uma tonelada de papel para fazer a cenografia e as roupas, e mais de 700 horas de trabalho. Num evento onde as pessoas vão para enxergar tendências, cores, de repente apresentamos um desfile em branco. Mas era uma fábula, um momento de encantamento. As roupas eram fantásticas e aquilo criou um silêncio. As pessoas foram transportadas para outro lugar, para dentro de um conto. As modelos usavam perucas tipo “playmobil”, um elemento lúdico que rompia com a barreira entre público e obra, porque havia um regaste de memória. Quando o público achou que o desfile tinha terminado, as modelos rasgaram tudo.

Por que decidiu parar de desfilar na São Paulo Fashion Week, em 2004? Para mim, o mais importante é transformar as pessoas. Eu não acho que as pessoas precisam estar mais bem-vestidas. Acho que as pessoas precisam ser melhores. Então, percebi que estava num sistema que tinha que ser repensado, com o qual eu não podia mais compactuar.

O que no seu trabalho destoava dos grandes eventos de moda? Eu nunca acreditei nas tendências. Eu acredito muito mais na moda como uma ferramenta de descoberta, não como um mecanismo a ser trabalhado dentro de um senso comum. A moda tem esse pressuposto de que você precisa ser igual. Igual a modelos estabelecidos, dentro de uma tendência, uniformizado. Uma crença única que, pra mim, é uma forma muito emburrecedora de lidar com as potencialidades das pessoas. Meus desfiles eram quase que modulares – as pessoas podiam recompor. Romper, para mim, foi uma questão ética. Eu preciso que as pessoas mudem, por isso decidi dedicar minha carreira às pessoas. www.almanaquebrasil.com.br

Qual foi a reação da plateia? Foi um baque. A plateia se jogou pra pegar pedacinhos rasgados, como se fosse possível guardar pedaços de um sonho. Com isso, mostrou-se que o invisível tem muito mais valor que o visível. Apesar de trabalhar num momento de extrema velocidade, de transformações, de efemeridade, uma obra em branco, se pulverizada, tem permanên-


cia. A ideia era falar: “Tá tudo errado, as coisas precisam ser mudadas”. E, para que as coisas mudem, a gente precisa reconectar as pessoas à essência humana. Tirá-las do “estado zumbi”. O objetivo era criar uma suspensão de tempo. Por um instante que seja, tiramos o chão daquelas 1.200 pessoas que estavam assistindo ao desfile. Espero que elas tenham refletido sobre o que está acontecendo.

Você deixou de acreditar na concepção dos grandes desfiles? Eu continuo acreditando na importância da moda, mas tenho que pensar em novos processos. Estou sempre com alunos, em oficinas e palestras, porque preciso formar pessoas. Não para o mercado. Preciso formar pessoas capazes de criar novos formatos de mercado. Se os processos não mudam, os hábitos continuam os mesmos.

Diante da crise mundial, a moda deve se transformar? Acho até curioso que uma crise como a que a gente vive esteja acontecendo, fazendo as pessoas pensarem nos seus conceitos, na sua cultura de consumo. Do que a gente precisa? Acho que esse primeiro quarto de século vai ser todo dominado por uma discussão sobre sustentabilidade, sobre novas éticas. Chegou um ponto em que é necessário reformular valores. Não há como imaginar que do jeito que está podemos continuar.

É preciso repensar os parâmetros de consumo?

Você tem andado muito pelo Brasil. O que tem visto? O País é muito rico de recursos e saberes. Se você for para qualquer lugar do País, vai encontrar um Brasil diferente. Mas você sabe que é a sua casa. E as pessoas te reconhecerão como brasileiro também. Isso você não vai sentir em nenhum outro lugar do mundo. Essa questão da hospitalidade – ainda que não seja restrita aos brasileiros – mostra como entre nós existe, sim, uma comunhão. Entretanto, há uma cultura muito viva, mas que está sendo sufocada. Não precisa ir longe. No interior de seu Estado você pode descobrir coisas de que nunca ouviu falar. A verdade é que a gente só olha para o que está sendo vendido. Há um potencial muito grande de saberes que fica confinado ao silêncio. Se não há demanda por estes saberes, as pessoas que os detêm simplesmente partem para outras atividades que possam garantir o sustento. Se a sociedade só quer carvão, estas pessoas vão fazer queimadas. Ou vão morrer de fome.

