Revista Donna

Page 1

Zero Hora, domingo, 22 DE MARÇO DE 2015

ESPECIAL MODA

OUTONO-INVERNO 2015

Menos hippie e mais elegante, os anos 1970 são a década de ouro no guarda-roupa da

nova estação

Sem naftalina



EDITORA-ASSISTENTE Marianne Scholze REPÓRTERES Patrícia Lima Thamires Tancredi DESIGNER Melina Gallo ASSISTENTE DE CONTEÚDO Dimitriu Ritter

NA CAPA Ana Ivete (Ford Models) FOTO Tauana Sofia GERENTE DE MARCA DONNA Patrícia Fraga GERENTE DE PRODUTO DIGITAL Camila Tavares COORDENADOR DE PLANEJAMENTO Fellipe Faria Luiza Cauduro (assistente) DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIOS Bruna Arrieche ANALISTA DE MARKETING Marina Ciconet

www.revistadonna.com contato@revistadonna.com

instagram.com/revista_donna pinterest.com/revistadonna facebook.com/revistadonna twitter.com/revista_donna

AMA MAKE? A GENTE TAMBÉM!

Sim, make addicts, estamos repletas de novidades para vocês! Nesta semana, estreamos em revistadonna.com o blog da Taís Andrade, que assina os tutoriais de maquiagem do nosso canal no YouTube. Por lá, você vai ver os lançamentos mais bacanas do mundo dos pincéis, além de vários passo a passo para aprender a se maquiar em casa. Quer deixar a sobrancelha marcada, mas tem medo de que fique over? Taís ensina os truques. Além do blog da Taís, na última semana também acompanhamos de pertinho a chegada da coleção da musa digital de beleza Julia Petit em parceria com a M.A.C. Cosmetics. Conversamos com a blogger sobre a linha, que chegou às lojas nos últimos dias, e te mostramos os detalhes dos produtos na nossa seção Beleza. Quem nos segue no Instagram @revista_donna também acompanhou de pertinho as dicas de make da blogger durante a masterclass de make em São Paulo. Que tal nos seguir, hein?

Wa

xe m

• • • •

Jo

REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIA AV. ERICO VERISSIMO, 400 – 5º ANDAR | AZENHA | CEP: 90160-180 | PORTO ALEGRE – RS | TEL. (51) 3218-4300

b e rg , Es t ú d i o

M

ASSISTENTE DE EVENTOS Maria Eduarda Santos

WWW.REVISTADONNA.COM

Reprodução

DIAGRAMAÇÃO Aluísio Pinheiro

Sempre que a gente prepara uma edição de moda para marcar a troca da estação, ficamos torcendo para que os termômetros entrem no nosso clima. Não tenho bola de cristal, mas os aplicativos de meteorologia estão aí para auxiliar nossa vida – e tudo indica que estamos com sorte. A temperatura lá fora, que hoje, quarta-feira, 18, ainda bate na casa dos 30ºC, vai cair a partir deste fim de semana para estrear com pompa e circunstância a chegada do outono, uma das estações em que nossa cidade apresenta uma das iluminações naturais mais lindas que existe. É tempo de se sentar no parque para tomar chimarrão e comer bergamota, é tempo de casaquinhos de meia-estação, de café com leite com pão de mel, de passeios agradáveis de bicicleta, daquele frescor matinal e do aconchego da manta para aquecer a noite, que ainda permite algumas janelas abertas para deixar entrar o sereno da madrugada, renovando energias e o ar do ambiente. Na nossa capa, é tempo de anos 70 na moda – do boho que deu o pontapé inicial na década, ainda sob efeito de Woodstock (1969), ao estilo disco queen que dominou as pistas do Studio 54. Como cachorreira apaixonada e inveterada que sou, defendo com unhas e dentes – e o perdão do trocadilho, mas foi irresistível – a leitura da matéria Alerta de Amor, na página 24. Apresentamos 10 sinais visíveis de que nosso amigão de quatro patas pode estar doente – e a ida o mais rápido possível ao veterinário torna-se urgente. Para terminar, um pedido de sinceras desculpas a toda a equipe envolvida no editorial de moda da edição passada, que trouxe na capa a top Dani Witt. Esquecemos de creditá-los. Obrigada s pelas fotos, Fernando ho Rezende; obrigada pela beleza, Ana Ferrary; obrigada pelo styling, Roberta Weber; obrigada pela assistência de styling, Flavia Bergallo; e obrigada pela locação, Instituto Ling. Muito, mariana.kalil@revistadonna.com muito obrigada. yt

EDITORA Mariana Kalil

CARTA DA EDITORA

@dimitriuritter Dimitriu

@mari_kalil Mariana

@marischolze Marianne

:

O USA

DEL A MO

@melina_gallo Melina

@thamiiis Thamires

@patilimareporter Patrícia

Máscara para cílios Splendor Effect 2 em 1 – Universe Collection – R$ 65,99

Batom Velvet Cosmic Coral – Universe Collection – R$ 34,99

Delineador Eclipse Deep Black – Universe Collection – R$ 49,99

ZERO HORA

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH

3


VENDA EXCLUSIVA NAS LOJAS PANVEL OU PELO SITE PANVEL.COM

a c n u n u Ser yoo na moda. esteve tã

Esfoliante Corporal 290 g

Loção Hidratante 150 g

Sabonete líquido 240 ml

Body Splash 190 ml

Serum Hidratante 50 g

R$

R$

R$

R$

R$

19 ,90

12 ,90

10 ,90

16 ,90

24 ,90


De posse de algumas informações que venho acumulando por pura curiosidade a respeito deste tema (comportamento humano me interessa bastante), arrisco dizer que a juventude que está aí promete fazer parte de uma humanidade mais evoluída em questões básicas e aparentemente óbvias, a começar pela sustentabilidade.

POR AÍ Por Mariana Kalil facebook.com/kalilmariana

@mari_kalil

Fotos Reprodução

Muitas das palestras a que venho assistindo nos últimos tempos, sejam elas ao vivo ou via internet – a maioria ministrada por empreendedores e executivos de grandes empresas e corporações do Brasil e do mundo –, têm como tema a tentativa de entender e decodificar o que deseja o jovem de hoje, que será a grande força financeira e motivadora do amanhã.

É como se uma turma de jurássicos estivesse espiando (alguns em pânico) essa juventude pela fechadura da porta e enxergando do outro lado uma legião de ETs que falam outra língua prestes a ocupar o planeta Terra. Mesasredondas são montadas, discussões são feitas, debates, monitoramento em redes sociais – tudo na busca do entendimento de quem são eles, o que querem, o que pensam, no que acreditam, o que comem, o que vestem.

ZERO HORA

O foco dessa juventude está cada vez mais no humano, no compartilhamento de informações e interesses. A ideia não é ser dono da razão, mas dividir conhecimento. Agir de forma mais horizontal e menos vertical. Aquela velha frase “manda quem pode, obedece quem tem juízo” não terá vida longa. Num futuro que já chegou, a era é a da divisão de conteúdo e conhecimento. Uma forma horizontal de se relacionar. É uma geração menos egoísta, que deseja ter mais acesso e menos posse. Quer, por exemplo, um transporte que o leve até a universidade, mas não precisa necessariamente ser proprietário de uma supermáquina. Anseia por serviços e experiências, não por acúmulo de bens materiais.

A questão que norteia a escolha deles por algum emprego não é “o que vão fazer”, mas ”por que vão fazer” – e o que o mundo pode ganhar com isso. Vida, prazer e trabalho não estão dissociados. Tudo tem que fazer sentido.

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH

5



indica

contato@revistadonna.com

OUTONO ATEMPORAL

ZERO HORA

fabricados em série e em grandes quantidades –, traz vestidos, blusas e camisas confortáveis, práticos e contemporâneos, que podem acompanhar tanto o dia a dia no trabalho quanto um happy hour ou jantar. Estampas exclusivas, feitas pelas próprias artistas, materiais tecnológicos e modelagem única tornam as peças uma espécie de clássico. Com a técnica de colagem têxtil, as gurias reaproveitam retalhos e tecidos para criar novas texturas e efeitos visuais inovadores. Os preços são convidativos: boa parte das peças gira em torno de R$ 200. Quer conhecer? O ateliê fica na rua Dr. Armando Barbedo, 1.091, na Zona Sul de Porto Alegre.

