ARENA
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Edição: Ticiano Osório - ticiano.osorio@zerohora.com.br Projeto gráfico: Aluísio Pinheiro - aluisio.pinheiro@zerohora.com.br
PORTO ALEGRE, SÁBADO, 8/12/2012
OMAR FREITAS
AGORA É
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ARENA
DIOGO OLIVIER
O futuro azul começa neste 8 de dezembro de 2012, quando o Grêmio ganhará sua nova casa, e a Arena ganhará aquilo que faz um estádio de futebol existir: o torcedor. diogo.olivier@zerohora.com.br
ZERO HORA SÁBADO,8 DE DEZEMBRO DE 2012
Um novo
C
hegou o grande dia. A partir deste 8 de dezembro de 2012, o Grêmio nunca mais será o mesmo. Porque em seus 109 anos de vida jamais houve um momento como este. A Arena, antes um sonho distante, se é que dava para chamar de sonho aqueles projetos de computador improváveis e aquelas maquetes de mentira, agora é real. Mas como só agora, se dos alicerces enterrados no Humaitá aos poucos foi brotando esta imensa árvore de ferro e concreto azul? A Arena é uma realidade já tem alguns meses, ora essa. Pois aí é que está o grande equívoco, só agora, percebido. Até este sábado, até este 8 de dezembro, a Arena era linda, moderna, mas faltava-lhe o essen-
cial. Faltava-lhe alma. E um estádio sem alma é o mesmo que nada. Lembro de uma confidência de Catalino Rivarola, zagueiro paraguaio do time bicampeão da Copa Libertadores há 17 anos, como bem sabem todos os gremistas, dos mais novos aos mais antigos. Ele nunca conseguiu pisar o gramado antes de um jogo sem dar uma espiadinha pelo túnel. Queria ver se o público estava ao menos razoável. Rivarola dizia: – Nada pode ser mais triste para um jogador do que entrar em campo e ver um estádio vazio. Era uma maneira de se prevenir e manter o foco. Se o Olímpico parecia às moscas, retornava ao vestiário e se preparava mentalmente para o choque enquanto se fardava. Mas, quando o Olímpico estava cheio, aí ele não precisava de mais nada. Palestra motivacional, bicho extra, fotos da família coladas nas paredes do vestiário, matéria de jornal com os adversários cantando marra, tudo isso passava batido na parte mental do paraguaio – desde que houvesse gente.Vida. Sendo assim, a Arena só passará a existir de verdade quando o torcedor do Grêmio entrar
pelos portões, tomar assento e cantar. Aí, sim, tudo estará consumado. Aí, com milhares de vozes unidas numa só paixão, enfim, a Arena ganhará alma. Alma que nasceu no Fortim da Baixada, na descida da Mostardeiro, depois migrou para o Olímpico, nas imediações da Azenha, e, por fim, chega ao Humaitá, convertendo a Arena no mais imponente estádio privado do Brasil. Diante de um cenário assim, marketing, lucro, receita, oportunidades de negócio e todo o horizonte financeiro e de gestão que se abre para o Grêmio é o de menos. Neste 8 de dezembro, se poderia mencionar que a construtora OAS (35% do total) e o Grêmio (65%) imaginam faturar R$ 100 milhões já em 2013, abrindo o estádio durante os 365 dias do ano das mais variadas maneiras: megashows, feiras de automóveis, simpósios empresariais, encontros, exposições de arte, shoppings, restaurantes, lojas. Há espaços específicos para tudo na Arena.Vá lá: quase tudo. Pense você mesmo no que mais pode acontecer à beira deste estádio monumental às margens da freeway. Provavelmente, você terá razão. Ali, tudo parece ser possível.
