SENDAS NOTURNAS - Da escuridão da vida para a Escuridade do existir

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SENDAS NOTURNAS DA ESCURIDÃO DA VIDA PARA A ESCURIDADE DO EXISTIR

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SENDAS NOTURNAS DA ESCURIDÃO DA VIDA PARA A ESCURIDADE DO EXISTIR _____________________________________________

Cristina Milanni

JULHO DE 2018 [5]


Título Original Sendas Noturnas – Da escuridão da noite para a escuridade do existir

© Copyright by – Cristina Milanni 2018 Programação Visual: Autora Revisão: Autora Arte da Capa: google 2018. ISBN 1. Literatura Brasileira – Poesia 1. Poesia Brasileira 1. Título

_____________________________________________ Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito da Autora.

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Cansado de chorar pelas estradas, Exausto de pisar mรกgoas pisadas, Hoje eu carrego a cruz das minhas dores. Augusto dos Anjos

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DedicatĂłria Para Alvares de Azevedo, Porque na minâ€&#x;alma suspira a sombra dele.

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Índice Lamento em prece Penitência Desconsolada (in lamentos) Pele remendada A minha dor A órfã Emigrante Soneto de Uma voz Sofrida Almas Súplicas Meus versos Flecha do cupido Sopro de vida O Sofrimento de Ana O inferno de Marian Preces não atendidas A estranha Cármico destino Um lugar em mim Flâmula Melancolia é um dom Quimera Eu te amarei Desprovida Tua essência Lua Prateada Triste realidade

Noites sombrias Ao findar da noite Seus Olhos (Mar) Manancial de Amor Morte Prematura Chuva de Rosas Ninguém! Escuridão Soneto do Esquecimento Agonia da rosa Véu Rasgado Quem me dera Recit'Arte Anjo Mundano A Estrangeira Estranhos Desejos Anjos Exilados Soneto de Amor Brincando de Morte Mistérios Do que o Amor é feito? Soneto de Notas Abraços Vazios Estranhos (Almas contrapostas) Jardim dos Sonhos Beijos molhados Meu doce anjo Blasfêmia Distância Lamento em prece [9]


No silêncio Teus olhos Morte Prematura Condenada Anjo Mundano Alma desolada Nos olhos teus Lúcida Loucura Sono profundo Orações Profanas Sem Saber Estranhos (Almas contrapostas) Desejei o beijo da morte Chagas de amor Soturno

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O NEGRUME DA NOITE EM CULTIVOS DE AMANHECER “Tudo o que vemos ou parecemos não passa de um sonho dentro de um sonho” (Edgar Allan Poe) Estas sendas noturnas, proposta por Cristina Milanni, além de significativas são intencionalmente indagativas. De imediato, ainda sem abrir o livro, intui-nos a inevitáveis e imponderáveis dúvidas: Que sendas são essas que nos evoca a uma povoação de criações mentais? Que passagens da existência humana propõem a poeta à nossa bruta força do olhar? Que trilhas ocultas do recôndito de su‟alma povoam seus dias? E o que nos faz crê que na interseção das palavras e dos versos haja um caminho (a nós ainda secreto) que nos leve da escuridão da vida para a escuridade do existir? Aproveitando que a escuridão da noite adentrava em minha casa, soturna e silenciosamente, descerrando o dia sob o seu manto de escuridão, em uma prática diária de obscuro sopro de escuridade, subvertendo o existir da vida em uma nova existência de ser, pus-me diante das Sendas Noturnas da poeta Cristina Vilanni em intrepidez de menino. Em um mergulho de itinerário incerto. Por serem noturnas, imaginei que viessem à mim em forma de sombras, ou em espectros destas sombras em contornos de sombras anteriores, fazendo morada em outras sombras em um assombro de existir. Em indubitável confrontação à fragmentação do meu ser, ante um espasmo de desvendo e mistério, as Sendas Noturnas me apontam um olhar diferente. Segui a leitura [ 11 ]


em um “lamento de prece”. À meia luz „devorei‟ o livro. Pois “entre umbrais, vaga este meu espírito (...) tenho uma sede de entender o infinito.” Em acintosa provocação, percorri as primeiras páginas, enquanto a escuridade da poeta me sussurrava “por vezes palavras inerentes, estrangulando o meu já fraco coração (...) como se fossem mil lanças na carne (...) nebulando meus olhos, neve fria (...) a um último choro de vida.” Com a empática leitura deambulando o meu ser, servime destas Sendas Noturnas em um olhar referencial de sombra e escuridão, “ateando em minha mente uma doce paz”, servindo-me de uma “suave ternura, feito de macio linho (...), habitando-me de suas costuras e fazendo de minha alma “um patchwork, transbordando emoções.” Induzindo-me a novas explorações de existir, levando-me a uma melhor compreensão das influências literárias que permeavam os versos da autora, feitos de uma natureza verbal diversa e complexa, em que aplica a cada verso a sua própria existencialidade poética. Os versos de Cristina Vilanni, neste seu Sendas Noturnas – Da escuridão da vida para a escuridade do existir, nos faz explorar meandros de nossas almas até então intocáveis, especula a nossa imaginação em tamanha força que nos instiga às suas heranças de dores e angústias em primitivos impulsos, nos lançando “neste mar de águas negras e frias (...) habitado por uns mil fantasmas (...) transbordando em vazios de nadas (...) ao redor dos traços pérfidos do algoro, delírios que causa na carne um corte”, igual a “um relógio quebrado voltando no passado; preso a um destino cheio de tribulações.” [ 12 ]


Com isso, percebe-se que este Sendas Noturnas é marcado pela melancolia, caminho escolhido pela autora para revelar toda o seu gosto poético entremeado de angustia e dor, a esconder o vazio, a tristeza e a solidão contido em cada verso. Confrontando a sua escuridão de vida à escuridade do existir. Convidando-nos aos mistérios de cada soneto, nos inspirando a produzir “um orvalho alucinante na pétala da Rosa (...) onde a alma dum poeta, nada alcança”, nos dando a beber “um cálice vazio que transborda morte (...) onde as cinzas caem sobre os jardins e as rosas são sepultadas ao entardecer.” O livro nos leva a inúmeras descobertas, escancara diante de nossos olhos “todos os seus sonhos, todos os seus medos... (...) e no infinito vazio onde ela mora; as negras rosas secas, despetelam... cobrindo o chão estéril que deflora (...) numa viagem sem destino; sem regras, num lugar que tornou-se inalcançável (...) engolindo tudo para dentro de si”, rasgando os nossos peitos “em mil pedaços (...) serpenteando à face trágica do tempo (...) o verbo da carne, o ódio do amor, a vida da morte (...) envolvendo-nos em um forte laço (...) perto o suficiente para ouvir sua respiração.” Este é o mundo de Cristina Milanni nestas Sendas Noturnas, converge a finitude da existência em lampejos de esperanças, produzindo um verso forte, autêntico e surpreendentemente belo, cultivando a sua negrura de noite aos nossos cultivos de amanhecer, em sonetos que nos fazem pensar acerca do nosso próprio existir, “como uma folha outonal caída, (...) flor ceifada, dum jardim castiço, com pétalas pálidas e chorosas.” Dando vida a cada verso ao singular toque de suas mãos. Fascinando[ 13 ]


nos por sua destreza e competência, nos envolvendo a uma desfrutável e fascinante leitura. Alufa-Licuta Oxoronga Psicólogo e Poeta