Contextura, Divulgação

É possível unir, quando o assunto é moda, conceitos como reaproveitamento e originalidade? Exclusividade e preço justo? Contrariando as expectativas, é, sim. Com criatividade e uma proposta inovadora, as designers Anne e Evelise Anicet, do Ateliê Contextura, lançaram a coleção outono 2015 provando que moda diferente não é somente possível – é muito interessante também. Característica que não poderia faltar em uma coleção idealizada por designers cujo ateliê também é uma galeria de arte, as peças da coleção Materiais Expressivos 2015 são fruto da mistura de pesquisa e criação autoral. Baseada no conceito de slow fashion – que anda na direção contrária de produtos

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH

7


COMPORTAMENTO

Entre ser feliz e estar certo Líder pacifista Rajshree Patel afirma: um dos segredos do relacionamento bem-sucedido é abrir mão do controle Donna – A senhora afirma que o desejo de estar sempre m uma de suas certo e a ilusão de controle tantas palestras permeiam os relacionamentos pelo mundo, modernos. O quanto isso poRajshree Patel de prejudicar a harmonia do conta uma histó- casal e como evitar que isso ria prosaica, mas que, de cara, aconteça? coloca o espectador para penRajshree – Estar certo não sar. Durante o tempo em que a se trata de ter harmonia. líder humanitária compartilhou Estar certo trata-se de estar o mesmo teto com um casal, certo. Você se orgulha de ela passou a escutar, todos si mesmo, mas o seu paros dias pela manhã, a dupla ceiro não. No minuto em brigar pelo mesmo motivo: a que você se considera certo, forma (sempre errada, na visão você faz seu parceiro estar do cônjuge) de apertar a pasta errado, mesmo sem querer. E de dentes. Lá pelas tantas, em ao fazer o seu parceiro panome da harmonia, Rajshree recer estar errado você cria apareceu em casa com preseparação, o ego é abalado, sentes: um tubo do produto a distância acontece, o respara cada um deles. O exemplo peito e o amor são perdidos pode ser corriqueiro, mas serve e, obviamente, a harmonia para ilustrar o quão é pequena é perdida. Então, você pree fácil de resolver boa parte cisa decidir qual o objetivo dos desentendimentos que, do relacionamento. Trata-se conforme a pacifista e confede você estar certo? Neste rencista da ONU, substituem caso, você estará certo e seu união por distância nos relaparceiro errado, e você acacionamentos humanos. bará dormindo sozinho, pois O jeito calmo, a fala pauninguém que é considerado sada e os olhos que sorriem errado quer compartilhar só reforçam a habilidade de tempo nem espaço com você. Rajshree em transmitir conhe- Portanto, decida qual o objecimento profundo de forma tivo, reconheça que devemos prática e acessível. De família ter companheirismo para indiana, ela nasceu em Ugan- poder compartilhar, cuidar e da e foi para os Estados Unicrescer juntos. Se este for o dos aos 10 anos. Lá, formou-se seu objetivo, você escolherá em Direito e trabalhou como as batalhas que são imporpromotora federal até 1989, tantes e não se importará em quando conheceu o fundater sempre razão. A maioria dor da ONG Arte de Viver, o das pessoas quer parecer cerindiano Sri Sri Ravi Shankar. ta para mostrar sua própria Passou então a dedicar-se à independência, mas a verdamissão de ensinar as pessoas de é que no mundo, em nosa ter uma vida mais produtiva sos relacionamentos, somos e feliz, controlando o estresse interdependentes. Quando e cultivando relacionamentos sabemos disso, vai além da mais harmônicos. independência. LAURA COUTINHO

E

Para Rajshree, reconhecer que não temos controle sobre os relacionamentos e as pessoas é o primeiro passo para alcançar a felicidade

8 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

Diorgenes Pandini

ZERO HORA


Donna – Quais são as ferramentas que podem nos ajudar a abrir mão do controle? Rajshree – Reconhecer que é uma ilusão. Não temos controle sob nossos pensamentos, emoções ou mentes, mas temos a ideia de que temos controle. O mundo funciona por si só, mesmo se fizermos algo ou não. Quando você deixa o controle, aí então você toma as rédeas da sua vida. Não controlando e nem reprimindo, mas com liberdade para fazer uma diferença na sua vida e na vida de todos ao seu redor. Donna – Como abandonar nossas posições sem que isso signifique abrir mão da nossa personalidade? Rajshree – Sua personalidade não é a sua posição. Posições mudam o tempo todo, seus gostos e desgostos mudam continuamente. Se você realmente quer manter

ZERO HORA

quem você é e a vibração de sua personalidade, é bom soltar e se desprender de qualquer posição, para que a cada momento você possa ser novo, fresco e cheio de vida. Isso vale a pena manter. Donna – A senhora afirma que a respiração correta é uma das chaves para uma vida melhor. Por que isso é tão importante? Rajshree – Essa é a fonte de sua vida. O seu primeiro ato ao vir a este mundo foi inspirar, e o último será uma expiração. O que não percebemos é que é a forma mais rápida e poderosa de trazer energia ao nosso sistema. Quando estamos sem energia, tudo desaba. Quando estamos cansados, quando não temos energia, acabamos não valorizando nem os relacionamentos, nem as pessoas importantes ao nosso redor, porque a energia tem um papel vital para nos

sentirmos vivos e vibrantes. A respiração tem uma capacidade enorme de lhe dar a força vital de que você precisa para lidar com desafios profissionais e pessoais. Outro aspecto da respiração é que ela confere a habilidade de se livrar do que você não precisa. Toda vez que você expira, você alivia algo. Aprender com uma pessoa treinada pode ajudar a limpar o que você não precisa e desbloquear a mente. Donna – Qual seria a respiração adequada para ajudar em um momento de estresse? Rajshree – Em qualquer situação, em casa, no escritório, nas ruas, dirigindo, você percebe que o estresse cria uma resposta estressante na respiração. Corpo, mente, respiração e emoções estão interligados. Então, quando você tem emoções como raiva, medo, preocupações, an-

siedade, tensão ou crises de pânico, sua respiração muda e se torna muito específica em relação a estas emoções. A forma correta é respirar a respiração da emoção que você quer. Quando estamos calmos, relaxados, amáveis, em paz, aceitando, aí nossa respiração tem um ritmo diferente, mais tranquila. O truque é reproduzir essa respiração da paz, aprendendo seu ritmo. Leva alguns dias para aprendê-lo, mas depois, quando você respirar a respiração do relaxamento, você vai transformar estresse em calma. Donna – Qual é a verdadeira arte de viver? Rahsree – É a habilidade de apreciar as coisas, de ver o sagrado e honrar os momentos que são dados a você. Os desafios nos tornam mais fortes, e a alegria está aí para fazer você aproveitar a vida e seguir em frente.

5 SEGREDOS DE UMA BOA RELAÇÃO

1

Comunique, comunique, comunique. Não apenas comunique os fatos, mas confie o suficiente em seu parceiro para comunicar os níveis mais profundos de seus pensamentos e sua percepção de si mesmo.

2

Confie e tenha fé de que seu parceiro está com você porque é feliz ao seu lado.

3

Esteja em um relacionamento para dar, e não para receber.

4 5

Tenha comprometimento.

Saiba qual é o seu objetivo: você quer estar certo ou você quer harmonia?

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH

9


CAPA

That 70’s Show ESTILO Alfaiataria sequinha Calça flare (aquela com a boca mais larga) Franjas Casaco+colete Cintura marcada

Macacão Thelure, casaco H&M, sandália Arezzo, cinto Maria Filó, acessórios ULM

10 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

ZERO HORA


Nostalgia

setentista

N

enhuma década esteve mais presente nas coleções nacionais e internacionais apresentadas nesta temporada do que a de 1970. Marcando território em quase todas as passarelas de grifes poderosas como Gucci, Yves Saint Laurent, Pucci e Max Mara, entre outras, a tendência aparece mais elegante e menos hippie – para ir do escritório à balada. As peças vão desde a alfaiataria sequinha, calças flare (aquelas com a boca mais larga), materiais como couro, camurça, pele fake e jeans, e detalhes como franjas, para dar um toque de ousadia e sofisticação. A paleta de cores do outonoinverno agrega aos sempre elegantes preto e cinza os tons camelo, bordô, magenta e verde militar. Nos acessórios, o clima nostálgico da época chega por meio de plataformas nas alturas, lenços (para serem usados no pescoço ou na cabeça), brincos statement e o estiloso chapéu de feltro. Uma dica bacana é marcar bem a cintura, com um cinto grosso ou um casaco acinturado. A beleza também integra o jogo setentista invernal. Na maquiagem, entram em cena os olhos bem marcados, com delineador preto e esfumados bem escuros. Nos cabelos, um leve frisado, trancinhas finas ou um cacheado com topete baixo carimbam o flashback sem escorregar para a caricatura.

Vestido Andrea Bogosian para Danna, bota Schutz, faixa, bolsa e acessórios ULM

ZERO HORA

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 11


That 70’s Show MATERIAIS Couro Camurça Jeans Pele fake

Pulôver Thayse; Vestido Artsy para Danna; Meia calça Lupo; Colar e anel ULM

12 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

Saia Cheroy para Strass, blusa Artsy para Danna, casaco e cinto Maria Filó, acessórios Hector Albertazzi para Strass

ZERO HORA


That 70’s Show CORES Camelo Bordô Magenta Verde militar

Calça Maria Filó, camiseta Adidas, jaqueta Cantão para Strass, bolsa Thelure, pulseira e anel Estela Geromini para Strass

ZERO HORA

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 13


Blusa Le Lis Blanc, colete Iódice, acessórios Estela Geromini, tudo para Strass

That 70’s Show BELEZA Olhos marcados: delineador preto e esfumado escuro Cabelos levemente frisados Trança bagunçada Cabelão repartido no meio

14 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

ZERO HORA


Camisa jeans Cantão para Strass, saia Thelure, colete Maria Filó, bolsa Schutz, lenço acervo

That 70’s Show ACESSÓRIOS Plataformas (nas alturas) Lenços Óculos gigantes Brincos statement Chapéu de feltro

FOTOS: Tauana Sofia. PRODUÇÃO EXECUTIVA: Liseane Crippa e Melissa Hoffmann. PRODUÇÃO E STYLING: Mariella Gentil Leal. MODELOS: Ana Ivete Ivanov e Priscila Falaster (Ford Models) CABELO E MAQUIAGEM: Karina Rodrigues. ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA: Franco Vargas e Suzana Amaral. LOCAÇÃO: Studio Ambientes

ZERO HORA

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 15


À MESA

Em todos os núcleos e em praticamente todas as cenas decisivas, alguém está comendo alguma iguaria que marcou o início do século 20 na Inglaterra

Fotos Reprodução

Para comer

com os olhos Quem está por trás e como funciona a avalanche de comida utilizada na série de TV “Downton Abbey”