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tempo Antes, porém, é preciso pagar o empréstimo junto ao BNDES.Chato isso,mas é assim que funciona. O custo da obra se aproximou dos R$ 600 milhões e parte deste valor será devolvido com o próprio lucro gerado por ela. O Olímpico não rendia nem uma terça parte do que sobrará para o Grêmio mesmo na mais pessimista perspectiva de resultado financeiro.Além disso, há garantias para o caso dessa improbabilidade acontecer. Baita negócio,portanto. Mas hoje, repito, não é dia para tratar disso. A universalidade da Arena, por exemplo. Também é o de menos, perto de um poder maior que se ergue, do qual tratarei um pouco mais adiante. Mas é fato: as cadeiras foram trazidas da Coreia do Sul, da Itália, dos Estados Unidos e da Colômbia. Irlandeses trataram do gramado, cujas dimensões são padrão Fifa,assim como tudo no estádio. A Microsoft quer montar, ali, empresas aceleradoras de crescimento.A SAP (gigante alemã de softwares de gestão), que toma conta de sete estádios da Bundesliga, quer alugar salas dentro da Arena. Também não me parece o caso de revelar, neste 8 de dezembro, que a estação de energia da Arena es-
tá diretamente ligada à usina hidrelétrica de Itaipu. Falta de luz na Arena,só se der apagão no país. Outro aspecto menor: os camarotes. São 134 no terceiro andar, cada um custando entre R$ 150 mil e R$ 300 mil anuais. Dá para arrecadar uma bela grana. Mas, como eu frisei, você é testemunha, não é hora de questiúnculas, tipo ganhar R$ 34 milhões vendendo naming rights para o Banco Industrial e Comercial da China ou fatiando as áreas do estádio para outros patrocinadores – cadeiras gold setor refrigeranteY. Mas chega dessas miudezas. Falemos agora do que realmente importa. Falemos de um sentimento imortal e eterno. Falemos de esperança. Aí está o sentimento que a Arena desperta no coração de cada torcedor, do mais humilde gremista até milionários como Alexandre Grendene, que aterrissava em seu jatinho para auxiliar e acompanhar o presidente da Grêmio Empreendimentos, Eduardo Antonini, nas reuniões sobre aspectos financeiros do estádio. Ou então Ricardo Vontobel, conselheiro na parte operacional e de marketing. É como se um caminho de convergências pacificado-
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ras se abrisse nas imediações do bairro Humaitá. A Arena está resgatando a esperança. Sem títulos há 11 anos, quase 12, o torcedor vê na casa nova o primeiro degrau de uma caminhada inevitável. A chegada ao topo da escada é só questão de tempo. Não há como deixar de fazer time em um estádio tão grandioso – é a sensação que se tem ao entrar na Arena. Estádio novo, fase de títulos, indica a tradição gaúcha do século passado. Nada disso está nas tábuas de Moisés como profecia, mas não convém duvidar do poder da esperança. É como canta Ivan Lins, que adotou o Grêmio ao lado do seu Fluminense. Ele pediu para vir à inauguração. Repare nos versos ao lado. São de Novo Tempo, canção libertária que celebrava os ventos da redemocratização. São rimas que parecem remeter à casa nova. Às dores da última década. Aos momentos em que tudo parecia perdido,mas uma força retirada lá das entranhas salvou o pavilhão tricolo e trouxe o Grêmio em pé até este 8 de dezembro de 2012,um dia inesquecível e único em 109 anos. Eis o que a Arena da esperança insinua ao Grêmio e a seus milhões de torcedores. Um novo tempo.
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NOVO TEMPO Trecho da canção de Ivan Lins
No novo tempo, apesar dos castigos De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos De todos os pecados, de todos os enganos, estamos marcados Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver OMAR FREITAS
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Os números Tudo é superlativo no novo estádio do Grêmio, a começar por seu tamanho, quase quatro vezes maior do que o Olímpico
60.170 torcedores
é a capacidade total na Arena
R$ 600 milhões
foi o custo total para a construção da Arena do Grêmio
20 mil operários
trabalharam nas obras da Arena desde o início, em setembro de 2010
192 mil m²
é a área construída, quase quatro vezes maior do que os 56 mil m2 de área no Olímpico
52 metros
é a altura da Arena. A do Olímpico é 20m
810 dias de construção