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Lamento em prece

Há uma razão para o lamento da criação? Alma estéril onde nada nasce ou cresce... Uma exilada cética sem remorso e coração; Existem repostas para atender tais preces? Do céu não tenho! Da vida só silêncio. Enquanto grito por socorro, não me ouve? Todos os dias, perco-me mais e distancio... Desnorteada sem paz que me aprouve. Entre umbrais, vaga este meu espírito; Sinto-me um embuste em Terra sem lei Tenho uma sede de entender o infinito. Minha Vida à errante ventura padece; Sobre um Mar em fúria, dissipa o alvo riso... Fluem águas impetuosas, pranto carece.

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Penitência

Liberta-me desta triste penitência, Que é de Amar quem não me ama... Absolva-me desta paixão insana; Sinto-me decadente em existência. Livra-me da companhia desta Solidão... Qual me abraça tão esmagadoramente; Sussurra por vezes palavras inerentes Estrangulando o meu já fraco coração. Liberta-me desse inverno constante Que em meu corpo abraça incessante, Como se fossem mil lanças na carne. Livra-me desta escuridão sombria Nebulando meus olhos, neve fria; Talvez, seja meu último choro em Vida.

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Desconsolada (in lamentos)

Amanheci mais triste do que costumo Olhos marejados de um mar sombrio; Sem par, sem rumo, tão fora do prumo O Sol nasceu envolto de nuvens em pavio. Perdi a minha fé, minh'alma subjugada. Sem pertencer à nenhum crédulo ou raça, Sempre acompanhada e só, de mãos dadas Numa multidão de mil "eus"em desgraça. Duma queda fatal na terra arremessada Asas destroçadas, ossos quebrados; Em tormento a vagar por vis estradas Uma turva alma em penumbra versando Dias tristes numa melancolia profunda; Uma desconsolada lírica bucólica vagando.

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Pele remendada

Tece sobre a minha pele o teu toque; Paixões que costuram a minh'alma. Um Amor, decifrando os meus porquês... Que graciosamente caberia em tua palma. Sobre o meu peito, tal zelo me apraz, Teces em linhas finas com teu carinho Ateando em minha mente uma doce paz; Com suave ternura, feito de macio linho. Fios que enlaçam, nos tornam arreigados, Nossa pele num tecido sendo remendado... Costurado ao espaço surrado e rasgado. Um patchwork, transbordando emoções; Sendo tão sua... quanto de mim mesma! Alinhavo sobre meu peito, dois corações.

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A minha dor

A minha dor... é minha! Ela é temporária. Meu punho que insiste assim escrever, Sangra em poesias tristes e solitárias... Versos em murmúrios... Vem do meu ser. Essa é a minha dor. E, ela é só minha! Vive cravejada em riste no meu peito; Amargas lágrimas, meu calvário em linhas Poeta duma alma morta e sem proveito. Cada um carrega o peso da tua Cruz; Nos teus ombros as feridas latejantes... Pulsam em verbos enegrecidos, sem luz. Essa dor é temporária... E só minha! Amanhã ela finda, morrerá em mim... Mas por hoje ela ainda sangra. Sozinha.

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A órfã

Perguntei a Deus, por quê sou tão Triste? Por quê... Tanto sofre o meu coração?... Uma solidão a vagar sozinha, persiste; Amaldiçoada, perambula na contramão. Deus, responda-me: - Sou acaso pagã? Descrente da Vida, ou da triste Glória?... Dê-me o paraíso, embora seja tua Órfã, Cura-me as feridas, livra-me dessa escória. Desse purgatório da minha mente, Não sou filha concebida do Amor Tampouco sei amar... Alma demente. Sou injúria, inglória, duma fé ateia; Expurga-me dos demônios carnívoros... Tenha compaixão, meu espírito pranteia.

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Emigrante

Quanta amargura d'alma possuo; Não sinto ser vida ou viver. Enfado! Sinto o espírito se abater em urros, Desprovida de unção... Afundo! Neste Mar de águas negras e frias, Castro-me de dor e do amor não sinto! Ainda por sentir vívida, a alma fremiria; Nenhum laço em abraço por instinto. Nega-me o Céu, a luz da Aurora; Em meus pesadelos arfando esvaia... Sopro do vento de morte a esburgara. Com cicatrizes de feridas estilizadas, A minh'alma transtornada emigrante Longe de mim... Seria imortalizada.

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Soneto de Uma voz Sofrida

Sinto como a voz de um fantasma Ecoando entre Labirintos, ecoa, ecoa... Uma voz sofrida, um canto fúnebre abisma; Renegando que dentro de mim ainda há... Um coração que pulsa por mais que doa, Ele quer Amar, quer voar, quer ser Céu; Por trás desse túmulo de sentimentos Havia uma chama incandescente, ao léu... Mesmo sabendo que a Paixão me consumia, Em pequenas doses de Cianeto; ufanar... Seu ar provocava-me embolia pulmonar... Fugia... Porque já não podia mais lhe ver Feito macumba na encruzilhada; Amarrou-me a sua alma, em teu Ser...

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Almas

A marcha da morte entra no túmulo e os ecos do silêncio sombrio em oculto; Sussurra a música dos condenados, tom fúnebre em acordes esdrúxulos. Um soldado abatido aclama impotente Na guerra das tuas intenções mal julgadas; Ainda estão sangrando em sua sepultura, Convenente das tuas obras inocentes. Esperanças inexistentes morrem... a maldade alastra dentro dos teus ossos. Corroendo cada um deles feito ferrugem. Lágrimas que sofreram discriminação... Anseiam repousar no sepulcro em remanso; Almas expurgadas e livres da escravidão.

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Súplicas

Desejo ardente inflama esse combustível Que é teu corpo que flama sobre o meu; Labaredas consumindo, fogo indistinguível! Noite de súplicas em líricas dum Orfeu. EU, sendo inferno e você meu Anjo - guia; Paixão incandescente, me invadindo; Insanamente, em oculto, Eu te seguia... Esse tormento: querer-te me possuindo. Aos poucos, já não vivo mais em mim; Reviro-me do avesso, nada além de Ti! Esperando que isso tudo tenha um Fim. Querer-te tanto assim, suplicante eu te peço: - Vida minha, anjo meu! Tenha compaixão! Seu silêncio é açoite, dor que Eu não Mereço.