Existe brasilidade na moda? É um caminho?

Um país, para mim, não se define pelas fronteiras geográficas ou pelo PIB, mas pela cultura de seu povo.

O que mostra como uma comunidade vive é o consumo. Eu acho um absurdo que para a sociedade continuar existindo as pessoas tenham que consumir carros, por exemplo. Para suprir a necessidade atual do planeta inteiro, dentro dos hábitos atuais de consumo, precisamos de dois planetas. Se isso não mudar, é impossível falar em futuro. Uma outra questão é a própria hierarquia de valores. O valor do material é muito maior do que o valor do conhecimento. O de uma celebridade, muito maior que o de um pensador. A sociedade perdeu seus parâmetros. E não adianta as pessoas só falarem em “ecologicamente correto”, em “consciência de sustentabilidade”. Elas precisam comprar a ideia. Consumir não é ruim, é um ato político. Se você vai comprar um produto, tem que avaliar se ele está sendo produzido num sistema com o qual você concorda ou não. Desde que entrei no projeto Floresta Móbile, o que mais acho importante é que os produtos vendam. Senão a comunidade que acreditou no projeto como alternativa de sobrevivência vai voltar a queimar.

Como funciona o Floresta Móbile? É um projeto grande, desenvolvido no mundo todo. Eu trabalho com uma comunidade carvoeira na Amazônia. Produzimos móveis com resíduos de madeiras que seriam queimados. Na contramão da antiga Revolução Industrial, partimos para a “revolução humana”. Resgatamos o valor de como é feito, não do que é feito. Se um saber está sendo aplicado, a natureza ganha fôlego para o reflorestamento. Queimando, se acaba com algo como um Estado de São Paulo por dia. Colaborar, dar vida, animar – no sentido de dar alma a coisas inertes – exigem um tempo diferente do da destruição. Jogar uma bomba é rápido, reconstruir demora. A proposta é que essas comunidades se dediquem a construir, não a destruir. Se esses projetos não derem certo, elas vão voltar a destruir. Por isso é muito importante que a sociedade compre a ideia, e não somente no plano filosófico.

O que eu percebo é que há um certo risco nesse tipo de tentativa. Não podemos ter um pensamento isolacionista, achar que, para sermos brasileiros, temos que fechar as fronteiras e procurar a raiz. A cultura é um elemento transversal, um amalgamento de camadas. Não um retrato estático. Eu enxergo o Brasil com essa cara múltipla.

Essa multiplicidade muitas vezes é ignorada, não?

Eu lamento muito a situação cultural que o Pais vive. Um país, pra mim, não se define pelas fronteiras geográficas ou pelo pib, mas pela cultura de seu povo. A nossa, até por uma falta de base educacional, deixa de ter materialidade. E, assim, acabamos apenas assimilando o que vem de fora. O que mais me dói é perceber todas estas potencialidades e, ao mesmo tempo, este silêncio. O que as pessoas acreditam que seja o Brasil, além de futebol, samba e feijoada? Temos que acreditar na cultura, nas pessoas que pensam. E em pesquisa tecnológica, em pesquisa estrutural, em produção mesmo.

Como você dizia, falta valorizar o saber... Como professor, em outros lugares do mundo, me chamam de “mestre”. Aqui não existe a valorização de quem lapida a cultura, a base. Como as coisas vão mudar? Precisamos de gente que entre na “guerrilha do bem”: que queira educar, fazer eventos, projetos democráticos, que mude pelo menos algumas pessoas.

Para finalizar: o que é brasilidade pra você? O que mais caracteriza a brasilidade para mim é essa cultura antropofágica. Pegar o mundo inteiro, amalgamar e devolver de uma forma singular, cheia de gambiarra, de ginga. Pegar o sushi, devolver o sushi de morango. Pegar o hi-tech e transformar no low-tech, mas com muita alma, muito suingue. Essa coisa cultural, de falar todas as línguas desse País. Não apenas as verbais, mas essas línguas de saberes que se somam e produzem todo um caldeirão, um caldo único. Confira no site do Almanaque fotos e trechos em vídeo da entrevista, além de imagens e informações dos projetos mencionados por Jum Nakao.