ROSLYN SULCAS THE NEW YORK TIMES

sável por toda a comida no set. – O pessoal da continuidade estava enlouquecendo. Haavia suflês no via uma fila de suflês murchos cardápio de e outros continuavam a sair Downton Abbey do forno. Foi um pesadelo! – e a stylist de Como bem sabe qualquer fã comida do set, de Downton que ansiosamente Lisa Heathcote, estava em uma aguarda pela sexta temporada barraca no estacionamento, desde o final da quinta, no inífazendo um após o outro em cio do mês, é comida que não dois fornos improvisados. acaba mais. Desde a primeira – Às vezes eles murcham cena do primeiro episódio, antes que o diretor comece a quando a família Crawley filmar, às vezes murcham no fica sabendo do naufrágio do meio de uma cena – conta Titanic durante o café da maLisa, que reúne a Sra. Patmore, nhã – prenunciando assim um Daisy e o resto do pessoal da novo herdeiro de Downton e cozinha do seriado britânico várias temporadas de intrigas (exibido por aqui pelo canal românticas para a série –, inúpor assinatura GNT) em uma meros jantares, chás, almoços única pessoa, prática e respon- e banquetes de cerimônia mar-

H

16 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

cam o ritmo da vida familiar aristocrática, e poucos seriados de TV mostram tanta gente comendo com tanta frequência. E não é qualquer coisa! No café da manhã pode haver ovos, linguiças, bacon, rins, kedgeree (prato de arroz e peixe defumado) e torradas. No almoço, há dois pratos principais; bolo e sanduíches são servidos no chá; a refeição noturna consiste de pelo menos três pratos, finalizada com um tira-gosto diferente (como ameixas envoltas em bacon), mas pode chegar a ter até sete se houver visitas. Em meio a tudo isso, Lisa é a responsável pela comida de Downton desde o primeiro episódio.

– Não sabíamos o que ia ser. Um amigo me enviou um e-mail dizendo: “Deixe o mês de fevereiro reservado. Está para sair uma série de época legal” – contou ela na cozinha de sua casa, em Londres, vizinha às quadras de tênis de Wimbledon. A série de época legal, sobre uma família aristocrática inglesa nas primeiras décadas do século 20, conquistou o mundo e, como tudo o que envolve a produção de programas, a comida – e como ela é preparada e servida – é planejada e monitorada com precisão, sempre de olho na veracidade histórica. Com seus 50 e poucos anos, Lisa é loira, energética e possui uma alegria britânica típica. Ao descrever seu trabalho durante o café, após uma semana árdua das filmagens da próxima temporada (ela não pode revelar nada ainda, mas mencionou que foi preciso preparar geleia de laranja), disse que, essencialmente, visa a realizar as exigências de Julian Fellowes, o criador de Downton: – Muitas vezes tem comida incluída no roteiro, sempre em detalhes, mas há várias coisas que precisamos pesquisar em

ZERO HORA


termos de estações do ano, o que patrões e empregados comem e qual o visual final. Lisa se especializou na história de pratos trabalhando em filmes e séries de TV de época (A Duquesa, Love in a Cold Climate, Outlander). Ela cresceu em Stratford-upon-Avon (famosa no mundo inteiro por ser a cidade natal de William Shakespeare) e aprendeu culinária na escola de Prue Leith, em Londres. Começou a trabalhar com filmes há quase 25 anos, quando um amigo produtor lhe pediu uma ajuda para um comercial. Com o passar do tempo, a autenticidade da comida nos filmes foi ficando mais importante, disse ela. – Se você prestar atenção nos filmes dos anos 1950 e 1960, a comida é muito falsa, e as pessoas claramente não comem. Hoje estamos muito mais ligados nisso por causa dos programas na TV, qual a aparência que deve ter e como deve ser apresentada – afirmou Lisa, acrescentando que o trabalho não é tão simples nem tão glamouroso como parece. – Essencialmente, é parte

do departamento de arte e você precisa entender quais são os requisitos. Não basta fazer um prato bonito. É preciso se enquadrar nas exigências do roteiro, escolher o tipo certo de comida, com precisão histórica e de acordo com a estação. É preciso estar a postos quando uma cena é filmada mais de uma vez e tenho que estar preparada para fazer uma quantidade imensa de comida porque, se alguém tira a coxa de um frango, isso vai ser repetido várias vezes e será preciso ter 60 frangos prontos. A série começou em 1912 e já foi até 1924 em suas cinco temporadas. De acordo com Lisa, os diretores de arte foram cuidadosos ao incluir mudanças sociais e inovações da cozinha, como batedeiras, geladeiras e Pyrex. – Houve um fetiche gastronômico no início, com extraordinários sorvetes e geleias, além da decoração com gelatina. No decorrer das temporadas, isso foi diminuindo, mas ainda é complicado, com mousses delicadas e bordas de pratos decorados – completou.

Lisa Heathcote cuida dos montes de comida que são praticamente mais um personagem da série “Downton Abbey”

COREOGRAFIA À MESA DE JANTAR Além da elaboração dos pratos, Lisa Heathcote explicou que, como em Downton há serviço de mordomo – a comida vem em travessas que são trazidas para cada comensal, que então se serve –, foi preciso também facilitar o uso. – Tivemos que reproduzir o típico balé da sala de jantar de uma casa aristocrática. Os empregados devem oferecer a comida silenciosamente e sem esforço; é preciso ensinar a cada um dos atores como colocar o garfo ou a colher no

prato e a se servir. Cada uma das pessoas à mesa decide se quer a comida ou não e quanto vai querer, mas, depois que seu prato está feito, é preciso comer tudo. – explicou Alastair Bruce, consultor da série. Ainda segundo Bruce, a comida não podia ser muito complicada, o que dificultaria o processo de se servir. – A regra é que, se Violet não consegue usar o garfo ou a colher para se servir, o prato não deveria ir para a sala de jantar – disse ele, referindo-se

à Condessa de Grantham, interpretada por Maggie Smith. Intérprete da cozinheira-chefe, Sra. Patmore, Lesley Nicol contou que passa a maior parte do tempo supervisionando a cozinha. – Ela (a personagem) está sempre provando, decorando e gritando. Então, não preciso fazer nada muito técnico – brincou Lesley, dizendo que, embora não se considere uma boa cozinheira (“Dou risada quando pensam que sou”), aprendeu alguns truques.

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 17

ZERO HORA

CRIOLIPÓLISE

Valor: 12x R$

Combate a gordura localizada por meio do congelamento das células lipídicas. Método não invasivo, sem cortes, sem agulhas e nem anestesia. Com apenas uma sessão é possível perder até 30% da gordura selecionada pelo equipamento, e isso pode ser observado em até dois meses após o procedimento

TRATAMENTOS ESTÉTICOS

TRATAMENTO DE EMAGRECIMENTO FASE 1: DETOX

Duração aconselhada: 7 dias 1 Consulta + 1 Infra-red + 1 Aurículo-acupuntura + 1 Lipo-injection + dieta científica fase 1

Desintoxicação Apenas R$ 132,00

3x R$

44

100

FASE 2: REDOX

Carboxiterapia

12x R$

2 Aurículo-acupuntura + 4 Lipo-injection + dieta científica fase 2

Radio frequência corporal ou facial

12x R$

Duração aconselhada: 30 dias 2 Consultas + 4 Infra-red + Emagrecimento rápido

CONSULTE VALORES DAS FASES 3 E 4.

Apenas R$ 528,00

88

6x R$

10 sessões

10 sessões

88 88

Lipocavitação

12x R$

Depilação Progressiva

12x R$

10 sessões

10 sessões

88 44

Assis Brasil 3347-0902 | Menino Deus 3263-3837 | Centro 3094-2668 | Tristeza 3261-7697 Canoas 3051-4638 | Novo Hamburgo 3036-1148


PERFIL

A fada da

beleza negra Única dermatologista especialista em tratamento para a pele negra no Brasil, a gaúcha Katleen da Cruz Conceição virou referência nacional e queridinha das celebridades

ROSÂNGELA HONOR ESPECIAL, RIO DE JANEIRO

N

a agenda da dermatologista gaúcha Kathleen da Cruz Conceição, constam nomes como Lázaro Ramos, Taís Araújo, Preta Gil, Cris Vianna, Thiaguinho, Juliana Alves e Érica Januzza. Eles fazem parte de um time de famosos que entrega o rosto e o corpo aos cuidados da médica. O motivo de tanta credibilidade e confiança tem razão de ser: Katleen é a única dermatologista brasileira especializada em tratamentos para a pele negra. De terça a sexta, o consultório da gaúcha de Porto Alegre, instalado no bairro do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, fica lotado de celebridades e anônimos em busca de soluções para

20 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

problemas de pele de toda natureza. Foi com a médica que Isabel Fillardis conseguiu curar, depois de um longo tratamento, um líquen plano pigmentoso, doença que manchou a pele do rosto e danificou o cabelo da atriz. Apesar de ser cultuada por astros e estrelas, Katleen garante que está longe de ser uma profissional inatingível para os simples mortais. A dermatologista recebe a todos, sem distinção, com o mesmo sorriso e alegria contagiante – resultado da devoção que sente pela profissão que escolheu por influência direta do pai, também dermatologista, que colaborou em muito para que ela se transformasse numa das médicas mais respeitadas em sua especialidade. Na entrevista que concedeu a Donna, em seu consultório, no final de um dia movimentado de trabalho, Katleen revelou como se tornou esta referência em todo o Brasil.

