FALE COM Edição: Ticiano Osório - ticiano.osorio@zerohora.com.br Projeto gráfico: Aluísio Pinheiro - aluisio.pinheiro@zerohora.com.br
PORTO ALEGRE, DOMINGO, 2/12/2012
OLÍMPICO
ETERNO
RONALDO BERNARDI
ZH
A inauguração
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OLÍMPICO
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
Aquela
Coube ao lateral-direito Orli a honra de ser o primeiro jogador a pisar no gramado do Olímpico. Neste domingo de Gre-Nal, caberá a Elano e seus companheiros a honra de serem os últimos. No dia do derradeiro jogo na casa gremista, Zero Hora conta a história e histórias do estádio de 58 anos
O DAVID COIMBRA
s outros jogadores do Grêmio chamavam Orli de “O Padre”. Porque era um católico ardoroso, assíduo de missas. Foi o seu pé piedoso o primeiro calçado com botina de jogo a ferir a grama do Olímpico, na história quase sexagenária do estádio. Era a tarde de 19 de setembro de 1954, o dia da inauguração da casa do Grêmio. Já no vestiário,Orli avisou os companheiros: – Vou ser o primeiro a pisar nesta grama! – Mas ele não tinha nenhuma intenção de fazer alguma façanha, não tinha intenção de entrar para a história, nada assim. Era só uma brincadeira entre jogadores, do tipo que se faz todos os dias durante o treino – lembra Milton Kuelle, 79 anos, o meia-direita do time que jogou a primeira partida do Olímpico, contra o Nacional do Uruguai, e que, escalado para o
jogo festivo da nova casa tricolor, no Humaitá, se transformará no único jogador gremista a ter atuado nos três estádios: Baixada, Olímpico e Arena. Orli era lateral-direito, mas, naquele dia, jogou na esquerda. Era um tipo retaco, de pouco mais de 1m70cm de altura,duro na marcação. – Ele chegava forte – diz Milton. Talvez tenha sido uma de suas fortes chegadas que motivou a fúria dos uruguaios no fim da partida, vencida pelo Grêmio por 2 a 0. Quando o árbitro Arthur Vilarinho soprou o apito pela última vez,Waldemar Gonzalez saiu correndo atrás de Orli com intenções claramente inamistosas. Orli, então, fez o que qualquer homem sensato faria em seu lugar: correu. Zuniu em direção à segurança do vestiário, gesto que seria repetido 22 anos depois pelo grande Roberto Rivellino, por coincidência depois de um jogo contra uruguaios. Nos anos 1970, quando Rivellino escapou da ira de Sergio Ramirez, o Uruguai já estava deixando de ser a“Suíça sul-americana”, como era
conhecido nos anos 1950, em que Orli pôs-se a salvo da ferocidade de Waldemar Gonzalez. Na época, o Uruguai era o país mais avançado do lado de baixo do Equador, com uma democracia sólida e leis sociais abrangentes. No Uruguai, a lei do divórcio existe desde 1907, quatro anos depois de o Grêmio ter sido fundado. No Brasil, só foi aprovada na época em que Rivellino fugiu de Ramirez. O Rio Grande do Sul também era mais avançado no tempo em que o Olímpico foi inaugurado. O Estado tinha 478 mil alunos e 18 mil professores, mais do que o Rio, perdendo apenas para São Paulo e Minas.Era o maior exportador do país, com um volume quase duas vezes superior ao de São Paulo. E só São Paulo superava o Rio Grande no número de indústrias – eram 13.800 na terra de Ademar de Barros contra 4.500 na de João Goulart.A população do Estado era de 4 milhões e 600 mil, pouco menos da metade de São Paulo,com seus 10 milhões e 300 mil – hoje,São Paulo tem mais de quatro vezes a população do Rio Grande do Sul.
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tarde de 54 Não era de se espantar, portanto, que um clube gaúcho construísse o maior estádio particular do Brasil. Naqueles dias de setembro, o Olímpico era o orgulho do Estado. Os gremistas quase nem lembravam que, havia pouquíssimo tempo, em 24 de agosto, o presidente Getúlio Vargas se suicidara com um tiro no coração. A política brasileira trepidava e fremia. O todo-poderoso proprietário dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, ao ser informado da morte de Getúlio, refletiu por alguns momentos e declarou, para espanto dos circundantes: – Vou me candidatar à vaga dele na Academia Brasileira de Letras. Como os gremistas, o Chatô estava mais preocupado com seus próprios assuntos. Outro tema que o afligia era a eleição que ocorreria em outubro,quando ele tentaria a reeleição para senador da Paraíba, onde ele não ia jamais, nem para fazer campanha.Foi,na verdade,uma única vez, levando um caixote para fazer discursos incompreensíveis para os matutos do interior que o ouviam. Em Currais Novos, por exemplo, Chatô bradou para uma plateia boquiaberta: – Vós tendes uma semelhança com O Contrato Social, de Rousseau! Não se elegeu, é claro, e mais tarde se queixou: – Eu não podia mesmo ser escolhido senador por uma gente cretina, ingrata e atrasada como aquela! No dia em que o Olímpico foi inaugurado,
