Lastros de existências - Homenagem aos Professores de Dois Irmãos

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LASTROS DE EXISTÊNCIA

Outubro, 2015 [3]


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LASTROS DE EXISTÊNCIA

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Ficha catalográfica: GRUPO: IRMÃOS DE DOIS IRMÃOS Lastros de Existência Dois Irmãos – Tocantins – Brasil Livreto Homenagem - poesia

GRUPO: IRMÃOS DE DOIS IRMÃOS Lastros de Existência 37 p.; il. Dois Irmãos – Brasil [6]


_ Lastros de Existência, Alufa Licuta Oxoronga

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INTRODUÇÃO

O Projeto Lastros de Existência surgiu de forma espontânea, de uma conversação em redes sociais, em um grupo de WhatsApp denominado Irmãos de Dois Irmãos, cujo objetivo é o de aproximar velhos amigos que, em decorrência do tempo e/ou das atividades laborais de cada um, encontram-se desgarrados, separados, desagregados. Portanto, em uma conversa despretensiosa, um membro do grupo, Edivan Ribeiro, lançou a ideia, pois nutria em seu peito e alma homenagear mestres que outrora ensinaram o oficio do saber no Colégio Presidente Castelo Branco, em Dois Irmãos, torrão natal de todos nós. Com isso, após a semente lançada ter sido acolhida pelo vento da semeadura, restou saber que fruto produziria, se fértil, primoroso e com fartura, ou, minguado, grosseiro e laverca, como também, qual sabor, se doce, azedo ou agridoce, bem como, qual a consistência, se em polpa de prosa ou de verso. O certo é que o tempo estava propício à semeadura, a colheita foi farta, os grãos estavam postos nos silos (livreto) à espera da degustação, mas faltava o nome, a marca, o registro, fase esta que se constituiu uma das mais demoradas, pois a patente requeria singularidade e subjetividade para que houvesse a devida aceitação, assim, de imediato pensou-se em lastreamento de vida, pois disto é que se constitui o grupo e se constituiu a vida de cada membro com seus antigos mestres, uma vivência permeada por Lastros de Existência. [7]


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Lastros, substantivo masculino, no sentido de base, fundamento, firmeza, depósito, compartimento, ou, como se conhece no nordeste, madeiras que formam o corpo das jangadas, que lhes dá estabilidade. Esta também é a função do mestre/professor, lançar a base, ensinar os fundamentos, permitir ao aluno o conhecimento, firmá-lo nesta descoberta, servir de depósito onde o aluno encontra os ensejos de suas almas, tirando todas suas dúvidas e apreensões, permitindo ao aluno um lugar de encontro. Existência, substantivo feminino, no sentido de alicerce, assento, base e fundamento. Remete também a vivência, subsistência, modo de ser e ver, ação de se fazer presente. Esta é a função primária e primordial de se existir, tanto a alunos quanto a mestres/professores, desta forma, a escolha pelo título estava posto, haja vista ter sido esta a intenção do grupo, fazer existir a existência das lembranças dos grandes professores do Colégio Presidente Castelo Branco, que, até então se mantinha na oralidade, tanto a existência existida, dos que já se foram, quanto a existência existindo, dos que permanecem entre nós, dando suas contribuições diárias aos lastros do nosso viver. Haidegger entende que o ser humano é um ser imperfeito, aberto e inacabado, lançado ao mundo sem a sua devida anuência ou querência, dado isto, perpassa a este Ser-aí, ou Dasein, uma contingência de adversidades, levando este Serno-mundo as dificuldades e obstáculos que a existência lhe impõe, marcando-o pelo sentimento da angústia, que, segundo Heidegger, é a característica principal e fundamental da existência humana, que possibilita o Dasein a encontrar sentido na vida e na existência de vida, levando-o a dar novas significações a si e ao mundo, desvelando-o à sua plenitude existencial. [8]


