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O JARRO DE BARRO ENTULHADO DE VIDA & FLORES NO CANTO ILUMINADO DA SALA
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O JARRO DE BARRO ENTULHADO DE VIDA & FLORES NO CANTO ILUMINADO DA SALA ___________________________________________
Alufa-Licuta Oxoronga
REDENÇÃO - PARÁ [5]
Título Original O jarro de barro entulhado de vida & flores no canto iluminado da sala
© Copyright by – Alufa-Licuta Oxoronga 2021 Programação Visual: Alufa-Licuta Oxoronga Revisão: Alufa-Licuta Oxoronga Arte da Capa: Symone Elyas Redenção: 2021. ISBN 1. Literatura Brasileira – Poesia 1. Spina 1. Título
_________________________________________ Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito do Autor.
O jarro de barro, entulhado de vida & flores, no canto iluminado da sala
300p.; il. SPINA [6]
Dentro de mim, vão nascendo palavras líquidas, num idioma que desconheço e me vai inundando todo inteiro. Mia Couto
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NO ILUMINAR DA SALA, PELAS INTERCORRÊNCIAS DO DIA, A VIDA NOS OFERTA SEUS JARROS DE FLORES EM FÁBULAS OU EM UMBRAIS DE VIDA “Não ousar é perder-se” Soren Kierkegaard O gênero literário denominado SPINA está para mim, tal “O Grito”, para Much; o “Abaporu”, para Tarsila; o “Guérnica”, para Picasso ou os “Retirantes”, para Portinari. É matéria pacificada em minha natureza frugal. Já não sei de quantos tempos, ou eras, ou de heras e templos foi constituído o meu ser, aos arroubos spinaistas. O que sei (de forma intrínseca) é que o SPINA chegou e, do meu ser fez morada. Já se agiganta o tempo para quase duas eternidades de existências e muito ainda tenho por aprender, por vivenciar, por compartilhar. Seja dos sentires, seja dos olhares, seja dos sonhares. Mal havia parido o “Dos Quintais da Casa Verde – Evocações & Elucubrações” e já instava o meu ser em compor um novo livro, mas me faltava o título, o fio condutor que me leva a compor desde os ermos tempos das primeiras criações. Sempre foi assim, assim tem sido e, pelo jeito, será assim até que o barqueiro me convide a subir na canoa, para a última travessia. Sempre componho um livro a partir do título, como se fosse uma velha tecelã, em meio a labirintos, rendas, fusos, bilros, piques e almofadas. Talvez inspirado em mamãe, teodorinha, tecelã de primeira e uma hábil contadora de história.
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Gradativo, tenho contado minhas histórias, narrado meus olhares e externado meus sentires pelos livros que componho, sempre a partir de um título. Já se configura em terreno de encantações, ou mistério. Manifesta-se, em mim, em conhecida lavradura. Em estreita linguagem de troca, de imersão, de convivência. E, não demorou tanto e lá estava o título, à minha espera, em manifestos de “Um jarro de barro, entulhado de vida & flores, no canto iluminado da sala”, como se o sagrado se misturasse entre as palavras e povoasse o meu caminho, em um faz-se-conta belo e mágico, em distinção de SPINA. Percebendo as in_corporações do tempo e as suas nuances indeléveis, entremeio as i_materialidades dos acontecimentos, não perdi tempo. Um tiquinho de dias e já se iam boas parcelas de SPINAS compostas. No ritmo frenético alufariano de ser. Em condução emergente (e urgente) de vínculos e, em sustentações de existir, na ocupação dos abraços e dos afetos, em festejos polifônicos de intertextualidade poética dinâmica, agregadora e mutável, contidos de gestos, folhas, flores, jardins, quintais, jabutis, curiós, ararinhas, risos, horizontes, diálogos, ranhuras de almas e alguns emudecimentos. Mal me apercebi e o livro estava pronto. Em riso fácil e largo, revelando alegria e gozo, acionei a impressora e lá estava o boneco do livro, prontinho em minhas mãos. Antes do afago primeiro, como sempre faço, folheei-o devagar, folha por folha, alimentando-me de sua grácil reciprocidade, em que palavras, de inconfessa utopia, se elevam harmoniosas, em entrega quase filial, entrelaçando linguagens e sensações tácteis, em [ 10 ]
tentativa dialógica de entrega e afeição, de vínculos e inclusão, de inspiração e respeito, em que o autor e livro, em unicidade de pertencimento, se dão, em exaltação de fé. Por um longo tempo, mais do que se devia ou se pretendia, permanecemos ali, eu e o livro, em unicidade comunitária e solidária, calados, resplandecidos em transcorporeidade poética, um ao outro, em encontro concatenado d‟uma mesma existencialidade mundana, refeitos e afeitos em partilha dialógica que o silêncio e o tempo teciam, conjecturando perguntas e respostas que, sabíamos irrelevantes ante processo árduo e contínuo da jornada que findava em símbolos gráficos e mãos, em trabalho e consolidação, em caminhos e horizontes partilhados de um mesmo mistério. Consciente do feito percorrido e diluindo obstáculos e conquistas, dei-me ao processo de re_leitura. Avançando folha por folha, em um andar mais emblemático, mais demorado, mais reflexivo e empático, estalando os olhos em nova (e excessiva) aprendizagem. O livro ali, em minhas mãos, em sutis in_confidências, dizia-me das acontecenças e das inteirezas do meu existir e, no processo da lei_tura, partilhávamos de paredes e alpendres, de jardins e quintais, de fontes e coivaras, de olarias e ninhos, de fadigas e progressos, de rios e portos, de nuvens e quaradouros. Em clareza de sentir. Agora, habitando os labirintos do leitor, e não do autor, em um reconhecimento de campo e solo, de lavra e fogo, de aceiros e sementeiros, vi-me apanhado de inconteste receio, envolvido a um exercício de plantio e segadura. Experienciando ciúmes, angústia e [ 11 ]
desapegado acolhimento. Já não era o livro, mas eu, o estranho. Os fios soltos imersos na tecedura do livro se faziam presentes, tentadores, intangíveis, emulativos, intempestivos, cheios de si, incorporando arranjos e embaralho no meu olhar, como se me quisesse disciplinar, domar aos seus cultivos de tempo e exercício de silêncio. Em suspiro longo e prolongado, ouvindo a sonoridade, quase imperceptível, das folhas do livro sendo manuseada pelas pontas dos dedos de minhas mãos, tal as folhas de uma roseira, caindo de um jarro de barro, entulhado de vida & flores, no canto iluminado da sala, fui gestando cada texto em trabalhos de demorado parto. Dividido em noves ciclos, lembrando as apresentações de uma gestão, sendo o primeiro intitulado “Evocações na caminhada – Encantações & Sensações”, em que traz dois textos em feitios de carta, com os contornos e re_desenhos de antigas conversas, entre dois e velhos amigos. O segundo ciclo, intitulado “Jarros & Flores – A iluminação da vida em colheitas de SPINAS” acrescentam-se 104 composições spinaistas, nos mais diversos temas e olhares, incorporados em infinitas acontecenças de vida e exaltação de existir. O terceiro ciclo, intitulado “Sala iluminada de vida – Trinta colheitas de uma longa semeadura”, é constituída de trinta SPINAS em diálogo permanente com a parte que a antecede, em registros aprendentes de tempo e de espaço, de instantes e eternidades, de amanhe_seres e anoite_seres, em uma coreografia delicada de luminâncias e memórias florescidas. [ 12 ]
O quarto, “Sopros de amanhecer – Emblemas & Suspiros”, traz doze amanheceres. O Quinto “Acariciar d‟um afeto – O destampar da saudade em engendres de alegria”, em forma de rosa solitária, ofertada à amiga Maura Luza Frazão, florescido e em intrínseca saudade. O sexto ciclo, intitulado “Crianças e suas criancices – De afetos encantativos & Carinhos cultivados”, é constituída de cinco peças lúdicas e interpretativas, na forma de um julgamento, em que o mentor do gênero SPINA, Ronnado de Andrade, é tido por culpado por não ter disposto o SPINA a mais tempo aos ávidos e in_suspeitos leitores. O sétimo ciclo, “Brincadeiras no mundo Spinaista – Causos sobre fatos familiares”, envolve sete causos escritos a partir da vivência intrafamiliar do autor, que primaveram entrâncias líricas de um alongado e caprichoso convívio entre coisas, gentes e bichos. O oitavo ciclo, “Comentários esparsos – Dos sentires, dos fazeres, dos sonhares”, composto de 56 comentários de escritores spinaistas em publicações junto ao Grupo SPINA. O último “Poemas diversos - Alinhaves & Bordduras em fios de afetos”, contém poemas aleatórios, em desembucho de palavras, gestos e respiros de afetos. Instalado um epílogo, eis o livro. Boa leitura!
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A ARTE ALUFARIANA PLURALIDADES E FRAGMENTOS Para nascer, nasci, para conter o passo de quanto se aproxima, de quanto me golpeia o peito como um novo coração tremente. Pablo Neruda Quando se lança aos olhos do mundo, o poeta, muitas vezes não tem a exata noção do real alcance de seus versos. Sua contribuição é dinâmica, plural e paira sobre uma síntese singular. Tomado pelas influências e fragmentos que o entranham, compõe e move sua verve poética. Alufa-Licuta Oxoronga constrói sua escrita sob influências que o rondam desde a mais tenra idade. Como poeta que é, sempre sentiu a presença dos seres que o norteiam, algo que muitas vezes escapa ao seu próprio entendimento, (puro mistério). Traz em suas obras e criações artísticas, algo além de arte poética e toda gama teórica constitutiva, contando através destas, suas histórias com: vicissitudes, fases e contextos aos quais esteve e está inserido. Destacando seus efervescentes e porque não dizer, mágicos trabalhos. Alufa-Licuta sempre foi poeta, mesmo quando ainda não contava com todas as referências que o ajudam hoje, no processo criativo. Gestou, sofreu e teve parições dolorosas em todo caminho até aqui. Foram ganhos acompanhados de relevantes perdas, que estão impregnadas a suas composições. Suas escolhas em termos criativos e produtivos são advindas de longas jornadas e muitos estudos, para além de todo talento natural e espontâneo, plenos de observações – nada [ 15 ]
escapa a seus olhos de lince - e tudo que vivencia transforma em arte poética, verdadeiras telas ricas do seu “existir-existindo” e do sentir que o habita. Alufa-Licuta Oxoronga é um obstinado transformador, pratica teimosuras e é incapaz de acomodar-se aos atos. Incorpora-os! E deixa que fluam através de suas produções poética-literárias, com publicações de vários livros – em estilos variados – tratando atualmente o SPINA com imensa e intensa paixão. Elaborando versos plenos em: vivências, análise psicológicas, sensoriais, além de imersa abstração de acordo com dados existenciais, estudos e aprofundamentos. É um desenhista das cenas cotidianas. Faz Poesia que se entrelaçam com seus conhecimentos filosóficos e psicológicos. Poeticidade abrangente. Coisa de mestre. Dotadas de imagens singulares. Pode-se dizer que suas criações são expressões da natureza humana, ambientadas no lirismo que busca inspiração em outras eras. Intensificados por seu aguçado olhar poético que nunca fugiu ao sentir e senso de responsabilidade social. Percorre essas searas como quem necessita de mergulhos constantes expressando-se sempre com muito primor e eloquência, mas acima de tudo, como um sonhador. Poeta que se desafia a ser cada vez mais intenso e nos privilegia com construções eruditas; apesar de sua simplicidade. É capaz de dizer de forma grandiosa, versos em sua poética transcendente, visceral, bela que se desvela consciente da ebulição, inerente a essência do seu existir-existindo e no encanto dos seus mistérios. Notadamente encontram-se nesse labor de intensa fricção, fragmentos que constituem toda poética [ 16 ]
alufariana em densidade, intensidade e imersão. Também por imersão todos os leitores desse seu “O Jarro de Barro Entulhado de Vida & Flores no Canto Iluminado da Sala” absorverão de suas gotas Spinaístas: angústias, pelejas, serenidade, amor, saudade, alimento rústico e refinado; apreciado e saboreado como comida de mãe. A exemplo do que fazia sua querida e saudosa Teodora, como decanta no SPINA: “NO ESTAMPAR DAS MANHÃS A SAUDADE É VENTO SUAVE” Alufa-Licuta Oxoronga além de psicólogo é artista de várias facetas e cada uma recebe dele total dedicação, em se tratando de elaboração e esmero. Encanta-me e creio que encantará a todos que tiverem o privilégio de adentrar os mistérios das concepções que nos traz, frutos de um labor frenético composto em dualidades, pluralidades junção de corpo e alma, mente e espírito. Alufa-Licuta Oxoronga traz em seus Spina‟s uma linguagem que prima pela erudição, temáticas de fundo contemplativo da natureza, deixando claro sua opção filosófica. O destaque no seu texto de apresentação trazendo “O grito” de Much, “Abaporu” de Tarsila, “Guérnica” de Picasso e os “Retirantes” de Portinari, exemplifica as pluralidades que me refiro na poética do autor. Uma entrega vertiginosa permeada de puro encantamento. Um desvelar ao seu fazer poético denominado SPINA. SOBRE O TÍTULO DA OBRA “O Jarro de Barro Entulhado de Vida & Flores no Canto Iluminado da Sala” [ 17 ]
Observando o título extensivo Alufa-Licuta Oxoronga costuma usar de título longos em suas obras e essa não é diferente. Remete-nos ao pensamento a referência de um dos artistas mais queridos do poeta. Van Gogh. “O Jarro de barro” vejam que o material conotativamente escolhido não é um jarro de metal, não um jarro de vidro, ou outro material qualquer. Não é feito de material aleatório, sim, de barro, da terra, que aqui se oferta à contemplação trazendo-nos a lembrança, o manuseio feito pelo artesão que trabalha o barro; com detalhamento à elaboração daqueles que buscam na terra o sentido de sua existência: terra, barro, vida. Esse entalhamento leva também ao primor dedicado em cada palavra na elaboração de seus versos. “Entulhado de Vida e Flores” lembra o jarro de girassóis perpetuado sob as mãos e pensamentos sofridos de Van Gogh. Mais que vida e flor: inflorescências, termo usado pelo autor em diversos SPINA‟s, lembra sua doação ao fazer poético. “No canto iluminado da sala” aonde se pensa, recebe a luz da vida. Dando luminosidade ao espaço de criação. O criador contempla sua obra sob influências divinas. Dando ao SPINA, a importância que ocupa em sua vida literária. Luz que adentra cada linha/entrelinha que compõem suas construções Spinaístas. Como o próprio autor define: “no ritmo frenético alufariano de ser, no iluminar da sala pelas intercorrências do dia, a vida nos oferta seus jarros de flores em fábulas ou em umbrais de vida.” Nesse percurso poético Alufa-Licuta Oxoronga não deixa de ser muito ousado, beirando as raias do atrevimento em lançar-se inteiro e completude de ser, parindo mais uma obra toda e completamente composta de Spina‟s. Compreende e não vê mais a Literatura [ 18 ]
Brasileira sem a pujante, instigante, latente (vida) que é o SPINA, não só como Forma Poética. Sim como contributo saudável do qual se alimenta. As criações poéticas Spinaístas alufarianas são a priori impactantes. Chama-nos atenção seu primoroso cuidado, não só com a estrutura, também com as temáticas variadas que tem como pano de fundo seu canto, lugar de repouso e produção. Os Quintais da Casa verde. Aquele que adentrar seu livro, terá oportunidade de ver os diálogos alufarianos dotados de fragmentos riquíssimos do ser que bebe nas fontes de inesgotável grandeza literária. No seu fazer poético lança mão do arcabouço adquiridos de suas experiências quanto leitor voraz. Nesse caminho identitário ele não se faz de rogado. Lança mão da grande capacidade criativa alimentada pela sensibilidade em relacionar-se as naturezas que o compõe. O imaginário em Alufa-Licuta é constituído de imagens ricas. Sejam as que falam de amor, seja as que digam de suas dores. O autor tem como particularidade o decór preferencialmente refinado a partir de palavras que nos permite o direito da dúvida. Suscita questionamentos e inúmeras interrogações. Somos todos constantemente provocados quanto leitores de suas criações. Nelas fazemos verdadeiros passeios na sua termologia douta, iluminada, singular, visceral. Ele é acima de tudo um estudioso e assim sendo não se importa em “deitar-se” sobre determinado assunto e não descansa até que sua curiosidade seja transformada em produção. Do jeito que leva o leitor ao conhecimento, despertando uma necessidade contumaz de beber em suas fontes e [ 19 ]
penetrar sua tessitura abrangente. Dificilmente AlufaLicuta será conhecido por criações repetitivas. Cada filho parido é enlaçado por fios de diferentes fragmentos. (vida, existência, natureza mãe, terra, flor, espinhos... arte.) Pura arte contempla-se nas suas obras. Seus SPINA‟s contam com aspectos únicos, a começar pelos títulos, que o autor define como sendo a antessala onde convida o leitor a adentrar observando atentamente, cada detalhe. Oxoronga pode ser considerado também um arquiteto Spinaísta, mediante extremoso cuidado ao rigor visual, fruto de seu fascínio pela arte e poesia visual. Todos os possíveis e felizardos leitores deste livro irão absorver constituições dotadas de metáforas manuseadas com propriedade, parafraseando Massaud Moisés Criação Literária p. 209 quando diz: “os poetas maiores de um movimento seriam, via de regra, os que manuseassem apropriadamente a metáfora” com isso pode-se dizer que Alufa-Licuta usa desse refinamento nas construções. Para além de empregar neologismos que o autor utiliza, como forma de carinhoso abraço, privilegiando os contemplados, envolvendo a todos, em sua homenagem especial. Chamando para uma conversa ao pé do ouvido, bebendo chá de alecrim na varanda com vista para os Quintais de sua amada Casa Verde. No mais os convido ao inefável deleite. Rose Rosário Poeta
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EVOCAÇÕES NA CAMINHADA (Encantações & Sensações)
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CARTA AOS SPINAISTAS Mestre e amigo mentor e demais amigos. Muitos sabem de minha vivência e existência nos entremeios da corporeidade spinaista. Alguns, acompanham (ou acompanharam) o meu progresso, erros e conquistas desde o S(p)inangústia, meu primeiro SPINA, escrito nos idos tempos das remotas eras do mês de janeiro do longínquo ano de dois mil e vinte, da era pré pandêmica, quando me foi trazido, pelas brisas das cheias (inverno amazônico) os aromas dessa Nova Forma Poética. Um amor, ali, se criou, gestado em mimos, carinhos, cuidados e afeto. Regado a húmus de uma rica e poderosa afetividade, que foi se estabelecendo e se solidividando em oito belos tempos poéticos, dividindo minha escrita, desde então, em duas estações (ou existencialidades) com suas trinta e quatro evocações e elucubrações. A primeira estação, conhecida por cabeça, com três períodos de nove tempos e a segunda, chamada de corpo, com seus cinco ciclos com vinte e cinco tempos A partir destas estações, com seus períodos de cheias e estiagens, com suas evocações de riquezas extraordinárias, de reminiscências vividas e de sentimentos poéticos que expressam o roncar de minh‟alma, sem seus lamentos, murmúrios, ladainhas, quintais, jardins, passarinheiros, igarapés, terreiros, Teodorinha, Raabe Sophia e alguns amanhe/seres e entarde/seres, é que tenho me composto mais inteiro a este grandiosíssimo caminho que se posta à frente, em abertura de longa caminhada. [ 23 ]
Foi no SPINA que me permiti avançar em novas descobertas e aprendizagens poéticas, a costurar novas imagens, compreender novos saberes que andavam meio escondidos, tímidos, ante o pulsar d‟outras consturanças de vida. No SPINA vivenciei (e vivencio) minha ontológica e mundana existencialidade. E tenho muito por aprender (e apreender), com seus encantos, mistérios, magias e amanhe/seres cotidianos, com suas gentes, coisas e bichos, entremanhados ao silêncio ou estampidos de alegria. É a isto que me ponho a caminhar, enquanto autor e leitor, a entranhar entre campo e corpo, como bom andejo que sou, observando o tempo, os nichos, as coisas e os bichos em seus pertencimentos de entremeios, de tangencialidades atemporais, onde se escondem e se expõem em suas formas mais diversas, em cheiros e cores abundantes, em forças de vida permeada de encorajamentos, indicando e apontando o compasso e o período da sinfônica universal de nosso próprio existir-existindo. Por isto (e muito mais de cousas e causos, de sorrisos e in_confidências, carinhos e afetos, buscas e descobertas, sentires e gostares) é que vivo e sinto, expressado ou intuído, o meu amor pelo SPINA. E, com os bravos, sábios e amorosos spinaistas, venho educando o meu velho coração aos sentimentos da escrita e do amor, a cada pulsar do afeto. A todxs, minhas desculpas pelo emaranhar de meus garranchos. Um dia, quiçá, com a ajuda de vocês, me igual em sabenças e sentires. Por enquanto, na pequenez Dos Quintais da Casa Verde, evoco meus sinceros abraços. [ 24 ]
RESPOSTA DE RONNALDO DE ANDRADE Caríssimo poetamigo e mestre, você sabe a admiração e o carinho que lhe tenho. Recordo-me daquela gostosíssima tarde de domingo de janeiro de dois mil e vinte, onde conversamos pela primeira vez, e de sua, e mais ainda minha, empolgação ao falarmos sobre essa nova forma poética. Senti uma afinidade de imediato com você. Recebi dois SPINA‟s inéditos e isso fez eu perceber sua habilidade técnica-versificatória e a elegância de sua escrita. Minha admiração e carinho passou a aumentar com o correr dos dias e o conhecimento do seu talento. Sou grato a você e a todos que se dedicam ao SPINA por prazer e não por modismo, só para dizer que escreve todas as formas poéticas contemporâneas, mas não reconhece o valor dessa ou daquela. Já falei que o SPINA não foi criado por modismo nem para ser concorrente de nenhuma forma poética, mas para ser mais uma opção para o poeta. Principalmente àquele que quer melhorar sua escrita e não tem pressa para elaborar seu texto, se preocupa com a qualidade do conteúdo e escolha das acepções. Você, poetamigo, fez com que eu, e muitos poetas Spinaistas, melhorasse a estrutura visual do poema, tornando a estética dele mais harmoniosa e elegante. Você trouxe para esta nossa casa pessoas que se uniram a nós e gostam do SPINA. Continue a nos alegrarmos com suas escrevinhações Spinaístas e análises sobre o SPINA e SPINA‟s de amigos sempre que desejar. As portas aqui estão abertas para os seus poemas, ensaios spinaistas e de quem desejar. [ 25 ]
E todos podem convidar seus amigos a fazerem parte desta família. Parabenizo e agradeço a cada pessoa que faz parte desta casa e interage, escrevendo ou curtindo, comentando e compartilhando nossos trabalhos. Muitíssimo obrigado!
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JARROS & FLORES (A iluminação da vida em colheitas de SPINAS)
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NO ESVAZIAR DE NOSSOS ABRAÇOS O ANO COMEÇA EM ATO DE ESPERA1 Plantações de alegria: Novíssimo ano chega Em cortes umbilicais! Das procissões, silenciadas, das esperanças Em miasmas, entrecortadas, de aconchegos Abismam-se, dores de pretéritos vendavais. Enquanto isso, engendro viçoso alfabetário Luarejando sonhos em quadraturas abissais!
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No atravessar de 2020 e no pispiar de 2021
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NAS HORAS DAS MAIS DURAS SAUDADES ELOUQUECE O HOMEM EM DOR NO PEITO2 Espinhos de desamores: Saudades em sobrevoos Desmantelando o peito! Deslumbrando sofrimentos de carnudas carências Epaninondas mergulha em verdadeiro ostracismo: Ensambla-se, incondicionalmente, em amargo leito.´ Nas in_consistências fragmentadas da urbanidade Uma senhorinha, magérrima, negociando confeito!
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Para, Patrício Epaninondas, que enlouqueceu de amor
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A PALAVRA FLUTUA SUAS TREMÊNCIAS VARANDO O DIA EM VÉRTICE ENSAIADA Cochichos de fofoqueiros Ajuramentados de sorriso: Arrolhes de justificações! Esgueirando-se, em alfandegas de penumbras, Entre tentáculos de resguardada materialidade Enublam-se, segredos, em tramosas tentações! Testifica-se a palavra, vergando inconfidência Na abruptalidade de incontroversas contrações!
