Almanaque Brasil - 124 Agosto

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Aos santos do Osmar

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Elifas Andreato

A necessidade é, com frequência, a espora do gênio. Honoré de Balzac (1799-1850), escritor francês

ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Elifas Andreato Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisor Lucas Puntel Carrasco Assistentes de arte Guilherme Resende e Paula Chiuratto Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano Diretor editorial

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nossa capa

Aumente seu nível de brasilidade E ainda ganhe pontos para viajar

Samuel Casal

DIVULGAÇÃO

m julho, Wander e Rita Mazzotti promoveram uma exposição minha na Mega Artesanal 2009, feira de artesanato que reuniu cerca de 150 mil pessoas em apenas cinco dias. Além de homenagens, ganhei das bordadeiras Ciça, Maria Helena e Maria Cecília interpretações que fizeram de algumas das minhas obras. Parte desses bordados de extraordinária beleza foi doada para o zeroAseis, instituto de proteção à primeira infância, do qual sou um dos fundadores e conselheiro. Em determinado momento, recebi o recado de que um velho amigo queria me ver. Curioso, desci as escadas que me separavam da feira e me deparei com Osmar Santos, um ídolo, o maior locutor esportivo da história do rádio brasileiro. Corri a seu encontro, beijei suas mãos e o abracei demoradamente. Quando ele pronunciou meu nome e a palavra saudade, chorei e vi lágrimas em seus olhos. Caminhei ao lado de sua cadeira, que ele pilota com maestria, até um estande que abrigava quadros seus, atração para centenas de fãs. Ele ainda é um ídolo. Paciente, atende a todos para abraços e fotografias. Diante de suas obras, relembramos alguns momentos que vivemos juntos, como sua participação no movimento Diretas Já!, do qual foi uma das figuras centrais. Sua fala nos comícios tinha tanto poder de mobilização que ofuscava os principais líderes políticos do movimento. Mas o que ele queria mesmo era lembrar dos bons tempos em que jogávamos futebol. Para meu espanto, ele recordou do Bento, meu filho, que ainda menino jogava muito bem – e por isso Osmar sempre o queria em seu time. Depois voltamos a rir das trapalhadas que a bola proporciona a quem não tem intimidade com ela. Ao longo da feira, foram três tardes memoráveis em companhia de um gênio que luta dia após dia para superar as limitações do corpo, e que mantém viva a memória de seu glorioso passado. Depois de muitos anos, revi um amigo – agora companheiro de ofício – e quero aprender com ele a linguagem do olhar. Osmar fala com os olhos e chora diante de um quadro bem pintado. Ele não precisa mais das palavras, porque a arte que faz hoje se vale do silêncio e da dor para criar belezas. Peço a todos os santos do Osmar que cuidem de mim para que eu possa seguir seu exemplo de perseverança e alegria de viver.

O ilustrador gaúcho Samuel Casal iniciou a carreira aos 16 anos. Na imprensa brasileira, colaborou com publicações como Superinteressante, Folha de S.Paulo, Exame e Viagem & Turismo. Seus trabalhos cruzaram fronteiras. O artista ilustrou livros e publicou histórias em quadrinhos na França, Alemanha, Espanha, Chile, Bolívia e Argentina. Os trabalhos com gravura chegaram à Itália e Espanha. Uma das mais recentes criações é a história em quadrinhos Prontuário 666 – Os anos de cárcere de Zé do Caixão, publicada pela editora Conrad em 2008. Com rápida ascensão, Samuel ganhou notoriedade e prêmios. Destacam-se as duas condecorações no Salão Internacional de Desenho para a Imprensa de Porto Alegre e os seis troféus HQMIX – dois consecutivos, como melhor ilustrador do Brasil.

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Solução na p. 26

le nasceu em 28 de agosto de 1932 numa família da classe média paulistana. Estudou em bons colégios e, para a alegria do pai, entrou na faculdade de Direito. Mas apaixonou-se pelo teatro e abandonou o curso. O pai não o perdoaria – nunca foi ver o filho atuar. Integrou o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Lá estreou profissionalmente, em Eurídice, de Jean Anouilh, ao lado de Walmor Chagas e Cleyde Yaconis. Fez parte também da Companhia Cacilda Becker. Durante a carreira, foi dirigido por gente como Ziembienski, Antunes Filho e Zé Celso. Esteve também no cinema. No total, foram 20 peças e 30 filmes. Suas atuações lhe renderam cinco prêmios Molière. Casou-se duas vezes, a primeira delas com a atriz Célia Helena.

Na televisão, tornou-se rosto conhecido. Demorou para aceitar o primeiro papel – para ele, as novelas alienavam o povo. Só aceitou estrear em 1980, em Água Viva, da Globo. E contanto que não afetasse seu ofício nos palcos. Na telinha, representou personagens marcantes, como o italiano ranzinza Jeremias Berdinazi, inimigo mortal de Bruno Mezenga em O Rei do Gado. Numa enquete, Berdinazi foi escolhido o seu melhor papel na tevê. Na última novela, vivia um barão bon-vivant à moda antiga, capaz de manter a pose aristocrática até numa feijoada na favela. Mesmo lutando contra um câncer, teve ainda disposição para atuar na minissérie JK. Em julho de 2006 foi vencido pela doença. Deixou duas filhas e um exemplo de amor e dedicação aos palcos. (BH)

Em 1969, Caetano Veloso e Gilberto Gil receberam uma ordem expressa dos militares. Teriam de cumprir prisão domiciliar em Salvador antes de seguir para o exílio em Londres. Também estavam proibidos de dar entrevistas, se apresentar em programas de rádio e tevê ou fazer shows. As opções eram poucas

futebol, foi visto várias vezes em partidas na cidade, como na foto ao lado, em que posa entre jogadores de Bahia e Vitória no estádio da Fonte Nova.

ARQUIVO/AE

para os inventivos e rebeldes tropicalistas. Caetano, embora não gostasse de

Agosto 2009


24/8/1954

PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS COMETE SUICÍDIO PARA NÃO TER QUE DEIXAR SEU CARGO EM VIDA, COMO OBRIGAVA A CONJUNTURA CRIADA POR CARLOS LACERDA.

VOCÊ SABIA? A

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de quem são estes olhos?

25/8/1961

PRESIDENTE JÂNIO QUADROS RENUNCIA, DEPOIS DE LACERDA TER AFIRMADO PUBLICAMENTE QUE O POLÍTICO PLANEJAVA DEIXAR O CARGO.

Paulistanas não tiravam rebuço nem por decreto

Ele passou no vestibular de Medicina, mas deixou Petrópolis, cidade fluminense onde nasceu em 22 de agosto de 1975, para estudar Publicidade e Dramaturgia. Começou a carreira como ator na Globo. Olhos visados pelos paparazzi, na tevê e no cinema já pertenceram a padres, travestis, dependentes químicos e cabras jurados de morte. Recentemente figuraram em filmes estrangeiros, como As Panteras e Che. Confira a resposta na página 26.

dia do artista de teatro

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ualquer profissional apaixonado por teatro sonharia em estar sempre em cena, ainda que estivesse em outros trabalhos ou mesmo de férias. Se, a princípio, o desejo é impossível de ser realizado, Renata Jesion e Nelson Kao pularam o princípio. Colocaram em prática a ideia antes mesmo de ter um apoio, patrocínio ou edital. E mesmo um teatro. Há seis meses, a sala da casa de Lourenço Mutarelli, Mojica Marins, Peréio e Bortolotto em gravação de cena. Nelson e Renata, em São Paulo, virou palco. E uma espécie de lar virtual foi criado para interesse e democratizar a arte. Eles dizem apresentar as encenações na internet: o Teatro receber mensagens de agradecimento de gente Para Alguém. Uma vez por mês, cerca de dois mil que nunca havia visto uma peça antes. internautas/espectadores acessam o endereço, e, “Teatro é democracia”, diz Renata, para explicar que no Sótão, assistem a uma peça ao vivo. Depois, a no Teatro Para Alguém misturam-se artistas novos, gravação continua disponível no Porão para uma consagrados, alguns que estavam fora do circuito média de 500 visitantes por dia. Na programação, ou que nem são do teatro. Entre os autores, Alberto há também a Miniemsérie, séries com vários Guzik, Lourenço Mutarelli e Mário Bortolotto. episódios, e a Miniemcena, peças curtas filmadas O próximo passo é encontrar um patrocínio, em plano sequência. explica Renata. Por enquanto, todos trabalham O casal não pretende que ninguém deixe de confiantes no valor do projeto, recebendo ir ao teatro. Pelo contrário. A ideia é despertar remuneração simbólica. (NP) No site do A lmanaque , confira as encenações em cartaz e veja fotos de Corpo Estranho.

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Laura Huzak Andreato

As cortinas estão sempre abertas no teatro virtual

REPRODUÇÃO/AB

13/8

artim Lopes, governador de São Paulo no século 18, não se conformava com a falta de respeito ao alvará real de 20 de agosto de 1649. Apesar da proibição, as mulheres continuavam se rebuçando. Melhor explicar: usando longos panos cobrindo a cabeça, à maneira da Idade Média. O traje “detestável e inculto”, dizia Lopes, dava liberdade para que “entrassem até de dia na casa de homens”. Também podia ser disfarce para criminosos, desconfiava o governador, que estipulou penas para quem não tivesse o rosto descoberto. De nada adiantou. Acredita-se que as mulheres sem acesso a cosméticos quisessem esconder cicatrizes da varíola. E ainda que brancas pobres usassem o figurino-esconderijo por vergonha de realizar tarefas associadas a escravos. Em 30 de agosto de 1810 veio a terceira e derradeira proibição, agora por parte do príncipe regente, dom João VI. E finalmente, depois de séculos, o costume (NP) caiu em desuso. Saiba Mais São Paulo Antigo 1554-1910, de Antonio Egydio Martins (Paz e Terra, 2003).


1° GP BRASIL DE TURFE

enigma figurado

Puro Sangue Inglês (do agreste), Mossoró

forte e afinada era atração nas festas da família. Adolescente, escapava de casa para cantar em barzinhos. Inspirou-se em cantores tradicionais do rádio: “Sou um dramalhão”, diz, apesar da gargalhada marcante. No repertório, composições de Gil, Chico, Milton. Intérprete de um repertório que vai de músicas sertanejas a sambas-canção, Maria de Fátima tornou-se musa das Diretas Já! ao interpretar o Hino Nacional.

virou até marchinha

R.: Confira a resposta na página 26.