Chatô escrevia um artigo debaixo do título “O comunismo e a UDN”, denunciando essa estranha (e imaginária) associação para derrotá-lo na Paraíba. O comunismo assustava, naqueles tempos de Guerra Fria. Em julho, o Vietnã seria dividido em dois numa conferência de paz em Genebra. E, nos Estados Unidos, o senador Joseph McCarthy, o perseguidor dos comunistas e pseudocomunistas, só seria desmoralizado pelo Senado em dezembro. A ameaça de conflito nuclear era real e, se fosse concretizada, seria a terceira e última guerra mundial, simplesmente porque, depois dela, não existiria mais ninguém para guerrear. O mundo era perigoso nos anos 1950, mas quem se importava com isso em Porto Alegre? A capital de todos os gaúchos era uma cidade com pouco mais de 400 mil habitantes e em desembaraçado crescimento, de arquitetura de talhe europeu e vida relativamente calma. Crimes havia, sempre houve, mas nada parecido com a atividade organizada e profissional do século 21. Na véspera do jogo entre Grêmio e Nacional, por exemplo, a Folha da Tarde noticiou com algum alarde: “Esposa infiel foi esfaqueada pelo marido”. A seguir, o texto informava no típico estilo “lavou sua honra”:“Um homem revoltado com o procedimento leviano da sua esposa, que pela segunda vez abandonou o lar em busca de aventuras amorosas, resolveu eliminar aquela que tanto o humilhava”. E dois dias antes da partida, quando o ci-
mento de alguns trechos de arquibancada do Olímpico ainda secava, o jornal gritou: “Atropelada e ferida por automóvel”. Na sequência, um pormenorizado texto relatou que Odília Stinbecker,“branca, brasileira, casada, que emprega suas atividades na Indústria Fracalanza” havia sido atropelada na esquina da Ramiro com a Farrapos às 7h30min. Numa manhã de outubro de 2012, poucos meses antes da implosão do Olímpico, o repórter de trânsito Mauro Saraiva Jr. registrou que, em cinco horas, ocorreram 30 acidentes em Porto Alegre. Mas no dia da inauguração,aí sim,o trânsito se complicou. Quinze ônibus desceram a Serra com gremistas de Caxias e Bento que vieram contemplar o novo estádio. Carros se perfilaram no alto morro do cemitério e seus ocupantes sentaram-se no capô para assistir à festa. Quem não tinha carro, subia nas árvores do entorno. Para ver aquele jogo, só mesmo indo ao Olímpico. A TV não transmitiria a partida, simplesmente porque não existia TV no Estado.A primeira TV do Brasil havia sido lançada por Chateaubriand exatamente quatro anos e um dia antes da inauguração do Olímpico. A primeira do Rio Grande do Sul seria lançada um ano depois. Para se divertir, os porto-alegrenses iam à Casa Zenith e adquiriam seus toca-discos cobra-matic, o único com “duas inovações revolucionárias”: o regulador de velocidade e o estroboscópio. Naquele fim de semana, quem
não gostava de futebol podia ligar a Rádio Gaúcha e ouvir a grande atração, a voz maviosa de Ivon Curi entoando seus maiores sucessos como João Bobo ou O Xote das Meninas, ou, quem sabe, podia ir aos cines Victória, Eldorado ou Oásis para assistir a voluptuosa Virginia Mayo em Vivendo sem Amor. Mas é evidente que a cidade estava mobilizada, mesmo, era para o jogo. Até o comércio local se alvoroçou. A Casa Magnum ofereceu uma artística faca de prata “para quem marcar o último tento” do amistoso. E a Casa Excelsior decidiu dar “uma fina medalha” para o autor do último tento.Vítor ganhou os dois prêmios. Mas Vítor só pisaria na grama do Olímpico na segunda etapa, quando substituiu Camacho. O primeiro jogador a entrar naquele gramado foi, realmente, Orli. Depois é que viriam Tesourinha, Ênio Rodrigues, Sérgio Moacir, Milton Kuelle. E, mais tarde, Aírton, Juarez,Vieira, Gessy. E também Alcindo, Joãozinho, Everaldo. E Ancheta e Tarciso e Iúra e Tadeu Ricci e Oberdan e André Catimba e Paulo Isidoro e Baltazar e Leão e Valdo e Cristóvão e Renato Portaluppi e Paulo César Caju e De León e Jardel e Paulo Nunes e Carlos Miguel e Danrlei e Elano e Zé Roberto e tantos, tantos mais, uns craques, outros apenas ótimos, inúmeros bons e muito bons, e houve até os precários, claro que houve, sempre há, mas nenhum, nenhum deles, antes de Orli, o Padre. david.coimbra@zerohora.com.br
OMAR FREITAS, BD, 29/05/2012
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
Os homens que ergueram o Olímpico
G LEANDRO BEHS
leandro.behs@zerohora.com.br
A Azenha antes da construção do estádio, em 1951
Hélio Dourado: “Com o fim do Olímpico, morro junto”
REPRODUÇÃO ACERVO GRÊMIO
uardiã da história gremista há três décadas,Ema Coelho de Souza, a diretora do Memorial Hermínio Bittencourt, preserva com carinho uma foto de 1951. Na imagem,dois cavalos puxam uma carreta. Há 16 operários, vestindo calças e casacos de algodão – alguns já estão apenas de camisetas de física, no verão de Porto Alegre.Uma 17ª figura,de terno e gravata,gerencia a demarcação do Estádio Olímpico. Ao fundo, o bairro Azenha era tomado de verde e tinha poucas casas. Os planos de expansão do clube vinham desde os anos 1930. A Baixada, o antigo estádio onde hoje é o Parcão, com capacidade para 10 mil torcedores, já não abrigava a ambição do Grêmio. Na semana do 37º aniversário do clube, o então prefeito Loureiro da Silva assinou a troca do terreno da Baixada por um outro, de 9,5 hectares,na Avenida Carlos Barbosa. Essa área pertencia ao espólio do comendador José Baptista Soares da Silveira e Souza – um açoriano que se estabeleceu na Capital, naturalizou-se brasileiro e foi um dos fundadores o Asilo Padre Cacique. Havia um problema a resolver: com a morte do comendador, a família mudou-se, a antiga chácara ficou abandonada, foi invadida e, lá, nos anos 1940, surgiu a Vila Caiu do Céu. O nome aludia à velocidade com que os casebres foram erguidos.Chegaram a somar mais de mil. Três homens foram fundamentais na construção do Olímpico, iniciada em 12 de dezembro de 1951, com a remoção dos últimos habitantes da Caiu do Céu para a vila Santa Luzia, nos altos da Avenida Oscar Pereira: SaturninoVanzelotti,presidente do Grêmio,Alfredo Obino, presidente da Comissão de Obras, e Sylvio Toigo Filho, o engenheiro.Eram chamados de“Os três mosqueteiros”. – O futebol já era deficitário naquele tempo. Para ter dinheiro e erguer o estádio, a direção fez promoções, rifas e pediu doações a torcedores ilustres.Houve também a Tômbola Gremista, uma espécie de loteria. Era uma coisa de louco, mas deu certo – lembra o ex-presidente gremista Flávio Obino, sobrinho de Alfredo. – Eu tinha 15 anos quando o Olímpico começou a ser erguido. Meu tio sempre me levava para ver as obras. Para quem estava acostumado com a Baixada,parecia uma cidade. Inspirado em estádios europeus e no Maracanã (de 1950), o arquiteto Plínio Almeida venceu o concurso para o anteprojeto do Olímpico.Que nasceu com apenas um anel de arquibancada e um pavilhão coberto, para 2 mil pessoas,somando um total de 38 mil lugares. Plínio voltou a trabalhar no Olímpico em 1976, a convite do recém-eleito presidente Hélio Dourado. Projetou a construção do anel superior,cobrindo todos os setores e dando o sobrenome Monumental. Dourado, 82 anos de vida e 71 de Grêmio, reinventou o Olímpico.Assumiu em um período de vitórias do Inter e reergueu a autoestima gremista. Foi após 1980, quando se concluiu a reforma, que veio o primeiro Brasileirão (1981), a primeira Libertadores e o Mundial (ambos em 1983). – A torcida, a quem pedi doações de cimento e dinheiro, foi quem ampliou o Olímpico. Sei que a Arena é algo moderno, mas tínhamos a alternativa da reforma. Lutei por isso,mas perdi – lamenta Dourado. O ex-presidente não quis se despedir do estádio. Não tem ido aos jogos e somente concordou retornar às cadeiras do Olímpico a pedido de ZH. – Sinto que estou visitando um querido amigo que está doente, à beira da morte – compara Dourado. – Com o fim do Olímpico,morro junto.
Construído para substituir a Baixada, no começo dos anos 1950, o estádio da Azenha foi ampliado no final da década de 1970, dando início à fase de glórias do Grêmio FERNANDO GOMES
As origens
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OLÍMPICO
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inesquecíveis
Zero Hora faz um passeio pela história do Grêmio no Olímpico e elege uma partida para representar cada ano de vida do estádio 1954
1962
1968
O jogo de inauguração. O atacante Vítor fez os dois primeiros gols do Olímpico.
O Inter liderava com folga o Gauchão. Aqui, o Grêmio iniciou a arrancada que forçaria um Gre-Nal de desempate.
A maior goleada do Grêmio em Gre-Nais no Olímpico encaminhou o hepta estadual. Alcindo (sempre ele) marcou dois. O tricolor foi campeão 12 vezes em 13 anos. De 1956 a 1968, só perdeu em 1961.
19/9 – Grêmio 2x0 Nacional-URU (amistoso)
1955
23/11 – Grêmio 2x0 Vasco (amistoso) Para inaugurar o sistema de iluminação, um amistoso noturno. Naqueles tempos, os refletores eram acesos abruptamente – de repente, “a noite se fez dia”, como estampou um jornal.
1956
20/9 – Grêmio 0x0 Argentina (amistoso) Na data da Revolução Farroupilha, um convidado estrangeiro foi ao Olímpico. O Grêmio receberia os hermanos mais duas vezes (em 1959, 2 a 0 para os argentinos, e em 1960, 1 a 0 para os gremistas).
1957
1º/12 – Grêmio 5x3 Inter (Citadino) Um dos Gre-Nais mais emocionantes valeu aos azuis a conquista municipal. Gessy fez três gols.
1958
28/9 – Grêmio 4x0 Santos (amistoso)
2/12 – Grêmio 4x2 Floriano (Gauchão)
1963
58
1970
1º/11 – Grêmio 3x0 Inter (Gauchão)
14/3 – Grêmio 0x0 Nacional-URU (amistoso)
O tricampeonato gaúcho saiu com dois gols de Alcindo, o Bugre Xucro. No segundo, a emoção foi tão grande que o torcedor Alfredo Prates, 56 anos, morreu nas sociais, de ataque cardíaco.
Para inaugurar um novo sistema de iluminação, o Grêmio chamou o adversário da partida de abertura.
1965
1971
27/10 – Grêmio 5x1 Palmeiras (Taça Brasil)
15/8 – Grêmio 1x1 Atlético-MG (Brasileirão)
O forte Palmeiras dos anos 1960 havia vencido por 4 a 1 o jogo de ida. Mas o ponteiro Volmir Massaroca infernizou a vida do lateral Djalma Santos, bicampeão do mundo com a Seleção, Alcindo fez três gols e a revanche se eternizou na memória (mesmo que depois, no desempate em São Paulo, o Palmeiras tenha feito 2 a 0).
Primeiro jogo no Olímpico pelo Brasileirão, criado naquele ano. Gol de Torino.
1972
18/10 – Grêmio 1x1 Cruzeiro (Brasileirão) O jogo do destempero do lateral-esquerdo Everaldo. O tricampeão mundial na Copa do México, em 1970, desferiu um soco no árbitro José Faville Neto depois que ele assinalou um pênalti para os mineiros.
1973
5/8 – Grêmio 0x0 Inter (Gauchão) Depois de oito Gre-Nais em 1972, um ano de economia: só três clássicos, os três empatados. Este foi o único no Olímpico.