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Portanto, aguçado na angústia de escrever acerca dos grandes mestres/professores que serviram de fundamento e base para o Colégio Presidente Castelo Branco, estando ao mesmo tempo residindo há quase 2.200 km de distância, sem possibilidades de se lançar mão da pesquisa bibliográfica, ou de campo, tão somente lhe sendo dado recortes destes extratos pesquisados, através de coleta empírica com os membros do Grupo Irmãos de Dois Irmãos e das minhas próprias reminiscências, algumas, vindo em forma de substratos, o que se constituiu angustiosa experiência, mas de um sabor indizível, ao vê-la finda, O certo é que o pontapé inicial foi dado, a semente fora lançada, espero, sinceramente, que outros lavradores de esperanças possibilitem o desejo de continuar o plantio, pois, da mesma forma que a priori não existe uma natureza humana pronta e acabada, as vivencias de cada mestre/professores que sedimentaram o solo da, então, pequena Dois Irmãos com seus conhecimentos, estão abertas ao futuro, à semeadura, à colheita. Resta-nos, portanto, por a mão no arado e não pararmos no meio do caminho, seguirmos arando o solo às novas sementes, trazendo em nossos peitos e almas nossa ânsia/facticidade por outras aberturas e por novos existir em existências fácticas de ser, nos permitindo vivenciar todos os Lastros de nossa Existência nas Existências dos outros.

Alufa-Licuta Oxoronga

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AGRADECIMENTOS

Fazem-se necessárias algumas explicações iniciais. O Projeto Lastros de Existência – Homenagem aos Professores do Colégio Presidente Castelo Branco, contou com a colaboração imprescindível do Grupo Irmãos de Dois Irmãos, onde cada membro contribuiu de forma precisa e singular na Organização e Elaboração deste Livreto/Homenagem. Explicações dadas, os agradecimentos vão, em primeiro lugar à Deus, que nos ilumina de forma grandiosa e nos rodeia e nos ajuda com sua imarcescível Graça a cada momento de nossas vidas, em segundo lugar, a todos os mestres que foram mencionados neste Projeto, tantos os que ainda gozam de um viver diário, quanto aqueles que já foram para um plano superior e descansam em paz de suas laboriosas jornadas terrestres, bem como, aqueles que, por algum descuido (nunca por esquecimento) não tenha sido citado, mas que também contribuíram (ou ainda contribuem) para o engrandecimento da educação, seja em Dois Irmãos ou em outras plagas deste imenso Brasil. Posteriormente, externo os agradecimentos a cada membro do Grupo Irmãos de Dois Irmãos mormente ao Edivan Ribeiro, que foi iluminado com a ideia da homenagem e me repassou a incumbência de concretizá-la, bem como, os demais membros, que se engravidaram da ideia e seguiram em frente até que as dores do parto viessem, e o rebento enfim se viu nascido.

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A alegria nĂŁo chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender nĂŁo pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. Paulo Freire

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Em Dois Irmãos há fartança De gente amável e querida, Que a cada vivência inferida Traz em recordo e lembrança -Qual fosse uma viva aliançaExpressões de sentimentos. São destes ímpares momentos Vindo assim, íntegro e atual, Que o nosso encontro virtual Junta os fatos aos fragmentos.

Usando da licença poética Que nos permite descrever Tanto o que se pode viver Quanto a que a apologética Ensina-nos, usando a ética, Toda criatividade inventar, Neste dia queremos ousar, Falando dos concidadãos Que fizeram de Dois Irmãos Um Celeiro para se sonhar.

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Muitos foram os professores No Colégio Castelo Branco Que nos deram um solavanco A termos dias tão promissores, Onde podemos, em primores, Olharmos sem medo o passado E termos, no caminho andado, Valorização pelo magistério, Pois cada mestre, rindo ou sério, “Deram conta do seu riscado.”

Hoje, em tempos tão modernos, Cibernético, volátil e digital, De relações efêmera e artificial, A figura antiga dos cadernos Soa-nos, suavemente ternos, Parecendo o som de xilofone, Pois tablete, Nots e smartphone Entoam o ritmo do momento, Até parece que a cada invento O afeto será dado via drone.

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E antes que finda a inspiração E minha alma venha a esquecer E o folheto eu deixe de escrever Falarei do que me vem ao coração Em verso que parece abstração: Foi durante o império do Brasil Que Pedro I, em designo de edil, Escolheu, em um dia meio rubro, O décimo quinto dia de outubro Para lembrar, do mestre, o perfil.

