Caderno de Esporte 2011

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esportes@zerohora.com.br

Editor Executivo: David Coimbra > 3218-4350. Editor: Sérgio Villar > 3218-4361 > Diagramação: Aluísio Pinheiro, Norton Voloski e Renan Sampaio

MAURO VIEIRA

> SEGUNDA | 29 | AGOSTO | 2011

JUSTO ABRAÇO Leandro e Escudero comemoram a marcação do pênalti que deu a vitória por 2 a 1 do Grêmio no Gre-Nal 388, no Olímpico. Durante a maior parte do jogo, o time de Celso Roth mostrou mais ambição e mereceu o resultado

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Esporte/GRE-NAL

ZERO HORA DOMINGO,28 DE AGOSTO DE 2011

É fácil gostar MAURO VIEIRA

MARIANA KALIL

O objetivo era pegar Gilberto Silva de surpresa. Ele chegaria ao Z Café da Praça da Encol para esta entrevista às 18h30min. Nós conversaríamos sobre sua passagem pelo futebol inglês e grego, falaríamos da volta ao Brasil, da mudança para Porto Alegre, da adaptação ao Grêmio, da sua vida fora de campo, de família, filhos, dinheiro, medos, manias, infância e afins. Então, chegaria o momento solene de conversar sobre música, já que futebol e música ocupam praticamente o mesmo lugar de destaque no coração do jogador. – O senhor acha que ele toparia tocar violão ou cavaquinho para a gente? – sondei, por telefone, Paulo Vilhena, assessor pessoal de Gilberto e seu amigo há uma década. Ele riu. – Olha, Gilberto tem verdadeiro fascínio pela música e gosta muito de tocar cavaquinho. Toca por hobby, como válvula de escape. Mas devo dizer: ele é bem tímido e tem vergonha de tocar e cantar em público. Entre os amigos, só agora está um pouco mais solto.

Gilberto Silva à vontade com o cavaquinho após o susto inicial de que teria que driblar a timidez e mostrar o talento também para a música

A

pesar do aparente balde de água fria, o plano original foi mantido,e o cavaquinho foi entregue à gerente do Z Café,com a recomendação de que só saísse de trás do balcão quando fizéssemos o sinal. Gilberto Silva chegou ao local 10 minutos depois de todo o cenário armado. De jeans e moletom cinza,parece mais magro do que na tevê. E mais jovem também. Completa 35 anos no dia 7 de outubro,mas poderia perfeitamente dizer que tem 28 ou 29. Não usa nenhum desses acessórios que compõem o estilo de ídolos midiáticos,como correntes douradas com as iniciais do nome ou brincos cravejados de brilhantes. Na mão esquerda, apenas a aliança de ouro denuncia que é um homem casado – há sete anos com Janaina e pai de três filhos: Gilberto, 9, do primeiro casamento, Isabela, 8, e Giovana 4. É tímido, mas não se pode dizer que fale pouco. Fala bem, e arrastado,

como um típico mineiro de Lagoa da Prata. O som caipira do R se faz ouvir em palavras como “forte”, e o R chiado, com sonoridade carioca, aparece em adjetivos como “soberbo”. Gosta de chocolate quente e,apesar do tamanho (1m85cm), cuida do apetite com moderação.Fica na dúvida se uma xícara pequena é suficiente.Aconselhado pelo garçom, aceita a maior, acompanhada de água sem gás. Gilberto Silva está feliz da vida no Grêmio. O clube gaúcho ajudou-lhe a realizar o desejo de voltar para o Brasil após nove anos jogando fora – primeiro no Arsenal da Inglaterra, depois no Panathinaikos da Grécia. Tinha saudade, muita saudade do país, dos pais, das três irmãs, dos amigos e, sobretudo,de Gilberto. – Não é fácil deixar um filho – diz. – Quando surgiu a oportunidade de vir para o Grêmio, não pensei duas vezes. Estou super à vontade no clube, sinto que tenho uma casa.