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Meus versos

Meu amor, meus versos sofridos São a ti oferecidos, alma em pranto; Sobre meu peito - o selei querido! Tornastes minha inspiração. Encanto. Meu amor, não sei se por feitiço; Ou que praga é essa que Eu padeço Desejar amor sincero, quase louco... Teu poema; rasga-me em pedaços. Testemunhos da minha languidez, Por um momento, pensei "Ser Amor" Tão certa que perderia minha lucidez. Teus olhos profundos me fitaram... Os descrevi em minha poesia!!! Negros e altivos me enlouqueceram.

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Flecha do cupido

Foi ver-te em uma cúpula obscura, Um olhar mórbido e sombrio Havia nele um quê de Tristeza... Uma solidão agridoce de loucura. Uma força vil que desconheço... Entrou rasgando a carcaça do meu peito Embevecida em seus encantos, alvoroço; Dilacerando a carne do verbo imperfeito. Como se a flecha envenenada do Cupido, Perfurasse a cada válvula cardíaca; Enlanguescendo o apaixonado espírito. Sofreguidão, AMOR, porventura não mereço; Anjo profano, e Eu? Pobre ser mundano. Afague minh‟alma nos teus braços adormeço...

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Sopro de vida

Na fria sepultura ele estava deitado Sobre um manto teu corpo envolto. Toquei teus lábios num beijo eivado; O vento soprou meu amor... solto. Não hei de deixá-lo dormir. Retorne! Teu sono, breve romper duma aurora, Apronte-se! Se vista de Vida, se adorne Então me faça feliz, voe céus afora. Sobre meu peito o recolhi, Dei-lhe acalento no meu regaço Em tua pele pálida; versos escrevi! Não sou poeta, tu fostes minha poesia Não sou anjo, tampouco deus a ti cuidar; Tu foste minha Vida. Mil vidas eu te daria.

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O Sofrimento de Ana

Um choro sofrido pranteia a tua alma Rompe o véu da noite lúgubre no leito Lágrimas insípidas desprende o carma Não repousas teu coração no teu peito? Sussurra-me uma frase, meio ao teu choro... Porquê sofre tanto minha adorável Ana? Tens a solidão dos olhos negros como corvo Assemelhados aos duma quimera ufana. Cante um coro melódico pra mim, se alegre... Aqueça a voz. Não se cale nos teus versos! Abraça-me forte e teu sorriso me entregue. Onde nasce a tua bela inspiração Cigana? Se guardas trancadas em teu coração de aço... Solte-às ao Vento e grite a esperança, seja Ana!

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O inferno de Marian

Rufem os tambores dos terreiros O anjo iletrado chegou às pressas... Trazendo aos punhos versos e letreiros Dono da poesia urbana de efêmeras belezas. Marginal das letras e Senhor dos versos Com sua excelência, rimas e sonetos... Torna-se "um" entre milhões no universo, Quanta magnificência na prosa dos guetos. Não habita o paraíso, esse anjo travesso; Seria do inferno, Marian... O letrado? Sua Musa livre avoa em céus gigantescos. Em rimas e métricas ou brancos e soltos Sempre nos surpreende, evoemos!!! Anjo urbano sem asas, em nuvens envolto.

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Preces não atendidas

Hoje minh'alma entristeceu, chorou. Recordando de outros tempos; Onde em mim, uma semente brotou Uma rosa histeria cresce uns rebentos. A Lua rústica, veio ao meu encontro, Lânguida num brilho fraco, ofuscado. No céu aclamando preces de aquém; Sozinha onde não existe mais ninguém. As estrelas do Céu, foram embora O universo num breu se definhou; Adeus vida, o fôlego... o Agora. A Lua, as rosas e os anjos, morreram Não há imortalidade para os deuses; Moribundos, no escuro sucumbiram.

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A estranha

...Um sorriso já me és extinto Vago entre mágoas de dores Sobre o peito frio já não sinto Nem pulsar de cálidos amores ...Num espelho não me vejo Sombras duma alma vaga Nem Sol nascente ou lampejo Somente breu do céu propaga ...Não reconheço meu rosto Traços de uma estanha e só Visão turva de um desgosto ...Numa imensidão soturna Sobrevivo na triste poesia Duma vida tão infortuna

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Cármico destino

Nesse mundo de profunda Tristeza, Onde poderei repousar o meu coração? Se, as pessoas me causam estranheza; Eu permaneço desnorteada sem razão. Meu Mundo, - desigual dos outros, Sinto tão profundo os Sentimentos... Trago sobre o peito, meus Monstros; Reclusa, minha mente, meu convento. Um vão de partidas, poesia morta. Na boca de quem recita um Adeus; Sou a saudade entrando pela porta. Se eu nasci sozinha, partirei só! Assim será meu cármico destino; Numa cova adormecerei no pó.

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Um lugar em mim

Há um lugar por dentro de mim tão escuro; Frio... habitado por uns mil fantasmas Há um lugar em mim que não tem manhãs, Nem céu azul. Sol constantemente noturno. Nesse lugar inabilitado em sentir amor, Não há chegadas... lamentos de partidas... Há um lugar por dentro de mim suicida, Querendo morrer, aliviando-se de tanta dor. Todos têm um lugar em si escondido, Onde há somente vestígios de amarguras Sem luz, silenciosamente se entretendo. Há um lugar por dentro de mim tão cheio; Transbordando em vazios de nadas... Sempre perdida nos sentimentos alheios.

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Flâmula

Quisera eu ser tenro como um corvo Que antempo vem dizer-nos: da morte; Ao redor dos traços pérfidos do algoro Delírios que causa na carne um corte. Essa flâmula ardente, é a minha prece, Deusa das Sombras que viaja na noite Beija à escuridão em sua alma enaltece; Sussuros de vozes, agonizando açoite. Seja pela beleza de uma rosa vermelha, Ou pelo frio num corpo já desfalecido; Olhos fechados e nenhuma centelha. Do céu um fogo flamejante, assustador, Verás a dura profecia sendo cumprida Um caos apocalíptico e arrebatador.

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Melancolia é um dom

Quantas lágrimas derramadas a esmo. Todos os dias declarando a mim mesmo; Que andar Sozinho é bênção de Maldição. Que a melancolia é um dom! Quantas rosas eu vi serem destroçadas Num fúnebre jardim amontoadas; Elas não vingam, nesse meu Inferno! Tocadas num ar gélido, Eu alterno. Ora num vulcão outrora no frio Ártico. Minha Vida passa abatida, não vejo flores; Como bastardo de felicidade e de Amores. O que há no tempo a não ser desilusões? Um relógio quebrado voltando no passado; Preso a um Destino cheio de tribulações.

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Quimera

Meu coração tornou-se num caixão, Sentimentos mortos se decompondo. Minh „alma esperando a reencarnação; Meu espírito abatido, moribundo. Daqui, eu vejo as noites tão escuras, Nada mais vaga, no breu, tudo silencia. Feridas expostas desprovidas de suturas Sangram, enquanto a Vida renuncia. Eu sorrio... um sorriso malicioso; Escondendo as lágrimas de sofrimento Voz sussurrante num canto penoso. Em meu corpo carrego um Cemitério Todos os sentidos em eterno repouso; Quimera, libertando-se do teu mistério.