25 mil sócios
do Grêmio garantiram um lugar na Arena com o processo de migração
20 anos
de parceria entre Grêmio e OAS na gestão do estádio
1.350 8 minutos é o tempo máximo de profissionais evacuação
ajudarão o público na inauguração
2.284 vagas
de estacionamento nos dois primeiros níveis do estádio
103 catracas
controlarão o acesso de sócios e torcedores na Arena, onde os portões são mais largos do que no Olímpico
246 banheiros nos quatro níveis
34 cabines
abrigarão profissionais de rádio e TV
400 lugares
no auditório de imprensa
50%
será a economia em água potável na irrigação do gramado graças ao reaproveitamento da chuva
10%
será a economia anual do consumo de energia. A Arena conta com arcondicionado de alta eficiência e investe em iluminação de baixa potência
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da Arena
250 metros é o diâmetro
96 módulos
sustentam a estrutura metálica da cobertura da Arena
é o valor que custa uma miniatura da Arena
R$ 200
é quanto custará a camisa especial que os jogadores usarão na inauguração
2.700m²
3,2 mil toneladas
é a área destinada ao setor da Geral na Arena
68m x 105m
é o custo anual de locação do camarote mais caro na Arena
é a quantidade de metal utilizado na cobertura
é o tamanho do gramado
O endereço
R$ 300 mil
R$ 360
é o custo da mensalidade para o sócio do setor mais caro do estádio, a cadeira gold central
R$ 92
é o custo da mensalidade para o sócio do setor mais barato do estádio, o da geral Cadeira alta varia entre R$ 92 e R$ 169 mensais; Cadeira Gramado varia entre R$183 e R$ 269 por mês; Cadeira Gold lateral é R$ 330 mensais
O primeiro estádio do Mestre Gonzaga
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ADRIANO DE CARVALHO
pernambucano Luiz Gonzaga de Araújo, 57 anos, olha com imenso orgulho para o “filho” de 52 metros feito de concreto, metal e vidro que nasceu no bairro Humaitá. De sorriso fácil, o experiente mestre de obras da OAS foi o encarregado de coordenar um efetivo de 3,8 mil funcionários que trabalharam na construção da Arena do Grêmio. Há 29 anos trabalhando na empreiteira baiana responsável por erguer a nova casa gremista, o Mestre Gonzaga, como é conhecido entre os operários, constrói seu primeiro estádio. Natural de São José do Egito, a 430 km de Recife, só tinha olhos para o Santa Cruz. Desde setembro de 2010 em Porto Alegre, Gonzaga se apaixonou pelo Grêmio. Não só pelo fato de erguer a nova morada do clube, mas também pelo modo de vida na capital gaúcha. Também começou a gostar do churrasco. Entretanto, sente falta das duas filhas que moram em Maceió,Alagoas,junto a sua esposa. – Vou para lá a cada 21 dias. Quando tenho folga, pego avião aqui à noite, de manhã chego lá e volto no fim da tarde – conta, com o olhar fixo na Arena, como quem se apega ao trabalho para tentar minimizar a saudade da família. E trabalho é o que não faltou nesses 810 dias de obras no canteiro do Humaitá.Nesse intervalo de tempo,20 mil homens,no total,trabalharam sob o comando de Gonzaga, que aponta justamente a captação de mão de obra como principal dificuldade da obra. – Por incrível que pareça, isso foi o mais complicado pela grande escassez no nosso país.A questão climática também pesava.Aqui tem mais chuva,frio. Isso impedia de trazer nordestinos para cá.Aí oferecemos várias vantagens. Se fosse só pelo salário regional,não teriam vindo – relata. Para liderar tanta gente, o mestre se envolve totalmente. Chega às 5h da manhã e só sai às 22h. Logo às 7h coordena uma reunião de 30 minutos com os responsáveis pelas 170 equipes de trabalho para definir as metas diárias. Gonzaga conta o segredo para lidar com tal responsabilidade: – Precisa ter postura, respeito com todos e liderança.Não é só cobrar,é saber cobrar. Durante a cerimônia de inauguração,Mestre Gonzaga será o representante dos operários.Ao lado dos presidentes Paulo Odone,do Grêmio,e Eduardo Pinto, da Arena Porto-Alegrense, será uma das estrelas da festa de nascimento do“filho”. adriano.matiazzo@zerohora.com.br
FOTOS DIEGO VARA
total da Arena. O Olímpico, em formato oval, tinha 247m na parte comprida e 186m na mais curta
R$ 1.200
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A nova casa azul
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ALEXANDRE ERNST