No Gre-Nal 150, último do cinquentenário do clássico, a goleada (construída por Élton, duas vezes, Milton e Gessy) nem foi o mais marcante: no segundo tempo, uma garrafa voou das arquibancadas e espatifou-se na cabeça do lateral gremista Ortunho. Ele atuou o resto do jogo com a testa enfaixada – mas o ferimento se abriu e empapou de sangue o uniforme.
1961
Agora craque consagrado, Pelé perdeu de novo – e de novo num 28 de setembro.
1964
29/11 – Grêmio 4x1 Inter (Citadino)
Aquele foi um ano atípico. Nos Eucaliptos, a casa colorada, o Grêmio venceu por 3 a 0 e por 5 a 1. No Olímpico, perdeu por 3 a 2 e por 2 a 1 – e conseguiu este empate em 1 a 1, com gol de Juarez, o Tanque.
28/9 – Grêmio 2x1 Santos (Torneio Roberto Gomes Pedrosa)
O jogo extra que decidiu o Estadual de 1962 – foi o primeiro Gre-Nal que valeu a taça do Gauchão. Ivo Diogo fez dois gols.
1959
20/11 – Grêmio 1x1 Inter (Citadino)
1969
7/2 – Grêmio 4x2 Inter (Gauchão)
Um jovem Pelé recém havia erguido a Copa do Mundo na Suécia. Mas quem brilhou foi Gessy, com dois gols. Pelé foi expulso.
1960
2/6 – Grêmio 4x0 Inter (Gauchão)
BANCO DE DADOS
jogos
ETERNO
1974
2/6 – Grêmio 1x0 Vasco (Brasileirão)
ALCINDO 1966
9/2 – Grêmio 3x2 Flamengo (amistoso) Na entrega das faixas do tetra gaúcho, Alcindo fez os três gols.
1967
8/2 – Grêmio 7x0 Pelotas (Gauchão)
19/3 – Grêmio 2x0 Palmeiras (Torneio Roberto Gomes Pedrosa)
Naquela época, o campeão da Capital enfrentava o do Interior, no início do ano, para definir o título estadual do ano anterior. Gessy marcou três gols, e Juarez, dois.
Outra vez, Djalma Santos sofreu com Volmir Massaroca. O ponta-esquerda fez os dois gols. O Palmeiras também tinha Djalma Dias, Dudu e Ademir da Guia.
Jogo truncado, complicado, difícil. Até que aos 45 da segunda etapa apareceu Tarciso.
1975
27/2 – Grêmio 7x2 Huracán-ARG (amistoso) O artilheiro da partida foi Neca: três gols.
1976
28/7 – Grêmio 2x0 Inter (Gauchão) Em meio à hegemonia colorada na década, o Grêmio conseguiu alguns momentos de superioridade. Foi o caso deste Gre-Nal que decidiu o primeiro turno do Gauchão. A alegria, porém, seria fugaz. O Inter acabou sendo campeão estadual pela oitava vez consecutiva.
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OLÍMPICO
25/9 – Grêmio 1x0 Inter (Gauchão) O Grêmio amargou o octa do Inter. Por isso, o Gre-Nal que quebrou a sequência é tão memorável. Por isso e pela celebração do gol da vitória – o centroavante André Catimba tentou dar um salto mortal, mas sofreu uma distensão muscular em meio ao movimento e se estatelou no gramado. Um feito e uma foto para a história.
1978
9/7 – Grêmio 5x2 Flamengo (Brasileirão) O Grêmio chegou às quartas de final do Brasileirão. No caminho, goleou o Flamengo de Júnior, Carpegiani, Adílio e Cláudio Adão. O goleiro rubro-negro era o mesmo Cantarelli que, na Copa do Brasil de 1989, tomou 6 a 1 no Olímpico.
1979
9/9 – Grêmio 3x0 Brasil-Pel (Gauchão) Título com três rodadas de antecipação e com gols de três ídolos – Ancheta, André Catimba e Éder.
1980
21/6 – Grêmio 1x0 Vasco (amistoso) Na inauguração do anel superior, o Olímpico viu Renato Portaluppi, 17 anos, entrar no segundo tempo. Três anos depois, ele conquistaria a América e o mundo.
1981
26/4 – Grêmio 0x1 Ponte Preta (Brasileirão)
ARMÊNIO ABASCAL MEIRELES, BD, 25/09/1977
A mais festejada das derrotas (graças à vitória por 3 a 2 em Campinas). Foi o maior público do Olímpico: 98.421. O gol foi de um futuro ídolo tricolor, Osvaldo. Depois, o Grêmio conquistaria o título ao ganhar duas vezes do São Paulo.
1977
1983
1982
25/4 – Grêmio 0x1 Flamengo (Brasileirão) O Olímpico lotou na final, mas um gol de Nunes, logo aos 10 minutos, impediu o bi.
1983
28/7 – Grêmio 2x1 Peñarol (Libertadores) A noite mais gloriosa do Olímpico teve todos os ingredientes de um jogo épico. Arquibancadas cheias, um adversário experiente e lances tão marcantes quanto o título conquistado. O mais lembrado de todos começa com Renato acossado pela marcação na lateral do campo, onde resolve fazer embaixadinhas para livrar-se dos defensores, antes de cruzar para a cabeçada decisiva de César.
1984
26/1 – Grêmio 4x2 Inter (amistoso) – Eles podem ser campeões do mundo, mas quem manda no Estado somos nós. A frase de Mauro Galvão, zagueiro do Inter, provocou o “Gre-Nal das faixas”. Renato pediu à diretoria gremista que marcasse um clássico, no qual os jogadores dos dois clubes trocariam faixas. Mário Sérgio, recém contratado pelo Inter, recebeu de camisa vermelha a distinção de campeão do mundo pelo Grêmio. Os gols gremistas: Osvaldo, Renato, Paulo César e Caio.
