Zero Hora, domingo, 8 DE MARÇO DE 2015
O preço da estabilidade alcançada com o uso de ansiolíticos e antidepressivos é a diminuição da libido. Vale a pena pagar por ele?
Felicidade controlada
Valorizar a mulher é o que nós fazemos todos os dias.
FELIZ DIA DA MULHER! Não me limito mais a escolher só o que vai no meu prato. Agora eu escolho onde vou, o que visto, o que faço, com quem me relaciono. As privações decorrentes de uma dieta acabaram se revelando, para mim, em um mar de liberdades, prazeres e descobertas.
Uma caminhada de mil quilômetros começa com o primeiro passo.
Marcelo Kessler
Fundador e Diretor do Creeo
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DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIOS Bruna Arrieche ANALISTA DE MARKETING Marina Ciconet ASSISTENTE DE EVENTOS Maria Eduarda Santos REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIA AV. ERICO VERISSIMO, 400 – 5º ANDAR | AZENHA | CEP: 90160-180 | PORTO ALEGRE – RS | TEL. (51) 3218-4300 www.revistadonna.com contato@revistadonna.com
ZERO HORA
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COORDENADOR DE PLANEJAMENTO Fellipe Faria
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GERENTE DE PRODUTO DIGITAL Camila Tavares
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GERENTE DE MARCA DONNA Patrícia Fraga
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DIREÇÃO DE ARTE Sabrine Sousa (Mago)
GATOS DA REDAÇÃO
Não tem um dia em que a redação de Donna não pare para admirar mais uma selfie que as gateiras de plantão trouxeram na tela do celular. As paradas são mais do que justificadas. Afinal, tem coisa mais linda do que foto de gato? Sabendo disso, convidamos você a compartilhar, no Instagram, selfies com os seus amores felinos, com a hashtag #donnamission. As mais fofas (como escolher??) vêm para esta página na próxima edição. Combinado?
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FOTO Claudio Meneghetti (Studiome)
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NA CAPA Dani Zimmermann (Joy)
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Fotos Reprodução
REPÓRTERES REPÓRTERES Patrícia Lima Patrícia Lima Thamires Tancredi Thamires Tancredi DESIGNER DESIGNER Melina Gallo Melina Gallo ASSISTENTE DE CONTEÚDO ASSISTENTE DERitter CONTEÚDO Dimitriu Dimitriu Ritter DIAGRAMAÇÃO DIAGRAMAÇÃO Aluísio Pinheiro Aluisio Pinheiro e Melina Gallo e Melina Gallo
Não pensei que fosse tão complicado descobrir a versão oficial para o Dia Internacional da Mulher, comemorado neste domingo, 8 de março. Depois de muito ler e pesquisar, encontro a seguinte explicação: o Dia Internacional da Mulher e a data de 8 de março são associados a dois episódios históricos que teriam dado origem à comemoração. O primeiro deles seria uma manifestação das operárias do setor têxtil nova-iorquino ocorrida em 8 de março de 1857 (segundo outras versões, em 1908). O outro acontecimento é o incêndio de uma fábrica têxtil que teria acontecido na mesma data e na mesma cidade. Registre-se: não existe consenso entre a historiografia para esses dois fatos, nem sequer sobre as datas, o que gerou mitos sobre esses acontecimentos. Em 1945, a Organização das Nações Unidas assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Em 1975, comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e, finalmente, em 1977, o 8 de março foi reconhecido pela ONU. Mas o que significa o 8 de março, afinal? Pouquíssimas pessoas têm ideia. A maioria pensa que serve apenas para dar parabéns pelo fato de a mulher existir. Outras tantas acham a data de um machismo singular. Se elas querem igualdade em tudo, por que precisam de um dia único para celebrá-las? Ressalte-se que o 8 de março é uma data de reflexão sobre o papel da mulher na sociedade. Não é exatamente uma data comemorativa, a não ser para celebrar as conquistas femininas em relação a inúmeros aspectos, como direito ao voto, equiparação salarial, licença-maternidade, direito ao divórcio, entre outras conquistas ao longo das décadas. Esperamos sinceramente que nossa reportagem de capa suscite uma discussão até então bastante velada e especialmente urgente neste século 21. Chegamos a um momento da história em que as mulheres têm recorrido a ansiolíticos e antidepressivos para dar conta de uma vida profissional/social/pessoal estafante demais. O s resultado? Perda de ho libido. Nosso convite é que façamos jus a este 8 de março de 2015 como data de reflexão. Só trazendo assuntos espinhosos à tona, com diálogo e amadurecimento, poderemos festejar mais uma conmariana.kalil@revistadonna.com quista no amanhã.
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Jo
EDITORA EDITORA Mariana Mariana Kalil Kalil EDITORA-ASSISTENTE EDITORA-ASSISTENTE Marianne Marianne Scholze Scholze
CARTA DA EDITORA
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8 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH
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Houve um dia em que tive uma recaída e peguei o celular enquanto Bento fazia aquilo de que mais gosta: cocô na frente da casa do exgovernador Tarso Genro.
POR AÍ Por Mariana Kalil facebook.com/kalilmariana
@mari_kalil
Fotos reprodução
Todas as manhãs tenho o compromisso de passear com o Bento. Faça chuva, faça sol, faça frio, faça calor. Não há maneira de convencer o animal do contrário. Ele espera por isso – e eu acho bacana e saudável que seja assim. Acredito que Bento chegou bem aos 14 anos de vida, com fôlego de atleta, em função dessa volta de quase uma hora em que o tempo é ele quem faz.
Há um labrador muito simpático, o Paco, que vive na casa do ex-governador – e um dos programas prediletos do Bento é esperar o Paco sair de casa furioso para, então, fazer um cocozão na cara dele. Daí começa aquele estardalhaço do Paco latindo do lado de dentro da grade, o Bento gritando do lado de fora – e eu com uma mão agarrada no animal e outra mergulhada em um saco plástico para não deixar vestígios.
Durante essas voltas, tento tirar algum proveito próprio (além do prazer de testemunhar a felicidade do animal com o nariz enfiado nas mesmas gramas de sempre). É um momento único para aliviar a mente, não pensar em nada, apenas reparar nas flores, nas árvores, no céu, no sol…. Um momento quase bicho grilo de desligar de tudo e de todos.
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Como contava antes desse papo escatológico, houve um dia em que tive uma recaída e peguei o celular para responder um e-mail. Só que caí na armadilha de tentar usar aquele tempo que deveria ser de prazer e desopilação para checar a caixa postal. O que encontrei? Mil quinhentos e sessenta e três e-mails não lidos.
Isso é o resultado de um dia sem abrir a caixa postal. Mais um dia e esses 1.563 e-mails se multiplicariam por dois. Moral da história: não vi mais o Bento passear, não tive mais a chance de olhar para o céu azul, de curtir meu ócio criativo. Fui tomada por um sentido de urgência e fiquei ali, agarrada naquele maldito celular, andando para lá e para cá atrás do animal, fissurada nas teclas do smartphone, tentando dar conta de uma urgência que não era urgência alguma. Dos 1.563 e-mails, calculo que uns 10, no máximo, eram endereçados a mim. O resto não fazia sentido algum.
Passei os 40 minutos seguintes agarrada no celular – lendo e respondendo e-mails. Cheguei em casa vesga, com dor de cabeça e mal-humorada. Então tomei uma decisão imprescindível para preservar a sanidade neste mundo ensandecido de e-mails, Messenger, WhatsApp. Aderi ao processo de deletar sem pena. Se o título do e-mail não diz a que veio, lixo. Sigo a orientação do especialista em produtividade David Allen, autor de Getting Things Done e Making It All Work. Diz ele: “Oitenta por cento dos e-mails podem ser excluídos sem serem lidos após uma simples olhada no assunto. Daí a importância de títulos explicativos”. Por via das dúvidas, para evitar a tentação, Bento e eu andamos passeando sem celular.
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DONNA PARA VOCÊ
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contato@revistadonna.com
Donna You, divulgação
Fotos Reprodução
Repaginada e reformulada, chega às prateleiras este mês a nova linha de cosméticos Donna You, criada especialmente para os cuidados diários de beleza em parceria com Laboratório Lifar e à venda nas lojas Panvel do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além de estar disponível em todo o Brasil por meio da loja virtual panvel.com. A novidade chega em cinco produtos. Enquanto o sabonete líquido Donna You limpa a pele delicadamente, o esfoliante corporal auxilia a renovação celular por meio de ingredientes suaves. Devido à exclusiva combinação da vitamina E com silicone especial, o hidratante corporal proporciona uma sensação de maciez, que pode ser complementada nas mãos ou áreas mais ressecadas com o serum hidratante. Já a fragrância delicada do body splash corporal Donna You possui um rico complexo floral de rosas e um toque aromático de chá verde, com características frutais como o cassis, nuanças cítricas de lima e lemongrass e, no fundo, notas de especiarias. Estamos orgulhosíssimas com o resultado. Esperamos que você também goste!
PINTANDO O SETE PRETO NO PRETO
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Fábio Alt, Divulgação
A semana de moda de Nova York provou que o preto está em alta. Marc Jacobs, Tommy Hilfiger e Alexander Wang mostraram lindas coleções nesse tom. A decoração segue a tendência: a cor preta vem ganhando cada vez mais espaço. Argumentava-se que a tonalidade carregava os ambientes e denotava tristeza, por isso sua aplicação era sempre comedida e pontual. Em paralelo às tendências da moda, isso está mudando. Fabiana Visacro, designer de interiores, dá a dica: – Para quem não quer muita cor no projeto, nuanças de cinza são uma saída, assim como papeis de parede. Para começar, valem pequenas doses: em vez de pintar toda a parede, pode-se aplicar o preto apenas em alguns blocos. A cor fica bem em bancadas, paredes, cadeiras e adornos, segundo Ana Lívia. – Tapetes, mesas de centro ou lateral também são boas opções – complementa Fabiana.