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Eu te amarei

Se eu abrir a porta, promete ficar? Enquanto... lhe faço uma poesia Encosta o teu rosto no meu peito Beija-me suavemente em maresia. Seja a minha primavera mais bonita O meu sol de verão mais quente; No inverno rigoroso, seja meu cobertor Aqueça a minha alma fria, solvente. Traga-me o sorriso nos teus lábios, Enquanto a minha boca beija... Entre todas as incertezas, seja sábio. Se eu abrir a porta, promete ficar?... Fica mais um pouco, até o amanhecer Enquanto ficar aqui... Eu irei te amar!!!

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Desprovida

Porque insistir no riso as tardes? Porvir... nas madrugadas são lágrimas. Rompe o Céu azul da tua vaidade, Mostra-me a face dura as lástimas. Não me encanto mais com Primaveras, Meus olhos acostumados ao inverno Aquele manto frio envolto as crateras; Nasceria uma flor nas ruinas do inferno? Dizem que sou triste! Que minha face é descontente; Tenho o peito à mira do Cupido em riste. Afugentada num lugar em mim; Não me doou, insisto ser sozinha... Não há verão nos caminhos que vim.

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Tua essência

Tua suave Exótica fragrância... Um olhar que perfura a minh'alma; Tua voz, melodia que me acalma Reluto para conter tamanha ânsia. Teu corpo forte esculpido por anjos Tua face linda moldada por Deus, Quão atraente aos olhos meus... Tua essência forjada no fogo brando. Teu toque foi como um terremoto Que fez o meu corpo estremecer, Beijando meus lábios com prazer. Te tornaste num anjo sem asas... No meu delírio e a minha perdição; Um trovador duma grande ilusão.

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Lua Prateada

Estou perdida no silêncio que sufoca Tantas palavras caladas, me tocam; A lua solitária na Noite me irradia... Na esperança do raiar dum novo dia. Tudo na noite parece-me sombrio, A lua alta no cemitério dum rio.... Brilhando singelamente, toda prateada, Lua assustadora e esbranquiçada... Tão distante tu estas da nossa rota, Feita por destino onde nada brota, Tu Lua misteriosa e da terra extingue. Olho para ti tão longe, hoje e sempre... Imaginando tocar-te, num acalento, Lua que me enfeitiça em desalento.

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Triste realidade

Já tive noites solitárias que quis morrer, Em tempos de tormento do meu espírito... Desejos! O que é o nosso desejo vão? Enquanto os dias passam, sem Eu viver. Amar... Como se amar fosse uma Cura; E o amor que dura é apenas fantasia. Num suspiro, um delírio... Perde-se tudo Resta-me apenas, uma realidade dura. Deixo-me levar em doses nostálgicas, De sua doce lembrança que machuca; Eis que, a razão fala: não há mágica! E se, acaso com desprezo me olhar; Minha estúpida teoria melancólica, Deixaria de acreditar que vais Voltar!

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Noites sombrias

Na morte das noites mais negras, No escuro antes do amanhecer... Um sorriso d'alma pura me alegra; Antes que venhas me enlouquecer. Em meio a calma por dentro de mim, Estou vulnerável e desintegrando... Mil pedaços sobre a pele de marfim; Em risos sarcásticos, por vezes brando. Minha fraqueza, se torna -- Poder. Eu sou uma escuridão cheia de luz; Que em versos líricos me traduz... Fui esculpida pela força etérea E nascida da tristeza, porvir sofria; No meu mundo de noites sombrias.

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Ao findar da noite

Com meus Olhos fundos em tristeza Enfadonha noite que me aborrece; Lampejos dum luar etéreo que padece! Fecha-me as pálpebras em estranheza. O breu da Noite me atraí... Me realiza! No infinito onde o meu olhar alcança Onde perde nas orlas sem esperança; O meu Eu lírico, definhas no céu cinza. Banhada por estrelas incandescentes, Espero-te com um perfume indecente Cantarei como passarinho na Alvorada. Quando o Sol surgir, lá no horizonte; E, não mais beberei em tua fonte... Despidirei de ti meu Amor. Em breve!

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Seus Olhos (Mar)

Cada vez que olho em seus olhos... Sinto um Mar que se abre para mim; Como ondas turbulentas os emergissem Mergulhando em sua imensidão sem fim. Cada vez que olho em seus olhos... Um novo beijo inunda feito enchente; Gracioso se despede nos cumes do poente. E um novo horizonte em mim Ê revelado. Cada vez que olho em seus olhos... Um barco alça as velas em bravio, Sou navegante as margens do pavio. Cada vez que olho em seus olhos... Eu me aprofundo dentro deles, Um marujo sempre retornando para A(Mar).

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Manancial de Amor

Construí um mundo entre os verbos, Todos conjugados no tempo do Amor Tornaram-se em Poesia, de raro valor; Pomposos e livres... cheios de garbos. Repleto de palavras bonitas e versos; Escrevi essa poesia para exaltá-lo. Recitarei-o em voz alta, ao Universo A minh'alma apetece por querê-lo. Se soubesse de todos os segredos Conjuro-vos, és fonte de Água viva; Saciaríamos dessa sede, sem medos. Eis que é a essência rica do Ouro; Beleza única em todas as línguas O infinito no Nome. Maior tesouro.

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Morte Prematura

Hoje, adormeci cantando a Morte Das lágrimas sorvidas compadeci. Só! Tuas vestes negras, agouro de má Sorte; Contendo alguns lamentos... Sem dó. Alma ferida, com cicatrizes pulsantes, Revelo-te a minha face pálida e apática Dum amargo orvalho, num fel solvente; Entoaste Salmos à minha morte cármica. Teu beijo em meus lábios escorria ópio; Afugentastes o meu espírito lânguido Castigastes-me, a penumbra do teu ócio. Perpetua o sofrimento do meu coração, Num lúgubre toque tenro de adeus! Na flor da juventude, morrerei de ilusão.

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Chuva de Rosas

O céu se abriu em nuvens carmins Derramando sobre a minha cabeça, gotas de orvalho, lágrimas de Querubins Elevo-me para tocar-te, não te esqueça! Pétalas de rosas acariciam minha pele, Suave como o toque das tuas mãos. A chuva lava o meu corpo e expele; todas impurezas d'alma em borrões. No Jardim de poesia que cultivaste... Espécimes de raras rosas nasceram; Fui abençoada pelo amor que me deste. Abro-me nas lindas primaveras. Floresço. Exalando o meu perfume de jasmim; Cultivastes-me em teu peito, onde renasço.

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Ninguém!

