Almanaque Brasil 102 - Março de 2008

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Meus queridos amigos

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ubliquei meus primeiros desenhos no final dos anos 1960, mas foi na década seguinte que fiz da arte e do jornalismo as minhas profissões. Nas redações da Editora Abril, encontrei pessoas de grande talento e generosidade, com quem compartilhei sonhos, desilusões e, sobretudo, a indignação com a estupidez do regime militar instalado em 31 de março de 1964. São personagens que marcaram minha vida. Ubirajara Coutinho, Tárik de Souza, Paulinho Machado, Milton Rodrigues Alves, Consuelo de Castro, Paulo Patarra, Haroldo Rodrigues, Carolina Andrade, Maria Adelaide Amaral. Alguns já nos deixaram, outros ainda estão por aí. Reencontrá-los traz lembranças do tempo em que éramos todos aprendizes da esperança. A vida seguiu em frente e cada um tomou seu rumo. Em fevereiro, tive a oportunidade de encontrar alguns deles. Foi no lançamento de Queridos Amigos, minissérie da Globo que tem desenhos meus ilustrando a abertura. Mais do que questões políticas, como se vê no Papo-Cabeça com Maria Adelaide nesta edição, o essencial da série são as relações humanas que emergiram em um período tão difícil da vida de todos nós. O AI-5, em 1968, calou ainda mais a imprensa. Inconformados, muitos de nós tomamos a decisão mais difícil e perigosa: enfrentar o regime militar. Clandestinamente, com Carlos Azevedo e Iolanda Huzak, eu fazia o jornal Libertação, da Ação Popular, rodado em mimeógrafo no meu pequeno apartamento na rua Pio XI, em São Paulo. Em 1971, fiz a capa do Livro Negro da Ditadura Militar, uma caveira com um quepe, e por isso quase fui assassinado. Tive medo, sim. Muito medo. Mas nosso compromisso com o restabelecimento da democracia era prioridade. Mesmo quando já tinha filhos e temia não vê-los crescer, segui lutando. Participei do semanário Opinião, do jornal Movimento, da revista Argumento. Com as únicas armas que tenho, minhas mãos, fiz capas de discos e livros, cartazes e cenários para teatro e causas sociais. Hoje sei que aqueles foram os melhores anos da minha vida profissional. Cada novo trabalho realizado era uma vitória que, muitas vezes trôpegos de sono pelas noites não dormidas, celebrávamos com a alegria do dever cumprido. São lembranças de um tempo de sustos, porém bonito, porque nele havia solidariedade entre personagens como os da minissérie: Léo, Lena, Pedro, Tito, Ivan, Bia. Ou Bira, Tárik, Capitão Foguete, Miltão, Consuelo, Patarra, Peninha, Carolina, Maria Adelaide. Os meus queridos amigos.

A R M A Z É M DA M E M Ó R I A N AC I O N A L Elifas Andreato Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Danilo Ribeiro Gallucci, Nara Soares e Rafael Capanema Revisor Lucas Carrasco Assistentes de arte Guilherme Resende e Paula Chiuratto Assistente administrativa Eliana Freitas Impressão Gráfica Oceano Assessoria Jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Diretor editorial

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Cmte. David Barioni Neto Manoela Amaro Mugnaini Diretor de Assuntos Corporativos Marcelo Xavier de Mendonça Gerente de Comunicação Corporativa Anahi Guedes Presidente

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Elifas Andreato

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Todos nós somos muitos. Lya Luft, escritora

5 CARTA ENIGMÁTICA

19 ESPECIAL Dia Internacional da Mulher

6 VOCÊ SABIA?

23 JOGOS E BRINCADEIRAS

8 O BRASIL EM MARÇO

24 EM SE PLANTANDO, TUDO DÁ

32 MISTURA FINA Causos de Rolando Boldrin, Santos, Fases da Lua, Signo, Estação Colheita e Respostas

33 CANTOS E LETRAS por Mylton Severiano

Zé Luiz do Império Serrano / O Jardim de D. João

34 BOM HUMOR

12 ILUSTRES BRASILEIROS Lina Bo Bardi

26 VIVA O BRASIL

14 PAPO-CABEÇA PRA PENSAR Maria Adelaide Amaral

30 CULTURA É DE LEI

35 MEMÓRIA DA PROPAGANDA

18 ALMACRÔNICA por Lourenço Diaféria

31 QUE HISTÓRIA É ESSA? por Joel Rufino dos Santos

CAPA

Estação Antártica Comandante Ferraz

Ilustração de Elifas Andreato


ILUSTRAÇÕES PAULA CHIURATTO

SOLUÇÃO NA P. 32

Teve breve carreira política: em 1947, foi eleito deputado estadual em São Paulo. Na rádio Piratininga, atuou no humorístico Cadeira de Barbeiro. Entre diálogos do barbeiro com o cliente sobre a situação sociopolítica do momento, o engraxate interrompia: “Vai graxa, doutor?”. Trabalhou ainda nos programas Domingo Sem Bola e Zé da Bronca, da Rádio Nacional. Ficou famoso por comandar durante duas décadas uma atração de tevê que passou pelas emissoras Paulista, Record e Tupi. No programa, idealizado e escrito por ele a partir de 1957, atuava como “escada” de humoristas que foram revelados por lá, como Moacir Franco, Ronald Golias e Zilda Cardoso. Morreu em 17 de março de 1976, aos 62 anos. Filho e neto dão continuidade a seu legado no programa que é um dos mais longevos da nossa televisão. (RC)

Em 1910, a francesa Madame Paquin introduziu a moda da jupe-culotte na França. O traje consistia no uso de uma casaca por cima de uma camisa, acompanhada de gravata e chapéu. Realçando as curvas das damas, causou polêmica na Europa e acabou chegando ao Brasil. No Rio de Janeiro, em 11 de março de 1911, uma moça vestindo a última moda parisiense quase é espancada em plena rua. A foto ao lado mostra somente os primeiros olhares mais desconfiados. Daí até os gritos moralistas, não foram necessários mais do que alguns segundos. A (DG) moça foi agarrada, vaiada e quase perdeu as vestes em público.

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ão confunda nossa figura enigmática com o padre jesuíta do século 16. Este homônimo do religioso português nasceu a 1913, em Niterói. Casou-se em 1935 com Dalila Afonso Soares e lamentava que, mesmo tendo uma Dalila como esposa, fora vitimado pela calvície ainda em tenra idade. Na mesma época, começou a trabalhar no rádio, seguindo os passos do pai. Como os vencimentos não lhe garantiam o sustento, fazia bicos no comércio. Chegou a abrir negócio próprio: a empresa funcionava no porão de um prédio em reforma, onde um caixote fazia as vezes de mesa. Em 1961, vendeu sua parte da decadente companhia ao sócio. O parceiro era Silvio Santos; a firma, o Baú da Felicidade. Quando fundou a TVS, em 1975, o apresentador e empresário nomeou-o diretor superintendente da emissora.

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7/3/1724

7/3/1977 ESTRÉIA NA TV O SÍTIO DO PICAPAU AMARELO, DE LOBATO. UM DOS PERSONAGENS É VISCONDE DE SABUGOSA.

O VICE-REI VASCO DE MENESES, CONDE DE SABUGOSA, FUNDA A ACADEMIA BRASILEIRA DOS ESQUECIDOS.

Seu verdadeiro nome é Aryclenes Venâncio. Nasceu em Desemboque, Minas Gerais, em 29 de março de 1930. Chegou a São Paulo em um caminhão de mangas. No início da carreira, foi sonoplasta e ator de rádio. Atuou na primeira telenovela brasileira, Sua Vida Me Pertence. Passou pela Tupi e pela Globo, desempenhando papéis de grande popularidade. Participou de quase 30 filmes e 38 novelas. (DG) Confira o resultado na página 32.

SABEDORIA INDÍGENA

PRIMEIRO CORDÃO PAULISTA

Cacique derrotou bandeirantes

Verde da Camisa Verde não com canhão de madeira era o verde dos integralistas

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TRAÇADO DE MISSÃO JESUÍTICA.

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NO INÍCIO, BATUCADA COM TAMPINHA DE CERVEJA.

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rasil Colônia, século 17. De um lado a Espanha, de outro Portugal. O campo de batalha são o rio Uruguai e as fronteiras espanholas invadidas por bandeirantes paulistas. A única defesa da Espanha eram missões fundadas pelos jesuítas, que garantiam o território contra desbravadores como Raposo Tavares, que caçavam índios para apresamento e tentavam expulsar os jesuítas espanhóis das reduções na região do Rio Grande do Sul. Para reforçar a defesa, o rei da Espanha revogou uma lei que proibia os índios de usarem armas. Resultado: os jesuítas passaram a dar treinamento militar para um imbatível exército guarani de 4 mil homens. E foi um cacique guarani, o capitão-geral de Guerra e Justiça Maior Inácio Abiaru, que, em 11 de março de 1641, comandou o exército indígena na vitória sobre a bandeira de Jerônimo de Barros. A arma secreta do cacique na batalha, conhecida como Mbororé: (LC) canhões feitos de tronco de árvores, em vez de ferro fundido.

oze pessoas vestidas com camisas verdes, calças brancas e chapéus de palha, tocando pandeiros e chocalhos feitos com pedaços de madeira e tampinhas de garrafa de cerveja. Começou assim o Grupo Carnavalesco Barra Funda, primeiro cordão carnavalesco paulista. Fundado por Dionísio Barbosa em 12 de março de 1914, logo adotou o nome Camisa Verde. Cresceu aos poucos: ganhou um surdo no ano seguinte e, em 1920, já reunia 60 foliões. As atividades do cordão foram interrompidas em 1939 e retomadas em 1952. Por exigência das autoridades, o grupo teve que ser rebatizado como Camisa Verde e Branco – os integrantes poderiam ser confundidos com os integralistas, que usavam camisas da mesma cor. A partir de 1968, começaram a surgir as primeiras escolas de samba paulistas, inspiradas no modelo carioca. Assim como outros cordões, a Camisa Verde e Branco virou escola, hoje uma das mais tradicionais do Carnaval paulistano. (RC)

SAIBA MAIS Brasil Indígena: 500 anos de resistência, de Benedito Prezia e Eduardo Hoornaert (FTD, 2000).

SAIBA MAIS Escolas de Samba de São Paulo (capital), de Wilson Rodrigues de Moraes (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1978).

“A ÚNICA MOEDA VERDADEIRAMENTE BOA E PELA QUAL CONVÉM TROCAR TODAS AS RESTANTES É A SABEDORIA.”

Platão


TECNOLOGIA A GÁS

Águas de março apagam festa dos lampiões no Rio

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Dois anos depois, os cariocas são convidados a assistir ao início da operação dos lampiões a gás. Planos frustrados. As águas daquele março apagaram o projeto e suspenderam os festejos. Passado o temporal, em 25 de março de 1854 os primeiros 637 lampiões a gás iluminaram as ruas do centro da capital. A data homenageava os 30 anos da primeira Constituição brasileira. Três anos depois, a companhia do Barão de Mauá fornecia luz a toda a cidade (NS) do Rio de Janeiro.

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s escuras. Era assim que o Rio de Janeiro estava em meados do século 19. O sistema de iluminação pública da capital do Império era constituído por 925 candeeiros abastecidos com azeite de peixe. Só dava mesmo para garantir luz a algumas ruas e poucas igrejas. Mas a tecnologia estava a caminho do Novo Mundo. Em 1852, o Barão de Mauá inaugura no Rio a primeira fábrica de iluminação a gás de carvão mineral da América Latina. BARÃO DE MAUÁ

SAIBA MAIS A História do Gás – Do Rio de Janeiro para o Brasil, de Murilo Melo Filho (CEG, 2005).