Ilustradora talentosa e gateira das mais fanáticas, a querida Carla Pilla está abrindo duas turmas de seu Curso Básico de Aquarela, em Porto Alegre, agora no mês de março. Responsável por ilustrar mais de 20 livros infantis e infanto-juvenis (cursou especialização na Central Saint Martins College of Arts and Design, em Londres), a Carlinha também é nossa parceira aqui em Donna – estão aí duas capas lindamente ilustradas por ela que não nos deixam mentir. Para quem quer aprender a dar os primeiros passos na delicada arte dos pincéis de aquarela, serão 12 encontros ao longo de três meses de aulas. A primeira turma será às terças, das 18h às 21h, com início no dia 17. A segunda é aos sábados, das 10h às 13h, a partir do dia 21. Sempre ali no Café Cartum (José do Patrocínio, 637), na Cidade Baixa. Inscrições e mais informações são diretamente com a profe: carla@carlapilla.com.br
BRECHÓ COLETIVO Três anos de sucesso mais do que merecem ser comemorados. No caso do Brick de Desapegos, a festa será em altíssimo estilo. Neste domingo, o já tradicional brechó coletivo de Porto Alegre arma uma superedição de estreia na temporada 2015. Agora aos domingos, o Brick vai ocupar todos os espaços do Bar Ocidente e ainda fechar a João Telles, das 12h às 19h, com uma série de atrações em parceria com as lojas da chamada Calçada do Rock. Te toca para lá e confere peças especiais de 80 expositoras diferentes, sempre a precinhos para lá de camaradas, e mais uma arara especial que, nesta edição, será comandada por As Patrícias. A tarde terá ainda som do DJ Maurício
Cunha e shows na rua com as bandas Dating Robots, Disorder e Morra SKip Morra, além do food truck Olívia e Palito e da Kombi de moda Vibrações Positivas. Ficou interessada em expor tuas peças nas próximas edições? Entra em contato pelo brickdedesapegos10@gmail.com
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LEITURA
Cruzes cor-de-rosa com os nomes das vítimas marcam a constante luta das mulheres contra o feminicídio no México, em especial no Estado de Guerrero
Meninas não choram Chega ao Brasil romance de Jennifer Clement que descortina a rotina de medo e isolamento de garotas e mulheres mexicanas oprimidas pelo narcotráfico
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aquela pequena cidade, no interior do Estado de Guerrero, no México, existe um salão de beleza chamado A Ilusão. A dona, Ruth, havia sonhado criar um lugar de onde as mulheres saíssem maquiadas e bem-arrumadas. Hoje, resigna-se apenas a desajeitar os cabelos e estragar as unhas das meninas locais. “Este não é um salão de beleza, é um salão de feiura”, conclui. Naquela região, por medo de terem as filhas sequestradas e escravizadas por narcotraficantes, as mães mancham os dentes delas com marcadores, cortam seus cabelos à la joãozinho e as escondem em casa ou em buracos enquanto saem para trabalhar. “Talvez eu tenha também que quebrar seus dentes”, vive repetindo a mãe de Ladydi, a garota protagonista de Reze pelas Mulheres Roubadas, da americana-mexicana Jennifer Clement. Lançada agora no Brasil, a obra mistura jornalismo e ficção para contar como as mulheres do interior mexicano vivem a guerra contra o nar-
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cotráfico – conflito entre Exército e cartéis da droga que já deixou mais de 60 mil mortos e 30 mil desaparecidos no país latino desde 2006. O Estado de Guerrero, um dos mais pobres do país, é também onde vêm estalando os mais sangrentos massacres, como a morte de 43 estudantes, em setembro último, numa ação conjunta entre autoridades locais, polícia e os cartéis. – Eu me sinto um pouco profeta, porque para escrever este livro estive muito tempo em contato com as pessoas e a situação em Guerrero, e via que algo grave poderia acontecer logo. A publicação (do livro), em 2012, foi também um chamado de alerta – conta a escritora, nascida nos Estados Unidos e criada no México. – Gosto de misturar investigação com poesia. No caso de Reze..., queria retratar as mulheres no contexto da cultura das drogas, mas chamando a atenção para a beleza que há nos detalhes do seu dia a dia. Batizada em homenagem à princesa britânica morta tragicamente em Paris em 1997, Ladydi convive com o medo
de ser sequestrada e uma espécie de encanto mórbido no qual vivem as poucas meninas que foram amantes de narcotraficantes, mas conseguiram voltar a seus lares. É Ladydi quem nos leva ao universo dessas meninas criadas como meninos, que se escondem em buracos no quintal ou entre a geladeira e uma parede falsa, ao menor sinal de que uma caminhonete preta com homens armados se aproxima. Ninguém quer ser levada e transformada em escrava sexual de traficante. – Queria que o livro fosse amoroso, por isso a narrativa é por meio da adolescente, suas fantasias e ilusões. Ao mesmo tempo, tinha de refletir a dureza dos relatos de ex-mulheres de traficantes e meninas que vivem ali – diz a autora. Mãe de um menino e de uma menina, Jennifer Clement fala na entrevista a seguir sobre sua brutal história de amor, resiliência e solidariedade, escrita com graça e humor, e que se passa entre a montanha e suas plantações de milho, maconha e papoula, a turística Acapulco e um presídio.
Por que contar essa história? Jennifer Clement – Antes de tudo, me interessam a linguagem e a forma, a estrutura do enredo, o personagem e a voz. Também estou sempre procurando por experiência poética e pensando em como o divino coexiste com o profano, a beleza com a feiura. Eu queria que o romance tivesse um encantamento. No livro, muitas das imagens fortes são reais. As cenas iniciais, de enfear as meninas e do esconderijo em buracos, chegaram para mim por alguém que conheci na Cidade do México. Ela me contou sobre o sequestro de mulheres em sua terra, Guerrero. Eu não consegui dormir aquela noite. E foi assim que nasceu esse romance. A voz de Ladydi me apareceu e me segurou firme. Ela é feia e frágil, nada sentimental ou julgadora. Como foi a pesquisa? Jennifer – Por mais de 10 anos conversei com mulheres afetadas pela violência mexicana porque queria escrever sobre mulheres dentro do nar-
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cotráfico. Era um passo lógico, já que eu tinha acabado de escrever A True Story Based on Lies, sobre maus-tratos a trabalhadores. Entrevistei namoradas, mulheres e filhas de traficantes e logo percebi que o país é uma toca de mulheres escondidas. Elas se escondem em lugares que se parecem com mercearias por fora, mas que são verdadeiros esconderijos, no porão de conventos, em hotéis alugados pelo governo dentro do surreal conceito de proteção à testemunha. No México rural, as famílias pobres usam os buracos. Fui ao presídio feminino Santa Marta. Vi vidas cruéis e afetuosas. Vi desenhos de conchas, areias e peixe feitos por uma senhora de 70 anos que vendia tacos na praia antes de ser obrigada a levar drogas para os Estados Unidos. Ela me disse que roubava saleiros na prisão e passava na pele para não se esquecer do mar. E por anos ouvi e li coisas do tipo: hoje ela faria 16
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anos, ela nunca ligou, se eu for à polícia vão rir de mim. Uma mulher pode ser vendida várias vezes por dia e para diferentes donos enquanto um saco plástico com droga só é vendido uma vez. O que ouviu de mais absurdo? Jennifer – Uma mãe que teve a filha raptada falou: “Eu disse para ela não usar batom”. E o que foi mais tocante? Jennifer – Ver que presas recebem menos visita do que presos. Fala-se sobre isso no México ou é uma ameaça silenciosa? Jennifer – A cobertura é pequena. O efeito da violência nas mulheres deve ser mais discutido. O caso dos 43 estudantes sequestrados em Guerrero foi amplamente divulgado, ao
contrário da história das meninas. Por que o tratamento diferente? Jennifer – Publicidade gera pressão, e isso é bom. A divulgação envergonha o governo mexicano, e vergonha é uma grande força de mudança. Eu penso que é mais fácil para o mundo focar num único evento do que num problema constante. De forma geral, no México, o governo não se interessa pela condição da mulher. Isso acontece ainda hoje em muitos outros países também: elas simplesmente não são importantes. Se dermos valor ao que está sendo roubado, as coisas podem mudar. Por que optou pela ficção? Jennifer – Porque a voz de Ladydi Garcia Martinez apareceu para mim como uma visita. Eu tinha que deixá-la falar. Minha esperança é que tanto a dor quanto o humor corajoso da minha protagonista sejam ouvidos – não porque
esta é uma voz para a qual os noticiários e o governo não têm tempo, mas porque representa o sofrimento diário de milhares de garotas raptadas e de experiências de famílias ao redor do mundo. Como é criar uma filha nesse cotidiano? Jennifer – É amedrontador para todas as mães, e também escrevo a partir do ponto de vista de ser mãe nessa terra. No México moderno, ainda há Estados em que a punição por roubar uma vaca é mais severa do que por raptar uma mulher. Como escritora, sente que tem uma missão? A literatura pode melhorar o mundo? Jennifer – A ficção tem um poder que o jornalismo não tem: dá voz a pessoas silenciosas ou silenciadas. Acredito que a literatura pode mudar o mundo. Em muitos casos, romances me modificaram mais do que experiências que vivi.
REZE PELAS MULHERES ROUBADAS De Jennifer Clement. Editora Rocco, 240 páginas, R$ 39,50, em média (R$ 25,50 o e-book)
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PETS
Grasi Dias cuida dos gatos dela e de muitos outros
Nice Costa largou a publicidade para ser catsitter
Adriana divide o tempo entre os gatos e o jornalismo
Presença de amor V Cresce a oferta de quem trabalha como catsitter, aliando um novo estilo de vida à paixão pelos gatos
PATRÍCIA LIMA
fissionalização dos catsitters, mas alguns fatos explicam ocê entra em o crescimento da atividade. casa e logo O primeiro vem dos próprios percebe a apro- gatos: de personalidade mais ximação de um complexa e avessos a mudanserzinho que ças na rotina, os felinos goscaminha sem alarde. Com o tam de ficar em casa. rabinho em pé e emitindo um – Para os gatos, sair pode gemido quase infantil, ele se ser muito estressante. E não é comunica enquanto roça o só água e ração. Eles precisam corpo em suas pernas. Você de carinho – explica a veterio alimenta, limpa o banheiro nária Ellen Azambuja, especiadele, brinca. Em pouco tempo, lista em clínica e cirurgia de você não poderia estar mais pequenos animais. feliz apenas por acariciar a A falta de tempo e o trânsito barriguinha e ouvir o ronron. nas cidades maiores também Quem tem ou já teve gato reduz as possibilidades de se conhece bem essa intensa feli- arranjar um amigo ou parente cidade, que está fazendo muita disposto a tomar conta do gente mudar de carreira e de bichano. A terceira (mas não vida só para ficar mais tempo menos importante) razão para perto deles. São cada vez mais o fenômeno é o próprio catcomuns os relatos de pessoas sitter, que junta ao seu amor que se dedicavam a atividades pelos gatos o desejo de se convencionais e agora são aventurar em outra atividade vistas cuidando de gatinhos para prover o próprio sustento. por aí. Tornaram-se catsitters, A popularização das redes termo em inglês que pode ser sociais foi o empurrão defitraduzido como babá de gato, nitivo para a divulgação dos profissão da moda em Porto serviços dos catsitters. Basta Alegre e também em algumas criar uma fanpage com fotos cidades do interior. dos gatinhos e contatos. PronA função, na verdade, já to: é agenda cheia no próximo existia – quem nunca teve feriadão. Para aprender um uma amiga que pediu uma pouco mais sobre essa profisforça para tomar conta de são, a reportagem de Donna seus bichanos enquanto viafoi conhecer algumas catsitters java? Lá ia a alma caridosa, que atuam em Porto Alegre dava comida, limpava a caixa para entender como o fascínio de areia e, de brinde, passava pelos felinos está mudando a bons momentos com os gavida de tanta gente. Esta retinhos. Agora, é o mesmo: o pórter, ela própria uma gateira catsitter é contratado para ir incorrigível e catsitter volunaté a casa do cliente cuidar tária para amigos, não ouviu dos gatos. A única diferença é tantas histórias lindas impuneque se paga pelo serviço. mente. Caso o jornalismo deiNão existe um número ofixe de ser sua paixão número cial para dimensionar a pro1, o plano B já está traçado.