Do futebol europeu,não importou a disciplina, até porque disciplina sempre foi característica inerente ao seu caráter.Aprendeu,no entanto,a enxergar a profissão como um negócio que exige do jogador não apenas desempenho em campo,mas postura fora dele. Uma das primeiras iniciativas ao ser apresentado como novo meio-campo do Grêmio foi colocar-se inteiramente à disposição do clube. – Ele foi conversar com o assessor de imprensa para dizer que entende a importância de sua imagem para o Grêmio e que essa imagem está à disposição do clube. Isso é atitude rara em jogador hoje em dia – observa Rogério Braun, empresário que ajudou neste retorno do jogador ao Brasil. Ele acrescenta: – Já reparou que o Gilberto não tira a camisa para fora do calção durante a partida? Ele entende que atrás do calção existe um patrocinador. São atitudes sutis que demonstram a força do seu caráter.

Gilberto Silva confirma a opinião do empresário a seu respeito: – A partir do momento em que você faz parte de um clube, você gera expectativa nas pessoas. Conseqüentemente, tem que representar bem a sua casa.

Os quatro cachorros vieram de mudança com a família da Grécia Seria tarefa mais fácil se o Grêmio vivesse um momento cor de rosa, o que não é o caso. O tricolor beira a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, e o Gre-Nal deste domingo é quase um caso de vida ou morte. Gilberto Silva sabe disso. O time também. – É um momento muito incômodo – admite. – Todo mundo está chateado, mas não existe outra palavra dentro do vestiário que não seja motivação, e isso é bacana. Diante da realidade, seria natural acontecerem


ZERO HORA DOMINGO,28 DE AGOSTO DE 2011

mariana.kalil@zerohora.com.br

“Penso há muito tempo na vida pósfutebol, apenas não defini quando vou parar. Quando fui para a Grécia, achava que aconteceria no fim do contrato. Mas vi que dava para seguir. Tenho contrato com o Grêmio até o final de 2012. Quando ele terminar, farei essa avaliação”

“Adoro comida mineira, mas não sei fazer nada. Me arrisco no feijão e arroz e no bife na chapa. Como passei nove anos fora, quando vou a uma churrascaria devoro qualquer corte de carne (risos), sempre no ponto. Mas se for fazer um programa, tipo sair para jantar, tenho preferência por um bom prato de massa” “Gosto e leio muito livros de autoajuda. Na época em que jogava no América, li um livro bacana: Quem Mexeu no Meu Queijo? Me ajudou a ter um maior entendimento da vida pessoal e profissional. Recentemente, li O Vendedor de Sonhos. Me senti praticamente o personagem da história”

Isso também é Gilberto Silva O meio-campo desembarcou no Grêmio com uma bolsa estilo carteiro da Louis Vuitton atravessada no corpo

ZEROHORA.COM Veja o vídeo feito no Z Café do do jogador Gilberto Silva cantando e tocando cavaquinho. Acesse www.zerohora.com

BOSE, DIVULGACAO

– Sempre fui péssimo xavequeiro e não gostava muito de me arriscar – lembra.– Mas mineiro dá seu jeito. Gilberto Silva chora com facilidade e não se esconde para chorar. Chora na frente da família, chora de saudade dos pais,chorou muito quando a Seleção Brasileira perdeu para a Holanda na Copa passada. Só levanta da cama com o pé direito e só entra em campo com o pé direito também. É sua única superstição. Já a música é capaz de transportá-lo a um outro nível, a um outro plano,quase espiritual. – A música me leva a um mundo que é só meu – diz. – Eu viajo para outra dimensão. Quando estou tocando, não escuto nenhum som além do meu universo particular. No fim de tarde da última quintafeira,o Z Café estava transformado em um ruído ensurdecedor de pessoas falando ao mesmo tempo. Em meio ao burburinho, o cavaquinho foi, enfim, apresentado a Gilberto Silva. Ele chegou a esboçar uma certa rejeição, mas a timidez não ofereceu muita resistência. Começou tocando alguns acordes e logo já desfiava versos de Bezerra da Silva e Jorge Aragão. – Da próxima vez,trago o boné e fica ainda mais fácil – divertiu-se. Difícil foi convencê-lo a largar o brinquedo e dar por encerrada a roda de samba e pagode.