TROPEÇOS NA MELODIA

Getz e Gilberto se estranharam em gravação de clássico da bossa

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Quanto mais aos sussurros João Gilberm fins de 1962, músicos brasileiros to queria cantar, mais Getz insistia em apresentam a bossa-nova no Carnesoprar como se tivesse foles gigantes no gie Hall, em Nova York. Dias depois, lugar de pulmões ou como se o microo produtor Creed Taylor, dono da gravadora fone fosse surdo, descreve o escritor Ruy Verve, acerta a gravação de um disco reuCastro. João Gilberto também acusou Getz nindo Tom Jobim, João Gilberto e o nortede reequalizar o disco para deixar seu saamericano Stan Getz, famoso saxofonista de xofone ainda mais evidente. jazz. No mesmo ano, Getz havia lançado Jazz Mais um acontecimento fora dos planos: AsSamba ao lado do guitarrista Charlie Byrd, trud Gilberto, esposa de João, queria cantar que lhe apresentara o ritmo brasileiro. Garota de Ipanema em inglês, dividindo a faiA gravação de Getz/Gilberto levou dois dias: xa com o marido, que cantaria em português. 18 e 19 de março de 1963, nos Estados DISCO FOI GRAVADO EM DOIS DIAS. A experiência deu tão certo que Taylor pediu Unidos. No disco com Byrd, o saxofonista para repetirem a fórmula em Corcovado. gravara Samba de uma Nota Só, tropeçando feio na melodia do reO disco ficou quase um ano na gaveta do dono da gravadora. A faifrão. João e Tom tocaram a canção para mostrar-lhe como deveria xa escolhida para antecipar seu lançamento foi Garota de Ipanema. ser, mas Getz continuava sem “pegá-la”. “Tom, diga a esse gringo Como a gravação era um tanto longa para tocar nas rádios, Taylor que ele é um burro”, disse João. “Stan, o João está dizendo que o simplesmente limou o vocal de João Gilberto. E foi um sucesso. A sonho dele sempre foi gravar com você”, repassou Jobim, em tramúsica puxou o disco, que vendeu milhões, levou prêmios Grammy dução livre. “Engraçado. Pelo tom de voz, não parece que é isto o (RC) e virou clássico da música mundial. que ele está dizendo...”, observou Getz. SAIBA MAIS Chega de Saudade – A história e as histórias da Bossa Nova, de Ruy Castro (Companhia das Letras, 1990).

O R I G E M DA E X P R E S S Ã O

A sorte está lançada

Júlio César (100-44 a.C.), cônsul de Roma, em afronta ao Senado e às leis romanas, ordena que suas tropas tomem a cidade. Advertido sobre a possibilidade de começar uma guerra civil, teria dito a frase pela primeira vez. A expressão é aplicada quando inicia-se uma ação cujo desfecho é incerto.

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M A RÇ O 1 dia do turismo ecológico CAMINHO DAS PEDRAS

Primeira estrada pavimentada aproxima São Paulo de Santos

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té 1790, para ir de São gurança. O resultado é uma redução de Paulo a Santos era preci20% do percurso. Considerada uma das so tomar caminhos íngremaiores obras de engenharia da época mes, que se transformavam em lama a colonial, foi finalizada em 1792. cada chuva na Serra do Mar. Levar açúA partir de 1840, com a construção do Cacar até o litoral, muitas vezes, era verminho da Maioridade, a Calçada do Loredadeira epopéia. Esse cenário começa na começa a ser abandonada. Em 1922, a mudar quando o governador-geral da Washington Luís constrói na Calçada o Capitania, Bernardo José Maria de LoreMonumento do Pico, mirante que marca o na, ordena a construção da primeira esinício do trecho em declive. Recentementrada pavimentada do Brasil, batizada te restaurada e integrada a um complexo PORTAL DA CALÇADA DO LORENA. de Calçada do Lorena. turístico, sua importância no século 18 Pedra, areia grossa, saibro e pedregulho. Eis os materiais do novo pode ser observada em carta do frei Gaspar da Madre de Deus, que caminho, que toma a forma de ziguezague para contornar a incliagradece a Bernardo Lorena pelo feito: Por ela, se sobe com pouca fadiga, e se desce com segurança [...] já não se vêem atoleiros, não nação da serra. Não cruza qualquer nascente ou afluente, nem há lama, e se acabaram aqueles degraus terríveis. curso d’água. Nos trechos com precipícios, parapeitos fazem a se(DG) SAIBA MAIS A Calçada do Lorena: O caminho de tropeiros para o comércio do açúcar paulista, dissertação de mestrado de Denise Mendes (USP, 1994).

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dia internacional da mulher A VIDA COMEÇA AOS 70

Aos 77 anos, dona Fusae surfa, voa e anda de skate ra 1933 quando a família de Fusae Dona Fusae começou em uma prancha peUramoto aportou em Santos, litoral quena, o bodyboard. Depois, optou por vôos de São Paulo. Pai, mãe e filhos vieram maiores. Hoje, sempre que dá onda, se equido Japão em busca de trabalho nas fazendas libra num longboard. O marido espera em de café de Ribeirão Preto. Fusae tinha apenas casa, preparando o almoço. Por falar em vô3 anos e lembra-se das primeiras dificuldaos, ao completar 77 anos, ela escolheu uma des: duas irmãs morreram de coqueluche. comemoração particular: ver o mar – só Na roça a menina cresceu. Foi lavradora, loque, desta vez, de cima. Nasceu ali a paixão cutora de rádio, comerciante. Casou-se e teve pelo vôo livre. ALEGRIA E VITALIDADE INDESCRITÍVEIS. um filho. Fez de tudo um pouco, sempre soE ela não parou por aí. O ano novo trouxe nhando ver de novo o mar que a trouxe ao Brasil. novos planos. Agora dona Fusae aprende a andar de skate com um Com o marido doente, voltou à cidade em que desembarcou. Na professor 60 anos mais jovem. Com equipamento de segurança e copraia, vendeu pastel e, entre uma fritura e outra, namorava o balanragem, diz que a emoção de deslizar sobre as rodinhas é impossível ço das ondas. De tanto observar os surfistas, decidiu ser um deles. descrever: “É tanta alegria que só sei explicar em japonês, em portuAos 72 anos. guês não tenho as palavras”. (Laís Duarte)

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IOLANDA HUZAK

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SAIBA MAIS Secretaria Municipal de Esportes de Santos: (13) 3269-8080.


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dia do ciclista

dia do artesão

ECOLOGICAMENTE CORRETOS

MISTURA DE STRADIVARI E THOMAS EDISON

Bikeboys dispensam

Por trás dos Mutantes, um artesão eletrônico

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IOLANDA HUZAK

gasolina, barulho e poluição

CICLISTA ENTREGADOR EM SÃO PAULO.

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les são mais silenciosos, não poluem o ar e ainda cobram mais barato. São os bikeboys, alternativa cada vez mais presente nas ruas de grandes cidades para a entrega rápida de encomendas. Em vez das tão criticadas motos, os entregadores utilizam bicicletas. Com um custo 30% menor do que o de um motoboy, eles ainda têm a fama de mais cuidadosos com as encomendas. E isso não significa mais lentidão nas entregas. Em setembro de 2007, nas comemorações do Dia Mundial Sem Carro, em São Paulo, foi proposto um desafio – quem chegaria primeiro percorrendo um trajeto que ia da praça General Gentil Falcão, na zona sul, à sede da Prefeitura, na região central, em plena hora do rush: um carro, uma moto ou uma bicicleta? Deu bicicleta, que percorreu o percurso de 10 quilômetros em 24 minutos. A moto chegou 20 minutos depois. Trabalhando há três anos como bikeboy, Osvaldo Chiarotto é um ciclista competidor. Chega a fazer 120 quilômetros em um dia de trabalho, quase o triplo do percurso da sua última competição, a Copa Sundown. Para ele, os bikeboys ainda precisam vencer alguns desafios. “Existe muito preconceito dos motoristas. Se deixar, passam por cima da bicicleta” afirma. Segundo o Sindicato dos Mensageiros e Motociclistas do Estado de São Paulo, existem cerca de mil ciclistas entregadores circulando pela capital paulista – prova que, além de ecologicamente correta, a profissão está em plena ascensão. (NS) SAIBA MAIS http://entregadoresdebicicleta.zip.net

CLÁUDIO CÉSAR DIAS BAPTISTA, O MUTANTE OCULTO.

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nquanto Os Mutantes subiam nos palcos para chacoalhar a cena musical brasileira dos anos 1960, uma espécie de quarto integrante ficava nos bastidores: Cláudio César Dias Baptista, irmão de Sérgio Dias e Arnaldo Baptista. Cláudio começou a mostrar seus dotes ainda criança, construindo telescópios. Em 1963 fabricou suas primeiras guitarras. Uma delas, a partir de um violino. A pedido de um amigo, empenhouse em fazer “a melhor guitarra do mundo”, com peças banhadas a ouro. Ao cabo de oito meses, entregou a encomenda. Na parte de trás, a inscrição de uma “maldição”: se alguém roubasse a guitarra, espíritos perseguiriam o gatuno para sempre. Com o aparecimento dos Mutantes em 1966, Cláudio fica responsável pela construção dos instrumentos: guitarras, baixos e amplificadores. Seus inventos proporcionam possibilidades ímpares de sonoridade, marca registrada da banda. É entrevistado por revistas especializadas, como Guitar Player e Backstage. Monta empresa que leva suas iniciais – CCDB – e começa a trabalhar em mesas de som e equipamentos de estúdio. Os nomes de seus inventos não são lá muito modestos: Supercontrabaixo, Captador Milagroso, Super Wah Wah Regulus, Turbo Compressor. Apesar do reconhecimento, nunca quis ser um grande empresário: “Crescendo, não ia poder criar coisas novas, como um artesão eletrônico”. Para a compositora Mathilda Kóvak, Cláudio é a “possível encarnação de Stradivari e Thomas Edison numa só pessoa”. (DG) SAIBA MAIS A Divina Comédia dos Mutantes, de Carlos Calado (Editora 34, 1995). Março 2008

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dia nacional da água DITO E FEITO

Engenheiro de 29 anos acaba com a seca carioca em seis dias M

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PEREIRA NETO/REVISTA ILUSTRADA/REPRODUÇÃO/EA

arço de 1889. O Rio de o plano da Buarque & Maia era Janeiro amarga uma seca equivocado. E responde ao deterrível. O crescimento dos safio proposto por Rui: Assumo últimos anos e o abrasador vea responsabilidade de tal trarão carioca detonam uma falta balho [...] Se esta proposta for de água sem precedentes. Para aceita amanhã, o suprimento piorar, epidemias de cólera, vade água jorrará na cidade no ríola e malária infestam os bairpróximo dia 23. ros mais pobres. O engenheiro assina contrato de O povo protesta. Rui Barbosa, risco com o Governo Imperial: a então redator-chefe do Diário de cada dia de atraso, Frontin seNotícias, encabeça as críticas ria multado em 10 contos de réis. Caso excedesse três dias, às autoridades. O Águia de Haia ILUSTRAÇÃO PUBLICADA NA REVISTA ILUSTRADA. escreve nada menos que oito arperderia o direito de continuar tigos criticando o ministro responsável pela questão, Rodrigo Silva. a obra. Fenômenos climáticos ou atrasos do governo não serviriam como desculpas. No primeiro, dramaticamente intitulado O Terror, brada: A origem predominante do mal, todos o percebem – a seca. O remédio, todos E as duas coisas aconteceram. Temporais caíram sobre a cidade, proclamam – água, água, água. Com ironia, diz que Rodrigo Silva estransformando em lama as estradas por onde passavam mulas cartá contando só com a misericórdia de ‘Santo Equinócio’, taumaturgo regando tubos de ferro fundido. Despachos emitidos com urgência habitualmente chuvoso. E lança o desafio: se fosse da vontade do tiveram sua entrega retardada pelo Telégrafo Nacional. Instala-se o ministro, o mesmo duplicaria a quantidade de água da cidade em burburinho nos cafés, discussões acaloradas pela cidade. Todos se apenas seis dias. Rodrigo rebate a provocação: Indiquem os meios agitam com a expectativa do “milagre da água em seis dias”. Alguns e o profissional capaz de realizar esse milagre. crêem na façanha; para outros, não passa de quixotada de um joUma empresa de engenharia, a Buarque & Maia, oferece um plano vem engenheiro. para o governo. Propõe-se entregar a obra em 40 dias. Eis que a 23 de março de 1889. Frontin entrega a obra concluída, exatamente carta de um mancebo de apenas 29 anos chega à mesa de Rui Barcomo prometera. Mais de 15 milhões de litros de água completam o bosa. Seu remetente é André Gustavo Paulo de Frontin, bacharel em abastecimento do Rio de Janeiro. Na edição do Diário de Notícias do Engenharia e Ciências Físicas e Matemáticas pela Escola Politécnidia seguinte, Rui Barbosa rende-se ao engenheiro: Um país que tem (DG) filhos tais pode confiar no seu futuro. ca do Rio de Janeiro. Na carta, Frontin explica as razões pelas quais SAIBA MAIS Presença de Paulo de Frontin, de Luiz Dodsworth Martins (Livraria Freitas Bastos, 1966).