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O RESVALAR DA TERNURA, OU PAIXÃO, SILENCIA-NOS, EM HÁBITOS DE ESPERA Capricho de sentimento: Em trajes coreográficos Maria nos destrambelha! Ainda que des_fizéssemos crisálidos folhetins Como se dançássemos ensimesmando estrelas, Maria, limitroficamente, nosso amor aparelha. Semelhante a gérberas, desfiando encantações, Alumbramo-nos, estáticos! Nada se assemelha!
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NOS AMANHECERES DESTA CASA VERDE TRAZ-ME, O DIA, UM NOTÓRIO ENCANTO! Friagens da madrugada Rasgando o amanhecer: Travessinhas nos jiraus! Lentamente, desbotoando os florescidos jardins, Amalgamados fragmentos de orvalhos noturnos Estampam, calidamente, os miméticos bacuraus. Consterno-me, estupefacto, em lasciva surpresa Sentadinho, caladinho, nos pedregosos degraus!
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AURORECER NOS QUINTAIS DA CASA VERDE VEM CONSUBSTANCIADO DE ENCANTAÇÕES Orvalho na plantação: Nervurando seus fios, Tecem, as aranhinhas! Desaguando encantamento, arrebenta o amanhecer Em transparências, metamorfósicas, de existências Combustanciando terreiro, preás, porcos, galinhas! Nas costuranças horizontelinas, ventinho cruviano Espetaculizando dos oitizeiros, outonais folhinhas!
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EM CONSAGRAÇÕES, ANUNCIADAS, DO SER ATO-ME, AOS AFETOS DIÁRIOS DE ANTONIO3 Construção de amizade: Em farnel indispensável Antonio Queiroz, existe! No antagonismo irreconciliável de idiossincrasias, Em simultaneidade, constributiva, de compreensão, Uma benquerença genuína, galhardamente subsiste. Outorgando aclamações em crismados entusiasmos Aformoseia, demasiadamente, minha natureza triste.
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Para, Antônio Queiroz, amigo de construções spinaistas
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NA EFEMERIDADE DE NOSSA EXISTENCIA CONSAGRO-ME EM AMIZADE ATEMPORAL4 Córrego de existência: Em águas translúcidas Antônio navega vidas! Na temporalidade consagrada das escrevinhações Em atravessaduras evidenciadas de versatilidades, Compõe-se Queiroz, de interveniências conhecidas. Generosamente, usa diversos recursos linguísticos Em egrégios escapulários, recendências acolhidas.
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Para, Antônio Queiroz, em seu aniversário
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NAS PRIMAVERAÇÕES DE TUA EXISTENCIA AMEIGAR TEU ROSTO É O QUE MAIS QUERO5 Enxergo tua presença Em a(l)mado segredo: Amo-te, doce aninha! Acriançado, esperanço em desassossegados sonhos Entre des_velamentos imperscrutáveis das ternuras Aconchego escaravelhado desta minha caboclinha! Congratulo-te, Ana Meireles, em indiscutível amor, Emaranhado em entusiasmo, graciosa namoradinha!
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Para, Ana Meireles, com amor
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A DEDICAÇÃO DO AMOR E DE QUEM AMA TEM O CARÍCIO E A MACIEZ DE SUSPIROS6 Lencinho no cabelo: Entre breves olhares O beijo prolongado! Ah, soubesse destes des_enraizados sentires Enamoraria as minhas mandíbulas acanhadas Em desabroche intenso, tilintoso, prolongado! Amar-te-ia Aninha, mirifico, parvo, portentoso, Em indissolúveis gritos, incensário, albergado!
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Para, Ana Meireles, com afeto d‟alma
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NO APRUMAR DOS MISTÉRIOS DE NÓS A VIDA SE DÁ EM SONATAS ERUDITAS7 Contemplo teus territórios Em orquestrada esperança: Floresce-me, tua calmaria! Nossas confidências em desenrosco respirável Embalando pulsações de semânticas amorosas Vertigina-me benquerença, mais que desejaria! Tempestuosamente, ouço tuas palavras, aninha Em remanescenças bethovenenses de sinfonia!
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Para, Ana Meireles, em sinfonias de afeto
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NA CONSUBSTANCIAÇÃO DE NOSSO SER8 A AMIZADE EXTERIORIZA UMA ALEGRIA Respostas ao silêncio Vem em gargalhadas: Escarafunchos do dia! Nas transitoriedades dos in_escrutáveis sentires, Em entrançamentos de irremissíveis hilaridades, Fragmenta-se, do ser, antropológica etnografia! Isabel Pernambuco reúne árdego pertencimento Que, minha alegria, estupefacta, ortogonalizaria!
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Para, Isabel Pernambuco, ser em constante alegria
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COM AS FEIÇÕES DELICADAS DO AFETO SE CONSTÓI GESTO PLENO DE AMIZADE9 Rompantes de felicidades: De beneditos firmamentos Desagua guapa existência! Um caleidoscópio de engenhosos desembaraços, Flor-de-lótus, germinada de ninfeáceas gravuras, Plectro melodioso de monçoense transcendência! Maura Luza, ludovicense eclodindo encantações, Menistre substanciada de primorosa frutescência!
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Para, Maura Luza Frazão, em celebrações de existência
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OS ENGENDRAMENTOS DE ÍNTIMOS AFETOS ELUCUBRA-NOS, A UM TOTEJAR DE EXISTIR 10 Talhados entre afetividades: Entrançamentos de escritas Em desassombros literários! Nas breviloquentes minudências das encantações Que antropofagam de intermúndios maranhenses Maura Luza engendra personalíssimos itinerários. Inquestionavelmente, “Nuances de uma Essência” Entremostra-se faustoso, em gotejos consectários!
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Para, Maura Luza, em gotejo de literatura ludovidense
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NA CALMARIA DE ELEVADO SENTIMENTO EU E TU, EM SACRALIZAÇÕES DE DESEJOS11 Castanhos, feitos jenipapos Entrincheirando as manhãs: Desmantela-me, teu cabelo! Semelhante a pássaro, intercorrendo arribações Chegastes recôndita, furtiva, obtuctamente bela Orlando-se, maliciosa, em alarifaço engambelo. Na dissimulação dos (in)tranquilos sentimentos Amamo-nos veementes, sem qualquer interpelo.
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Para, Rose Rosário, desde 17/01 da remota era de 1770
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ENGENDROS DE UM PEQUENINO ENSAIO SOBRE OS ALUMBROS DE UM SPINAISTA12 Frisando anódinos decassílabos Entre melopéicas antroponímias Ataviou pulquérrimo jacarandá! Repentinamente, 2021 aclarou enraizada invenção Em entusiasmos desentenebrecidos de esperanças: Porvindourava-se, rouxeada ramagem de maracujá! Ronalldeou-me de encantos, spinadeando cantigas, Encantoado palaciano da pernambucana Cambucá!
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Para, Ronnaldo de Andrade, pelo afeto e irmandade
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OS AFETOS DO SER MULHER EM LAMPEJO ENCANTATIVO13 Instante de elucubração: Três acordes melódicos Em adequada proposta! Mulheres: Três vozes, três reinos, Três rios em indiscutível encanto, Três perguntas sem uma resposta: Três fragmentos de três mistérios, Um carinho em canção composta!
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Para, Ana Meireles, Isabel Pernambucano e Rose Rosário
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O ENCAMINHAR DE MINHAS AURORAS14 ESMIUDA-SE, EM AFETOS DE SAUDADE Varandas em escombros: Brejeiruras de esperança Em alumiadas ladainhas! A corporeidade fenomenológica da existência, Na condescendência, ontológica, dos girassóis Recondiciona encantos de aprazíveis ararinhas. Padecendo senescência em minhas atracaduras Desriço de Teodora, gababilíssimas mãozinhas.
14
Para, Teodora Ferreira Soares, em fios de saudade
[ 46 ]
IMPLICITAS CONSTITUIÇÕES DO BELO NAS SUBJETIVAÇÕES DE CADA MANHÃ 15 Gérberas em cultivos De primevas floradas: Cântigos de profecias! Nos domínios de ontogênicas representações Em prevalências de simbolizadas linguagens Apega-se, Teodorinha, às oníricas travessias: Atenta, polida, cortês, amorosa, engilhadinha Nos rodamoinhos, in_controvrersos, dos dias!
15
Para, Teodora Ferreira Soares, pouco antes da travessia
[ 47 ]
NA DECIFRAÇÃO ENCANTADA DO DIA A GUARDIÃ COSTUMÁCIA DO EXISTIR 16 Piados na madrugada: Escaqueira suas dores A obstinada saracura! No despojamento, nostálgico, da esperança Em desvelamentos inseparáveis de fantasia Há identificações, simbolizadas, de ternura. Na ambivalência inequívoca das repetições, A matriarca teodorinha, expressa iluminura.
16
Para, Teodora Ferreira Soares, pela falta que faz em meu coração
[ 48 ]
O TEMPO É UM SOLO LAVRADO ENTRE LÁGRIMA E ESPERANÇA17 Descama a manhã Sulcando o sereno Ao sombreado dia! Na quentura, impaciente, do tempo Em calosidades desferidas de dores Teodorinha se delonga em alegoria. Entre sorrisos guardados de sonhos Seu coração, de saudade substancia.
17
Para, Teodora Ferreira Soares, nas instâncias de um suspiro
[ 49 ]
A HERANÇA MAVIOSA DOS AFETOS É UM CATÁLOGO DE DOCE EXISTIR 18 Madrigal de galanteios: Em métricas inventivas Associo-me à saudade! As glosas dessoradas das lembranças Em in_confessional desaprovo de vida São vulgatas cabralinas de afetividade! Nas reentrâncias de dores abemoladas Vem teodorinha, em intátil eferemidade.
18
Para, Teodora Ferreira Soares, saudade é dor que não se cala
[ 50 ]
AS INADEQUAÇÕES INVENTIVAS DO SER SÃO TARJAS, ENCRUADAS, DE SAUDADE 19 Novembro: Segundo dia! Em arquétipo expressivo Uróboro-me, de retórica! Na temporalidade, psicanalítica, das blasfêmias Em inventos mitológicos desenterrando crenças, A existência se instrumentaliza fantasmagórica! Teodorinha, em simultaneidades de fragmentos, Braceja-me, em linguagem figurada, metafórica.
19
Para, Teodora Ferreira Soares, flores sobre a lápide
[ 51 ]
NO ESTAMPAR DAS MANHÃS A SAUDADE É VENTO SUAVE 20 Motejos de existências Entreabrindo a manhã: Rumorejos na cozinha! Na escansão de compridas horas Sussurra, devagar, o velho peito: Ai, que saudades de Teodorinha! Imoto, absorto, alvoreço a janela: No terreiro, uma solitária rolinha.
20
Para, Teodora Ferreira Soares (Teodorinha), com amor
[ 52 ]
DE AFEIÇÃO SINCERA E CORTÊS AFETO MEU PAI CATIVAVA APRAZ EXISTÊNCIA21 Cirandas de amor: Meu pai gravitava Sonhos de infinito! Nas caminhaduras espriguiçosas dos carinhos Papai engrafinhava, querençoso, seus abraços Respeitoso, encantador, envolvente, sem grito! Regozijava-se, nos descoroçamentos de afetos Polido, cortês, afetivo, atrativo, incircunscrito!
21
Para, Leopoldo Dias Soares, incansável ser
[ 53 ]
OS LASTROS DE EXISTIR DO MEU PAI ERAM FEITOS DE PATENTE ENCANTO22 Ímpetos de resistências: Meu paizinho Leopoldo Serpenteava as estradas! Ornando felicidade em singularíssimo altar Depreendia-se, papai, em demorado intento Colecionando aboios inarráveis, de boiadas. Seu coração amaneiradinho de vaqueragens Espargia encanto de incessantes enxurradas!
22
Para, Leopoldo Dias Soares, em aboios de saudades
[ 54 ]
NA ATRAVESSADURA DO CAMINHO O MEU PAI, ME ENCHIA DE SONHOS23 Balouços de felicidade: Enchia-me, de abraços, O incansável Leopoldo! Entre ruinas, acinzentadas, de existências, Percorria caminhos, caiados de crepúsculo Granjeando, da vida, inquestionável soldo. Nas manhãs, extemporâneas, dos invernos, Amainava faustoso, um inenarrável moldo.
23
Para, Leopoldo Dias Soares, com eternal afeto
[ 55 ]
AS INTERPRETAÇÕES DE UMA ALEGRIA TEM RETRATOS DE MÚLTIPLOS EXISTIR 24 Louvores de felicidade: As múltiplas temáticas Do terreno sentimental! A consubstanciação dos circunscritos afetos Nas anotações, inconfundíveis, dos sorrisos Estampa da existência, inventivo antemural. No assentamento de efusiva experienciação: Raabe Sophia, em gargalhada monumental.
24
Em coexistência habitual com Raabe Sophia Teodora
[ 56 ]
PRENUNCIOS DE ESCRITA AOS TRÊS MESES: UM ALONGADO CAMINHO A SE CAMINHAR 25 Raabe Sophia Teodora: Vida sacolejando afeto Emoldurando a alegria. No deslanchar, agradabilíssimo, do descanso Orientando trabalhos de pressuposto teóricos Sou recopilado de singularíssima companhia. Escorregadios dedinhos resvalam no teclado, Preanunciando o futuro transbordando poesia.
25
Para, Raabe Sophia Teodora, em grácil apego
[ 57 ]
NO PISPIAR DE UM NOVO AMANHECER O FIO DAS PALAVRAS POVOA ALEGRIA26 Repousam no horizonte Respingos de escuridão: Manhã chegando tardia! Nas escuridades, baratinadas, das lamparinas Roçagadas, às morbigerações das linguagens, A rudimentar borboletinha, abonança, acedia! Em autômatos existencialistas, debrua, agaloa Magnificente luminescência de Raabe Sophia!
26
Para, Raabe Sophia Teodora, em voos de ternura
[ 58 ]
NO INÍCIO DE UM RIGOROSO INVERNO A CASA VERDE ORVALHA BRANDURAS Sementes de zambuzeiros: Em pequeninas prateleiras Alumínio, copos, talheres! Tangenciando segredo, os transientes orvalhos Alquebram-se, silentes, às predecessoras horas, Jardinando lágrimas, em disformes caracteres! No caminhozinho estreito, aflorando encantos, Conversam, alegremente, duas belas mulheres!
[ 59 ]
CONSIGNO MINHAS PROMESSAS DE EXISTIR EM CENÁRIOS ENALTECIDOS DE RESPOSTAS Perguntas não respondidas São pássaros vulcanizados Em voracidades claustrais! Nos entrelaçamentos indissolúveis das „acontecenças‟ Em re_vivências efetivas, demoradamente oportunas, Entrincheiro-me, em substancialidade dos coqueirais! Resisto, prospero, perfaço, demasiadamente humano, Coadunando luminescências em catabáticos mistrais.
[ 60 ]
O AMOR É UMA CARNIVORA CATEDRAL RETINANDO SEUS SINOS EM ALTO SOM Catedral rasgando dores Em catarses linguísticas: Redivivos de esperança! Nos enovelamentos, enrabichados, de abraços Atravessando vidas, em voluntariosas paixões, Desembesta-se, o amor, em inverossimilhança! Enquanto amantes, em precipitosas semânticas, Bem-querem-se, entre nitescências de faiança.
[ 61 ]
NO ABACIAR DE UM TEMPO DIFÍCIL A VIDA OFERTA DÁDIVAS DE AMOR Réstias de palimpsestos Em arraigada folhagem: Segredinhos ao ouvido! Nos frontispícios de antagonistas desejos Em desvelamentos silenciosos de loucura Anêlitos corpos em aceno embrandecido! Dois encantadores em destrambelhada fé Subvertendo gemido ao tempo esquecido.
[ 62 ]
NA ABUNDANTE EXPOSIÇÃO DOS DIAS HÁ DESVENDOS EM FIOS DE ENCANTO Completa alegria: Flores Bravateiam o amanhecer Em amalgames cortejos! Na imaterialização de meditivos encontros Dos palimpsestos, esvoaçantes, das nuvens Compartilha, os céus, ceraminosos pretejos. Nas circunspecções harmônicas de palavras Os quaradouros, simbolizam bastos alvejos.
[ 63 ]
A ANASTOMÓSICA LINGUAGEM DO TEMPO É DE MESURA POLISSÊMICA E SEMÂNTICA Máculas de desassossego Debruadas de amanhecer: Descoraços de carcarejos! Em desmanches, i_maginários, das caminhaduras Nos acoroçoamentos in_transmutáveis da manhã, Eclodem, das residências, pequeninos rumorejos! Abainhando silêncio entre engalfinhados afazeres Despalavra, a senhorinha, cataclísmicos moirejos!
[ 64 ]
NO PE ANTE PÉ DO DIA, O TEMPO NEBULA SEUS ESTREITOS CAMINHOS DE ENCANTO Palavra desabotoa caminhos: Jardins, enflorescem manhãs Em intervenções borboletais! Luminâncias silenciosas emergem do horizonte Em estremecimentos, esperançosos, de saudade Arrojando vivências a abraços morfofuncionais! Encurralando nuvens, desconjunta o crepúsculo: Baloiçam, silenciosamente, rouparias nos varais! .
[ 65 ]
NO ARREMECIAR DA MANHÃ A VIDA ECLODE FIGURAÇÕES Sentidos de existir: Os óbices noturnos Liquefatando o dia! No plangor, emudecido, da manhã Gaseificando os respingos da noite, O sereninho, empausado, se desfia. O canoeiro, moendo seus clamores Afigura, nas águas, arrojadiço guia!
[ 66 ]
O REVOLUTEAR ENTEDIOSO DA MANHÃ É GESTADO DE MEMÓRIAS E ASSOMBRO27 Friagem, noite, escadarias: O inconsolável desencanto Da introvertida catequista! Entre minudências, enegrecidas, do horizonte Calmamente, passos amadurecem a escuridão Em fragmentos, incontestáveis, de conquistas. Dos achavascados matagais aurorando manhã, Drapejam apressadas, as pequeninas agulistas!
27
Deslumbres de um amanhecer nos quintais da casa verde
[ 67 ]
NA CONJUGAÇÃO DE NOSSOS AFETOS O ENTRANHAR, DE SINCERO CARINHO Encontro de Spinaistas: Degustei cada conversa Em abemolado carinho! Escarafuchando a efemeridade do acontecido Que, apolíneo, irretocável se consubstanciou Refiz-me donairoso, me querendo andorinho. Tais entrelaçamentos amoedados de palavras São inflorescências, sortilégio de passarinho.
[ 68 ]
ENTRE OS DESTROÇOS DE UMA PAIXÃO A VIDA INESCRUTA O SEU VIL SILÊNCIO Cabrocha de mangagás Recompõe o horizonte Em vértice harmônico! Vagalumeando a aurora entre embarcadouros Nos escarafunchos, abismados, das memórias Desacorçoa, rescaldado, o caboclo amazônico. Obliterou-o, abruptamente, a paixão temporal: Deixando-o ignóbil, triste, abatido, disfônico!
[ 69 ]
A CIÊNCIA DA VIDA, EM FIOS ABSORTOS, É UM QUINTAL, EM ASSOMBROS DE MAR Espicho, ao máximo Minha anosa cabeça Em briosa sentinela! Aquiescento, zonzo, de inalcançáveis escuridades Como quem caminha, silenciosamente aveludado, Entre encandeamentos, esquizofrênicos, de janela. Neste deslindar pachorrento, loquaz, assincrônico, Acomodo-me, sigiloso, em execrável requenguela.
[ 70 ]
NOS REGISTROS RECUPERADOS DO DIA A VIDA ESTAMPA SEUS BELOS REFRÕES Cortinas em estampas de receptivas carícias: Manhã alojando cores! Em decassílabos cânticos, pequeninos pardais Pulcram, garbosos, nos amanhecidos terreiros Capuchinando da aurora, coloridos bastidores. Nas inturgescências, oblíquas, das acordações Arrazoa-se o dia, interseccionando descritores.
[ 71 ]
NA ADIÁFORA PERTENÇA DO TEMPO A VASTIDÃO DO DIA ARDE ENCANTO Respostas ao silêncio: A pequenina varanda Ornada de memórias! Os incensários de imprescritíveis fábulas No enrodilhar, semiescuro, das distâncias, São valvas esfareladas, brisas abonatórias. Na magnitude transparência dos pêndulos As amendoeiras gestam flores transitórias.
[ 72 ]
NOS TARDEJOS DE MINHA EXISTÊNCIA OS MOINHOS, SÃO ROSAS DE ESPERAS Arroubo tempo, lágrimas, Estampando meus sonhos Em metamórfica procura! Enterro alegria, acaricio mazombos medos, Bafacejo manhãs aos apressurados serenos, Tardejando, incólume, a inconteste feitura! Nos acariciamentos crêpijçosos dos tempos Quixoto-me, em interpelações de armadura.
[ 73 ]
NO PRENÚNCIO DE MEUS CAMINHOS, DESCREVO-ME EM TOM DE TRISTEZA Conduzo meus ossos Entre sendas escuras: Trago efúgia eufonia! Cambaleante, percorrendo as cinzas mortas Dos itinerários escorregadiços da existência, Gero, lesto, minha mnemônica agamogonia. Inventariando esperança, em óbice labirinto, Tropeço, estabaco, alvoro, partejando elegia.
[ 74 ]
A VIDA TRAZ O MUNDO NOS OMBROS EM FIAPOS DE CÉRBERUS E TÁRTARO Cérbero, agônica fera, Autóctone de abismos Em algibes sepulcrais. Nos subterrâneos, eclípticos, dos silêncios Em invocações mefistofélicas dos tártaros, Seres mitológicos reconfiguram os mortais. Hespérides, Neméia, Ethon, Hidra, Esfinge Na escuridade metamorfósica dos quintais.
[ 75 ]
NOS RIGOROSOS BOQUEJOS DO VENTO O TEMPO CREPITA SUAS LUMINÂNCIAS Pêndulos de lágrimas Aportados de solidão: Rios parindo borrelas! Nos enlutados, esfumaçamentos, dos pastos Aos cardumes de memórias entenebrecidas Charlam, agônicas, as pequeninas charrelas. Em esculturísticos jardinzinhos dos quintais As urze-roxas das in_desvendáveis negrelas.
[ 76 ]
AS DES_LIMITAÇÕES DA EXISTÊNCIA EM FRISOS, CIURCUNDANTES DE SER Premissas de sonhos Em surtos psicóticos: Gritos ao amanhecer! A autenticidade quimérica das alucinações Em autônomas acontecencialidades do dia, Sensorializa existência, desmistifica o viver. Ponderar Heidegger, em significantes reais, Acautela-nos, do nosso próprio ensandecer.
[ 77 ]
A EXCESSIVA DIMENSÃO DO EXISTIR NA POÉTICA ABSTRATA DA SOLIDÃO Refugo dos excluídos: O desajeitado escritor Em dilema existencial. Com reentrâncias, deslumificadas, de dores Ensimesmado, aos traquejos do amanhe/ser, Insurge-se o dia, desvelado, consubstancial. Em observância, imprescindível, de anciões Enregela o escritor, alegoria transcendental.
[ 78 ]
A DESAMBIGUAÇÃO CULTIVADA DE DIAS EM SIGNIFICÂNCIAS DE GALOS E SAPATOS Ânforas de existência: Os ensaios ambíguos De belos artesanatos! Nos iconocláusticos desvelamentos dos bálsamos Que antropoliza corriqueiramente os amanheceres Esgueiram-se, alarifaçosos, dois sorrateiros gatos! Das janelas, experienciando inventivos horizontes, Elucubrações, lustrosas, de encontradiços sapatos.
[ 79 ]
DESLUMBRAMENTO E ENCANTAÇÃO EM VERTENTES DE UMA ESPERANÇA Presentes dos sertões: Palmeiras de bacabas Arroxeando a aurora! Nas lacrimações arredondadas dos cachos, A inevitável desencantação das batedeiras, Em exclamações desajuizadas, que devora. Na intramunidade avermelhada da manhã, Gotícula de orvalho extemporâneo, arvora.