Grandiosidade foi o principal critério na hora de idealizar o espetáculo de abertura da Arena, que vai ter mais de mil artistas, 32 baterias de fogos de artifício e, sobretudo, um forte apelo emocional para os gremistas. alexandre.ernst@zerohora.com.br
A cerimônia de abertura da Arena, hoje, começa
às 20h
O amistoso Grêmio x Hamburgo está marcado para
as 22h
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uando o diretor Aloyzyo Filho iniciou a discussão da concepção do espetáculo de abertura da Arena com os cenógrafos Mário e Kaká Monteiro, a coordenadora de coreografia Janice Botelho, produtores da DCSet e a diretoria gremista, dois pontos foram escolhidos como primordiais. Primeiramente: nenhuma tecnologia, artefato ou trilha sonora de médio porte seria incluída no espetáculo – tudo deveria ser grandioso. A outra definição marca o que representará os pouco mais de 60 minutos de evento na noite de hoje: será um espetáculo de gremistas para gremistas. – É tudo grande. Não há nada pequeno – empolga-se o diretor carioca, torcedor do Fluminense. – Será a inauguração da Arena, mas o convidado especial é o torcedor gremista. A ideia é homenagear a história e a paixão de gremistas pelo clube a partir da história e da paixão de gremistas célebres, como o compositor do hino, Lupicínio Rodrigues, e o goleiro e ídolo Eurico Lara. Quando chegou ao Estado, há oito meses, Aloyzyo impressionou-se com a relação emocional do torcedor com o Grêmio. Passou a conversar com gremistas na rua, no shopping, no hotel onde está hospedado.A cada bate-papo,uma ideia. Serão cinco blocos temáticos intercalados por queimas de fogos divididas em 32 baterias – a última delas, o ato derradeiro da inauguração, durará cinco minutos e meio –,mostrando desde a gênese gremista, em 1903, até os jogos na Baixada e a despedida do Olímpico, o que deve ser um dos pontos
DIVULGAÇÃO
A festa
OMAR FREITAS
3 mil metros de cabos de aço comandarão as 107 bolas infláveis na cerimônia
altos da noite. No gramado e nas arquibancadas, mais de mil artistas, entre 820 bailarinos, convidados especiais como Renato Borghetti e Ivan Lins e grandes nomes da história do clube – Milton Kuelle,Danrlei,Arce,Baidek,Tarciso,Jardel. – O momento em que os ídolos forem trazidos por crianças para o meio do gramado será histórico.Algo para o torcedor lembrar daqui a 50 anos. Será o símbolo do passado e do presente, juntos – sustenta o diretor. As tradições gaúchas serão destacadas. Mais de 500 bailarinos dançarão a chula em uma música nativista adaptada especialmente para o momento. A Banda dos Fuzileiros Navais executará os hinos Nacional e o Rio-Grandense. E haverá uma peleia no bom e velho estilo gaúcho. Dirigentes e conselheiros serão lembrados antes da partida inaugural contra o Hamburgo e colocarão, pela primeira vez, as redes nas goleiras da Arena. Feito isso, será o momento de descerrar o laço e deixar a bola rolar.
O ROTEIRO 1º BLOCO: GÊNESE 2º BLOCO: A FESTA Performance do Blue Man Group
3º BLOCO: É HOJE! Entrada de acrobatas Execução do Hino Nacional pela Banda dos Fuzileiros Navais do Brasil Execução do hino do Rio Grande do Sul pela Banda dos Fuzileiros Navais do Brasil – participação de Renato Borghetti
4º BLOCO: A PAIXÃO Danças típicas gaúchas Entrada das 48 bandeiras históricas do Grêmio Performance do Blue Man Group
O grupo performático nova-iorquino Blue Man fará duas participações
5º BLOCO: O AMANHÃ
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Entrada de ex-jogadores do clube e crianças mosqueteiras Entrada de conselheiros e operários Descerramento do laço inaugural Queima de fogos Execução do hino do Grêmio pela Banda dos Fuzileiros Navais do Brasil
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O coadjuvante GUILHERME BECKER
Grêmio e Hamburgo se reencontram 29 anos após a decisão do Mundial, em Tóquio. Convidado para o amistoso de inauguração da Arena, o clube alemão não tem mais o brilho do final dos anos 1970 e início da década de 1980.
LARS DOBBERTIN repórter do jornal alemão Bild
“As razões para a falta de títulos do Hamburgo são muitas, mas a maior delas é o fato de o clube não ter um técnico à altura de Ernst Happel. Os insucessos levaram a muitas trocas. O atual treinador, Thorsten Fink (foto), é o 21º desde Happel.”