Desde então, no Brasil por inteiro Comemora-se o dia do professor, Figura que se entrega com amor E com a técnica de hábil arqueiro Ensina, do gari ao engenheiro, A busca do desvendo da ciência, E assim, com cautela e eficiência Promove ao alunado rico saber, Permitindo, pelo estudo, absorver Os lastros da própria existência.

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Eles, que vieram a este mundo Com a missão sublime e singular Nos mostra, pela arte do ensinar, O quão é rico e bem profundo Vasto, misterioso e fecundo, O caminho que faz o professor. A cada história vemos o valor dado com amor e com carinho Fazendo, das letras, o caminho Como céu, riscado pelo condor.

Com, amor, suavidade e virtude Esmera-se o mestre na escrita Ensina, a quem quer e necessita, A ter na vida em nova atitude. E a sua mais gloriosa gratitude É ver as notas azuis no diário E do aluno, o rico vocabulário, Em desenvoltura aparecendo E a aprendizagem nascendo Entre livros, lápis e dicionário.

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Da grande cidade ao povoado Do pobre mendigo ao doutor, Todos sabem, que o professor, É antes de tudo, um abnegado, Mesmo não sendo valorizado Qualquer que seja o terrestre, Andando de carro ou pedestre, Em um equilíbrio oportuno Já foram em suas vidas aluno E sabem o valor de um mestre.

Nos desafios e dificuldades Que fazem parte da sua vida Não há um sequer que desdita Do professor, infinita vontade, Tem gana, garra e hombridade Em vencer todos os embaraços E vai conquistando os espaços Em sua incompletude de gente, Fazendo da lousa, o expediente, E do giz, vida prenhe de traços.

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Trabalha de noite e de dia Em meio a muitos exercícios, Grandes são seus sacrifícios No busca de diária sabedoria. Buscando a colheita da alegria Traça toda a história de luta Em um sabor doce de fruta, Ao gosto da terna infância, Ao se colocar em importância Como um formador de conduta.

Como quem o chão cavuca Em busca de rico tesouro Não é de prata ou de ouro E nem de uma frágil cumbuca A profissão de quem educa. Sem almejar qualquer riqueza Põe o pão por sobre a mesa Com humildade e decisão, Tendo como mérito a lição De uma vida em sua inteireza.

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Nas constâncias do querer Alguns perduram suas vidas Aos apanhados das lidas Argumentando cada saber, Outros, buscando conhecer As nervuras da educação Apanham a vida pela mão Costuram luta aos sonhos, Enfrentam dias enfadonhos Aos inventos do coração.

Portanto, a este rico universo De uma prospera aventurança, O meu coração se esperança A anunciar em forma de verso Exemplos, um tanto reverso, De alguns nossos concidadãos. Buscando da vida seus vãos Falarei de alguns professores Que se tornaram precursores Na nossa Cidade de Dois Irmãos.

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O professor Carlos Gabino Quando queria ter atenção Tocava os óculos com a mão Fixando-nos seu olhar cabotino. Conhecia menino por menino E cada qual com o seu talento , E quando havia um só intento De traquinagens mais sérias, O professor inflava as artérias Calando a todos no momento.

No ofício da viva linguagem Costumava ser duro, rigoroso, Na linguística, um primoroso, Na retórica, tirava vantagem, Pois conhecia leito e margem Do nosso riquíssimo português O Bonfim, o Almir e o Ibonez, Sofriam nas mãos do mestre, Pediam à Deus que o semestre Acabasse logo de uma vez.

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O professor Pedro Arruda Em linguagem pragmática Ligava a moral à sintática Em explicação bem miúda, Quase de forma tronchuda Gesticulava fortes as mãos Falava de Judeus e Pagãos De honra, pátria e nobreza, Espalhava tudo sobre a mesa Moldando-nos em cidadãos.

Usando a vasta simbologia De seu extenso viver diário Falava-nos de seu fadário Em contornos de pedagogia. O Professor Pedro Dizia Que humildade e decência, O amor, a paz e a sapiência Formam o caráter de um ser, Bastando-nos apenas crer Nos inventos da existência.