Donna – Existe uma lenda de que a pele negra é privilegiada, que custa a envelhecer. Isso é verdade ou mito? Katleen da Cruz Conceição – A pele negra tem uma fibra colágena mais densa, mais espessa. Ao mesmo tempo em que a pele negra tem essa fibra boa, é mais propensa ao queloide, que tem um tratamento difícil. É uma pele com envelhecimento tardio devido a uma quantidade maior de melanina, que dá um fator de proteção maior. Também é uma pele que tem tendência a ter manchas, mas que reage mais rápido ao tratamento a laser nos casos de manchas, flacidez e estrias.

Donna – Quais são as principais queixas de suas pacientes de pele negra? Katleen – São as manchas provocadas pela acne, porque a pele negra é mais oleosa do que a branca. As pacientes também queixam-se de es-

ZERO HORA


Katleen – Fenol, que é um peeling mais agressivo, ou qualquer tipo de peeling abrasivo que possa causar hipopigmentação, que é a falta de pigmento, e também provocar queloides e cicatrizes hipertróficas. Donna – O cabelo é um problema para os negros em função das químicas utilizadas. Alguma dica? Katleen – O cabelo do negro é mais fragilizado, é bom ter um bom terapeuta capilar e fazer um tratamento associado com o do dermatologista.

Donna – A autoestima da mulher negra melhorou muito nos últimos anos. Essa transformação se deve a algo em especial? Donna – Quais os tratamentos de Katleen – Credito a exemplos que ponta para a pele negra atualmente? servem de espelho, como Taís Araújo, Katleen – O laser fracionado para Isabel Fillardis, Érika Januzza, Ildi Silva, manchas, o laser ablativo para o escutoda essa galera ajudou muito para essa recimento, que muita gente diz que não mudança. Elas são muito representapode fazer e eu faço, o laser de depilativas, as mulheres as veem e pensam: ção, que muitas pessoas também afir“Eu posso ficar linda também, posso mam que não pode, mas pode, sim. Só ficar igual”. Hoje, existem mulheres neque, na pele branca, você faz seis sessões gras muito bem-sucedidas. e fica bom. Na pele negra, tem que fazer de seis a 18 sessões. É mais trabalhoso, Donna – Como passou a ter famomas é possível. E o laser de flacidez, que sos entre seus pacientes? faço muito, principalmente no olho. Katleen – O Lázaro (Ramos) na minha vida foi uma coisa de Deus, me Donna – Quais são as suas dicas de ajudou e ajuda muito. É uma pessoa beleza para a mulher negra? importante porque é extremamente Katleen – Primeiro, é preciso idenengajado, inteligente. Fui entrando nos tificar se sua pele é oleosa ou sensível. nichos onde estão os negros: atores, Para uma pele oleosa, o ideal é usar um mundo do samba e do futebol, para sabonete com ácido salicílico ou ácido divulgar meu trabalho. Primeiro atendi glicólico, filtro solar oil free ou sérum. muitos homens, MV Bill, Fabrício OliPara pele sensível, prefira sabonetes veira, e depois vieram as mulheres. específicos associados à água termal. Às vezes é difícil identificar, eu mesma às Donna – Como é tratar celebridades? vezes alterno nos meus pacientes conKatleen – Ser médica de celebridades forme vou vendo a necessidade – ora aumentou ainda mais a minha ressensível, ora oleosa. Filtro solar 30 é ponsabilidade, porque existe toda uma para usar sempre, porque, se você não história em torno. Eles me divulgam quer envelhecer cedo, é preciso ter mui- muito, me ajudam, tudo no amor. As to cuidado. A partir dos 25 anos pode pessoas chegam aqui achando que eu começar a se cuidar porque, se sua mãe sou soberba e eu sou completamente tem bolsa nos olhos, por exemplo, pro- diferente – gosto de conversar, trocar vavelmente você também terá. Nesse ideias. Eu sou assim, meus pais são ascaso, o ideal é tratar com ultrassom sim, minha família do Sul é assim. Sou focado, que melhora as rugas embaixo muito feliz em vender essa coisa da nedos olhos ao provocar uma contração gritude, de que sou linda, porque meu da musculatura ocular. Infelizmente, pai sempre me disse isso. Transito bem não existe um tratamento que possa em qualquer lugar. O que estou alcanser feito em casa. Um truque que pode çando hoje em dia é porque as pessoas atenuar momentaneamente, mas não acreditam em mim. resolve o problema, é gelo no local ou chá gelado. Donna – Sofre algum preconceito? Katleen – Às vezes, atendo uma Donna – A pele negra precisa de pessoa branca e ela não fecha o oruma maquiagem especial? çamento, muitas vezes fechando com Katleen – O ideal é ter um filtro solar outro porque espera encontrar em mim e uma maquiagem que seja adequada um valor mais baixo. A dermatologia ao tom da pele negra. Esse tipo de ma- é uma coisa elitista, mentira dizer que quiagem é mais comum nos Estados não é, porque é. Só que isso nunca me Unidos. pegou porque meu pai é médico, eu vim da zona sul e com a autoestima Donna – Que tipo de tratamento lá em cima. Prefiro que a pessoa diga é destrutivo para a pele negra e que para mim que eu não vou conseguir, não se deve fazer de modo algum? porque aí, sim, é que vou conseguir.

ZERO HORA

A atriz Juliana Alves é uma das estrelas que entregam a pele ao cuidado da doutora Katleen Reprodução

trias, foliculite (pelo encravado), cabelos quebradiços, porque são mais secos nas pontas e mais oleosos no couro cabeludo. Sempre dou um conselho: se acertou com um tipo de química nos fios, oriento a manter. Sabe aquela história de que agora resolvi e então vou partir para a escova progressiva? Não rola. Pessoas de pele negra costumam ser mais alérgicas. O envelhecimento dos olhos é muito marcante, já que no restante do rosto é mais demorado, então chama a atenção. A olheira também é uma queixa, que acontece muito quando se tem filho, quando se tem uma perda, um trauma. Um dos pontos positivos é que a celulite não é comum na pele negra.

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 21


“TUDO QUE AS PESSOAS DIZIAM NÃO FAZER POR SER PELE NEGRA, EU DIZIA: ‘EU FAÇO’” “Fui fazer Medicina por causa do meu pai, João Paulo Conceição, que também é dermatologista. Ele é minha referência e sempre incutiu essa ideia da Medicina na cabeça dos filhos – tenho mais três irmãos –, mas só conseguiu comigo. Eu me preparei e passei para a Universidade de Teresópolis (RJ). Fui fazer pediatria. Uma vez, num sábado de Carnaval, estava de plantão e nenhum outro médico apareceu. Atendi 300 crianças. Fiquei transtornada. Naquele dia, meu pai me disse: “A partir de hoje você vai parar com a pediatria, vai ser dermatologista”. Eu já tinha uma afinidade com essa coisa de pele. Terminada a faculdade, fiz mais dois anos de pós em dermatologia e fui trabalhar com meu pai – que sempre foi muito exigente comigo. Depois, fui para o Hospital do Exército. Lá fiquei durante sete anos, como tenente, e ganhei um conhecimento importante sobre doenças – tratei desde a pessoa mais humilde à de maior patente. Depois voltei a trabalhar com o meu pai – que, desta vez, me aconselhou a fazer estética. Eu sabia que esta não é uma especialidade muito respeitada na medicina, muita gente faz pensando em ganhar dinheiro. O meu objetivo era me aprofundar na dermatologia. Era tão dedicada, levava tão a sério que em pouco tempo virei professora do curso. Mas, quando virei chefe, sofri muito preconceito: era muito jovem, dermatologista e negra. Não gostavam de mim, mas não podiam me tirar porque eu dava credibilidade ao curso. Então, eles me escondiam. Quando apareciam pacientes negros, mandavam para mim com o seguinte raciocínio: ‘Man-

da pra Katleen porque ela também é negra’. Fiquei lá cinco anos, mesmo sofrendo preconceito, e aprendi muito. Tudo o que as pessoas diziam que não faziam por ser pele negra, eu dizia: ‘Eu faço’. Foi a minha escola. Dali em diante comecei a me especializar ainda mais, a fazer muitos cursos lá fora. Naquela época eu já atendia Juliana Alves, Benedita da Silva. Mas a minha vida mudou quando atendi Mercedes Araújo, mãe de Taís Araújo, que sofria com uma patologia do rosto. Fizemos um tratamento com laser e ela ficou curada. A Mercedes me perguntou quem eu queria tratar, e respondi Lázaro Ramos e Isabel Filardis. Exatamente nesta época o Lázaro ia fazer a novela Insensato Coração, vivendo um cara megachique. Ele veio cuidar da pele comigo e começou a me mandar muita gente. Hoje, estou numa das melhores clínicas da América Latina (a Clínica Dermatológica Paula Bellotti, no bairro carioca do Leblon), com os melhores equipamentos e lasers. Uma vez por mês vou a São Paulo, e no Rio atendo de terça a sexta. O que me motiva todos os dias é a coisa da representatividade, é as pessoas chegarem aqui e se sentirem estimuladas quando me veem. Elas dizem: ‘Puxa, doutora Katleen, que legal a gente ver uma negra que conseguiu, que estuda’. Fiz um trabalho voluntário para o Hospital de Bonsucesso, na zona norte do Rio, durante quatro anos, gosto de atender pessoas carentes. Depois fui para a Santa Casa e até hoje estou lá, atendo com preços mais baratos pessoas que não podem estar no meu consultório do Leblon.”