MICHAEL SOHN, AP
Volante croata Badelj é destaque
‘‘ ODD ANDERSEN, AFP
Torcida de Wehmeyer A geração de gremistas que assistiu à final do Mundial de 1983 recorda-se de um adversário insistente, que buscou o empate aos 37 do segundo tempo. Na prorrogação,Renato marcaria o gol do título. No lado direito da defesa germânica, improvisado, estava o lateral-esquerdo Bernd Wehmeyer, que, hoje, aos 60 anos,trabalha como gerente do Hamburgo.Por telefone, ele pergunta sobre Zé Roberto, que jogou no clube entre 2009 e 2011. Elogia o meia, manda cumprimentos e conta do interesse pelo amistoso. – Infelizmente, não poderei viajar ao Brasil.Se tiver a chance de ver o jogo pela TV, vestirei a camiseta do Grêmio que ainda tenho guardada da decisão – diz. Wehmeyer deseja sorte ao Grêmio na nova casa. Questiona o número de torcedores em uma breve comparação entre o Olímpico e a Arena.Se impressiona e, em seguida, diz que o Hamburgo, como o Grêmio,segue a busca por um novo troféu. – Um título seria ótimo. Faz um certo tempo que não ganhamos.Nem precisa ser a Liga dos Campeões.
ODD ANDERSEN, AFP
Adler foi convocado em novembro
LUIZ ÁVILA, BD, 11/12/1983
‘‘
guilherme.becker@zerohora.com.br
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á 25 anos sem títulos, o Hamburgo,do norte daAlemanha, sente a falta de um austríaco. Desde que o técnico Ernst Happel saiu,após seis temporadas – de 1981 a 1987 –, o HSV (Hamburger Sport-Verein) se limita a tímidas participações na Liga dos Campeões e na Liga Europa, e a postos intermediários na Bundesliga. Atualmente, é nono colocado, com 21 pontos em 15 jogos. O líder Bayern de Munique soma 38. – As razões são muitas, mas a maior delas é o fato de o clube não ter um técnico à altura de Ernst Happel. Os insucessos levaram a muitas trocas.O atual treinador, Thorsten Fink, é o 21º desde Happel – aponta o jornalista alemão Lars Dobbertin, 42 anos, que desde 2010 cobre o Hamburgo pelo jornal Bild. No comando desde 2011, Fink tem 45 anos. Começou a carreira de jogador no Borussia Dortmund e atuou de 1997 a 2006 no Bayern de Munique, onde se aposentou. Como treinador, iniciou nas categorias de base do Red Bull Salzburg, da Áustria. Foi técnico do Ingolstadt 04 e do Basel, da Suíça. No Hamburgo, seu esquema tático é o 4-2-3-1.Às vezes,o 4-4-2,como na vitória sobre o Schalke 04,por 3 a 1,há duas semanas. Fink gosta de marcação agressiva e adiantada. Talentos como os holandeses Van der Vaart,De Jong e Boulahrouz, além de Jerome Boateng, foram revelados na última década. Destes, o único que segue no Hamburgo éVan derVaart – fora do jogo,por lesão. – Desde o retorno de Vaart, o Hamburgo tem mais qualidade, confiança e tem vencido alguns jogos. Ele ajuda os mais jovens e não se comporta como uma estrela – opina Dobbertin. Outro destaque é o goleiro René Adler, convocado para a seleção alemã em novembro. – É um cara bastante inteligente.Um líder – resume.