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ENTRE LETRAS GUINADA PARA A FELICIDADE E RONRONS
O desejo de mudar de vida se concretizou quando a mãe da jornalista Adriana Schnell teve seu estado de saúde agravado, em 2011, em função de um câncer. Precisando dedicar mais tempo a ela, Adriana viu que não poderia mais trabalhar formalmente. Passou a atuar como freelancer e a ter mais tempo para um de seus grandes prazeres: os gatos. No final de 2013, quando a saúde da mãe se agravou (o que resultou na morte, em agosto de 2014), Adriana decidiu não veranear. Tornou, assim, profissional um hábito que já tinha: cuidar dos gatos dos amigos que deixavam Porto Alegre nas férias. – Veio em um momento de grande sofrimento, mas me ajudou a superar. Sou muito feliz fazendo isso – comenta Adriana, que há um ano fundou a Ronrona Pra Tia. Aos 43 anos, ela ainda atua como jornalista, mas confessa que se envolve cada vez mais com animais. Agora, além de gatos, também cuida de cães, pássaros – e até plantas. – Meu maior desafio foi cuidar de um bonsai – diverte-se. Desde que montou a página no Facebook, Adriana já cuidou de cerca de 150 animais. – Gatos são tímidos e ariscos, respeito ao máximo a individualidade deles. O nome vem disso. Quando chego, peço para ronronarem pra tia, para eu saber que estão bem. E quando eles ronronam é uma alegria enorme – garante.
A rotina da publicitária e gerente de projetos Nice Costa, 29 anos, sempre incluiu o cuidado com os seus próprios bichos e o esforço para resgatar e encaminhar para adoção animais abandonados em Porto Alegre. A carreira que havia escolhido, no entanto, já não a encantava como antes, mas Nice esbarrava na dúvida sobre qual caminho seguir. Até que se deu conta de que seu hobby poderia virar um meio de vida. Foi assim que, no segundo semestre do ano passado, Nice fez a página da Ronroninha no Facebook e passou a cuidar profissionalmente dos animais. Deu tão certo que, já em setembro, pediu o desligamento da agência em que trabalhava e passou a dedicar-se integralmente à atividade que, segundo ela, é de grande responsabilidade, mas que também proporciona uma maravilhosa sensação de recompensa. Munida de um arsenal de brinquedinhos (alguns ela chega a importar dos Estados Unidos), Nice fica cerca de uma hora em cada casa e não descansa enquanto não deixa os gatinhos cansados de tanto brincar: – Não penso em formar uma empresa grande, com uma equipe de catsitters, essas coisas. Também não penso em voltar a ser publicitária. Penso em me especializar em comportamento felino e viver fazendo o que mais gosto, que é cuidar de gatos.
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Os cinco mandamentos de um catsitter
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Amor pelos gatos é o primeiro e mais importante. Sem isso, a interação com os bichanos torna-se muito mais difícil. E quem é gateiro sabe que os felinos reconhecem de longe quem os ama.
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Também é preciso ter noção do tamanho da responsabilidade. Afinal, o profissional vai cuidar de um bem precioso – o gato – , mas vai ter acesso ainda a chaves, códigos de segurança e a intimidade da família.
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Não existe um tempo mínimo e máximo para a visita, mas o ideal é que haja tempo para tentar uma interação com o felino, e não apenas limpar a caixa de areia e dar comida. Apesar de independentes, gatos sentem falta dos donos, ficam entediados e podem até adoecer. Por isso, brincadeiras e o estímulo ao contato são importantes.
Lucas Guillande, de Santa Maria, viveu o problema de não ter com quem deixar os seus gatos. E hoje cuida os animais dos outros
UM DOM NATURAL Gatos sempre foram a praia de Grasi Dias, de 29 anos. Tanto que, quando começou a trabalhar como atendente em uma clínica veterinária especializada em felinos, aprendeu com grande facilidade as manhas para lidar bem com eles. Lá conheceu a atividade que, aos poucos, foi se tornando uma profissão. – Sempre tive uma habilidade natural para lidar com gatos, mesmo com os mais bravos ou os que não querem interagir ou comer. Isso me ajuda muito a conquistar meus clientes – comenta. Há três anos, meio por acaso, começou a cuidar gatos de clientes da clínica e amigos que viajavam e solicitavam
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4 sua ajuda para tomar conta dos pequenos que ficariam em casa. O jeito natural para a coisa tornou tudo mais fácil e rápido. Hoje, Grasi divide o tempo entre o laboratório de análises veterinárias onde trabalha e a sua verdadeira paixão, visitar casas e tomar conta de muitos gatinhos. Depois de ver os até sete gatinhos de que chega a cuidar em um dia, ela tem a segunda jornada de cuidados felinos, em casa. São três: um idoso, uma gata adulta e um cara jovem e muito sapeca, um pretinho portador de hidrocefalia felina, um problema que o faz perder a mobilidade e o equilíbrio. - Os meus gatos e os gatos dos meus clientes, com quem convivo, fazem os meus dias mais felizes. É muito bom comemora Grasi.
PUBLICIDADE E OS GATOS O publicitário Lucas Guillande, 28 anos, usa parte do seu tempo para fazer o que mais gosta: cuidar de gatos em Santa Maria, cidade onde mora. Desde que fez a página CuidaCat no Facebook, visita os animais pelo menos uma hora por dia. Com ele, os bichos têm água, comida, carinho e muita atenção. Desde criança Lucas teve gatos (e viveu o problema de não ter com quem deixá-los). Foi com a irmã, proprietária de uma pet shop, que aprendeu a lidar com os bichanos. – Às vezes, eu até fico mais tempo do que o combinado com os gatos. Com eles, nem vejo o tempo passar - conta.
Cuidar também de cães não desqualifica o catsitter, pelo contrário, mas é preciso ter em conta as necessidades de cada animal. Se por um lado cães exigem mais esforço para passear e brincar, gatos demandam paciência e sutileza para aproximação e o primeiro contato.
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Catsitter não é veterinário. Por isso, deixar com o cuidador todos os contatos do veterinário de confiança é fundamental. Todo catsitter tem, ainda, um profissional da sua própria confiança, a quem ele recorre nas emergências.
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TENDÊNCIA
Byron Smith, NYTNS
Da longa prateleira situada junto à janela do Meow Parlour, em Nova York, os felinos costumam assistir preguiçosamente ao vaivém de curiosos na calçada
Nos cafés de gatos, paga-se para afagar – e quem sabe até adotar – um bichano WILLIAM GRIMES THE NEW YORK TIMES
A
o abrirem o Meow Parlour, em dezembro último, as sócias Christina Ha e Emilie Legrand confirmaram a tese de que Nova York – e, por que não, o mundo – está cheia de pessoas que amam gatos. O conceito já foi testado com sucesso em diversas outras cidades, principalmente no Japão, país louco por felinos onde os locadores de apartamentos costumam proibir animais de estimação. Depois que 30 gatos foram abandonados perto de uma das filiais de sua Macaron Parlour, Christina começou a recolhê-los para encaminhá-los à adoção. Foi quando Emilie, uma das chefs assis-
Um expresso e
um cafuné
tentes da confeitaria, veio com a ideia dos cafés de gato. Ela, que trouxe seus dois felinos quando se mudou de Paris para Nova York, já havia visitado cafés do tipo em Paris e Tóquio. – Decidimos que simplesmente precisávamos ter um café de gatos em Nova York – brinca Christina. O Departamento de Saúde de Nova York não permite que comida seja preparada onde há animais. Para superar esse obstáculo, Christina abriu, na esquina do Macaron Parlour, a Meow Parlour Patisserie, onde seus doces ficam lado a lado com cookies de temática felina – com direito a bigodes de gato desenhados na cobertura. Os clientes fazem reservas pelo site (meowparlour.com) ao custo de US$ 4 por meia hora – ou US$ 30 para uma estadia
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máxima de cinco horas. Já não há reservas disponíveis para até meados de abril. Há duas etapas de acesso; primeiro, assina-se uma declaração concordando com os termos do local: não alimente os gatos, não acorde um gato adormecido (fazer carinho de leve pode), não pegue um gato no colo sem permissão de um funcionário, não use flash para fotos. Depois, na recepção, tira-se os sapatos e aplica-se um desinfetante para as mãos. Terminadas as formalidades, os gatos aguardam – e talvez já tenham inclusive feito contato. O café tem uma janela que dá para a Hester Street, com uma prateleira longa e a palavra “meow” (miau) escrita com grandes letras de madeira. Dali, os gatos adoram assistir ao desfile na calçada deitados entre as letras.
Depois da recepção, há uma grande sala com almofadas, espaços separados para relaxar onde há caminhas de gato e um conjunto enorme de prateleiras com muitos cantos e recantos, além de bancadas que saem delas. Os clientes podem se sentar em altos bancos de metal, ligar seu laptop e pedir guloseimas. A maioria das pessoas pega um brinquedinho na recepção e segue para a área de brincadeiras para atrair os gatos, que fazem o que se espera deles: alguns olham impassivelmente e, em seguida, vão embora; outros observam, tomando notas mentais. Alguns ficam agitados, saltando, correndo, rolando, ou aceitam com gratidão um carinho ou uma massagem. Um orientador está lá para tirar qualquer dúvida. Na sexta-feira passada a
orientadora era Drew Kimmis, que respondia perguntas como “Todos os gatos caem em pé?” e contava histórias de cada um dos felinos. A gata malhada Cisco tem três patas porque foi atropelada por um carro. Lucky Lemon, um gatão amarelo, demorou a se aclimatar, mas agora está mais sociável. Liz, que adora um colinho humano, está sempre com seu irmão, Kris. Roger, branco com algumas manchas pretas e um focinho escuro, é tímido como sua irmã, Carmen. E todos eles estão para adoção. – Não estamos aqui apenas para ganhar dinheiro com eles (os gatos), queremos que sejam adotados e que encontrem um bom lar – explica Drew. Se isso não acontecer, pelo menos os gatos se exercitam – e, de quebra, recebem carinho e adoração na mesma medida.