Maio 2009

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TOMATE Lycopersicum esculentum

Rei do licopeno Ele é fruto da segunda herbácea mais cultivada no mundo, depois da batata. Combate radicais livres. Protege o sistema cardiovascular. Anticancerígeno. E, ao contrário do que acontece na política, em vez de vergonhoso é digno de aplauso quando acaba em pizza.

Q 30

uando o conquistador espanhol Hernán Cortez chegou ao México em 1519, uma visão o deslumbrou ao atingir, certo dia, o alto de um outeiro: a seus pés estendiase o verde fosco de uma plantação, com um mundaréu de frutos dourados pendentes entre as acetinadas folhas. Era uma planta originária dos Andes, que crescia que nem mato entre os atuais Chile e Colômbia e que os astecas, primeiros a cultivá-la na América Central, chamavam de tomatl. Cortez levou a trepadeira para a Espanha e, até o século 19, europeus a cultivaram apenas como planta ornamental – achavam que era venenosa. E não é que não estavam de todo errados? De fato, folhas e hastes do tomateiro contêm substâncias tóxicas. Vários povos adotaram o nome asteca – em espanhol, português, francês: tomate; em inglês: tomato; mas, como a variedade levada à Europa dava um fruto amarelo-dourado, os italianos o batizaram de pomo d’oro, maçã de ouro, agora pomodoro. O tomateiro pertence à família das solanáceas, que se compõe dumas duas mil espécies – arbustos, ervas, trepadeiras e algumas árvores, muitas delas brasileiras. Entre seus

“parentes”, figuram pimentas, berinjela, pimentão, jiló, batatinha, tabaco. E o tomate é seu fruto, embora muita gente o considere hortaliça ou legume. Cultivado e consumido durante milênios por povos pré-colombianos, hoje não há cozinha no mundo que o dispense. O que seria da macarronada sem o suculento molho vermelho? Que seria da pizza, da moqueca, da sopa espanhola gaspacho? E podemos apreciar seco, recheado, marinado, como hidratante suco salgado e gelado. Combina com alho, manjericão, orégano, cominho. Vai bem nas saladas, conservas, sanduíches. Com peixes, carnes, aves, caças. Não há alimento vegetal mais rico em licopeno, poderoso antioxidante que combate os radicais livres, retarda o envelhecimento e protege contra câncer de próstata, ovário e mama. Esse carotenoide responsável pelo vermelho do tomate, encontrável na melancia, na goiaba, no morango, no mamão, também reduz o colesterol e ajuda o organismo a defender-se das infecções. Estudos mostram que o licopeno é mais bem absorvido na presença de gorduras saudáveis e se você cozinha o tomate. Então, acrescente azeite extravirgem antes de servir. E se você faz parte da confraria do molho de tomate, use sem culpa e à vontade.


A pizza fugiu ao controle

REPRODUÇÃO/AB

Iolanda huzak

Vitalidade para toda parte do corpo

O

REPRODUÇÃO/AB

tomate também é rei do magnésio, cimentador do cálcio, importante para ossos e dentes. Contém potássio, que controla a pressão, previne câimbra, dá saúde às artérias. Fósforo, bom para o cérebro, ativa a memória, esperta a inteligência e combate cansaço mental. Vitaminas: A, para olhos, mucosas, pele, crescimento; B, para o sistema nervoso, aparelho digestivo, coração; C, que combate infecções, dá resistência aos vasos, vitalidade às gengivas, ossos e dentes. E tem baixíssimo teor calórico, não engorda.

Truques da vovó • Retirar a pele? Espete o tomate num garfo e vá virando na chama do fogão: a pele se solta fácil. • Na salada, use-o maduro. Verde ou “de vez” pode fazer mal às vísceras e provocar prisão de ventre. • Se estiver mole, deixe de molho em água gelada 15 minutos. Ficará firme e fácil de cortar. • Vai comer cru? Higienize: lave e, por meia hora, deixe em água filtrada com água sanitária ou vinagre (uma colher de sopa por litro de água). • Vinagre ou limão na salada faz mal (o ácido do tomate misturado com outros torna-se tóxico).