[ 80 ]
A TEIMOSIA, REVELADA, DO TEMPO NA ESTRADA CONSAGRADA DO DIA Lanugens ao infinito: O sarapintado jardim Prenhe de borboletas! Nas frugalidades desenfadadas do tempo, Em peregrinações irreverentes de existir, Os sopraninos, transitórios, de clarinetas! Nos quaradouros requintados dos riachos Os sentimentos, coloquiais, das cetinetas.
[ 81 ]
O DIA GESTA SUAS ENCANTAÇÕES EM DÁDIVAS, DIÁRIAS, DE EXISTIR 28 Fragora, a existência, Em afeiçoada alegria: Paineira em floração! No espetáculo, encantativo do amanhecer, Concebido d‟uma catrumanhada preguiça, A pequenina mãe-da-lua, pobreja atenção. Enquanto os ipês, mandigam afoitamento, O poetinha, amazônico, uterina Redenção.
28
O poeta e sua floração de ser
[ 82 ]
NO RESSONAR, FRAGOROSO, DO DIA UM TINTINABULAR DE REVELAÇÕES Despenca a manhã Gargateando o frio. Do sol, rutilâncias! Imóveis, nas imutabilidades dos moirões, Pequeninos caburés, embatucam os voos, Em extravaso de excessivas compliâncias. No regatear, pressuroso, dos sentimentos Destapa, o amanhecer, suas exuberâncias.
[ 83 ]
A MODORRA DO TEMPO MUNE O DIA EM FIOS DE QUALQUER EXPLICAÇÃO Terreno baldio: Cultivo De inigualáveis jardins! Ânforas de pacificações. Ensaios de ventania, castanheiras, bananais, Cigarras perorando suas idílicas mensagens No estanhado flandres das desambiguações. Batuíras em espetáculo, sinuosas surucucus, Tartarugas marchando em aféreses ablações.
[ 84 ]
DE VELHAS, DE CASAS E TAPERAS UM ALCANCE DE ASSOMBRAÇÕES Espreme o calor: A anciã, acocora, Na doce sombra. Embrulhado, nas folhagens do terreno, O pequeno vira-latinha, ensaia latidos, Fazendo de pétalas, eufônica alfombra. De rústicos casebres, icônicos cânticos, Domiciliando medos que nos assombra.
[ 85 ]
A IN_CONSTÂNCIA DO AURORES/SER EM METÁFORA, AFETIVA, DE EXISTIR Capricho das manhãs Em carregos afetivos: Memoriais de jardins! A argumentação reveladora da existência Em pulcritudes de compreensões poéticas Constrói-se, em fragilidades de camucins! No prolongamento desarranjado da aurora As intercorrências, olfativas, dos alecrins!
[ 86 ]
NO ESFUMAÇAR DO HÁLITO NOTURNO UMA CANDENTE LUMINÁRIA DE VIDA Guirlandas de luz Abrindo a manhã: Um soluço parido! Nas transparências agônicas das lamparinas Em constelações centrifugadas de mistérios O pequenino viridário, esmiunça-se, florido. Nos assombreamentos de existências vazias, O esbranquiçado terreiro docemente varrido.
[ 87 ]
NO REVIRAR DAS DIÁRIAS MEMÓRIAS O ASCENDENTE CAMINHO DO EXISTIR Tropeço na procissão Dos caminhos vazios: Conúbio de zombaria! As resfolegações apressuradas das borboletas, Nos crêpijçosos acariciamentos dos silêncios, Tem desnudamentos, petrificados, de flertaria. Nos entranhamentos interpelativos da solidão, Inquebrantáveis casinhas de punícea alvenaria.
[ 88 ]
AS PENSAÇÕES SURREIAIS DO EXISTIR EM INTERSECCIONADA REFIGURAÇÃO Caminho de absurdo Em ímpeto regurgito: Sangra o crepúsculo! Cambaleante, nas amolgaduras dos presságios, Despedaçando dos canteiros suas florescências Refestelo-me, canhengue, a anômalos opúsculo. Embaraçando vestígios de provectas fabulações, Seciono-me, megalômano, a prímevo petúsculo.
[ 89 ]
AS PRIMEIRAS SONDAGENS DO TEMPO TEM UM ENVERDECER DE ESPERANÇA Pássaros medindo voos Em ábdita impudência: Aurorescer de girassóis. Na intumescência amarelecida das salivações Em ingenuidades, esfumaçadas, de esperança Evidências hermafroditas de vorazes caracóis. Nas cúmplices reconfigurações de semânticas As reminiscências interpretativas dos arrebóis.
[ 90 ]
O ESPERANÇAR, LODOCENTO, DA FLOR NA LUCIDEZ, INELUTÁVEL, DO HOMEM Vômito: sabor amargo! Degolações de palavras Esgadanhando o escuro. Nos desaguadouros gongóricos de escombros Esperanço escarafunches de minha existência Restelando-me, em morbigerações de auguro. Dos longínquos escapulários repimpam flores Gotejando luminâncias em uliginoso nascituro.
[ 91 ]
O MANIQUEISMO SUBSTRATO DO SER NO INARMÔNICO SENTIDO DE EXISTIR Leituras em clausuro: De substâncias líricas Engendra a existência. O encandeamento das casualidades mundanas Nas interpretações, intermediárias, de palavras Patenteia da manhã, fenomênica transparência. Em sustentações, imaginárias, de madressilvas Embioca, o escritor, panfletária incongruência.
[ 92 ]
AS VOZES E OS SILÊNCIOS DA VIDA EM PRUDÊNCIA DE POUSO MATINAL Imagem da manhã: Na tacanha carroça Audácia de destino. Nos aconte_seres intervividos de existência Nas travessias, metamórficas, das paisagens Multifacetada intercorrência de um menino. Em linguagem de ressignificância cotidiana Intercambio-me ao cenário, debruo, obstino.
[ 93 ]
DENTRE FRONDEJANTES FOLHAGENS AS GUAPAS ESTRIPULIAS DO EXISTIR Veredas de assombro Em aguas cristalinas: Cachimônias em dias. A intertextualidade compreensiva do tempo Entre eucaliptos de contestável importância Sustenta enunciado, de filosóficas moradias. Dos propágulos, primaciais, das cajaraneiras Afloram-se da folhagem, tuberosas spondias.
[ 94 ]
NO RUIDOSO, DESPENCAR, DOS DIAS MAIO, É AFORISMO DE REVELAÇÕES Gerações se perderam Em violenta algibeira: Narrativas da história! A degenerescência imaginária dos fracassos Em inspirações, esbravejantes, de combates É aprendizado de domesticação perfunctória. Em ribombantes garganteios de sangraduras Maio internaliza uma exuberante palmatória.
[ 95 ]
A DISTINÇÃO COTIDIANA DA VIDA NAS AUTENTICIDADES DO EXISTIR Arvores se exuberando No amanhecer outonal: Inflorescências de ipês! A imprescindível arrumação da existência Em interpretações constitutivas, da aurora, Constrói ontológica encantação de buquês. Na intramunidade, autêntica, dos cuidados Exuberante trilado da cordonizinha pedrês.
[ 96 ]
NOS INTRA_MUNDOS DA ANGÚSTIA A REFLEXÃO MUNDANA DO EXISTIR29 Hospede da angústia Condicionada à vida: Impropriedade do ser! A peso analítico existencial haideggeriano No indispensável contributo da factividade Indica, reflexivamente, um diário descoser. Na cotidianidade, compreensiva, do dasein Cinjo-me, ontológico, de mitsein acontecer.
29
Ser de constante angústia
[ 97 ]
A NOBRE E ACENTUADA VIRTUDE NOS CONSTITUTIVOS AFÃS DO SER Escritos da vida em frisos diário: O frio ventinho! As linhagens, intempestivas, dos homens Sabiamente articulada pelo poeta Hesíodo Tece-se, cronológico, o humano caminho. Enquanto Homero, em refinada disciplina, Revela, dos arquétipos, pedagógico alinho.
[ 98 ]
EM COMISSERAÇÕES DAS NOITES CAMINHOS POÉTICAS DE EXISTIR Roupagens no frio: Elãs de lembranças Em rasgos noturno. Na madrugada de encantações secretas Em condições mundanas de existência, Olhares, apreensivos, espiam o taburno. Arcaicos engenhos, em fausta ladainha, Inebriam mistérios em floreado laburno.
[ 99 ]
NO PISPIAR DA RELUZENTE MANHÃ DESNUBLA O DIA UM FIO DE AFETO Lâminas no aurorescer Esculpidas em silêncio Tem azáfamas laborais. Nas sangraduras das espumadas cânforas Em desabrochado palimpsesto de solidão, Borboleteia, o dia, vocabulários virginais. Em transmutações caligráficas de desdém Delicadas ararinhas taramelam nos cocais.
[ 100 ]
NA RUIDOSA INQUETUDE DA MANHÃ A DOMESTICA ACOMODAÇÃO DO SER Crônica do alvorecer: Suporto o isolamento Em solícita paciência. Na tematização interlocutória do crepúsculo, Em processos de melancólicas acomodações, Motivo-me, a uma indesculpável insurgência. Nas imponderações de privativas intimidades Lastreio, da manhã, estrepitosa quintessência.
[ 101 ]
A CRÔNICA DE NOSSAS AMBIÇÕES NAS CONCUPISCIÊNCIAS DOS DIAS Batalhas do existir: A êufona alienação Do espelho reverso. As simulações refratárias dos condenados Nos espetáculos das banalidades humanas, Tem um acordo disciplinador polidisperso. Na inconsequência compartilhada dos dias Descortina-se do homem, interno universo.
[ 102 ]
DE SALIENÇAS & QUIETUDES NAS ENTRÂNCIAS DE CASAIS Danado de bão Essi ispertu amô: Quasi virti xôro! Namorá, eu quasi num fiz Apois, cedim fui logo casá C‟ua morena, meu tisoro. U‟a garota linda, distinta, Que num preza o disaforo!
[ 103 ]
NOS ALAGUEDÉS DE OSHUM O TESTEMUNHO DA CRIAÇÃO30 Alinho de Ocha: No rito sagrado Osha-Ifá: Nagô! Egum awà inlé o baba Ejó quintolé, oná fum, odé, Ajala inlé. Ori, itá, Xangô! O santero, em seu lamento, Alguida o barro ao Babalaô!
30
Ser ontológico
[ 104 ]
A VIDA MOLDEJA SUAS LUMINÂNCIAS EM ALEGORIAS DE FLORES E NUVENS Têmpora de esperança: Simulacros de nuvens Prenunciando a chuva! No enfrentamento das referências intertextuais Engendrando dúvida em intermináveis leituras, A existência contemporiza imprescindível luva. Nos entrançamentos extemporâneos do jardim Moureja, determinada, a pequerruchinha saúva!
[ 105 ]
NOS BALOUÇOS DAS PALAVREAÇÕES O COTIDIANO TEM UM SOPRO DIVINO Caminhos de nuvens Cheinhos de encanto: Sol alindando infinito! Nas arrumações de agalopantes estripulias, Hospedes hesiódicos de frias manhãzinhas, Desadormecidos galos despertam o cabrito. Nos rastreios, da ensoberbecida madrugada Casalzinho de enamorados praticam delito!
[ 106 ]
NOS AURORECER HABITUAL DA VIDA O VELHO ANCIÃO ESFIAPA SEUS DIAS Instantes de encanto: O enrugado velhinho Borboleteia seus pés! O desanuviar da desconcertante caminhada No quebrantar intransferível, do amanhecer, Tem contumácias embevecidas de igarapés! Em que prateleiras, cândidas, amarelecidas, Sobrepõe, o velhinho, confidenciais cafunés?
[ 107 ]
NA EMOLDURAÇÃO DE BELOS COQUEIROS TAMANDARÉ RE_VIVE, EM CECI E EM PERI Alçapões de esperança: A pulquérrima jangada Em folganças praianas! No enternecimento, imarcescível, dos encantos, Em umbilicalidade prosaica, habitual, inelutável, Belos coqueiros emolduram estampas litorâneas. Despreendendo-se diluviano, Peri congloba Ceci, Tamandareando fascínios, em aragens cruvianas.
[ 108 ]
DA MEMORÁVEL E BELA PINDORAMA LÁGRIMAS LIQUEFAZEM COQUEIRAIS Coqueiros em prontidão: Mavórcios de pindorama Ante labruscos coloniais! Desembocando lágrimas, a portentosa Potira Malgasta-se, por Oiti, inexpugnável guerreiro, Derrotado por talássicos monstros ancestrais! Tonitruando um encanto, presenteou-a, Tupã, Amainando suas dores, ostentando coqueirais.
[ 109 ]
AS LÚBRICAS CONJECTURAS DE UM AMOR NA VÓRTICE OBSCENIDADE DO ENCONTRO Esperei uma eternidade Pelo interminável beijo: Nuances de insolências! Esgueirando-me, nos intrometimentos da solidão, Plangente prisioneiro em lôbrego aprisionamento Vejo-me recatada, enfeitadinha nas erubescências. Nossos sentimentos matraqueados se amalgamam Gáudios, obscenos, em afloradas codelinquências!
[ 110 ]
NO OFEGAR DO ULTIMO CLARÃO DA TARDE A PRIMEIRA ANTOLOGIA DE SPINA APARECE31 Palavras: brinquedos espalmados De enrodilhamentos existenciais: Realidade circunstancial genuína! Na incomplectude embrionária dos acontecimentos, Em desdobramentos, indesculpáveis, de poeticidade Tangencio-me, desnecessariamente, ao que rumina! Em mãos, historicidades e(nco)mendando mistérios: Primeiríssima crestomatia integralmente de SPINA!
31
Ao tomar ciência da coletaria de SPINA‟s
[ 111 ]
O FRESCOR DO DESEJO CLAREIA O DIA EM GESTOS UMBILICADOS DE PAIXÃO Espero com paciência Tua caminhada diária: Liames de provocação. Teu vestidinho xadrez, curtinho, esvoaçante, Em desenrosco de esquadrinhados desvendo, Promove suspiros em desembaraçada pulsão. Da pequena varandinha, arquejando gemidos Olho-te, lascivamente, onusto de sofreguidão.
[ 112 ]
NAS IN_CONSTÂNCIAS SENTIDAS, O U_MANO DESPREZO DO EXISTIR32 Maluca do juízo: Mayra era casta Igualzinho a lua! Nas essências das in_finitudes humanas Em preparos de camufladas convicções, Loucura coaduna, sufoca, fustiga, delua. Amalucada, Mayra era sêmula enervada: Gravetozinho desprezível jogado na rua!
32
Para, Mayra, a mulher que conversava com a lua
[ 113 ]
NA IN_COMPLECTUDE DO EXISTIR FEMININO O MUNDO É UM NINHO TECIDO NO INVERNO Nervuras de mulheres: Alfabetário de desejos Em desígnios vorazes! Nos entranhamentos contraditórios das aspirações, Que emolduramos nossos acalentados sumidouros Constituímo-nos dores em gravidezes contumazes. Parimos regências, cortejos, perfumes, melancolia: Feminilidades arraigadas de sentimentos pugnazes!
[ 114 ]
NO ENTARDECER DAS JURAS SECRETAS CONSTRUIMOS ANÁLISES DE PURA DOR Fugiste sem compaixão: De soslaio, dissimulada, Seguiste caminho afora! Nem uma indulgência! Desatinada, luciférica, Aluada em fragmentos perversos, destrutivos, Vertiginaste-me a desilusões que em_corpora! Pelegrinando nos des_caminhos de Dymphine, Ponho-me, dionísico, em inquestionável piora!
[ 115 ]
VIVER UM ENTRINCHEIRADO AMOR NOS PÕE ENTRE LOUCURA E RAZÃO Vivemos pelo encontro De inadiáveis lágrimas: Janelinha das saudades! Quando partiste, abandonaste meu coração Em escancarada descoberta de sentimentos: Lançaste em mim, labirínticas hostilidades! Desde então, vago, misantropo, disparatado No intermúndio caminho das efemeridades!
[ 116 ]
OS SEGREDOS DA INADIÁVEL PAIXÃO VEM, EM GESTOS DES_PRETENCIOSOS Esqueci, por descuido, Dos segredos abissais: Moça tecendo sorriso! Em escorpioninas escavações de sentimentos Vasculhadas dentre escombros de linguagens Constituí-me, amante, em abrupto improviso. O corpinho trigueiro, gentileza envergonhada, Mergulhei nos sentires, inopinado, inconciso!
[ 117 ]
NA ARGUMENTAÇÃO PUERIL DA PAIXÃO A CONCEPÇÃO MAIS U-MANA DO SENTIR Mansardas despindo céus: Nos caimentos alumiados Duas rolinhas colombinas! Nas transfigurações elementares das esperanças, Em hegemônicos empobrecimentos de carinhos, Epigrafo-me sonhador, entre decoradas cortinas! Embaciados pelos aconchegos, amantético casal Agasalham-se inertes, em associações libertinas!
[ 118 ]
NO PÓ CALCIFICADO DO TEMPO, OS DIAS NOS OFERTA UM ATRAVESSAR DE CORES Enfeites nos quintais Intrincado de beleza: Dois airosos faisões! Guarneço-me, circunspecto, de lavas vulcânicas, Abrigo noite, atravessando cômodas correntezas Em atravessadura de com_sagradas anunciações. Aguilou-me do provisório, preservando segredos Na consubstanciosa, intramunidade, das estações!
[ 119 ]
O AMOR É UMA CANDEIA CUJA CHAMA VEM DE PAVIO UMEDECIDO POR AFETO Tínhamos deveras cuidado Pelo indispensável a(l)mar: Olhava-me, com exaltação! Enquanto personificava tuas exuberantes dores Meus cortejos, de inquestionáveis indulgências, Fazia-me passarinho, aguardando outra estação. Encontrando-me, por fim, sozinha, abandonada, Fiz-me, alpendre, caminho, estuário, imensidão.
[ 120 ]
RESPIRANDO VIDAS EM SEU EXISTIR A VELHINHA, CAMINHA, SEU TEMPO33 Canteiros de borboletas: A velhinha, magrelinha, Estrebuchando a manhã Atravessando a avenida, passos pesarosos, Alteando, silenciosamente, os seus olhares Assobia, canhestra, a pequenina cunhanhã. Consternada, imersa em suas elucubrações, Respira, ciciando anasalado cântico uanhã!
33
Para, Crisóstinas de Jesus Oliveira, um pouco antes de sua travessia
[ 121 ]
O TRINCAR DA TERRA D‟UM SER MULHER SE IMPÕE ENTRE GESTAÇÕES & PARIÇÕES Cósmica! Sou grandeza Em minhas existências. Tenho histórias plurais! De cromossômica existencialidade, sou natureza, Sou calêndulas, paióis, jardinagens, constelações, Corpo, enaltecendo, os cansaços circunstanciais! Sou intransferivelmente minha, francamente livre, Rebelo-me, a quaisquer benevolências patriarcais!
[ 122 ]
NO ABACIAR DOS MORMAÇOS, O DIA COSTURA ENCANTAÇOES DE DESEJO Sábado: Sol ornamentando Devagarzinho o horizonte! Transparência de mistério. As estridulações tronituantes de cigarrinhas, Abreviando dias de alcanforados aguaceiros Refestela, escombro gongórico de refrigério. Entre temporais irremediáveis, ou sequidões Delicadamente, grito, em interdito desidério!
[ 123 ]
NA MORFO-ATOMICIDADE DAS COLHEITAS O EXEMPLO PRIMÁRIO DE NOSSOS AFETOS Charleios de esperanças: No assazonado milharal Saltitantes periquitos rei! No plesiomorfismo empalidecimento de folhagens Em pós-seminal desenvolvimento das sementeiras Anteponho-me, a conjunções que condescenderei! Irrequietos periquitinhos em amiudados galanteios Transversalizam temporariamente, do que trajarei!
[ 124 ]
DA VASTA, LANCINANTE E ABISSAL DOR SOMOS RECOLHIDOS EM FLOR DO AFETO Roseirais de cuidados: Nervuras de paciência Em in/finitudes sentir! Nos resguardos das i_memoriais empedraduras Em desmanches cataclíticos dos esvaziamentos Acolho-me, álacre, em esperançoso genuflectir! De entulhadas contemplações, silêncio, solidão, Revela-se, procissões, milagres, ternuras, devir!
[ 125 ]
O QUE É SECRETO E IMEDIATO NO TEMPO SE AGASALHA, DIREITINHO, NAS PAIXÕES Desmancha teu incômodo De púbere desconsolação: Airosas unhas esmaltadas! Tuas verbosas confidências, contrapondo destinos, Agasalham andanças, regressos, sorrisos, tristezas, Em langorosas urdiduras, discretamente ofertadas! Nesse remansoso tormento, calidamente esculpido, Ponho-me, auspicioso, em paixões desconcertadas!
[ 126 ]
NOSSOS FRAGMENTOS DE CAOS & RUINA SÃO FIOS DE MEDO E RAIVA REPRESADA34 Menino esfarela cu: Gritos da molecada Alcançando as ruas! Nas im_permanências de inventadas narrativas Em valentias, incomensuráveis de personagens Benquerenças estropiadas são absorvidas cruas! O iliádico joaozinho, macambúzio, amofinado, Meteu-se mata adentro, transposicionando luas.
34
Para, João Novaes, conhecido por “João da Lua” ou, em razão de um probleminha de flatulência, “menino esfarela cu”. Desaparecido misteriosamente em 2018
[ 127 ]
EM DIÁRIAS E INÓSPITAS EXISTENCIALIDADE A VIDA COSTURA A SUA DIÁRIA ENCANTAÇÃO Alpendres de babaçus Remoídos de ternuras: Roupinhas nos varais! Em escaramurço de in_complectude existencialidade Desalinhando distâncias a indisponíveis inquietações Intextualizam aleatoriamente os vermelhos buritizais! Espreguiço-me, na integralidade dos acontecimentos, Charlam, prolongadamente, ararinhas nos coqueirais.
[ 128 ]
NOS EXISTIRES DOS INCONSÚTEIS DESEJOS VIVEMOS AS CONSAGRAÇÕES DE FETICHES Rouxinóis no oitizeiro: Meus lábios suspiram Em in_contido desejo! Percorrem-me, tuas mãos, desabrochando carícias Em instrumentalizações de segredo extemporâneo Alumbrando regozijos, em avassalador relampejo! Em fetiches enrubescidos, consagrando obsessões, Existencializo-me, jogo, em des/contraído sacolejo!
[ 129 ]
AS MANDÍBULAS DO TEMPO PRESENTE ENVERGA-ME, À ARCAICA LINGUAGEM Promessas de sonhos Entrincheira o tempo Em sóbria folhagem! Subterrâneos sagrados, de abissais existências, Nas edulcoradas im_permanências da solidão, Desvelam mandíbulas de ingluviosa linhagem. No espatifamento escorregadio do amanhe_ser Trajo-me, lacônico, de embrionária linguagem
[ 130 ]
O DESABROCHAR, IDIOMÁTICO, DO TEMPO VEM EM COLEÇÕES HABITUAIS DE EXISTIR Convexas canções: vagalumes Deitando suas luminescências Em atravessamentos noturnos! No espreguiçamento das idiomáticas comunhões, Sordidamente sufocadas por enviesadas lágrimas, Recuso-me, idiossincrático, aos místeres liburnos! Custeando reentrâncias documentais de escuridão Confidencio-me essência, nos sustentos alburnos!
[ 131 ]
NA INCOMPLETUDE DE MINHA EXISTENCIA SEMEIO SEMENTES DE OFERTADO PLANDIO Chazinho de erva-cidreira: Vasculho quintais, jardins, Em diárias contemplações! Esperançando-me, nas incompletudes dos instantes, Contornando sentimentos em emolduradas palavras Doutrino lhaneza em circunstanciais estratificações! Nestes enfrentamentos, denuncio, suplico, exaspero, Feito catecúmeno, professando censuradas abluções!
[ 132 ]
SALA ILUMINADA DE VIDA (Trinta colheitas de uma longa semeadura)
[ 133 ]
[ 134 ]
NO ASSANHAMENTO DO ANO NOVO UMA MOLDURA DE PURO ENCANTO Rascunhos de atrevimentos: Em lampejos crepusculares Casais bosquejam seduções! Os escrevinhadores de acintosos sortilégios No abaciamento, encantatório, das afoitezas Cerzem libido, lascívias, volúpias, afeições! Em lúbrica concupiscência, flamam desejos Aquiescendo ao dia, iconoclastas excitações.