1987
19/7 – Grêmio 3x2 Inter (Gauchão) Em 18 minutos de jogo, já estava 3 a 0 para o Grêmio, com dois gols de Lima e um de Jorge Veras – dois homens Gre-Nal dos anos 1980. Grêmio tri estadual.
1988
19/6 – Grêmio 3x3 Inter (Gauchão)
Renato fez toda a jogada do primeiro gol (de Ademir) e marcou o segundo.
Entre 1987 e 1988, Lima disputou 14 Gre-Nais. Ganhou sete e só perdeu um. Marcou sete gols – e não tinha receio de revelar que sonhava em marcá-los. Dois deles saíram neste eletrizante Gre-Nal, um deles em uma cobrança de falta, uma bomba do meio da rua que desviou no zagueiro Aloísio e enganou Taffarel.
1986
1989
1985
10/2 – Grêmio 2x0 Inter (Brasileirão)
20/7 – Grêmio 1x0 Inter (Gauchão) Bicampeão debaixo de chuva, com gol de Osvaldo. Foi o Gre-Nal de despedida de Renato, transferido para o Flamengo.
2/9 – Grêmio 2x1 Sport (Copa do Brasil) A tradição do Grêmio na Copa do Brasil nasceu com a competição. Mais de 62 mil torcedores viram Assis abrir o placar e Mazaropi, cortando mal um escanteio, empatar. No segundo tempo, Cuca fez o gol do título invicto.
1990
29/7 – Grêmio 4x1 Inter (Gauchão) O hexa foi confirmado com uma goleada sobre um rival que já não tinha ambições. Assis fez o primeiro, o Inter empatou, Cuca encobriu o goleiro Maizena e Paulo Egídio marcou dois.
1991
12/5 – Grêmio 3x0 Vasco (Brasileirão) Difícil lembrar de bons momentos em 1991. O convincente triunfo com gols de China, Caio e Nando manteve o time vivo na luta para escapar do rebaixamento. Na rodada seguinte, porém, a derrota diante do Botafogo ratificou a primeira queda.
1992
8/4 – Grêmio 7x1 Operário-MT (Série B) Diferentemente do que aconteceria em 2005, o acesso em 1992 foi bem modesto. A nona posição foi suficiente – 12 equipes se classificavam. O retorno à Série A, porém, foi em grande estilo, diante de 56 mil torcedores e com gols de Lira, Carlinhos, Cuca, Juninho, Caçapa, Biro-Biro e Caio.
1993
4/9 – Grêmio 3x2 Fluminense (Brasileirão) A reestreia no Brasileirão também foi a reestreia do técnico Luiz Felipe Scolari, que comandara o Grêmio em 1987. Foi o início de um período vitorioso, com os títulos da Copa do Brasil (1994), Libertadores (1995) e Brasileiro (1996).
1994
10/8 – Grêmio 1x0 Ceará (Copa do Brasil) Após o 0 a 0 no primeiro jogo, o Grêmio precisava vencer para ser bi invicto da Copa do Brasil. Aos três minutos do primeiro tempo, o centroavante bigodudo Nildo fez, de cabeça, o gol do primeiro título da Era Felipão.
1995
26/7 – Grêmio 5x0 Palmeiras (Libertadores) A grande rivalidade do futebol brasileiro nos anos 1990 teve um capítulo marcante nas quartas de final da Libertadores. O primeiro duelo nunca sairá da memória do gremista, tanto pela goleada quanto pelas confusões em campo. O clima tenso teve troca de socos entre Dinho e Válber – e Danrlei também participou da briga. Depois, o Grêmio construiu a goleada com três gols de Jardel, um de Arce e um de Arílson. O time de Felipão encaminhou a vaga, apesar de ter tomado um susto na partida de volta, sofrendo derrota de 5 a 1.
BD ZH
1977
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
15/12 – Grêmio 2x0 Portuguesa (Brasileirão) A derrota por 2 a 0 no Morumbi não esmoreceu o ânimo do torcedor, que compareceu em peso ao Olímpico para o segundo jogo da final do Brasileirão. Logo no início, os 54.112 gremistas se encheram de esperança com o gol de Paulo Nunes. Mas a partir daí o goleiro Clemer e a defesa da Portuguesa se puxaram, e aflição tomou conta do estádio. O alívio só veio aos 39 minutos do segundo tempo, quando o reserva Aílton apanhou o rebote e bateu de pé esquerdo para dar ao Grêmio seu segundo título no Brasileiro.
1997
21/6 – Grêmio 2 (9)x(8) 2 Brasil-Pel (Gauchão) Depois do 1 a 1 em Pelotas, Grêmio e Brasil fizeram um jogo emocionante no Olímpico, que terminou com outro empate. A vaga na final do Gauchão teve que ser decidida nos pênaltis. Um total de 22 cobranças foram realizadas para que, finalmente, o Grêmio sobressaísse. Até mesmo o goleiro Danrlei cobrou – e converteu.
1998
18/11 – Grêmio 4x2 Portuguesa (Brasileirão)
PAULO FRANKEN, BD
O Grêmio sempre teve o hábito de desafiar as probabilidades matemáticas e contrariar o destino (não é à toa que ganhou o apelido de Imortal). Na última rodada da fase de classificação do Brasileirão, precisava da vitória e de mais cinco resultados paralelos para chegar às quartas de final. Conseguiu. E olha que os paulistas chegaram a estar ganhando por 2 a 1. Zé Alcino comandou a virada, com dois gols, um deles aos 42 do segundo tempo e outro nos acréscimos.