Centro cultural abre portal para Cidade de Deus 21/8

Divulgação Cufa-CDD

dia do favelado

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Atividade do curso de audiovisual na Cidade de Deus.

comunidade da Cidade de Deus ficou famosa graças ao filme homônimo. Imagens de violência e miséria circularam pelas salas de cinema mundo afora. Uma das vozes que se empenham em propagar outra visão é a do rapper MV Bill. Nascido e criado na comunidade da CDD (como é carinhosamente chamada por seus moradores), há anos Bill vem utilizando seu prestígio como músico para articular melhorias. Uma de suas mais bem-sucedidas empreitadas pode ser vista a olho nu: um prédio de dois andares cravado no meio da favela. O centro cultural da Cidade de Deus foi materializado em 2004, por meio de uma parceria entre Bill, a Central Única das Favelas (Cufa) e Ronaldo Nazário, “o fenômeno”. Bill conseguiu o lugar, Ronaldo entrou com a verba para as obras e a Cufa ficou responsável por gerenciar o espaço.

O centro cultural concentra uma série de atividades gratuitas, como teatro, grafite e cinema. Figuras conhecidas do mundo das artes já fizeram as vezes de professor, como Caetano Veloso, João Moreira Salles e Cacá Diegues. Parcerias com a Prefeitura e com programas de democratização da informática oferecem um telecentro, onde a comunidade tem acesso gratuito à internet. Há também o Clube Escolar, com atividades como tênis de mesa, judô, dança, futebol e ginástica. No cenário da comunidade, o centro cultural surge como um portal que permite que as pessoas tenham, a poucos metros de casa, acesso a um mundo de tamanho indefinido. Um mundo que tem muito a dizer e, principalmente, muito a ouvir. (João Xavi, de São João do Meriti-rj – overmundo )

Saiba Mais Confira outros conteúdos sobre o assunto em www.overmundo.com.br

Acervo Jockey Club Brasileiro

Álbum de Família

E la nasceu em Belém no dia 9 de agosto de 1956. A voz

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aicó e Mossoró empolgavam o público que lotava o Hipódromo Brasileiro (hoje Hipódromo da Gávea) no primeiro Grande Prêmio Brasil de Turfe, em 6 de agosto de 1933. Os dois cavalos pernambucanos emparelharam-se com outros 20 estrangeiros, muito mais caros e de linhagens tradicionais. No final da prova máxima do turfe no País, Mossoró levou a melhor. O tordilho de Frederico Lundgren, suíço-brasileiro fundador das Casas Pernambucanas, quebrou tabus. Era um Puro Sangue Inglês nascido e criado no agreste, lugar considerado inadequado para a raça. E seria o primeiro brasileiro a vencer na Inglaterra. As pessoas só não abraçaram cavalo e jóquei porque um cordão de isolamento impedia. Mossoró virou o assunto da vez. Uma marchinha de Lamartine Babo dizia que o Brasil tinha sido inventado “dois meses depois do carnaval”, e completava: “De lá pra cá tudo mudou / Passou-se o tempo da vovó / Quem manda é a Severa / E o cavalo Mossoró”. (NP) No site do Almanaque, ouça História do Brasil, de Lamartine Babo, na voz de Almirante.

o baú do Barão

“A galinha põe e o quitandeiro dispõe.” Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

Agosto 2009


6mu/ni8cipal

Ética de Julinho Uma flor boliviana 11/8 colocou Mané na maior cidade do Brasil na seleção PRAÇA KANTUTA

dia lívia da Bo

A

o caminhar pelo bairro paulistano do Pari num domingo à tarde, em certo momento haverá a sensação de estar atravessando a fronteira entre Brasil e Bolívia. Aos poucos, o idioma e a aparência das pessoas mudam. Gente de pele morena, cabelos lisos e olhos levemente puxados bate papo em espanhol. Estamos na praça Kantuta, um pedaço da Bolívia na maior metrópole do Brasil. Kantuta é o nome da flor oficial da Bolívia. E, desde 2002, um ponto de encontro dos bolivianos que moram em São Paulo – cerca de 200 mil. São dezenas de barracas: alimentação (em especial as saltenhas e empanadas), vestuário, produtos típicos. Um dj saúda os visitantes e comemora a lei de anistia aos imigrantes ilegais. Num outro canto, um pula-pula para a criançada, sob o olhar atento das mães. E grupos de música folclórica para todos os lados. Numa das barracas, o repórter tenta – inutilmente – entender do que se tratam as guloseimas: pollo y lechon al horno, fricase, pique a lo macho, refresco de khiza. “Com dificuldades, hermano?”, pergunta um dos clientes, que ajuda na tradução dos pratos e convida o forasteiro para se sentar com seus amigos, entre os www.almanaquebrasil.com.br

quais está o músico Luís Enrique, há 20 anos no Brasil. Ele não se queixa do suposto preconceito aos bolivianos. “Quem é inteligente não tem preconceito, tem curiosidade.” E finaliza: “Um ou outro paulistano se fecha demais, acha que o mundo é somente ele. E aí, em vez de cidadão do mundo, se torna provinciano.” Numa parede há um grande quadro de Evo Morales. Um rapaz fala com entusiasmo do presidente boliviano. “Quase todos os ex-presidentes eram brancos e déspotas. Agora temos alguém que pensa nos campesinos, nos trabalhadores”, argumenta. “A oligarquia, claro, fica louca. Não querem largar a mamadeira.” Há ainda barracas de roupas, como a de Sergio Quispe Cuellar, 67 anos, há 25 no País. Uma camiseta se destaca, com a inscrição La hoja de coca no és droga (a folha de coca não é droga) – uma velha batalha dos agricultores bolivianos. Em São Paulo, criou os filhos. “Todos formados”, diz, orgulhoso. Mas quer voltar para a Bolívia em dois anos, em busca de menos agitação. Ao ser perguntado sobre o que mais deseja, responde, com um sorriso sereno: “La Paz”. (BH) Veja fotos da feira da praça Kantuta no site do A lmanaque .

pressão

Origem da ex MANO A MANO

remete A expressão vem do século 18 e no Ma ola. anh à corrida de touros esp da tica pra a mano é uma modalidade, até hoje, na qual disputam dois ais. toureiros, cada um com seis anim ros out a da A competição foi leva lá, e países, entre eles Portugal. Por sou de tabela por aqui, o termo pas a e rir-s refe a par o a ser empregad tes. par s dua enfrentamentos entre

Folha Imagem/Acervo Última Hora

Laura Huzak Andreato

dia da consciência nacional

Julinho, com a camisa do Palmeiras.

D

epois de surgir no Juventus, estourar na Portuguesa e ser titular da Copa de 1954, o ponta-direita Julinho Botelho foi contratado pela Fiorentina, da Itália, em 1955. Tornou-se herói no ano seguinte, ao conquistar o primeiro scudetto do time italiano. O paulistano era tratado quase como um rei em Florença. A Copa do Mundo de 1958 se aproximava, e havia uma praxe na seleção: não convocar jogadores que atuavam no exterior. Mas abririam uma exceção, afinal tratava-se do endiabrado e talentoso Julinho. O presidente da CBD, João Havelange, mandou um telegrama ao jogador. A delegação passaria pela Itália, buscaria-o e seguiria para a Suécia. Mas não contava com a resposta: “Nada me emociona mais que jogar pelo meu país. Mas não acho justo tirar o lugar de um atleta que atue no Brasil”. O jeito era arranjar outro ponta-direita. Joel, reserva imediato, se tornaria titular. E, para a reserva do reserva, foi convocado um botafoguense de nome esquisito: Mané Garrincha. Coincidentemente, um dos jogos preparatórios para a Copa foi contra a Fiorentina. Durante o hino nacional, Julinho chorou copiosamente e quase desmaiou de emoção. Pouco produziu na partida. Achava inconcebível fazer um gol contra o Brasil. Já Garrincha infernizou os “joões” italianos. Fez um gol antológico após driblar cinco adversários e entrar com bola e tudo. Eram os primeiros passos do anjo (BH) das pernas tortas na seleção canarinho. Visite o site do A lmanaque e veja lances de Julinho Botelho em campo.


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estação colheita O que se colhe em AGOSTO

Jabuticaba, mexerica, kiwi, morango, coco, berinjela, lima, maçã, melão.

FUZIS EM PUNHO

Presidiários

não deixaram doentes Emílio Ribas

O

fugir do hospital

século 20 começava e a medicina avançava a grandes passos – muitas vezes de modo pouco ortodoxo, é verdade. Vem dessa época o costume de usar jargões militares para a saúde, como “combate às doenças” e “campanha contra os transmissores”. O médico sanitarista Emílio Ribas, porém, foi mais longe nessa história. Ainda no começo da carreira, chegou a Jaú, no interior de São Paulo, para conter a febre amarela. De um lado, encontrou o cemitério praticamente sem vagas para mais vítimas da doença; de outro, a tenda de um curandeiro cheia de clientes “tratando” da febre. O inspetor sanitário fechou o lugar e mandou os enfermos ao

Hospital do Isolamento, em São Paulo. Ficou sabendo depois que a população, indignada, pretendia trazer de volta os doentes. Ribas não teve dúvidas. Buscou apoio policial. O destacamento da cidade, porém, só oferecia dois soldados. Onde mais encontrar socorro? Restou a cadeia. O médico convenceu o delegado a liberar uns dez presos e, para completar, armá-los com fuzis. A inusitada tropa seguiu para a estrada que ligava Jaú à capital para deter quem tentasse voltar. Terminada a missão, o problema foi convencer os presos a assumir seus velhos postos nas celas. Persuasivo, o sanitarista prometeu lutar pela redução das penas. E cumpriu. (NP)

SAIBA Mais República dos Invisíveis: Emílio Ribas, microbiologia e saúde pública em São Paulo, de Marta de Almeida (Edusf/CDAPH, 2003).