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CAPA À medida que a depressão se torna uma das doenças mais combatidas do século 21, cresce o incômodo e a busca de alternativas para os indesejados efeitos colaterais na cama
Prazer 14 DONNA ZH 8 DE MARÇO DE 2015
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CAUE FONSECA
D
ESPECIAL
esde cedo demais para lembrar – na primeira vez em que os pais procuraram auxílio profissional, ela tinha apenas sete anos –, a blogueira americana Crista Anne tem como companheira indesejada a depressão. Ao longo de inúmeras crises, Crista descobriu um aliado: – Quando estava na escuridão da minha doença, eu usava o orgasmo como forma de lembrar a mim mesma que existe prazer a ser sentido. Não era a cura para minha depressão, não era uma forma de conserto, mas era uma ferramenta para seguir em frente que usei desde que consigo lembrar. Minha habilidade de encontrar prazer na escuridão me salvou tantas vezes que perdi a conta. Aos 32 anos e mãe de três filhos, Crista pela primeira vez se considera desassombrada pela depressão graças a uma combinação arduamente ajustada de medicamentos antidepressivos. Mas retomar a energia, o prazer de viver, ironicamente, levou embora o seu antigo companheiro das noites escuras. A anorgasmia, a inibição recorrente do orgasmo mesmo com os devidos estímulos, é um dos efeitos colaterais mais comuns do uso de antidepressivos e ansiolíticos, bem como a diminuição da libido. Como mudar os remédios mais uma vez após décadas de ajustes estava fora de cogitação, Crista deu início em seu site e no seu Twitter ao #OrgasmQuest (#BuscaDoOrgasmo, em tradução livre), um divertido testdrive de técnicas, posições e acessórios sexuais em busca do gozo perdido. Em questão de semanas, a iniciativa de falar abertamente sobre o sexo sob medicação ganhou milhões de cliques
e a atenção da imprensa mundial (leia sexual com o tratamento com antideentrevista na página 19). pressivos? Na maioria das vezes, sim. A blogueira não está sozinha. Nem Porém, trata-se de uma sintonia que na depressão, nem na perda do prazer envolve médicos, pacientes, medicae, felizmente, não mais em falar sobre mentos e estilo de vida, e que pode o assunto. Uma mudança de mentali- demorar a ficar bem afinada. Para dade recente, sobretudo em se tratan- entender como ela funciona, é necesdo de mulheres. sário primeiramente se debruçar sobre – A diminuição da libido entre as o problema inicial, a depressão em si. pacientes que buscam tratamento Segundo previsões da Organização antidepressivo sempre ocorreu, assim Mundial de Saúde, em apenas cinco como ocorre com os homens que anos a depressão será a segunda dosofrem dos mesmos ença mais prevalente transtornos e se tratam do mundo, superada com a mesma mediapenas pelo infarto cação. A diferença é agudo do miocárdio. que este nunca foi um Até lá, os antidepresefeito colateral admissivos serão os medicasível para eles. Quando mentos mais vendidos ocorre, os homens pela indústria farmaA diminuição cêutica. Há duas formas tendem a buscar alternativas ou abandonam da libido afeta de interpretar esses dao tratamento – conta dos. O copo meio cheio usuários de Juliana Fernandes Traé que o preconceito montina, da Associação com doenças mentais, antidepressivos que muitas vezes impede Psiquiatria do Rio Grande do Sul. o diagnóstico, vem dos dois sexos. de Segundo observa a sendo superado. O meio médica gaúcha, as muvazio é o crescimento a A diferença lheres vêm aos poucos olhos vistos da doença é que, agora, no século 21. Seja pela perdendo a vergonha de relatar problemas peculiaridade da nossa elas passaram rotina, seja por um sexuais aos seus psiquiatras, bem como possível exagero no uso a lutar pelo os profissionais da desses medicamentos saúde vão aprendendo prazer tanto sem prescrição médica. a instigar as pacientes O livro O Demônio quanto eles a reclamar do impacto do Meio-dia – Uma dos medicamentos sob Anatomia da Depressão os lençóis. Sobretudo foi publicado em 2001 porque está aí uma como uma forma de o causa oculta para o abandono de pelo autor, o nova-iorquino Andrew Solomenos 17% dos tratamentos para a mon, compreender e superar a própria depressão, segundo dados coletados doença. Até hoje é considerado um pelo Ibope em três capitais brasileiras dos textos mais elegantes, sensíveis e já em 2008. completos sobre o tema. Nele, SoloMas, uma vez detectado o promon compara a depressão a um floco blema, é possível conciliar o prazer de neve: “Não existem duas pessoas
com o mesmo tipo de depressão. Como flocos de neve, as depressões são sempre únicas, todas baseadas nos mesmos princípios essenciais, mas cada uma exibindo um formato irreproduzível e complexo”. Daí o risco de analisar de forma precipitada a diferença no número de relatos de depressão se comparados os dois sexos. Desde as primeiras menstruações até a menopausa, o índice é, historicamente, de duas a três vezes superior entre mulheres do que entre homens. Uma das pesquisas mais recentes sobre o assunto, realizada nas principais metrópoles da América Latina e publicada no início de 2012, trouxe dados que vêm ao encontro da média histórica. Segundo levantamento da São Paulo Megacity Mental Health Survey, 10% dos homens e 23% das mulheres paulistas já sofreram ou ainda sofrem de depressão. Se questionados sobre “qualquer transtorno de ansiedade”, o número sobre para 19,5% e 35,8%, respectivamente. Segundo Solomon, “as depressões devem ser interpretadas dentro dos contextos nos quais ocorrem”. A incidência de mais casos entre mulheres é ora atribuída à química, ora às condições culturais e sociais. O mais provável é que os dois fatores se combinem, mas esse é um debate frequentemente contaminado por fatores políticos. Do ponto de vista biológico, as mulheres passam por uma série de eventos de vida cujos efeitos no organismo podem resultar em depressão. Alguns todos os meses, como a menstruação, outros ao longo da vida, como o parto e a menopausa. Mas a biologia sozinha não explica o fenômeno. Se os organismos de homens e mulheres são diferentes, também é verdade que elas são destituídas de seus direitos de cidadania com mais frequência.
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O MACHISMO AJUDA A EXPLICAR A DEPRESSÃO FEMININA, MAS TAMBÉM ATINGE OS HOMENS Em comparação aos homens, mulheres têm maior probabilidade de serem vítimas de abuso, maior probabilidade de serem pobres, menor probabilidade de serem instruídas, mais chance de sofrerem abusos e humilhações regulares ao longo da vida e estão mais propensas a serem subjugadas fisicamente e moralmente pelos maridos. A esses males, somem-se as novas atribuições da mulher pós-moderna, como a tripla jornada, o peso da maternidade ou a culpa por não exercê-la. Todos são considerados, na linguagem psiquiátrica, “fatores estressores”, gatilhos para a angústia e para a depressão. Mesmo com tudo isso na conta, deduzir que mulheres são mais deprimidas do que os homens pode ser enganoso. Solomon cita, por exemplo, as diferentes análises de uma pesquisa que relatou número de casos semelhantes do transtorno entre universitários americanos dos dois sexos. Pelo viés feminista, alguns analistas concluíram que grande parte das mulheres deprimidas, acometidas pelo mal, não chegam à faculdade. Outros preferiram uma análise otimista: observaram que, em um ambiente mais igualitário de convivência entre os sexos, os casos se equivalem. Mas poucos colocaram na equação que homens universitários são jovens e instruídos e, portanto, também mais propensos a encarar a depressão como uma patologia do que seus pais e avôs e buscar tratamento. Se mulheres relatam mais
casos de depressão, também é verdade que os homens são quatro vezes mais propensos a cometer suicídio. A relação também é de aproximadamente quatro homens para cada mulher no abuso do álcool e das drogas. Também são eles que agem com mais violência contra familiares e desconhecidos. Ou seja, se a depressão é significativamente maior entre as mulheres, muito é pela iniciativa delas de procurar um médico em vez de refugiar-se na bebida ou em outras substâncias. Nesse caso, o homem é vítima do próprio machismo: macho afoga as mágoas no bar, não no consultório. Seja para o combate à depressão, seja para lidar com os efeitos colaterais dos medicamentos, a precisão no diagnóstico da doença é fundamental. Segundo o psiquiatra Jerônimo de Almeida Mendes Ribeiro, membro de Comissão de Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o primeiro passo é diferenciar depressão e luto. E jamais usar o antidepressivo como um atalho para superar o segundo. – Lidamos em uma área em que há muita culpa, muito conselho de corredor, muito Google. Episódios como a perda de um parente ou o fim de um relacionamento podem desencadear casos de depressão. Mas apenas um profissional vai saber detectar sintomas que vão além de um período de normal de tristeza, como a apatia severa, ou, em casos graves, até pensamentos suicidas.
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Saber a diferença entre depressão e luto é obrigação do psiquiatra. Já a dos pacientes é procurar ajuda profissional em vez de aderir à automedicação
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Em até
70%
23 %
das mulheres sofreram ou sofrem de depressão
dos casos de perda de libido e anorgasmia, a ocorrência se dá no primeiro mês de tratamento
Fonte: São Paulo Megacity Mental Health Survey (2012)
Sobre a perda de libido e/ ou a anorgasmia, Mendes Ribeiro observa que esses sintomas aparecem, em até 70% dos casos, nas primeiras três ou quatro semanas de tratamento. No entanto, a situação pode se normalizar naturalmente depois. É possível que deixem de acontecer por completo ao longo dos primeiros seis meses de medicação, dependendo do paciente. O fundamental é reportar ao médico o mais breve possível quando o efeito colateral for percebido. Embora seja apontada como um problema central para relacionamentos, é um erro não dar atenção à falta de libido em razão dos medicamentos mesmo quando se está solteiro. Foi o que aconteceu com a funcionária pública Fabiana (o nome foi alterado a pedido da entrevistada), hoje com 34 anos. Após a aprovação em um concurso em outro Estado, em 2012, Fabiana foi surpreendida às vésperas da mudança com a notícia de que o namorado não iria mais acompanhá-la. A decepção com o fim do relacionamento, somada aos problemas do
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emprego novo e à solidão na cidade estranha trouxeram de volta a depressão, mal que já a acometera na adolescência. A perda de libido, curiosamente, foi até bem-vinda naquele período. – Como eu ainda sofria por causa do namoro, achei até bom não me interessar por alguém por um tempo. Tive algumas transas, mas não curti, e acho que riscar o sexo da minha vida naquela época até facilitou a minha adaptação. Eu não me preocupava mais com isso – conta a servidora pública. Os problemas apareceram quando Fabiana começou a se relacionar com o atual namorado, há pouco mais de um ano. Percebendo a diminuição do interesse pelo sexo mesmo apaixonada pelo parceiro, ela procurou o psiquiatra e optou pela diminuição na dose da medicação em um terço. Mas imediatamente voltou a sentir os sintomas da depressão, o que a levou a recuar na decisão. – Eu poderia tentar trocar a medicação, mas tenho receio. Acontece também que aprendi a curtir o sexo de outra forma. É menos intenso, mas
é prazeroso de uma forma diferente. Eu ainda preciso me esforçar um pouco mais do que antes para me interessar. Mas tento não demonstrar. Seria difícil falar isso para ele sem parecer falta de amor – relata Fabiana. Esse “prazeroso de uma forma diferente”, citado por Fabiana, tem explicação neurológica. A maioria dos antidepressivos atua regulando a transmissão da serotonina, substância química que atua como neurotransmissor. Simplificando, a serotonina é a responsável por enviar mensagens ao cérebro. É ela, por exemplo, que comunica ao cérebro quando estamos angustiados, irritados, o quanto ficaremos em alerta durante o sono, quando estamos saciados com a comida, e assim por adiante. Os antidepressivos não necessariamente diminuem ou aumentam o nível de serotonina, mas ajustam essa transmissão, o que impacta na regulação do humor. A diminuição da libido se explica um pouco aí, na ausência de sentimentos extremos quando a serotonina desliza macia pelo cérebro. A paciente não
vai ter um ataque de tesão quando o marido sair do banho, mas por outro lado não vai querer jogar o excelentíssimo pela janela ao avistar a toalha molhada em cima da cama. Afinal de contas, ela não tem mais os picos de irritação por qualquer bobagem como antes dos remédios. Viva a serotonina. A anorgasmia funciona de forma um pouco mais complexa. O problema nesse caso é que o orgasmo depende dos pequenos lapsos da transmissão de serotonina. Por isso alguns usuários de medicamentos descrevem o novo prazer sexual como “em ondas”. Os tremores estão lá, os vasos dilatadores deixam os órgãos genitais à flor da pele, a respiração está ofegante... Mas é como se tudo isso pegasse o cérebro um pouco distraído. Ele entende que algo está acontecendo, mas falta aquele espasmo, aquela descarga de quando o cérebro entende que algo está maravilhosamente errado. Não por acaso alguns antidepressivos são receitados para casos de ejaculação precoce. É quando um pouco de distração no cérebro vai bem, obrigado.