Fui Aquela que nenhuma alma apeteceu... E que, entre sonhos e devaneios se perdeu; Sempre sendo a loucura de duras mágoas. Um orvalho alucinante na pétala da Rosa. Que... Logo o Sol queimava em segundos; Fui aquela que vagava entre espinhos, Colhendo rosas e chorando em lamento A maresia que dissipava com o vento. Aquela que trazia no peito um céu escuro. Negro, assim como o seu triste desalento. Sequer... Encontrava paz, era só tormento. Em nenhum olhar viu a si mesma... Ofuscada sobre a retina era esquecida, Solitária, abdicou-se da vida languescida...

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Escuridão

Encontro-me no silêncio ensurdecedor No fundo da escuridão eu me escondo! Além da Tristeza que trago em lamento; De uma nostalgia melancólica resplendor. Enquanto martíriza-me eu tento resistir, Sentindo essa Dor esmagadora pungente Essa escuridão por dentro insiste Existir; Tenho sido sepultada feito uma indigente. Sinto-me em exatidão presa numa guerra A negridão está impregnada em mim... Como maldição que a si mesma enterra. Entre as filosofias pagãs eu me revelo. Não creio nesse inferno imposto abismal, Sou apenas uma alma farta em flagelo.

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Soneto do Esquecimento

O alvoroço pulsar dum coração frio, Cansado de poesia às margens do Rio. Deságua num peito seco de esperança; Onde a alma dum Poeta, nada alcança. Rasga-se teus versos e os jogam fora, Jorra em teu Ser a sombra da aurora. Um cálice vazio que transborda Morte Abre feridas doídas, na carne um corte. Vagas sozinho, à beira do esquecimento, Sua Luz ofuscada por visões do passado Lamentas dessa triste cina. Amaldiçoado. Tornou-se num livro velho, não lido; A tua pobre Alma, nunca teve acalento Uma Vida em tons frios e cinzentos.

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Agonia da rosa

Seus sentimentos tornaram-se mals; Todos os seus sonhos, todos os seus medos... Perderam-se com os dias. O amor ainda sobreviveria ao caos? Uma luz que brilhava, até desaparecer... Os sonhos morrem na tristeza do olhar. Onde as cinzas caem sobre os jardins; E as rosas são sepultadas ao entardecer. Um espinho cravado no seu peito... Escurece o brilho etéreo da sua alma Sozinha, triste, adormece em seu leito. E no infinito vazio onde ela mora; As negras rosas secas, despetelam... Cobrindo o chão estéril que deflora.

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Véu Rasgado

A maledicência do ópio na carne podre; Desintegra a alma fúnebre dessa nobre. Qual sepulta entre rosas negras teu amor, Num jardim efêmero de angústia e terror. O véu que cobria à tua face pálida de ais. As tuas gélidas mãos, minha pele eriçais... Quiçá de penumbra a Morte sussurrou, Em meus ouvidos algo sórdido soletrou. Chegastes a tua hora flor amargurada. As tuas pétalas secas, sepulcras caem... Não chores, descanse, tua alma exaurida. Adormeço no vento frio do agouro, Duma canção melancólica e sombria... Emudece-me a voz, voa triste corvo.

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Quem me dera

Quem me dera poder chorar minhas amarguras, Lavar a alma banhada de lágrimas tão sinceras; No rosto límpido a face de um Anjo de candura. No corpo, lavas de um Vulcão em vísceras. Quem me dera sufocar cada palavra, Numa harmonia de Sonetos miseráveis; Não lhe falei: que o amor foi a minha desgraça? Feito uma quimera rugindo seus lamentos. Quem me dera pensar com razão; E na glória de paixões e lascívias carnais, Absintaria o meu crédulo Coração. Quem me dera abster-me do Sepulcro, Um espírito que transcende imutável; Duma vida sacrificada, por um amor tão Puro.

[ 53 ]


Recit'Arte

Recitar-te-ei meus versos de Amor, Os mais belos e gentis, a ti dedicarei. Elegantes, singelos, cheios de frescor; Acolhe-os, guarde-os no peito, suplicarei... Recitar-te ei de toda minh‟alma e coração. Na penumbra insigne acalento no Regaço; Beijar-te-ei, teus lábios em tua devoção Cada verso entoado a face N‟ela traço. Com a voz melódica duma Sereia, Recitarei cânticos de Ninfas gregas; Seus olhos, deslumbre que os pranteia. Recitar-te-ei com maestria dum Poeta; Uma recitação solene de paixão, Querido! Você é minha poesia predileta.

[ 54 ]


Anjo Mundano

Poeta por assim dizer, creio que Sou! Se ainda restou-me algumas inspirações... O Maldito tempo, rasurou. Nada ficou; Emudeceu-me a voz, restou-me ilusões. Como voaria a imaginação sem Asas Se, tornei-me num anjo mundano? Dissipou o Céu, onde eu estava presa; A ira caiu sobre mim, algo desumano. Ainda que eu esteja perdida e ferida; Com essa tristeza inundando minh'alma. Tentando me refazer, despedaçada... O beijo quente que tocou meus lábios, Fugazmente esfriou, calou-me de poesia Jazida, compadecia... sorrindo ao diabo.

[ 55 ]


A Estrangeira

Longe de casa em terras estranhas. Eu sento Sozinha, cobrindo as feridas; Perdendo o fôlego e o ar se esvai... Velando chagas das minhas Entranhas. Não tenho mais identidade; indigente. No meio desse povo, uma Estrangeira, Sentindo-me estranha e fora do ninho Perdida entre Leste e Oeste, descrente. Numa viagem sem destino; sem regras Num lugar que tornou-se; inalcançável Lá existe um Céu cinza de nuvens negras. Sobrevivendo sem Forças e sem Fé. Perdida, cética não enxerguei os Sinais... Submersa na lama lúgubre duma Maré.

[ 56 ]


Estranhos Desejos

Sob a minha pele habita um Desejo; Estranho, vive flamejante ensejos. Do toque, do calor, do extremo Prazer. Assim que anseio, que quero o ter... O nu da demora de todo escondido. Na pele do gosto de coisas a provar. A dor já latente de algo querido... Que sobe no Corpo com esse pensar. Teu desejo misturando-se aos meus; Tua pele sendo vestida pela minha... Segredos revelados de dois Ateus. Essa saudade do Toque das tuas mãos... Daqueles nossos momentos tão ardentes, Que fazias-me derreter de tanto tesão.

[ 57 ]


Anjos Exilados

Sou aquele anjo bem ali caído, Na sede do primeiro verbo amar Jogado, traído e esquecido... Cativo num cárcere, pude provar. Todos os gostos amargos da Dor. Uma tempestade que não cessa... O lado sombrio envolto do Amor; Nos meus olhos chuvosos, expressa. Tive o meu coração remendado, Tecido com restos e reinventado Não nos ensinaram a "desamar"... De onde vim, anjos não podem amar. Às vezes viram cinzas, somem no ar; Deus nos exilou do paraíso, pecamos!