1999
20/6 – Grêmio 1x0 Inter (Gauchão) Ronaldinho deixou joias em sua curta passagem pelos profissionais, como na decisão do Gauchão de 1999. O Grêmio perdeu a primeira partida no Beira-Rio, mas venceu por 2 a 0 no Olímpico no segundo jogo – Ronaldinho marcou um dos gols. No terceiro, Ronaldinho deu um balãozinho e um elástico em Dunga e fez o gol do título em uma tabela memorável com Capitão.
7 DIEGO VARA, BD, 19/07/2009
1996
ETERNO
2009
2000
7/6 – Grêmio 1x0 Inter (Gauchão) Antes do Gre-Nal que encaminharia uma das vagas na decisão do Gauchão, o goleiro do Inter, Hiran, afirmou que não colocaria barreira nas cobranças de falta de Ronaldinho. Mas Hiran não cumpriu sua promessa, e foi justamente a barreira que o traiu. Aos 44 do segundo tempo, o craque bateu, a bola desviou na barreira e “matou” o goleiro.
2001
10/6 – Grêmio 2x2 Corinthians (Copa do Brasil) O time comandado por Tite chegava à final da Copa do Brasil embalado e confiante. Mas o Corinthians abriu 2 a 0 no marcador em pleno Olímpico. Dois gols de Luis Mário no segundo tempo prepararam o terreno para que o Grêmio vencesse o Corinthians, em São Paulo, e conquistasse sua quarta Copa do Brasil.
2002
18/7 – Grêmio 1 (4)x(5) 0 Olimpia (Libertadores) O sonho do tricampeonato da Libertadores foi interrompido em uma polêmica decisão por pênaltis. O torcedor ainda reclama do árbitro argentino Daniel Gimenez, que mandou voltar uma cobrança defendida pelo goleiro Eduardo Martini, que teria se adiantado.
1996
2003
2008
O Grêmio havia flertado com a zona de rebaixamento durante todo o Brasileirão. Na última rodada, precisava vencer. Cinquenta mil torcedores vibraram com os gols de Bruno, George Lucas e Anderson Lima e se despediram do ídolo Roger.
O Grêmio deixou escapar o título de 2008. Mas na última rodada a torcida aplaudiu o vice da equipe de Celso Roth.
2004
No centenário do clássico, a vitória – de virada – teve significado especial. Nilmar abriu o placar, mas Souza, batendo falta de longe, empatou. No segundo tempo, Maxi López aproveitou escanteio para acabar com uma sequência de quase dois anos sem vitória em Gre-Nal.
14/12 – Grêmio 3x0 Corinthians (Brasileirão)
23/10 – Grêmio 1x3 Inter (Brasileirão) Não há quase nada a lembrar no ano do segundo rebaixamento. Nesta derrota, o único alento foi a estreia do jovem Anderson, que entrou com personalidade e marcou o gol de honra. Em 2005, ele seria um dos heróis da Batalha dos Aflitos.
2005
29/4 – Grêmio 4x3 Avaí (Série B) Depois de derrota para o Gama no primeiro jogo como técnico do Grêmio, Mano Menezes estreava no Olímpico.
2006
16/4 – Grêmio 2x0 Corinthians (Brasileirão) Uma semana após conquistar o Gauchão num Gre-Nal, o Grêmio voltou à elite do futebol brasileiro derrotando o campeão do ano anterior. O time terminou em terceiro no Brasileirão, com vaga na Libertadores.
2007
20/4 – Grêmio 4x0 Caxias (Gauchão) Em Caxias, o Grêmio levou 3 a 0 no primeiro jogo da semifinal. No Olímpico, reverteu o placar com a ajuda de uma torcida que foi se incendiando à medida que saíam os gols (Patrício, Tcheco e Diego Souza no primeiro tempo, Tuta no segundo).
7/12 – Grêmio 2x0 Atlético-MG (Brasileirão)
2009
19/7 – Grêmio 2x1 Inter (Brasileirão)
2010
12/5 – Grêmio 4x3 Santos (Copa do Brasil) A noite no Olímpico já estava gelada – tornou-se muda com o domínio do Santos de Ganso, Neymar, André e Robinho, que foi para o intervalo vencendo por 2 a 0 o jogo de ida das semifinais. Com três gols de Borges e um de Jonas, o Grêmio virou para 4 a 2 na segunda etapa. Pena que Robinho diminuiu – depois, na Vila Belmiro, o Santos ficou com a vaga.
2011
30/10 – Grêmio 4x2 Flamengo (Brasileirão) Foi a desforra contra Ronaldinho. No início daquele ano, o torcedor não perdoou a decisão do jogador de fechar com o Flamengo, após longa negociação com a equipe que o projetou. O Grêmio sofreu dois gols no primeiro tempo, mas a força de um estádio sedento por vingança deu combustível à virada.
2012
2/12 – Grêmio x Inter (Brasileirão) Não importa qual seja o placar, o último Gre-Nal do Olímpico será inesquecível.
Lendas azuis
8
OLÍMPICO
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
O Olímpico não viveu apenas de jogos trepidantes e gritos de gol na torcida. Também alimentaram o estádio histórias curiosas, como a da goleira que estava 22 centímetros mais baixa e a do vulto que corria pelas arquibancadas superiores perto da meia-noite
O caso da goleira rebaixada
O
JONES LOPES DA SILVA
grandalhão Agustín Cejas foi para a goleira do gramado principal do Estádio Olímpico e, cacoete do ofício, deu um chute na trave, mexeu nas redes e ergueu os braços com a luva preta. Epa, havia algo errado. Ereto, sob a risca da goleira à direita das sociais, sua mão passava do travessão. Era o dia 9 de fevereiro de 1976. Perto dos 31 anos, o argentino Cejas era um goleiro rodado e recém-chegado ao Grêmio. Nunca tinha passado por aquela situação: a goleira estava mais baixa do que o normal. Reservadamente, Cejas chamou os colegas. Estava constrangido, mas queria saber se havia algo que recolocasse a goleira no lugar em dias de jogos. Não havia. Era assim mesmo.