Para Yuri Gagarin, Brasília era um planeta diferente

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m abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin deu uma notícia ao mundo: “A Terra é azul”. Era o primeiro homem a viajar pelo espaço. Na volta, a celebridade planetária visitou diversos países para promover a tecnologia espacial soviética. O Brasil também estava no roteiro. Por aqui recebeu diversas homenagens. Visitou até o recém-nascido Yuri Gagarin da Silva. Em 3 de agosto de 1961, foi recebido por Jânio Quadros. O presidente o condecorou com a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria nacional. No encontro, o cosmonauta entregou uma mensagem do líder soviético Nikita Kruchev – uma tentativa de reaproximação diplomática entre os países. Alas conservadoras não gostaram nada do flerte com os comunistas. Mal sabiam que, duas semanas depois, o condecorado seria Che Guevara. Gagarin foi embora com uma boa imagem do País, principalmente da arquitetura arrojada de Brasília. Ao pisar na capital, comentou: “A impressão que tenho é a de estar chegando num planeta diferente”. (BH)

Folha Imagem/Acervo Última Hora

1 Dia Mundial da Amamentação 2 Dia Universal do Folclore 3 Dia do Rito Brasileiro 4 Dia do Padre 5 Dia da Farmácia 6 Dia do Ar 7 Dia da Saúde Mental (RS) 8 Dia do Sindicalista (SP) 9 Dia dos Pais 10 Dia da Enfermeira 11 Dia da Televisão 12 Dia Nacional das Artes 13 Dia Nacional da Juventude 14 Dia do Frevo (PE) 15 Dia dos Solteiros 16 Dia do Religioso 17 Dia do Patrimônio Histórico 18 Dia do Estagiário (MT) 19 Dia Mundial da Fotografia 20 Dia do Maçom 21 Dia da Habitação 22 Dia do Supervisor Educacional 23 Dia da Luta Contra a Injustiça 24 Dia do Instalador Hidráulico 25 Dia do Feirante 26 Dia da Igualdade da Mulher 27 Dia Nacional do Psicólogo 28 Dia do Filósofo 29 Dia do Vaqueiro 30 Dia do Vendedor Lojista 31 Dia do Nutricionista

Arquivo/ae

agosto ta mb é m te m

dia do encarcerado

Jânio condecora o cosmonauta russo.

Saiba Mais Desafio Inacabado: A política externa de Jânio Quadros, de Carlos Alberto Leite Barbosa (Atheneu, 2007). Agosto 2009


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Caminhoneira trocou asfalto por viagens astrais

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iúva aos 24 anos, quatro filhos legítimos e uma adotiva para criar, a baiana Neiva Chaves Zelaya vendeu o sítio onde morava e caiu na estrada. Foi a primeira caminhoneira com carteira profissional no Brasil, no início dos anos 1950. De Minas ao Paraná, Vale do Amanhecer e sua fundadora, Tia Neiva. passando pelo interior paulista, se fixou em Goiânia após com o monge Humarran, roubarem seu caminhão. Foi motorista de seu mestre durante cinco anos. Das ônibus e repórter de um jornal. Convidada viagens extracorporais, a médium teria por um amigo, seguiu o rumo dos trazido bagagem para formatar uma nova candangos que trabalhavam na doutrina religiosa, e também uma construção de Brasília. tuberculose que a deixou internada por Em 1957, aos 32 anos, a vida parecia ter quatro meses. entrado nos eixos. Foi quando começou a Em 1964, com o fim da UESB, nasceu o ouvir vozes. De formação católica, Vale do Amanhecer, ou Obras Sociais da procurou auxílio médico. Depois de lhe Ordem Espiritualista Cristã, que une receitar remédios para estresse, o representações diversas, como as católicas, psiquiatra viu a paciente travar uma pré-colombianas, romanas, além das conversa com uma terceira pessoa que matrizes negra, branca e indígena. Seus não estava na sala: o pai do médico, adeptos, os jaguares, acreditam morto há anos. Assustado, ele teria que os habitantes da Terra são oriundos deixado Brasília. de um planeta chamado Capela, com o As vozes que Neiva escutava passaram a se qual se comunicam. identificar: uma delas era Pai Seta Branca, Instalado na cidade satélite de Planaltina, um espírito de luz que teria sido são a 45 quilômetros de Brasília, o Vale do Francisco de Assis. Seguindo suas Amanhecer possui cerca de 25 mil orientações, Neiva fundou em 1959 a moradores ao seu redor, e recebe outros União Espiritualista Seta Branca, UESB. O 12 mil visitantes por mês. Tem ainda 600 local abrigava crianças e doentes que não templos, dez deles em países como Japão, tinham onde se tratar no Distrito Federal. Portugal e Alemanha. Buscando uma formação mais completa, O legado deixado por Tia Neiva, que morreu Tia Neiva, como agora era chamada, em 1985, hoje é objeto de inventário pelo passou a realizar o que chamava de Iphan, que até 2010 pretende outorgar ao “transporte consciente”: todas as noites, Vale do Amanhecer o título de Patrimônio saía de seu corpo para ter aulas no Tibete Cultural Imaterial Nacional. (Mariana Albanese) Confira vídeos sobre o Vale do Amanhecer no site do A lmanaque .

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Solidariedade e organização são as palavras-chave deste signo de elemento terra. Os nativos têm os pés no chão: sabem estabelecer prioridades e dão mais vazão ao lado racional do que ao emocional. Costumam ser práticos, disciplinados e sempre prestativos com os amigos. Nunca deixam ninguém na mão. Exigentes com eles mesmos, gostam de cuidar da aparência e da saúde.

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Reprodução

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/ab

Iolanda Huzak

dia das vocações religiosas

1 sábado 2 domingo 3 segunda 4 terça 5 quarta 6 quinta 7 sexta 8 sábado 9 domingo 10 segunda 11 terça 12 quarta 13 quinta 14 sexta 15 sábado 16 domingo 17 segunda 18 terça 19 quarta 20 quinta 21 sexta 22 sábado 23 domingo 24 segunda 25 terça 26 quarta 27 quinta 28 sexta 29 sábado 30 domingo 31 segunda

Esperança Estevão Lídia João Maria Vianney Afra Justo Caetano de Tiene Domingos de Gusmão Tomás de Cantalupo Antônio das Cavernas Lourenço Euplúsio Benildo Maximiliano Kolbe Tarcísio Roque Jacinto Helena Eudes Bernardo de Claraval Pio X Timóteo Rosa de Lima Bartolomeu Genésio Micaela Mônica Agostinho Cândida Félix Raimundo Nonato

Santo Agostinho Durante a juventude, o intelectual africano não tinha crenças e vivia com uma concubina. Para alegria da mãe, santa Mônica, converteu-se ao cristianismo e tornou-se bispo. Criou os conceitos de “pecado capital” e “salvação divina”. Padroeiro dos monastérios, sua obra baseou a Reforma Protestante.



Eu sou o primeiro Sérgio Cabral da família! A reclamação é feita em puro tom de brincadeira. Mas o fato é que, apesar dos mais de 50 anos de presença na imprensa, da criação do mais festejado jornal alternativo do País, da produção de discos e direção de espetáculos memoráveis, vira e mexe vem a pergunta: “Você por acaso é parente do Sérgio Cabral?”. Sim, ele é parente do governador do Rio. Pai, mais precisamente. Mas ele não se aborrece com a confusão. Na verdade, se diverte. E, contra a falta de memória nacional, toca a carreira contando a história da música popular brasileira a partir da vida de seus protagonistas. Já são oito os biografados, num escrete que vai 12

de Pixinguinha a Ataulfo Alves – o último a entrar na seleção. Quando dizem que é escritor, retruca: “Minhas biografias são reportagens. O que sou é repórter”.

Como foi o início da carreira? Eu estagiei no Diário da Noite, no Rio. Quem me arranjou o emprego foi um repórter que encontrei no meu bairro, no subúrbio carioca. Encontrei o sujeito e fiz o pedido de emprego na maior cara de pau. E como eu era cara de pau antigamente! Ele tinha ido entrevistar um cara chamado Lourival de Freitas, que dizia que recebia o espírito de Nero. Sim, o Nero, de Roma. Mas ele não incendiava nada, não. Só fazia cirurgias. O sujeito bebia uma garrafa de cachaça inteira de uma vez. Era fenomenal. Logo você foi efetivado? Foi rápido. E eu precisava disso para dispensar a faculdade, e também para ganhar um dinheirinho. Cavalcanti era longe. Às vezes, eu dormia em cima da mesa da redação. Numa madrugada qualquer, cheio de jornalistas cansados e fumando sem parar, vi que o redator-chefe estava com dificuldades para finalizar um título de uma notinha. Eram duas linhas de 17 toques. A nota dizia que o presidente Juscelino ia liberar verba para uma cidade mineira que fora vítima de uma enchente. Aí fui pra máquina, fiz o título e botei na frente dele. “Quem escreveu isso?” “Fui eu”, respondi. Ele virou-se para o secretário de redação: “O Sérgio Cabral já está registrado? Então registre ele amanhã”. Sou jornalista graças a esse título: “JK promete dar o que temporal tirou”. www.almanaquebrasil.com.br

E o jornalismo te deu mais do que a profissão, não é? Pois é. A partir de 1958, passei a cobrir o concurso Miss Brasil. Me tornei amigo das misses, das mães. Certa vez, num desses eventos preparatórios, o diretor do clube anfitrião me pediu: “Sérgio, tenta convencer aquela moça ali a sair como miss. Com ela, teríamos boas chances”. A menina era uma gracinha. No jornal, fui soltando umas notinhas, inventando que ela queria ser candidata, mas o namorado, que era jornalista, não permitia. Quando voltei ao clube, duas semanas depois, uma amiga dela perguntou: “Aquilo que saiu no jornal é verdade?”. E eu: “Da minha parte, é. E da dela?”. “Da parte dela também...” Resultado: três filhos e 10 netos. Era a miss Magali, com quem sou casado há quase 50 anos... Como você se aproximou da música? Eu tinha um tio com uma coleção de discos muito boa. Entre eles, havia um de Orlando Silva. Com seis anos, eu escutava Orlando o dia inteiro. A Portela também ajudou. Cavalcanti é um subúrbio de Madureira, bairro da escola. Conheci o Candeia, Zé Kéti, Jair do Cavaquinho, todos bem jovens. Eles não davam bola pra mim. Mas eu era fã deles. Isso na infância. Depois foi o jornalismo, cobrindo o Carnaval. Então fui convidado a escrever uma página sobre música popular no Caderno B. E nunca mais parei.