22 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

INFÂNCIA “Minha família veio para o Rio de Janeiro quando eu tinha três anos, meu pai é militar, coronel médico, sempre moramos na Zona Sul. Os meus irmãos estudavam em colégio militar e eu, no colégio alemão. Meu pai sempre me dizia: ‘Você é linda, você é a menina mais linda do colégio’. Mas meus pais sempre me botaram muito nude, cor de unha bege, cabelo arrumadinho, preso. Isso mascarou um pouco a negritude. Transitei no meio dos brancos, mas sempre tive o lado da negritude muito forte, porque meu pai é assim. Ele me preparou para essa guerra. Sempre fui muito impositiva, e a única coisa que fazia com que eu me sentisse um pouco inferior era o cabelo. Claro que isso era um problema pra mim – todo mundo caía na piscina, lavava e o cabelo estava ok. E eu ficava lá secando, fazendo outras coisas para ficar legal. Isso me abalava.”

SUPERAÇÃO “Logo depois de formada eu namorei um cara que tinha um amigo alemão, e este namorava uma negra. Ela usava tranças de mega hair. Eu sempre me senti bonita, mas o cabelo me travava. Aí, resolvi usar as tranças também e – uau! Nossa, eu me descobri, virei outra pessoa! Hoje em dia uso interlace e não tenho problema algum em falar. Quando as minhas pacientes perguntam, eu inclusive dou o endereço da cabeleireira onde faço o cabelo.”

AMOR “Nós moramos uma época em Manaus, quando eu tinha uns 15, 16 anos, porque meu pai era militar e moramos em algumas cidades. Lá namorei dois caras que eram os mais concorridos, eles eram apaixonados por mim. Já na faculdade, os meninos ficavam comigo na chopada, na night, mas de dia não me assumiam. Hoje sou muito bem casada, meu marido é muito bonito, tipo Diogo Nogueira (risos). Mas meu pai não me educou para casar, então eu não sei fazer nada dentro de casa. Neste sentido sou uma dondoca, não sei cozinhar, fazer nada. Tenho uma filha de oito anos, Maria Eduarda. Ela é o máximo e me acha o máximo.”

O que me motiva todos os dias é a coisa da representatividade, é as pessoas chegarem aqui e se sentirem estimuladas quando me veem. Elas dizem: ‘Puxa, doutora Katleen, que legal a gente ver uma negra que conseguiu, que estuda’. ZERO HORA


Devotos da doutora Kat

Alguns dos famosos que são pacientes de Kathleen Conceição Fotos Arquivo Pessoal

CRIS VIANNA “É muito preocupada em relação ao corpo, é malhadora, gosta de se cuidar. Faz tratamentos para uniformizar a pele.”

ISABEL FILARDIS “Está comigo há seis anos, fez um tratamento de clareamento do rosto porque teve uma doença chamada líquen plano pigmentoso, com manchas e queda do cabelo. Hoje em dia ela está com o cabelo e o rosto recuperado, claro e sem manchas. Ela fez laser durante muito tempo e está muito satisfeita com o resultado.”

THIAGUINHO “Gosta de fazer tratamentos tópicos para uniformizar e clarear a pele.”

PRETA GIL “Adora tratamentos corporais e de tratar as olheiras, porque é muito alérgica.”

LÁZARO RAMOS “Gosta de cremes para barba. Ele tinha foliculite, que foi tratada e hoje está muito bem controlada.”

JULIANA ALVES “Faz tratamento com laser para uniformizar a pele, além de tratamentos corporais.”

ZERO HORA

ÉRIKA JANUZZA “Gosta de fazer depilação a laser. Ela diz que fica com axilas lindas, sem manchas, dignas de comercial de tevê (risos).”

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 23


PETS

Alerta de amor Reprodução

Reconheça 10 sinais de que seu cão pode estar doente e apresse a visita ao veterinário

Q

uem ama de todo o coração os seus cães sabe: não há maior agonia do que vê-los doentes. Primeiro, porque é péssimo ver quem amamos sofrer – seja humano, seja animal. E segundo porque é difícil sabermos exatamente o que estão sentindo, já que nem sempre conseguimos reconhecer os sinais que eles nos dão. Como um diagnóstico precoce pode ser valioso para garantir a saúde dos nossos bebês, a veterinária e professora da Clínica Médica de Pequenos Animais da Universidade de Franca (SP), Thaís Melo de Paula Seixas, preparou uma lista com 10 sinais que podem nos ajudar a reconhecer quando nosso amigo não está muito bem. Conhecendo as alterações comportamentais e físicas mais comuns em cães, podemos perceber que algo está errado bem cedo, apressando a visita ao veterinário e, por consequência, o diagnóstico.

1

Animal quieto ou triste – Se seu cão está muito quieto, não quer brincar ou passa grande parte do tempo dormindo, pode ser sinal de alguma doença física ou até mesmo de depressão – transtorno comportamental que vem sendo diagnosticado com frequência em cães.

2

Perda grande ou total do apetite Seu amigo era comilão e, de repente, resolveu fechar a boca? Perda total ou diminuição recorrente do apetite, mesmo quando você oferece o alimento preferido dele, significa que é hora de ir ao veterinário.

3

Emagrecimento – Se o animal continua se alimentando normalmente e, mesmo assim, está perdendo peso, é sinal claro de que algo não está bem.

24 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

4

Vômito – Vomitar uma ou duas vezes é sinal de que o cão deve ser observado com atenção. Se os sintomas persistirem ou vierem acompanhados de diarreia, tristeza e falta de apetite, corra para o veterinário já.

7

Secreção nasal – Se seu cão apresenta secreção transparente, aquosa e em pouca quantidade, não se preocupe. Caso a secreção seja abundante, esbranquiçada, amarelada, verde ou com mau cheiro, Diarreia – Há muitas ligue o sinal de alerta. causas para este transtorno. Pode ser sintoma de Se ocorrer uma diarreia isolada, alergia, infecção, fístula e observe. No entanto, se ela for até cinomose. persistente e estiver associada a vômitos, tristeza e falta de Olhos – Quando apetite, seu amigo está doente estão vermelhos, e precisa de atendimento esbranquiçados ou com imediato. Nesses casos, a excesso de secreção, fique rapidez no tratamento pode atento: isso pode ser salvar a vida dele. sinal de algumas doenças como olho seco, úlceras Cansaço fácil – Seu na córnea, problemas nas amigo é ativo e brinca pálpebras e até catarata bastante, mas, de repente, ou glaucoma. Dermatites e começou a se cansar com parasitas também podem facilidade. Cuidado! Isso pode vir indicados pela secreção ser sinal de alguma doença dos olhinhos. Por isso, olhe como obesidade, problemas nos olhos do seu pet e cardíacos ou respiratórios. preste atenção neles.

5

8

6

9

Mau hálito – Assim como a gente, os cães também têm placa bacteriana, o famoso tártaro. O acúmulo dessa placa causa problemas bucais, queda dos dentes e pode evoluir para doenças mais sérias, como complicações cardíacas ou infecções. O mau hálito é o primeiro sinal do acúmulo de tártaro, que pode ser removido em um procedimento simples, pelo veterinário. Outras doenças também podem causar mau hálito, como diabetes e distúrbios renais.

10

Aumento na ingestão de água – Beber muito mais água do que o normal sem uma justificativa aparente, como muito exercício físico ou excesso de calor, também pode indicar alguma doença. Consulte o veterinário.

ZERO HORA



ESTILO Fotos Reprodução

Cores sóbrias e zero estampas, como neste longo, são um dos principais segredos do visual chique e classudo de Claire Underwood em “House of Cards”

Sofisticada Claire

LARISSA GARGARO larygargaro@gmail.com instagram.com/larissagargaro pinterest.com/larigargaro

A colunista publica quinzenalmente em revistadonna.com

Personagem de Robin Wright no seriado “House of Cards” esbanja requinte em produções discretas, mas não menos elegantes

P

oucas semanas após a estreia da terceira temporada do seriado-fenômeno House of Cards, original do serviço de streaming de vídeos Netflix, o mundo voltou a entrar em transe com a trama do casal mais amado-e-odiado do governo dos Estados Unidos – ou, pelo menos, do governo-dos-Estados-Unidos-criado-pela-Netflix. Frank (Kevin Spacey) e Claire Underwood (Robin Wright) são ambiciosos, poderosos, frios e calculistas – e, mesmo com o carisma-malévolo de Francis, é na loira de passos firmes que o seriado encontra um de seus maiores méritos.