março também tem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Dia da Vindima Dia da Luta Contra a Censura no Brasil Dia do Seringueiro Dia da Intimidade Dia do Hispano-Brasileiro Dia Mundial da Oração Dia do Fuzileiro Naval Dia Internacional da Cor Dia de Santa Catarina de Bolonha Dia do Sogro

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Dia Estadual do Motociclista (SP) Dia do Bibliotecário Dia do Conservacionismo Dia Nacional da Poesia Dia Mundial do Consumidor Dia do Cavalo Dia Internacional da Marinha Dia da Chuva Dia da Escola Dia da Terra

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

Dia Mundial do Sono Dia Nacional da Água Dia Mundial do Meteorologista Dia Mundial de Combate à Tuberculose Dia do Especialista em Aeronáutica Dia do Cacau Dia Mundial do Circo Dia do Diagramador Dia da Central do Brasil Dia da Anestesia Geral Dia da Integração Nacional


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dia mundial das florestas TERRA DE CHICO MENDES

Biblioteca no Acre valoriza o saber dos povos da floresta

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DIVULGAÇÃO

les vivem em casas de palha e paPara isso, segundo Maria Clara Machaxiúba. Fazem seu próprio transdo, do Ministério da Educação, além do porte escavando canoas na árvoacervo há também “exposições permare. Navegam em rios como Purus, Envira, nentes e temporárias, incluindo uma Juruá e Acre. Em volta, só seringais. É dessala que reproduz o clima e a fauna se jeito que vive no Norte do Brasil o povo da floresta amazônica”. Dessa forma, ribeirinho. Pois agora suas histórias e lenpesquisadores e leitores têm acesso ao das do boto podem ser contadas e reconacervo e a exposições sobre os povos tadas para toda gente através da Biblioteca indígenas do Acre, vestígios de civilida Floresta, inaugurada em 2007. zações passadas da floresta e também Com sede em Rio Branco e vasto acervo uma coleção sobre as iniciativas lideraBIBLIOTECA DA FLORESTA: PIONEIRA EM ASSUNTOS AMBIENTAIS. sobre os povos ribeirinhos, seringalistas das por Chico Mendes. e índios da Amazônia, é a primeira biblioteca do País especializada A programação da Biblioteca inclui ainda os Diálogos da Florestania em assuntos ambientais. Seu propósito: “contribuir para o desenvol– série de debates sobre desenvolvimento sustentável, reunindo vimento sustentável, reunindo e colocando à disposição dos pesquiespecialistas, seringueiros, índios e estudantes para promover sadores e da sociedade em geral as informações e as experiências do o intercâmbio entre o saber científico e os conhecimentos dos governo e dos movimentos socioambientais”. povos da floresta. (LC) SAIBA MAIS Biblioteca da Floresta www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br 11

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dia da inclusão digital LIBERDADE DIGITAL

Sergio Amadeu espalhou o software livre pelo País

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equipadas com software livre. Entre 2003 oftware livre é o termo usado para definir programas de e 2005, Amadeu presidiu o Instituto Nacomputador gratuitos que pocional de Tecnologia da Informação (ITI), dem ser livremente distribuídos e modifivinculado à Casa Civil. Nesse período, cados. Entre os mais conhecidos, estão coordenou o programa Computador para o navegador de internet Mozilla Firefox, Todos, que criou incentivos fiscais para o pacote de escritório OpenOffice.org e fabricação de computadores populares. o sistema operacional Linux, desenvolviImplantou ainda o projeto Casa Brasil, dos de forma colaborativa por milhares versão aprimorada e de cobertura naciode programadores ao redor do mundo. nal dos telecentros paulistanos. Amadeu SERGIO AMADEU Uma das figuras principais desse moviorgulha-se ao ver jovens que descobrimento no Brasil é o sociólogo paulistano Sergio Amadeu, que se autoram nos telecentros a vocação para a programação de software. intitula militante do software livre. De 2001 a 2003, ele coordenou o Atualmente, leciona na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e Governo Eletrônico da Prefeitura de São Paulo, implantando um dos publica livros sobre inclusão digital e software livre, como Exclusão mais bem-sucedidos programas de telecentros do Brasil. Foram mais Digital: A miséria na era da informação e Software Livre: A luta pela de 120 unidades instaladas na periferia da capital paulista, todas liberdade do conhecimento. (RC) SAIBA MAIS Blog do Sergio Amadeu: http://samadeu.blogspot.com Março 2008


Lina Bo Bardi

Duas vezes brasileira Por Rafael Capanema

AMANCIO CHIODI/AE

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edifício do Ministério da Educa Educação avançava como um grande na navio branco e azul contra o céu. Me sen senti num país inimaginável, onde tudo era possível. Era 1946 e a italiana Lina Bo Bardi chegava ao Brasil, aportando no Rio de Janeiro. Achilina Bo nasceu em Roma a 5 de dezembro de 1914. Na faculdade de Arquitetura, era a única mulher. Formada, mudou-se para Milão. Conseguiu emprego no escritório do famoso arquiteto Giò Ponti. De segunda a segunda, das oito da manhã à meia-noite, desenhava desde xícaras e cadeiras até projetos de urbanismo. Salário? Era ela que tinha de pagar ao chefe. A destruição na Europa durante a Segunda Guerra Mundial tornou especialmente difícil viver de arqui-

Nasceu na Itália esta ilustre brasileira. Fugindo do horror do pós-Guerra, encontrou no Brasil sua “pátria de escolha”. Em seus ousados projetos arquitetônicos, aliou os conhecimentos que trouxe do Velho Mundo à riqueza da nossa cultura popular. Espalhou suas obras em diversos cantos, dedicando a mesma paixão a museus grandiosos e capelinhas miseráveis.

tetura. Impossibilitada de exercer a profissão, Lina passou a colaborar com revistas e jornais. Em 1943, um bombardeio destruiu seu escritório. Tornou-se militante do Partido Comunista, frente clandestina de resistência ao fascismo à qual se juntaram artistas e intelectuais italianos. Na época, ela editava a revista Domus, de Ponti. Apaixonouse pelo marchand Pietro Maria Bardi em uma entrevista para a publicação.

PÁTRIA DE ESCOLHA Pietro e Lina casaram-se em 1946. No mesmo ano, o casal abandonou a Europa vitimada pela guerra e partiu para o Brasil. Aqui, Lina conheceu Burle Marx, Oscar Niemeyer e Lucio Costa, autor do prédio que a impressionara na chegada ao País. Disse a Pietro que queria ficar, que reen-


AO LADO, O MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO, MASP. ACIMA, A CASA DE VIDRO.

contrava aqui as esperanças das noites de guerra, relatou. A convite do empresário de comunicação Assis Chateaubriand, Pietro se encarregou da criação de um museu em São Paulo. Nascia o Masp, abrigado em quatro andares adaptados por Lina no prédio dos Diários Associados, propriedade de Chateaubriand. A sede principal do museu, projetada por ela na Avenida Paulista, só foi inaugurada em 1968. Marco da arquitetura mundial, o prédio de concreto e vidro flutua sobre o vão livre de 74 metros sustentado por apenas quatro pilares de oito metros de altura. Ao lado do marido, Lina naturalizou-se brasileira em 1951. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha “pátria de escolha”, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e às da fronteira. Parte importante de sua obra está na Bahia. A convite do governador Juracy Magalhães, construiu o Museu de Arte Moderna de Salvador no fim dos anos 1950. Trinta anos depois, coordenou a restauração do centro histórico de Salvador. A arquiteta buscava na cultura popular inspiração para os projetos. Em meio a tantas realizações grandiosas, elegeu como mais importante de todas a capelinha miserável em Uberlândia, feita sem dinheiro, com os padres franciscanos e as prostitutas.

FAGULHA DIVINA Apesar de considerar São Paulo “confusa, sem lugar para passear”, estabeleceu-se na cidade. Concluiu em 1951 sua moradia, a Casa de Vidro, construção imponente com fachadas de cristal e piso de pastilhas de vidro. Primeira casa construída no bairro do Morum-

bi, o local é hoje uma reserva tombada com 8 mil metros quadrados de Mata Atlântica. Nas décadas seguintes, mais projetos arrojados, como o Sesc Pompéia (1977), baseado em uma antiga fábrica; e a sede da Prefeitura de São Paulo – ainda em construção quando Lina faleceu, em 20 de março de 1992, vítima de embolia pulmonar. Até os últimos anos de vida, não se limitou à arquitetura: atuou como designer de móveis, jóias e objetos; artista plástica; cenógrafa; curadora e organizadora de exposições. Todas as suas poucas obras e desenhos são obrasprimas, desenvolvidas ao lado de uma ampla atividade intelectual, reflexões e pesquisas sobre o Brasil, tão notáveis como a sua arquitetura, abrangendo gráfica, teatro, cinema, montagens de exposições, entrevistas, seminários, conferências e, às vezes, sua simples presença, escreveu o arquiteto Joaquim Guedes. O Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, fundado em 1990 e sediado na Casa de Vidro, dedica-se à difusão da cultura e das artes brasileiras no exterior. Em carta de 1993 para a instituição, Frei Betto escreveu: Todo artista é um clone de Deus. Lina trazia em si essa fagulha divina que faz da criatura criador, e transforma a arte na única linguagem capaz de superar os limites do tempo e do espaço. SAIBA MAIS Lina Bo Bardi – Sutis substâncias da arquitetura, de Olivia de Oliveira (Romano Guerra, 2006). www.institutobardi.com.br

O M ELHOR PRODUTO DO BRASIL É O BRASILEIRO CÂMARA CASCUDO

Março 2008

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“Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e às da fronteira.”


MARIA ADELAIDEFRAGA AMARAL RONALDO

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FOTOS: MANOEL MARQUES

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Ela costuma carregar consigo todos os personagens para quem empresta vida – seja nas prateleiras de casa, abarrotadas de livros sobre temas que abordou; seja nas visitas constantes a cemitérios a fim de encontrar os modernistas que pôs em cena na minissérie Um Só Coração (2004). “É como se fossem gente da minha família. Ficamos íntimos.” Na atual minissérie exibida pela Globo, Queridos Amigos, os personagens são mesmo da intimidade da dramaturga. Gente que, com ela, compartilhou sonhos e, no final da década de 1980, se viu numa encruzilhada. “Havia uma perplexidade diante dos próprios conceitos.” Nessa conversa, dias depois da estréia da minissérie, ela relembra a carreira, fala da importância do trabalho que tem desenvolvido e, ecoando o jornalista Elio Gaspari, defende: 1989 foi mais importante que 1968. “Talvez o fundo musical não fosse tão bom, mas mudou o mapa-múndi. Foi um divisor de águas na história.”