E também passou a produzir discos e shows? Em 1972, eu estava morando em São Paulo, trabalhando na editora Abril. Um dia, numa vinda ao Rio, encontrei o cantor Ciro Monteiro e fomos tomar um chope no Amarelinho. Lá pelas tantas, apareceu o Nássara. Logo depois, o Frazão. Passei uma tarde deslumbrante ao lado dos três. Pensei: “Em que lugar do mundo posso encontrar o Ciro, o Nássara e o Frazão?”. Nenhum, e então voltei de vez para o Rio. Mesmo para ficar desempregado. Um dia, encontrei o Martinho da Vila, que nem sabia da minha situação. Ele propôs: “Você não quer produzir o meu próximo disco?”. E eu: “Mas o que é ser produtor de disco?”. “Ah, é isso que você faz, mas num estúdio...” E com isso você acabou dirigindo o primeiro show de um sambista no principal palco da música carioca... Sabe que eu nunca havia pensado nisso? É verdade. Primeiro produzi o disco Batuque na Cozinha, depois dirigi o show em São Paulo, que veio em seguida para o Rio. Foi mesmo o primeiro show de um sambista no Canecão. Depois trabalhei com Paulinho da Viola, João Nogueira, Ciro Monteiro. Sempre trabalhei com quem gosto. Como surgiu O Pasquim? O Pasquim foi feito por amigos. Cada um dos três fundadores – eu, Jaguar e Tarso de Castro – chamou os seus, que por sua vez chamaram os deles. Cada um fazia o que sabia e queria. A única coisa que nos unia era a oposição à ditadura. A primeira entrevista, por exemplo, foi com Ibrahim Sued. Eu transcrevi e, na hora de editar, o Jaguar falou: “Não mexe. Deixa assim mesmo”. E aí saiu aquela entrevista de edição surpreendente, como se fosse um papo.

filmar. Estavam rodando Carnaval no Fogo. Ele botou o figurino, maqueou-se e, de repente, não era mais o ser humano. Era o ator. Naquele dia ele fez a célebre cena de Romeu e Julieta no balcão, com Oscarito – uma das cenas mais famosas da chanchada. Tom Jobim você biografou ainda em vida? Quando Tom fez 60 anos, me encomendaram uma pequena biografia. Sempre que o encontrava, tentava transformar aquilo numa entrevista, colher dados, confirmar informações. Mas era impossível. “Tom, quando você fez a música tal, fez letra e música junto?” “Ô Sérgio, você vê como está o trânsito do Rio?” Não tinha como falar sério. Eu ia no Antonio’s, levava um gravador e ligava sem que ele percebesse. Não peguei uma informação que prestasse! Só aquelas coisas dele: “O Brasil é um país de cabeça pra baixo”, “Tiram o W do alfabeto, e a primeira avenida que se abre em Brasília é a W-3!”.

No jornal, quando você fica velho, vira chefe, cronista. Com as biografias, posso continuar a ser repórter.

Quando você resolveu escrever biografias? No jornal, quando você vai ficando velho, deixa de ser repórter. Vai ser chefe, vai ser cronista, para de ir à rua. Fazendo biografias, posso continuar a ser repórter. Dizem que sou escritor e jornalista. Nada disso. Minhas biografias são reportagens. O que sou é repórter. Qual é o critério para escolher os biografados? São pessoas que gosto. Todos conheci pessoalmente. Bebi com muitos deles. Percebi que é possível escrever a história da música brasileira apenas narrando a vida das pessoas que participaram dela. A exceção é Grande Otelo, que, de certa forma, também era ligado à música. Ele era um ser especial. Tem um momento do livro em que digo que Grande Otelo é um impressionante exemplo de pecador que é perdoado. Reproduzo uma série de memorandos que ele recebeu da TV Excelsior, ameaçando-o de punições por ausências, porres, indiciplinas. Foi até suspenso. E, 15 dias depois, ele era convidado para um novo programa, sendo o artista principal. Ele passou por momentos trágicos, não? A primeira mulher dele matou o filho dela e suicidou-se. Foi uma porrada pra ele, uma coisa terrível. Saiu do cemitério levado pelo diretor Watson Macedo para encontrar os colegas. Mas ele quis

Por que escrever sobre Ataulfo Alves? Sempre achei que Ataulfo não precisava de uma biografia minha. Ele foi um grande astro, reconhecido, lembrado... Ao contrário de Cartola, Nelson Cavaquinho. Mas o fato é que o tempo passou e hoje figuras como o Nelson e o Cartola estão, de alguma forma, bastante presentes. Já Ataulfo... Quando chegou o centenário dele, em maio, achei que era a hora dessa lembrança. Por isso publiquei o livro. Agora estou reunindo forças para escrever sobre Araci de Almeida. Será a minha próxima biografia.

Falta reconhecimento aos artistas brasileiros? Não sou ingênuo de dizer que esse pessoal não será esquecido. Será, sim. E isso não acontece só no Brasil. Recentemente, li sobre uma pesquisa numa grande cidade americana que mostrou que apenas 20% das pessoas com menos de 30 anos sabiam quem eram Louis Armstrong e Duke Ellington, os dois maiores nomes do jazz americano. A tendência é essa. Há uma necessidade de consumo, e portanto de novos ídolos. A diferença é que eles preservam a memória de forma documental. Eles têm muita coisa de imagem em movimento. Aqui não há isso. Perdeu-se tudo. A memória dos nossos grandes artistas depende de quem se dedica a contar essas histórias, de biógrafos como eu, de vocês, do Almanaque... Mudando de assunto: como é ser pai de governador? É abrir o jornal todo dia de manhã pra saber qual a esculhambação que vão dar nele. É difícil. Mas, claro, há sempre boas notícias – apesar de no jornalismo haver uma certa vergonha de elogiar... Depois de tantos anos, você tornou-se “o pai do governador”? É. E tem gente que nem disso sabe. Eu sou o primeiro Sérgio Cabral da família! Até que me tornei conhecido, mas eis que surge outro... De vez em quando aparece um perguntando: “Vem cá, você por acaso é parente do Sérgio Cabral?”. SAIBA MAIS No site do Almanaque, confira trechos em áudio da entrevista com Sérgio Cabral.

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Líder de um o d a n i c a v o v o p o Cruz Oswald

Por Natália Pesciotta

Ele enfrentou quebra-quebras e ameaças de golpe por defender um conceito diferente de saúde. Foi o “vilão” de uma das mais marcantes revoltas populares do Brasil. Patrono do nosso templo da ciência, descartou técnicas ultrapassadas para

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combater doenças. Foi pioneiro ao observar Reproducão/AB

a saúde além dos pequenos limites da

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o começo do século 20, acreditava-se que o ar proveniente de lugares sujos ou com água parada era a causa de epidemias. Por isso, destruir cortiços e moradias populares parecia a solução ideal para o Rio de Janeiro – “túmulo de estrangeiros”, uma cidade doente, com alta mortalidade por febre amarela. Assim que assumiu a Diretoria Geral da Saúde Pública, Oswaldo Cruz rejeitou as práticas vigentes e apostou na teoria de um especialista cubano: os mosquitos são os verdadeiros transmissores e devem ser exterminados. Além disso, passou a escrever a coluna Conselhos ao Povo nos jornais e a distribuir folhetos educativos sobre a doença. Depois foi à caça de ratos para combater a peste bubônica. Chegou a instituir funcionários públicos para comprar os pequenos roedores capturados pela cidade – e é claro que alguns espertinhos logo trataram de criar seus próprios ratos para vender ao governo. Era chamado de “czar dos mosquitos”, entre outras ironias, e contava com poucos recursos. Tornar obrigatória a vaci-

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capital federal. Perdeu batalhas. Mas ganhou a guerra. na contra varíola foi a gota d’água. Ninguém queria “perder o direito à liberdade”, “ser espetado à força”, “receber um líquido desconhecido nas veias”. Insuflada, a população saiu às ruas, virou bondes, quebrou lampiões. Era a Revolta da Vacina, uma das mais marcantes revoltas populares do Brasil, ocorrida em 1904. O médico sanitarista certamente se sentiu injustiçado. Ele que, apesar de terríveis náuseas, tinha ido de navio a 30 portos do País estudar as doenças que chegavam pelo mar ou pelos rios. Mas as insatisfações refletiam a situação geral da cidade. O presidente Rodrigues Alves promovia uma reforma apelidada de “botaabaixo”. Para fazer da capital uma metrópole moderna, brigadas do governo destruíam cortiços e bairros pobres sem preocupação alguma com o futuro dos despejados, que iam ajeitando-se pelos morros. A oposição política e a Escola Militar, interessadas num golpe, engrossaram a massa desconexa de revoltosos. O governo controlou a rebelião, mas teve que revogar a lei da imunização. Apesar dis-


Ninguém queria ser espetado à força, nem receber um líquido desconhecido nas veias. Insuflada, a população do Rio saiu às ruas, virou bondes, quebrou lampiões. so, o Diretor Geral da Saúde foi mantido no cargo. Chegaria o dia em que receberia os devidos créditos por seu trabalho.

Início de carreira

Oswaldo Cruz sempre foi interessado e entusiasta de novas técnicas. Quando nasceu, em 5 de agosto de 1872, o pai Bento era um jovem médico em começo de carreira. Aos 14 anos, o filho ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tornou-se doutor aos 20, no mesmo dia em que Bento morreu. Dedicou a ele a tese sobre microrganismos aquáticos. Depois pôde conhecer mais sobre microbiologia com incentivo do sogro, que financiou uma estada em Paris. Encantou-se com os laboratórios do Instituto Pasteur e estagiou numa fábrica de ampolas, provetas e pipetas para produzi-las no Brasil. Entretanto, outra técnica de Pasteur foi essencial para a sua volta em 1899. A peste bubônica havia chegado ao porto de Santos com as pulgas dos ratos de um navio estrangeiro. O governo federal criou o Instituto Soroterápico e, com Oswaldo Cruz na direção técnica, o País passou a produzir um soro que até então era exclusividade da França.