[ 135 ]
NO SEGUNDO DIA QUE O ANO ME DÁ DESPERT-ME NO PULSAR DE CANTOS Celebro dilúculo viver Em dúcteis fragmentos: Brotações de girassóis! No lânguido discernimento das caminhadas Em mansuetude de racemosa inflorescência Desabrocho domingo entre adiposos lençóis. Aguço quedo, ignavo, modorro, monotônico: Na companhia agradabilíssima de rouxinóis!
[ 136 ]
NO TERCEIRO DIA, DO PÚBERE ANO, CHUVAS CHAMAM ASSOMBRAÇÕES Domingo. Sorna chuva De inverno amazônico: Cantilena nos telhados! Na espantosa possibilidade dos descansos Sandálias emparelham a preguiça noturna Arrastando os pés aborbidos, rendilhados! Debaixo da cama, insurgindo dormências, Bicho-Papão, com os olhos esbugalhados!
[ 137 ]
NO APORTAR DO QUARTO DIA DE VIDA, A MANHÃ PARI TERRAÇOS DE ENCANTO Cânforas de existências Escarafunchando o dia: Refestelar de temporal! Guirlandas em pêndulos, amaciando horizonte, Portam friagens em travessinhas arredondadas: Entre lençóis, escondidinho, quiescente dorsal! Nas luminescências empetaladas do amanhecer Desperta, resplandecente, o floridinho cajueiral.
[ 138 ]
NO 5º DIA DE MINHAS ACONTECENÇAS O AMANHECER ME ENCHE DE ALEGRIA Zumbidos no horizonte: Grilos bem pequeninos Pulam em samambaias! Na desabotoação translúcida do amanhecer Bosqueja o tempo, momentâneo, transitório, Nas cumbuquinhas de frondentes sapucaias! Inculcando tardanças no parduscado quarto Charlam, donairosas, as pequeninas jandaias.
[ 139 ]
NO 6º DIA DE MEUS NOVOS TROPEÇOS TEODORINHA ME ESPIA PELA MANHÃ35 Crônicas de saudade: Máculas de cerração Decompõe a manhã! Pelo assarapantar ingovernável do amanhecer Em macambúzios embatucados de presságios Piados misantrópicos da acinzentadinha cauã! No destaramelamento de amanhecidas janelas Vem, Teodorinha, feérica, alegórica, guardiã!
35
Para, Teodora Ferreira Soares, imerso em saudades
[ 140 ]
NA REMOEÇÕES DE NOSSO PARCO EXISTIR A VIDA TEM RE_ETRATOS DE COISA MIÚDA Deslumbres de infâncias Preparando o amanhecer: Varandinha de miudezas! Nas intra(m)unidades atravancadas das recordações Em redemoinho umbilicando pardacentos girassóis, Explêndidas plantações orvalham suas delicadezas! Moldurando meus encantamentos, arroubo sorrisos: Dois velhinhos mussitam, crepusculando vagarezas!
[ 141 ]
8º DIA: O ESCARAFUNCHAR DAS CHUVAS REVELA EXISTÊNCIA PARA ALÉM DO DIA Sabugos de milhos: No imenso terreiro Acepilhar de mãos! Interpelando chuvas em acariciadas transparências, O amarfanhado velhinho, timido, encarquilhadinho, Vaticiniza abrangências entre estilhaços temporãos. Franqueia utopia, insolência, intimidade, esperança Em vocábulos axiomáticos, indubitáveis, cortesãos.
[ 142 ]
NA NONA DES_CONFIGURAÇÃO DO EXISTIR O TEMPO INTERSECCIONA CENAS SURREAIS Corantes de sarcasmos Em mnêmicos desejos: Metáforas no caminho! Dos vestígios analíticos, simbólicos, interpretativos, Vem insights compreensíveis, reflexivos, dialéticos Horizontalizando mandíbula anônima de torvelinho. Nas crepitâncias, indecifráveis, dos sombreamentos, Interiorizo minhas existências, agrisolhado, sozinho.
[ 143 ]
NO 10º RESPLANDECER DE MEUS DIAS A MANHÃ GEOMETRIZA LILAS CORES Pássaros em cantarejos: Aliterações das manhãs Embutidas de surpresas! Das sangraduras acinzentadas do amanhecer, Em desarrumações, desconsoladas, de espera Aurorescem joaninas em rendas portuguesas! Nas desassossegadas colheduras dos igarapés Debruam indecifráveis as exóticas baronesas!
[ 144 ]
NO 11º POR-DO-SOL DO ANO, O TEMPO REVELA O QUÃO BELO HÁ NO INCONTESTÁVEL EXISTIR Caprichos de cores Atravessando o dia: Latejos de paixões! Apoiando-se, cuidadosamente, na camparesca janelinha, Anteporando in_confidências ao porvindouro entardecer O casalzinho apaixonado instrumentalizam compleições! Indissociabilizando plenitudes, um pequenininho jardim Destrincheira encantos em im_pronunciáveis aflorações!
[ 145 ]
NO MEU DÉCIMO SEGUNDO ENTARDECER A VIDA OBSEQUIA UM PUBLICADO AFETO 36 Symone Elyas: Fortitudes! Engendres de flamboyant Coadunada em existência. Parágrafo circunferenciado de raríssima beleza, Clarejando vida em incontrovertível descoberta: Desembocaduras de vida exaltando confluência. Um resplandecente girassol, rutilante, reluzente, Luzeiro aristotélico de portentosa quintessência!
36
Para, Symone Elyas, com exuberante admiração e carinho
[ 146 ]
NA DECIMA TERCEIRA MANHÃ DE VINTE E UM UMA COMPLIÂNCIA DE VIVÊNCIAS EMOTIVAS Quebranto, languidez, abraços: Galardoadores de sentimentos Madrugando suas encantações! Em linguagens desmesuradas, esvoaçantes, insistentes, Extravasando exuberâncias no precipitado amanhe_ser O entanguidinho escrevinhador exaspera elucubrações! No degenerescente lusco-fusco, dilúculo, perfuncitório, Despontilham-se, ararinhas em hiperbólicas arribações!
[ 147 ]
O 14º DIA SE LEVANTA EM CORES QUE SUPREENDE A MINHA ALMA Estradas de luminâncias Infinitadas pelo silêncio: Janelas parindo saudade! Brinquedos na embocadura do terreiro Encroados de poeiras, cansaços, afetos, Fiam sortilégios em efêmera brevidade! Na geometria dos levantes existenciais, Ossaduras informe de parca urbanidade.
[ 148 ]
NO DÉCIMO QUINTO DESPERTAR DO TEMPO CHUVAS GUARDIÃS SACRALIZAM O AFETO Esfinges: entidades sagradas Cruéis, sorrelfas, famulentas, Brutas, alegóricas, ancestrais. Figuras míticas, helênicas, egípcias, pantagruélicas, Guardiãs dos segredos primitivos, epistemológicos, Signos ancíptes, idílicos, barremeanos, referenciais. Afetuosamente presenteado pela querençosa chuva, Amanheço submergido nestas alocuções espectrais!
[ 149 ]
DEFRONTE A MANHÃ DESTE 16º TEMPO RECOLHO OS SOPROS DO AMANHECER Recebi de impulsão Em gesto amavioso Uma flor vermelha! A manhanzinha, malnascida entre fragmentos Esfumaça garatujas de columbinas solicitudes Macanbuziando bois em desarrumada parelha. Em embrionária cantiga, embraseio esperança Perscrutando o pardaizinho descamando telha.
[ 150 ]
NO DECANTAR DESTE 17º AMANHECER SEMENTES DE FOGO JARDINAM A VIDA Espelhos, calhando vidas, Em trinchas embrionárias Na inflorescência matinal! Êmbolos de ruminâncias alquebrando lençóis Nos desdobramentos solitários do amanhecer Acolhem pássaros em imutabilidade cardinal. Em labirínticas habitações, casais enamoram, Baldeados por obscura concupiscência carnal.
[ 151 ]
NESTE DÉCIMO OITAVO DIA O TEMPO, ENFLORA GRITOS Desdenha, em mim, Desabroches de sol: Ressumbro a escrita! Pendurado nos cílios do tempo Silencio minhas rosas do peito Em uma dor pesarosa, contrita! No alvojejar insólito da manhã A minh‟alma intumesce, grita!
[ 152 ]
NAS RÉSTIAS DO DÉCIMO NONO EXISTIR A VIDA TEM FACE OCULTA DA SAUDADE Imagens de temporais: Alonga-se o horizonte Em vórtice torvelinho! Abraçando, vagarosamente, a velhas fotografias Esmiuçadamente dispostas por sobre aparadores Lacrimeja, macambúzio, um acurvado velhinho! Os ressentimentos sempiternizados de existência Deram-lhe, morosamente, o permanecer sozinho.
[ 153 ]
A VIGÊSIMA MANHÃ TRAZ OS FIOS OS BIRLOS E OS FUSOS DO EXISTIR Pedaços de mim: Nuvens em mãos De eternas dores. Em subterrâneo de anacrônicos garimpos Teço mormaços a indissolúveis respostas Em cenários de entrincheirados penhores. No emudecimento da acabrunhada manhã Crio estágios nem sempre aprisionadores.
[ 154 ]
NA VIGÉSIMA PRIMEIRA MANHÃ DO ANO O DIA EXALA SUAS PÉTALAS DE ALEGRIA Bálsamos de refrigério Encapando a prateleira: Emanações de alecrim! Nas despalavrações, espriguiçadas, das manhãs Invernando pálpebras, desopressadas de chuvas, Eclipsa-se quieto o pequenino tamanduá-mirim. Descamando ausências na enfeitadinha varanda Exubera-se, das begônias, enrubescido carmim!
[ 155 ]
NO VIGÉGISMO SEGUNDO ALUMIAR O DIA TRAZ POUCOS PALAVREADOS Silêncio na noite: Um ventinho frio Pitonisa o perjuro. Soturno, ensimesmado na misantropa sala, Alheado, absorto, embebido em reflexões, Sou gravetinho, escondidinho no monturo. Vem o amanhecer, mormaçado, eclipsado, Pesaroso, mortificando seu abismo escuro.
[ 156 ]
23º DIA: A SAUDADE REFAZ O MEU SER EM PÉTALA PERFUMADA DE AUSÊNCIA37 Retalhos de saudades: Embalsama meus dias Uma descampada dor! Nas destroçadas terminologias das vivências Recolho-me, de minhas alheias constelações, Ameigando teodorinha em éolo escrutinador. Solubilizo lembrança, encanto, cuidado, zelo, Em transfigurações ramalhetianas de albiflor.
37
Para, Teodora Ferreira Soares, arraigado a boas lembranças
[ 157 ]
O VIGÉGIMO QUARTO DIA SE ALUMBRA EM EMANAÇÕES COLHIDAS DE AFETOS Crônicas do amanhecer: Aquiescências de quatis Nos jacarandás floridos! Nas precipitações, cumuliformes, das nuvens Em condensações desacopladas de temporais Partem os vaqueiros, alanceados, esbaforidos! Das cozinhas, em espreguiçados cantarorejos, Proveniências características de cafés moídos!
[ 158 ]
O ESPARGIR DA VIGÉSIMA QUINTA MANHÃ TRAZ-ME CÂNTICOS EM CAMINHOS DE SOL Vertigens de infâncias Encravadas de sonhos: Céu balbucia preparos! O sabiá-laranjeira, entusiasmado pelo crepúsculo Acalenta, caprichosamente, a despovoada manhã Palimpsestando contracenos de sedimentos raros! Desencapando sortilégios, o pequenino menestrel Obnubila, garbosamente, seus angelicais amparos.
[ 159 ]
RUTILÂNCIAS & FRAGRÂNCIAS DO 26º DIA TRAZ MANTO DE ENCANTO INEXPRIMIVEL Janela, nuvens, horizonte: Delicadamente, o silêncio Obsequia acuradas ânsias. Restolhos de navegações, telhados enferrujados, Nubilosa cerração, pássaros arremessando voos: O amanhecer circunscreve profusas cintilâncias. Em verborrágico palavrório, arraigando nervura, Substancio sorriso em inexoráveis compliâncias.
[ 160 ]
27º DIA: O AMANHECER INTERCORRE NOS SORRISOS, CIDREIRAS E AFETOS Bordados de neblinas Distende meu sorriso: Cidreiras em infusão! Nos aparadores, atafulhados de fotografias, As compleições acolhedoras do desamparo Particularizam suas descobertas de solidão! As olências aromatizantes turvejam apegos Em catarse, obsequiosa, diluindo escuridão.
[ 161 ]
AS ACONTECENÇAS DESTE 28º RAIAR FORAM CINZELADAS A ÁRDUO SONO Celebro o amanhecer Em chibante encanto: Descubro as cortinas! No patenteio discricionário das celebrações Com seus optativos quebrantos anonimatos Redenção anuncia suas diegeses matutinas! Morfético, sorumbático, em hypnos rosário Acutilo-me, modorro, às inelutáveis rotinas!
[ 162 ]
O RAIAR DESTE VIGÉSIMO NONO DIA TRAZ UMA BRISA, SUAVE, DE ESPERA Pêndulos de girassóis: No pequenino terreiro O cachorrinho deitado. Mordiscando as fragrâncias dos crepúsculos A passarinhada, em decantada metamorfose, Amanhece, plácida, em deslumbre suscitado. Nas intercorrências, incontroversas, dos dias Um ventinho assopra, vaporoso, cadenciado.
[ 163 ]
O DESPONTAR DO TRIGÉSIMO AMANHECER VEM ACURADO EM SIGNOS E EM SIMBOLOS Rangidos de pássaros Cravejando nos céus Um encanto singular! Automóveis, bicicletas, girassóis, calçadas, janelas, Esperançam, vagarosamente, em cores multímodas, Acontecimentos ensimesmados do dia acuntangular. O magérrimo escrevinhador especula, circunspecto, Cinzelando, intransponível, o estilhaçado assolaprar.
[ 164 ]
SOPROS DE AMANHECER (Emblemas & Suspiros)
[ 165 ]
[ 166 ]
O ALVORE_SER DESTES INDUBITÁVEIS DIAS AFLUA ENTRE UMBILICAÇÕES DE SAUDADE38 Trincados de existências: Somos frágeis contornos De esvaziamento abissal! Nossas descobertas, aspirações, cansaços, esperança Resguardando querências, afinidades, cuidado, zelo, São efemeridades, orvalhinhos engalanando roseiral. Desencarnou-se, Francisco, nosso escritor Pelezinho Das minudências transitórias, humanas, sentimental.
38
Para, Francisco José de Morais (Pelezinho), escritor magistral, levado pela covid-19
[ 167 ]
NO AURORE_SER DE CADA MANHÃ TRINCO MEU SER, NO NÃO- EXISTIR Cravando as manhãs Com suas i_finitudes: Nuvem em mergulho! As alacridades substanciais do amanhecer, Em estorricados, alfabetários, de paciência Ramalham, das árvores, brando murmulho. Nas umbilicalidades de meus redemoinhos Olho, enternecido, meu intrínseco esbulho!
[ 168 ]
NAS DELICADEZAS DE CADA MANHÃ A VIDA ENTOA SAGRADOS CÂNTICOS Escrever a vida Em nota avulsa Nasce o poema! Em delicadezas de renascenças, emborrasca O alvorecer, suas encantações espetaculares, Entre tambores, cabaças, segredos, arupema. Os labruscos caboclos, cronistas ribeirinhos, Sacralizam-se, em transmutações de jurema.
[ 169 ]
NO DESTAMPAR DE NOSSAS MANHÃS O TEMPO SOLOBRA FIO DE SAUDADE Trançados de sonhos Metamorfoseia a dor: Janela, jardim, chuva! No breviloquente acrisolar das passaradas Em aninhos opulentes, festivos, faustosos, A gametófica samambainha tomba, uruva. Desfiando-me, de mais acídulas saudades, Minh‟alma conspícua, resfolega, açapuva!
[ 170 ]
NO DESTAMPAR, ÁLACRE, DOS DIAS O TEMPO ALVOROÇA NOVO EXISTIR39 Reflexos de nascença Traquinando a manhã: Bisbilhotes de alegria! Friagem densa, encravações de existências Subverte esperança em delicados encantos: Edulcoro-me, pândego, em íntima alegoria. Desprendo aplausos em fragrância telúrica: Congratulações a pequenina Raabe Sophia!
39
Para, Raabe Sophia Teodora, em seu primeiro aniversário
[ 171 ]
NO MORDISCAR DE APRAZIVDEL MANHÃ O EXISTIR TECE SEUS RASGOS DE AFETO Prímula brisa matinal: Interstício de pássaros Na serenada campina! Incandescendo doçuras, em silenciosos afetos, A senhorinha raquítica, soturnamente telúrica, Crepuscaliza estrelas palimpsestando sua sina! Em solitude, cirze indumentárias contingentes, Enredando pêndulos de abaforada indisciplina!
[ 172 ]
NO QUADRAGÉSIMO FILETE DO ANO O DIA, EMOLDURA, ATOS DE EXISTIR Estrondos ao amanhecer: Procissões de fugacidade No extemporâneo jardim! No assarapantado despedaçar da escuridão, Um arrebanhador de inelutáveis esperanças Acautela-se, em um multicolorido arlequim. Grafita vento, moinhos, mortalhas, quintais Entre enferrujes de incognoscível botequim!
[ 173 ]
AS LINGUAGENS E AS LEITURAS DA VIDA APROPRIAM-SE DE MIM NO AMANHE_SER Têmporas de eternidades: Postulação de paideumas Em augúrios intertextuais! Envelhecidas figuras, de atravessadas existências, Contemporizam alicerces de antagonistas proezas Ideogramando poéticas de abordagens geracionais. Em zéfiros amanhe_seres, posfácios in_corpóreos, Constituem-se balizas de magnitudes ornamentais.
[ 174 ]
NO INTERMINÁVEL ARROTEAR DOS DIAS O TEMPO DESCORTINA SEUS VENDAVAIS Páginas de amanhecer: Emoldurada de ventos O aguaceiro esbarroca! Vascolejando os entorpecimentos da melancolia, Nas dessemelhanças catastróficas do crepúsculo, Saboreio, deliciosamente, chazinho com tapioca. Robustecendo preguiça, em dolentes travessuras, Substancio-me enxurrada deabulando na mococa.
[ 175 ]
NOS DILÚCULOS IMPROVÁVEIS DOS DIAS O TEMPO ESCARAMUJA SUAS ESSENCIAS Serrações, orvalhos, neblinas: Recolhimento de efemeridade Em desalumiadas delicadezas! Nas amorescências de referenciadas reclamações, Preparadas, soturnamente, em temp(l)os floridos Emergem-se, os jardins, primaverando miudezas! Nas intercorrências caramujadas de redemoinhos Acomodo-me, em complacências de estranhezas!
[ 176 ]
NA INTERSECÇÃO DE HORAS E DE TEMPO O DIA ENCAMINHA AS SUAS EMANAÇÕES Moleques azucrinando manhãs: Soçobram-se, das passarinhadas, Interveniências de elucubrações! Nas diafaneidades, afigurativas, dos crepúsculos Provejo-me, cobiçoso de incomensurável cogito Entre penhascos alcantilados de argumentações! Nos descaminhos nostálgicos das reminiscências Orvalho-me, pássaro, em arranjadas emanações!
[ 177 ]
NO DESTAMPAR DE INÚMERAS AURORAS O LABORIOSO TEMPO, OFERTA DOÇURAS Coqueiros ao horizonte: Janelas colhendo brisas Em vísceras silenciosas! No espreguiçamento, peremptórios, dos destinos Em corvejamentos de deslumbrada desfolhagem Surgem duas senhorinhas, engelhadas, maviosas. Nas emoldurações das gentilezas improrrogáveis Bracejam, imperativas, em urbanidades garbosas!
[ 178 ]
ACARICIAR D’UM AFETO (O destampar da saudade em engendres de alegria)
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A PROSPERAÇÃO DA SAUDADE SE DÁ EM ARRANJOS SISTEMICOS DO SER, QUE FLORESCE A CADA CIRCUNSTÂNCIA DE UM HUMANO SENTIR “Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.” Clarice Lispector Por que a saudade tem o dom de nos des_organizar, internamente? Seria a saudade a dor do sentir da ausência do que se sente por dentro do que por fora se ausenta, ou ganho de sonho que se sente no sentir do que se vive em pautado engendro do que nos afora o peito em constituição de lembranças? Somos constituídos desta emoção. Deste sentimento. Sem quaisquer planejamentos, ou aferições, a saudade nos vem, riscando as dobras da alma, em interpretações de afeto. E quando vem (sempre vem), nos apanha descuidados, em um pertencimento de tamanha peculiaridade que nos torna r_existentes a qualquer salvação. A qualquer ranhura. A qualquer conveniência mundana de existir. Saudade é bicho traiçoeiro. Parece uma jaguatirica, no alto poleiro das árvores, a espreitar a caça. O seu bote é certeiro. Adentra o peito em uma apanhadura de fogo (e cinzas). Materializa os gostos, nomeia as vivências e, a diversos modos, subjetiva em nosso peito um novo sentido de ser. Assim é a saudade. Assim somos nós. Carregamos em nossas entranhas, os mais egressos sentimentos. Cada um com sua trajetória particular, com [ 181 ]
seus arcabouços de gestos, ações, reações e abraços. Cada um, a seu tempo e modo, oportuniza um vínculo de análise e cumplicidade. Universalizando as vidas (e sonhos) a um d_estampar de histórias (e motivos) de singulares configurações. E como fomenta a alegria em nossos corações nossas lembranças infanto-juvenis. Esta etapa, memorável, do nosso existir, proclamada de extremosas descobertas, desavenças, encontros e confidências, tem caminhos desafiadores. Envolve-nos a uma trajetória menos passageira, menos consensual, menos interpretativa, nos lançando às considerações da memória em evocações de insuspeitos afetos. Dimensionando sua força, dentro de nós, em uma experienciação empática difícil de se descrever. Só sentido que se tem o reconhecimento de suas notáveis dimensões. Toma-nos, de repente, e nos deixa feito velho ancoradouro, reconhecendo o vazio (e o medo) de antigas ancoragens. Nestes tempos, de pandemia do corona vírus, temos substanciados a saudade em nossos peitos com mais intensidade. O distanciamento social atingiu-nos em cheio. E a todos. Fomos obrigados, forçosamente, na solidão de nossas moradas mais internas, a desassemelharmos do ser, que somos, ao ser do que existimos em ser de existir. O aprimoramento da linguagem não verbal no aprisionamento dos gestos, sentidos e expressões, tornou-se uma atitude rudimentar. Conotativa. Linear. Reprodução rasteira de uma teatralidade mundana construída de manifesto desejo impessoal. Falta-nos o contato, o ato, a pulsão umbilical do afeto. E, nesta construtividade, a saudade impera. [ 182 ]
E foi pensando neste tipo de saudade que nos invade a alma, elaborando em nosso ser suas infinitas categorias de sentir, que li este “Adolescência no grupo DRAFIMM”, de competentíssima produção, elaborada pela amiga Maura Luza, com suas expressões luzamauras de ser. Esmiucei, cada palavra, deste belíssimo SPINA e me transportei a um tempo em que dicas, rosângelas, aldas, franciscas, irleys, mauras e márcias partilhavam seus idiossincráticos sonhos de existir, observando, pelos vocábulos da vida, as derivações, incorporações e manifestações do tempo, apreciando, entre os desassossegos da vida e os atropelos de existir, suas intrínsecas exaltações de sentir. É esta a força expressa neste SPINA: Amizade recheada de saudade. Um sentimento que fez (e faz) de 06 existências, um paradoxo atemporal. Que existiu e que se mantém nas nervuras das recordações, como prova cabal, das re_visitações humanas, em que a distância (temporal) e a existência (perene) se entrelaçam em uma consturança eternal. Construindo as condições para que os corações humanos, com seus exageros de afetos, certifiquem-se de suas corporeidades desfrutáveis de ser, de existir e de amar, em uma im_permanente e complexa exposição do amor, em que, cada inicial, em salutar consideração de existir, seja um coração, se doando, as infindáveis considerações do ser. DRAFIMM. “Rosas perfumadas, risonhas, leais, festeiras”, em que as circunstâncias da vida, em gritarias ou em silêncio, intervalava os mistérios da vida, sem o planejamento rigoroso dos tempos atuais. Em que, os compromissos, terra arenosa, era debruados de sentimentos, nas copas das árvores, nos arredores dos [ 183 ]
jardins, taxiando os pequenos coretos, ou, nos desmontes das dores regada a sonhos em choças de infinitas esperanças. Tempos em que amigas “Sempre juntas, abrilhantando festas, folguedos” construíam suas referências de vida (e de existir) atravessando a vida (e o sol) em um atropelo de alegria. Cujas ambiguidades de sentir, se debulhavam em airosas procissões de amizade. Nestas trincheiras, de boas (e recônditas) lembranças, “corações enamorados” são “garantia de animação”. Molda o tempo (e os passos) e faz de seis existências, um brilhoso sol. Cuja permanência, duradoura, em suas considerações de afeto, dão à vida, “gargalhadas entre sussurros”, possibilitando uma leveza de sentimentos ante a qualquer “cenário recheado de agitação”. Foi assim que percebi este belíssimo SPINA. Um amadurar de sentimentos. Feito cachos de arroz, desdobrando-se, em um dourar de encanto, no macio de nossas roças/almas. Vi-me, como atalaia, indo de dentro para fora, do dentro do peito para os jardins do mundo, em feitio de grãos no amadurar das roças. Deliciei-me. Amo estes recordo macios, que nos abranda o ser em um descosturar de vida. Recomendo o SPINA, com inteira satisfação da alma. Alufa-Licuta Oxoronga Dos Jardins da Casa Verde ______________________________ ADOLESCÊNCIA NO GRUPO DRAFIMM (Às amigas, Dica, Rosângela, Alda, Francisca, Irley, Maura, Marcia) Amigas inseparáveis, grupo DRAFIMM. Nossas iniciais [ 184 ]
Formam a denominação. Rosas perfumadas, risonhas, leais, festeiras, Sempre juntas, abrilhantando festas, folguedos, Corações enamorados, garantia de animação. Gargalhadas entre sussurros, davam leveza Àquele cenário recheado de agitação. Direitos autorais reservados à Maura Luza Martins 26/06/2020
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CRIANÇAS E SUAS CRIANCICES (De afeto encantativos & Carinhos cultivados)
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DOSSIÊ PERNAMBUCANO40 Consta em registro orais, que nos primórdios dos anos 80, R.A., menino mirradinho, porém autodidata, de extrema inteligência mental e espiritual, ainda em Santa Maria de Cambucá, escrevia SPINA‟s. Somente em janeiro/2020 agraciou seus amigos, alegando ser uma nova forma poética. Mas, de acordo com os anais que temos em mãos (não vem ao caso como obtivemos os mesmos), tal forma poética foi criada em sua terra natal e não em SP, no bairro de Santo Amaro, como o mesmo alega. Solange Colombara São Paulo, SP, 09/05/2020
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A partir deste Dossiê Pernambucano, apresentado por Solange Colombara no Grupo de Whatsaap da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas (Spina – Nova Forma Poética), um interessante debate se criou, com defesas e acusações, pelo fato de Ronnaldo de Andrade, criador do gênero SPINA (10/12/2019), ser ou não culpado em tê-lo apresentado ao público somente no iniciozinho de 2020, privando a todos de seu merecido deleite em tempos anteriores.