[ 58 ]


Soneto de Amor

Deixa dizer-te do amor que eu sinto Olhando nesses lindos olhos Negros; Tão escuros como a noite, neles tinjo, Um desejo tenro de tê-lo, infinito... Deixa dizer-te de rimas e de Flores; Dos sabores que traduz das dores. Mas, meu amor é cura, ele te cuida! Dos primeiros minutos até entardecer. Que a minha boca não canse de dizer; Que meus olhos enxerguem os seus. E que dentro deles haja benquerer. Amo-te tanto, nenhum outro eu quis, É por ti que almeja meu coração; Nada compara aos versos que Eu te fiz!

[ 59 ]


Brincando de Morte

A mortalha lhe veste bem, feito Prada; Realça a cor dos teus lindos olhos Deixa um resquício de alma penada, Injuriantes, tensos, flameja nos ossos. Há uma atração que tenho pela Morte, Ela vem com túnica preta, elegante... Brincando com vidas e com a sorte Vejo-te respingando de medo, ofegante. Quando ela surge, vem sem aviso prévio, Arromba à porta, sufoca-lhe o peito. Com um mantra abraça-te em sortilégio. Apressa-te, ou dormirás jazida, negue-a; Não a ollhe dentro dos teus olhos negros Ou renda-te e despeça da Vida, segue-a!...

[ 60 ]


Mistérios

Hoje amanheci, Sol, forte e radiante. Deixei a chuva nos meus olhos secarem; Quis estar presente e seguir a diante... Na noite porvir serei a Lua de outrem. Em outras mil formas me transformarei, Serei céu, mar, terra, serei as estações... Num dia flor que nasce, noutra findarei; Invernos frios, verões quentes, erosões. Amanhã serei Mar, gotas de insanidade, Por dentro submergente em caos... Por fora, ondas estrondosas, liberdade. E no fundo do abismo, ônus de poesia Emergendo sempre à descrever-me; Nascente dos mistérios em demasia.

[ 61 ]


Do que o Amor é feito?

Pergunto-te: do que o Amor é feito? Num riso escarlate logo enegreceu; Responda-me, jurastes em nosso leito. Diga-me, onde e como, ele se perdeu? Anjos dizem que o amor é feito Flor, Numa semente cultivada ele cresce Suas pétalas lindas, quase sem cor; Quando o orvalho de si... esvanece. Se for feito chuva caindo na terra Ou gotas de areia no imenso mar, Por dentro de mim há uma guerra. Não quero um amor de inverno; Ou uma simples paixão de verão Que seja cândido, livre e eterno.

[ 62 ]


Soneto de Notas

Toque meu corpo, em notas musicais, Compondo sua excitante melodia; Voluptuosa, desapego de todos meus ais... Sou sua musa lírica em traços angelicais. A mercê dos seus beijos alentecidos Fazendo-me instrumento de seus desejos; Um coral que entrelaçou a nossa pele, Um sustenido; em tom de seus gemidos. Nossa música eufórica: rompe o silêncio, Numa sinfonia perfeita, encaixe de prazer; Toco por vez seu corpo e o reverencio. Há uma força que me prende, tudo perde, Perco o rumo, horizonte e sentidos... Reencontro-me quando mata minha sede.

[ 63 ]


Abraços Vazios

Se ontem ainda eu lhe ofereci amor... Em meu peito, sentia-o transbordando; Se abri meus braços para lhe acolher, Apenas o teu abraço, estava esperando. Se foi ontem mesmo que eu te quis... Com a intensidade de um Tornado, Engolindo tudo para dentro de si; Foi assim que Eu te quis, ao meu lado. Talvez... nos tornamos dois estranhos; Saudade, consumindo feito chamas... Lembrando dos teus olhos castanhos. Agora, os meus braços estão Vazios, Meu peito Rasgado em mil pedaços... Por um querer, que foi meu Desvario.

[ 64 ]


Estranhos (Almas contrapostas)

São estranhos, semântica existente. Dois Seres diferentes, porém unidos Em uma unidade, dois exponentes; Unicamente, juntos, ainda separados. Tornaram-se mutantes da nova era, Transmudados por séculos, antetempo São figuras hipotéticas das esferas; Serpenteando à face trágica do Tempo. Não separamos o Verbo da Carne, O ódio do amor, a vida da morte; Numa trajetória Humana decadente, São duas almas sórdidas e expostas; Uma que vive na outra, dentro e fora... A outra, Sobrevive... "São contrapostas"

[ 65 ]


Jardim dos Sonhos

Amanhece no jardim dos Sonhos Um fecho de luz toca a minha pele Os olhos de horizonte estão risonhos Banhados pelo amor que nos revele Entre os lírios nas relvas silvestres Repousa meu coração ensandecido Tais como flores de Maio campestres Reverenciando o Amor enaltecido O beijo de Orvalho acalenta a flor O vento vem balançando as pétalas A brisa abraça com ternura e amor As rosas negras tão raras e belas Nos pomares é a rainha formosa Esvoaçantes acenam amorosas

[ 66 ]


Beijos molhados

Embriaga-me com beijos dos teus lábios Molhados de vinho rubro francês; N'eles exalto deus Baco em provérbios Como um legítimo apreciador camponês. Doce saborosas uvas das Vinhas, Num beijo inebriante e fervoroso... És essência suave, tinto, acarinhas; Deixando teu néctar verter saudoso. Tornastes em meu vício, semideus; Num altar que cultivei em adoração Esculpido pela avidez do meu coração. Na Solidão encontra-me sóbria; Convalescente em febre por seus beijos, Quero teus lábios molhados de desejos.

[ 67 ]


Meu doce anjo

Uma brisa suave o meu rosto tocou. Sonhei que eras tu, que veio me amar; O meu coração descompassado à pulsar Enquanto o meu corpo febril, içou. Nos meus Sonhos, viestes como Anjo, Faceiro, lindo e de Luz; na face serena Um sorriso arrebatador, candura terna; A tua voz entoando sons dum banjo. Canta para mim canções suaves de ninar, Envolves-me num Sono tranquilo pueril; Renova o meu espírito e volto a Sonhar. Nas horas Noturnas a solidão inclemente; Tenta me envolver com teu abraço frio Olho para ele e sorrio com riso fulgente.

[ 68 ]


Blasfêmia

Amar? Poderia Eu falar de Amor? Palavra pequena, com peso tão grande Seria blasfêmia, não acreditar? Langor Sou uma Cética, numa Fé degradante. Amo-te profundamente, do meu jeito; Não há fórmulas certas pra se amar... Amar-te por um dia, "amor imperfeito" Ou amar por toda a Vida, sem cessar. Ser eterno, por hoje, amanhã, "Talvez"... Sempre incerto, inconstante e perecível, Amo-te assim, só por Agora. Infindável. Não sobreviveria ao tempo degradante; Faça-me teu Poema imortal e venerado, O AMOR pode morrer cedo, inesperado.