Templo da ciência

Em 1903 foi nomeado para a cadeira correspondente ao atual Ministério da Saúde, mas não deixou a direção do Instituto. Lá formou uma bela equipe, trabalhou com outros sanitaristas à frente de seu tempo, como Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Vital Brasil. Uns haviam diagnosticado a peste em Santos; outros, se submetido ao Aedis aegypti para provar que era ele que transmitia a febre amarela. Ainda hoje, com nome de Fundação Oswaldo Cruz, ou Fiocruz, a instituição é um templo da ciência e tecnologia da saúde. O primeiro diretor fez das precárias instalações de Manguinhos um castelo. Ele mesmo desenhou o esboço do prédio mourisco, que podia ser visto pelos navios que passavam pela cidade.

Em 1908, enquanto uma marchinha de Carnaval declarava o Rio “cidade maravilhosa”, o Instituto Soroterápico virava Instituto Oswaldo Cruz. Sinal de novos tempos. A febre amarela e a peste bubônica estavam praticamente erradicadas. Um ano antes o Brasil fora o único participante sul-americano do Congresso de Higiene e Demografia de Berlim. A delegação apresentou os estudos da equipe de Oswaldo Cruz e voltou aplaudida no porto, com medalha de ouro.

Saúde nos grotões

Oswaldo Cruz já era visto como herói, mas tinha dificuldades em aprovar seus projetos na diretoria da Saúde, como o combate à tuberculose, doença que matava apenas os pobres. Optou por dirigir só o instituto que levava seu nome. Foi à “ferrovia do diabo”, a Madeira-Mamoré, na qual os trabalhadores morriam infectados por malária. Supervisionou inúmeras expedições para lugares afastados dos centros: Tocantins, Ceará, bacia do Amazonas, do São Francisco. Nascia o Movimento Sanitarista, defendendo o saneamento nos grotões do País. Um dos líderes, Monteiro Lobato, até refez a imagem de Jeca Tatu. Ele não era preguiçoso. Estava doente. Oswaldo Cruz também não andava bem da saúde. Sofria de nefrite, a mesma doença que matou o pai. Já tinha até escolhido o local de seu jazigo. Teve tempo ainda de ser prefeito de Petrópolis e traçar um plano de erradicação da saúva antes de morrer, em 1917, aos 44 anos. Se quase um século depois é comum que o brasileiro previna-se de doenças com uma injeção, um dia a ideia pareceu absurda. Oswaldo Cruz perdeu batalhas, mas ganhou a guerra. SAIBA MAIS Oswaldo Cruz, de Humberto Werneck (Fundação Oswaldo Cruz, 2003). Site do Projeto Memória dedicado a Oswaldo Cruz: www.projetomemoria.art.br/oswaldocruz No site do Almanaque, confira o filme Oswaldo Cruz – O médico do Brasil (2003), de Silvio Tendler.

O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO

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Texto: Bruno Hoffmann Arte: Guilherme Resende

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Não adianta tentar escapar. Mesmo os mais céticos são um pouco supersticiosos. “Evitar superstição já é outra superstição”, dizia o filósofo inglês Francis Bacon. A máxima vale ainda mais em terras brasileiras. A mistura de lendas indígenas, europeias e africanas criou vasto cardápio de crenças e mandingas. oa parte de nossas crendices está ligada a religiões populares do Brasil, como catolicismo, umbanda e candomblé – e, em muitos casos, a uma mistura das três. A superstição baseia-se na fé ou no medo. Se tal ritual não for cumprido, “coisas más hão de acontecer”. E que ninguém ouse desafiar as forças ocultas. Mesmo os “doutores” não a deixam de lado. “Joaquim Nabuco não era supersticioso. Mas não passava por debaixo de uma escada. Nem o Barão do Rio Branco. Nem João Pessoa, presidente da Paraíba, ministro do Supremo Tribunal Militar”, narra o escritor Afonso Lopes de Almeida. De cidadezinhas a grandes metrópoles, o povo não esquece dos rituais que trazem sorte. Há quem corta o bolo de aniversário de baixo pra cima (pra subir na vida). Quem não oferece a primeira bolacha do pacote (pra não perder o namorado). Quem bate na madeira (pra evitar que algo dito

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aconteça). Quem se apavora ao cruzar com um gato preto, e quem não esquece o amuleto da sorte. O folclorista Câmara Cascudo explica: “As superstições participam da própria essência intelectual humana. Não há momento na história do mundo sem a sua inevitável presença”. Mas, claro, há os mais exagerados, que incorporam o hábito para toda a vida. O dicionário Houaiss não dá uma definição muito simpática para o termo. Superstição: crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas; crendice, misticismo. Pelo sim, pelo não, o povo continua com suas crendices e misticismos. Afinal, como reza a sabedoria popular: se bem não faz, mal não há de fazer.


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A MAIS POPULAR DO BR FITINHA

SIL

inha nega / vai ao Bonfim, m em Qu a: sin en i ta sorte tem / Dorival Caymm ta sorte teve / Mui ui M / r lta vo er o? / Então vá. Nunca mais qu Bahia, nega? / Nã à i fo já cê Vo / do Senhor do Muita sorte terá prar uma fitinha m co se a nd ai e Terá mais sort pulares do País. amuletos mais po s do um , m nfi Bo 10 centavos. ada: não passa de ar m a ca é o eç pr O brasileiro, é usad etismo religioso cr sin á, do al lo Ox e bo m m Sí do Bonfi s Cristo, Senhor su ou ao tornozelo Je r lso ta pu al ex ao ra -la pa rá ar am iso ec sim que a orixás. É pr será atendido as e o pai de todos os qu , do di pe um dão, agora ra cada nó, cia. Antes de algo ên com três nós. Pa ci pa a nh te as um ano ralmente. M demorar mais de m fitinha cair natu de Po o. tic té material sin elas são feitas de . er nd para se despre

“Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado.”

Querendo casar? Coloque uma imagem de santo Antônio de ponta-cabeça dentro de um recipiente cheio de água. E só desafogue o santinho depois que ele lhe arrumar um par.

Neném Prancha, técnico de futebol

Revólver descarregado e praga de meio-dia Meio-dia é um horário temido para muitos. “É uma das horas abertas em que o Diabo se solta, os doentes pioram, os feitiços ganham poderio nas encruzilhadas desertas”, explica Câmara Cascudo. Ele ainda sugere que não se pragueje, cante alto, assobie e tampouco abra os braços quando os ponteiros do relógio marcarem meio-dia. O folclorista ainda lembra da frase de um professor: “Só temo neste mundo a revólver descarregado e praga ao meio-dia!”.

E que tudo mais vá pro paraíso A vida de Roberto Carlos é cercada de manias e superstições. O cantor evita a cor marrom, passa longe do número 13 e adora se vestir de azul. Nunca usou a expressão “fita demo”, aquelas fitinhas cassete para demonstrar o trabalho. Prefere “fita amo”. Durante anos se recusou a tocar um dos principais sucessos do início da carreira, Quero que Vá Tudo pro Inferno, por causa da palavrinha diabólica. Certa vez, numa coletiva de imprensa, o organizador colocou a canção para tocar. Na hora do refrão, em vez de entrar a palavra da discórdia, surgiu a voz de Cid Moreira recitando um salmo da Bíblia.

Da Europa veio a crença de que gato preto dá azar. Saiba o que falam sobre o pobre bichano: O patuá é um amulet Transmite asma e coqueluche. Só curáveis ao comer a carne do gato assada. Não ama seus donos, mas sim a casa em que vive. Por isso, ao se mudar, é preciso levar o gato dentro de um saco para que não saiba aonde está indo. Também é preciso passar azeite no focinho do bichano, para que perca o faro e não encontre o caminho de volta. O diabo constantemente toma a forma de um gato preto. Se pisar no rabo de um gato, o sujeito não se casará durante um ano.

o fe com a cor e o nome ito de determinado orixá. Pode conter conchas,. ou ervaso. s a g n a ç i m roteçã p r e t b ara o Serve p Agosto 2009

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relha o a r i t n Se se ardendo, alguém está faland o mal de vo Imediata cê. mente de v e-se m cola

rinho da order o camisa. O morderá fofoqueir a própria o língua.

Lampião se deu mal em Mossoró

Em 1927, um comparsa de Lampião sugeriu atacar Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ideia rechaçada pelo capitão. Primeiro por ser devoto de santa Luzia, a padroeira do município. E depois por não gostar de atacar cidades que tivessem quatro igrejas – ou “quatro torres”, como dizia. Mas, de tanto insistir, acabou aceitando o ataque, sob a justificativa de que o povo da cidade era pacato, até covarde. Resultado: o capitão sofreu uma vexatória derrota no embate com os mossoroenses. 22

Entrar na casa de Santos Dumont? Só com o pé direito Quer saber mais uma invenção de Santos Dumont? Na casa que construiu, em Petrópolis, a escada de acesso tinha apenas um pedaço de madeira do lado direito – o equivalente a meio degrau. Ou seja: o visitante era obrigado a começar a visita com o pé direito. A casa existe até hoje, e se tornou um museu em memória do supersticioso pai da aviação.

asta f a a d

Arru

maus espíritos,

doenças e outras enf ermidade s.

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nuário O sapo de São Ja

Em 1937, estava marcado um jogo entre Vasco da Gama e Andaraí. Mas a delegação vascaína se atrasou devido a um acidente de trânsito. O árbitro já cogitava encerrar a partida e proclamar o Andaraí vencedor. Mas os jogadores, compreensivos, pediram para esperar um pouco mais. Mesmo sob uma chuva torrencial. Os vascaínos chegaram e fizeram pouco caso do fair play: meteram impiedosos 12 a 0. O ponta-esquerda Arubinha resolveu se vingar. Afirmou que havia enterrado um sapo no campo do Vasco e rogado uma praga: “Se houver um Deus no céu, o Vasco da Gama há de ficar 12 anos sem ganhar”. Um ano por gol sofrido naquela tarde chuvosa. E, de fato, o Vasco passou a não ganhar nada. Até que um dia um dirigente do clube chamou Arubinha para conversar. “Vamos esquecer aquela história. A partir de agora você trabalhará aqui no clube, com um ordenado bom. Mas me diga uma coisa: onde está o sapo?” Arubinha confessou que não havia sapo algum, e prometeu retirar a praga. Oito anos depois do massacre do Andaraí, o Vasco se tornou campeão invicto.