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Amenizar ou corrigir por completo esses problemas é algo que médico e paciente precisam ajustar caso a caso, com acompanhamento profissional. Crista, a blogueira citada no início desta reportagem, escreveu certa vez em um dos posts do #OrgasmQuest o porquê de ela não falar sobre os efeitos da sua medicação no site, um pedido recorrente dos leitores. – Estou ciente da responsabilidade ao escrever sobre sexualidade. Eu não posso testar e recomendar remédios como se fossem modelos de vibradores – compara. E está coberta de razão. Primeiramente, porque os médicos são unânimes em afirmar que os medicamentos agem de forma diferente conforme o paciente. Segundo Mendes Ribeiro, da ABP, mesmo aqueles que têm determinado efeito colateral em 80% dos seus pacientes podem não ter reação alguma em outro. Daí também o esforço desta reportagem em não citar medicamento algum pelo nome. A recomendação deste ou daquele remédio depende do caso de cada paciente e da sua resposta inicial. Em tratamentos prolongados de depressão, pelo menos os nove primeiros meses são considerados um período de manutenção. Em segundo lugar, porque a internet está cheia de palpiteiros. Uma pesquisa recuperar a libido durante o uso de antidepressivos, por exemplo, pode retornar dicas como tirar férias do remédio uma vez por mês para um final de semana com o parceiro. É o tipo de conselho bem intencionado, mas que pode ser igualmente ineficiente e perigoso. Há atitudes paralelas, no entanto, que não têm como prejudicar um paciente em
tratamento. Ainda que, sozinhas, elas não resolvam o problema. – Quando se trata de depressão, tudo são hipóteses. Questões como o exercício físico e a alimentação adequada, mesmo quando não produzem um efeito relevante, ajudam a criar um contexto de satisfação – avalia Marcelo Fleck, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos do Humor do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Há estudos animadores também sobre o efeito positivo no cérebro de alimentos ricos em antocianina – presente basicamente em ameixas, amoras, framboesas e mirtilos, aquilo que os fabricantes de iogurte chamam de “frutas vermelhas” – e também do ômega 3. Caprichar na sardinha pode não curar a depressão, mas dá uma forcinha. Já o exercício físico, além de elevar a autoestima do praticante, produz a endorfina que eleva o nível de satisfação. Isso se o esporte for praticado com bastante frequência: são necessários pelo menos 40 minutos intensos a cada 48 horas. Outros benefícios são melhora do sono e prevenção ao ganho de peso, também um efeito colateral indesejado de alguns antidepressivos. Por fim, a psicoterapia e o uso de medicamentos são complementares, não excludentes. Conversar com o terapeuta e avaliar periodicamente os avanços do dia a dia ajuda a manter a motivação com o tratamento. Embora em níveis diferentes, toda depressão e seus efeitos colaterais são influenciados de alguma forma pelo contexto de vida. Criar em torno de si uma rotina em que a pessoa se sinta feliz, saudável e bonita é fundamental. E, tomara, excitante.
Alimentação e exercícios físicos podem não resolver sozinhos a depressão, mas ajudam a criar um contexto de saúde e felicidade 18 DONNA ZH 8 DE MARÇO DE 2015
Direção de arte: Sabrine Sousa (Mago). Fotografia: Claudio Meneghetti (Studiome). Assistente de fotografia: Tiago Capelini (Studiome). Modelo: Dani Zimmermann (Joy). Beleza: Andre Guerrero (Thippos). Cabelo: Rodolfo Coronel (Thippos). Stylist: Gustavo Werner. Assistente: Gre Forbrig. Manipulação: Victor Matsumoto (V2M)
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“VOCÊ NÃO ESTÁ COM DEFEITO E VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA” Em dezembro do ano passado, Crista Anne decidiu tornar pública, no site www.crista anne.com, sua busca pelo orgasmo perdido após aderir a um novo antidepressivo. O #OrgasmQuest chamou a atenção de milhões de pessoas e de veículos como o britânico Daily Mail e o americano Huffington Post. Crista conversou com a revista Donna sobre a repercussão do projeto, que inclui desde mensagens comoventes até ameaças de morte. Donna – Você observou evolução no seu prazer sexual desde o início do projeto? Pode descrevê-lo? Crista – Sim, absolutamente. Quando a anorgasmia teve início, logo depois de eu começar a tomar o novo medicamento, fiquei completamente impossibilitada de atingir o orgasmo. Se nós fôssemos de 1 a 10 em uma tabela, o máximo de prazer que o meu cérebro registrava era um 6. Desde o #OrgasmQuest, me masturbando com vibradores diferentes ou estendendo as preliminares e as transas com o meu parceiro, agora consigo ter orgasmos físicos e uma sensação de prazer entre 8 e 9. Orgasmos físicos significam que tive contrações, aumento de batimentos cardíacos e pernas bambas. Meu cérebro ainda não registrou o orgasmo, ainda não experimentei o clímax de prazer. De vez em quando, durante o sexo, eu sinto ondas suaves que considero orgasmos leves. Estou emocionada com o progresso que tive ao longo dessas 10 semanas. Donna – Qual seria o primeiro recado que você daria a uma mulher que perdeu a libido em razão de medicamentos? Crista – Você não está com defeito e você não está sozinha. Esse sentimento de perda, de que tudo mudou, é natural e compreensível. Você provavelmente conhece outras
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pessoas que também perderam a libido em razão de remédios, e buscar apoio pode ser incrivelmente importante. A maior parte das respostas positivas que tive na minha busca vieram de pessoas gratas porque a minha história as fez se sentirem menos solitárias. A primeira coisa que eu falo para todas as pessoas nessas conversas é lembrá-las de que não estão sozinhas nessa. Donna – E você se surpreendeu com o número de pessoas na mesma situação que a sua? Crista – Na verdade, não. Passei anos trabalhando em sex shops, onde eu conversava com pessoas com esse tipo de problema todos os dias. Eu fiquei surpresa, isso sim, com o número de pessoas interessadas na minha história. E honrada por ter a chance de falar sobre o assunto. Donna – No post mais recente, você reclamou de assédio. Que tipo de reações negativas você tem enfrentado? Crista – Eu vejo o texto sobre o assédio menos como uma reclamação e mais como uma forma de compartilhar a lado negativo de ter chamado a atenção para o meu problema. Tento mostrar o quanto as mulheres sofrem ao escreverem sobre suas experiências na internet. Especialmente quando estão falando sobre sexualidade. Donna – O assédio é majoritariamente masculino? Ou vem de ambos os sexos? Crista – As reações negativas vêm na mesma medida de ambos os sexos. Mulheres tendem a me atacar por compartilhar a minha sexualidade de forma tão aberta sendo mãe, ou atacam a criação dos meus
filhos. Homens tendem a interpretar meu papo sobre masturbação como um convite para me assediar sexualmente. Mandam fotos nus, pedem fotos minhas nua, me mandam e-mails explícitos com as suas fantasias sobre mim... As ameaças de morte e de estupro são obviamente anônimas, então não tenho ideia do sexo dessas pessoas. Donna – Qual foi a maior lição do #OrgasmQuest até aqui? Crista – Foi que conversar sobre os efeitos colaterais dos medicamentos é vital. Profissionais da saúde precisam aconselhar melhor seus pacientes sobre essa possibilidade, para que as pessoas não sejam surpreendidas com a guarda baixa. Se alguém está sofrendo efeitos colaterais sexuais, precisa de espaço para falar sobre isso sem sentir vergonha. Prazer é algo que vale a pena priorizar.
É preciso espaço para falar sobre sexualidade sem sentir vergonha. Prazer é algo que vale a pena priorizar
Reprodução
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CARREIRA
Felipe Carneiro
Embaixadora do
bem-estar
A catarinense Jeane Moura transportou o estilo de vida para o próprio negócio e hoje comanda a maior rede de franquias de alimentação saudável do Brasil
CRISTIANO SANTOS
para servir saladas, sucos e grelhados, entre outras opma recente ções de um cardápio pensado pesquisa reapara o bem-estar, surgiu em lizada pela 2005. Recebeu o convite do Seara Experian shopping Iguatemi, na época revelou que em processo de construção apenas 8% da população em Florianópolis, para instalar feminina do Brasil é empreuma lanchonete na praça de endedora. É um número alimentação e não titubeou. ainda pequeno e que pouco – Na casa da minha família, reflete o universo de Jeane sempre tivemos frutas no café Moura, criadora da DNA da manhã, assim como semNatural, atualmente a maior pre comemos salada. Quando franquia de alimentação sau- surgiu a oportunidade da loja, dável do país. Os números comecei a pesquisar sobre este que a cercam são de gente tipo de empreendimento, que grande. Jeane comanda 77 nem existia no Brasil, era tudo franqueados espalhados de muito novo – relembra. Norte a Sul, tem previsão de Como na maioria dos cachegar a 200 no fim de 2015 ses de sucesso, a empresária e, quando dezembro terminar, agiu intuitivamente, apenas terá inaugurado as primeiras com a experiência de anos de quatro unidades nos Estados trabalho no comércio. No curUnidos – na Flórida, em Nova rículo, Jeane foi de vendedora York e na Califórnia. a gerente e especializou-se A história da florianopolino atendimento ao cliente. É tana de 37 anos passa pelo viciada em resolver problemas. estilo de vida literalmente E lá atrás já vendia sanduíches transportado para seu negócio. e bombons para suas colegas A ideia de criar um espaço de trabalho:
U
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– Eu sempre fui de criar coisas, sempre gostei de inventar o que ia comer. Antes de se tornar expert em alimentação saudável, trancou a faculdade de Administração na Universidade Federal de Santa Catarina e foi morar no Rio de Janeiro. Para ascender profissionalmente, precisou voltar à capital catarinense. Veio finalizar os últimos semestres que faltavam na faculdade. Neste meio tempo, casou-se e teve um filho. Quando a DNA nasceu, também havia um bebê em casa. Nos dois primeiros anos, e já era 2007, Jeane não arredou o pé do caixa, da cozinha, do balcão. Viu com seus próprios olhos o negócio tomar forma e crescer. – Essa primeira loja foi um sucesso. Passei dois anos no caixa conversando com os clientes. Eles chegavam e falavam sobre o que mais gostavam, sugeriam mudanças. Na época, eu tinha mais de 50 fornecedores, cada um che-
gando em um horário diferente. Uma loucura. Foi uma fase intensa de testes – recorda. Os mesmos clientes que apontavam mudanças no cardápio também se mostravam interessados em abrir outras unidades da DNA. Ainda no caixa, anotava estes nomes. Interessado, seu marido na época abriu a segunda loja, na Lagoa da Conceição. Um sucesso também imediato. A partir daí, a ideia tomou outros contornos, foi preciso formatar melhor o projeto, criar fichas técnicas, uniforme, preparar-se para o crescimento que viria nos próximos anos. – Em seguida, o shopping Beiramar me chamou alegando que os clientes estavam pedindo uma loja, mas eles não tinham espaço na praça de alimentação. Então, pensamos num modelo de quiosque e abri a terceira unidade. Quando vi, tinha três formatos diferentes. E isso ainda é o meu diferencial em relação à concorrência – aponta.