[ 69 ]


Distância

Eu estou sempre tentando fugir... De todas armadilhas da minha mente, Do profundo sentimento de me punir Qual loucura seria mentir o que sente. Sei que há uma distância entre Nós, Muitos obstáculos nos esmorecem. Nossos destinos fizeram-nos ser Sós A saudade quando invade me adoece. Entra desatinada no peito, fere a alma; Como se o toque da morte à beijasse Amorosamente até trazer-me calma. Em perfeita e singela sincronização, Como se não conseguisse respirar... Sem teu amor, eu morreria de ilusão.

[ 70 ]


No silêncio

Enquanto estou encaixada em seu abraço, Sentindo as batidas fortes do seu coração Envolvendo-nos em um forte laço; Seu amor veio em resposta a minha oração. Quando enlaço os meus braços em seu pescoço, Ele estremece e aproxima-se do meu rosto Seus lábios encontram os meus, contorço; Não faço nada além de sentir o seu gosto. Perto o suficiente para ouvir sua respiração, Neste momento somos desprovidos de palavras, Mas, nosso silêncio rompe a voz um Trovão. Eu me encantei por sua Calma, Neste momento, eu preciso te sentir... Pois eu me apaixonei por sua alma.

[ 71 ]


Teus olhos

Certa que me perdi em teu olhar, Na serenidade das suas expressões Me perdi no tom das tuas provocações; Nos versos que compus sobre o luar. Tão perdida eu fiquei em teus olhos, Encantada na luz que cintilaram... Das emoções tão pura que sentiram; Flor se abrindo em poesia e orvalho. Eu escrevi sobre teus olhos castanhos Numa nostalgia melancólica, talvez... Teu olhar fitando-me, fadonhos. Querendo roubar a minha paz, Não tem jeito, presa n'eles eu estou! Traga-me o amor que minh'alma compraz.

[ 72 ]


Morte Prematura

Hoje, adormeci cantando a Morte Das lágrimas sorvidas compadeci. Só! Tuas vestes negras, agouro de má Sorte; Contendo alguns lamentos... Sem dó. Alma ferida, com cicatrizes pulsantes, Revelo-te a minha face pálida e apática Dum amargo orvalho, num fel solvente; Entoaste Salmos à minha morte cármica. Teu beijo em meus lábios escorria ópio; Afugentastes o meu espírito lânguido Castigastes-me, a penumbra do teu ócio. Perpetua o sofrimento do meu coração, Num lúgubre toque tenro de adeus! Na flor da juventude, morrerei de ilusão.

[ 73 ]


Condenada

Essa minha carne podre decomposta; Onde vermes famintos a devoram. Retornasse ao pó... sua final matéria; Livre da angústia e tormenta imposta. Sendo que num cuspe sobre a terra, Barro feito, uma cegueira foi curada; Eu, estava Morta numa tumba eirada. Não fui Lázaro chamado entre os Mortos. Lá estava sendo por larvas devorada; De pecado em pecado fui julgada... Há Nenhum galardão foi me Dádiva. Sobre que a Vida tenra fui jogada, Subjugada por viver escárnio e heresia; Diante da face o veredicto: Condenada.

[ 74 ]


Anjo Mundano

Poeta por assim dizer, creio que Sou! Se ainda restou-me algumas inspirações... O Maldito tempo, rasurou. Nada ficou; Emudeceu-me a voz, restou-me ilusões. Como voaria a imaginação sem Asas Se, tornei-me num anjo mundano? Dissipou o Céu, onde eu estava presa; A ira caiu sobre mim, algo desumano. Ainda que eu esteja perdida e ferida; Com essa tristeza inundando minh'alma. Tentando me refazer, despedaçada... O beijo quente que tocou meus lábios, Fugazmente esfriou, calou-me de poesia Jazida, compadecia... sorrindo ao diabo.

[ 75 ]


Alma desolada

Sobre esta terra fria e Desolada, Em ondas inertes eu permaneço Dum mar em fúria que se acalmou; Afoguei-me na dor que desconheço. Uma chuva ácida em minha face, Desfigura o meu Sorriso. Choro. Pranto d'alma que frágil grita... Não sorrio, não vivo, só imploro. Devolva-me a minha sobriedade, Anseio por ébrios Desejos e Amor. Traga-me a paz, liberte-me, Por favor! Quando a minha alma se acalmar... Tudo o que era frágil, se tornar forte; Eu me deliciarei com a Vida e da sorte.

[ 76 ]


Nos olhos teus

Há um certo mistério em teu olhar, Onde luzes e o infinito escuro habitam; Um ar selvagem e dócil, quente e frio... Um oceano profundo abraçando o Mar. No teu olhar, repousa anjos, voam garças Onde, há calma dum céu e a fúria infernal; Teu lindo doce e amargo toque de olhar. N'eles me perco e deles recebo Graças. Teus olhos profundos, rasos, e perfeitos; Através deles brilham uma constelação, E cada uma estrela cintila seus desejos. Foi assim na luz que sai dos Olhos teus Que eu me apaixonei, neles eu me via; Através deles soube: que lá Eu viveria...

[ 77 ]


Lúcida Loucura

Essa Noite, que esconde toda tristeza; Sob o calor que congela meu corpo Um abismo entre o infinito e o inferno, O fogo que incedeia o Mar; sua aspereza. A luz que cega como se fosse escuridão; Meu corpo cansado, levanta em êxtase... Quando o Sol nasce, no vazio da imensidão, A meia noite, despertando-me do Sono. Louca, num chamado profano da Alma, Sobre seu destino obscuro, que acalma Tudo certo em seu mundo inventado. Lúcida, estando tão louca... alucinada Trazendo uma esperança, desesperada Por uma guerra que lhe traga a Paz.

[ 78 ]


Sono profundo

De tal amargura a minh‟alma chorou... Numa soturna tristeza emudeceu, E tudo o que eu não disse, sufocou Meu mundo interno desmoronou. Fui flor chorosa pranteada no Jardim Espinhos afiados perfuram a beleza Num adeus que gritou pra mim... Trouxe toda dor na sua aspereza. Murchou as pétalas, secou os galhos Tantas tristezas afogaram os Sonhos Morreu de amor, em cangalhos. Dum beijo foi fatal Veneno, Adormecendo cada parte minha Um sono profundo e Sereno.

[ 79 ]


Orações Profanas

Essa estranha alma cheia de Mistérios. Disfarçada de uma melancólica poesia; Vertente de uma enegrecida Quimera Traduz em sua sina, dor de puerpério. Sonhos obscenos, sutis e estranhos, Onde, habitam reinos e Santuários Minha gótica poesia sem arranjos; Perdurarão em versos Eternamente. Vozes em prece de Orações Profanas; Vingam o Verbo, maculando a Carne, Bebe do vinho de sangue, sacia a Gana. Tenho perguntas não respondidas, Traduzidas pela língua dos Anjos... Nas estrofes humanas, são confundidas.