“Foi duro ser o único irmão no meio da mulherada, viu? Trabalhoso... Mulherada que fala pra caramba... (risos) Mas elas sempre foram muito ligadas a mim e me respeitaram muito. Quando elas começavam a falar demais, eu dava um jeito de sair devagarinho, de um jeito que elas nem percebiam”

LOUIS VUITTON, DIVULGACAO

Repertório inclui Bezerra da Silva e Jorge Aragão

‘‘

“Sou um bom observador e rapidamente entendi a dinâmica do futebol. Ele é feito de altos e baixos, independentemente do jogador. É como na vida, né? Tem dias em que você está feliz; em outros, nem tanto. O segredo é exercitar o autocontrole”

ARQUIVO PESSOAL

Aos 19 anos, foi atendido.Arrumou a mochila e voltou a tempo de se integrar à equipe de juniores do clube. O que aconteceu,então,foi uma sucessão de bem-aventuranças, cujo ponto alto culminou com sua escalação para a Seleção que conquistaria o pentacampeonato em 2002. Ele credita essa série de fortunas ao que denomina “lei do retorno”,do colher o que se planta. Na lida doméstica, é um pai que jamais levantou a voz para um filho. “Não” é “não” – e ele diz “não” uma única vez.Não sendo atendido,resolve as pendências só com o olhar. Antes de se tornar chefe de família, não foi adolescente de baladas. Não esperava ansiosamente pelo fim de semana. Muitos finais de semana,aliás,preferiu ficar em casa. Também não teve muitas namoradas. Diz ele que não tinha o dom do“xaveco”.

ACADEMIA , DIVULGAÇÃO

desavenças e desentendimentos, mas ocorre o contrário. Todo mundo só fala em reverter essa situação.A gente tem consciência que cada jogo daqui para frente é uma final. Em Porto Alegre, Gilberto vive com Janaina e as duas filhas em um apartamento no bairro Bela Vista. Chegou a pensar em procurar uma casa, mas desistiu – e teve, portanto, que desistir também de trazer os seis cachorros. Só a Yorkshire, por ser a menorzinha, usufrui desse privilégio da convivência familiar.Os dois labradores sempre moraram com seus pais em Lagoa da Prata, na casa que ele ajudou a construir quando renovou o segundo contrato com o América de Minas. O Beagle,o Chihuahua e também a sortuda Yorkshire usufruíram dias de dolce far niente à beira do mar Mediterrâneo. Sim, Gilberto Silva comprou os três cachorros na Grécia. E tem mais: sentiu o coração amolecer diante de uma cadela mestiça que sempre aparecia nos treinos do Panathinaikos e nem cogitou a hipótese de não levá-la para casa. Adotou a Flora também. A volta para o Brasil com toda essa tropa foi um acontecimento. – Uma aventura digna de Robinson Crusoé – conta,rindo. Além da esposa e das duas filhas,os quatro cachorros embarcaram no voo de Atenas para Paris. Só que a família não conseguiu pegar a conexão ParisSão Paulo.E em Paris os oito integrantes dos Silva se hospedaram em dois quartos de hotel. – Família unida é isso,né? O conceito família sempre foi muito presente na vida de Gilberto Silva e ajudou a forjar o homem digno e honrado em que se transformou. Primogênito e bendito fruto entre três irmãs, começou a trabalhar aos 14 anos em uma estofaria para não precisar pedir dinheiro ao pai – É a postura que se espera de um homem,não? Aos 16 anos, fez teste para o América Mineiro.Jogou durante cinco meses no clube, mas a mãe adoeceu, e Gilberto não quis e não soube ficar longe. Voltou para Lagoa da Prata e empregou-se em uma fábrica de doces. Lá, trabalhou durante dois anos e cinco meses. Muito ouviu que havia fracassado.Nunca levantou a voz,nunca respondeu atravessado. Juntava toda a família em oração e pedia pacientemente pela cura. – Sou um homem de fé.