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O meu cliente busca saúde, bem-estar e status. Antigamente, era bonito tirar uma foto fumando. Hoje, as pessoas têm orgulho de dizer que estão comendo bem
Ser franqueado da DNA Natural, eleita uma das 10 melhores franquias do país, requer investimento entre R$ 203 mil e R$ 300 mil para a instalação. O faturamento médio mensal é de R$ 110 mil, com retorno entre 24 e 40 meses. Para Jeane, retornam os royalties de 5% do faturamento bruto. Comandando uma equipe de 15 pessoas no escritório instalado no bairro Trindade, Jeane Moura mantém sociedade em apenas uma unidade, a de Jurerê Internacional. Nesta loja, alguns testes da proprietária são colocados à prova. – Faço o que sempre fiz em casa. Se quero um suco para auxiliar na memória, por exemplo, converso com a minha nutricionista sobre as frutas que podem auxiliar nesse sentido e faço os testes na minha cozinha. Sanduíches, pastas novas, tudo eu testo em casa primeiro. Quando não está mergulhada no universo da alimentação
saudável, costuma acordar sempre no mesmo horário. Às 5h pula da cama, toma o café da manhã e corre sagrados 10 quilômetros diários. O frescobol, outra de suas paixões, fica reservado para as tardes à beira-mar. Costuma anotar em um bloquinho suas ideias, surgidas geralmente ao despertar. Se o filho está em casa, cumpre as obrigações de mãe. Para relaxar, costuma sair com as amigas para jantar e dançar – e não deixa de tomar seu vinhozinho ou umas doses de vodca com energético. Conectada – jura que foi uma das primeiras brasileiras a entrar no Facebook –, a empresária demorou até entregar para outra pessoa as postagens nas redes sociais da DNA. Em uma lista divulgada pela revista Exame, ficou na 21ª colocação no ranking de compartilhamentos entre 800 redes de franquias pesquisadas pela consultoria mineira Dito. Até pouco tempo, era a
própria Jeane quem respondia aos comentários. Passava cerca de três horas neste processo. Afinal, está em seu DNA essa relação com os clientes, desde sempre. Outro braço surgido nos últimos anos foi o DNA Empório, uma loja que vende biscoitos integrais, grãos, frutas secas, castanhas, barras de cereais, chás, suplementos e produtos especiais sem lactose, sem glúten e diet. Quem comanda o negócio é o ex-marido e melhor amigo de Jeane. Ele cuida de tudo: ela apenas licenciou a marca. Algumas unidades, inclusive, já contam com a lanchonete e o empório complementar. Com números tão sedutores, é natural que Jeane venha sofrendo assédio de grandes grupos, interessados em comprar a rede de franquias. – Talvez se eu chegasse no meu limite criativo poderia pensar em vender. Tenho dúvidas se continuaria com a mesma qualidade – pondera.
Se quero um suco para auxiliar a memória, converso com minha nutricionista, definimos os ingredientes e fazemos os testes na cozinha de casa
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Encarar idas ao Zaffari como um “passeio” (válido para qualquer marca ou estabelecimento gaúcho). Quando comprou um carro, uma das primeiras coisas que meu namorado disse foi que “agora a gente podia ir ao Zaffari*” (moramos longe do único que existe em SP). Todas as amigas da terrinha que encontro por aqui dizem que sonham em abrir uma filial da Panvel na Av. Paulista para ficarem muito ricas aos custos dos gaúchos. E o xis, como os maravilhosos xises que encontramos em Canoas, Esteio? Não existe nenhum “xis” fora do RS, somente CHEESE, com pão de hambúrguer e outros alimentos gourmet. Pra quem vem da cultura do xis-coraçãocom-maionese-milho-e-ervilha-nosaquinho-plástico-branco, cheese é muito “palha”.
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Descobrir que as pessoas não conhecem mais da metade das expressões que você fala. Como assim só se fala “trinta com cinquenta reais” no Sul? E “me caíram os butiá do bolso”? E o NÉ? (É muito estranho ser a única pessoa na sala que fala e escreve “né”. Néam?)
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Ventilar de emoção ao deparar com uma cuca. Uma CUCA. É estranho pensar nisso, mas acredite: de Santa Catarina para cima, as cucas não existem. Como um amiguinho imaginário, se você sai do Sul do Brasil e fala sobre cucas, as pessoas te olham como se você fosse louco. “As cucas não existem, não existem não; as cucas só existem na sua imaginação!” Quer dizer, até existem – mas só em lugares muito específicos de culinária alemã ou gaúcha. (Entenderam o desespero que traz a saudade daquela massinha doce, coberta da melhor farofa do mundo? Combinada com NATA? Ou doce de leite? Ou os dois?)
4
Ser mal compreendido pelo uso da ironia. Antes de eu ir embora do Sul, fui avisada de que as pessoas consideravam os gaúchos um pouco grossos. Mas não pela maneira de tratar os outros, e sim pelo uso intenso do sarcasmo. Gaúcho faz piada com coisa séria e com coisa babaca também – a questão é que a gente faz piada e não ri depois. É, não ri. Fica sério, esperando a risada alheia. “Moço, você vai querer um bombom por apenas R$ 2?” “Meu cachorro morreu engasgado com um bombom.” (Cara de sério. Aguarda a risada do amigo, que não entende que trata-se de uma piada e acha que você é louco e/ou insensível.) Sofremos da famosa ironia incompreendida. Reprodução
Há quase três meses, troquei minha vida tranquila e feliz por uma vida maluca e (ainda mais) feliz em São Paulo. Me despedi da família, dos amigos, do trabalho, do Bom Fim, das bergamotas e dos cacetinhos da padaria. E se minha mudança foi para São Paulo, a de outros gaúchos pode ter sido para Rio, Curitiba, Brasília. Fato é que, independente da cidade, há certas reações e atitudes que unem os gaúchos em suas semelhanças culturais. Aliás, 10 atitudes cômicas que marcam TODOS os gaúchos que estão fora do Rio Grande do Sul (seja para morar ou para passear).
larissa gargaro, divulgação
COMPORTAMENTO
Ah, eu sou
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Achar estranho as pessoas entrarem às 9h e saírem às 20h do trabalho. Depois que me mudei para São Paulo, comecei a ter certeza de que morar no RS é como morar na praia. O maior choque de realidade é com o ritmo de trabalho. A história do “entrar às 9h, sair às 18h” não existe. Cada um faz seu horário maluco, mas tem MUITA gente que trabalha 10 ou 11 horas por dia e acha normal. Trouxe comigo a busca pela qualidade de vida: os gaúchos sempre dão um jeito de ter tempo para si, seja para um chimarrão ou para ler um livro.
ZERO HORA
ZERO HORA
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Buzinar para carros que tenham placa/ adesivo/adereço do RS. Assim como no interior, que todos se conhecem e se cumprimentam na rua, quanto mais longe você está do RS, mais “vereador” você vira. Se o carro tem placa do Sul, você buzina na rua e ainda grita um “aêêê”. Se encontra alguém falando “tu” no trabalho, no shopping, no ônibus, já sai perguntando “de onde tu é” e fazendo amizade. É um carnaval só.
Jean Pimentel, bd
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Reclamar do RS enquanto vive no RS; levantar a bandeira do RS quando está fora do Estado. Basta ter nascido humano para que isso aconteça. Tá lá, reclama da violência, do serviço, do transporte público, da falta de opção para sair à noite, da falta de dinheiro. Saiu de lá, sente falta do tempo, de chegar em 15 minutos a qualquer lugar da cidade, de gastar menos de R$ 50 em restaurante… Reclamar é humano (e não só gaúcho).
Rogério Fernandes, divulgação
Júlio Cordeiro, bd
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Comer ainda mais churrasco que quando vivia no RS. Você fica com saudades da terrinha e passa a descontar na carne. E na farofa, na salada de maionese. Isso sem contar que você vai encontrar amigos gaúchos na nova cidade – e, consequentemente, vai celebrar a amizade dos conterrâneos e dos nãoconterrâneos com belos microeventos regados a churrasco. Pode até ser sem picanha, maminha, mas que vai ter linguiça, pão com alho e cerveja, vai.
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Se achar o maior conhecedor de bergamota (ou, como dizem por aí, “mexerica”). Fato: sempre que deparar com uma bergamota sendo chamada de “tangerina” ou “mexerica”, você vai olhar com desprezo. Por quê? Porque a berga é a fruta mais tradicional do nosso inverno, e temos que tirar alguma vantagem disso. Ultrapassando as barreiras do “cheirinho” em estabelecimentos fechados, ela já virou ferramenta essencial de socialização na escola, no trabalho, no ônibus. Vai me chamar o troço de mexerica, tchê?
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Recusar-se a usar a palavra “você” O sotaque pode até ir se afastando com o tempo, mas por orgulho das origens, o “tu” sempre permanecerá.
8 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 23
BEM-ESTAR
Muito além do abacaxi
Q
uem nunca ouviu falar que aquele suquinho de abacaxi pode ser um aliado na hora de diminuir o inchaço? Até aí, tudo bem, porque a ingestão de alimentos diuréticos é um importante passo para quem deseja diminuir as medidas. Isto porque eles auxiliam na eliminação de líquidos e, consequentemente, contribuem para diminuir o inchaço no corpo. Mas será que é só isso?
– Os alimentos diuréticos auxiliam no controle hídrico e da pressão arterial. Através da diurese adequada são eliminados minerais e toxinas filtrados pelos rins – explica a nutricionista Patrícia de Souza, do Centro Clínico Gaúcho. Estes alimentos também são ótimas fontes de potássio e magnésio, minerais essenciais para o organismo e que auxiliam no controle hídrico, atenuando a retenção provocada pela ingestão
de sódio em excesso. O abacaxi é digestivo, fonte de vitaminas A e C, ferro e fósforo. Sua polpa é abundante em água, o que o torna um excelente diurético. A aveia em flocos geralmente não é lembrada por ser um alimento que não contém água em abundância, mas é um diurético, também rica em fibras e minerais. Podem ser citados ainda o kiwi, o limão, a maçã, a melancia, o melão, o nabo, o pepino e a salsa como ótimos aliados.
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Deve-se lembrar que a água é fundamental, pois seu consumo adequado evita a retenção de líquidos no organismo. Por reduzirem a quantidade de líquidos acumulados no corpo, o peso diminui, mas esse efeito é significativo principalmente nas pessoas que tendem a reter líquido. Porém, é importante lembrar que eles não reduzem a gordura corporal, não havendo assim emagrecimento. Na verdade, a pessoa diminui apenas o inchaço.