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Quase sem ângulo, Renato chuta entre o goleiro Stein e a trave: Grêmio 1x0 em 1983
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Eles também
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TICIANO OSÓRIO, BD, 10/03/2009
estádio Cidade de Manchester, agora Etihad, é o Engenhão da Inglaterra. Assim como o palco do Rio de Janeiro, construído para o Pan-Americano de 2007,foi concebido como estádio olímpico, para a disputa dos Jogos daComunidadeBritânica de 2002.Após a competição, assim como ocorreu com o governo carioca, a prefeitura de Manchester ficou com um elefante branco nas mãos, que só gerava despesas para a cidade industrial. Encontrou solução no sul de Manchester. Ainda sem os milhões do Abu Dhabi United Group, que só viriam em 2008 (e que ajudaram a conquistar o título nacional em 2011/2012), e brigando contra o rebaixamento no Campeonato Inglês toda temporada, o Manchester City não tinha dinheiro para reformar Maine Road e aumentar sua capacidade em 10 mil lugares. Foi mais barato e lucrativo arrendar o estádio olímpico por 250 anos e pagar 20 milhões de libras para a instalação de bares,restaurantes e uma área corporativa.A conversão de estádio olímpico para exclusivamente de futebol (um novo setor de arquibancadas foi instalado sobre a pista atlética) foi paga pelo município: 22 milhões de libras. O City paga de aluguel ao município apenas a metade dos ingressos do público que exceder a capacidade do antigo Maine Road, de 35 mil. Em 2010/2011, o clube arrecadou em bilheteria 29,5 milhões de libras e gastou cerca de 2 milhões de libras. O acordo de naming rights com a companhia aérea Etihad, dos Emirados Árabes, é ainda mais rentável para o clube. Para ter o direito de vender o nome do estádio por 350 milhões de libras por 10 anos, o clube paga 2 milhões de libras por temporada à cidade. O contrato com a Etihad também inclui um novo centro de treinamento, ao lado do estádio, no valor de 100 milhões de libras, que será construído até 2014.
Estádio Emirates
Estádio Etihad
JON SUPER, AP
A responsabilidade exige projeções, mas os reflexos técnico e financeiro que a mudança de casa do Grêmio acarretará ao clube só poderão ser mensurados e constatados nos próximos anos. Aumentar a receita, impulsionar a média de público, estimular a fidelidade do torcedor, revitalizar a área do entorno, acrescentar novas taças na galeria. Nos quatro exemplos a seguir, de clubes europeus que trocaram de estádio neste século, tudo isso ocorreu, nem sempre sem efeitos colaterais.
MANCHESTER CITY MUDOU-SE DO...
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Maine Road (de 1923 a 2003) Capacidade: 35.150 Último jogo: Manchester City 0x1 Southampton (11/5/2003)
Estádio Etihad Custo: R$ 66,7 milhões mais “aluguel” de R$ 13 milhões Capacidade: 48.000 Inauguração (reformado): Manchester City 2x1 Barcelona (10/8/2003)
ARSENAL MUDOU-SE DO...
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Highbury Park (de 1913 a 2006) Capacidade: 38.419 Último jogo: Arsenal 4x2 Wigan (7/5/2006)
Estádio Emirates Custo: R$ 1,6 bilhão Capacidade: 60.362 Inauguração: Arsenal 2x1 Ajax (22/7/2006)
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ntre os clubes que trocaram de casa, o Arsenal é o que encontra mais obstáculos para voltar a ser competitivo. Desde 2006 no Emirates, a 500 metros do antigo Highbury Park, no norte de Londres, o time mais popular da cidade ainda não comemorou título na nova arena. E o principal motivo, é, justamente, a arquitetura financeira que a diretoria dos Gunners precisou conceber para fazer a mudança. Sem subsídio por parte do governo britânico,a holding que administra o Arsenal obteve empréstimo de 260 milhões de libras de um grupo de seis bancos,liderado pelo Banco Real da Escócia. Diferentemente do que se pensa, a companhia aérea dos Emirados Árabes que dá nome ao estádio não financiou o projeto. Na verdade, o contrato de 100 milhões de libras com a Emirates assinado em 2004,pelos naming rights por 15 anos e o patrocínio máster por oito, serviu de garantia para a obtenção do empréstimo, assim como o longo termo de sete anos com a Nike, que paga 13 milhões de libras por ano. No dia 23 de novembro, Arsenal e Emirates anunciaram a extensão do acordo por 150 milhões de libras, pelo patrocínio máster por cinco anos e os naming rights até 2028. O lado bom: a média de público é de 60 mil torcedores por temporada (no país,perde só para o Manchester United).O clube ficava entre os 10 do mundo na lista de maiores receitas e hoje está no top 5.O lado ruim: o Arsenal tem uma dívida anual de 15 milhões de libras para quitar o empréstimo até 2031. Iniciando toda temporada no negativo, o clube se vê obrigado a vender jogadores. Nos últimos anos,Arsène Wenger perdeu Adebayor,Fábregas,Nasri e Van Persie. Com contrato longo, o valor de patrocínio da camiseta ficou defasado. Por temporada, o Arsenal recebe 5,5 milhões de libras para estampar“Fly Emirates” no peito dos jogadores, três vezes menos do que o Liverpool ganha da Standard Chartered.