TATIANA CAVAGNOLLI, BD, 13/05/2008

dele

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Esporte

Nas viagens com o clube e com a Seleção, gosta de ouvir música, e o seu fone de ouvido preferido é da marca americana Böse


Esporte/GRE-NAL 388

FERNANDA ZAFFARI

Para quem acha que Leandro Damião já tem emoção que chega como destaque do Brasileirão, enfileirando gols de craque e angariando a cada rodada a quase unanimidade entre os críticos nacionais de futebol, aguarde até o fim do ano. Além da esperada negociação milionária para o futebol europeu, expectativa que ronda o Beira-Rio toda vez que ele acerta a bola na rede, o jogador vai casar. Casado, no papel, ele e Nádia, a namorada de quase 10 anos, já são. Só ficou faltando a festa. E, por questões de calendário esportivo, esta foi pensada para quando dezembro ou janeiro chegar. A festa é a cereja no bolo no ano do jogador. Ano em que conquistou a titularidade no time principal, foi convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez e entra em campo no clássico Gre-Nal como estrela da rodada. Na semana que passou, enquetes pipocavam na imprensa com a pergunta:“Quem é o melhor jogador do Brasileirão: Neymar, Ronaldinho Gaúcho ou Damião?” Não há dúvida de que o jovem é elite no esporte, é elite no país especialista em produzir atacantes acima do padrão. E não há dúvida também que ele vive à margem desta superbadalação.

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TÁRLIS SCHNEIDER, ESPECIAL

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Leandro Damião chega ao Beira-Rio para o treino em preparação a mais um clássico Gre-Nal na carreira

Impossível

À

s vésperas do clássico GreNal, Damião não concedeu entrevistas fora do ambiente do Beira-Rio, seguindo regras do Inter. Em jogos decisivos e importantes, Gre-Nal é um deles, jogadores são orientados a não atender à imprensa fora do estádio.Não foi só a ZH que ele não atendeu. Damião tem pedidos de entrevistas para programas nacionais de TV e revistas de todas as áreas. Todas mesmo.Até as publicações femininas voltadas para celebridades querem ouvir o que o goleador tem a dizer. – Quer ver só como o Damião é? – provocou Vinícius Prates, seu empresário. – Ele comemorou a Recopa até as 4h30min.Às 11h, já estava a caminho do Hospital da Criança Santo Antônio, compromisso que havia assumido anteriormente. Foi uma atitude que,sério,me impressionou. Damião doou a camiseta com a qual ganhou o Gauchão. Na época, o técnico era Paulo Roberto Falcão,por quem

ele demonstrou carinho publicamente, e que agora retribui com elogios: – Ele é surpreendente como atleta e como ser humano: é jovem, mas tem maturidade; é alto, mas tem agilidade; tem técnica e força, mas não é de fazer firula e está sempre pronto para treinar.Quando não foi chamado para a Copa América,fiquei preocupado e o chamei para conversar, pensando em consolá-lo. Não foi preciso. Ele ficou triste,mas não se deixou abater e continuou trabalhando para voltar. A característica de não se abalar nos momentos de desilusões não é recente. Conversando por telefone com Silvio Kohler, do XV de Outubro, time amador catarinense de Indaial, onde Damião jogou, ele relembra uma derrota sofrida por 4 a 1.Damião chorou,estava sendo criticado,e Silvio disparou: – Tu tens muita bola.Não te abate. Com técnicas de recursos motivacionais escassas,Silvio apelou para um discurso direto,antes de uma decisão:

– Disse que a gente precisava de um título porque, naquele Natal, tudo ia ser bem simples, mas se o título viesse,o próximo ia ser bem melhor. Preleção encerrada, o guri Damião falou ao pé do ouvido do dirigente: – Pode deixar que eu vou longe! O resto da história é conhecida. O jogador foi para o futebol profissional no Atlético Hermann Aichinger, de Ibirama,e de lá para o Inter B. Silvio e Damião se falam via Twitter, ainda mais que dois primos do jogador estão no XV. O primo Wamberto, 19 anos, ele conta, é“ala-esquerdo primoroso,e chuta com as duas pernas.” – Pode contar,este vai dar Seleção! Damião é descrito por todos como focado e extremamente disciplinado. – Ficava 30, 40 minutos depois do treino repetindo, repetindo até acertar os lances – lembra Luis Fernando Ortiz,coordenador do Projeto Aprimorar do Inter. Ortiz trabalhou diretamente com Damião, aprimorando técnicas,

pois o jogador sequer passou por categorias de base. – Tenho um carinho grande por ele. Acompanhei muitos atletas, mas com ele foi um trabalho individualizado. Nunca vi profissionalismo igual. Fico emocionado de ter podido ajudar,mas foi apenas uma pequena parte. Ele venceu pela dedicação que tem – concluiu Ortiz. Filho do meio de três irmãos (outro rapaz, que mora em São Paulo, e uma garota, que mora no Paraná), muito se fala da origem humilde do craque. Nasceu no Paraná, mas foi pequeno para São Paulo, onde o pai havia se mudado em busca de emprego. Natalino e a mulher se separaram quando Damião tinha quatro anos: – Fui eu quem criou esses guris sozinho – contou o pai,na tarde de sexta no Beira-Rio. – Eu e a avó deles, que me ajudou muito. Natalino, apelidado de Seu Bigode pelo jogador Taison, é pai zeloso. E


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Esporte

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FOTOS ARQUIVO PESSOAL

Damião com o irmão na época em que moravam no Paraná

Leandro Damião (E) com os amigos na quadra da escola

Damião e o irmão Edimar

À direita do pai, na festa de 34 anos

não gostar Damião com a mulher Nádia

Damião, sempre que a oportunidade aparece, retribui. É um filho amoroso. Natalino mora em Santo Amaro, onde trabalhou como auxiliar de depósito, em um frigorífico e como caseiro.Nos últimos anos,atuava em um condomínio de Osasco na função de auxiliar de limpeza.Faz pouco,deixou a atividade, mas o excelente momento profissional do filho não mudou seu estilo de vida. Ele nem pensa em trocar de endereço. Antes do treino,a conversa fluiu: – Como o Damião virou jogador? – Não sei,acho que foi obra de Deus – respondeu um Natalino retraído como o filho famoso.– Eu gostava de futebol, mas achei que era o mais velho que ia ser jogador,o Edimar. Relembrando os tempos em que Damião foi selecionado pelo XV, obrigando-se a sair de casa, fica claro que o pai criou os filhos muito próximos: – Fiquei com medo. Ele tinha só 17 anos.Tinha medo que ele se fosse. O pai não precisa se preocupar. To-

dos que acompanham Damião são categóricos: o guri continua o mesmo. Em Munique,no dia de folga da Copa Audi, jogadores e comissão técnica saíram para curtir as tentações de um centro de compras sofisticado como é o da elegante cidade alemã. Damião foi um dos poucos que ficou no hotel. Justificativa? Queria descansar. Consumo só se for de gadgets.Gosta de videogames, de carros de corrida e do seu iPhone,de onde tuita como um profissional. Mora num apartamento no bairro Menino Deus, usa o mesmo carro, um Renault Sandero dos tempos do Inter B, e não mudou o visual esportivo para se vestir,optando quase sempre pela marca do patrocinador. Essa semana, Fernando Carvalho comentou sobre o atleta a um amigo: – Me enganei sobre o Damião.Achei que ele era bom,mas é um fenômeno. Outro discurso empolgado vem do interior profundo de Santa Catarina. Ayres Marchetti, secretário de Desen-

volvimento de Ibirama, dirigente do Atlético e dono de 30% do passe do jogador,é só felicidade. – Achava que ele ia ser excelente, mas não ao ponto que chegou. É mais um a querer fazer previsões: – Será o melhor do mundo em 2013! Na noite do Bi da Recopa, houve foguetório na cidade: – Acordamos toda a Alemanha que tem aqui! – diverte-se, referindo-se à origem dos habitantes locais – Antes o Inter tinha aqui uns 10 torcedores, agora são uns 20 mil. Sobre a valorização do jogador,fala- *Colaborou Leonardo Oliveira se em 15 e até 20 milhões de euros,ele demonstra o mesmo bom humor: – Já estou gastando por conta! Certo é que Damião tem fascinado dentro e fora de campo por motivos diferentes. No gramado, é um centroavante atrevido de gols exibidos. Fora dele, é o oposto: jovem discreto, sem afetação.Coisa rara hoje no futebol para craques emergentes.