26 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

Chique, clássica e impecável, inspire-se no estilo da vilã que todos amamos odiar: Claire Underwood. Cores? Não muitas, obrigada. Claire investe nos tons sóbrios – preto, cinza, bege, verde musgo, no máximo um tom pastel de vez em quando. Tratando-se de uma personalidade forte, fria, ela fica longe – bem longe – de estampas. Na prática: a imagem simpática que temos de Michelle Obama, atual primeira-dama dos EUA, por exemplo, está muito ligada à quantidade de cores e estampas que ela usa (além dos sorrisos que distribui por aí, é claro). Já Mrs. Underwood não está preocupada em ser a Miss Simpatia de ninguém, e você nunca precisará ter dúvidas disso. Ela também não é uma mulher de grandes ostentações fashion – logotipos ou roupas que “gritem” marcas; mas, sim, ela sabe o que é bom e não tem medo de usar a seu favor. Scarpins Christian Louboutin, bolsas Chloé e trench coats

Burberry estão entre os itens essenciais da sua lista. Em uma paródia do seriado, o apresentador Jimmy Fallon brinca que Claire usa sempre o mesmo vestido: um tubinho na altura do joelho, de mangas curtas, decote careca e cor azul marinho. A partir da segunda temporada, Claire começou a variar e trocou o vestido azul marinho pelo cinza (brincadeirinha!). De fato, nas primeiras temporadas, a impressão é de que a personagem não troca muito de figurino, mas, acredite, isso é proposital. Como uma pessoa pública de cargo político, tudo o que não queria era chamar atenção pelos looks; por isso, sempre usava algo discreto. Uniforme de todos os dias: vestido tubinho pelo joelho + bolsa grande estruturada. Decotes e formas sempre são duros, rígidos, assim como as cores e os materiais: preto, azul marinho, couro, metal, tudo para passar uma personalidade forte e séria. Outro detalhe? Ela pratica-

mente nunca desce do salto – só em ocasiões muito, muito íntimas. Mais uma vez, é proposital: aqui, a ideia é não demonstrar fragilidade. A combinação saia lápis cinza + camisa branca não é nova para ninguém, mas, tratando-se de Claire, o tom de modernidade fica por conta dos acessórios e do próprio cabelo da personagem. Em vez de delicadas pérolas, ela opta por joias zero e um poderoso relógio, além de uma bolsa estruturada (branca também, por que não?). Quando não está a bordo de saia ou vestido, Claire é adepta de looks com inspiração no guarda-roupa masculino. Ótima a composição de um dos primeiros episódios da nova temporada, em que ela combina calça preta com oxford de verniz, camisa branca e suéter preto. E nada mais. Para ela, um look casual, mas, para meras mortais, um look que vai até a reunião no escritório. Frank Underwood aprova. E você?

ZERO HORA


Saia lápis e camisa branca: um coringa dos mais eficientes

Os cabelos curtos e os decotes secos arrematam a elegância soberba da personagem

Tubinhos e bolsas estruturadas dão a Claire seu ar de mulher forte, fria e calculista

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 27

ZERO HORA

DEMITIDO MAU HÁLITO?

ATENDIMENTO 24h.

OAB46015

Praça 15, 66 13º andar Sala 1307 - Centro

F: (51)3012-0369/ 3212-3687/9214-8283

CIGANA NA TV

Todos os domingos a cultura Cigana na sua televisão, na Tv Urbana as 19:30h Canal 55 UHF ( canal aberto ) ou Canal 11 da Net. Magia Cigana o seu programa dominical, não perca. Cartas, Búzios, Tarot e consulta com as entidades. Trabalhos para todos os fins. Agende sua consulta. F: 3228-6527 ou 9728-0478 Ac. Cartoes. Face: Mãe Michelly da Cigana

CANDOMBLÉ

Babalorixá recém chegado da Europa faça como empresários ricos e famosos resolva todos seus problemas em 7 dias não siga sofrendo consulta grátis pagamento após os resultados fone 51 81844048 email ray_augusto@yahoo.com.br

Halitose tem tratamento. Dr. Mário Silveira de Souza CRO-RS 10814

RT Leonel P. M. de Souza CRO 2202 – EPAO 1258

Fone:

(51)

3340.6057

odontoplanalto.com.br

.

AGOR

Assoc. Gaúcha de Ortodontia comunica que estão abertas as Inscrições para atendimento clínico no curso de especialização. Triagens para atendimento clínico em restaurações de porcelana e resina e laminados de porcelana. Triagens para Ortodontia e Implantodontia. Fone: (51)3312-2470 / 9967-6293 EPAO958 - ISL BRASIL - Responsável Técnico Paulo Jakob CRO:17359

DEPILAÇÃO A LASER

(Laser de diodo MILESMAN PREMIUM e o laser Ndyag 1064)

AXILAS ● BARBA ● PERNAS ● VIRILHA Tratamentos corporais para celulite, estrias, gordura localizada, drenagem linfática.

A cada pacote fechado ganhe um procedimento facial de limpeza de pele!!

Porto Alegre - R. 24 de Outubro,435/207- F: 3265-1010 Novo Hamburgo - R. Gomes Portinho, 17/207- F: 3525-4555

www.pelebrasil.com.br

IMUNOTERAPIA PARA DESSENSIBILIZAÇÃO Rinite Alérgica Bronquites Asma Alergias de Pele Cobertura p/ Herpes e HPV PORTO ALEGRE CAPÃO DA CANOA CAXIAS DO SUL

(51) 3593.5050 / 9323.5483

Dr. Cleber Saffi - CRM 18235

ADQUIRE S/PRODUTOS

Adquira agora mesmo seu banho de descarga, banho de brilho, patuá da sorte para jogos, cesta cigana da prosperidade, cesta para altar cigano, cesta cigana do amor, perfume atrativo e consultas por telefone. Ac. todos os cartões, com tele entrega a combinar. Informe-se 3228-6527 3023-7268 / 9728-0478 Curta nossa página no face: Mãe Mi chelly da Cigana

RESOLVA NA JUSTIÇA DO TRABALHO AJUIZAMOS IMEDIATAMENTE SUA AÇÃO.

PARAPSICOLOGIA

*Regressão eletrônica * Técnica moderna c/ aparelho NEUROTRON, retirando os traumas de hoje até fecundação no ventre materno, trabalhando nos seus pontos fracos, eliminando a depressão, medo, ciúme, vícios, bipolaridade e stress. Pedro Luíz Fracasso, parapsicólogo CRT 23721, Rua Dr. Flores 105 cj 1407 F: 3224-5624/cel. 9974-7639.

PSICOTERAPIA Regressão Terapêutica

Resolva com esta e outras técnicas avançadas: sexualidade, bipolaridade, medo, timidez, desânimo, vícios, traumas, insegurança, solidão, relacionamentos, depressão, angústia, ansiedade, problemas físicos, emocionais e energéticos.

Dra. Maria Cristina Souza Psicoterapeuta Holística - CRT 28838.

RESULTADOS A PARTIR DA PRIMEIRA CONSULTA Rua Dr. Timóteo, 371/304 - Moinhos de Vento - POA. Para o tratamento F: (51) 3346-3442 - 9838-6479


Cores e sabores da Provence ARQUIVO PESSOAL

CELIA

RIBEIRO

celia.ribeiro@zerohora.com.br

H

á uma bela exposição atualmente no Jewish Museum de Nova York sobre a vida e as obras de Helena Rubinstein (1875-1965), que criou a famosa marca de cosméticos e produtos de beleza com seu nome. Ela esteve no Brasil e adquiriu sete telas de Cândido Portinari, aproveitando a ocasião para ser retratada pelo grande pintor brasileiro. HR é um ícone de mulher empresária, num tempo em que só atrizes e prostitutas usavam maquiagem. Ao entrarem no mercado de trabalho, as jovens podiam comprar os produtos de Helena.

A

s jovens contestadoras pregavam que os cosméticos as tornavam mulheres-objeto, com sua independência sendo conquistada. Meu amigo Guilherme Paz, que reside em Nova York, viu a exposição e me contou que, além de ter construído seu império de beleza, ela era dotada de bom humor. Olha só esta frase de HR: “Se eu fosse alta e magra, só usaria joias discretas e roupas extravagantes; como sou atarracada, só posso usar roupas discretas e capricho no tamanho das joias”.

Jane Guershenson junto às límpidas águas do rio da cidadezinha de La Vallée du Luberon, onde já morou

A

vida dá muitas voltas – e retornos também. São ciclos que podem ser reabertos com uma nova ótica de acordo com vivências pessoais no processo evolutivo natural. Assim está acontecendo com a jornalista Jane Gershenson (cinejane@ gmail.com), que trabalhou sete anos na RBS TV, transferindo-se para a Europa no final dos anos 1980. Lá ela se casou com o escritor e cineasta belga Patrick Conrad, separando-se 14 anos depois. Há pouco, eles voltaram a se unir. Foi o que ela me contou agora, em visita à família. Jane foi sempre dinâmica e seu projeto hoje, residindo na Provence, a região francesa dos vinhos, antiquários, casas pitorescas e deslumbrante paisagem, é trabalhar com agências de turismo para oferecer uma experiência sensorial aos brasileiros que chegarem àquele lugar

28 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

da França. Tudo é perto. Pode-se esquiar na neve e chegar até a margem do Mediterrãneo. O que é, afinal, a “experiência sensorial” proposta por Jane Guershenson? – É estar numa região não só de passagem, mas sentir seus cheiros – diz ela. – Conviver com as pessoas locais, comer a comida mediterrânea com seus legumes e frutas adquiridos nos mercados. Este cultivo começou em substituição das decadentes árvores do bicho da seda, no início do século 19, em fazendas próximas a Lyon. Jane fará na Provence um receptivo de brasileiros, principalmente paulistas, e para quem desejar ficar em uma das casas típicas da região ela providenciará o aluguel ou fará reservas em pousadas e hotéis confortáveis. Esta experiência sensorial, comendo o “ratatouille”, refogado de legumes típico da Provence, com um cálice de vinho Chantoneuf du Pape, e fazendo outros programas, é um luxo.

ETIQUETA NA PRÁTICA Envie sua pergunta para a Celia: contato@revistadonna.com

PROVA DE VINHO “Sou executiva e, frequentemente, convido pessoas para jantar fora, em função do trabalho. Faço a prova do vinho, como os homens, oferecida pelo garçom?” GILDA – Claro que sim, mas, se você pouco conhece vinhos e sabe que há alguém à mesa com esta habilidade, mulher ou homem, ofereça para que faça a prova. Aproveitando o assunto, lembro que no filme O Grande Hotel Budapeste o garçom, ao servir a prova ao anfitrião da mesa, em vez de verter o vinho em seu cálice coloca um pouquinho da bebida num cálice pequeno de borda mais aberta. Este era um costume no início do século 20, especialmente na Europa.