Como tem sido a recepção de Queridos Amigos? Está mexendo muito com as pessoas. Elas estão muito mobilizadas, emocionadas. A série trata de conceitos fundamentais – amizade, afeto, solidariedade –, que eram muito fortes naquela época. Era o que nos valia. Está na hora de falar sobre essas coisas, porque as pessoas já estão esquecendo. Ninguém lembra mais que teve ditadura, preso político, tortura... Fiquei muito assustada quando peguei um táxi no Rio, ano passado, e o taxista falou: “Bom mesmo era no tempo da ditadura”. Nem deixei ele terminar. Essa baixa qualidade de ensino, essa proliferação de faculdades de quinta categoria, a amputação de uma geração que ficou totalmente fora da política, esse domínio dos políticos que floresceram à sombra da ditadura e que continuam dando as cartas... Tudo isso começou na ditadura. Por que a escolha de 1989 para ambientar a minissérie? São várias razões. Em primeiro lugar, porque a minissérie tem por base o livro Aos Meus Amigos, que publiquei em 1992 e trata de acontecimentos que se deram em 1991. No plano pessoal, 1989 foi a última vez em que eu trabalhei numa redação, cercada de grandes jornalistas, como o Sérgio e o Renato Pompeu, que certamente gostariam de estar fazendo outra coisa. Outro dia, conversando com o Elio Gaspari, ele me disse que achava 1989 um ano muito mais importante do que 1968. E foi mesmo. Fez menos barulho, talvez o fundo musical não fosse tão bom, mas mudou o mapamúndi. Foi um divisor de águas na história. No plano mundial, a queda do Muro de Berlim, o colapso dos regimes comunistas do Leste, o fim da cortina de ferro como divisor de hegemonias políticas, o mundo dividido entre União Soviética e Estados Unidos. No Brasil, tivemos a primeira eleição direta para presidente desde 1960. Vivíamos com uma inflação de 50% ao mês. Havia altas taxas de desemprego – de modo geral e, particularmente, no jornalismo, onde eu trabalhava... Não foi só o muro que caiu. Caíram as ilusões. Eu tenho vários amigos que foram ou ainda são do Partido Comunista, e tenho o maior carinho e respeito por eles. Posso não concordar com eles, ter outras considerações políticas, mas os acolho e compreendo

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perfeitamente. Acho que isso é a base do afeto, da amizade. É você acolher e compreender as pessoas, independentemente de suas opiniões políticas. E isso está cada vez mais difícil. Você acredita que o ano de 1989 trouxe um vazio de significado, como muita gente defende? É o ano do desencanto. Nós não tínhamos onde nos agarrar. Essa droga de liberalismo, de globalização; esse individualismo, o clima de “cada um por si”. Eu nunca me conformei com isso. Era exatamente o oposto daquilo que nós tínhamos vivido. Lembra do anúncio do Gerson, “O negócio é levar vantagem”? Nós achávamos o fim da picada e, de repente, ninguém mais discute isso. Se você não leva vantagem, é um idiota. É uma mudança total de mentalidade. Tínhamos uma consciência sociopolítica muito voltada para o coletivo. E isso se perdeu. As pessoas têm que ter disponibilidade afetiva para acolher o afeto em volta delas. E para dar afeto também. É um caminho de duas vias. Nunca é tarde para fazer amigos. Eu fiz grandes amigos depois dos 40 anos. Não podemos nos intimidar pelo individualismo e por essa vida tão louca da gente, essa correria. Temos que estabelecer laços, porque sem eles não somos ninguém. Principalmente em tempos adversos, em momentos tão difíceis como os que temos atravessado. Essa violência, essa desagregação. Quando você concede espaço à amizade, na verdade, está concedendo espaço ao coletivo, está abrindo mão da sua individualidade para olhar para o outro, sentir o outro. De 1989 para 2008, a esquerda sofreu uma série de golpes, não? Eu acho que a esquerda se redefiniu. E para ela sobreviver, precisa mesmo se repensar e se recriar a todo momento. Esta é a minha opinião. Pode-se discordar, mas acho que o PT soube fazer isso. O PT no poder é uma vitória. Mesmo com todas as trapalhadas, todos os problemas, todos os escândalos, é uma vitória, sem dúvida alguma. Temos que lembrar: o discurso era de que, se o Lula assumisse, se o Partido dos Trabalhadores chegasse ao poder, haveria hecatombe, catástrofe. Não foi nada disso o que aconteceu. Assim como o Lula foi uma vitória, Fernando Henrique Cardoso no poder também foi.

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Como você acha que os personagens da série estariam hoje em dia? Para começo de conversa, a situação econômica do País hoje é infinitamente melhor. Temos que admitir. Você pode fazer todas as críticas ao governo Lula, menos dizer que a vida do povo não melhorou, porque melhorou. Eu mesma faço críticas sobre os problemas de corrupção, mas temos que admitir que, como diz o Elio Gaspari, o “andar de baixo” melhorou mesmo. É um fato. Na minha opinião, a oposição tem que levar isso em conta e reconsiderar o modo de ser oposição.

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Seus personagens se frustraram com a impossibilidade de tocar os sonhos em que acreditavam? A verdade é que não dava para fazer nada. O que dava para fazer, se você não tinha onde se agarrar? Eu acho que o final dos anos 1980, de modo geral, pegou todo mundo no contrapé. Havia uma perplexidade do pessoal de esquerda diante dos próprios conceitos. Então vamos pensar em outro sonho! Vamos pensar no sonho de outra maneira, com outros métodos. Não queremos um estado stalinista. Eu tive peça censurada nos anos 1970. A gente saiu, lutou, brigou, clamou por liberdade. A última coisa que eu quero é a instalação no poder de qualquer governo ou regime que exerça uma coerção sobre o meu trabalho de criação ou a liberdade de ir e vir. Isso é uma coisa inconcebível. Tudo tem que partir dessa base que se chama democracia. Como transformar todos estes ingredientes em um produto de massa, como uma minissérie? Eu posso falar de todas essas coisas, mas se eu não colocar emoção... O que ganha as pessoas, o que faz com que elas desejem assistir à minissérie é a emoção. Se eu não usar esse veículo, estou perdida. Posso fazer quantos discursos eu quiser, posso ficar botando falação, que não adianta nada. Isso é teledramaturgia. Isso é drama, conflito, antagonismo. Se não houvesse emoção na relação dessas criaturas, eu não teria atingido o meu objetivo, que é, antes de qualquer outra coisa, dar a conhecer uma parte dessa geração que lutou por um País melhor. O público só vai ouvir o discurso se este universo de

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emoções interessar. A minha empregada falou sobre a minissérie: “Dona Adelaide, que coisa, isso bateu em mim”. Para mim, ela é o parâmetro. Eu não escrevo para jornalistas. Quando escrevo para teatro, aí é outra coisa. Quem pode pagar teatro, quem pode compreender teatro? Agora, quando faço televisão, meu objetivo maior é que seja uma obra de alcance. Não apenas por causa da audiência, mas porque não tem o menor sentido fazer televisão se você não vai alcançar o grande público. É isso o que eu quero, é isso que me interessa. Qual a explicação para a qualidade da teledramaturgia brasileira, tão premiada? O Lauro César Muniz veio do teatro; Manoel Carlos, da poesia; Gilberto Braga, da crítica; Silvio de Abreu, do cinema; Aguinaldo Silva, do jornalismo; Walter Negrão, da publicidade; Benedito Ruy Barbosa, do teatro e da publicidade. São pessoas informadas, cultas. Esse repertório faz a diferença entre um teledramaturgo brasileiro e um mexicano, por exemplo. Estive em Miami uns três anos atrás, por causa de A Casa das Sete Mulheres – essa minissérie me levou até Cuba; o Fidel não perdia um capítulo. Fui para Miami porque ela foi indicada para o prêmio INTE, o Oscar da televisão latina. E aí teve a tal da festa. É uma coisa inenarrável. Os autores estão riquíssimos. Lá, ganham por capítulo. É outro esquema, não tem esse nosso vínculo empregatício. Eles colocam as novelas deles em todos os países de língua espanhola, e ainda nos Estados Unidos. Estamos no mês do Dia da Mulher. Entre seus personagens, há grandes mulheres, não? No começo eu tinha um pouco de implicância com esse negócio do Dia da Mulher. Já é uma coisa excepcional porque, se fosse normal, não precisaria haver um dia para nós, como se fosse uma concessão. Eu fico com o pé atrás, mas tudo bem. É melhor ter isso do que não ter nada. Nos últimos anos, essa questão realmente melhorou muito, muito. Lembro que quando comecei a trabalhar, houve uma comoção na família. Minha sogra e meu sogro ficaram horrorizados: “Mulher não pode trabalhar, tem que ficar em casa para cuidar de filho!”


E isso não é tão antigo. Em alguns casos, essa realidade continua... Ô, se continua. Houve uma grande evolução, temos que reconhecer. Essa também foi uma vitória dos anos 1980. A mulherada foi para o mercado de trabalho, começou a sair da escola para fazer Direito, Economia, Administração. A crise não deu opção. Antigamente, trabalhava quem queria. Com a crise, a mulherada teve que ir trabalhar. Não é uma atitude feminista, é uma necessidade. Algumas amigas que viviam às custas do marido se danaram, porque os maridos perderam o emprego, e isso não estava previsto. O previsto era que o camarada que trabalhava numa grande empresa ficasse lá até se aposentar. A segunda metade dos anos 1980 foi uma porrada.

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A reconstituição histórica que você tem feito presta um serviço interessante, não? Interessante, não. Importante, importantíssimo. Começou com A Muralha [2000]. Grande sucesso. Os Maias [2001] não deu certo. Aí veio A Casa das Sete Mulheres [2003], que também deu muito certo. Depois, Um Só Coração [2004]. Por causa do sucesso, veio JK [2006]. Você não tem idéia do que representou isso. Com A Casa das Sete Mulheres, o afluxo de turismo no Rio Grande do Sul foi uma loucura. Os gaúchos voltaram a usar o lenço vermelho, símbolo do orgulho gaúcho. Voltou-se a falar da Guerra dos Farrapos, que era um assunto enterrado há séculos. Na época de Um Só Coração, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria sobre o aumento de afluxo das pessoas nos museus.

De todos os seus personagens, você tem algum favorito? É tão difícil, porque tem tanta gente bacana... Os modernistas, esses eu amo de paixão. Gosto tanto deles que vou visitá-los. Está todo mundo ali no cemitério da Consolação. A Tarsila, a dona Olívia... Na mesma rua, estão o Mário e o Oswald: rua 17. Aí, no cemitério dos protestantes, que é do outro lado, dou a volta e vou visitar Anita Malfatti. Gosto muito deles. É como se fossem gente da minha família. É um lance legal do trabalho, você fica íntimo das pessoas. Você já tem uma próxima minissérie engatilhada na Globo? Estava trabalhando na de Maurício de Nassau. Só fiz a sinopse. Não foi aprovada porque seria muito cara: 1,3 milhão de reais por capítulo. Quem sabe eles mudam de idéia... Fiquei um ano pesquisando, seria uma judiação não usar. Há grandes histórias. E é uma maneira de homenagear Pernambuco. Pelo amor de Deus, vamos falar do Nordeste! Nassau é um grande personagem, não? Não é só o Nassau que é bom. Um personagem é melhor que o outro. João Fernandes Vieira, por exemplo, é uma loucura. Ele era mulato, filho de uma prostituta da Ilha da Madeira. Esse cara se tornou um dos homens mais importantes de Pernambuco. Foi vital para a expulsão dos holandeses. Existe uma série de mitos sobre os holandeses. O maior deles foi Nassau – que, aliás, não era holandês, mas ale-

mão. Os holandeses chegaram em Pernambuco em 1632, mas o Nassau, só em 1637. E foi embora em 1644. Esses sete anos foram gloriosos. Ele era um conciliador, um hedonista. Um cara que traz uma comitiva de artistas já indica que tipo de pessoa é... Quando foi embora, os próprios portugueses pediram para ele ficar. Ele era funcionário da Companhia das Índias Ocidentais. Foi o primeiro executivo de multinacional. Tinha comissão sobre produção e exportação de açúcar, salário, mordomias, ganhava uma fortuna.

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E, além disso, há notadamente um aumento na vendagem de livros... Não só de livros relativos ao assunto, mas também de temas relacionados. Na época da Casa das Sete Mulheres, o Tabajara Ruas vendeu muito Os Varões Assinalados, romance que, na minha opinião, é de longe o melhor sobre Farrapos. Em Um Só Coração, conseguimos algo sensacional. O Nonê, filho do Oswald de Andrade, tinha uma biografia poética, Dia Seguinte & Outros Dias. Ele nunca tinha conseguido publicar. Com a minissérie, conseguiu. Tomara que não desistam das minisséries históricas. Isso é a parte mais bacana do trabalho. Agora mesmo, os escritos do Décio Bar [jornalista que inspirou Aos Meus Amigos] vão ser publicados. Isso é um serviço. Adoro poder fazer isso. Sou uma assistente social frustrada. Historiadora e assistente social frustrada.