, amazônica m e ig r o e D o muiraquitã simboliza a felicidade no ca samento. O amulet o era ofer pelas ecido í aos h ndias icam iabas que omens visit avam a trib o.

A figa surgiu na Roma antiga e m culto à fertilid ade.

O polegar entr e o indicador e o dedo méd simboliza o at io o sexual. Tem pos depois passou a ser u sada para afas tar maus-olh e feitiços. Se ados perder uma fi ga, não se preo em procurá-l cupe a. Toda a carg a negativa qu recairia sobre e você foi embo ra com ela.


Azar ou sorte?

É notório que o número 13 dá azar, certo? Menos para o técnico Zagallo, que vê o 13 em tudo – e sempre como um sinal de bom presságio. Após vencer a Copa América de 2004 contra a Argentina, o Velho Lobo disparou a pérola: “‘Argentina vice’ tem 13 letras!”. “‘Brasil sem hexa’ também”, lembrou um argentino maldoso, dois anos depois.

Passa ra um há virada do an bito in spirad o de branco de orige é o em r m africa na. Simb eligiões ol pureza e paiza z. Mas muita gente não esquece e amarelo de um detalh rair dinheiro. para at

Além das bruxas Para afastar visitas indesejáveis, recomenda-se colocar uma vassoura de ponta-cabeça atrás da porta. Não se deve deixar crianças brincarem de montar nelas, sob pena de tornarem-se infelizes. Varrer à noite afasta a tranquilidade da casa. Quando a vassoura ficar velha, deve-se queimá-la em vez de jogar fora. É para manter a felicidade do lar.

A cibernética (e assustadora) menina Samara As correntes de internet já se tornaram uma praga dos nossos tempos. E existe de todos os tipos: para encontrar o amor, se tornar rico, achar um bom emprego. Basta que o internauta repasse a mensagem para determinado número de e-mails. Uma das correntes mais assustadoras – ou cômica – é a da menina Samara: Oi, meu nome é Samara, tenho 14 anos (teria se estivesse viva), morri aos 13 em Cascavel-PR [...] Envie isso para 20 amigos e minha alma estará sendo salva por você e pelos outros 20 que receberão. Caso não repasse essa mensagem vou visitar-lhe hoje à noite. Não quebre essa corrente por favor, a não ser que queira sentir a minha presença. Pelo sim, pelo não, Samara tornou-se uma celebridade da internet.

es s embarcaçõ a d te r a p a o B ncisco traz a do rio São Fra imagem de uma assustadora carranca na proa. Os ribeirinhos acreditam que a imagem ajuda a espantar os seres misteriosos que vivem nas águas do rio.

Que a seleçã o brasileira se cuide

Uma feiticeira local diz ter a re ceita para fazer a se leção da África do Sul vencer a Copa de 2010. “Basta eu pass ar sangue de co elho nos jogadores antes das partid as.”

Sal: confiança ou traição?

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Tanto na Europa quanto no Brasil, o sal é um símbolo da amizade. “Não te deves fiar senão daquele com quem já comeste um moio de sal”, relembra o folclorista Pedro Chaves. Agora derramar o sal é um símbolo do repúdio e da traição. Não à toa, Leonardo da Vinci retratou a Santa Ceia com o saleiro caído diante de Judas. Também era hábito cobrir de sal o chão da propriedade dos condenados. Foi o que aconteceu com Tiradentes antes do enforcamento. Para que nada mais cresça, impõem os detratores.

o prato

deve ser o c r o p e Carne d incipal do réveillon.

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Como o animal fuça pra frente, garante prosperida de o ano tod o. Já o per u deve s Ele cisca er evita do. pra trás .

(Global, 20 01) . s da Câmara Cascudo tição no Brasil, de Luí ers Sup is Ma iba Sa ns do Globo Repórter E, assista a report age No site do AL MA NAQU sobre supers tições.

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Fausto só pensa em si para criar seu melhor disco

Afrosambajazz

Os instrumentistas cariocas Mario Adnet (violão) e Philippe Baden Powell (piano) recriam as músicas do histórico elepê Afro-Sambas, de Baden e Vinicius.

Milongaço O cearense Fausto Nilo tornou-se famoso pela voz dos outros. É o compositor de sucessos como Bloco do Prazer, Pedras que Cantam e Mil e Uma Noites de Amor. Mas sempre relutou em gravar o próprio disco, em mostrar o artista por trás das composições. Só encarou um estúdio pela primeira vez em 1997. Parece que gostou da coisa, e chega ao quarto disco, que leva o seu nome. O processo de criação começou ao revirar fitas cassetes com melodias enviadas por parceiros durante décadas. Havia mais de

400. E o melhor: poderia compor pensando somente em si, sem se preocupar com quem iria cantar, fato incomum na carreira. Como resultado, um disco bem-arranjado, com ritmos calmos e envolventes. Destacam-se as letras. São primorosas. O mesmo se pode dizer dos parceiros. De João Donato a Dominguinhos; de Moraes Moreira a Zeca Baleiro; de Zé Renato a Ivan Lins. Todos cooperam para a criação do melhor álbum de Fausto Nilo. Palavras nossas. E dele próprio. (BH)

O violonista gaúcho Maurício Marques busca as raízes da música sulista, como a milonga, o chamamé e a vaneira. Sem dei ar de temperar com o samba e o maxixe.

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Mustang Bar

A cantora Stela Campos se inspirou nos ambientes boêmios do Recife para criar o disco. O lançamento mistura rock, indie e boas influências de pop francês.

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O cotidiano e as artes segundo Manuel Bandeira Nem todos sabem que Manuel Bandeira, além de poeta, foi respeitado cronista na primeira metade do século 20. O autor de Vou-me Embora pra Pasárgada chegou até a reunir esses textos em livro, Crônicas da Província do Brasil, em 1937. Agora a Cosac Naify termina de publicar o conjunto da obra que estava espalhada em jornais e revistas da época. Crônicas Inéditas 2 tem o conteúdo escrito entre 1932 e 1944 e vem completar o primeiro volume, do ano passado, que resgata artigos criados a partir de 1920. “Meus amigos, meus inimigos”, começa o escritor em um artigo de A Tarde. E segue www.almanaquebrasil.com.br

com notícias do pintor Cícero Dias em Portugal. Em outras ocasiões, tece elogios a Lasar Segall, a Portinari. Comenta a poesia contemporânea. Reclama do Salão de Belas Artes, evento anual: “Não entendo nada de artes plásticas. Nem quero entender”. Achava que o Modernismo começava a ficar monótono. Bandeira também fala da estreia do cinema falado, do concurso de miss, da modernização do Rio. Com textos em linguagem direta, as crônicas remontam o cotidiano da época e, principalmente, o ambiente artístico. (NP) Cosac Naify, 480 p., R$ 69

Revolução Constitucionalista de 1932 em quadrinhos

Maurício Pestana O desenhista faz uma adaptação da história para o público infanto-juvenil. Imprensa Oficial (SP), 32 p., R$ 12

Nóis... qui invertemo as coisa Luciano Pires

Os pequenos textos são o grito do escritor contra o “emburrecimento” do País. Café Brasil e Anadarco, 284 p., R$ 38

Maria Martins – Escultora dos Trópicos Graça Ramos

Uma reunião de obras da surrealista brasileira que conviveu com artistas como Duchamp. Artviva, 286 p., R$ 149



O Calculista das Arábias

ligue os pontos

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

a O aeroporto da cidade que construiu para ser capital da República leva seu nome. Pousou ali pela primeira vez em 1957.

Um mercador do Cairo teve a sorte de o sábio Beremiz

b A menos de 100 quilômetros do local em que

recorrer ao geômetra. Experiente e ágil, apesar de confuso

liderou o principal quilombo brasileiro, ergueu-se um aeroporto que o homenageia.

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c A chegada ao aeroporto que leva seu nome serviu de inspiração para uma de suas obras mais conhecidas. Mas não gostava de voar.

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Samir passar pelo merc ado no momento em que precisou com a situação, o mercador dispunha de oito pérolas iguais na forma, no tamanho e na cor. Dessas oito pérolas,

acervo da família

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lhe garantiram que sete tinham o mesmo peso. A oitava, entretanto, era um pouquinho mais leve que as demais. Ele precisava descobrir e apontar, com toda a segurança, a pérola mais leve. Para isso usaria uma balança com dois

d Quando aviões passaram a pousar no aeroporto

longos braços e pratos bem leves. Sensível e exata. Porém, poderia efetuar somente duas

que hoje leva seu nome, já tinha criado sua obra mais lembrada, lançada três anos antes.

pesagens. Qual a solução simples que deu Beremiz para o problema do aflito comerciante? Adaptado de O Homem que Calculava (Record, 2001).

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

Rua onde Carlos Lacerda sofreu um atentado, em 5/8/1954: (a) 9 de Julho (b) 7 de Setembro (c) Fazendeiros (d) Toneleros O “e” da sigla FEB, criada em 9/8/1943, significa: (a) Especial (b) Excepcional (c) Expedicionária (d) Exército Tieta do Agreste é lançado em 17/8/1977 por: (a) Jorge Amado (b) Graciliano Ramos (c) Glauber Rocha (d) Glória Perez Em 7/8/1999 Acelino Freitas foi campeão mundial de: (a) Tênis (b) Boxe (c) Natação (d) Xadrez Em 24/8/1970, o Brasil firmou acordo para construir Itaipu com: (a) Estados Unidos (b) Uruguai (c) Paraguai (d) Argentina Ritchie ganhou o Globo de Ouro em 3/8/1983 com o hit: (a) Odara (b) Menina Veneno (c) Só Você (d) Não se Reprima

Respostas Rodrigo Santoro folha imagem

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Beremiz sugeriu que se dividissem as pérolas em três grupos: A, B e C. Os dois primeiros, com três pérolas; o terceiro, com duas. E que assim se efetuassem as pesagens. Primeiro, A de um lado; B do outro. Se o peso fosse o mesmo, usar a segunda pesagem apenas com o grupo C – uma pérola em cada prato. Se A e B fossem diferentes, pesar duas pérolas do grupo mais leve. Se a balança pender para um dos lados, se conhecerá a resposta. Se pesarem igual, a terceira será a mais leve.