O pai, Natalino, acompanha o filho Damião (D)

Os irmãos Leandro Damião e Edimar


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ZERO HORA > SEGUNDA | 29 | AGOSTO | 2011 O JOGO EM 140 CARACTERES MAURÍCIO SARAIVA comentarista da RBS TV e TVCOM

Vitória merecida de quem jogou Copa do Mundo contra um time que só conseguiu jogar Brasileirão. Grêmio foi superior em tudo. Justo.

Sem ressalvas MAURO VIEIRA

DAVID COIMBRA

S

em considerações. Sem ressalvas. Poucas vezes, na história mais que centenária do Gre-Nal, um time alcançou uma vitória tão irretorquível quanto foi a do Grêmio sobre o Inter, ontem, no Olímpico. O placar de 2 a 1 não reproduziu o que foi o jogo. Porque o domínio do Grêmio foi pétreo,foi absoluto.Um dado dá a medida do que ocorreu no clássico: o Inter construiu uma única oportunidade real de gol,justamente a que acabou no gol de Índio: uma falta cobrada por Oscar que acabou na cabeça do zagueiro goleador do Inter,aos 26 minutos. E foi só. De resto, o Grêmio passou a tarde rondando a área colorada, ameaçando, sempre na iminência de marcar. O esquema de Celso Roth funcionou. Talvez tenha sido montado meio que às pressas, devido à lesão do volante Gilberto Silva, no sábado, mas funcionou.Principalmente porque o Grêmio soube aproveitar bem a habilidade dos seus laterais. Mário Fernandes teve uma atuação estrondosa. Não errou um só lance.Venceu todas as divididas, não foi driblado uma única vez e,para arrematar,foi uma aguda arma de ataque pela direita. Foi dele a jogada do primeiro gol do Grêmio, aos 15 minutos: depois de ter ido à linha de fundo, Mário passou para trás, rasteiro. Marquinhos desviou com o bico da chuteira esquerda e comprovou sua vocação de meia que faz gols. Antes disso, o Grêmio já construíra duas boas oportunidades de marcar, aos seis,com Julio César entrando livre na área e chutando cruzado para fora, e aos 11, quando Índio recuou errado e quase marcou contra. Muriel espalmou,a bola voltou para Julio César,que cruzou bem e André Lima perdeu na pequena área. Julio César, aliás, foi uma arma eficiente do time gremista, sobretudo no primeiro tempo, levando vantagem sobre Glaydson a partida inteira, auxiliado pelo elétrico argentino Escudero, cruzando, batendo na diagonal, mas também recompondo na defesa, marcando com boa eficiência. Mas quem demonstrou eficiência na marcação,mesmo,foram os zagueiros do Grêmio.Vilson e Saimon foram impecáveis. Saimon, que cada vez que entra arruma a defesa, ontem foi mais do que eficiente: foi um gigante.Porque marcou o melhor centroavante do Brasil na atualidade.Com Saimon em seu encalce, Damião não conseguiu jogar. Saimon foi melhor na antecipação, na Leia o blog do David em www.zerohora.com

Brasileirão 2011 – 19ª rodada – 28/8/2011

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GRÊMIO

INTER

1 Victor; 13 Mário Fernandes 14 Vilson 26 Saimon 15 Julio Cesar; 17 Fernando 5 Fábio Rochemback; 19 Marquinhos (21 Leandro, 29’/2º) 10 Douglas 24 Escudero; (27 W. Magrão, 38’/2º (6 Edcarlos, 44’/2º)) 99 André Lima Técnico: Celso Roth