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10 DE MARÇO É O DIA DO SOGRO

QUESTÃO DE FÉ E CAUTELA Por Lourenço Diaféria

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o calendário ocidental, é normal a influência diária dos santos. Em datas cívicas, no entanto, as tradições nem sempre são piedosas. Ninguém é obrigado por decreto, crença ou formação a aceitar o que se alcança pela fé. E a fé, toda fé, pode ser também tênue ou vaga. Para ficar no calendário, do qual tenho um exemplar para conferir se alguma conta vence amanhã, chego à conclusão de que banqueiro pode ser boa pessoa, gente fina, gentil, educado, até abonado, mas com um defeito de formação: não acredita em santo de calendário. Faço essa constatação ao entrar na igreja de São Bento, abadia beneditina. Para quem consegue descobrir, no centro azucrinante da cidade, essa ilha de paz e silêncio, vale a pena alterar o roteiro apressado do cotidiano para buscar sossego no antigo templo. São Bento não é uma igreja simplesmente. É um desafogo. A igreja foi erguida, e bem erguida, num contraponto urbano onde se misturam lojas de peças, máquinas, parafusos, porcas e vestes de casamento. A rua Florêncio de Abreu fica no caminho para o resto do mundo inimaginável, onde, sem grande esforço, se vai descobrir o Convento da Luz, reduto que restou de frei Santana Galvão, hoje canonizado como o primeiro santo brasileiro. Foi lá que aconteceu o caso que peço licença para narrar. Um senhor desconhecido, de chapéu e bengala, elegantemente vestido, me perguntou se podia dar duas palavrinhas. Imaginei que, como é comum, fosse pedir uma espórtula ou coisa parecida. Se bem que aque-

O SENHOR DE BENGALA NÃO QUERIA AUXÍLIO MONETÁRIO. QUERIA ERA OBTER UMA INFORMAÇÃO TÉCNICA. DESEJAVA SABER SE FREI GALVÃO ERA SANTO DE CONFIANÇA.

le não era lugar nem hora. Porém não queria auxílio monetário. O senhor de bengala – repito, figura elegante – queria era obter uma informação técnica. Desejava saber se frei Galvão era santo de confiança. Achei a pergunta despropositada. Que eu soubesse, até aquele dia (uma tarde azul) ninguém duvidara de frei Galvão. Titubeei. “O senhor garante que frei Galvão é confiável?”, insistiu o senhor de bengala. É evidente que eu não estava em condições morais de dar certeza de coisa alguma. Não leio jornais, não assino revistas de assuntos imperdíveis, não presto atenção em discursos políticos, não uso telefone celular nem compro pastel em feira-livre. Em suma, estou por fora das realidades. Atualmente, levo a sério apenas meus três netos. Como não costumo deixar ninguém sem resposta, menos ainda numa tarde azul, num convento de freiras, sugeri ser mais conveniente consultar alguém enfronhado no Dia de Todos os Santos. Mesmo assim o senhor de bengala me agradeceu a atenção, pediu uma pílula com a oração de Frei Galvão, desculpou-se e ia se retirando do Convento da Luz. Mas então quem ficou intrigado fui eu. O homem de bengala revelou ser um cidadão em dúvidas. Banqueiro aposentado, tinha uma filha apaixonada pelo futuro marido. O homem elegante de bengala vai ser sogro brevemente. Está preparando uma festa com convidados importantes. Porém, como todo futuro sogro, tem dúvidas. E, como todo banqueiro cauteloso, faz questão de conferir nos páramos celestes as informações pessoais do genro.


Especial Dia Internacional da Mulher

Redacao: Danilo Ribeiro Gallucci Arte: Guilherme Resende

Editorial

Imagine um dia em que todas as notícias de um jornal dissessem respeito às mulheres. E que os feitos de ilustres brasileiras, a despeito das mais distantes épocas em que viveram, fossem reunidos em uma mesma edição. E que elas se encontrassem lado a lado, apesar de suas diferentes áreas de atuação, cor, classe social. Pois bem, nós imaginamos. Neste especial comemorativo do Dia Internacional da Mulher (8 de março), tratamos de subverter o tempo para reunir algumas das tantas mulheres brasileiras que, contrariando os obstáculos impostos ao gênero, entraram para a história e mudaram os destinos do País.

REPRODUÇÃO/EA

“Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria”, diz Isabel Da sucursal de Lisboa Em entrevista exclusiva a nosso correspondente em Lisboa, Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, mais conhecida como Princesa Isabel, mostrou-se indignada com o modo como o Brasil vem tratando sua família. Para ela, os brasileiros demonstraram ingratidão ao derrubar seu velho pai do poder e ainda expulsá-lo do Brasil em 1889. A princesa, tida como a primeira chefe de Estado das Américas, sente-se credora pelos atos que desempenhou a favor do progresso do País, como a assinatura da Lei do Ventre Livre e diversas outras medidas e ações reformistas que culminaram com a libertação dos escravos em 13 de maio de 1888. Diante da indagação da reportagem quanto a seu sentimento frente às afirmações do Barão de Cotegipe – “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono” –, a princesa reafirma o que vem declarando: “Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil”.

Donatária aposta na exportação de açúcar para o Velho Mundo Do enviado a São Vicente A eminente donatária Ana Pimentel não pôde comparecer ontem à Vila de São Vicente, mas enviou um representante por ocasião da plantação do primeiro pé de cana-de-açúcar em Cubatão, neste ano de 1534. Na cerimônia, foi lido um texto da esposa de Martim Afonso de Sousa, no qual afirma acreditar que, com o cultivo da espécie, a nação viverá no futuro os louros dessa empreitada, tendo em vista que o açúcar vem sendo paulatinamente adicionado aos costumes europeus. Com apenas 17 anos, a nadadora Maria Lenk acaba de tornar-se a primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas, nestes badalados Jogos de Los Angeles-1932. Com uma vitória na final do torneio de Wimbledon-1964, Maria Esther Bueno sagrou-se tricampeã da mais prestigiosa competição de tênis do mundo.

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Guerrilheira grávida falece em fuga na Itália

REPRODUÇÃO/EA

Do enviado a Roma Faleceu ontem (4 de agosto de 1849) Anita Garibaldi. A revolucionária catarinense tornou-se famosa depois de participar, ao lado do marido Giuseppe, da Revolução Farroupilha (1835-1845). Em 1841, quando a situação militar da República Riograndense tornou-se insustentável, a família passou a viver no Uruguai. Seis anos depois, mudou-se para a Itália, onde Giuseppe tornou-se figura fundamental na luta pela unificação

italiana. Com a queda de Roma, o casal teve que partir para o exílio. De acordo com informações de correspondentes de guerra, deixaram Roma perseguidos por cerca de 40 mil soldados franceses, espanhóis e napolitanos. Grávida, Anita não pôde resistir à caçada. Faleceu em Mandriole, na Itália, de causas desconhecidas. Deverá ser lembrada como heroína dos dois mundos por sua ativa participação, ao lado do marido, em conflitos na Europa e na América do Sul.

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KALIXTO CORDEIRO/ COL. MUSEU N. BELAS ARTES/REPRODUÇÃO/EA

Mossoroense quer votar Vem de Mossoró, cidade a 285 quilômetros de Natal (RN), uma novidade que tem deixado a sociedade local boquiaberta. Não se sabe por quais razões a professora Celina Vianna decidiu inscrever-se para votar no próximo pleito municipal. A notícia vem correndo o Brasil desde que o jornal O Globo publicou o fato em sua edição de 21 de dezembro de 1927. Nunca antes uma mulher alistou-se como eleitora neste País. SE A MODA PEGA... – João, se houver qualquer novidade, telephona para o ministério.

Deu no New York Times

Toma posse Bertha Lutz

Getúlio libera o voto das mulheres

O diário norte-americano The New York Times noticiou no último sábado, 8 de setembro de 1928, a conquista da potiguar Alzira Soriano. O prestigioso jornal relata que, enfrentando acusações de que “mulher pública é prostituta”, a fazendeira viúva elegeu-se como mandatária maior da Prefeitura de Lajes (RN). Trata-se da primeira prefeita eleita do Brasil e da América Latina. O diário acrescenta ainda que, envergonhado pela derrota, seu adversário abandonou a cidade.

O Plenário da Câmara dos Deputados assistiu ontem (28 de julho de 1936) à posse de Bertha Maria Júlia Lutz. A deputada paulista assume a vaga aberta pelo falecimento do saudoso deputado Cândido Pessoa. Advogada pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro e bióloga pela Universidade de Paris, a filha do cientista Adolfo Lutz criou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e representou o Brasil em reuniões e assembléias internacionais pela causa da emancipação política e social feminina. Certamente a história não haverá de esquecê-la.

No último dia 24 de fevereiro de 1932, o presidente Getúlio Vargas assinou, no Palácio do Catete, o Decreto nº. 21.076, que institui o Código Eleitoral Brasileiro. Cabe notar que o artigo segundo define como eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo. Estão, portanto, aptas a votar as mulheres brasileiras. É de se ressaltar, no entanto, as determinações transitórias que dispõem que as mulheres em qualquer idade, assim como os homens com mais de 60 anos, estão livres de qualquer obrigação ou serviço de natureza eleitoral.


Cultura

Escritora potiguar escandaliza sociedade Da redação Acaba de chegar às livrarias o primeiro livro brasileiro que versa sobre os direitos das mulheres à instrução e ao trabalho. Trata-se de Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), da potiguar Nísia Floresta, de apenas 21 anos. Nele, a autora aponta os principais preconceitos de gênero existentes no Brasil e identifica suas causas e sintomas. Fez alvoroço no ano passado a série de artigos sobre o mesmo tema publicados por Nísia em um prestigioso jornal per-

nambucano. Depois da repercussão, foi convidada a traduzir para o português o livro Vindications of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft. Nísia, não satisfeita, decidiu ir além: como não havia obra que discorresse sobre a condição feminina no Brasil, resolveu fazê-lo. O resultado pode ser lido nessas páginas, que – a julgar pelo burburinho que vem causando até o momento – provavelmente terá muitas reedições e reimpressões.

Estreou na última quarta-feira (28/5/1930) o primeiro filme brasileiro dirigido por uma mulher: O Mistério do Dominó Preto, da paulista Cleo de Verberena, pseudônimo de Jacira Martins Silveira. Para realizar seu sonho, a moça de 21 anos teve que desfazer-se de jóias e propriedades.

Por 23 votos, a cearense Rachel de Queiroz sagrou-se a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras. A posse deve ocorrer ainda em 1977, no dia 4 de novembro. A escritora de O Quinze ocupará a cadeira de número 5, que tem como patrono Bernardo Guimarães e outrora foi guardada pelo médico Oswaldo Cruz.

Composição feminina abre ala nos salões

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Da redação Neste Carnaval de 1899, uma novidade vem agitando os salões cariocas e tem tudo para entrar para a história: uma composição criada especialmente para os festejos de Momo. A responsável pela idéia é a compositora Chiquinha Gonzaga. Ô Abre-Alas é um sucesso. Contagia banda e público por onde passa. A trajetória da compositora, no entanto, não foi cheia de glórias. Casou-se aos

16 anos, e o marido a obrigou a deixar sua grande paixão: a música. Pior para ele, que ficou sem esposa. Para sobreviver, deu aulas de piano, tocou em pequenos saraus, vendeu partituras na rua. Mulher à frente de seu tempo, engajou-se na luta pela abolição da escravatura e pelo fim da monarquia. Com o sucesso nos salões, promete abrir alas para os foliões!