– Tem algo errado, então – assombrou-se Cejas, campeão da Libertadores e do mundo pelo Racing, depois goleiro do Santos de Pelé, campeão paulista em 1973, no último título do Rei na Vila Belmiro. Em volta da goleira do Olímpico, lá estavam com Cejas o técnico Osvaldo Rolla, o auxiliar Paulo Lumumba, o goleiro reserva Remi e os zagueiros Ancheta e Beto Fuscão. O argentino insistia mostrando sua mão passando o travessão. É claro que o seu 1m93cm de altura e mais o braço longo facilitavam aquela demonstração surreal. Alguém tirou a medida, e só então constataram que a trave estava até 22 centímetros mais baixa do que os 2m44cm oficiais. No outro extremo da goleira a diferença nem era tão relevante assim. Mas o Grêmio providenciou a elevação do travessão e o caso foi parar nos jornais.“Goleiras fora da medida oficial” titulou Zero Hora no dia seguinte. De pronto as explicações andaram em torno
Em 1976, goleira do Olímpico foi tema de uma polêmica, levantada pelo arqueiro argentino Cejas
dos constantes reparos que a equipe de manutenção do estádio fazia no sagrado local onde os goleiros pisoteiam, sempre carecas. Para facilitar a vida, implantavam leivas de gramas sobre uma camada de terra preta com areia. O nível do piso subia e comia os centímetros dos pés dos travessões. – Era isso, sim. Os caras aterravam a pequena área com os tufos de gramas e esqueciam de conferir a altura da goleira – garante hoje Remi, ele próprio um goleiro que começou a carreira em meados dos anos 1970 sob o travessão rebaixado do Olímpico. Mas Remi nunca se deu conta da falta de altura da goleira, embora ele não fosse pequeno, com 1m87cm.Até o zagueirão Ancheta, de 1m90cm,surpreendeu-se quando Cejas levantou a suspeita. Surgiram outras duas explicações: uma prosaica e outra marota. A prosaica colocava a culpa nos biquinhos que os goleiros costumam dar com a ponta da chuteira nas traves. Ou com as agarradeiras, para limpar o barro. O atacante Tarciso defende algo próximo a isso. – Era tudo feito no olho: a goleira desceu por si. Depois, colocaram uma placa de cimento por baixo e a trave não cedeu mais – justifica Tarciso, com a credencial de quem passou 13 anos seguidos no Grêmio (de 1973 a 1985), marcou 247 gols em 721 partidas e se tornou um dos mais duradouros na história do Grêmio e do futebol brasileiro. Hoje chefe de manutenção do Olímpico, Sílvio Vargas começou a trabalhar no clube no meio dos anos 1970 e descarta essa teoria maluca. Ele e o supervisor Antônio Verardi, 41 anos de Olímpico, lembram das toras de gramas assentadas sobre a terra careca. A teoria marota é também mais antiga.
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
ETERNO
9 ANDRÉA GRAIZ, BD, 12/09/2012
Hoje ocupada apenas pela gurizada, a concentração já assustou muitos marmanjos
Segundo ela, o rebaixamento das goleiras teria sido iniciativa do então técnico (e ex-goleiro) Sérgio Moacir Torres no final da década de 1960, com um objetivo claro: facilitar a vida do goleiro Jair, de 1m72cm de altura, que logo estreou em 1970 sucedendo a Alberto,Arlindo e Breno. Centroavante forjado em títulos sobre títulos nos anos 1960,Alcindo,o Bugre Xucro,lembra de um período em que Sérgio Moacir providenciou para que seus jogadores sumissem do Olímpico e fossem treinar em outro local.Alcindo atesta: – Deixamos o Olímpico sem saber direito o motivo e,por três ou quatro dias,ficamos fora. Dias depois, a informação de que as goleiras estavam rebaixadas corria entre os jogadores, mas ninguém notou diferença e nem se arvorou a medir.O boato ficou restrito aos muros do estádio.Mas Jair ouvia críticas.Como jogava de luvas brancas, o cronista Paulo Sant’Ana dizia que ele “estava mais para mecânico do que para goleiro”. Jair há muito trabalha como treinador de goleiro no Catar. Em 1973, quando deixou o Grêmio,assumiu o goleiro Picasso,ex-São Paulo. – Nunca soube da goleira menor; nunca notei diferença alguma – afirma Ronei Paulo Travi, o Picasso,gaúcho de Canela. Picasso mora hoje na zona norte de Porto Alegre, orgulhoso por ser um dos goleiros com mais tempo sem tomar gol, por volta de 700 minutos. Por três temporadas jogou Picasso, até a chegada do argentino que descobriu o rebaixamento da goleira. A altura das traves voltou ao normal. Meses depois, em um escanteio no último minuto de um Gre-Nal no Olímpico que decidia o turno do Gauchão, Escurinho subiu e marcou o gol que garantiu o título para o Inter. Foi de cabeça, no alto da goleira maior de Cejas.