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Nos cálculos da vil tabuada Antônio Arruda era dureza, Exigia uma total destreza À cada uma resposta dada, Com a fala longa, pausada, Perguntava de baixo pra cima E para dificultar mais o clima De cima ia logo para baixo, Deixando o aluno cabisbaixo Diminuindo na hora a estima.

Raniere, Rosa, Cícera e Edivan Se não me falha a lembrança Desfazia do sonho a esperança E ardiam a ‘cuca’ a cada manhã Quando o mestre Arruda em afã Olhava os alunos bem de frente E ofertando, do grego, o presente Abria a sua intrigante tabuada. As horas à fio na madrugada Não serviam de nada pra gente.

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E ainda que ninguém acredita Havia, nos tempos de escola, Uma professora show de bola Que ‘encarcava’ no peito a birita Igual fosse um insone eremita Que não se pode a vida abalizar, Zenilda, de um glamour sem par, Trazia em na mão uma varinha E não se achando tão boazinha Os alunos começava a açoitar.

Em uma conhecida ocasião Quando ela bebeu sua caninha E não sabia se ia ou se vinha O Guilherme, com muita atenção, Deu-lhe, rapidamente a sua mão E a pôs na sela de sua bicicleta, Com porte parecendo de atleta, Empurrou-a pela ladeira acima, E todos riam daquela obra prima: A mestra bêbada e o aluno asceta.

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Tibúrcio, Professor de talento, Na vida, um eterno felizardo, Nunca se ateve a um fardo Sempre foi prestativo e atento. Com o inglês, diário alimento, E com o saber, semente na mão, Alentava os sonhos ao coração. E com fé em Deus, suave elegia, O Professor Tibúrcio refletia Os adventos de sua subjetivação.

Na leitura: Machado de Assis, Graciliano, Clarice e Raquel, Dostoievski, Amado, Manuel, Mario, Oswald, Reis, Beatriz Eram tidos em uma só matiz, Em um só pensamento altaneiro, Tibúrcio lia de um modo inteiro Toda a enciclopédia universal Para uns, um mestre sem igual, Para nós, Pantheon Brasileiro.

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Em Dois Irmãos se reconhece A fama que a todos convém, A uns, o que para si adquém A outros, o que lhe apetece Tendo a vida igual um prece Vindo em cheiro de açucena, Deste jeito, a Shandra Senna Sem disfarçar de sua missão Nos cobrava o rigor na lição Com sua tez branda e serena.

Com todos os cuidados na fala Para que não ferisse ninguém, Shandra Senna (lembro bem) Ao se postar em frente a sala Considerávamos como opala Rara e Bela, segura e precisa. Vinha-nos em forma de brisa Aos nossos sonhos de aluno, Que, a cada momento oportuno, Chamávamos de gentil poetisa.

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Não podemos nos esquecer De nossa amável Leila Maria Que na arte da datilografia Possibilitou-nos conhecer Pelas maquinas de escrever Da digitação, seus rigores, Mostrou-nos Leila as cores De um saber passado distante, Para vermos quão importante A sapiência dos professores.

Em nosso horizonte possível Naquela distante Dois Irmãos, Tínhamos o destino nas mãos A cada amanhecer inextesível, Víamo-nos em afã tangível Quando a Mestra Leila Maria Tomava suas mãos como guia E encobria da máquina o teclado Apesar deste jeito arrevesado; Aprendíamos a tal datilografia.

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Igual o mar, vasto, profundo, Que traz em si um mistério, Clovis Dias, sem impropério, Nos números, era fecundo, A matemática, o seu mundo, Ensinava com muito amor Cada historia tinha o valor, Ao mais velho à terna criança Na descrença ou na esperança Mostrou presteza, o professor.

Muitos conhecem a história De suas aulas discursivas, As vezes, quase subversivas, N’outras, quase inquisitória, Tirava-nos o sono a estória De escrever sobre matemática E maior era a problemática Ao enumerar dados e valor Que o Mestre Clovis sem dor Desenvolvia com hábil prática.

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A professora Vanda Santiago Que se esmerava no desenho, Via em nós, a cada empenho, Cisnes negros em meio ao lago, Não via a mestra o olhar vago Que lançávamos além-janela, Que escondíamos, por cautela, De sua indescritível gentileza, Não via a mestra quão clareza Nossos olhos miravam ao dela.