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PETIÇÃO INICIAL41 Os membros do Grupo virtual ora denominado SPINA – Nova Forma Poética, parte integrante da Associação Brasileira dos Poetas Spinaistas que, desde sempre e para os séculos sem fim, amém, se encontra (e assim permanecerá, faça sol, faça chuva, mesmo que chova canivetes) hospedado na plataforma do facebook, ora denominados por “vitimas do escamoteamento ronnaldiano”, e, ora em diante denominados, simplesmente, por “vitimas”, faz saber que, este processo „está no papo”, é mais fácil que “chover no molhado”, contudo, no intuito de evitar „falatórios inúteis‟ e que chegue ao público que a nossa intenção (desde o princípio) é “colocar a carroça na frente dos bois” mesmo, com o deliberado intuito de atravancar qualquer medida protetiva por parte do réu, ou de seus representantes (que não são poucos, tamanho poder afetivo que o réu possui), réu ora denominado “Menino mirradinho das longínquas terras de Santa Maria de Cambucá, da não muito muito distante prelazia pernambucana”, e, ora em diante simplesmente “menino de cambucá”, evitando-se qualquer termos pejorativos que possam ser usados pela defesa, via embargos declaratórios, assim, como se sabe “diante dos fatos não há argumentos”, e, já ficou patente e provado, inclusive com farta documentos comprobatórios, apresentados, corajosamente, por uma das vítimas, a vítima Rosangela Bruno Schmidt Concado, onde a mesma enumera, de forma vasta, efusiva e farta, os delitos do “menino de cambucá” tais como: 1. Criar algo que instrui, liberta, 41
No início das discussões, Antônio Queiroz apresentou esta Peça Jurídica (Petição Inicial), que depois foi chamada de “Sentença”, explicando os motivos da acusação contra Ronnaldo de Andrade.
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engradece a literatura e não divulgar; 2. Deixar de compartilhar com a humanidade um bem que refrigera e cura a alma; 3. Guardar para si em local incerto e não sabido. Denúncias estas que, por si só, farão o réu “cair do cavalo”, deixando-o, “com a cara no chão” e “com a corda no pescoço”, tão contundentes escopo probatório, deixando as “vitimas” inseridas nesse processo “com a faca e o queijo na mão”, podendo enfim provar que, usando da velha tática do “de grão em grão a galinha enche o papo”, o “menino de cambucá” APROPRIOU INDEVIDAMENTE do SPINA por TEMPO INDETERMINADO, causando grande sofrimento às “vitimas” e seus seguidores. Diante disto, as “vitimas” sabem que não podem mais “ficar com o pé atrás”, assim, pede que seja juntado esta peça acusatória, buscando, na forma da lei, fazer com que o “menino de cambucá” pague por seus delitos e seja conduzido coercivamente, ou DEBAIXO DE VARAS, para se explicar diante da lei do PORQUÊ TER APROPRIADO POR TANTO TEMPO DO SPINA SÓ PARA SI, sendo ele, o SPINA, um bem que, notoriamente, como se sabe desde a Grécia antiga, é um BEM COMUM. Portanto, ainda que as custas processuais venham a “nos custar os olhos da cara”, nós “vitimas do escamoteamento ronnaldiano”, vamos “cutucar a onça com vara curta” e, assim, ainda que saibamos que “não devemos cantar nossa felicidade, pois a inveja tem sono breve, pedimos ao meritíssimo tempo, a pena máxima para o réu, ou seja: 400 ANOS EM CONVIVÊNCIA COM TODOS OS MEMBROS DO GRUPO SPINA – NOVA FORMA POÉTICA. Antônio Queiroz São Paulo, SP, 09/05/2020 [ 191 ]
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO42 O Ronnaldo de Andrade é boa praça Um sujeiro de boa índole e afetuoso, Mas caiu na esparrela de ser culposo De guardar, só para si, e por pirraça, O SPINA, flor de indubitável graça, Por mais tempo do que o lhe caberia, E, os spinaistas, usando de sabedoria, Recorreram do ocorrido ao tribunal, E, indagorinha, o Antonio, o Genial, Deu por ganho, e por finda, a porfia.
O Ronnaldo, que se encontra fugido Com receios de ser levado à cadeia, Pois ele sabe, o que fez é coisa feia, Foi provado que o SPINA foi nascido Bem antes do que deu por conhecido. Nos anais do processo aqui narrado, Por testemunho e escrito foi provado Que o SPINA nasceu foi em Cambucá, Ainda guri, o Ronnaldinho saiu de lá, E, com ele, veio o SPINA já aprumado.
Quando há uma rixa ou pendenga Entre o querelado e o querelante, Só o juiz pode julgar se o meliante É um ou outro, nessa ardil arenga, 42
No início das discussões, apresentei este relato, informando a todos que o réu (Ronnaldo de Andrade), havia se escafedido, dado com o “sebo nas canelas”, e se encontrava „fugado‟, sem rumo ignorado, para não se apresentar à justiça.
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E, se acaso o processo for capenga E o direito, o juiz não vê um valor, Não adianta o querelante ser doutor Ou o querelado, simples vaqueiro, Para a lei, o que vale não é dinheiro É se petição tem bom fio condutor.
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RÉPLICA43 UM DOS FILHOS DE MARIA CONDENADO À CRUZ INJUSTAMENTE POR INCRÉDULOS
Deixo aqui o meu protesto Contra todos vocês, pois, Sou nordestino honesto, Provarei isso depois. A carroça atrás dos bois Para não perder o rumo, Eu quero somente dois, E qualquer erro eu assumo. De imediato resumo Quanto lhes acho infiéis, Vocês querem, mas não sumo, Jagunços e coronéis. Tenho comigo os anéis Com os rabiscos, confesso, Do spina, sereis cruéis, Mas não lhe darei acesso! Entremos no meu processo, Vou à cadeira do réu Com um sorriso em excesso Mangando do povaréu! 43
Em meio às discussões levantadas, Ronnaldo de Andrade apresentou a sua contestação à Petição Inicial, indicando suas considerações argumentativas em relação a tal sentença.
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Vou ver cair lá do céu Cada ser que me condena, E minha musa de véu Dir-me-á – “Valeu a pena...”! Sou rezador de novena E terço desde novinho, Eu vivo uma vida plena, Mas não cruzem meu caminho. Dou as caras de mansinho, Pois nunca imaginaria Que ao sumir um bocadinho Logo alguém me acusaria. Nasci em Santa Maria (Lá no sítio Juliana) Aonde no dia a dia O Sol muda a vida humana. Era final de semana Do ano setenta e nove, Mamãe, mulher soberana, Das entranhas me remove. Além disso, me comove Algo a pouco descoberto: Dezembro de dezenove Foi aquando acordei, é certo! Lembro-me do sol aberto E eu sem ter nenhuma asa Entre espinhos e deserto Vendo gritando “arrasa...” [ 195 ]
Estive ausente de casa No meu sonho concebido, Ao voltar pensei em brasa E não fui compreendido. Eu não estava fugido, Nem fui para o Cambucá, Só me mantive escondido Hoje, atrás de um caçuá. Agora que cheguei cá, Digo o quanto estou ciente Da embira de curuá Que botaram no meu dente. Alufa não foi clemente, Não houve ponderação: Acusou-me injustamente Ter regressado ao sertão. A Solange, de antemão Diz ter bode expiatório Que lhe traz informação Seguida de relatório. Se der passo aleatório Se pisei de modo errado, Se fui eu contraditório, Se não, mas estou lascado. Maura, esse ser bem amado Até a pouco, muito por mim, Crer também que sou culpado E se une a quem quer meu fim. [ 196 ]
Ó Pai, nunca fui ruim Para esta flor do nordeste Que hoje me fere assim, Como se fosse uma peste. Algum ser se manifeste Como amigo protetor, E na surdina amoeste Cada um acusador. Aguda ficou a dor Vendo Isabel Pernambuco Segurar ser a favor Desse protesto maluco. Com veemência retruco Dizendo que não gostei, Mesmo que viva caduco, Disso nunca esquecerei. Isabô, se lhe arretei, De certo modo, algum dia, Perdoe-me! E pedirei Que afaste quem me judia. Pude ver sua alegria Nesse seleto recinto, Esse ar de mulher fria Denuncia seu extinto. Antônio Queiroz, distinto Homem de boa vivência, Com seu jeitinho sucinto Não crê na minha inocência. [ 197 ]
Com toda linda aparência Fingiu pra mim ser sensato, Mas hoje tomei ciência Que não passa de um ingrato. Já rabisquei o retrato De Rosângela e também Dos demais. Isso é um fato, E não vou poupar ninguém! Eu não sei mais quem é quem; Que crueldade, Senhores, Infelizmente, aqui tem Um balaio de agressores. Vejo tantos promotores Já com a minha sentença, Que aos orixás protetores Imploro cada presença. Neles tenho alguma crença Tal qual os meus ancestrais, E por essa estrada imensa Seguimos sendo mortais. Não me renderei jamais, Nem confessarei, sou forte, Que conste nos seus anais: Só me entregarei à morte! Ronnaldo de Andrade São Paulo, SP, 09/05/2020
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CONTRARRAZÕES44
DE UM MININO MIRRADINHO DO CAMBUCÁ A UM SAGAZ TRANBIQUEIRO LUDIBRIADOR Foram horas de sentença Tudo bem documentado, Houve busca por presença Do que, ora se diz coitado. Na caatinga e no cerrado Buscou-se com veemência, Usou-se de fuxico, tratado, De toda a alta providência. Usou-se da magia, ciência Drone, avião e disco voador, Fizemos grande diligência Em busca do distinto senhor. E agora, diz, o usurpador Com cara limpa de jupiapá Que fugia do seu inquiridor Escondido atrás de um caçuá. Seja em São Paulo, Cambucá, Brasília, Mato Grosso, Goiás, Isso é coisa para uma catiripá, Não é justo, não é belo. Aliás, É escusa mais azeda que ananás, 44
Em razão da contestação apresentada por Ronnaldo de Andrade, contrarrazoei, peticionando a confirmação da sentença.
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Próprio de quem vive do engano, E, diz ter a inocência dos sabiás Escondendo seu lado desumano. A burla, do judeu ao muçulmano, É qualidade intrínseca, inerente, Mas, igual a deste sagaz fulano Não é uma prática de ser vivente. Diz o cabra em discurso incoerente Que nasceu e veio sono profundo, Que estava no nordeste e, de repente, Acordou em São Paulo, outro mundo. Confesso: isso me deixa furibundo, Com a alma dura e sem compaixão, O cabra é esperto, um galangundo, E me acusa de não ter ponderação. Acusa a todos, e sem consideração Traz um leque de rodeio vexatório, Infama a Solange por seu relatório E até a Maura, que é todo coração. Com lábia ladina pratica a coação, Tenta seduzir a inocentíssima Isabô, Ao Antônio, o acusa de ingratidão, Em sua mente insana, tudo é complô. De tão perverso, eu logo digo: Xô! A sua fala é comida de raso prato, Pode ser atleta ou campeão de judô, Não me engana com este riso abstrato. De Rosangela, desfez-se do retrato [ 200 ]
Quebrando-o, sem dó ou piedade, Isso não é de gente, é um maltrato, Não é de quem guarda hombridade. Diz-se inocente e clama por piedade, Fala em crença, orixás, virgem maria Clama por inocência a toda sociedade Dizendo-se, um fiel folião de romaria, Pois digo: o cabra é bom de estripulia De engano, de engodo, de artimanha, O sujeito tem uma vasta estamparia O que lhe falta, digo: é ter vergonha. Eu conheço, de longe, sua artimanha, Sua ladinidade, astúcia e esperteza, E vou encerrando, a raiva é tamanha Pedindo sua condenação com justeza!.
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BRINCADEIRAS NO MUNDO SPINAISTA (Causos sobre fatos familiares)
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SOBRE BOLITO45 Bolito viveu 14 anos conosco. Veio com a família, dos rincões do Tocantins (à época, norte de Goiás), na carroceria de uma carreta boiadeira, que foi dividida em dois compartimentos: No primeiro, próximo à cabine, três famílias amontoadas, com suas parcas tralhas (caçuás com roupas, sacos de estopas com talheres, pratos, panelas, cadeiras), o BOLITO e um sem fim de sonhos nos corações. No segundo, do meio para trás, abarrotado de cavalos, éguas, porcos, galinhas e tudo o que era de animais de pequenos portes. Foi uma longa e exaustiva viagem, em um rigoroso inverno amazônico (Dezembro, década de 70, aguaceiros de fazer inveja ao dilúvio do patriarca Noé). Tempos depois, uma irmã se mudou para uma pequena vila (à época, chamada de “cachorro de cócora”, hoje a cidade de Pau D‟Arco), disto 25 quilómetros de Redenção, viagem realizada em carroceira de caminhão madeireiro. Nessa viagem, minha irmã resolveu levar o Bolito. No trajeto, sem que ninguém percebesse, Bolito pulou do caminhão e se escafedeu mata adentro. Só foi percebido a ausência, chegando em “cachorro de cócora”, já sem o cachorro na carroceria, quanto mais de cócora. Nada por fazer, a não ser o lamento pelo descuido e inevitável perda. 45
Comentário em conversa com a poeta spinaista Ana Meireles, a quem chamo de „menininha de santa maria de belém do grão pará, sobre SPINA em homenagem a Bolito, meu cachorro de estimação.
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35 dias se passaram e, quando ninguém mais esperava, Bolito apareceu no terreiro de casa, em Redenção, a couro e osso, parecendo aquelas vaquinhas esqueléticas que tempos passados o sertão nordestino paria. E, que só viviam de teimosas. Assim era Bolito. Obstinado e turrião por natureza. Um faro privilegiadíssimo. Daí o seu apelido: paqueiro. Identificava uma paca à quilómetros de distância. Ao seu acuo, o almoço era garantido. Bolito gostava de ficar sobre um velho banco, frente em casa, debaixo de um velho pé de sete copas e de um mangubeiro. Dos dois, só o mangubeiro resiste e permanece, altivo, desde o plantio pelas mãos de papai. Esse banco permaneceu por anos, frente à nossa casa, Teodorinha gostava muito dele. Era por lá que ela passava longas horas, confidenciando seus sonhos e confabulando os destinos das meninadas com o seu amado Leopoldo. Creio que o banco tenha ficado até meados da década de 90. Foi, próximo a este banco, que Bolito fez a sua travessia ao mundo dos gordos e fartos preás. Onde, por certo, se encontra ainda hoje, exuberando seu faro para alguma paqueirinha, enchendo a baleia de sinhá (igualmente bela) de extremado ciúmes e transbordando ao meu peito o incomensurável aguaceiro da saudade. Bolito não tinha raça definida, além de pacas, era expert em tatus e cutias. Não era dado a „acoar‟ capivaras, talvez pelo porte, não se atrevia a tanto. Mal dava dois ou três latidos e perdia o interesse. Bolito tinha uma inteligência rara. Antes do seu nascimento, mamãe e papai tiveram um outro, com semelhante (e rara) [ 206 ]
sagacidade. Era de porte grande, pardo avermelhado e que se especializou no „aparte‟ na lida da vaqueiragem. Era um exímio „pegador‟ de vacas e bois desgarrados. Abocanhava o focinho do animal fugidio, por maior e bruto que fosse, e os lançavam ao chão, para serem laçados e levados aos currais. Dele, só conheci as façanhas, contadas por mamãe e papai. Mas essa é uma história para outra ocasião. Creio que Bolito já o tenha visto, lá pelas terras dos grandes e fartos preás. Bolito era dado à fáceis amizades. Coisa que nós, os u_manos temos esquecido, ultimamente.
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SOBRE BOLITO & OUTRAS TRAQUINAGENS 46 Em um dia, igual ontem, de uma década que se abria esperançosa, pelos ventos de mudanças que se moviam no horizonte, feito algodões ao vento, em um tempo de eternidades vividas e re_visitadas, morria Bolito. Um ser que me trouxe doces alegrias. Parecia muito comigo: irrequieto, teimoso, resistente e sagaz. Com um olhar de infinito avermelhando os céus e que mais parecia dois faróis, rasgando a escuridão. Bolito possuía uma rara habilidade para os manejos da caça (coisas que nunca aprendi). Certa feita, em um mês de outubro ou novembro, eu, teodorinha e um irmão fomos à „cata dos pequis‟ (tarefa contumaz, quase diária), em uma chácara vizinha, de um certo senhor conhecido por „seu salim‟. Chácara que, corria, serpenteando o cerrado, um belíssimo ribeiro (igarapé). Seguindo pelos intentos, Bolito se lançou n‟água, atrás de uma veloz paca (ou lontra, que haviam também em abundância nas correntezas daquele pequeno córrego). De repente, Bolito se viu emaranhado em um espesso cipoal, que emergia das margens do ribeiro em meio a folhagens trepadeiras e pequenos gramínios. A situação se tornara crítica, em razão da correnteza e do alto e atavanhado espinhais que desciam barranco a dentro, em direção à água, o que tornara a situação mais delicada e o salvamento do Bolito um ato heroico e urgente. Do cimo do barranco, meus olhos pareciam chaminés fumegando na noite, tamanho desespero. Os 46
Comentário escrito em conversas com nosso mentor, Ronnaldo de Andrade, também sobre o Bolito, meu cachorro de estimação.
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latidos de Bolito, com a água cobrindo o seu focinho, dava mais dramaticidade ao momento. Tudo convergia para uma iminente fatalidade. Porém, ante meus olhos em intenso pavor e os granidos desesperados de Bolito, Teodorinha (sábia e calma) não titubiou, de um salto se lançou barranco a baixo, sem se importar a espinhos e cipós, com extrema maestria mergulho no ribeiro e, em forma de heroína em ato hercúleo e fantástico, lançou o Bolito barranco acima e, nadando um pouco mais, se agarrou à ribanceira e saiu ilesa, daquela grande empreitada. A mim, naqueles tempos de minhas criancices, tal feito se alumbrou em façanha sobre-humana, em um empenho digno de um roteiro de filmes. E, tudo por dois motivos: a) Teodorinha temia os lobos guarás, tremia de medo em só em lhes falar o nome, pois rezava a lenda que os lobos guarás perseguiam as mulheres grávidas para comerem seus fetos e, o cerrado em que encontrávamos, naqueles idos tempos, era infestado por estes avermelhados lobos; b) Teodorinha tinha asco mórbido por muçuns e, aquele igarapé era local de vivências deles. Vez e outra viam os muçuns serpenteando as barrentas aguas, se lançando às locas atrás de comidas. Eu sabia disto. Mamãe e meu irmão também. Tínhamos consciência que estávamos invadindo o habitat destes peixes dos brejos, hábil ladrão de iscas e que, costumeiramente se enterram na lama à beira dos córregos em tempos de estios. Todos nós sabíamos destas cousas em nossas andanças pelo cerrado e, mesmo assim, apesar do nojo, mamãe nunca faltou a [ 209 ]
uma „cata‟ de pequis, bacabas, buritis, pulçás, araticuns, barus, cagaitas ou mangabas, apesar do medo, do nojo e do receio por vacas paridas. E, na chácara do „seu Salim‟ quase sempre haviam vacas paridas, cuidando de suas crias, em seus estágios inquietos, ansiosos e agitados, bufando de raiva a qualquer intromissão vindo do lado de fora das cercas. Mesmo assim, Teodorinha nada temia. Eu, e meu irmão, confiávamos cega e desabaladamente em mamãe. E confiava, sobremaneira, nos latidos quase graves do inesquecível e amável Bolito. Naquelas brenhas de toscos e fantásticos troncos, com seus pequis e sambaibas retorcidos, em que seres perigosíssimos se aluíam a uma inconfundível (r)existência, com suas ferocidades de indestrutíveis dragões, além de Teodorinha, Bolito era o nosso mais confiável guardião.
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COISAS DE PAPAI E TITIO47 Meu pai, Leopoldo, possuía um único irmão, Raimundo, que foram separados ainda na juventude. Cada qual partiu para a sua própria jornada, desbravando seus des_tinos mais adversos, entre pedregulhos e matagais, céus e quintais. Por inúmeras vezes papai expressava seu desejo em rever este irmão. Contava-nos das façanhas de meninos, dos segredos in_confessáveis, das bravuras, dos sonhos e da fatídica separação. Depois de 50 anos, quase por um encanto, quanto nem um e nem outro esperavam, surgiram as primeiras notícias. Fulando conhece beltrando que conhece cicrano que conhece Raimundinho, ex-garimpeiro de cristais na pequena localidade de Arapoema/TO. De início, esparsas, tornavam-se mais constantes, com mais detalhes sobre família, passado e presente. De fato, é o Raimundinho, atestava a cada dia, nosso pai. Em medidas geográficas, papai e titio mantiveram-se bem próximos todo esse tempo, sem que soubessem um do outro qualquer traço de existência. Já velhos (papai e titio) tiveram o prazer do r_encontro, da empatia, do afeto. Desvelava-se, para ambos, todo o fio de um imenso novelo de vida. Com este fio, as reminiscências do passado se misturavam às acontecenças do presente em forma de cartas. E foram muitas, antes do r_eencotnro. Por fim, titio apareceu. Estatura pequena, atarrancudo e forte (diferente de papai, que era longilíneo, mas 47
Comentário escrito em conversas com nosso mentor, Ronnaldo de Andrade.