CAMINHANDO COM FONES NO OUVIDO “Gosto de caminhar na praça como exercício, ouvindo música. Tenho uma amiga que sempre fica ao meu lado e isto é muito chato. Como dizê-lo, sem ser grosseira?” IRMINGARD – Diga que precisa se concentrar no exercício para manter um ritmo parelho e mais acelerado, que ela não vai gostar. Desculpe-se e prometa encontrar-se numa outra ocasião.

ZERO HORA


Pe le


Andréa Graiz

PERFIL Por Fernanda Pandolfi fernanda.pandolfi@zerohora.com.br

O bar mais

F

cool da cidade

ábio Floriano, Carolina Beidacki, Gabriel Machuca e João Veppo têm formações bem diversas – um é advogado, a outra estuda Psicologia, o terceiro largou o Turismo e o último estudou Comunicação. No entanto, o grupo cultiva duas paixões que se sobrepõem às diferenças: os filmes do cineasta Wes Anderson e festas. Nasce assim, na próxima quarta-feira para convidados e na sexta-feira para o público em geral, em Porto Alegre, o Margot, novo bar/ clube da Cidade Baixa. Localizado na Rua João Alfredo, número 577, espaço que já sediou outras baladas queridas do público porto-alegrense, como o Woodoo e o saudoso Pé Palito, o ambiente terá temática inspirada em filmes como O Grande Hotel Budapeste, A Vida Marinha com Steve Zissou e Três é Demais. Não foi difícil batizar o espaço: em um brainstorming de cerca de 10 minutos, o quarteto entrou em sintonia e concordou que seria legal homenagear Margot, personagem de Gwyneth Paltrow em Os Excêntricos Tenenbaums.

– Sentíamos falta de uma ambientação nos bares que frequentávamos. Queríamos criar um lugar aconchegante, em que as pessoas se sentissem bem e onde desejassem estar – reforça João. Para dar o clima à casa, a turma escalou o arquiteto Mario Guidoux, do escritório 0E1, que também é fã declarado da obra de Anderson e desenvolveu oito cantos diferentes remetendo aos longas mais famosos do diretor. Alguns detalhes: o espaço central funciona como um concierge, inspirado em O Grande Hotel Budapeste; já a barraca de Richie Tenenbaum e o vagão de Viagem a Darjeeling também estarão representados por cenários. A ideia é viajar no universo cinematográfico e esperar que os clientes se identifiquem com cada ambiente, a ponto de realizar as reservas conforme os espaços. E, se de domingo a terça o bar será o carro-chefe da casa, de quinta a sábado a balada tomará conta do lugar. – Queremos colocar os ritmos que gostamos de ouvir, mas que não encontrávamos em lugar nenhum para dançar, como rock, indie, folk, jazz e uma noite para a música

brasileira, a gente percebe que tem uma brecha para isso – comenta Gabriel. Aliás, ele fala com autoridade no assunto, já que trabalhou por 10 anos em casas noturnas conhecidas do Estado, ganhando experiência e entendendo as manobras da vida de balada. – Além disso, também devemos nos diferenciar pela comida e bebida. É um bar sem batata frita – brinca Fábio. Sobre Wes Anderson: Nascido no Texas e apaixonado por Paris, é considerado um dos cineastas mais cool e autênticos da atualidade. Seu estilo de trabalhar é objeto de estudo dos amantes da sétima arte, a começar por uma obsessão pela simetria – os personagens andam sempre em linha reta, e elementos entram e saem de cena em perfeita sincronia – e pela paleta de cores (dizem que levou dias para escolher o tom das mechas do cabelo da atriz Saoirse Ronan e as cores do figurino em O Grande Hotel Budapeste). Outras marcas registradas suas são as cenas longas e o fato de os filmes sempre serem situados no tempo passado.

Fernanda Pandolfi assina de segunda a sábado a coluna Rede Social, no Segundo Caderno de Zero Hora

30 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

ZERO HORA


CULTURA

Por Vitor Raskin

Por Roger Lerina

deuochic@deuochic.com

Jairo Goldflus, Divulgação

SOCIAL

roger.lerina@zerohora.com.br

HELENA RANALDI É UMA BONECA

José Paulo Dornelles Cairoli e Góia Tellechea Cairoli

Silvana Porto Correa

Angela Dreiffus, Chica e Lila Franco Tellechea

Maria Gabriela e Frederico Logemann

CINEMA E JAZZ NA SERRA Dica bacana serrana: o Magnólia – Cine Gastrô Bar (Rua Dona Carlinda, 255) é um espaço simpático em Canela que une restaurante, cinema, bar e programação musical jazzística. O destaque dos sete ambientes do casarão dos anos 1950 é a sala de exibição da foto abaixo, com poltronas e sofás garimpados em antiquários. As sessões rolam

de segunda a quinta, às 20h30min. A partir do próximo dia 27, às 20h, o local contará com uma nova atração: o ¡Viva Jazz!, encontro mensal com coordenação e mediação do escritor e psicólogo Pablo Antunes. Na primeira edição, serão projetados dois concertos históricos do trompetista americano Louis Armstrong (1901 – 1971).

Fernando Jorej e Renata Ryff Moreira

Elias da Rosa entre Luciana Fleck da Rosa e Valesca Tartarotti

O chef Lucio Moraes assinou o cardápio e cuidou do assado gaúcho

DNA GAÚCHO: O casamento de Marcelo Tellechea Cairoli & Marta Ryff Moreira, na Caza Wilfrido, em Gramado, teve elegante organização de Roberta e Iara Jalfim. As raízes da família do noivo foram bem demonstradas nos toques criados para a noite. O chefe Lucio Moraes idealizou o cardápio especial e cuidou pessoalmente dos petiscos do legítimo assado gaúcho. Nomes tradicionais e lideranças do Estado participaram da festa. Ana Luiza Saint Pastous, Olga Velho, Maria Cecilia Sperb, Heloisa Gomes, Anna Luiza Sampaio Quinto di Cameli e Isabele Isdra estiveram lá. Rui Spohr assinou o vestido das mães dos noivos e também de Ana Maria Moura, Zilda Campos e Marlene Nelz. A noiva escolheu belo vestido de Oscar de La Renta para dizer sim. Agora os noivos estão em Saint Barths. Fotos de Tiago Trindade. Vitor Raskin publica no site deuochic.com

ZERO HORA

anões – a montagem inclui Veronica Ned, filha do cantor Nelson Ned, no papel de um homem. – Nora vive uma falsa ideia de felicidade, mas se dá conta disso. É uma personagem maravilhosa, com trejeitos de boneca, mas não é fácil interpretá-la – disse Helena.

Cristiano Carniel, Divulgação

Ana Maria e Bolivar Moura

Christina Chaves Barcellos Kessler Tellechea

Para quem estiver por São Paulo nos próximos dias, a pedida é conferir a bela Helena Ranaldi (foto à direita) no teatro. A atriz é a protagonista de A Fantástica Casa de Bonecas, curiosa adaptação musical da célebre peça Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen (1828 – 1906). A história acompanha a transformação de Nora, mulher que vive para a casa e o marido até que questiona seu papel na família e as convenções sociais. Na desconstrução do texto do dramaturgo norueguês proposta pelo encenador americano Lee Breuer, o elenco masculino é todo formado por

CANTANDO ENCONTROS E DESENCONTROS Olha só que legal: formado por nada menos do que 40 integrantes, o Vocal CantaVentos mostrará na semana que vem em Porto Alegre o espetáculo Pensando Bem... Foi Muito Bom!. Com direção geral e musical de Simone Rasslan e direção cênica de Álvaro Rosa Costa, o show reúne 18 canções – um repertório heterogêneo que inclui

músicas como Paisagem Campestre, Rua Ramalhete, Retalhos de Cetim, Cevando o Amargo, Sapato Velho, Tiro ao Álvaro, Eu Só Quero um Xodó, Folia no Matagal e Agora Só Falta Você. As apresentações vão rolar nos dias 27 e 28, às 20h, na Sala de Música Gerdau, lá no Multipalco do Theatro São Pedro.

Roger Lerina assina de segunda a sábado a coluna Contracapa, no Segundo Caderno de Zero Hora

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 31


Carta para José Klein FABRÍCIO CARPINEJAR carpinejar@terra.com.br @ fabriciocarpinejar @carpinejar /fabriciocarpinejar

– Quando amamos, é lindo olhar a cascata, mas é muito melhor quando nos jogamos na cascata. Meu amigo, eu respeito o que diz. Mas defende uma forma única de amar. Uma forma intempestiva, passional, impulsiva. Se ela não aparece

desse modo, não compreende como amor. Observar o horizonte seria uma vivência inferior a mergulhar. Assim pode cometer um engano e desmerecer uma grande mulher. Quem é viciado na paixão – nos sintomas truculentos da paixão – corre o risco de nunca conhecer o amor. Vi febre que era apenas gripe. A verdade é que o amor nos muda para mudarmos o amor. Antes queria testar os limites, hoje talvez queira proteger os limites. Antes se orgulhava da fúria, da provocação e da dependência nervosa, hoje talvez busque uma relação que ofereça paz e cumplicidade. Atualmente, o entendimento e a serenidade a dois podem ser mais difíceis e excitantes do que a loucura que vivia quando se apaixonava.