[ 80 ]


Sem Saber

Sem saber dessas estranhas melódicas, Beijastes a minha boca com desejo. Senti teus lábios, tuas mãos eufóricas... Apetecendo por um longo beijo. Sem saber se era sonho ou realidade; Ou apenas ilusão da minha vaidade. Não estaria hoje sentindo a tua falta, Saudade dói e meu peito maltrata. Perco-me, onde quis ser encontrada... Na ânsia desmedida, dei-lhe meu Amor; Regressei para o meu mundo de Nada. Escrevo-te esse soneto para lhe dizer... Que tola Eu fui, não tinha asas pra voar, E mesmo assim eu desejei-lhe amar...

[ 81 ]


Estranhos (Almas contrapostas)

São estranhos, semântica existente. Dois Seres diferentes, porém unidos Em uma unidade, dois exponentes; Unicamente, juntos, ainda separados. Tornaram-se mutantes da nova era, Transmudados por séculos, antetempo São figuras hipotéticas das esferas; Serpenteando à face trágica do Tempo. Não separaramos o Verbo da Carne, O ódio do amor, a vida da morte; Numa trajetória Humana decadente, São duas almas sórdidas e expostas; Uma que vive na outra, dentro e fora... A outra, Sobrevive... "São contrapostas"

[ 82 ]


Desejei o beijo da morte

Desejei a morte hoje, para me beijar Com seu beijo frio ébrio me levar; Pedi em tom melancólico e sereno Recusou-se e não veio me buscar. Fiquei em prantos em desalento, Querendo em deslumbre seu afago. Ela então sorriu num gélido sorriso Vestiu-se de sua Mortalha e tormento. Anjo que de asas negras me abraçou; Toque Satânico apodrecendo a carne Tudo enegreceu e ao inferno regressou. Houve um rugido que rompeu o véu, Seu beijo me tocou, estremeceu a pele Duma paz que invadiu todo meu Céu.

[ 83 ]


Chagas de amor

O amor é tão forte como a morte?... Que eterno faz seu bem querer; Eu morri de amores, nem sei porquê. Onde foi que eu perdi a minha Sorte? As suas chamas ardem num broquel; Deixam marcas profundas feito a ferro. Sucumbe em seus próprios devaneios Leva-me ao limbo de uma dor cruel. Se soubesse antes o que era amor Estandarte sobre ti o meu delírio; Feito lírio que nasce entre a flor. Seria eu, o espinho?... Qual cravaria em ti, uma profunda chaga Morreria tú, assim como Eu morri sozinho.

[ 84 ]


Soturno

Meu Céu não é Azul, está enegrecido Nuvens densas, chorando Tempestade, Inverno incessantemente, absorvido. Dum eclipse raro, meu Sol entristecido. Ouvi o brado forte da voz dum Anjo; Senti por dentro estremecer, chorei. Lágrimas brandaram em desarranjo, Submersa pela imensidão que Eu criei. Não há Lua... estrelas, só amargo Ópio. Dia parecendo noite, a Noite sendo Dia, O incensário dum fogo Soturno do ócio. Sou Terra sem vida, sou luz sem brilho; Um brio ofuscado na face da Hipocrisia Lamúrias da morte, foi meu empecilho.

[ 85 ]


O deserto que vivia

No deserto que vivia, era triste e vazio; Sentia uma sede, nunca se saciava Era um tormento um querer assim, O peito ardia, o corpo fraquejava. No deserto que vivia, o vento sussurrava Num tom de melancolia em notas frias, Ensurdecedor, avassalador e devastador; Era o som da sua alma que ecoava. No deserto que vivia, era silêncio,maldição As areias, eram espinhos que perfuravam, Cada um cravado no fundo do seu coração. No deserto que vivia, havia flores murchas Um jardim coberto de ervas daninhas; Mas ela sabia, era sua sorte estar sozinha.

[ 86 ]


Dor Latente

Dói, essa Dor consome meus ossos Feito ferrugem corroendo o alumínio; Todos os dias, choram os meus Olhos... Ardente febre, Doença do teu domínio. Dói o dia todo... ao findar da Tarde, Quando a Noite chega, dói mais ainda... O vento frio, a chuva de inverno invade; É uma dor latente, crucia-me, infinda. O silêncio gritante, estridente n'alma Presos, inauditos dum estardalhaço... Num aperto penoso, nada me acalma. Nostalgia duma ilusão de paraíso; Refugiada nesse intrínseco labirinto Estranhando a afeição do teu sorriso.

[ 87 ]


Lua Prateada

Estou perdida no silêncio que sufoca Tantas palavras caladas, me tocam; A lua solitária na Noite me irradia... Na esperança do raiar dum novo dia. Tudo na noite parece-me sombrio, A lua alta no cemitério dum rio.... Brilando singelamente, toda prateada, Lua assustadora e esbranquiçada... Tão distante tu estas da nossa rota, Feita por destino onde nada brota, Tu, Lua misteriosa e da terra extingue. Olho para ti tão longe, hoje e sempre... Imaginando tocar-te, num acalento, Lua que me enfeitiça em desalento.

[ 88 ]


Tudo em mim é fim

Tudo em mim é fim, desde que nasci. Vivo em começos que findaram cedo; Amores que foram sempre derradeiros Num chegar e logo ter que ir de medo. Desde que chego já tenho que partir Ninguém sabe como eu me Sinto; Nesse ter que ir e vir, essa cadência Infindável onde tudo perde num infinito. Sinto em mim constantes despedidas; Aquela que ninguém diz, que fere a alma Sinto-me andando em círculos e perdida. Nada recomeça onde tudo só acaba, Em mim até a poesia se despede Junto com a minha inspiração desaba.

[ 89 ]


Outonal

No caos de tempestades e trovões Seus segredos obscuros de paixões; Como uma folha outonal caída, Levada sobre frias brisas da Ventana. Flor ceifada, dum jardim castiço; Com pétalas pálidas e chorosas... Sua aspereza traduzida nas Matizes Seu pedúnculo quebrado lhe abraço. Que todas as lágrimas convertidas, Viram chuvas brandas de Verão; Afogam a triste face da Partida. Seu Cálice embebecem as sépalas Dando novas cores as suas Corolas; Cada uma com a sua excelência.

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Alma Gótica (Cavalheiro Sombrio)

Instiga-me, com a tua sombria feição Lorde dos pensamentos maculáveis. Tu és Cavalheiro das trevas, Ser pagão; Venerastes alusões intransmutáveis. Vivestes fora do tempo, noutra época; Sente o julgo pesado em tuas costas Sons inauditos, num grito que sufoca, Tens a sina dum poeta de alma devota. Uma brandura enegrecida, raiz gótica Anjo que caminha entre as orlas, Dum céu escuro alumia a Lua exótica. Essa beleza que trazes neste teu sorriso Meus olhos encantam, o coração avoa, Sobre o teu peito pousou meu regozijo.

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