N

ão existe aqui feijoada italiana, mas na Itália existe pizza brasiliana. A rigor, devemos a invenção a babilônios, hebreus, egípcios, que há 6 mil anos já misturavam trigo e água para assar o “pão de Abraão”, parecido com o pão árabe atual. Punham em cima carne, cebola e outros temperos e assavam sobre pedras aquecidas. Com as Cruzadas, a pizza primitiva, trazida de plagas muçulmanas, aporta em Nápoles. Mas pizza mesmo, de verdade, só depois que os napolitanos conheceram o tomate, vindo do Novo Mundo. A história da iguaria popular em todo o planeta dá outra guinada quando imigrantes italianos chegam ao Brasil em fins do século 19 e se instalam na capital paulista. Surgirá o pizzaiolo nordestino e se dará a reinvenção da pizza, para além do tomate. Criaram até pizza à Califórnia, com frutos em calda. A Itália torce o nariz e costuma chamar tal tipo de novidade de “pizza brasiliana”. Chegou a baixar “diretrizes”, uma delas a de que o tomate seja fresco, para se fazer “a verdadeira pizza”. Como assim? Se até italianos se rendem à verdadeira pizza paulistana!

Saiba maIS Tomate: Aromas e sabores da boa lembrança, de Sérgio Pagano e Danusia Barbara (Senac Nacional, 2005). No site do Almanaque, acesse um especial da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp sobre tomates.

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Comadre apresenta a modernidade do tradicional É impossível ouvir uma só, numa paródia livre daquele comercial de salgadinho. E não é exagero. A mistura moderna de coco, baião, maracatu e ciranda pode colocar Vou Voltar Andando, o terceiro disco da banda Comadre Fulozinha, na prateleira de produtos que causam dependência. A banda é comandada por Karina Buhr que, não se sabe como, é cantora, produtora, diretora musical, compositora de todas as canções e até ilustradora da capa. E, se não bastasse, leva à frente uma recém-lançada carreira solo. A Comadre Fulozinha também conta com duas inte-

grantes do divertido Barbatuques, Mairah Rocha e Flávia Maia, além de Letícia Coura e Marcelo Monteiro. As charmosas vozes femininas se misturam a sonoridades oriundas de instrumentos como alfaia, zabumba e rabeca. Cria-se um som com personalidade, agradável e surpreendente, flertando com os ritmos e o repertório tradicional da música popular pernambucana. E, para fechar a história, o cd foi prensado em formato smd, que barateia os custos sem perdas de qualidade. O resultado: é vendido (BH) a 5 reais, como a capa comprova.

Serestando

João Macacão tocou com lendas como Silvio Caldas, Orlando Silva e Paulo Vanzolini. Aos 68 anos, grava o primeiro disco solo, com clássicos da música popular.

Cancioneiro

Os poemas de Fernando Pessoa recebem melodia de Jardel Caetano, em ritmos como acalanto e quadrilha. Entre os intérpretes, Antônio Nóbrega.

Coisas sem Grito

O compositor Henrique Vilar apresenta um álbum popular, mas sofisticado. Destaque para Do Tatuapé, do Tucuruvi, sobre o samba paulista.

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O almanaque dos Almanaques Dez anos de revista, com uma edição por mês, significam 120 almanaques. Mais de 4 mil páginas. Como tudo isso não caberia num só livro – a não ser que fosse uma parruda enciclopédia – o jeito foi fazer uma seleção de alguns dos melhores momentos do Almanaque. Nas 256 páginas de Almanaque Brasil – Todo dia é dia, cada capítulo aborda um mês da história cultural do País. Bem ao modo do Almanaque – divertido, leve, despretensioso – vão desfilando personagens, causos, episódios cômicos, personalidades inesquecíveis. E para checar se este “vulgarizador da memória nacional” fez efeito, um grande Brasiliômetro promete averiguar a quantas www.almanaquebrasil.com.br

anda o nível de brasilidade dos leitores. A publicação faz parte da série de almanaques publicada pela Ediouro, como o Almanaque do Rock, Almanaque da TV, Almanaque Anos 80, Almanaque da Jovem Guarda. O formato e o projeto gráfico são diferentes do da revista, mas a vocação é a mesma: divertir e informar ao mesmo tempo. E espalhar razões de orgulho. “E hão de chover almanaques. O Tempo os imprime, Esperança os edita; é toda a oficina da vida”, saúda Machado de Assis logo no pri(NP) meiro capítulo. Ediouro, 256 p., R$ 54