O presidente Médici anunciou, em 18/8/1973, o seu sucessor: (a) Geisel (b) Figueiredo (c) Tancredo (d) Sarney

valiação

BRASILIÔMETRO 1c; 2d; 3c; 4a; 5b; 6c; 7b; 8a. SE LIGA NA HISTÓRIA 1b (Zumbi, al); 2c (Tom Jobim, rj); 3a (JK, df); 4d (Drummond, mg). ENIGMA FIGURADO Maguila. O QUE É O QUE É? Goiabada Cascão. CARTA ENIGMÁTICA Para a alegria de seu pai, estudou Direito, mas abandonou o curso para ser ator. Seu pai nunca o viu atuar. (Raul Cortez)

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

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Gonçalves Dias, nascido em 10/8/1823, escreveu: (a) Poesia das Palmeiras (b) Canto do Sabiá (c) Canção do Exílio (d) Minha Terra

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O pai da Mônica, do Cebolinha, do Cascão, do Bidu...

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á exatos 50 anos, um repórter policial conseguiu publicar uma tirinha num jornal de São Paulo. Estava atrás do sonho de ser desenhista, que cultivava desde a infância, em Mogi das Cruzes. O desenho apresentava um cachorro estranho e seu dono, que mais tarde receberiam o nome de Bidu e Franjinha. Assim começou a carreira de Mauricio de Sousa, o mais popular autor de quadrinhos do Brasil. No começo eram apenas tiras, quase todas do Bidu, publicadas em jornais paulistas. Mas o rapaz queria ir além. Lembrou de um amiguinho de Mogi que trocava o “r” pelo “l”, e surgiu o Cebolinha. Depois, do menino que odiava tomar banho: Cascão. Mauricio tinha uma filha, Mônica, que era muito amoro-

sa, mas meio esquentada. E assim nasceu a sua personagem mais famosa. Logo depois, outra filha, comilona, também saltou da vida real para o papel, a Magali. E nasceram novos personagens: Rolo, Penadinho, Chico Bento, Astronauta, Piteco. O primeiro gibi da Mônica só apareceu em 1970. E lá tinha espaço para toda a molecada aproveitar a infância com tudo que ela tem de bom. A turminha passou para filmes, desenhos animados, parques temáticos. As histórias foram traduzidas para 50 idiomas. Até adolescentes eles já se tornaram. E Mauricio, 50 anos depois e com a mesma empolgação, promete novidades. O que será que vem por aí?

JÁ PENSOU NISSO?

O preferido Sabe qual é o personagem preferido do Mauricio? Mônica? Cebolinha? Cascão? Chico Bento? Nada disso, o título é do Horácio, o pequeno e meigo dinossauro verde. Ele gosta tanto do filhote de tyrannossaurus rex que faz questão de bolar as histórias e desenhá-las de próprio punho – e olha que seu estúdio tem dezenas de profissionais. Mauricio usa o personagem para refletir sobre as questões da humanidade e revelar as suas aflições.

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Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do Almanaque. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você.

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Juntos, os gibis publicados por Mauricio de Sousa pesam o mesmo que 280 baleias azuis, o animal mais gordo do mundo. Duvida? Pois saiba que Mauricio distribuiu cerca de um bilhão de revistas para pequenos e grandalhões ao redor do mundo. Cada revistinha pesa, em média, 45 gramas. Se todas estivessem reunidas, chegariam a 45 mil toneladas. E a baleia tem “apenas” 160 toneladas. E mais: essa papelada toda pesaria 40 vezes mais do que o Cristo Redentor e o mesmo que toda a população de Florianópolis (cerca de 600 mil pessoas). E nem adianta o Cebolinha falar que a culpa desse peso todo é só da “golducha da Mônica”. Afinal, a turminha toda está lá dentro.

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BANANAL

Vassuncê, pharmacia e crochê A gangorra do tempo é que faz a graça de Bananal. Lá o tempo é assim: o passado se misturando ao presente; uma história indo, outra vindo; um ciclo se encerrando noutro que começa. Do ouro ao café ao turismo. Das glórias ao marasmo. Da decadência à renovação.

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brigada num sobe e desce de montanhas na Serra da Bocaina, entre São Paulo e Rio, Bananal nasceu como pouso dos tropeiros que carregavam no lombo das mulas o ouro das Minas Gerais até o porto de Paraty. Quando esgotou o ouro, começou o café. No coração da cidade, ao lado do coreto, murmura a antiga fonte de cobre vinda da França. Emana tal quietude que é fácil voltar décadas em segundos. Quase dá para ver o comendador, na fachada do imponente palacete com 13 portas, conferindo seu escravo a lustrar o brasão. Hoje a nobre morada abriga o melancólico Hotel Brasil. Do outro lado da praça está o sobrado de dona Laurinha Sciotta,

www.almanaquebrasil.com.br

construído em 1811. A janela em muxarabiê se destaca – em janelas assim, moças casadoiras podiam espiar meio às escondidas os jovens pretendentes. As ruas vizinhas possuem nomes de eminentes moradores, mas todo mundo só as chama pela alcunha: beco dos Velhacos, porque os fregueses viviam dando calote nos comerciantes; rua do Cantagalo, famosa pelo poderoso galicínio; da Fresca, com deliciosa brisa; Arranca Barba, onde se efetuavam negócios avalizados com fio do bigode – um dia, porém, um senhor não conseguiu honrar o compromisso e o credor, amarrando o coitado em uma cadeira, arrancou um a um os fios de sua barba.


Na página anterior, a fazenda Resgate; acima e ao lado, a mais antiga farmácia do país.

Berço do café Em Bananal quase dá para sentir o perfume de jasmim que exalava dos frufrus das sinhazinhas com chapéu francês a lhes proteger a pele delicada. Ao longe se pode ouvir o refrão ritmado da escrava vendendo o excedente das frutas do pomar das fazendas, transformado em doce de goiaba ou laranja. Em seu português trôpego, ela reduziu Vossa Mercê em vosmecê, ou vassuncê. O estalar dos cascos dos cavalos puxando tílburis e caleças ainda ecoa no calçamento de pedra lavrada à talhadeira pelos escravos. Em pouco tempo, a cidade conhecida como “berço do café” tornou-se a mais rica do Império, com oito mil escravos e moeda própria aceita até na praça do Rio de Janeiro. Havia cursos noturnos e gratuitos de inglês, francês e música, três semanários, dois hotéis, duas charutarias e botica à altura da respeitosa clientela, a “apalacetada” Pharmacia Imperial. Após a proclamação da República, achou-se de bom tom mudar o nome para Pharmacia Popular. Considerada a mais antiga em funcionamento no País – do tempo do “ph”–, exibe balcões em pinho-de-riga, ânforas em cristal belga, sais e poções em crisóis de porcelana. Para servir de cenário na novela Dona Flor, a fachada ganhou um doce tom rosa que o proprietário resolveu manter.

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Preste atenção

A elegantíssima Estação de Ferro de Bananal, importada em 1889 pelos fazendeiros para escoar a produção de café, é única na América Latina. Pré-fabricada na Bélgica, foi construída com duas mil placas de aço e chapas almofadadas.

Agosto 2009


Bananal tem mais

Paisagens e cenários As centenárias fazendas de café da região contam histórias. Uma delas diz que a viúva Maria Joaquina, herdeira da Boa Vista, era uma mulher miúda, submissa e analfabeta, como muitas daquele tempo. Com a morte do marido, não arreou bandeira. Tomou sozinha as rédeas dos negócios e em pouco tempo triplicou a fortuna. Certa vez, hospedou o duque de Caxias e todo o seu exército a caminho da vizinha cidade de Silveiras para conter uma rebelião. Em tempos mais amenos, um dos cômodos da sede foi o quarto de Débora Falabella na refilmagem de Sinhá Moça. A fazenda foi ainda cenário da novela Cabocla e do filme O Coronel e o Lobisomem. Já na fazenda Resgate, o barão, talvez feito do mesmo material pétreo dos porões e muros da casa, mandou emparedar vivo o capataz que ousou apaixonar-se por sua filha. As paredes e portas são decoradas com mimosas pinturas de pássaros e frutas brasileiras do artista catalão José Villaronga. Móveis ingleses, mesa que daria para Cristo e seus 12 apóstolos, louça francesa e antigas formas de cobre retratam os tempos áureos. Alguns quartos são alcovas sem janelas, para que a mocinha não fugisse. Quando a terra se esgotou, no final do século 19, os fazendeiros foram à ruína, e a cidade ficou praticamente abandonada. Hoje Bananal abre as portas para um set novo – o do turismo. Os visitantes chegam ali para ver o que o tempo coloriu, assim como os sinais da passagem dos senhores e dos escravos, que deixaram heranças na cultura, na música, na gastronomia e na história.

Tortas da Lalau

Um doce aroma incensa os ares da praça Pedro Ramos: é o das tortas da Lalau, recheadas de chocolate bem escuro ou, as mais azedinhas, de maracujá ou limão.

Trilha do Ouro Em uma trilha que pode ser percorrida durante três dias, encontram-se trechos da Estrada do Ariró, pavimentada com grandes pedras por escravos no século 18. No lombo das mulas, que andavam em grupos de até 200 cabeças, circulavam ouro, café e, na volta do porto de Paraty, artigos importados para deleite dos abastados fazendeiros.

Crochê em barbante A arte de tecer tapetes e almofadas em crochê de barbante cru começou com Laura Sciotta, conhecida como Tia Laurinha. Hoje com 98 anos, ela ensinou o ofício a diversas jovens e até marmanjos. E assim Bananal tornou-se “a capital do crochê em barbante”.