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JUVENTUS MUDOU-SE DO...
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Delle Alpi (de 1990 a 2008) Capacidade: 67.000 Último jogo: Juventus 2x1 Palermo (7/5/2006)
Estádio Juventus Custo: R$ 328 milhões Capacidade: 41.000 Inauguração: Juventus 1x1 Notts County (8/9/2011)
PORTO MUDOU-SE DO...
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Estádio das Antas (de 1952 a 2004) Capacidade: 50.000 Último jogo: Porto 2x0 Estrela Amadora (24/1/2004)
Estádio do Dragão Custo: R$ 268 milhões Capacidade: 50.399 Inauguração: Porto 2x0 Barcelona (16/11/2003) SPORTUGAL.PT
Estádio do Dragão
‘‘ CHRIS OSTICK editor assistente do Manchester Evening News, da Inglaterra
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Estádio Juventus
s principais clubes portugueses trocaram de estádio a partir do dia 12 de outubro de 1999, quando Portugal foi anunciado sede da Eurocopa de 2004. Todos se beneficiaram de uma série de isenções fiscais concedidas pelo governo e de financiamentos com juros mais baixos garantidos por acordos com a União Europeia. Em Lisboa, o Benfica construiu um novo Estádio da Luz, no mesmo lugar do antigo, assim como o Sporting, que ergueu o moderno complexo José Alvalade Século XXI, e o Porto trouxe ao mundo o Estádio do Dragão. Palco da abertura da Euro, o Estádio do Dragão é um dos mais confortáveis do continente e substituiu o defasado Estádio das Antas, que tinha cobertura apenas em um pequeno setor. Começou a ser construído em 2001 a poucos metros do antigo, em uma área abandonada do Porto. O novo estádio revitalizou a área, atualmente com hotéis, shoppings, diversos prédios residenciais,com acesso a uma das principais avenidas da cidade e estação de metrô próxima. Segundo o jornalista local Nuno Miguel Martins,nem em dias de jogos o trânsito congestiona.A venda das arquibancadas para patrocinadores, muito comum no país – cada setor tem o nome de uma marca –, também foi fundamental para arrecadação de fundos. O número de torcedores por jogo permaneceu praticamente o mesmo (a média no Campeonato Português é de 32,5 mil, e na Liga dos Campeões, de 30,3 mil). Mas, coincidência ou não, a nova atmosfera parece ter influenciado nos resultados no campo. Das últimas nove ligas portuguesas, o Porto conquistou sete e, no primeiro ano do Dragão, levantou a segunda Liga dos Campeões da Europa de sua história centenária. Na atual edição do torneio continental,classificou-se às oitavas de final.
“Foi crucial para a história do Manchester City trocar de estádio. Maine Road estava muito velho, e o novo estádio ficou muito moderno e confortável para o torcedor após a adaptação para o futebol. A mudança também foi fundamental para atrair novos investidores, como o Abu Dhabi United Group” NUNO MIGUEL MARTINS repórter da TSF Rádio Notícias, de Portugal
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Juventus foi obrigada a mudar de estádio. Nas últimas temporadas no Delle Alpi, construído para a Copa do Mundo de 1990 – e local da eliminação do Brasil pela Argentina –, com capacidade para 67 mil pessoas, os torcedores abandonaram o time.A massa“biancorera”nunca gostou da arquitetura do estádio. Os números comprovam: a média por jogo no Campeonato Italiano de 2004/2005, mesmo com o título, foi de 26.883. A principal reclamação era a distância entre o campo e as arquibancadas, separados por cerca de 28 metros. Os planos para a remodelação começaram em 2003, quando a diretoria juventina comprou o estádio do governo italiano, por um valor tão baixo que até hoje causa discussões em Turim: cerca de 25 milhões de euros.Após os primeiros estudos para a reforma, os dirigentes constataram que construir uma nova arena,mais moderna,seria mais viável. Para construir um estádio de ponta,com 41 mil lugares,e se tornar,acredite,o primeiro time da Série A da Itália a ter casa própria, a Juventus gastou R$ 328 milhões – menos do que 11 das 12 arenas da Copa de 2014, no Brasil. Negociou a exploração da parte comercial da arena com a Nordiconad por R$ 82 milhões.Vendeu os direitos do nome por 12 anos para a agência francesa Sportfive – que tenta negociar o nome do estádio – e levou mais R$ 205 milhões. E obteve um empréstimo de R$ 136 milhões do Instituto para o Crédito Esportivo do governo italiano. Na primeira temporada da nova casa, 2011/2012, na qual conquistou o Italiano,mesmo sem participar da Liga dos Campeões, o clube triplicou sua arrecadação, de 11,6 milhões de euros, para 31, 8 milhões de euros. Nesta temporada, tem média de 40,7 mil torcedores na Liga, e de 37,8 mil no Italiano. Ah, a distância para o campo,agora,é de 7,5 metros.