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SAÚDE XXXXX
1. Quanto mais alto e mais 3. Já que não tem jeito, vai fino, pior é o tombo um plataforma mesmo
Viciadas em
salto alto Andar nas alturas requer atenção a fim de evitar lesões e dores nas pernas
C
one, agulha, anabela, meia pata, plataforma. Considerado sinônimo de feminilidade e elegância, não há mulher que resista a um belo par de saltos altos, seja do tipo que for. Itens indispensáveis nos armários e closets, eles são uma das maiores paixões femininas – mas também podem viciar. E, quanto mais alto o salto, pior a dependência. Ortopedista e traumatologista, Luis Alberto Rubin explica que o uso contínuo de sapatos do tipo pode causar o encurtamento dos tendões de Aquiles, da musculatura traseira dos joelhos e das panturrilhas – os
Reprodução
ZERO HORA
chamados músculos isquiotibiais. Ou seja, usar salto todo santo dia faz com que as pernas se desacostumem com o uso de calçados retos. – Se a mulher usa salto com muita frequência, vai sentir dor e desconforto na região do calcanhar e das panturrilhas na hora de usar um calçado baixo ou até mesmo andar descalça – avisa Rubin. O hábito, assim, pode acabar se tornando uma dependência. Fica mais fácil escolher aquele sapato maravilhoso que garante 10cm a mais do que sentir o desconforto que uma eventual sapatilha pode causar. Mas viver nas alturas traz outros riscos: além de lesões e deformidades nos dedos menores, o calçado é responsável por pelo menos 90% das calosidades e 40% dos joanetes. Isto sem falar que, quanto maior o salto, pior é a saúde da coluna. A origem deste amontoado de malefícios é que o salto alto joga o peso do corpo todo para as pontas dos pés. Ainda assim, há casos e casos. – Algumas pessoas têm os pés com características que não são compatíveis com o uso do salto. Outras, no entanto, podem usar o salto a vida toda e não apresentar nenhuma reclamação – pondera o especialista. Resumindo: além de maravilhoso, o sapato perfeito precisa ser confortável e, principalmente, saudável – afinal, de que adianta estar linda e elegante num dia e mancando ou com dores nas costas no outro? Confira nossos cinco conselhos amigos sobre saltos e seja feliz.
Chama-se salto agulha o maior vilão de todos, já que o modelo não proporciona o equilíbrio de que corpo precisa na hora de andar. Ou seja, você vai sair toda linda do carro na hora de encontrar o novo affair, mas corre um risco iminente de acabar encontrando o chão e terminar a noite levando uma torção para casa. Se você não abre mão da altura, o ideal é trocar o modelo agulha por um salto um pouco menos fino.
O salto plataforma é o menos prejudicial de todos. Isto porque sapato ideal é aquele que deixa o pé paralelo ao chão, distribuindo justamente o peso do corpo por todo o pé (grupo ao qual também pertencem as rasteirinhas).
4. Variar faz bem O segredo para não precisar abrir mão do salto e não prejudicar a saúde é variar. Que tal optar por uma sapatilha na segunda-feira, um flat na terça, um gatinho na quarta, um vírgula na quinta e deixar o saltão para a sexta-feira?
2. Um anabela pode ser um belo aliado Não quer perder a pose e nem exigir muito dos pés? Um salto anabela pode ser uma boa opção: além de não ser muito inclinado, possui espaço para amortecimento do pé. O risco de uma queda é menor com saltos retangulares, que apresentam uma superfície de contato com o chão maior, aumentando a estabilidade. Outra coisa que ajuda é uma meia plataforma na frente.
Você está sempre em movimento. Trabalho, academia, compras, cuidando das crianças, tomando decisões que uma mulher como você deve tomar. Tantos compromissos assim têm uma razão: você é independente. E essa liberdade não tem preço. Essa rotina agitada exige muito das suas pernas. Por isso, é importante tomar cuidados especiais com a saúde de suas pernas, como descansar um pouco. Além disso, na época mais quente do ano, é comum surgir sensações de cansaço, de peso, inchaços e dores – podem ser sintomas de varizes. O bom é que você não precisa se preocupar, porque existe Antistax para aliviar estes sintomas. Antistax é um produto fitoterápico, de origem natural com eficácia comprovada na prevenção e tratamento de sintomas de varizes (tais como:
5.UmsocorroàsASA, “ApaixonadasporSaltoAlto” Alongamento! Isto mesmo, alongar pode ajudar a vencer a dependência do salto. Atividades físicas também são sempre bem-vindas, já que trabalhar os membros inferiores pode ajudar a diminuir as consequências do uso excessivo de calçados com salto.
inchaço, peso nas pernas, cansaço, sensação de tensão e formigamento)1. Sua fórmula contém flavonóides, com poder anti-inflamatório, extraídos das folhas de uva vermelha. Isso fortalece as paredes das veias, melhora a circulação e reduz o inchaço, aliviando os sintomas de varizes. Viu como é fácil cuidar de suas pernas? Tanta facilidade assim para você poder continuar bela, com saúde, e sem abrir mão dos melhores momentos da vida.
Antistax é um medicamento. Seu uso pode trazer riscos. Procure o médico ou o farmacêutico. Leia a bula. Indicações: Sintomas de varizes. Contraindicações: hipersensibilidade a qualquer um dos componentes da fórmula. MS: 1.0367.0163.003-1. SAC: 0800 701 66 33. Se persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado. Referência: 1. Bula do produto. Mar15
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A linguagem RIBEIRO
celia.ribeiro@zerohora.com.br
ONTEM Os noivos, quando começavam a conviver com os futuros sogros, jamais os tratavam por você ou tu: era senhor e senhora, mesmo que estivessem na faixa dos 40 anos. O noivo ou a noiva hospedado na casa deles ficava em quarto separado. O noivo, ao retornar do veraneio, enviava um ramo de flores para a futura sogra.
HOJE Os namorados bem-educados começam tratando os sogros por senhor e senhora e aguardam que o casal peça para usar de menos cerimônia. E os agradecimentos? Um namorado se comporta como hóspede. No veraneio, é uma gentileza levar bombons para a dona da casa. Flores, ao retornar à cidade, já é mais raro. Mas todo gesto de boa educação enraizado em costumes do século passado é bem avaliado. Quem não aprecia um agrado?
H
do olhar
á uma linguagem sem palavras no olhar atento, que tanto pode ser sinal de consideração pela pessoa que cumprimentamos, sem ou com aperto de mãos, como de interesse por quem está falando. E também de disponibilidade. Há dois exemplos bem comuns que envolvem a vida profissional: vendedores de loja que não olham para o cliente que chega e garçons que ficam de costas para os clientes em torno das mesas, conversando com os colegas, em vez de percorrer seu olhar atento ao entorno, verificando se há algum que esteja inquieto tentando chamá-lo com um gesto. Só assim será evitado o desagradável “PSIU!” em alto som por parte de quem necessita de um serviço. Algumas vezes, a linguagem da troca de olhares de duas amigas numa sala com visitas pode ser cumplicidade de ironia e crítica do que está sendo falado pelas outras. Sustentar esse olhar com uma delas não é uma boa, pode ser percebido por quem está fazendo o comentário. A nova geração de namorados, acredito que não saiba bem o que é flerte, hoje sinônimo de paquera ou uma breve relação sem compromisso. Havia uma frase comum entre as moças até os anos 1950 do século 20: – Fulana flertava com Beltrano na
Envie sua pergunta para a Celia: contato@revistadonna.com ADRIANA FRANCIOSI, BD
CELIA
ETIQUETA NA PRÁTICA
Rua da Praia até ele se resolver a falar com ela. Aquele tempo passou, mas ainda hoje tudo começa com um olhar de interesse. Os tempos mudaram, pois hoje o olhar atento deve ser para evitar assaltos. Especialmente ao parar o carro, quando se deve manter o olhar no entorno e, sempre que se detectar alguém suspeito, seguir adiante para retornar mais tarde ao local. Mas um olhar amistoso e até risonho ainda vale muito para atrair simpatia, fora de interesses maiores.
“No homem de gênio, a razão tomou um espaço considerável; na criança, a sensibilidade ocupa quase todo seu ser. (...) É a essa curiosidade profunda e alegre que se deve atribuir o olhar fixo e irracionalmente extático das crianças diante do novo, qualquer que seja ele, rosto, paisagem, luz, cores, tecidos furta-cores, encantamento da beleza embelezada pela toalete”. CHARLES BAUDELAIRE (1821-1867)
CÁLICE DE ESPUMANTE “Nosso apartamento é de dois quartos, com uma sala pequena e cozinha aberta. Há pouco espaço para guardados. Pergunto se preciso adquirir aquele copo estreitinho para servir espumante.” ANDRÉ – Pode usar os cálices de vinho. Li numa coluna do jornal O Globo que há uma forte tendência de servir espumante em cálice de vinho transparente e incolor. O Instituto Brasileiro do Vinho divulgou que esta “onda” vem da Itália para favorecer os vinhos tintos deles. Mas revela-se muito prática para espaço e orçamento pequenos. E, pensando bem, espumante também é vinho.
CANETAS COLORIDAS “É incorreto preencher cheques ou escrever a correspondência particular com tinta vermelha ou verde? Não sei se há alguma regra de etiqueta contra.” LUIZ – É com tinta vermelha que são feitas as correções de texto para chamar bastante atenção; a de cor verde é considerada fantasiosa. Tinta negra ou azul marinho são as corretas, inclusive para correspondência particular. Com o uso comum das canetas Bic, aparece muito cheque com letra vermelha, não aceita por alguns bancos, e sempre deselegante.
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a contramão do fast food, o movimento slow food preza a comida preparada lentamente, com ingredientes naturais, priorizando os orgânicos e incentivando a experiência gastronômica. Sandra Gasparotto e Juliana Alovisi podem ser consideradas propagadoras deste estilo de vida. A dupla está à frente do Piperita, café e butique de produtos naturais que vem chamando a atenção na Rua João Telles, 522, em Porto Alegre. Batizada com o nome italiano da planta medicinal hortelã-pimenta, a loja com ares de armazém foi adotada pelos moradores do bairro Bom Fim:
– Por aqui, anda-se muito a pé. Temos clientes que vêm todos os dias, então criamos uma relação de afeto, participamos da vida dos nossos vizinhos – explica Juliana. Focadas na importância de uma boa relação com a comunidade, as sócias acreditam que o atendimento é o que faz a diferença, além de procurar estudar a procedência dos produtos comercializados. – A ideia é deixar as pessoas à vontade para experimentar e conhecer o espaço – completa Sandra. Atrativo à parte é a decoração do ambiente, que reúne tulhas, caixas de feira e objetos antigos doados pelos familiares das
proprietárias – participantes ativos da construção do local. E a cereja do bolo? Fica por conta da biblioteca, batizada de Livros Livres. Em um canto nobre do local, é possível retirar os títulos para empréstimo ou apreciar a leitura por lá mesmo. Adeptas do budismo, as duas têm por hábito varrer a loja entoando mantras a cada manhã para manter a energia positiva. – O nutriente espiritual é o mais importante, o que faz desenvolver suas melhores habilidades, e é isso o que queremos oferecer – finaliza Sandra. *Colaborou Gabriele Branco
Fernanda Pandolfi assina de segunda a sábado a coluna Rede Social, no Segundo Caderno de Zero Hora
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ZERO HORA
Por Vitor Raskin deuochic@deuochic.com
Duda Lanna, Divulgação
Tiago Trindade, especial
SOCIAL
CULTURA Por Roger Lerina roger.lerina@zerohora.com.br
TRIP PSICODÉLICA
Cheia de charme: Marta Faria Correa Alves Hoffmann circulou entre Uruguaiana, Florianópolis e Punta del Este na temporada de verão
O artista visual Duda Lanna é o único brasileiro que está participando da terceira edição do festival itinerante de arte e filmes psicodélicos Tripoteca, que começou no dia 10 de fevereiro, em Toulouse, na França. O porto-alegrense foi selecionado com o trabalho reproduzido à direita. O evento internacional inclui exibições de curtas, animações e vídeos, além de mostras de arte e de instalações. A Tripoteca – que significa algo como “coleção de viagens” – vai passar em abril pela Bulgária e chega à Grécia no fim de maio.