Não deixe de se assombrar Elisabeth Brun, atual proprietária da fazenda Coqueiros, datada de 1855, conta uma história de arrepiar: certa vez, ela recebeu um grupo de estudantes que tiraram fotos junto ao fogão a lenha, de onde saem saborosos bolos de fubá. Na revelação de uma delas, apareceu a imagem de um preto velho com trajes esfarrapados de escravo. Ô-ôôô! Nem é preciso esperar por assombrações, dá para se espantar só com a visão da senzala onde os escravos dormiam amontoados: porão úmido, chão de terra batida, objetos de tortura e teto tão baixo que só é possível andar agachado.

s e rviç o Como chegar A TAM oferece voos diários para o Rio de Janeiro, saindo das

Hotel Fazenda Três Barras Em viagem a São Paulo, onde proclamaria a

Onde ficar

independência do Brasil, dom Pedro I foi hóspede desta fazenda. www.hotelfazendatresbarras.com.br

duque de Caxias e foi cenário de filmes e novelas. www.hotelfazboavista.com.br

Casarão Andrade Especializado em picanha na chapa. Tel.: (12) 9102-9337. Restaurante Bananal Comida caseira e pizzas. Tel.: (12) 3116-5470.

principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br.

Hotel Fazenda Boa Vista A mais antiga fazenda da cidade, que hospedou

Onde comer



SOJA Glycine max

Pequena maravilha Alimento dos mais completos e versáteis. Fonte barata de proteína, pode contribuir decisivamente para solucionar o problema da fome no mundo. Orientais a consomem há milênios, mas os maiores produtores somos dois ocidentais: Estados Unidos e Brasil.

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m fato despertou a curiosidade dos americanos na Segunda Guerra: a impressionante resistência física dos soldados japoneses. O que será que eles comem? – se perguntaram os filhos de Tio Sam. Descobriram que aquela resistência se devia à soja, presente de alguma forma em todas as refeições dos filhos do Sol Nascente. Japonês até hoje figura entre os maiores consumidores da leguminosa. Aliás, que povo longevo – média de 85 anos para a mulher e 78 para o homem. E os Estados Unidos, maiores produtores do planeta, parece que não captaram a mensagem lá da Segunda Guerra: consomem dez vezes menos soja do que o Japão. Nós tomamos o nome “soja” do japonês “shoyu”, mas quem a domesticou foram os chineses, faz uns cinco mil anos. Ela nasceu em berço nobre, no berço da civilização chinesa, o vale do Rio Amarelo. Diferente da soja atual, de até um metro e meio de altura, era uma soja rasteira que vicejava entre juncos em terras baixas, perto de lagos e rios. Cientistas da antiga China cruzaram duas espécies desta soja selvagem, dando início à evolução da fabácea parente de outros feijões, da lentilha, da ervilha, do grão-de-bico. Doze séculos antes de Cristo, o cultivo deslanchou. E a soja, grão sagrado ao lado do arroz, do trigo e da cevada,

espalhou-se: Coreia, Japão, sudeste asiático. Os europeus a conheceram no finalzinho do século 15, levada por navegadores. Mas, no ocidente, só no século 18 deixou de ser uma curiosidade exposta nos jardins botânicos de França, Inglaterra, Alemanha. Espantosa versatilidade. Um jornalista inglês que viveu na China, citado por Alfons Balbach em As Hortaliças na Medicina Doméstica, descreve bem: fermentada, produz os molhos que dão bom sabor aos alimentos; prensada, fornece o óleo de cozinha mais usado no mundo; ao germinar, é vegetal fresco rico em vitaminas; colhida verdinha na vagem, dá um delicioso prato; moída seca, vira farinha para o pão; moída úmida, vira leite sem colesterol nem a indigesta lactose; leite que, coalhado, dá um queijo, o tofu, gostoso de mil maneiras. A carne de soja, temperada como carne bovina moída, rende um saboroso hambúrguer. Nutricionistas chamam a soja de alimento funcional: além de nutrir, traz saúde, cura. O grão dourado é um grande aliado na luta contra a fome e as doenças que a fome provoca.


REPRODUÇÃO/AB

ão há provas conclusivas de que transgênicos não prejudiquem o ambiente e a saúde. “Também não há provas de que causem problemas”, diz o médico catarinense Rubens Zanella. A mestranda paulista Maria Julia C. S. da Silva acrescenta: “Temos um dos melhores modelos de aprovação de transgênicos do mundo, copiado por alguns países”. Só que europeus e orientais exigem soja convencional. Redes como Carrefour também a preferem – como fazem os americanos para consumo humano. Nós, por ora, vamos de soja “normal”. Antes atrás do toco que em cima do muro.

De lanterninha a vice-campeão mundial Depois da tentativa de um baiano atirado em 1882, e outra dos japoneses chegados a São Paulo em 1908, a soja deu certo em 1914, na gaúcha Santa Rosa. Gaúchos romperam fronteiras – a produção nacional decuplicou na década de 1970. A Embrapa criou a “soja brasileira”, a doko, e até no cerrado plantamos, inclusive no oeste da Bahia pioneira. Foi muito graças aos modernos bandeirantes dos pampas que o Mato Grosso virou nosso maior produtor; e o Brasil, o segundo do mundo. Só nos falta comer mais soja.

Poder verde A Iolanda Huzak

Reprodução/AB

Transgenia: que história é essa? N

pequena maravilha, alimento dos mais completos, é a única leguminosa que, na proporção certa, contém proteínas que nosso organismo não fabrica. E em teor de proteínas, um quilo de soja equivale a 60 ovos; dois quilos de qualquer outro feijão; 2,2 quilos de carne bovina; 10 litros de leite de vaca. E tem fibras; sais minerais; vitaminas B, importantes para o sistema nervoso e várias funções orgânicas, e a antioxidante E. O consumo de soja e derivados reduz o risco de doenças cardiovasculares; osteoporose, diabete, alzheimer, sintomas da menopausa; hipertensão; doenças renais; vários tipos de câncer. Pesquisa sobre incidência de câncer de próstata mostra, por milhão de habitantes, apenas 18 casos em chineses e 67 em japoneses, contra mais de 500 entre suíços e americanos, que comem pouca soja. Outras vantagens sobre carnes: digestão fácil; não contém toxinas geradas pelo abate do animal; reduz a taxa do mau colesterol. Não à toa o governo americano recomenda o consumo diário mínimo de 60 gramas de soja, o equivalente a três colheres de sopa.

Saiba maIS Comissão Técnica Nacional de Biossegurança: www.ctnbio.gov.br Soja – Nutrição e saúde, de Conceição Trucom (Alaúde, 2005). As Hortaliças na Medicina Doméstica, de Alfons Balbach (Edificação do Lar, 1976).

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Jogo sagrado O corintiano nunca tinha ido à missa. Ao chegar, o padre lê um trecho da Bíblia: – Acabamos de ouvir Coríntios 1, versículo 6. E o cara, lá de trás: – Pô, até na Bíblia o Corinthians está perdendo?!

Marido milionário As duas dondocas, andando no shopping: – Pois saiba que eu que fiz meu marido ser milionário! – Nossa, que máximo! E como ele era antes? – Bilionário...

Salário injusto

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O funcionário reclama com o patrão: – Puxa vida, acho que o meu salário não é equivalente ao que eu mereço ganhar. – Eu sei, Alvarenga, eu sei. Mas também não podemos deixar você morrer de fome, né?

Segredos O rapaz passa em frente ao chaveiro, vê a placa “Trocam-se segredos” e não resiste. Chega junto do atendente e cochicha: – Eu sou gay... Agora me conta o seu...

Causos de

Rolando Boldrin

O cumpadi e a preferência Era uma vez dois cumpadi. Um, muito rico, podre de rico; o outro, mísero roceiro, cheio de filhos pequenos. Sua esposa era magricela, como toda muié de roceiro pobre. Mas, apesar da diferente situação financeira, os dois cumpadi se amavam. Eram amigos pra valer. A única diferença estava naquilo que fala a verdade: o dinheiro. Eis que um fatídico dia o cumpadi pobre tem lá um ataque qualquer e cai fulminado... mortinho mesmo. No velório, estava lá a viúva, acompanhada de mais uns cinco bruguelos, todos chorosos. O cumpadi rico, aos prantos de clamor exagerado, dispara ali, pra todo mundo testemunhar: Cumpadi rico (para o defunto) – Cumpadi Zeca! Aqui, diante da sua muié e de todos os seus filhos, eu quero fazer um juramento. Daqui pra frente, onde meus filhos estudam, os seus vão estudar também. Vou preparar uma boa casa pra sua família morar. Vou mandar todos os meses, através de um capataz, carnes e alimentos gerais. Hei de respeitar sua memória, meu cumpadi. E ninguém há de proceder mal com a sua muié! Pois bem. Assim o cumpadi rico falou, assim cumpriu religiosamente. Ficou uns três anos sem ver aquela família. Lá um belo dia resolveu nosso cumpadi fazer uma visita à cumadi. Qual não foi a sua surpresa ao ser atendido por uma mulher recauchutada, linda que só vendo. Linda de fazer qualquer homem virar o dito juízo. Cumpadi rico (emocionado, oiando pra foto do falecido na parede) – Cumpadi! Quero aqui repetir a promessa que fiz: Hei de respeitar sua memória, meu cumpadi. E ninguém há de proceder mal com sua muié! Mas no dia em que ela resolver proceder mal, que eu tenha a preferência! Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).

ponto final

Entre amigos No bar de sempre, três amigos enchem a cara e começam a se soltar. Até que um propõe: – Que tal se cada um de nós contasse algo que nunca contou pra ninguém? Depois de alguma hesitação, o primeiro toma fôlego: – Tá bom. Vou falar: eu gosto mesmo é de apanhar de mulher... O segundo, sentindo-se encorajado: – E eu... Eu nunca gostei de mulher. Sou gay! E o terceiro, com tom de lamentação: – Já eu, meu Deus, nunca consegui guardar um segredo na vida...

Pescaria em família Pai e filho saem pra pescar. Duas horas depois volta o pai sozinho, com um peixe enorme. E a mulher: – Nossa, benhê! Que peixão! – Isso não é nada. Você devia ter visto o que engoliu o Carlinhos.




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