1

1 Muriel; 4 Glaydson 2 Bolívar 3 Índio 6 Kleber; (13 Juan, 24’/2º) 5 Elton 7 Tinga (14 Ilsinho, 36’/2º) 17 Andrezinho 16 Oscar; 11 Dellatorre (18 Jô, int.) 9 Leandro Damião Técnico: Dorival Júnior

Gols: Marquinhos (G), aos 15 minutos, e Índio (I), aos 26 minutos do primeiro tempo; Douglas (G), aos 33 minutos do segundo tempo. Cartões amarelos: Fábio Rochemback e Mário Fernandes (G); Dellatorre, Índio, Jô, Elton e Bolívar (I). Arbitragem: Marcelo de Lima Henrique (Fifa/RJ), auxiliado por Altemir Hausmann (Fifa/RS) e Julio Cesar Rodrigues Santos (CBF1/RS). Público: 26.694 (23.182 pagantes). Renda: R$ 502.259. Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre.

PRÓXIMOS JOGOS – BRASILEIRÃO 31/8/2011 – QUARTA-FEIRA, 18H CORINTHIANS X GRÊMIO 31/8/2011 – QUARTA-FEIRA, 21H50MIN INTER X SANTOS

Douglas bateu pênalti com categoria, no alto, firme, sem chances de defesa para o goleiro Muriel

Talvez o Inter estivesse cansado, talvez estivesse descontado. Pouco importa. Era o Inter de Oscar e Damião. Era o Inter campeão da Recopa força e na bola aérea. Damião meteu a cabeça na bola só uma vez, no fim da partida, numa testada fraca que foi amortecida pelos braços deVictor. Saimon deu-se o luxo de sofrer um pênalti,aos 27 minutos,não assinalado pelo árbitro. Quatro minutos depois, o Grêmio desenhou outra chance,numa jogada envolvente de Marquinhos e Escudero que terminou em um chute de Fernando defendido por Muriel.No primeiro tempo o Grêmio esteve próximo de marcar outras duas vezes,aos 37 e aos 45,em jogadas de Júlio César. No primeiro tempo,portanto,foram sete chances para o Grêmio e uma para o Inter. No segundo, Escudero passou para Mário Fernandes dentro da área aos 13 minutos. Muriel derrubou o lateral do Grêmio. Outro pênalti não

assinalado.Aos 23 minutos o Inter deu seu único chute a gol: Oscar, de longe. Victor espalmou para escanteio. Bem marcado,Oscar não conseguiu dar suas usuais arremetidas rumo ao gol, mas ao menos foi insinuante em cobranças de falta e escanteio. Já Andrezinho, Kléber e Dellatorre se diluíram na marcação. Pouco participaram do jogo, ficaram assistindo à movimentação dos três meias gremistas, com destaque para Escudero, que, segundo Celso Roth,é um jogador“intrínseco”, seja lá o que o técnico quer dizer com isso. Aos 32, foi Escudero quem entrou a drible na área do Inter. Índio o derrubou com um ombraço. Desta vez o árbitro marcou o pênalti. Enquanto Douglas se preparava para cobrar, o

goleiro Victor cravava os joelhos na linha da grande área, enrolava-se todo, como se fosse um muçulmano orando para Meca, e, de fato, orava. No meio do campo, Fernando também rezava, ajoelhado. E, no ataque, André Lima erguia os braços para o firmamento, ele também em atitude de prece. Nenhum dos três viu a cobrança perfeita de Douglas: 2 a 1. Mais três minutos e novamente Escudero invadiu a drible a área do Inter e chutou forte. Muriel espalmou a escanteio. Agora, Leandro já estava em campo, driblando, investindo em corrida vertical área adentro,tornando-se o atacante mais perigoso da tarde do

Olímpico. Aos 40, Leandro recebeu de Julio César, chutou, mas Índio interceptou.A partida terminou com o Grêmio retendo a bola, esperando o tempo passar para comemorar. No final, o próprio técnico Dorival Junior reconheceu a superioridade do adversário. Não havia com não reconhecer. Não havia como fazer reparos.Talvez o Inter estivesse cansado,talvez estivesse desconcentrado. Pouco importa. Era o Inter de Oscar e Damião. Era o Inter campeão da Recopa.Era,afinal,o Inter e isso quer dizer que era Gre-Nal.Vencer Gre-Nal sempre é especial. david.coimbra@zerohora.com.br


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ZERO HORA > SEGUNDA | 29 | AGOSTO | 2011 O JOGO EM 140 CARACTERES LUCIANO PÉRICO, repórter da Rádio Gaúcha

Grêmio foi melhor no Gre-Nal 388 e mereceu a vitória, porque quis ganhar desde o início! Escudero foi o principal destaque do clássico.