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igualmente forte). Com titio, vieram as outras descobertas, outros deslumbres de existir. À seu tempo, titio teria sido um homem rico, afamado, de muitas posses, dono de barcos e avião hidromotor. Sua façanha teria aumentado em razão de ter descoberto a maior pedra de cristal de sua época, o que teria lhe dado sucesso e riqueza, a ponto de sair de Arapoema, de avião, para tomar água em Brasília, quando esta mal caminhava seus primeiros passos. Foram muitas as conversas que tive com titio. Um homem cheio de proza, com sorriso largo e farto, conhecedor de um mundo ainda misterioso, em que os límpidos cristais se entranham entre raízes e barro, em cântaros de constantes esperas. Titio tinha o tato para as contações de histórias e estórias. Com ele, veio dois netos dele: Raimundo e José, ambos adolescentes, os quais tiveram, tempos depois, destinos adversos. Já na ausência de titio. Em sua morte, titio possuía apenas duas calças, duas camisas, um cinto, uma rede e um cobertor, que serviram de travesseiro na tábua fria e farpuda em que o seu corpo permaneceu deitado, da manhanzinha ao meio da tarde, quando a assistência social da prefeitura da cidade em que ele residia, providenciasse um roto caixão, feito às pressas. Esta era as posses que ele ostentava em seu derradeiro suspiro. Presenciei esta cena, de perto. Só não acompanhei ao cortejo fúnebre, em carro cedido pela prefeitura, em que ia seu filho, Jeremias, netos e bisnetos, para a última homenagem no campo santo local. Horas depois, já em casa, comecei a refletir a quão maravilhosa é a vida e, [ 212 ]
quão passageira e fugaz a nossa existência. Guardo, de titio, uma forte saudade. Grandes foram os feitos de titio e papai. Quantos sonhos gestaram em suas vidas? Quantas esperanças nutriram em encontros e reencontros de existir? Quantas descobertas deixaram por cumprir? Aprecio a vida u_mana nestes entremeios de ser, em espantosa e expressiva vontade de viver.
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TEIMOSIAS DE PAPAI Quando Redenção programou a construção de um aereoporto, a gestão municipal optou em fazê-lo um pouco fora do (até então) lugarejo, distando em torno de oito a nove quilometros (imagina que o lugarejo iria crescer, como de fato cresceu). Meu pai foi um dos escolhidos para ajudar a equipe de topografia, no entanto, não quis que comprássemos uma bicicleta, pois se achava velho para aprender a andar de bicicleta e foi, durante um ano e meio, a este trabalho a pé. Indo às seis, voltando às onze, retornando às treze e voltando às seis. Segundo o médico que o atendendeu, o AVC teria sido ocasionado por exposição contínua ao sol. Ele era um velho teimoso, obstinado, sensível e, apesar de semi analfabeto, gostava de Cruz e Sousa como ninguém. Saudades imensas de meu velho pai. Ensinou- a ser homem, o resto, Teodorinha complementou. Na foto, Teodorinha ainda forte. Hoje, beirando os cem, um fiapo de gente com um brilho jovial. Amo, meus pais. Tenho três livros sobre mamãe e dois sobre papai. 48
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Comentário escrito a partir de um comentário de Vera Salviano.
[ 214 ]
COISAS DE MAMÃE Meu pai, Leopoldo, maranhense de Carolina, minha mãe, Teodora, tocantinense de Filadélfia. Cidades beradeiras. No início da década de 30 a família de minha mãe, uma rica fazendeira, comprou uma fazenda próxima de Araguacema/TO, à época, meu pai, um jovem vaqueiro, desprovido de posses, casado e pai de três filhos, resolveu também se mudar para a mesma região de escolha da família de minha mãe, que, à época, era uma adolescente, criada a esmero, como se fosse uma princesa. Tudo preparado, começaram a viagem. Uma longa viagem. 12 dias a lombo de burros e mulas carregadas com mantimentos e pertences pessoais. A comitiva de minha mãe, uma grande tropa, a de meu pai, dois cavalos baios e uma mulinha, as roupas e mantimentos em parcos jacás e, quase toda a mobília em apenas dois caçuás. Durante a viagem, as duas famílias tiveram dois encontros, em pousos noturnos. Papai e Mamãe não chegaram a se falar, papai, entretido com sua esposa e filhos, mamãe, rodeada por irmãos, mãe e tios. Por obra do acaso, as famílias terminaram próximas. Mamãe, na fazenda de minha avó, Papai, vaqueiros de um fazendeiro da região. Tempos depois, o destino os colocaria cara-a-cara novamente. Papai, viúvo, com três filhos pequenos para criar, procurou a minha avó materna, tentando negociar um „arranjo‟ familiar, pedindo a mão de mamãe em casamento. Minha mãe, mesmo enfrentando a relutância [ 215 ]
familiar, pelas circunstâncias que se aluviam à frente, resolveu se casar com ele. Devidamente casados, eis a surpresa. O dote recebido foi uma pequena „choça‟, de pau-a-pique, cobertura de piaçava e pouquíssimos mobiliários, segundo ela, um potezinho de barro, um gancho com alguns copos bem ariados, bacheiros e arreios dependurados na travessa lateral, um rústico fogãozinho, uma pequenina prateleira feita de jatobá, com algumas panelas, tampas e colheres, alguns tachos de cobre, nos dois quartos, camas com colchões de palhas e um mundaréu de sonhos e desafios a enfrentar pela frente Assim começou a nossa numerosa família, uma tuia de irmãos, sendo eu, o caçulinha. 49
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A história de Leo e Teo, eu conto no Livro: Cristal sob o Chão – A saga de Teodora F. Soares, publicado em 2016.
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ALGUMAS COISAS MINHAS A minha vida, e a dos meus pais e a dos pais destes, foram costuradas em alinhavos pequenos, furo a furo, cerzindo a vida em costuranças e usanças de ser, deixando sempre um pedaço de fio à mostra, para os alinhavos vindouros. Minha mãe, e a mãe dela, foram hábeis tecelãs. Cresci acostumando ao som dos fios de rocas, fusos e bilros. Trago n'alma o som destes afazeres. Dos espinhos de tucuns, do trançar dos bilros, do escorçar dos algodões, do rodopiar dos fusos em constantes cânticos de fé. Cresci vendo minha mãe olhando o horizonte como se a su'alma fosse a janela do mundo, d'onde ela observava o acontecer das coisas e dos seres em distinta cortesia de ser e de existir em uma ontogênica existência. 50
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Comentário a partir de conversas com Ângela Trierveiler, no Grupo SPINA.
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MISTÉRIOS DE TEODORINHA A casinha, singela e afetiva, passou por uma nova caiação. Depois de trocentas tentativas, teodorinha aceitou colocar uma camada de tinta em suas paredes. A casa era a representação de sua pessoa. Mudanças requer cortes. Sangrias. Ela se achava cansada demais para esses novos processos. Conhecia, e bem, a rugorosidade das paredes, o craqueamento da pele, as duas se completavam. As duas envelheciam juntas. Com seus encantos e solidões. Ela escolheu o tom. Acredito que tenha gostado. Aprovado, não sei. Vez e outra a pego olhando para as paredes e tocando, de leve, suas rugas. Suponho que sonhe, quiçá, com um tempo em que as suas paredes/vidas também eram rebocadas por uma tintura de existir-existindo menos porosa, rejuvenescida aos sonhos que hoje, distanciam. Teodorinha tem sua forma peculiar de sentir. Sabe, ela, de seus cômodos e de seus quintais. 51
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Comentário a partir de um SPINA dedicado a teodorinha.
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COMENTÁRIOS ESPARSOS (dos sentires, dos fazeres, dos sonhares)
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I A síntese construtivista do SPINA nos possibilita muitas coisas, muitos sentires e olhares. Um abocanhado de situações e circunstâncias nos move a escrevê-lo. A senti-lo, enquanto espaço de criação e morada. Acostumado à brevidade do haicai, ganhei cinco versos; à quadra, quatro versos; ao tankas, três versos; à sextilha, dois versos. De modo que, com o SPINA me senti mais livre para pintar minhas telas poéticas, com os matizes existenciais possíveis. 52
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Comentário sobre minha relação com o SPINA.
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II Desnudo cenário em um desmonte de palco. Liquefazendo os sentidos, enxagues colhendo noite, águas do rio conduzem chão à nossa embarcação de flores. Amo flores. Quando morrer não quero esquife, velório, choro de carpideira, cova rasa ou funda e tudo mais. De uma coisa não recuso: uma rosa e um SPINA em minhas mãos. Mesmo despido ou jogado em fétido lixão, uma rosa em uma de minhas mãos e um SPINA na outra é tudo que quero levar, quando subir no barco e o barqueiro me cobrar as duas moedas de eternal existência. 53
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Comentário sobre minha relação com o SPINA.
[ 221 ]
III Primeira Cena: Um poeta debruçado em uma janela frontal, no pispiar do dia, olhando os verdejantes coqueiros em nuances silenciosas de pequena brisa deitando o horizonte. Segunda Cena: O poeta, ainda debruçado na janela, na preguiça matinal, observa, em desfolhagens de ser, deslumbres de pequeninos murmurejos. Tracejando a rua, duas senhoras, septuagenarias, encarcadinhas em engilhamentos de vida, usando de conhecidas gentilezas, acenam ao poeta, sorrirem, saúdam a manhã e, em cortejos se vão, alinhavando suas existencialidades em exuberantes ternuras. Foi esta a cena vivida. O poeta, Alufa-Licuta; as senhorinhas maviosas, Rita e Francisca; o lugar, a Cidade de Redenção; a data: indagorinha, no romper da manhã! 54
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Comentário explicando o experimento da construção Spinaista.
[ 222 ]
IV Que bela forma de se acordar um dia. Radiante e exuberante manhã. Gratidão, amiga, por tão maravilhoso comentário. Extasia a alma e alarga o ser, nos fazendo crê o quão grande é o existir-existindo. Um arrulhão de brisa desde os Quintais da Casa Verde. Menina das Ladeiras das Gerais, que este dia, mal amanhecido, te alcance com seus instrumetnos de paz e lhe oferte buquês vivenciais. Desejo-te, um dia iluminado e prazeroso, fazendo de tu'alma um cântaro de exuberânte alegria. 55
55
Comentário em resposta a um comentário de Vera Salviano.
[ 223 ]
V Que mimo! Teus carismas, teus carinhos vão de Teodora e Sophia, passando pelos pardais, por florações mil até nós, teus amigos de pensares e sentires! Encantei-me, agora com a decoração no Reino da princesinha alufiana Raaabe Sophia. Em idade tão tenra e já respirando cultura, profetizo: será poetiza! Anota aí... O tempo confirmará! 56
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Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 224 ]
VI Ah, mestre. Tu me conheces. Sabes do meu solo, de minha minha lavra e do imenso afeto que nutro por ti. Não custa lembrar: Estava quase a escapulir das palavras, por tão absurdo desânimo, e o SPINA, criado por ti, em homenagem ao saudosíssimo mestre Segismundo Spina, me trouxe de volta. Puxou-me as orelhas e me fez spinaista. A isto, nunca esquecerei. A isto, lhe agradecerei enquanto fôlego estiver. Por onde meus pés andarem. Faço-te uma in_confidência. Eu, que não passava um dia sem fazer um haicai, depois daquele finalzinho de dezembro, do ano da graça do nosso senhor, de dois mil e vinte, é no SPINA que habito, em hábito e hálito matinal. Por tudo, grato sou, mestramigirmão, e, por extensão, a cada um dos amigos spianistas, que se gastam a ler estes pobres e parcos garranchos poéticos alufarianos. Boníssima tarde, a todos. 57
57
Comentário escrito a partir de um comentário de Ronnaldo de Andrade.
[ 225 ]
VII Tu me arrastaste de volta a esta casa spianista. Continuava compondo, ininterrupta, pois o SPINA fezse morada ao meu ser, mas, com as dores abrumando o peito em tratativas de angústias de existir-existindo, me achava (ou me sabia) distante de sua sala de estar, tantas e tantas vezes visitada e, ontem, sentadinho, na soleira de uma de suas belas portas acenastes a mim, me chamando a adentrar, a sentir o cheiro agradável dos oitos versos que, do velho borralho, escoava-se ao meu coração. Não resisti, adentrei, sentei-me confortavelmente, em um estar-com cheinho de alicritudes de afetos. Gratidão! 58
58
Comentário escrito a partir de um comentário de Ana Meireles.
[ 226 ]
VIII Desde os primeiros ventos da madrugada amazõnica, que, geralmente chega mais cedo, em relação aos demais estados, tenho um encontro empático com o ATO CRIATIVO SPIANISTA. Produzi uma tuia deles com narrativas direcionadas a tempo pretérito, dos dias de minha meninice. Alguns, postei, outros guardarei, no baú das minhas coisas lembradas, para que, em um futuro próximo, vire livro.
[ 227 ]
IX Bom dia, querida amiga. Que bom, saber desstas impressões e sensações. Poesia, seja qual a forma escolhida, tem, por obrigação, a levar a pessoa que lê a estas percepções, boas ou más, porque, sem isso o poema é apenas um quadro desbotado estampando uma parede vazia. Se não me estranha, ou entranha, não é poema. Boníssima manhã para tu. Bons ventos vindos do alto das serras mineiras.59
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Comentário escrito a partir de um post de Vera Salviano.
[ 228 ]
X No verão amazônico, amanhece-se rápido. Um aconchegante elogio, no amanhe_ser dos Quintais da Casa Verde, é um bom sinal que o dia será próspero e afável. 6h04min, as Curicacas, Chicos Pretos, Bicos de brasas, Guriatãs, Fogo Apagou, Sabiás, pequenas curicas e belas ararinhas já estampam seus primeiros ensaios de existir.60
60
Comentário escrito a partir de um elogio recebido ao aurorecer.
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XI DO ATO DE PEIDAR61 Ah, o peido! Tem gente que não vale o peido do gato, tampouco, o que o gato enterra. Como resido nos quintais da casa verde (Amazônia), que, para o resto do país é terra de índios, embora por cá haja apenas o povo Mebêngôkrê, ou “os homens do poço-d‟água”, prejorativamente chamados de Kaiapós, ou “aqueles que se parecem com macacos”, que são um grupo étnico do tronco gê e um dos maiores do país, de cujo grupo nasceram os Irã'ãmranh-re ("os que passeiam nas planícies"), os Goroti Kumrenhtx ("os homens do verdadeiro grande grupo") e os Porekry ("os homens dos pequenos bambus") e, destes, descendem todos os sete subgrupos kayapó atuais: Gorotire, Kuben-Krân-Krên, Kôkraimôrô, Kararaô, Mekrãgnoti, Metyktire e Xikrin, ambos, ricos na arte plumária e cestarias e, para os quais, peido é coisa séria. Para os Mebêngõkrê peidar é sinônimo de abastança, de riquezas, tem status de poderio. Peida-se à vontade. Quanto mais alto a „trovoada‟, mas importante é o sujeito. Peidar, para os Mebêngôdrê é tão importante quanto comer piolhos (trincando-os nos dentes e salivando o seu sangue) retirados das cabeças dos ióntués (criancinhas), ou comer mandioca com jabuti assado na palha da bananeira. 61
Comentário escrito em conversas a partir de um SPINA criado por Angela Trierveiler
[ 230 ]
É tão importante quanto furar o lóbulo das orelhas dos filhos, para que, simbolicamente, a criança tenha a capacidade de entender a língua falada e toda a dimensão social da vida que os rodeiam. Tanto que, “não ter buraco na orelha” é sinônimo de estupidez, de burrice. Portanto, amei estas flatulências literárias angelatrierveileriana. É coisa de gente grande. De gente graúda. De gente sabida. Gente que sabe o que quer da vida (e como quer), sem que os peidos „dozôtos” lhe incomode. Garanto-te, amiga, por ser mais índio que ti, por viver nos quintais da casa verde, e, por descender de uma bisavó „pegada à laço‟, domesticada aos trancos, aos pés dos mancos, para servir os desejos, caprichos e afazeres de seu raptor, e, que fez deste aparente desespero, um mundo de descobertas e vitórias, também não nego meus peidos. Confesso, não cheiram a alecrins.
[ 231 ]
XII DOS ACENOS AS COISAS INSIGNIFICANTES62 Desde Preá, o vasto mundo de Maria permeia o meu existir. E um enxerto “a invisibilidade das coisas presentes” me libertou o olhar a um mundo além (tal qual Preá, no cimo da torre da igrejinha da praça central de Farinhada). Por tempos de eternidades esta frase me acompanhou. Sou dado a gostar dessas coisas desconexas, imponderáveis, com tinturas gracilianas atravessando o meu ser. Já me entranhava desses sentimentos mesmo antes de Preá. Suponho que tenha sido Sinhá Vitória que tenha me aberto os olhos, mas, sem dúvidas, foi Baleia e o Menino mais velho que me atiçaram ao deslumbre de querer enxergar além do tangível. Assim cheguei aos lugares mais perdidos de minh‟alma, do meu existir-existindo e encontrei, no vagar de meus sertões de ser, os olhares de Heidegger Merleau-Ponty, e, nunca mais desci da torre da igrejinha da praça central de Farinhada. Na minha graduação, em Psicologia Clínica, o Preá lá estava estampado, escancarado, deslumbrado na capa de meu TCC “A invisibilidade das coisas presentes – A constituição do visível e do invisível nas vivências de pessoas em situação de moradia de rua”.
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Comentário escrito a partir de um SPINA postado e um comentário sobre aspectos existencialistas nele contido.
[ 232 ]
E a brisa, incógnita, de Farinhada, e o olhar atravessado de Preá, lá do cimo da torre da igrejinha da praça central, me atiçaram ao mestrado e, um dia desses, “antes do retorno da moça, alva e alta, à Farinhada”, me anuviarei de fé e descerei da torre e colocarei um anel de doutor em meu dedo, mesmo fraquinho, ainda que ossudo, parecendo essas vidas secas vindo lá das cercanias de Farinhada.
[ 233 ]
XIII Ah, amiga, de cara me chamou a atenção o substantivo latifúndio. Parei a leitura por ai. Algo tamborinou em meu ser, remexendo „minha cachola‟ quase desmiolada, tamanha r_esfrega destes dias tão difíceis e estranhos em que vivemos (e vivenciamos), em atos e extremosa coragem. Parei, „matutei‟ por alguns momentos aceca do tal substantivo. Moro, resido, em área amazônica, prenhe de grandes latifúndios. Sei, e bem, o que o termo representa. Assim, antes de adentrar ao SPINA, „engendrei‟ várias suposições, do que a poeta spinaista poderia querer falar, na cabeça e corpo do poema. Depois de alguns momentos, com a cabeça mais arejada, pela brisa amazônica que nunca cessa, voltei ao SPINA e o li, a fôlego pequeno, em tragadas devagar, como se deve degustar um poema em que se goste e sinta o imarcescível paladar. Queria ver a que searas a poeta me levaria, pois percebi, de imediato, que o termo, ligando à emoção, obviamente me traria coisas novas e belas. E, não deu outra. No final do SPINA ainda havia fôlegos de sobra, o espanto é que me entranhava e modulava o ser, faltando-me o ar. Ainda debruçado ao SPINA, passei a „escrevinhar‟ estes garranchos, havia necessidade visceral, teria que fazê-lo. E o fiz! Por se tratar de emoção (da poeta spinaista, do poema spina e do leitor), não foi o desejado; mas o que coube em encanto e alegria, dentro do meu coração. Pelo [ 234 ]
visto, em teu comentário, foi bem quisto. O que muito me agrada o ser. Demais, é gratidão! Abraços, desde os Quintais da Casa Verde. Maior foi a emoção que o teu SPINA me causou. 63
63
Comentário escrito a partir de um SPINA que tratava sobre o latifúndio, enquanto lugar de sentimentos.
[ 235 ]
XIV Às vezes não consigo expressar meus sentires ao ler-te mestre poeta. Mais sinto uma emoção que me transporta ao saudoso colo materno. Muito obrigada por dividir comigo essa comoção singular. 64
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Comentário escrito por Maura Luza Frazão.
[ 236 ]
XV Sempre que o dia amanhece, parece que causa mesmo uma “procissão de fugacidade”. Reaviva esperanças. Descortina novas sensações e acrisola as horas com diversas fragrâncias. 65
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Comentário escrito por Ronnaldo de Andrade, sobre um SPINA que falava do amanhecer Nos Quintais da Casa Verde..
[ 237 ]
XVI Alufa, suas palavras emocionam dando incontestável crédito ao talento de nossa querida Symone Elyas, poetisa, artista plástica, cheia de habilidades diversas e com talento impar para a escrita, que até bem pouco tempo guardava só para si, ainda naquela fase que todos passamos de dúvidas sobre o valor literário do que escrevemos. No primeiro poema que me enviou, ano passado, me encantei de imediato e comentei com ela sobre o quanto era importante compartilhar seus tesouros poéticos guardados. Insisti. Mais um pouco, então ela capitulou, e enviou um poema hoje, publicado na Antologia Poética: “Registros Femininos”, da chiadobooks. Um sucesso. Senti-me honrada em tê-la como amiga e podemos desfrutar e fortalecer nossa amizade (ainda que virtual) por meio de poemas SPINAS e arte em geral. 66
66
Comentário por Nauza Luza Martins.
[ 238 ]
XVII Ouso interferir... e dizer que, embora não seja eu versado em Letras (apenas singelo apreciador de nosso vernáculo), nessas composições o autor está também a criar palavras. O que, na minha ótica, é muito bom, inclusive para aprimorar nossos vocabulários. Veja bem, no "destroçar terminologias", pode ele, senhor poeta, "solubilizar lembrança(s)" "transfigurando" seus "ramalhetes"... Como não entender, ou tentar entender essas metáforas como "criação"? 67
67
Comentário escrito por Ale Xândi.
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XVIII Alufa, não sei o que dizer. Somente que é imenso prazer ler seu diário Spinaísta. Quanto a afundar nas águas fundas de um rio, não faça não. Simbolicamente as águas representam vida, mas eu prefiro que esta vida transborde dos meus olhos pretos, pequeninos , que muitas vezes também transbordam água por diferentes razões, alegrias, tristezas, saudades. Meu prazer de ler teus escritos é sempre. 68
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Comentário escrito por Ana Meireles.
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XIX Alufa querido, lendo almas, sorvendo sentires vou aqui e ali até que me esbarro em você, em seus pensares e sentires. Minh'alma se agita, inúmeros sentires em mim afloram. Devido às alterações do tempo sem tempo, prefiro postergar meus comentários para hora mais plausível, já que ler e comentar seus escritos exige comunhão de alma, alma nua, livre e solta. E então? Nestas horas em que tudo dorme e se faz silêncio eu venho até você. E assim sendo retrocedo ais seus amamheceres tão rico de visões e sensações mais belas. Passeio pelo teu quintal, aí na Casa Verde, imagino Dona Teodorinha na cozinha a fazer o " pretinho básico ", a graciosa Sophia bocejando ao abrir os olhinhos para mais um dia. Vejo a varanda onde sua genitora se debruça ou assenta ao lançar um olhar que fala, diante dos que passam pela rua ainda adormecida. Alufa seus Spinas são ricos. Ricos de pequenas grandes coisas que fazem toda diferença aos olhos de quem o lê. Muitas vezes, você me finde a " cuca " mas lá naquela palavrinha mágica está toda a essência do seu sentir. São elucubrações profundas e tão reais que me transporto para estas paragens...Para um certo quintal da [ 241 ]
Casa Verde. Tudo se faz vida. Vida e beleza diante de tão esplêndida natureza. E assim faço meu pouso matinal entre vozes ao meu redor e o silêncio que abriga minh'alma. Belos sonhos! Um novo amanhecer te aguarda. Abraço poético e amigo.69
69
Comentário escrito por Vera Salviano.