Necrologio

Morre catadora de papel que se alimentava da escrita 14 de março de 1914

Morreu ontem, em São Paulo, a ex-catadora de papel Carolina Maria de Jesus. Em 1960, com a ajuda do jornalista Audálio Dantas, lançou o livro Quarto de Despejo, sucesso editorial traduzido para 29 línguas, em que narra a miséria, a fome e os preconceitos que enfrentou. Carolina foi

13 de fevereiro de 1977

uma das únicas brasileiras que ganharam menção na Antologia de Escritoras Negras e no Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis. Em entrevista, definiu sua atividade: “Alimentei, eduquei e amei meus três filhos. Catei papel, revirei lixo. Do papel também tirei meu alimento: a escrita”.

ARQUIVO/AE

Carolina Maria de Jesus

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Sociedade

REPRODUÇÃO/EA

Da redação Na manhã de ontem, 8 de abril de 1922, a paulistana Tereza de Marzo tornouse a primeira mulher brasileira a obter brevê de aviação. Aprovada em todos os exames, a jovem de 18 anos precisava ainda completar cinco “oitos” com seu avião no ar. Surpreendeu todos os presentes ao repetir a manobra por oito vezes consecutivas. Hoje uma nova candidata deve subir ao ares com grandes chances de repetir o feito: a paulistana Anésia Pinheiro Machado, apenas um ano mais velha do que Tereza.

Futura primeira-dama quer animar as festas do Catete

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Da redação Num furo de reportagem, nosso repórter descobriu a data do casamento do presidente Marechal Hermes da Fonseca. Os festejos acontecerão no dia 8 de dezembro de 1913. A noiva, Nair de Teffé, é tida como a primeira caricaturista brasileira. Com trabalhos em diversas publicações de prestígio, a moça já anuncia o afastamento de suas atividades jornalísticas. Ao repórter, a futura primeira-dama confessou que o flerte teve início quando o Marechal perguntou a seu pai, o Barão

de Teffé, como havia de permitir que tão bela dama andasse a cavalo desacompanhada. “Se me permitir, eu acompanharei essa delicada moça não só em seus passeios a cavalo, mas por toda a minha vida”. O que se espera dessa união é que o Palácio do Catete seja invadido pela alegria e descontração. Dona Nair promete incluir a poesia de Catulo da Paixão Cearense e o Corta Jaca, de Chiquinha Gonzaga, no repertório das festas, tradicionalmente muito chiques e elegantes.

Francesa é nomeada parteira oficial do Império

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Bravas jovens prometem invadir os céus do Brasil

Da redação Preste atenção, caro leitor, aos choros de recém-nascidos. Em instantes, irá deparar-se em alguma esquina do Rio de Janeiro com uma moça de aspecto peculiar, trajando casaca e cartola. Trata-se de Marie Josephine Mathilde Durocher, a parteira mais disputada nesses idos de 1886. Com 22 anos de formada, ela acaba de ser nomeada parteira oficial da residência do imperador Pedro II. Oportunidade honrosa e inédita, levando-se em consideração que não é profissão comum entre as mulheres. Natural de Paris, Durocher chegou ao Brasil com 7 anos. Diplomou-se no Curso de Partos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Como há carência de maternidades na cidade e a enfermaria da Santa Casa encontra-se em estado lastimável, Durocher acompanha nascimentos na casa das parturientes – entre elas, esposas de figuras notáveis da sociedade carioca.

Saiba Mais • História das Mulheres no Brasil, organização de Mary Del Priore (Editora da Unesp, 1997). • Dicionário Mulheres do Brasil, organização de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil (Jorge Zahar, 2000).


Enigma Figurado

LIGUE OS PONTOS

os 17 anos, este paulistano nascido a 13 de março de 1936 fundou uma companhia cinematográfica. Fazia os atores enfrentarem testes com ratos e aranhas vivas. Durante o regime militar, teve seus filmes censurados. Na década de 1980, realizou pornochanchadas. Voltou à tona no Brasil após ter sido descoberto pela crítica internacional. Depois de 20 anos, está prestes a lançar um novo filme. (RC)

R.:

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A

1

a Monteiro Lobato comparou o trabalho da pintora com “desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios”.

2

b Deu ao autor seu primeiro prêmio internacional. Roubada em 2007, foi recuperada semanas depois.

3

c Ao vê-lo, o poeta Raul Bopp declarou: “Vamos fazer um movimento em torno desse quadro”.

4

d O autor gostava de retratar mulatas e pescadores. Seu velório foi filmado por Glauber Rocha.

O que é o que é ?

A naja egípcia gigante age e reage hoje.

Depois de cheio, não se vê mais. R.:

Quem ama a rosa suporta os espinhos.

BRASILIÔMETRO TESTE O NÍVEL DE SUA BRASILIDADE 1 A música-tema de A Praça É Nossa foi sucesso na voz de: (a) Roberto Carlos (b) Erasmo Carlos (c) Jerry Adriani (d) Ronnie Von

PALAVRAS CRUZADAS

2 Não é personagem do Sítio do Picapau Amarelo: (a) Marquês de Rabicó (b) Quindim (c) Garibaldo (d) Cuca 3 Escola de samba paulistana: (a) Porto da Pedra (b) Beija-Flor (c) São Clemente (d) Rosas de Ouro 4 Estado natal de João Gilberto: (a) Rio de Janeiro (b) Bahia (c) Pernambuco (d) Minas Gerais 5 País ao qual pertencia o Acre: (a) Bolívia (b) Peru (c) Colômbia (d) Venezuela 6 Como chamam o pão francês em Santos: (a) Pão de sal (b) Filão (c) Cacetinho (d) Média 7 Não é arquiteto: (a) Ruy Ohtake (b) Pietro Maria Bardi (c) Paulo Mendes da Rocha (d) Lucio Costa 8 Foi membro dos Mutantes: (a) Liminha (b) Lirinha (c) Tutinha (d) Luluzinha Respostas na p. 32 AVALIAÇÃO – Conte um ponto por resposta certa: 0 a 2 - Brasilidade na reserva 3 a 4 - Meio tanque 5 a 8 - Tanque cheio

Março 2008

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GUARANÁ Paullinia cupana

Brasileiro da gema Amazônidas há milênios usam o guaraná para aliviar cansaço, calor, sede. Com o frutinho do guaranazeiro, pioneira empresa brasileira criou em 1921 a bebida gaseificada que figura hoje entre os cinco refrigerantes mais pedidos no mundo. Por Mylton Severiano

C

MARTIUS IN FLORA BRASILIENSIS

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erto dia, Macunaíma – o herói sem nenhum caráter – surpreendeu Cy dormindo na mata e tentou brincar com ela, na rede que Cy trançou com os próprios cabelos. A cunhã se defendeu violentamente, quase o matou. Os manos acudiram e, depois de uma paulada na cabeça de Cy, o herói pôde brincar com a “mãe do mato”. Passaram a viver juntos, apaixonados. Tiveram um filho, mas o menino morreu ao mamar na mãe o leite contaminado pelo veneno da Cobra Preta. Cy dá a Macunaíma um muiraquitã de lembrança, sobe ao céu e vira estrela. No túmulo do filho nasce uma planta cujos frutinhos operam milagres. Assim Mário de Andrade (1893-1945) transplanta a lenda dos saterés-maués para sua obra-prima, Macunaíma, uma síntese dos saberes brasileiros. O herói, pela pena de Mário, informa: Com as frutinhas piladas dessa planta é que a gente cura muita doença e se refresca durante o calorão de Vei, a Sol. A trepadeira de caule escuro, que na primavera se enfeita de flores brancas e perfumadas, forma nas plantações tufos de no máximo três metros. Mas, no meio da mata amazônica, galga as árvores e pode chegar até os 10 metros de altura. Os frutinhos vermelhos nascem em cachos e, maduros, entreabrem-se exibindo sementes negras, semi-envoltas

por uma polpa branca; parecem olhos humanos, daí que os índios também os chamam de “frutos dos olhos”. Desde tempos imemoriais, os índios conhecem as propriedades tônicas do guaraná e o consomem como alimento e remédio. Os maués, que habitam o baixo Amazonas, se auto-intitulam Filhos do Guaraná. Foram eles que transformaram a trepadeira silvestre em planta cultivada. Desenvolveram a técnica do beneficiamento das sementes: moê-las até virarem uma pasta, moldar bastões, deixar secar e raspar o bastão endurecido na língua óssea do peixe amazônico pirarucu (uma verdadeira lixa). Com o pó obtido, os maués produzem bebidas que, dizem, garantem vida longa. Em seus rituais sagrados, o guaraná equivale ao vinho da liturgia católica. Os portugueses adotaram o nome que os maués deram à planta, mas o botânico alemão F. C. Paullini, que a classificou no século 18, batizou-a com o nome científico de Paullinia cupana: Paullini se auto-homenageou e reverenciou não os maués, mas os seus inimigos, os mundurucus, que chamavam o guaraná de cupana. Mais tarde, derrotados pelos maués, os mundurucus se retirariam da região. Vai ver que eram mesmo os maués que sabiam fazer melhor uso do guaraná.


os almoços de domingo, meus pais se permitiam dividir uma cerveja; e, para cada um dos cinco filhos, um guaraná Caçula da Antarctica. Meu pai, nacionalista ferrenho, usava de peculiar pedagogia para nos convencer a valorizar o que é nosso: “Com propaganda, meu filho, se vende até Coca-Cola.” Ele falava que o guaraná é feito de fruta, e fruta nossa, enquanto certas beberagens de fora são artificiais. Até hoje, nem pra variar peço outro, senão aquele que um em cada cinco apreciadores de refrigerante no mundo pede: Guaraná, por favor.

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MANU MARIA

Um dos cinco mais pedidos do mundo

Duas marcas que fizeram história

A Antarctica, cervejaria fundada em 1891, lançou em 1912 um refrigerante de limão. Limão dá em toda parte. A grande tacada foi criar outro, em 1921, do frutinho que os índios conhecem bem: o brasileiríssimo Guaraná Champagne, hoje apenas Guaraná, apreciado até no Japão. Outra curiosa história é a do Guaraná Jesus, inventado pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes, de São Luís. A Coca-Cola comprou, e fechou. Teve de reabrir para fazer as pazes com o povo maranhense que, de tão chateado, parou de beber Coca-Cola.

Pra que importar ginseng? lha só a riqueza que o frutinho contém: guaraína, um alcalóide que melhora a atividade cerebral e a resistência física; proteínas, formadoras dos tecidos; fibra, para o bom funcionamento intestinal; minerais como fósforo (para a memória), cálcio (para os ossos), potássio (contra cãibras), ferro (contra anemia); além das vitaminas A (para os olhos e dentes) e B1, a tiamina (para abrir o apetite e fortalecer o sistema nervoso) – sua falta provocava o beribéri nos marinheiros do tempo das caravelas, pois não comiam hortaliças.

É tônico cardiovascular. Expectorante. Antidepressivo. Combate arteriosclerose, dor de cabeça, ressaca, cólica menstrual, má digestão, gases, prisão de ventre. Segundo pesquisas, impede a proliferação de células cancerosas. E pesquisadores do Instituto de Botânica da USP comprovaram: guaraná em pó substitui com vantagem o ginseng, raiz estimulante, afrodisíaca e rejuvenescedora importada a peso de ouro da Coréia e dos Estados Unidos. Anote mais esta: além de fazer o que o ginseng faz e algo mais, o guaraná é nosso. MARCELO LEMOS

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SAIBA MAIS A Lenda do Guaraná: Mito dos índios Sateré-Maué, de Ciça Fittipaldi (Melhoramentos, 1986). Povos Indígenas no Brasil: www.socioambiental.org/pib Macunaíma – O herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade (Villa Rica, 2000)

Mylton Severiano é jornalista.

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Estação Antártica Comandante Ferraz

Do verde ao branco Em 2008, o mais gelado cantinho brasileiro do planeta completa 25 anos. E mesmo a 5 mil quilômetros de distância de Brasília, preserva ainda os sabores de nossa terra em meio à solidão antártica – seja numa cachaça das boas ou num churrasco gaúcho. Na nossa bandeira também há lugar para o branco do continente gelado. Texto, fotos e ilustrações de Heitor e Silvia Reali

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ANTÁRTICA: “ÁREA DE PAZ E CIÊNCIA”, PARAÍSO NEUTRO DA HUMANIDADE.