32 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

Pular a cascata não será uma aventura inédita, não vai surpreendê-lo, ainda mais para você que saltou várias vezes. Já pulou a cascata para entender como a cascata funciona e onde precisa cair. Já absorveu modos de segurança e mecanismos de defesa. Já treinou a queda. Não tem graça. A queda é voo, é acrobacia, é técnica. Não será mais a adrenalina do tombo inaugural. Educamos o amor a ser progressivamente resistente, a ponto de transformar o nosso temperamento e alterar as nossas exigências. Não terá mais o arrebatamento, a volúpia e o descontrole anterior. Não porque o amor é mais fraco, mas porque se tornou mais forte pelos amores que enfrentou. Não pode esperar encontrar

um amor de tirar o fôlego, como já experimentou, pois respira na altitude e encorpou o fôlego. Não pode regrar seus próximos envolvimentos por uma receita. Seu raciocínio segue uma lógica perigosa, tem que ser igual ao que deu certo, que deve perder a cabeça, senão não é amor. Talvez o maior amor seja aquele que devolve a cabeça. Você não é mais o mesmo para amar como antes. Criou anticorpos, será sensibilizado com o dobro de atenção. Não repetirá a crise de ciúme, a taquicardia, o balbucio. Mas reconhecerá a disposição, a saudade e o bom humor que existem em todo encantamento. É um crime amar de novo boicotando as experiências.

Como se o amor fosse alheio, pronto. Como se houvesse uma fórmula eternamente igual para si, feita de desequilíbrio e suspensão do tempo. Você amará superando o que amou e, inclusive, o que deixou de amar. Garanto que há também esse amor que começa suave e tranquilo, para depois ganhar violência e arrebatamento. Não precisa ter sempre, de início, o salto no escuro. Aquele que enfrentou a vertigem, a incerteza, o precipício, pode ter construído uma ponte para a nova relação. O amor de ponte não é menor do que o amor de rio e correnteza, pois está agora no alto de suas lembranças. Isso não é covardia. Covardia é repetir o passado absolutamente conhecido.

ZERO HORA


Escritor com carteirinha CLAUDIA TAJES

claudiatajes@uol.com.br

Reprodução

As verdades de um grande ficcionista

Fabiano Dallmeyer

Aprendendo com quem sabe

Dedo de Vidro: o CD novo do Oly Jr.

ZERO HORA

Aula particular para quem escreve

“Querida Claudia, tenho XX anos e gosto muito de escrever. A bem da verdade, eu já escrevo, mas preciso de algum conselho para saber se estou no caminho certo. Gostaria de te mandar os originais do meu livro. Você me ajuda? Um abraço, Fulano(a).” • Cada vez que chega um e-mail assim – mais ou menos uma vez por semana –, meu coração fica apertado. Começar em uma profissão é a coisa mais difícil que há. E quando a pessoa é candidata a escritor(a), fotógrafo(a), cineasta, ator/atriz, roteirista, artista e etc., atividades que não assinam carteira e que, muitas vezes, não são reconhecidas nem pela família da gente, daí o começo pode ser dramático. • Não tenho conseguido ler os textos que me mandam. Guardo todos em uma pasta chamada REMORSO – com caixa alta. Quando chega algum original anexado ao e-mail, já salvo e jogo lá. Cada vez que olho para o meu desktop, vejo vários textos que esperam por uma opinião. O problema é a falta de tempo para opinar. Daí lembro de todos os que generosamente me ajudaram no meu próprio início e me sinto uma crápula por não fazer o mesmo com quem me procura. É assim que a pasta REMORSO vai aumentando na mesma proporção do remorso que sinto. • Então pensei em uma solução para, pelo menos, aplacar tamanha culpa. Fui em busca

das boas oficinas literárias que um vivente pode fazer aqui em Porto Alegre, um caminho que funciona para encontrar aprimoramento ou orientação. E, quase sempre, os dois. Certamente várias oficinas de escrita ficaram de fora por desconhecimento meu. Mas pelo menos é um ponto de partida – isso enquanto REMORSO, a pasta, e remorso, o sentimento, seguem crescendo. • A Oficina de Criação Literária que o escritor Luiz Antônio de Assis Brasil ministra há mais de 30 anos na PUCRS já foi o primeiro passo na carreira de muito autor que hoje publica e faz sucesso. Informações: www. laab.com.br • A Oficina Literária do escritor Charles Kiefer também já formou vários autores conhecidos. São mais de 20 anos de aulas e turmas para diferentes tipos de candidatos. Informações: oficinack@cpovo.net • A Oficina do Subtexto da Cíntia Moscovich, com ênfase no conto, tira o medo de escrever e ensina a fugir dos chavões do texto. Para saber mais: oficinasubtexto@gmail.com • Poeta, professor, tradutor e saxofonista. Esse é o Pedro Gonzaga, que mantém turmas de Escrita Criativa na simpática Palavraria (palavraria@palavraria. com.br) e no lindo Instituto Ling (www.institutoling.org.br). E, de vez em quando, o Pedro ainda

ministra oficinas em dupla com a profe-musa Jane Tutikian. Vale ficar de olho. • O jornalista e escritor Walter Galvani vai ensinar a arte do autodiálogo aos seus alunos na novíssima oficina Biografia & Autobiografia. Informações: waltercasa@cpovo.net • A escritora e gente fina Valesca de Assis (valesca@portoweb. com.br) e o Marcelo Spalding (marcelospalding@gmail.com) mantêm turmas regulares. A professora Lea Masina trabalha com a qualificação do texto literário (lmasina.ez@terra.com.br). Cris Lisbôa, que atua em várias e diversas frentes, é responsável pelo curso Go, Writers (www. gowriters.com.br). Ismael Caneppele dá aulas sobre um assunto que interessa a muitos, o roteiro (www.ismaelcaneppele.word press.com). A escritora Leticia Wierzchowski ensina as técnicas do romance no Studio Clio (www.studioclio.com.br). E uma novidade: a jornalista Cláudia Aragón, que criou o guia Porto Alegre Quem Diria, agora ajuda a organizar e lapidar textos jornalísticos (claudia@portoalegre quemdiria.com.br). • E quer uma trilha sonora para lá de inspirada? O músico Oly Jr. acaba de lançar seu 11º disco, Dedo de Vidro. Blues de qualidade para ouvir criando enredos ou vivendo histórias. Porque a gente sabe: tudo fica melhor com uma boa música ao fundo.

22 DE MARÇO DE 2015 DONNA ZH 33


Elogio à

MARTHA

MEDEIROS marthamedeiros@terra.com.br /marthamattosmedeiros

O

médico britânico Richard Smith gerou polêmica, recentemente, ao afirmar que o câncer é a melhor forma de morrer. Aos que já perderam alguém para essa doença infeliz, a pergunta que fica no ar é: como assim? Dr. Smith explica que, entre a morte súbita, a falência múltipla de órgãos, a demência ou um câncer, este último estaria em vantagem por dar ao paciente a oportunidade de se despedir dos seus afetos e prazeres, de refletir sobre a vida, de visitar certos locais pela última vez e de se preparar para a partida conforme suas crenças. A polêmica se acirrou mais ainda quando ele disse que os investimentos para pesquisar a cura do câncer deveriam, ao menos em parte, ser direcionados a estudos sobre as doenças da mente. A primeira vez que enxerguei o câncer com olhos menos dramáticos foi ao ler o livro Por um Fio, do dr. Dráuzio Varella, em que ele relata sua comovente experiência como oncologista. Agora, ao assistir ao filme Para Sempre Alice (que achei meio fraco, diga-se), reforcei a ideia de que o câncer dispõe mesmo de alguns benefícios nessa competição macabra. A atriz Julianne Moore ganhou o Oscar de melhor atriz ao interpretar uma mulher de 50 anos que sofre do mal de Alzheimer. Ela perde palavras, não reconhece feições, esquece com quem estava conversando, e sobre o quê. Menos mal que ainda consegue produzir flashbacks, lembrar a infância e acontecimentos

memória

remotos. Porém, nos casos em que a memória vai inteirinha para o brejo, de que adiantou ter vivido? Não faz sentido atravessar tantos conflitos e amores, ter cometido tantos erros e acertos e não poder, lá adiante, contabilizá-los. No inventário de uma vida, vale o que se fez e o que se sentiu. Se tudo for esquecido, esvaziam-se nossos 80 anos, nossos 90 ou 100. Qualquer longevidade passará a valer um segundo. Espero um dia olhar para fotos antigas e me reconhecer no sentido mais amplo, recordar o que eu vivia naquele momento do clique, dizer “parece que foi ontem” sem sofrimento. Quero lembrar sabores, sorrisos, gestos, enfim, os flashes que iluminam a estrada atrás de nós. Quero inclusive lembrar os arrependimentos e as dores, que vistos de longe parecerão bem menores – e essenciais. Quero rir muito de mim, me recordando de trás pra frente. Porque, se não for assim, nossa vida terá valido para os outros, os que nos lembram, mas não terá valido para nós mesmos. Seremos uns desmemoriados sem alicerces, vagando num presente ilusório, desaparecendo a cada minuto que passa. Se temos que morrer um dia (que jeito), que seja abraçados a nossas recordações. A integridade de uma vida está em seu reconhecimento, mesmo que, junto às boas lembranças, sejamos obrigados a reconhecer também a proximidade do fim. É o preço. Pior é morrer alienado, sem poder avaliar, através da memória, se valeu ou não a pena.

34 DONNA ZH 22 DE MARÇO DE 2015

ZERO HORA


VENDAS EXCLUSIVAS PELA INTERNET

zhora.co/lojadonna

Arte Melina Gallo

DONNA LANÇA LINHA DE CAMISETAS COM ESTAMPAS DIVERTIDAS QUE SÃO A CARA DA SUA REVISTA PREFERIDA



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.