MASSIMO PINCA
se mudaram
“O Estádio do Dragão revitalizou uma zona abandonada da cidade. Hoje, tem hotéis, centros comerciais, muitos prédios residenciais e metrô. E, quando o Porto joga em casa, raramente perde.”
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ARENA
ZERO HORA SÁBADO,8 DE DEZEMBRO DE 2012
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O bairro do futuro MARCELO FLACH
Projeto de construção do novo estádio do Grêmio traz junto uma série de novos empreendimentos no entorno da arena multiuso, com um conjunto de prédios residenciais e comerciais, shopping center, centro de eventos e hotel. marcelo.flach@zerohora.com.br
N
ão são apenas os torcedores que vão movimentar a zona norte de Porto Alegre daqui para a frente.A região que se restringia a ver carros passando na freeway ou na BR-116 começa a mudar em alta velocidade. O motivo é que a Arena do Grêmio traz junto um complexo residencial e comercial. A primeira fase já teve os 916 apartamentos, em três torres, vendidos em 85 dias – prova do ritmo acelerado provocado pela chegada do megaempreendimento. Um shopping, um centro de eventos e um ho-
tel devem completar o bairro planejado erguido pela OAS Empreendimentos no Humaitá. Quem passa hoje pela freeway vê basicamente a Arena pronta e um canteiro de obras bem adiantado. Um indicativo de que em 2015 o cenário deverá ficar completo, quando moradores, frequentadores do centro de compras, hóspedes e executivos das torres comerciais passarão a circular pela região – criando uma nova área de convivência na Capital. Devido ao sucesso nas vendas, a parte residencial deve ter a segunda fase lançada no próximo ano pela construtora. Estar fora da concentração urbana da Capital e ter saídas para a Região Metropolitana – com a conclusão da Rodovia do Parque – e o centro de Porto Alegre são alguns dos atrativos do novo bairro. Conforme a OAS, o Humaitá está à mesma distância do centro da Capital e de Canoas, a apenas 10 minutos do aeroporto Salgado Filho e a 800 metros de uma estação do trensurb. Os limites são definidos pela linha do trem metro-
- Linha do tempo com a evolução da obra; - Mapa com os caminhos que levam à Arena, para quem vai de carro, de ônibus ou de trensurb; - Detalhes da Arena em 3D; - Especial sobre o Hamburgo.
politano, Avenida Farrapos,Avenida dos Estados e a freeway. No complexo, chamado de Liberdade, a OAS está aplicando R$ 400 milhões, mas o mercado imobiliário projeta que toda a estrutura prevista deve somar investimento superior a R$ 1 bilhão. Além de modernizar a paisagem na curva da freeway, a construção da Arena e dos edifícios no entorno permitirá o aproveitamento de uma área que sofria com invasões, degradação ambiental, construções irregulares e violência. Contudo, obras viárias, como alargamento de avenidas e aberturas de ruas são necessárias e estão previstas para o trânsito não se tornar um complicador para quem pretende chegar ou sair do bairro. O projeto ainda contempla a construção de edifícios-garagem para o shopping e a Arena, além das vagas para moradores das torres residenciais. Com tantos investimentos pela frente, o bairro Humaitá atrairá a atenção além das quatro linhas do gramado.
Prontos para sair da prancheta RONALDO BERNARDI
Obs.: os projetos contêm números estimados que podem ter alterações até a finalização, assim como as obras previstas