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ano de 1983 começou diferente para alguns brasileiros. Nada de viagens manjadas como uma praia pela manhã e um samba ao cair da tarde. Em 6 de janeiro, um grupo de 89 pessoas aportava num cantinho fora do mapa do Brasil, transportados para um universo de sensações e descobertas. Eram os primeiros brasileiros a chegar à Antártica numa viagem oficial. Estava dada a largada para um dos programas científicos mais importantes do País.

Desde 1959 vigora o Tratado da Antártica, que torna o continente uma “área de paz e ciência”, com severos sistemas de proteção ao ambiente. A região é hoje um paraíso neutro que pertence à humanidade, palco de pesquisadores do mundo inteiro que para lá se dirigem para estudar a vida passada e futura. O Brasil, sem ambições territoriais, levantou ali sua bandeira e se faz presente na Ilha Rei George, na Península Antártica. É a Estação Antártica Comandante Ferraz.


As paisagens insólitas da Antártica são consideradas as mais belas do planeta. Nas grandes planícies ondeadas por glaciares, algumas vezes são visíveis faixas negras nas montanhas cobertas de gelo e neve. São rochas vulcânicas que ainda se mantêm aquecidas. Nessa natureza minimalista – montanhas brancas, mar e céu – o cenário é sempre cambiante. Conforme o ângulo dos raios solares, mudam-se as cores oceânicas, as do céu e as do gelo. Tonalidades de verde e azul predominam nas águas geladas. Cobalto e tons de cinza para o céu; marfim riscado de negro para as montanhas. O dourado surgirá para desaparecer logo em seguida, dependendo do humor do Sol. E seus raios sobre os icebergs proporcionará um espetáculo novo a cada ângulo. As boas-vindas quem dá são os pingüins reis, os pequenos gentoos, os macaronis (aqueles pingüins com tufos dourados na cabeça). E também as gaivotas, petréis-gigantes, skuas, albatrozes, focas, leões-marinhos e baleias. A Antártica não é nada modesta quando se trata de conquistar recordes. Com precipitações médias de apenas 5 centímetros por ano, é o local mais seco da Terra. Os Vales Secos não recebem uma única gota de chuva há pelo me-

MARIO FIGUEIREDO

A natureza não cobra ingresso

ESTAÇÃO COMANDANTE FERRAZ ABRIGA ATÉ 80 PESSOAS.

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nos dois milhões de anos. É também a região mais fria, com média de -16 ºC, e registrou a mais baixa temperatura do planeta: -89,6 ºC.

Calor além dos trópicos

GENTOOS E MACARONIS DÃO AS BOAS-VINDAS AOS FORASTEIROS.

Durante os verões antárticos (de outubro a fevereiro), a Estação Comandante Ferraz chega a abrigar 80 pessoas, entre pesquisadores e técnicos. Como que para marcar os 25 anos do Brasil na Antártica, o frio não deu trégua. Foi o pior inverno desde que os brasileiros ali desembarcaram. A estação ficou encoberta pela neve. “Não precisamos Março 2008


um pátio coberto. Lá, uma grande churrasqueira e, a seu lado, uma barriquinha “das boas”, onde se lê: Estoura Cérebro. Só mesmo uma cachacinha para amenizar o frio nas horas de descanso. Mas, na hora do batente, o pessoal não deixa a bola cair. Tem que ter a mente equilibrada para suportar o isolamento e o silêncio do continente. Não seria exagero dizer que o branco de nossa bandeira também pode representar nossa presença na Antártica.

DENTRO DA ESTAÇÃO, BOLO DE FUBÁ E CAFEZINHO PARA ESQUENTAR OS FILHOS DO SOL.

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nem ligar os aquecedores. O gelo cobriu todas as dependências e o frio foi blindado como se estivéssemos num iglu”, disse um dos cientistas. Outro brincava: “Lá fora o branco era tão gritante que dava vontade de tapar os ouvidos”. A relação entre brasileiro e frio é sempre tensa. É sinônimo de resfriado, frieira e mau humor. Mas não é o que acontece na Estação Comandante Ferraz. Ali o calor humano prevalece. Nascidos por combustão espontânea da alegria, os brasileiros – estes filhos do Sol – se sentem em casa mesmo sob um frio de lascar. Bolo de fubá e cafezinho estão sempre à disposição numa sala revestida de madeira, que acolhe visitantes e pesquisadores. E, como nesse continente não adianta apelar para seu pistolão no céu, fazer mandinga ou simpatia para garantir um dia ensolarado, há na Estação

NO DESTAQUE, BAÍA DO ALMIRANTADO, ILHA REI GEORGE, ONDE A BASE BRASILEIRA DIVIDE COM MAIS 8 ESTAÇÕES DE OUTROS PAÍSES.

Preste Atenção Antártica ou Antártida? Não há erro algum em utilizar os nomes Antártica, válido por sua origem, ou Antártida, usado por costume internacional, introduzido no Tratado Antártico. O nome Antártica (Antarktikos) se deve ao filósofo grego Aristóteles. Ele julgava que, para equilibrar a massa conhecida do Hemisfério Norte situada sob a constelação Ursa Maior (Arktos), deveria haver no Sul outra massa equivalente. Ou seja, Antarktikos.


Prata da Casa

Nosso homem do gelo D

esvendar enigdos são uma das prinmas em regiões cipais contribuições inóspitas, com armado Brasil para o painel dilhas que escondem intergovernamental fendas gigantescas, da ONU sobre mudanças climáticas”, explinão é feito exclusica o pesquisador. vo de arqueólogos. À Com 18 viagens ao procura de pistas do continente, e com o típassado da Terra, mas JEFFERSON SIMÕES: NOS CRISTAIS DE GELO, A HISTÓRIA DO CLIMA DA TERRA. tulo de primeiro bratambém de olho no sileiro a chegar ao pólo sul geográfico, Jefferson batalha futuro, o glaciólogo Jefferson Cardia Simões, junto com pela construção de uma estação brasileira no interior sua equipe da Universidade Federal do Rio Grande do da Antártica – a Comandante Ferraz localiza-se na Ilha Sul (UFRGS), não espana poeira na Antártica. Dentro de Rei George. Conhecedor das dificuldades de liberatrincheiras, Simões está à cata de amostras de cristais de ção de verbas para projetos ciengelo que guardam a história do clitíficos por parte do governo, proma da Terra. cura ajuda na iniciativa privada e O garimpo é feito por perfurações espera, assim, dar mais um salto que atingem centenas de metros. de qualidade nas pesquisas para As amostras colhidas permitem obter respostas sobre o clima da obter, pela química do gelo polar, América do Sul. um rico arquivo sobre a evolução Bom à beça no que faz e reconhedo clima e da atmosfera ao loncido como autoridade no mundo go de milhares de anos. Jefferson todo, o gaúcho já sentiu na pele conta que esses estudos tornaram os percalços ocasionados por suas escolhas profissiopossível determinar variações da concentração de ganais – seja pela dureza do ambiente em que trabalha ou ses-estufa ao longo dos últimos 720 mil anos, além de pelas dificuldades que qualquer pesquisador brasileiro mudanças de temperatura atmosférica, explosões vulenfrenta para tocar adiante seu trabalho. Mas ele já procânicas, processos de desertificação global, eventos de vou: possui perseverança e determinação capazes de alterações climáticas abruptas e padrões de circulação levá-lo para qualquer lugar do planeta. da atmosfera e dos oceanos. “Os resultados desses estu-

SAIBA MAIS

Antártica, a última fronteira, site que narra as aventuras de Jefferson Cardia Simões na primeira travessia brasileira do manto de gelo antártico: www.ultimafronteira.com.br. Março 2008

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Pesquisa e texto do escritório C ESNIK , Q UINTINO E S ALINAS A DVOGADOS

Qualquer criança me desperta dois sentimentos: ternura pelo que ela é e respeito pelo que poderá vir a ser. Louis Pasteur, cientista francês (1822-1895)

Para denunciar exploração infantil, ligue 100

E

stimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que, anualmente, 1,8 milhão de crianças e adolescentes são explorados sexualmente no mundo. No Brasil, o índice de exploração infantil chega à marca de 100 mil ocorrências. Para enfrentar essa situação, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos disponibiliza o disque-denúncia Ligue 100, serviço de discagem gratuito que tem por objetivo facilitar a denúncia da violência contra crianças e adolescentes e, principalmente, interromper os casos de abuso sexual. A informação é analisada e encaminhada aos órgãos competentes num prazo de 24 horas e o usuário tem a identidade

mantida em absoluto sigilo. Entre maio de 2003 e maio de 2007, o serviço recebeu 33.856 denúncias.

Você sabia? De acordo com a legislação brasileira, são considerados crianças os indivíduos de até 12 anos incompletos; e adolescentes, de 12 a 18 anos incompletos. Para garantir seu desenvolvimento, entrou em vigor em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que explicitou os princípios da proteção integral e da prioridade absoluta, já previstos na Constituição Federal de 1988, e orientou a criação de políticas públicas em todas as esferas de governo.

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EM JUÍZO

SAIBA MAIS

Lamentável meritíssimo Certa vez, um juiz de São Paulo decidiu indeferir a tutela antecipada de um portador do vírus HIV que pretendia obter o fornecimento de medicamentos pelo SUS. Isso porque, segundo entendimento do meritíssimo senhor, a morte não con f ig ura

risco irreparável, posto que somos todos mortais. Consta ainda em sua decisão: Mais dia menos dia, não sabemos quando, estaremos partindo, alguns, por seu mérito, para ver a fa face de Deus. Isto não pode ser tido por dano. E o pior dano é que a história é verídica.

O Instituto WCF-Brasil, braço nacional da World Childhood Foundation, fundado pela Rainha Silvia, da Suécia, apóia projetos e desenvolve programas para proteção dos direitos da criança e do adolescente. Fundado em 1999 e com sede em São Paulo, é uma associação civil sem fins lucrativos com participação em mais de 60 projetos e atuação direta em 10 programas estratégicos de impacto regional ou nacional. Ao longo de sua história, beneficiou mais de 700 mil crianças, adolescentes, jovens, familiares e profissionais de atendimento brasileiros. www.wcf.org.br

Cesnik, Quintino e Salinas Advogados é escritório especializado em entretenimento, cultura e terceiro setor: www.cqs.adv.br.


A alma da História são histórias.

Flanar na história Por Joel Rufino dos Santos

de 50 anos, publicará Filhos e Amantes, denso como o ar das minas que via cá de fora. Escreverá também o poema Uma Revolução Sadia, que começa: If you make a revolution, make it for fun (Se você fizer uma revolução, faça curtindo).

LAURA HUZAK ANDREATO

F

lanar, pelo Houaiss,, é andar ociosamente, sem rumo; perambular. A história é velha cidade, boa de perambular, espiando aqui, sentando ali, sob uma jaqueira ou um olmo, tocando com a mão em uma ruína, entrando num corredor, abrindo um reposteiro. Convido o leitor a vir comigo.

1932

1953 Oswald de Andrade leva Al-

bert Camus para conhecer, na detenção, o famoso ladrão Gino Amleto Meneghetti. “Você quer muito sair daqui?”, pergunta Camus. “Não... Isto é... Na minha idade, com a minha fama... Aqui pego um livro e a prisão desaparece.” Camus entristeceu. “Bom, o que posso fazer por você?” “Me dá um cigarro.”

1806 (22 de março)

Na igrejinha de São Tomas de Ixtlan, México, uma tropilha de índios de Oaxaca batiza um menino. “Que nome lhe queres pôr?”, pergunta o padre. “Judas”, responde o pai.

1970

O velho colono japonês de Araraquara vem a São Paulo atrás do filho que soube preso. De delegacia em delegacia, chega à Operação Bandeirante. Insiste tanto, acampado no portão da rua Tutóia, que o mandam entrar. Na sala de tortura, revestida de eucatex, lhe mostram o filho, em petição de miséria: “Olhaí, seu velho sem-vergonha, o teu filho subversivo”. O camponês (plantava frutas) se dirige ao filho com os olhos marejados: “Filho, me diz só uma coisa, fala a verdade. É maconha?”.