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XX Tudo se faz belo diante de seu olhar aguçado, que a tudo fotografa pelas janelas da alma. A sua sensibilidade dá vida, desde o menor e mais simples objeto, até o mais recôndito da alma humana. Entardece aqui nas Gerais, o sol declina! Pelos seus versos me transporto a uma varanda, onde redes penduradas aguardam o ofício. Em breve, cardumes multicores, serpentearão em seu interior. Mãos ansiosas, calejadas pelo nobre oficio, fortemente as lançarão, certas de que a maré estará p'ra peixe. Esta é a missão! Vejo o aparador... Os guardanapos leves, quase que livres e soltos pelo vento, que a varanda adentra. A vida é feita de contrastes. Pensares distantes mas que se unem, nesta hora em que uma linha tênue separa o dia findo e a noite que vem vindo. Hora da Saudade! Essa saudade que me invade, sofrega o peito... Minh'alma voa, não tem jeito! Que a noite acolha você. Que os ventos nortes lhe inspire, afaste tudo que possa lhe fazer sofrer...Se e que tua alma sofre. Pois bem sei, que sua nobreza de alma a tudo acalma. Que tua alma cante, a todos encante com presságios de [ 243 ]
bem querer! Já bem daqui a pouco, a cidade dorme! E tudo se fará silêncio. Eu, apenas eu e meu pranto, nessa espera incessante de que um novo dia virá. O amanhã é tão distante. Mas espero como quem sente e pressente que os sonhos se realizam para quem neles acredita! E eu creio! Veja o que seu SPINA despertou em mim... Enfim, o meu melhor e maior abraço amigo! 70
70
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 244 ]
XXI Ah... Alufa-Licuta, hoje levas-me para aquele coretinho lá da minha juventude, por emaranhado de flores e gramíneas na praça dos meus sonhos, onde ensaiei meus primeiros versos, inspirados em borbulhas de amor. Aquele Amor tão "água com açúcar" onde imaginava tudo possível e o melhor estava apenas começando. Mais tarde, neste mesmo coretinho, bandas carnavalescas mexiam com nosso corpo e coração. O tempo dos tempos! Em seu SPINA, o coretinho mudou apenas de casa... Ele se fez presente na "Casa Verde". Permeando meus pensamentos, você me sobrepõe o violinista. Aí me leva a uma viagem mais esticada no tempo. Sou compelida a pausar tamanhas lembranças de um tempo em que eu cantava CORACÃO DE LUTO, arrancando lágrimas dos ouvintes. Na minha mais autêntica simplicidade, emprestava minha voz, que em ondas furtivas, chegava ao ouvido de colonos atentos, na porta da "Tuia", sob o brilho de uma lua nua, grávida de estrelas. Todo um cenário encantador e saudosista está em seu SPINA e me leva a adentrar escombros da minha memória. Ler-te, Alufa-Licuta Oxoronga, é viajar no tempo, no meu tempo. Adentrar o seu tempo, espaço e exaurir estes seus "cenários vivos" que fazem da vida, o maior e melhor palco de grandes emoções! 71 71
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 245 ]
XXII Li e reli. É solo fértil para a minha imaginação, por vezes, um tanto aguçada, os teus amanehceres contemplativos e meditativos na casa “verde” em que habitas. A Esperança te abre as portas do dia, na singeleza das pequenas grandes coisas que te cercam. Hoje, você me fez sentir “água na boca” ao imaginar um cajueiro em flor. Flores que, mais ali no tempo, serão frutos cor de ouro, com um rosáceo mesclado, induzindo-nos assim a quereres e sabores inovados. Vejo e sinto-te no alvorecer, como a criança recem parida, que se enrosca em meio ao querer permanecer no ventre materno e o adentramento em seu novo habitat. Assim te vejo entre o repouso merecido e o abraçamento do novo dia que vem vindo. Entre as belezas que se descortinam à sua frente, que tão bem, e a contento, permeiam tua visão, pequenas grandes coisas, você se depara com um casal de velhinhos, simpáticos, que se divertem com canções matutinas, fazendo de seu dia, festa. Crianças maduras estas, que já acenam para um declínio natural do tempo, contrapondo com o cajueiro florido, de onde, em b reve, a flro se fará fruto, ciclo este que faz da vida, eterno recomeço! Agradeço-te, por me emprestar teus olhos meditativos, proporcinando-me, também, amanehceres tão cheios de esperança e de vida. E lá vou eu sonhar. É preciso! 72 72
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 246 ]
XXIII Me vi nesse cenário. Nesses tempos estranhos, várias vezes "me pego" da janela observando esses pequenos detalhes. O cachorrinho, as flores, um barulhinho ao longe. Coisas que não percebo nessa loucura agitada que é São Paulo. 73
73
Comentário escrito por Solange Colombara, a partir de um SPINA em qu‟eu retratava as minudências do meu existir.
[ 247 ]
XXIV Sujeitinho cheio de compreensões e visões da vida você!! E cheio de uso próprio das palavras! Faz a gente virar amigo do dicionário, hoje já pesquisei duas ou três! São tantos teus retratos em palavras e é tanto que nos diz em tua poesia! Não há adjetivos que te caibam. Cada vez que me tira a fala com descrições do ser que existe em você eu me apaixono mais por teu encanto. E depois de tomar conhecimento vem a real compreensão do que você diz, se é que atingimos tal sortilégio! Mas ainda quando não faço nada diss Eu te sinto no que escreve! 74
74
Comentário escrito por Isabeau Dos Anjos.
[ 248 ]
XXV Algumas coisas que leio me tocam sensivelmente. Eu gosto muito de ler, de ouvir relatos, trechos, cenas de vida. Eu entro na cena como se entrasse na alma. Não sei definir qual sentimento me atravessa na leitura do teu SPINA. Senti-me atravessada por uma inquietação . É tocante! Sem palavras por esse inundar de beleza poética. Meu coração, território sagrado, pulsa em vibrações de alegria. É indizível este sentimento que em forma de gratidão me invade, Resplandecente Sol para você, Alufa! 75
75
Comentário escrito por Ana Meireles, a partir da leitura de um SPINA sobre duas senhorinhas em um ermo caminho, existencializando vivências e recordos.
[ 249 ]
XXVI Somos a soma de nossas lembranças. Entre uma, outra e mais outra a vida se esvai. São afetos aflorados, cansaços acumulados dos tempos idos e uma baita saudade do que fomos que nos leva a viajar no “ontem” e a esperanciar o “amanhã”. Dona Teodora, que gracinha! Absorta no emaranhado de seus pensares e sentires reflete em nós uma vida, não só de flores, mas de muita chuva, sóis e amores. Abraço sua mãezinha num gesto de carinho. Às vezes um pouco de loucura faz bem... É no arrastar de um silêncio que lucidez sobrevoa! Assim como eu, são estas lembranças que nos fazem ser quem somos: felizes e gratos pela vida, pelo que fomos e nos tornamos! Recordar é viver. Esquecer é difícil para quem tem coração.76
76
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 250 ]
XXVII Que belo esse menino jardineiro! O vejo regendo com olhar, uma bela fotografia, ora aqui, ora acolá. E esse mesmo olhar astuto, engenhoso, paira sobre flores, dobre aquelas "coisinhas” tão “pequenas grandes coisas" e as fotografa com olhares captadores e luzentes pelo flash da alma. Alufa embora a tristeza nos visite às escondidas, muitas vezes no silêncio do leito, como agora, o sol hoje nos improvisou um abraço. Daqueles abraços que ofusca nosso olhar... Sim, abraço de frente, daqueles, sabe? Que enlaça a gente. Seu versar fala de pássaros, do cachorrinho. E vi tantos pelos caminhos desertos por onde eu e meus pensares transitávamos. Ocorreu-me o desejo de poetar. Está incubado! E já no final você é contemplado com um crisântemo branquinho irradiando energia. Acredito, eu, presente dos "deuses da Poesia" para com esse escorpiano que a tudo observa e se enleva na mais suave e terna poesia. Seu SPINA veio de encontro ao meu pensar. Bravo! 77
77
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 251 ]
XXVIII As acepções rebuscadas e poéticas do poetamigo AlufaLicuta Oxoronga se encaixam perfeitamente no estojo do SPINA. Nada é de menos e nem de mais. Você me traz lembranças do meu tempo de criança, quando olhava o chico preto pulando na cabeça de um estaca, a lavadeira em um arame farpado e beija-flores beijando as beneditas no terreiro. 78
78
Comentário escrito por Ronnaldo de Andrade.
[ 252 ]
XXIX O universo tem os seus mistérios! Como universo físico de origem quântica que sou, não fujo a regra! Estou no limiar de uma transição! Não sou esse, nem muito menos aquele! Simplesmente uma obra ainda sendo modelada pelas mãos dessa divina natureza! 79
79
Comentário escrito por Iran Maceno dos Santos.
[ 253 ]
XXX A vinda de uma flor cuja seiva corre também em tuas veias é algo pra se comemorar por dias, pela eternidade inteira, não tenho filhos, mas deixo-me contagiar pela felicidade dos que tiveram esse privilégio. Abraços!80
80
Comentário escrito por José Carvalho da Silva.
[ 254 ]
XXXI Os teus eufemismos são tão poeticamente intensos e belos que flertam com o sarcasmo jocoso, resvalando para a comicidade! Adorei!81
81
Comentário escrito por Edilson Costa.
[ 255 ]
XXXII Teodorinha e o amor. Um não viveu sem o outro e tu és fruto. Tua saudade é feita e sentida de imensidades e o bom é que a saudade de um amor assim nunca acaba. Pois não existe fim para o amor.
Absolutamente lindo! Como lindas são as paisagens campestres nas tessituras do teu imaginário poético. Maestro das palavras! É o que és! Amo o desenho dessa batuta, arpejando os versos.82
82
Comentário escrito por Rose Rosário, o “Encanto Meu”, sobre um SPINA em homenagem à teodorinha.
[ 256 ]
XXXIII As vezes não consigo expressar meus sentires ao ler-te, mestre poeta. Mais sinto uma emoção que me transporta ao saudoso colo materno. Muito obrigada por dividir comigo essa comoção singular. 83
83
Comentário escrito por Maura Luza Frazão.
[ 257 ]
XXXIV Lindo seu SPINA. Foi como perceber o sol, os pássaros, o cachorinho, a cidade dando boa noite e a cortina negra da noite abraçar alguns sonhos afoitos querendo chegar para descortinarem outras imagens tão encantadoras como as que foram tão caprichosamente descritas pelos olhos do poeta... 84
84
Comentário escrito por Cirlei Fajardo.
[ 258 ]
XXXV Alufa-Licuta Oxoronga, posso vê-lo menino e adentrar sua alma, quando me vejo dentro e fora do "nosso mundo de existir", andando daqui e dali por brancos caminhos de nuvens. Sinto, vejo, apalpo e acarinho esse seu imenso coração. Imenso, não no tamanho em si, mas na grandiosidade do seu sentir, do seu amar e se fazer sentir. Você, Alufa, transborda sensibilidade, afeto! O tempo...!!! Ah...o tempo! Somente o tempo a nos retroceder àquele mundo de sonhos, de menino da "Casa Verde", de menina da ladeira das "Gerais", onde tudo era possível, e o melhor estava apenas começando. Eu também me vi no terreiro a tocar o céu, a viajar para fora desse nosso "Ser-existir" e nomear sentires que me invadem a alma, levando-me a pensar, e por que não amar...? Apodero-me e entranho cada pensar que a mim chega de seus " experimentos afetivos "de seus" ensaios poéticos "de seus víveres Alufiânicos". E mais uma vez, já me entardando, você chega...(já era esperado) e assenta comigo no banquete das lembranças, onde o cardápio afetivo se baseia em memórias da linda e carismática ELZIRA GUIMARÃES BRANDÃO PINTO. A sobremesa se faz de "doces lembranças" [ 259 ]
Alufa, você alimenta minha alma, me permitindo, por bom tempo, abandonar o Ser-existir agora, e alçar voos, cada vez maiores, por seu e meu caminho de brancas nuvens. E é de lá, Alufa, de brancas nuvens, que Elzira sorri...(com seu sorriso mais lindo, abonado por seus olhos azuis) nos acenando e dizendo em ondas sonoras de alegria: Meu Deus! Viva eu estou. Naqueles a quem amei e que a mim muito amou. E acenando, num leve roçar de brisa, afaga sua alma Alufa, num gesto de quem leu, sentiu você e "entre tantos e tantas" admirou! Bravo Alufa! Tempo é preciso para viajamos de "Norte a Sul, Leste-Oeste" nas asas de nossa imaginação. Pois é, e então? Abraço amigo cheio de carinho! 85
85
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 260 ]
XXXVI "O SPINA nos chama a arte à música, à dança, à ludicidade ... Bem haja o poder transformador da arte..." Alufa esse é o combustível da história dessa "moça" (como você sugere) tocantinense que ama a vida. Ontem, Nauza Luza Martins me ligou pra dizer que, no grupo do SPINA, algo incrível estava acontecendo... Fui presenteada com as saudosas palavras do nosso Gênio da Literatura Ronnaldo De Andrade. Dormi emocionada, me beliscando, pra ter certeza do que estava vivendo. Hoje, amanheci com Maura Luza Martins me enviando mensagens numa felicidade inexplicável me pedindo pra dar uma olhada nas postagens do grupo. Então me deparo com este texto sensacional. Não consigo encontrar palavras pra agradecer tamanha gratidão. Fiz uma homenagem a este grupo que me fez acreditar que meus sentimentos eram relevantes aos olhos dos espectadores, não só a mim. Tenho aprendido horrores com cada um de VOCÊS. Jamais imaginei causar tudo isso. Mas me sinto agraciada. Muito, muito, mas muito obrigada! De coração! 86
86
Comentário escrito por Symone Elyas.
[ 261 ]
XXXVII Nós é que estamos extasiados por teu existir em nossa existência. Somos gratos por partilhar teus gostos artísticos, por nos abrilhantar com sensibilidade, encanto e afeto. Cada um de nós contribuímos com uma pétala, um aroma, uma centelha, ou, como diria minha mãe, com um tiçaozinho atiçando o grande borralho de nossas existências, não deixando que o frio nos cause ranhuras, permanecendo a quentura certa dos corpos, com a afetividade própria de cada um. Hoje, ao ler um SPINA já sei d'onde veio, que searas o gerou, que sentimentos é nutrido. O SPINA é uma morada prazerosa, que nos acolheu (e acolhe) sem qualquer reservas, e, o grande hospedeiro (Ronnado de Andrade), sempre à porta, estendendo o braços e ao abraço apertado, indicando a sala de estar e os chás servidos por ele, ao nosso paladar. Eis a nossa morada, querida Symone Elyas. Sentimos honrados por tua presença. Boníssima noite. Cuida-te e aos teus, que estes tempos em que vivemos são de extremo cuidado. 87
87
Respondendo a um comentário de Symone Elyas.
[ 262 ]
XXXVIII Dias cinzas, Alufa-Licuta Oxoronga, tudo se faz ermo, deserto outonal imprevisto em nossa atual massacrada existência. Há um indefinível estreitamento do "Ser existir ". Nada redime a desgrenhada apatia que nos domina. Vejo o lençol seco, queimado e amarrotado no varal. Traduz ele toda essa acomodação a nos imposta pelo mal que grassou ao "meio dia" de um dia lá atrás além fronteiras. Pelos cantos das casas e quintais há mesmice, interrogações, temor. Sons avultam nossos sentidos vindos dos quatro cantos deste mundo acadêmico. A vida se esvai em horas gastas em vão. Lá longe, quase avulsa, a senhorinha agitada transita e tramita soluções que lhe permita, talvez, um dia a mais de vida nesta dura lida em que nos vemos submersos reféns do tempo que nada mais é que o "Senhor dos remédios".88
88
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 263 ]
XXXIX Querido, que terno e gostoso imaginar este casalzinho de curió. Você me reportou ao tempo, onde me vejo criança, quase uma menina mulher. Entre curiós, sabiás, canarinhos do reino, belgas, eu fui criada. Tudo se fazia alegria, do amanhecer ao anoitecer, com o canto melodioso dos passarinhos. Já mais adiante, na segunda estrofe, você me brinda com a bela cena dos velhinhos jogando dominó, entretenimento próprio das cidades pequenas. Estas nuances de bucolismo na "Casa Verde", me encantam. Arcaicas varandas, com cheirinho de ontem, sinto agora! Ponto de encontro com os amigos! Não podia faltar os rocócos na madeira preta que faz deste local a marca de um tempo. Voltando ao título, nestes tempos sombrios, sonhar é preciso! Nada melhor que uma varanda (palavra do dia...) e um casalzinho apaixonado (cuiriós) para alegrar e dar sentido a vida! Bravo! 89
89
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 264 ]
XL Boa tarde homem das muitas palavras. O SPINA parece ser inspirador, e o trabalho de Symone é lindo! Eu creio ter visto tua primeira publicação dizendo que havia sido apresentado ao SPINA, já então falava com prazer dessa forma. Também vi Ronnaldo respondendo à tua postagem com sua gentileza habitual se colocando à disposição se necessário. Tudo tão simples, uma proximidade confortável do criador à sua criatura ganhando mundo. E eu não imaginaria que o SPINA tomasse essa intensidade em nossa escrita! Não que eu escreva muito mas do que escrevo a forma está sempre presente. E o SPINA se fez provocativo à nossa escrita, e a grande sacada é termos que elaborar melhor nossa criação alterando pra melhor o resultado do poema. Continuo achando que Ronnaldo mantém simples tudo que toca a forma e os poetas que levam sua criação, quase uma família poética. Eu sinto gratidão por, sendo alguém que ama a palavra escrita, poder ter em minha proximidade Alufa e Ronnaldo e os que agregam nesse berço do SPINA. 90
90
Comentário escrito por Isabeau Dos Anjos.
[ 265 ]
XLI Pois é, Isabô, parece ser tanto tempo e é tão pouco o SPINA entre nós. Tão agradável é que, nem sentimos o franzir do tempo entre nós. É como se ele ali estivesse, esse tempo todo de nosso existir, confabulando, confidenciando, nos chamando ao palavreado do existir. E, não, não é assim. O SPINA tem apenas quatro tempos corridos de eternidade, chegando ao quinto. Tão novo o é. E já se fez eternidades em nossas ranhuras de ser. Lembro-me, no finalzinho de 2019, a amiga Iranete do Carmo ter me apresentado esta nova forma poética. Olhei, de soslaio, como costumo olhar as coisas que me estranha, pensando em que seria essa nova forma. Levei alguns pingos de tempos antes de adentrá-lo. Estava ali, ali mesmo, me chamando e eu, olhando-o. Ambos querendo as 'cheganças do existir'. Enfim, a curiosidade venceu. Pedi licença, e, para minha surpresa, as portas se escancararam, e era suave o ar spinaista. A sala de estar ampla e arejada. Cheirava a jasmim. Parecia adivinhar. Amo jasmins, tão quanto jabuticabas. O cheiro suave me aguçou os sentidos. Mal percebi, e já estava escarafunchando os mantimentos dos armários, cada um mais agradável, mais convidativo ao paladar. [ 266 ]
Não demorou e já estava intimo. Falando de minhas intencionalidades e sonhos. Nunca mais pari dali. Neste lugar me fiz morada. Hoje, habito-o com prazer indizível. Conheço seus cômodos, suas frestas, seu piso e telhado. E são muitos os seus moradores. Há um convívio coletivo, fraterno e gracioso. Todos se respeitam e se dão em afeto. Nunca mais quero sair daqui. Abraços, Isabô. 91
91
Resposta a um comentário escrito por Isabeau Dos Anjos.
[ 267 ]
XLII Eu fico duplamente feliz pela iniciativa do Alufa, pois sei da identificação que teve com o SPINA , notável pela sua produção em ritmo alucinante de entrega ao prazer que encontrou na elaboração poética, mobilizadora de entusiasmo e sentido de vida no tocante à arte de confeccionar o belo. Quando referi o termo duplamente , quis dizer de ter me sentido como alguém que não esperava ganhar um presente e se viu na alegria de uma grande e deliciosa surpresa. Assim, o primeiro livro de SPINA ( nova forma poética) do nosso queridíssimo autor traz também um texto da menininha , como o Poeta carinhosamente me chama e gosto muito. Desejo muito, muito sucesso. E também gratidão enorme ao Ronnaldo de Andrade, para mim um ser abençoado, por nos contemplar com a sua arte-criação. Jamais me esquecerei disso, pois neste momento de vida tão delicado , faz com que consiga me ausentar dos fatos tristes que estamos a vivenciar. O SPINA criado pelo Ronnaldo é a vida necessária nesta pandemia, para todos nós poetas Spinaístas. Gratidão! 92
92
Comentário escrito por Ana Meireles.
[ 268 ]
XLIII Que gostoso, falaste dos buritizais lembrei do vinho de buriti que minha tia fazia e levava toda tarde para minha mãe, mamãe colocava farinha e dividia com os nove filhos! 93
93
Comentário escrito por Rosana Morais, sobre um SPINA retratando os buritizais dos Quintais da Casa Verde.
[ 269 ]
XLIV
Recordo-me, que conversamos por alguns minutos e, logo veio em homenagem o primeiro SPINA de sua pena. Você foi a primeira pessoa a reconhecer valor, sua qualidade e falar publicamente sobre o SPINA, e semeálo em outras terras. Desde aquele momento, tenho uma gratidão infinita por você, admiração e respeito pelo escritor e amigo que vem demonstrando ser. 94
94
Comentário escrito por Ronnaldo de Andrade.
[ 270 ]
XLV Tenho esperança, amigo. Enquanto isso, no cantarolar das matracas rasgando o chão, preparando o solo para o devido plantio, insisto em meus garranchos: uns, rasteiros, periféricos, rastejando o barro dos quintais, de fora para dentro; outros, em insinuos de locas, taperas, olarias, trazendo do dentro um aflorar de imensidão. De tanto insistir, essas sementes bem plantadas um dia florescerão seus rebentos. É o que inspiro e espero alcançar.95 .
95
Comentário escrito a partir de um comentário no Grupo SPINA.
[ 271 ]
XLVI Sou filho de dois roçeiros e trago, nas entranhas, trieiros, coivaras, jiraus, escarpas, terreiros e imensos quintais. Sei de abraços e saudades. De dores e sonhares. Se hoje a saudade me arrocha o peito, te pergunto: O que é a saudade, e o objeto desta saudade, senão o abraço afastado de nós, do qual, sentimos prazer em relembrá-lo? Hoje trago n‟alma os traços de um tempo de alumbrada espera. Tempo de se olhar, sensível e delicadamente, os encantos da vida. Tempo de gerrminações e florações. Tempo de olharmos e sabermos o quão frágeis somos. Boa, tardezinha, amigo. O SPINA me levanta.96
96
Comentário escrito no atravessar das dores pela travessia de teodorinha, a um amigo spinaista.
[ 272 ]
XLVII "Sentindo nas pernas o lamber dos capinzais" Senti, muito, em minhas meninices este roçar de pernas pelos capinzais. Ainda hoje, no apanho dos pequis, o que mais me agrada é o lamber dos capins em minhas pernas, escorrendo a seiva/orvalho. Mal chega outubro, e já me dou aos pastos, em buscas dos pequizeiros. A tua frase pode se construir um belíssimo alexandrino. Se me permites, gostaria e usá-la em um soneto. Posso? No rodapé, imprimo a devida referência. Achei linda. Fenomenal. Quase um parto natural! 97
97
Comentário escrito a partir de um comentário de Rose Rosário, desta frase, destacada e com a anuência devida da autora, surgiu um belíssimo soneto.