Seis de Março Paulo Santos de Oliveira Com um romance em primeiro plano, o livro conta a história da Revolução Pernambucana de 1817 para o público de 10 a 16 anos. Comunigraf, 36 p., R$ 19

Curupiras, Sacis... Fábio Sombra Um inventário ilustrado das criaturas fantásticas brasileiras, de fadas amazônicas a seres assustadores. Rocco, 104 p., R$ 45

Nhozinho: Imensas miudezas

Com organização de Heloísa Alves e Alice Cavalcante, o livro traz obras, biografia e ensaios sobre o artesão maranhense que, apesar da privação dos movimentos, nunca abandonou sua arte. Sábios Projetos, Arco Arquitetura e Secretaria da Cultura do Maranhão, 124 p., R$ 30



Bendito ladrão O homem conversava com um amigo na mesa do bar: – Ontem meu cartão de crédito foi roubado, mas decidi não avisar a polícia. – Por quê? – pergunta o amigo. – O ladrão está gastando bem menos do que a minha mulher.

Locutor gago? O sujeito resolve se inscrever num concurso de locutores de rádio. – Qual o seu nome? – Jo-jo-jo-ão da Si-si-si-silva. – Ora, meu senhor! Como quer ser locutor se você é gago? – Não, gago era o meu pai. E o idiota do escrivão me registrou com esse nome!

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Sinceridade infantil A tia vira-se para a Mariazinha e pergunta: – O que você vai fazer quando for grandona como a titia? – Um regime!

Causos de

Rolando Boldrin

Caipira não se aperta O cumpadi Juvêncio foi pra capitá. Na hora da boia, entrou no restaurante e, pra num fazer feio, sentou ao lado de um cidadão. Tudo o que ele pedia, o cumpadi pedia igual. A história se desenrolou assim: Cidadão – Ô garçom, me traga um bife a cavalo. Cumpadi – Um pra mim tomêm. Garçom (estranhando) – Os senhores estão juntos? Cidadão – Não, não estamos juntos. Aliás, nem conheço esse capiau aí! Cumpadi (seguro de si) – Nóis num tâmo junto, mas eu quero um bife-de-cavalo tomêm, uai. Cidadão (ainda para o garçom) – Aproveite e traga-me um arroz bem soltinho. Cumpadi – Dois. Um arroz pra mim tomêm. Daí seguiu-se essa lengalenga. Isso pra irritação do tal cidadão, que foi ficando vermelho. Cidadão – Traga-me uma água gelada. Cumpadi – Duas. Cidadão – Um cafezinho pra arrematar. Cumpadi – Dois. Um pra mim tomêm. Cidadão – A conta. Cumpadi – Duas. Pra mim tomêm (Ainda bem, pensou o cidadão). Aí o tal cidadão, ao olhar para os próprios pés, notou que os sapatos estavam precisando de uma boa graxa. Cidadão – Garçom! Traga-me um engraxate. Cumpadi (no ato) – Um pra mim tomêm! Cidadão – Peraí, ô capiau. Um engraxate pra nós dois é suficiente. Cumpadi (na lógica matuta dele) – O sinhô num tem nada cum isso. Eu como um, o sinhô come o ôtro, uai. Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).

ponto final

Na escola O Joãozinho vai reclamar pra professora: – Ô fessora, acho que não mereço zero! – Eu também acho, Joãozinho, mas foi a menor nota que encontrei.

Culpa do café? O sujeito há anos sofria de um mal singular. Era só tomar um gole de café que sentia uma forte pontada no olho esquerdo. Não havia remédio que curasse. Até que um dia resolveu procurar o médico. Ao explicar o problema, o médico pediu para ele tomar café. E assim fez várias vezes, e as pontadas no olho esquerdo não cessavam. No fim do exame, o rapaz choramingou: – Pelo amor de Deus, doutor, meu problema tem solução? – Tem sim, Manoel. É só tirar a colherzinha de dentro da xícara...




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