1885 (11 de setembro) Está nascendo em Eastwood, Inglaterra, de parto doloroso, D.H. Lawrence. Dentro

(julho) Num trem das

forças legalistas que vai enfren enfrentar o exército paulista, o tenen tenente Pacífico agüenta solavancos. Só na altura de Resende descobre que poderá matar e morrer. Lu Luterano, recorre à Bíblia em pensamento: Assim foi nos dias de Jó. Os filhos de Deus vieram se apresentar a Yahweh, e entre eles veio também Satanás. Yahweh lhe pergunta: “Donde vens?”. “Venho de dar uma volta sobre a Terra, assim a esmo”.

1986

(4 de janeiro) O filósofo R.C. garante, pela Tribuna da Imprensa, que Antônio Conselheiro (18301897) “conhecia a Bíblia, cujos versículos citava em latim, os Padres da Igreja, como São Jerônimo, São Basílio e São Crisóstomo, teólogos como Santo Agostinho, São Boaventura, Santo Tomás. Conhecia também, e os citava, Homero e Eurípides, Virgílio e Quintiliano”. Fácil imaginar o Conselheiro, na Quixeramobim de 1870, meditando à sombra da sua pesada estante.

1820

(dezembro) Visitando Vila Rica (Ouro Preto), o naturalista Johann Emanuel Pohl foi convidado a uma festa pelo governador-geral. O viajante colecionava plantas e cobras, mas também se interessava por formas de etiqueta. Anotou que senhoras elegantes, na última moda de Paris (exagero de Johann), ao cruzarem pela primeira vez davam um beliscão uma na outra.

Fatos acontecidos e/ou imaginados Joel Rufino dos Santos é escritor e historiador.

Março 2008

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1

sábado

Eudócia

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domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda

Simplício

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Casimiro* Virgílio Inês de Boêmia Ardom Urbano Gregório Nisseno Domingos Sávio Eulógio Inocêncio Nicéforo Matilde Luísa de Marillac João Brébeuf Patrício Eduardo Quintila Alexandra Nicolau de Flue Léia Eusébio Catarina da Suécia Desidério Ludgero Lázaro Malco

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Gaúcho machão

ão gosto muito de contar causo de gaúcho. Tenho admiração pelos fronteiriços. Mas tem um causo de gaúcho que, de quebra, tem um mineirinho pra desanuviar... A história se passou assim: um gauchão, daqueles bem tradicionais, vestido a caráter – pilchado com bombachas, chapéu quebrado na testa, faca na cintura –, entra num empório. Dá um tapa forte no balcão, chamando o vendeiro. Gaúcho – Me dá uma cana! Dupla, que sou gaúcho. E na minha terra só tem macho! Todos no empório olham para ele, inclusive um mineirinho raquítico que bebericava sossegado a sua pinguinha. E o pior da história – ou o melhor – é que o gaúcho disse isso olhando diretamente para o mineirinho. O vendeiro serve o gaúcho, ele vira a pinga num gole e, logo em seguida, pede outra. Gaúcho – Agora com pimenta! Me bota uma

cana com malagueta, que na minha terra só tem macho! Fala isso olhando para o mineiro... Gaúcho (virando num gole) – Me bota outra, tchê! Agora num copo grandão! E me ponha bastante pimenta-do-reino. Eu sou gaúcho macho. Na minha terra só tem macho! Fala isso de novo olhando para o mineiro, que nessa hora arrisca uma resposta bem de leve: Mineiro – Já escutei, sô. O sinhô já falô isso um montão de vez... Gaúcho (para o vendedor) – Ei, tchê. Tu tens creolina aí? Me bota mais uma cana, agora com creolina. Na minha terra só tem macho! Olha para o mineiro e pergunta: Gaúcho – E na tua terra, o que é que tem? Mineiro (falando bem gaiato e mansinho)– Na minha terra tem macho e fêmea. E nóis se dá muito bem...

Jonas Quirino

Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).

Benjamin

#4+'5 (21/3 a 20/4)

ESTAÇÃO COLHEITA

Iniciativa, audácia, comunicabilidade e curiosidade são algumas das principais características do ariano. Decidido, impulsivo e empreendedor, é considerado uma fonte de idéias. Adora a justiça e a liberdade. Costuma ter a mente aberta e não aceita preconceitos. Geralmente procura amizades mais por afinidades intelectuais do que por sentimentalismos.

Nasceu em 1458, na Lituânia, com o título de Grão-Duque. Por pertencer a uma família católica, não quis envolver-se com a política. Renunciou ao trono e optou pelo celibato. Com 17 anos, debilitado pelo excesso de penitência, passa a ajudar o pai no governo da sua cidade natal. Admirado pelos súditos, contraiu tuberculose. Morreu em 1484.

AGLIBERTO LIMA/AE

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Marino

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS? Lima Duarte

O que se colhe em MARÇO Caqui, figo, goiaba, limão, pêra, repolho, tangerina e tomate.

Nova: 7/3 às 16h46 Crescente: 14/3 às 10h31

CARTA ENIGMÁTICA – Em 1957, criou a Praça da Alegria, a mais longeva atração da nossa tevê. (Manoel da Nóbrega) BRASILIÔMETRO – 1: d; 2: c; 3: d; 4: b; 5: a; 6: d; 7: b; 8: a. O QUE É O QUE É? – Buraco

ENIGMA FIGURADO – Zé do Caixão

SE LIGA NA HISTÓRIA: 1c [Abaporu, de Tarsila do Amaral]; 2a [A Boba, de Anita Malfatti]; 3d [Cinco Moças de Guaratinguetá, de Di Cavalcanti]; 4b [Lavrador de Café, de Candido Portinari].

“QUEM DECIDE PODE ERRAR, QUEM NÃO DECIDE JÁ ERROU.”

Karahjan

Cheia: 21/3 às 18h31 Minguante: 29/3 às 21h42


Bamba do Império desfila sambas próprios em estréia solo Nelson Cavaquinho gravou o primeiro disco aos 59 anos. Cartola, aos 65. Seguindo essa curiosa tradição dos nossos sambistas, o carioca Zé Luiz, 62, está com seu primeiro disco solo na praça: Zé Luiz do Império Serrano. Compositor, co-fundador e atual presidente da Velha Guarda da escola, já teve suas músicas gravadas por Alcione, Fundo de Quintal e Roberto Ribeiro. O CD, produzido em 2005 com tiragem de apenas 500 cópias, é relançado agora com melhor distribuição. Como todo bom sambista, Zé conta com a parceria de bambas: Nelson Rufino, Nelson

Sargento e Wanderley Monteiro, entre outros. Paulão Sete Cordas produz o disco em que o compositor revela sua voz límpida em interpretações elegantes da própria obra. Entre os 12 sambas, destaque para Caído com Elegância, parceria com Nei Lopes, repleta de boas sacadas: Você que freqüentava a elite cheio de convite RSVP / Hoje tem correspondência farta / Mas é só de carta do SPC (...) Você que nas férias curtia Miami, Bahia, Paris e Havaí / Hoje enfrenta um tremendo dilema / Entre Saquarema ou então Muriqui. (RC)

Folia de Reis Registro de grupos de vários Estados no Encontro de Folia de Reis do Distrito Federal. Gravado em varandas, terreiros e casas comuns.

Roda que Rola Trilha sonora do saboroso espetáculo teatral ambientado no Vale do Jequitinhonha, pelos grupos Ponto de Partida e Meninos de Araçuí. Amor e Caos Sensação da nova MPB, Ana Cañas reparte o disco de estréia entre composições próprias e versões de Caetano Veloso, Jorge Mautner e Bob Dylan. 33

O jardim do Brasil Uma vastidão de palmeiras imperiais a adornar a cidade maravilhosa, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro é freqüentemente apontado como uma das boas obras proporcionadas pela vinda da Família Real portuguesa para o Brasil em 1808. Em O Jardim de D. João, a jornalista Rosa Nepomuceno conta as transformações sofridas pelo parque até os dias de hoje. No início, foi escolhido como o lugar a se cultivarem as tão desejadas especiarias asiáticas. Das primeiras plantas a serem aclimatadas ali, Rosa destaca a areca, uma espécie de palmeira que o imperador fez questão

de ser o primeiro a plantar. Mas nem tudo são flores nesse éden pantropical. Anexado ao Imperial Instituto Fluminense de Agricultura no reinado de Pedro II, o Jardim Botânico mais famoso do Brasil foi transformado em uma escola prática de horticultura, contrariando a função original. Ali floresceram milho, feijão, cacau, café e até fumo. Só em 1890 o Jardim Botânico começou a retomar as feições que atraem turistas do mundo todo, tornando-o um (DG) cartão-postal do Rio de Janeiro. Casa da Palavra, 180 p., R$ 58.

Revista do IEB – nº 45 Instituto de Estudos Brasileiros Artigos, resenhas e notícias do mundo acadêmico reunidos na revista de um dos mais tradicionais institutos do gênero no Brasil, o IEB. Editora 34, 290 p., R$ 20.

Frevo: 100 anos de folia Lygia Falcão (org.)

Apanhado de textos e fotos do gênero musical que há um século contagia foliões de todo o País. Timbro, 244 p., R$ 95.

Almanaque da Rádio Nacional Ronaldo Conde Aguiar

Na pesquisa transformada em livro e CD, uma reunião de personagens, programas, artistas e radialistas que passaram pela principal rádio brasileira. Casa da Palavra, 186 p., R$ 49. Março 2008


CUSTOSO SEGREDO O rapaz sussurra para o amigo: – Você é capaz de guardar um segredo? – Claro... Amigos são para essas coisas. – Bem, estou precisando de mil reais emprestados... – Pode ficar tranqüilo. Vou fazer de conta que nem ouvi!

“Quando o dinheiro fala, tudo cala.”

GRAVE AMNÉSIA A mulher está com um problema de memória e vai ao médico: – Sabe, doutor, às vezes uma pessoa acaba de me contar algo e eu logo esqueço. – E desde quando a senhora sente isso? – Isso o que, doutor?

Dança A dança é uma arte que consiste em tirar depressa o pé antes que o outro ponha o seu em cima.

Viagem de núpcias

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FUNCIONÁRIO NOVO Numa cidadezinha do interior, o vendedor oferecia o maravilhoso Elixir da Longa Vida: – Todo dia tomo uma colher deste elixir. Já estou com 300 anos! Decidido a desmascarar a charlatanice, um morador perguntou ao garoto que trabalhava com o forasteiro: – Que história é essa? Seu patrão já viveu mesmo 300 anos? – Não tenho certeza – respondeu o menino. – Só trabalho para ele há 120 anos.

Os recém-casados chegaram à estação da estrada de ferro para iniciar a viagem de núpcias. Ela, muito nervosa e emocionada, sentia-se constrangida com os olhares indiscretos daquela gente estranha à sua felicidade. Foi nesse momento que ela dirigiu um comovido apelo ao não muito jovem esposo: – Meu bem, por favor! Vamos ver se nos comportamos, agora, de tal forma que esses basbaques pensem que estamos casados já há muito tempo... – Está certo – concordou o recémmarido – e, então, vai tu carregando já estas malas. Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

ESTIMATIVA GROSSEIRA A mulher dirige pela estrada à toda velocidade. Um guarda a faz parar: – Quando a senhora passou lá pelo posto rodoviário, eu calculei 90, no mínimo! – Errou longe, seu guarda. Eu só tenho 37.

Laerte

RECADO AO LEITOR Mande suas histórias, causos, fatos anedóticos. Desde que provoque pelo menos um riso. Se provocar gargalhada, melhor. Divida seu bom humor com os vizinhos de poltrona. redacao@almanaquebrasil.com.br / Rua Dr. Franco da Rocha, 137 – 11º andar – São Paulo - SP – CEP 05015-040.

“GÊNIO É A HABILIDADE DE REDUZIR O QUE É COMPLICADO A ALGO SIMPLES.”

C.W. Ceran


AnĂşncio publicado na revista O Cruzeiro, em 1962. Imagem cedida por www.casadoposter.com.br



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