TERESINHAS NA ESTRADA Marcelo Zago em noite badalada de fevereiro Fernanda Pozzebon no melhor estilo da tarde de moda que movimentou a turma conhecida
O espetáculo gaúcho de dança contemporânea Teresinhas foi contemplado com os editais de circulação dos Correios e do projeto Boticário na Dança para circulação no Brasil. A montagem assinada pelo coreógrafo Paulo Guimarães vai passar neste ano por 10 capitais: Curitiba,
Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Manaus, Porto Velho, Natal, João Pessoa e Recife. Inspirada em Vinicius de Moraes, a coreografia acompanha a trajetória de uma mulher e suas escolhas em diferentes etapas da vida. Em cena, oito bailarinas entre 30 e 70 anos interpretam a personagem principal. Mylene Rizzo, Divulgação
As amigas Ursula Costa e Zulma Veloz participaram da inauguração da primeira concept store de chocolates Neugebauer
VIAJANTES PROFISSIONAIS
Fernanda Maisonnave (E) recebeu homenagem por seu trabalho no almoço oferecido pela The Leading Hotels of the World no restaurante Hashi. Mara Inês Spier foi recebida por João Annibale (D), que trouxe mais de 20 diretores de hotéis de luxo do mundo para o evento
Vitor Raskin publica no site deuochic.com
ZERO HORA
Morram de inveja: Clarisse Linhares e Mylene Rizzo são viajantes profissionais. A dupla já rodou o mundo em busca de experiências novas em aventura, arte e gastronomia. A partir desta segunda, as moças inauguram no Pátio Ivo Rizzo a exposição Experiências de Viagem, reunindo em mais de 30 fotografias as andanças por países como Peru, Rússia, Itália, Tailândia, Camboja, Marrocos, Laos, Índia e Egito.
– Queremos mostrar o que acreditamos ser a verdadeira sensação de viajar, que é ir além do script, ousar, mudar antigas certezas, se permitir – explica Mylene, autora da bela imagem aí acima, clicada em um acampamento em Bivouac, no Marrocos. Na abertura da mostra, às 19h, Clarisse e Mylene falarão em um bate-papo sobre os seus próximos destinos de viagem.
Roger Lerina assina de segunda a sábado a coluna Contracapa, no Segundo Caderno de Zero Hora
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E a poligamia?
FABRÍCIO CARPINEJAR carpinejar@terra.com.br @ fabriciocarpinejar @carpinejar /fabriciocarpinejar
S
e a poligamia fosse lei, nada seria fácil. Alegria em excesso desanda em embriaguez e termina em ressaca e dor de cabeça. O prazer em dobro triplica a incomodação. Imagine vocês, mulheres, com a possibilidade de se casar com dois homens.
Marmanjo junto é máfia de criança. Eles ficariam na sala jogando videogame nas folgas, gritando, bebendo cerveja e pedindo mais uma revanche. Voto minoritário na programação, perderia o comando da tevê, não contaria com a complacência para assistir a seriados e filmes românticos. Seus dois maridos seriam melhores amigos, alimentariam segredos entre si e responderiam tudo de maneira monossilábica para evitar discussões. Restaria o chuveiro para chorar. A privada nunca teria a tampa abaixada, os frascos e as garrafas jamais estariam bem fechados, as bandejas de gelo morreriam vazias. Os homens de casa fariam aquelas porquices masculinas – arroto, flatulência, palitos e cotonetes sujos em lugares im-
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prováveis – e passariam o dia impunes porque estariam em maioria dentro da residência. Uma toalha molhada na cama irrita, agora ponha duas em sequência e os lençóis formarão um repentino banhado. Pense o que seria dirigir um carro com dois copilotos palpitando sobre o melhor caminho ou pressionando para estacionar numa vaga do tamanho de uma bicicleta? Raciocine a frustração de aparecer com corte novo no cabelo e nenhum dos dois reparar a mudança. Mentalize o constrangimento de dissuadir sexo ao despertar com dois homens excitados roçando suas pernas quando você ainda nem escovou os dentes ou tomou café da manhã. Pois é. O paraíso mora dentro do inferno. Agora sonhem vocês, ho-
mens, com a chance de subir ao altar com duas mulheres ao mesmo tempo. O que significaria contentar duas sogras? Aguentaria almoçar na casa de uma no sábado e depois em outra no domingo? Sabe o desespero que é quando uma mulher não consegue hora com sua manicure? Pois preveja duas não conseguindo um encaixe e entrando em pânico. Multiplique a demora para sair a uma festa, tem paciência? Acompanharia a dupla pelo rali dos provadores dos shoppings? Onde deixará suas roupas ao dividir o armário com duas mulheres? Na despensa da cozinha? Dentro de uma mala debaixo da cama? Se é uma maratona fazer uma mulher gozar, como satisfazer duas? Não poderia pregar os olhos antes de cum-
prir a tabela. E não invente de adiar o prazer de uma delas para o dia seguinte sob o risco de difamação. Seria obrigado a decorar duas datas de aniversário, de início de namoro, de primeiro beijo, de primeiro abraço, de primeiro jantar, de primeira festa, afora peculiaridades de gostos e tamanhos da roupa. E nunca poderia confundir a com b, o que geraria uma crise ciumenta sem precedentes. Casado com duas mulheres, gastaria metade de seu tempo curtindo e comentando as fotos delas nas redes sociais. E ai se visualizasse uma mensagem no whatsapp e não respondesse no ato. Ou se respondesse uma e esquecesse a segunda. A exclusividade é um luxo. Não reclame de monogamia. Não é à toa que o Carnaval só dura quatro dias.
ZERO HORA
Da Rússia ao Oscar
CLAUDIA
A
TAJES Fotos reprodução
claudiatajes@uol.com.br
O Putin gosta mesmo é de outro tipo de renda Aiatolás na direção: isso sim é perigo constante
Mulheres unidas contra a opressão
Ganhou o Oscar e pediu igualdade
ZERO HORA
té bem pouco eu era da ala que menosprezava o Dia da Mulher. Se alguém me desse parabéns, recebia de volta um latido. À rosa vermelha entregue na entrada do supermercado, respondia com o meu desprezo. Sem falar que deviam entregar a tal da rosa na saída. Não é nada prático fazer o rancho com uma flor na mão. • Pela natureza da minha profissão, faço parte de uma minoria – e bota minoria nisso – que não enfrentou grandes disparidades salariais ou casos graves de assédio moral pelo caminho. Não que não tenham existido. De uma posição assim protegida, com que direito eu posso menosprezar uma data que se refere à imensa maioria que sofre com situações muito diferentes da minha? • As notícias batem todos os dias na nossa cara e lembram que ainda falta muito para que as mulheres sejam respeitados mundo afora. Exemplo é um apanhado de algumas das leis mais ridículas contra a liberdade feminina – das que parecem piada às que remetem à Idade Média. E o pior: todas estão em vigor neste 8 de março de 2015. Vamos a elas. • Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão proibiram a venda, importação ou fabricação das calcinhas de renda. O argumento oficial é o de que “a vestimenta não deixa o corpo respirar”. Houve passeatas de repúdio à bobagem – e os homens desfilaram com calcinhas de renda na cabeça. • No Iêmen, depoimentos de mulheres não
são reconhecidos nos tribunais – a menos que haja o testemunho de um homem. Em casos de adultério, difamação, calúnia, roubo ou sodomia, elas são proibidas de depor. Também não podem sair à rua sozinhas. • Em Malta e no Líbano, qualquer crime é perdoado se o agressor se casar com a vítima. Os mais comuns são sequestro e estupro. • Na Arábia Saudita e no Marrocos, as mulheres estupradas são culpadas se tiverem saído de casa sozinhas ou ficado na companhia de um homem estranho. • Ainda na Arábia Saudita, mulheres não podem dirigir. A justificativa oficial é a de que, para isso, teriam que mostrar o rosto – o que é terminantemente proibido. • Já no Brasil presidido por uma mulher, os salários seguem desiguais e o aborto continua na clandestinidade. E matando milhares por ano. • E para quem achava que a única preocupação das atrizes era o vestido com que iriam ao Oscar, a vencedora Patricia Arquette mandou um recado: “É hora de ter igualdade de salários de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos”. Na plateia, Meryl Streep urrava e Jennifer Lopez aplaudia. Se está difícil para elas, o que sobra para a gente? • Por isso, a todas as companheiras, feliz 8 de março. E que, muito mais que rosas vermelhas na entrada do supermercado, não falte respeito o ano inteiro.
8 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 33
MARTHA
MEDEIROS marthamedeiros@terra.com.br /marthamattosmedeiros
A
dolescente, passei de ano. Por média. No ano seguinte, fiquei em recuperação, mas passei de novo. Já não era tão obediente. Enfrentava os pais. Achei que assim viraria uma adulta. Ilusão. Transei pela primeira vez. Aprendi o que era amor, porém mais adiante me atrapalhei com a dor, não soube rimar os dois. Comecei a trabalhar. Ganhar dinheiro nos dá alguma independência, mas ainda não. Adulta mesmo, ainda não. Formatura, o próprio nome diz. Formada. Feita. Pronta. Habilitada. Parece que sim, mas ainda é uma ilusão, apenas nomenclatura, força de expressão. Carteira assinada, avancei na profissão e fui morar sozinha. Adulta, por fim. Mas tinha medo na hora de dormir, não sabia preparar um reles macarrão, comia congelados e a roupa ainda era lavada no tanque da família. Só morar sozinha não basta. Ganhei prêmios, fiz um nome, aumento de salário. Para logo
Oficialmente
adulta ali na frente ser demitida por ausência de esforço, a cabeça mais para poesia do que para prosa. Adulta eu parecia, mas no fundo eu sabia que faltava. Li tudo o que caiu em minhas mãos. Velhos safados, romances policiais, literatura feminista, novos autores, realismo fantástico. Peguei emprestado um monte de sabedoria para elaborar a minha. Sobrevoei o oceano, viajei só com minha mochila, percorri países em trens, dormi na casa de estranhos, fiz uma verba minúscula render dois meses e voltei sem nenhuma cicatriz e com autoconfiança escapando pelos bolsos. Parecia adulta, mas então as perguntas não respondidas voltaram a assombrar. Dependia de outros aniversários para declarar-me pronta. Casei. Virei a senhora de alguém, a senhora de mim mesma. Engravidei. Duas filhas. Casa própria. Perigosamente, a vida ganhou um sentido. Separei. Recomecei. O sentido mudou. Os versos que fazia de brincadeira evoluíram para alguma
34 DONNA ZH 8 DE MARÇO DE 2015
coisa de verdade e eu virei, de repente, escritora. E como escritora inventei respostas, amadureci em público, acreditaram em mim mais do que eu mesma acreditava, estive muito perto, perto mesmo, de ser declarada oficialmente adulta. Um dia antes da posse é que a gente descobre. Não é o amor sacramentado, não é o destino honrado, não é o rosto marcado, não é o corpo amaciado, não é o sofrimento acumulado, não é o cérebro bem ensaiado, não é a quilometragem rodada, não é nada disso que nos contaram. Oficialmente adulta me declarei no instante em que descobri que nenhum mistério se decifra e que sempre saberei muito pouco. As perguntas se renovam, acumulam, vão e voltam trazendo ainda mais indagação. Porém, a incerteza de repente deixa de assustar, a vida vira um passeio, aprende-se a gostar das pausas, já não é preciso nenhuma perseguição. Oficialmente adulta, por fim? Pensando bem, quase lá, mas ainda não.
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