[ 273 ]
XLVIII Feliz estou e muito me honra sua leitura e sábias considerações sobre o meu SPINA: OBSERVAÇÃO. Digo-lhe que fiquei surpresa por me deparar com alguém que tão bem adentrou o meu pensar e sentir, que vestiu minhas palavras e sentimentos. Coisa rara, nestes tempos, não sei se por preguiça de pensar, de escrever ou de sentir, diante de um poema, texto, poesia como se usa dizer. A princípio, você bem definiu o SPINA: didático e encantador. Essa nova forma poética que nos instiga a experimentar e vivencar coisas “novas”, não importando se verdadeiras ou não, real ou como apenas a expressão de nossos sentires nos momentos mais intimos do nosso “Eu”. Sabe Alufa? Sempre me pautei no principio de que: a boca fala daquilo que o corçaão está cheio. À minha fala, incorporo as palavras como forma de traduzir tudo que fui, que sou e os sonos com o que pretendo ser. Nada mais que uma alma sonhadora, cheia de amor para dar e receber. Admiro muito você, por tão bem ter me pernetrado: alma, coração, todo meu sentir e ser. 98
98
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 274 ]
XLIX Tão maravilhosamente lindo quanto degustar seus SPINA‟s no café da manhã, é sentir a emoção contida em suas palavras, querido Alufa. Você descreveu a forma poética SPINA de uma maneira leve, gostosa, de um jeito que dá vontade de adentrar no universo Spinaísta. Sempre digo: fui apresentada ao SPINA no dia 31/12/2019 e foi amor à primeira vista. Sua criação nos instiga, nos coloca a pensar, entrelaçando as palavras. O SPINA é um desafio diário, um aprofundar no conhecer de nossa riquíssima língua mãe. Como bem diz Ronnaldo de Andrade, você é o arquiteto das palavras e escreve sobre o amor sim. O amor matinal dos pássaros saudando cada manhã, das flores ainda com o orvalho da madrugada e claro, o amor que sentimos nos olhinhos de Dona Teodora. Muito obrigada por mais esse amanhecer poético, deixando nosso dia mais feliz.99
99
Comentário por Solange Colombara.
[ 275 ]
L O escritor Alufa sempre talhando, com precisão e delicadeza, suas emoções e pareceres em nossas almas. Não camufla quando ao envolver, desperta, mexe nos seus sentires, como já me foi possível perceber nos primórdios de nossas amizade. Essa sua crônica poética, técnica, conforma o que digo. É uma merecida e digníssima homenagem que você faz à professora, artista plástica e poetisa Symone Elyas, esse ser de grande talento. Nossa Associação Brasileira dos Poetas Epinaístas está repleta de seres de múltiplos talentos e dons. Cada um com sua característica e estilo, influenciando e sendo influenciado pela escrita de outras pessoas, como aconteceu comigo em relação a você, Alufa. Aos poucos você está se tornando o TEÓRICO, o primeiro estudioso deste “quase movimento literário” que está florescendo. Não são parcas nem inexpressíveis as suas palavras. Pelo contrário, absolutamente bem expressivas, traz fundamentação teórica e empírica. Você é um arquiteto da palavra de primeira grandeza. Evoé! 100
100
Comentário escrito por Ronnaldo de Andrade.
[ 276 ]
LI Dizer o quê? Estou desnudo a tão efusivo afeto. A tão grandiosa experienciação empática. Vim de uma mulher. Fui gerado e nascido de uma mulher. Alimentei-me pelos seios e mãos de uma mulher. Aprendi a falar e andar ouvindo a sonoridade da fala afetiva de uma mulher. Acalentei-me (e ainda me acalento, em meus dias mais cruéis, inóspitos e hostis) no colo de uma mulher. Sonhei (e sonho) os sonhos de uma mulher. Deu-me a vida o privilégio de ser pai e avô de mulher. Por mais de cinquenta décadas, tomei bênçãos a uma mulher. Devo a minha vida aos cuidados e traquejos de uma mulher. Quem me ajuda a vencer os caminhos tortuosos dessa vida é uma mulher. Sei das dores de mulher. De seus fluxos , sonhos e desesperos. De suas lembranças e solidões. Tenho, encravado no meu coração, o pulsar de um útero feminino. E, na minha memória, as agruras do ser mulher. Passeio, sem rumores ou teores, nas internas ruas do ser mulher. Não poderia falar de mulher de forma diferente. Não falo do que vejo, mas, do que sinto. Do que vivencio em alma de mulher. 101
101
Comentário a partir de um SPINA sobre teodorinha, replicando um comentário de Vera Salviano.
[ 277 ]
LII Indagorinha, em um estalar de tempo nos termos de eternidades, estava a Tia Carminda ali, depositando seus segredos e sonhos na turvação de sua casa. Hoje, só saudades. Gostava tanto do escuro, da quietude do seu lugar de morada. Encarcadinha, sentadinha no seu banquinho de sólido jacarandá, igualzinho a ela, renitente, ninguém ousava desafiar. Tia Carminda se parecia tanto com este banquinho, logo no pispiar da noite, tomava-o nas mãos e o colocava no cantinho do pequeno terraço, onde quase ninguém notava. E lá permanecia horas à fio, no silencio de suas elucubrações, teimosa, quietinha em seu canto, encurvadinha sobre a mesinha de centro, também de jacarandá a observar seus próprios ruídos e a rua vazia. Parecia tanto com teodorinha, minha mãe! De tanto se vestir de escuro, hoje, a Tia Carminda se fez escuridão. Seus lençóis de murim branco, suas toalhas de tergal azul celeste e seus guardanapos de algodão cru, não baloiçarão mais nos varais sobre a cerca do quintal. O tempo, com suas imponderáveis mãos, recolherá estes pertences ao seu baú de afeto e os lançarão ao resplandecer da eternidade. De Tia Carminda, poucos saberão. Restará, para a posteridade, seu nome lapidado neste singelo SPINA e gravado, em letras douradas, em meu coração. [ 278 ]
Ela vivia sozinha. Sem registros conhecidos. Sem hitoricidade registrada. Chegou não se sabe quando. Devagar foi ficando. Um lugar de poucas coisas, terminou acolhida pelas coisas do lugar. Deram um lote para ela morar, fizeram uma casinha simples e, dali ela fez seus registros de ser. Mulher de sorriso franco e largo, de poucas palavras. Às vezes resmungava sozinha. Não se sabe o quê, do quê, porquê ou para quem. Sabia ela, por certo, das coisas que lhe entranhava por dentro. Gostava como poucos, da escuridão. Era a noite chegar e ela pegava o seu candeeiro e colocava bem na soleira da porta. Não tinha eletricidade em sua casa. Muitas vezes, quando saia manhãzinha, para buscar ossadinhas no açougue, deixava um rastro de cheiro de querosene. Os meninos do lugar, não perdoavam. Das poucas pessoas que sabiam do pouco que ela externava, era eu, mesmo assim, de suas poucas coisas, pouquíssimas coisas entendi, ou aprendi. Convivi com ela por uns bons fios de tempos. Nunca a vi triste demais ou alegre além da conta. Sempre se situava no termo da serenidade. Hoje, no pispiar da manhã (ela, que tanto gostava da escuridão) resplandeceu eternidade. E o céu me [ 279 ]
abençoou com um intermitente cair de chuva. Sabe, os céus, o que o meu coração sente.102 Mais um tiquinho de dias e pouco restará de Tia Carminda. Entretanto, seu nome estará lapidado e gravado, em letras douradas, no meu coração. Seu sorriso me vestirá de alegria, hoje e sempre. Que vazios preencheram seu tudo? Sonhos? Esperanças? Saudade? Solidão? Passo horas a pensar nela. Seria um crime de lesa humanidade não registrar sua história, eternizando-a em um singelo SPINA.
102
Comentário sobre SPINA escrito quando da travessia de Tia Carminda, uma mulher de hábitos e atitudes estranhas, que viveu sua vida em quietude de não-existir-existindo.
[ 280 ]
LIII Você me fez caminhar por uma estrada colorida, e cada canto dos passarinhos em meu coração se fazia ninho. A brisa a tocar meu rosto num maio de flores e tempo esse em que os amores eram fecundados e adormeciam na certeza que lá longe, nesse tempo chamado agora faria uma vida valer a pena! Somos instantes! 103
103
Comentário escrito por Vera Salviano.
[ 281 ]
LIV Muito me satisfaz e emociona o texto do poeta AlufaLicuta Oxoronga, tratando da Nova Forma Poética, SPINA, e socializando, publicamente, que, ao tomar conhecimento do SPINA, através de minha amiga Iranete do Carmo (a quem deixo meus sinceros agradecimentos) ganhou novo fôlego para continuar na vida literária, compondo seus versos. A emoção se tornou mais saltitante quando me deparei com o seu SPINA, escrito com perfeição, demonstrando assim, pois, domínio da estrutura dos versos, das estrofes, da rima obrigatória, iniciando a primeira estrofe com acepção trissílaba, de acordo com a exigência, das pontuações e, claro, o domínio da língua portuguesa, escolhendo os vocábulos adequados para valorizar o enredo e dar fluidez ao texto, embelezando ambos: a nova forma poética e o conteúdo! 104
104
Comentário escrito por Ronnaldo de Andrade.
[ 282 ]
LV Quando eu me deparei com o seu primeiro SPINA, e, aquele seu texto sobre como você estava se sentindo após tomar conhecimento do SPINA, fiquei imensamente emocionado. Foi a primeira pessoa que causou tamanha emoção a mim, falando sobre essa nova forma poética. Desde aquele momento tenho uma gratidão infinita por você e admiração e respeito pelo escritor e amigo que vem demonstrando ser. Recordo-me que conversamos por alguns bons minutos e logo veio em homenagem o primeiro SPINA de sua pena. Você foi a primeira pessoa a reconehcer valor, sua qualidade e falar publicamente sobre o SPINA, e semeálo em outras terras! 105
105
Comentário escrito por Ronnaldo de Andrade.
[ 283 ]
LVI Grande e admirável Edilson. Sabes, pois já é público e notório, minha expressa admiração por teu spinar. O desenvolvimento proposto por ti, novas coduções ao astuto olhar. Amei e amo o que tens feito pelo (e para o) SPINA. Em pouco tempo, o SPINA já se vestiu de várias vestes, sem perder a essência de seu corpo, de seu núcleo, de seu cerne. Continua impávido, belo e colossal, ainda que haja novas formas e olhares lhe dando novas vestimentas. E estas vestes tem engrandecido o próprio SPINA. Estou nesta casa há um tempo, lá pelo pispiarda primeira era, no início dos tempos da primeira eternidade spinaista. Vivenciei os primórdios dos tempos pandêmicos, o SPINA, enquanto bálsamo, nos sustentando da solidão e do isolamento. Vivenciei o recrudescimento da pandemia, a morte de minha maezinha teodorinha, meu irmão, duas sobrinhas, uma nova e outros amigos queridos, inclusive, dois „poetaços‟. Vivenciei novos tempos advindo das vacinas, a esperança raiando seu luzeiro em meio a densa escuridão. Vivenciei novos spinaistas chegando e trazendo com eles seus esplendores, cunhando o SPINA de novas luzes. Vivenciei o quanto há de elo nestas novas composições, destes novos e valorosos spinanistas e, tudo isso me alegra, me enche de entusiasmo por crê que o SPINA não se basa a si, ele sempre pede algo a mais, um novo acariciar de pele e de alma, como se nos quisesse dizer que a vida, ainda que insólita e breve, vale a pena vivê-la, em sua plenitude e grandiosidade. Evoé, amigo. 106 106
Comentário sobre a nova estrutura visual do SPINA, proposto por Edilson Costa.
[ 284 ]
POEMAS DIVERSOS (Alinhaves & Bordaduras em fios de afetos)
[ 285 ]
[ 286 ]
A amizade é um lindo bordado Com suas linhas, cores e tramas, Um lindo jardim cheio de ramas Pelo artífice d‟almas desenhado. E é neste chão, fértil e abaciado No qual não me dou por omisso A Symone e Antonio, em crisso, Guardo em carinho zelo e afeto. Estando nós sob o mesmo teto Sei nem se tenho roupa pra isso!
“Acalentada no seu encanto” Diz-me, Fabiane, ao entreter Nas elucubrações do escrever Que, do peito, se faz manto! Sei dos fios, deste quebranto, Em carregos de exuberações, Sei que o afeto, nos corações, Tem as texturas de linda flor, E que a Fabiane, com primor, Faz dos poemas, encantações! [ 287 ]
O feicibuqui é bicho traquino Prega peça em todo o mundo, Por aqui, neste tempo rotundo, Que me divirto desde menino, Já vi o ateu clamando o divino E leão, feroz, de lagartixa correr, Chuva, de baixo pra cima correr, E elefantes, virando borboletas, Até Nauza, que tem mil facetas, Saindo de sono, sem anoitecer.
Já passei pelos portais dos infernos Que um dia Dantes também passou, Já fui pássaro, pequenino, que voou Em busca de seus inventos internos, Já fui criança e escrevi em cadernos De meus sonhos e pesadelos turquês Já passei e vivi de tudo, sendo cortês A tudo que a vida me deu por melhor Agora, Nauza e Maura dizem sem dó que bebo enxofre e falo até quintanês. [ 288 ]
Dizem, os mais antigos: Se conselho fosse bom Não daríamos aos amigos Venderíamos como bombom. Mas, contigo não tenho arrogo, Gosto do circo pegando fogo, Um conselho: vermelho batom!
Este boi da cara preta Que a Solange falou, Na verdade é a careta Que do palhaço, voou, Por isso, desde menino, Eu faço o meu destino Daquilo que hoje sou! [ 289 ]
Acalentada no seu encanto” Diz-me, Fabiane, ao entreter Nas elucubrações do escrever Que, do peito, se faz manto! Sei dos fios, deste quebranto, Em carregos de exuberações, Sei que o afeto, nos corações, Tem as texturas de linda flor, E que a Fabiane, com primor, Faz dos poemas, encantações!
Se tens a moleira torrada Pelo sol quente de Juazeiro, Não sei, não vi, não disse nada: A Solange é que disse primeiro; O que sei, é que esse Toninho Chega assim, bem devagarinho, Mas, na poesia é um artilheiro. [ 290 ]
E essa moça, tão linda Com blusinha vermelha Com saia que assemelha As belezuras de Olinda? Seria uma bela berlinda Cheinha de lindas flores Que nos causa amores Por tão belíssima figura? Moça linda, oh, candura D'onde vem tão primores?
Girassóis me apetecem a alma, Beija-flores, encantam meu dia, Às Rosas, dou-me por moradia, Em deslumbre que me assalma. Cada sentires em minha palma À minh‟alma, devagar se acosta E, sentindo cada um, em aposta, Meu dia resplandece mais feliz, E dou-me em apego de aprendiz Lendo SPINAS de Edilson Costa. [ 291 ]
Symone Elyas é uma pintora talentosa No ensino e aprendizagem, rara beleza, Sabe das cores, engendro e correnteza Do que a vida nos concede, portentosa. Na arte e graça, do SPINA, é ostentosa Põe cores, traços e formas sobre a mesa Imiscui-se com as palavras em afoiteza, E, aos amigos, sempre afetiva, graciosa. Tem, por vida e existência, o alimento Que a encoraja, feito seiva, o beija-flor, Tem, no amor pela família, o fomento Que a une aos seus, em afeto abrasador. Um ser de graça, candura e sentimento: Igual a aurora, a um orvalho inspirador.
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EPÍLOGO
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AS INTERVENIÊNCIAS SIMBÓLICAS DA POÉTICA SPINAISTA NOS INTRA_MUNDOS EXISTENCIAIS DE COISAS, DE HOMENS E DE BICHOS. “É sempre mais difícil ancorar um navio no espaço” Ana Cristina César A íntima intermidialidade de coisas, de seres e de tempo, em suas interações de sentir o ser mundano em demonstrações diárias e inequívocas de existir-existindo, em descobrimentos, desvelamentos e mistérios no nãoexistir-existindo-do-ser, foi o caminho que me levou ao SPINA no iniciozinho de 2020. Um poucochinho antes que o mundo se „espantasse‟, „em medo‟ ao poder devastador do covid-19 e se sucumbisse aos claustros/tempos de distanciamento e dor. O momento estava propício; o solo, substancialmente lavrado; as chuvas serôdias abasteciam a terra em proimos e opsimos milagres. Nas roças, sementes de flores anunciavam suas agradabilíssimas belezuras. Nos lares, a sega do afeto irrigava os paióis das almas a uma crescente, imponderável e intempestiva colheita. O meu ser é de terra. De húmus. De raízes e galhos retorcidos. De aceiros, de coivaras e de plantios. De cinzas e ventos. De labaredas de fogo em seus cultivos de queimadas. De velhas taperas e rústicos quintais. De ninhos vazios e voos. De nuvens em derramamentos de céu. Tudo me provém a seu tempo e a seu modo. Em um desenrolar de existir, indistinto e infindável. Fazendo de mim, um giro de eternas promessas. Corpo de romaria e esperança. Parindo-me, em dores, refrigérios e constante vicissitude, às acontecenças do dia. Fazendo do acaso, fértil terreno de descobertas; da imprevisibilidade da [ 295 ]
vida, uma estampa criativa. Dos borrifos dos ventos, grafia de indubitáveis inspirações. Assim sou. Assim tenho sido. Não me estreito a ganhos fáceis ou a frouxos abraços. No dentro do meu ser, em privilégios de solidão; no íntimo do meu sentir, em internalização de costuras mundanas; há um renovar-se, angustiado, inquieto, aflito, fobado, insurgente, insubmisso, em uma infindável e constante ebulição, arremessando-me, parcamente, aos meus apetrechos de passos (e de sonhos), desafiando-me a prosseguir a marcha, ainda que, os que os olhos percebam, sejam somente os trovões, precedendo os temporais. É neste terreno de vida que me alimento, que nutro o meu existir a cada amanhecer. De pequenas licitudes, de alguns poemas e de descuidadas longitudes. O (poe)mar dentro de mim, com suas rimas, métricas e temas, vem de longa data. Fez-se corpo aos doze anos de idade. Diluiu-se, às minhas entranhas, em signos, significância e significados. O primeiro impacto, ao sentir a presença do SPINA, foi de espanto, admiração, contenção e êxtase. Cuidadoso que sou, observei, atento, a fôlego pequeno, seus recursos, características, formas e regras. E, tudo me pareceu correto e adequado. O seu arcabouço aparente e ligeiramente rígido, colecionava fluídos movimentos, em que poderia transitar meus experimentos poéticos em experienciações mundanas. Substanciando o meu ser de alegria e contentamento. O intercalar, arrumadinho, das duas estrofes, alinhavadas em oito versos, em sóbrios e simbólicos pontos de nove e vinte e cinco palavras cada, bem ajustadas à casa do tecido poético, com suas [ 296 ]
figurações e temáticas distintas, veio-me em uma graciosidade dourada de cachos de arroz, madurando em meio ao verdejante roçado. Esta nova forma poética, registrada por seu criador, o talentoso escritor Ronnaldo de Andrade, com o singelo nome de SPINA, em homenagem devida ao emérito Professor Segismundo Spina, tem, em suas nervuras centrais, conexões etimológicas a ramos e folhas, a pétalas e espinhos, por conseguinte, a jardins. O caule poético, sustentáculo desta rosa spinaista, tem uma propagação rítmica e rímica em três tempos peculiares. De onde, a vegetação criativa se exsulta, exulta, jubila e regozija, criando funções e condições de solutos suportes, em reservas de crescimento e folias, tanto no sentido anatômico e botânico de foliáceo, como também, no de festas, de alegres brincadeiras. O que torna o SPINA uma obra simples, porém, peculiar; uma construção poética refinada, o que a torna singular. Embora traga como característica mais acentuada, uma estrutura discreta, sóbria e, indubitavelmente curta, composta de breves trinta e quatro palavras, sendo a primeira, necessariamente trissilábica, o SPINA transita por múltiplas temáticas e permeia complexos conteúdos sem maiores dificuldades, construindo, a cada realidade descrita, discussões, interpretações e peculiaridades próprias, o que torna ao ato criativo do poeta spinaista, um inquestionável e permanente desafio. Assim, o SPINA tem sido nestes sete meses de exuberante existência, um ambiente circundado de intenso deslumbramento, em um encandeamento poético e artístico inigualável. Atravessando muros e fronteiras, [ 297 ]
aglutinando línguas e culturas, com a elegância, força e beleza de um exuberante bolsai. Compreender e apreender a construção spinaista, em toda a sua complexa extensão poética e simbólica, com seus deslumbres, perspectivas e entraves, faz-se necessário (e urgente). Para tal é imprescindível que se aborde estudos, cujo objeto de análise, o SPINA, seja evidenciado ao campo da gramática, da linguística, da semântica e do discurso. Para que, em um tempo futuro, em seus aspectos estilísticos, discursivos e polissêmicos, torne-se um paradigmático teórico, auxiliando assim na escolarização da leitura literária, e, consequentemente, ao letramento de novos leitores, contemplando, pedagogicamente, as dimensões do pensar, do sentir e do fazer, tornando o SPINA, no campo da linguagem, conceito compreensível de transposição didática. Assim, o corpo poético e dinâmico do SPINA tem alçado os seus voos. Em brevidade de fôlego ou em alongamento de respiro, em descrições e afirmações, produzindo, nestas diárias observâncias, oníricas ou imagéticas, as sensações e percepções do intenso existir mundano. Compondo-se e se decompondo em uma intertextualidade de palavras e versos, com a incomensurável elegância de um entardecer outonal. Às vezes em versos batidos, rápidos, precisos, de curtíssima duração, feito beija-flores se assanhando ao exótico néctar da flor; n‟outras, em belíssimo planeio, batendo e fechando os versos em suas correntes estéticas ascendentes, em largas altitudes, feitos os ágeis e belíssimos gaviões-reais, protagonizando, a cada verso, suas roupagens de primavera. [ 298 ]
Com uma estrutura rímica assonântica, vocalicamente harmoniosa, o SPINA vem ocupando o seu lugar na história da poética brasileira. Muitos são os poetas, com suas múltiplas versificações e complexas simbolizações, desdobrando-se a cada dia, no desenvolvimento e desvelamento deste gênero poético. Carregado de sentido, significado e significância humana. Com suas histórias e invenções ao alcance do olhar. Com seus teares digitais, transformando cada som vocálico em um mundo de encantação. De norte a sul, há uma multiplicação desta produção. Cada um com seu olhar, falando de nuvens, jardins, amor, paixão, sertão, pedras, animais, gente e coisas. Enumerando suas sensações estéticas em uma profunda e admirável espontaneidade. Portanto, é fundamental que a construção spinaista, com seu arcabouço estético (e poético) bem definido, resista às mudanças paradigmáticas, tão efusivamente propagadas, nesta fluida e líquida contemporaneidade. Que se justifique em relevância histórica e encontre o seu reconhecimento teórico nos caminhos epistemológicos da encantativa palavra. Que se abasteça dos versos (e das rimas) em processo duradouro, sublinhando vivências, historias e interpretativas invencionices poéticas aos registros de imutáveis identificações de existir, coexistindo em atitude e fruição, agregando modernidade e tradição, entranhamento e estranhamento, momento e eternidade em uma indestrutibilidade coexistência mundana. Que se registre doravante, em inovadora re_invenção de vida, da substanciosa essencialidade de se compor SPINA, de se abastecer de seus oito versos em uma hegemônica voracidade de existir. De se buscar, nos [ 299 ]
horizontes das im_publicadas emoções, as elegantes escrevinhanças do tempo, dos instantes e das recorrentes moradas, em frescor de brisa, de flores, de frutos, de bichos, de terreiros e quintais. A termos, como mapas de nossas fazeduras humanas, em abstrações de coloquiais sentimentos, o prodígio revelador dos inesperados afetos, respaldando-nos, no alcance das duas estrofes spinaistas, as imponderáveis sagrações do existirexistindo, como se fossemos orvalhos em lambeduras de amanhecer, representações hipotéticas de nosso próprio nascituro. Este é o caminho que o SPINA, incontroverso, terá que seguir. Em compreensões semânticas e pragmáticas, em uma experienciação poética de existencialidade referencial, tornando o objeto de estudo em um campo de observação e reflexão, vinculando o significado poético às significâncias do ser, como norma padrão de investigação e interpretação. Em entrelaçamentos de criação e elucubração. Para tanto, o seu solo está sendo incessantemente carpido, tratado, lavrado e adubado. As ferramentas são conhecidas. O crescimento é paulatino e gradual. As condições do tempo são favoráveis. O amadurecimento é um convite à sega A fruição do vento e das chuvas, em exercícios imagéticos e polissêmicos diários, sistematiza abundância nos paióis. Boa Colheita!
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