Cotação

por Editoria de Esportes

MAURO VIEIRA

VICTOR Não teve culpa no gol do Inter.7 MÁRIO FERNANDES Só saiu na boa.Mas quando saiu,foi sempre perigo de gol.Ou gol mesmo,como no passe para Marquinhos abrir o placar.8

GLAYDSON Com saída quase zero para o ataque,seria razoável esperar a contrapartida defensiva.Não veio.4

SAIMON Não deixou Damião jogar.8

BOLÍVAR Venceu o duelo contra André Lima, inclusive quando saiu à sua caça.6

VILSON Um bom coadjuvante de Saimon na tarefa de bloquear Damião.6

ÍNDIO Cometeu dois pênaltis,um não marcado,mas manteve o hábito de fazer gol em clássico.5

JULIO CESAR Estreia razoável.Poderia ter atacado mais. 6

KLEBER Tímido no ataque,sua virtude. Sofreu com Mário Fernandes.4

FERNANDO Na posição de origem,repetiu as atuações de luxo da seleção sub-20. Uma das torneiras que deveriam fechar para matar Damião de sede esteve sob seu controle,no combate a Andrezinho e Oscar. 8

ELTON Parecia marcar pelo quarteto inteiro de meio-campo do Inter. 8 TINGA Perdeu o duelo com Marquinhos. Deu espaço e não chegou à frente.5

FÁBIO ROCHEMBACK Marcado à distância,fez o que mais sabe: distribuiu o jogo.Errou (e reconheceu a falha) no gol de Índio, que entrou às suas costas. 6

OSCAR Apático.Parecia cansado com a maratona de jogos.5

MARQUINHOS Fez gol,deu assistência,tabelou, reteve a bola,acelerou e cadenciou o time na hora exata.8

ANDREZINHO Teve boa movimentação,mas D’Alessandro fez muita falta.6 DELLATORRE Deixou Damião sem parceria.4

DOUGLAS Mostrou mais intensidade do que em outros jogos,especialmente na marcação aos volantes.7

LEANDRO DAMIÃO Bem marcado por Saimon.5

ESCUDERO Valente,ousado,elétrico.Sofreu o pênalti que decidiu o jogo.8 ANDRÉ LIMA Falta-lhe ritmo.A ausência de um atacante ao seu lado o prejudicou.5 LEANDRO Entrou aos 29 do segundo tempo para ir para cima.E foi.7 WILLIAN MAGRÃO Entrou aos 38’/2º e saiu lesionado aos 44.SEM NOTA EDCARLOS Estreou aos 44’/2º.SEM NOTA

MURIEL Bastante exigido no primeiro tempo.Não teve culpa nos gols.7

JÔ Substituiu Dellatorre sem brilho.4 JUAN Jogou 34 minutos.Discreto.5

Volantes de futuro, os jovens Fernando (E), 20 anos, e Elton (D), 21, foram os melhores marcadores do clássico ÁRBITRO Um pênalti claro de Índio sobre Saimon,não marcado – na origem do lance,o Inter reclamou de carga em Muriel,também ignorada.Outro, de Muriel sobre Mário Fernandes.Dois lances comprometedores para o trabalho de Marcelo de Lima Henrique, que também inverteu faltas a valer para os dois lados.Uma atuação tecnicamente ruim,que influenciou no resultado da partida.Do ponto de vista disciplinar,controlou bem o Gre-Nal. NOTA 4

ILSINHO Entrou aos 36’/2º.SEM NOTA


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