A amável mestra não percebia Que os nossos rústicos rabiscos Que se assemelhava aos viscos De tecido gasto e sem serventia Era a única maneira que havia De mostrarmos à mestra Vanda O quão a tínhamos por veneranda O quão os olhos miravam os seus, O quão rogamos ao nosso Deus Por vê-la debruçada em varanda.

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A nossa professora Eva Mota Como se fosse um andorinho, Esboçou sua vida e caminho Tendo o ensino como sua rota. Bebendo as águas desta grota Dispôs-se a um único planejo Ter como seu foco e traquejo A Lousa, o giz, o caderno. Na palavra buscou o interno, Na vida, esperança e ensejo.

Não se esmoreceu nas lutas, E nem se encurvou os desafios, Traçou a vida, fios sobre fios, Em seus novelos de labutas, Primou as inúmeras condutas A ter um exemplo perspicaz, Com o seu olhar ávido e sagaz Nos alimentou de ávido querer Nos dizendo, pelo modo de ser, Que a vida nos pede pertinaz.

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A Nery, a Neuza, a Cresoltina, A Maria Dalia, a Ilda, a Dinorá A Raelza, a Marli, a Rosemar, A Bonfim, a Merces, a Etelvina, Cada uma delas teve por sina O chamado calmo da geratriz. Todas elas, por locomotriz, O gosto agraço da educação. Todas, por distinta vocação, A matiz da lousa e o pó do giz.

As três conhecidas Terezinhas: A Cunha, a Oliveira e a De Jesus, Cada uma alcançou distinta luz, Nas lousas, cadernos e linhas. Cada uma, como três avezinhas Aos quereres do distinto voar Deram-se ao indiscutível ensinar. Cada uma, em grande inteligência Fomentaram a todos a consciência De todo o conhecimento repassar.

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Grande é a lista dos professores Que Ensinaram no Castelo Branco E que de modo sensível e Franco (Iguais nos jardins as vivas flores) Vivenciaram os seus bastidores Entre cadernos, diários e boletim. Dentre eles, a Lurdes do Zé Bonfim -Qual penitente em uma procissãoFez do ensino sua devota missão Cantando a vida ao som de bandolim.

Esta mestra, de profícua fidalguia, Herdou de sua mãe, dona Alcina, (Parteira de menino ou de menina Em Dois Irmãos e demais cercania) O ser brilhante de uma estrela-guia, E que ainda escreve a sua resenha Entre bilros, labirintos e fogão à lenha Na mesma residência de outrora, Olhando a vida passando sem demora, Sentindo o que d’Alma lhe provenha.

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A Maria do Carmo e a Margarida A Rosa, a Domingas, a Raimundinha A Creuzolita, a Eva, a Dominguinhas Todas deixaram suas lições de vida. Na Educação, cada vida envolvida, De forma única, direta e oportuna, Permitindo a cada aluno ou aluna, Acesso irrestrito ao conhecimento. E Dois Irmãos, pequeno aldeamento Se refazendo em uma quinta coluna.

A todos os mestres, minha estima, A todos, emoldurada admiração, Quem veio à mente e fiz menção Deixo-os, a celebração da vindima, Nisto, a minha alma se legitima, Trazendo a todos, amor pertinaz, Pois cada um, do velho ao rapaz, Deixaram suas marcas na história, E, aos que já foram para a glória, Deus lhes conceda uma longa paz.

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E aos que ainda gozam da vida E creem que haja novos sonhos E ainda que em dias enfadonhos Modulam uma alegria repartida, Deixo a estes, amizade envolvida, E meu desejo de dias mais felizes, Que possamos olhar suas diretrizes E a cada caminho, a cada Devir, Possamos de fato nos constituir No que somos: eternos aprendizes.

A ternura, o afeto; primaz excelência, A virtude, a vitória; emoção singular, O passado, o presente; oferta sem par, O amor, o sonho; inteira abrangência. Sentimento de ser, viva congruência, Ensino, dedicação; um distinto valor, No suster dos dias, antigo idealizador, Uma escolha sincera a cada caminho, Lendo e ensinando, afeto e carinho O ser que se afora, amável professor.

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