O mistério da urna Dona Ema Coelho de Souza anda às voltas com uma foto amarelada de tão antiga. Diretora do Memorial do Grêmio, Ema pesquisa a imagem em que aparece um senhor de gabardine na cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Olímpico. O sujeito deve ser o presidente da comissão de obras do Olímpico, Alfredo Obino. A data é 28 de setembro de 1941 – 10 anos antes do início da construção. A presença de Alfredo na foto pode ajudar a resolução de um mistério que perdura por 71 anos. Em torno do local onde foi assentada a pedra fundamental, os próceres do clube enterraram uma urna do tempo contendo jornais, revistas, documentos e ata do lançamento, uma herança destinada ao futuro. Resta saber onde. – Ninguém sabe. Tenho pesquisado, falado com o pessoal da antiga e não consigo obter resposta – diz Ema, 75 anos, 29 de Grêmio. É possível que a urna esteja na área do Pórtico dos Campeões, embora não haja documento a respeito. Ema procurou sem sucesso informação na Cúria Metropolitana e em arquivos públicos. – Tenho de descobrir esse mistério antes da demolição.
jones.silva@zerohora.com.br
FERNANDO GOMES FERNANDO GOMES
O fantasma da concentração
D
epois das 23h, sem um bico de luz ligado no pátio e nos corredores do Olímpico, um breu caía sobre o estádio.Aninhados na concentração abaixo das arquibancadas superiores, os jogadores tentavam dormir. Da cama, ouviam passos firmes.Alguém caminhava entre as cadeiras das arquibancadas.Caminhava e corria. Quem estaria correndo àquela hora, perto da meia-noite, nas arquibancadas do Olímpico fechado e às escuras? No andar de baixo,os jogadores tentavam disfarçar o medo.Renato Portaluppi lançava piadas e poucos achavam graça. Paulo César Magalhães roía as unhas, Tia Juana tremia assustado, Bonamigo arregalava os olhos, atônito, e sobrava a Baidek a missão de olhar lá fora, afinal, o que estava acontecendo.Baidek dormia quase à porta da concentração, bastava pular da cama e dar um flagra no chato que os atormentava correndo de madrugada pelas superiores do estádio.Baidek fez isso. – Eu vi um vulto branco, não sei se corria ou se caminhava para longe – depõe o ex-zagueiro, hoje empresário de futebol. Alguns raros corajosos corriam atrás do vul-
to, que desaparecia como mágica. O fantasma preferia atormentar a acomodação dos juniores (juvenis,à época),quase abaixo do departamento de futebol.Seus malditos passos também pulavam sobre a concentração dos profissionais, mas estes, já crescidinhos, estavam mais preocupados em dormir. Os guris é que sofriam.Chegavam do Colégio Protásio Alves após as 22h30min e encaravam os corredores escuros e silenciosos. – Se eu chegasse sozinho do colégio, aguardava um colega. Não subiria até a concentração com aquele vulto solto pelo estádio – afirma Paulo César Magalhães. Muitas vezes o segurança foi chamado para conferir o “fantasma”. Outras vezes, tinha de abandonar a portaria e subir com os jogadores, que temiam seguir pelos acessos. – Imagine subir no escuro as escadas das sociais até as arquibancadas.Cada barulho era um pavor – insiste Baidek. A concentração não tinha quartos.As camas eram perfiladas e separadas por uma cortina de tecido. No alto das arquibancadas, o vento açoitava e forçava a porta. O frio entrava. Mas ninguém se atrevia a sair da cama para fechá-la. Também não se atreviam a olhar para o fundo das arquibancadas superiores. Lá atrás estavam os cemitérios dos altos da Oscar Pereira.
Ah, se as paredes do Olímpico falassem: quantas histórias mais o estádio esconde em suas sombras?
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
FOTOS FERNANDO GOMES
Os últimos dias
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OLÍMPICO
Quando o Olímpico for implodido, é possível que o pórtico situado na entrada do estádio continue de pé. A construtora OAS, dona da área, estuda a possibilidade de mantê-lo como parte do novo empreendimento que será construído no local
Como boa parte dos funcionários, o segurança do vestiário Pedro Roberto Gonçalves, o Pedrão, que trabalha há 36 anos no Olímpico, não sabe qual será seu futuro no clube: “A gente aguarda. Mas quero estar longe quando isso aqui for demolido”
A tradicional bandeira que tremula no estádio é trocada com frequência, não tem uma vida útil muito longa. Portanto, não entrará no leilão que o Grêmio vai promover, a partir deste mês, envolvendo pôsteres, quadros e móveis do Olímpico
O ensaio do adeus Torcedores passaram a semana visitando o Olímpico em busca de recordações. Funcionários passaram a semana tentando lidar com a dolorida verdade: não restará nada além de recordações
S PAULO GERMANO
ó se ouvia um quero-quero. Com algum esforço, também se ouvia o ruído do papel do picolé de uma menininha, sentada quieta no segundo degrau da arquibancada do Olímpico. O resto era um silêncio triste. E havia lá dezenas de pessoas, algumas sozinhas, outras em família. Não tinha jogo no gramado – só um cortador de grama estacionado sob o sol violento da tarde, enquanto aquela reunião de gremistas, na arquibancada, registrava calada suas últimas impressões de um estádio moribundo. Era recém segunda-feira, mas a semana toda – a última semana antes do último jogo do Olímpico – seria assim. Torcedores entravam quietos, fotografavam o estádio, fotografavam a si próprios dentro do estádio, depois ficavam 20 ou 30 minutos fitando o campo e saíam de cabeça baixa,em um protocolo quase fúnebre. – Só agora a gente presta atenção em detalhes que nunca tinha percebido.Eu nunca tinha visto essas pedrinhas coloridas nos bancos de concreto – suspirava a professora Dalila Gertz, 54 anos, enquanto o filho Jeferson, de 31, procurava entre as arquibancadas uma pedra solta, uma lasca de chão,qualquer pedaço de Olímpico para levar de recordação.
E bem nessa hora a diretora do memorial do Grêmio,Ema Coelho de Souza,75 anos,deixava uma reunião no departamento de Patrimônio do clube. Abraçada em uma pastinha, dona Ema foi costeando os fundos do estádio para retornar à sua sala, mas avistou o campo iluminado pelo sol, percebeu as goleiras reluzindo e parou.E aí chorou. – Eu trabalho há 29 anos aqui, meu filho – ela dizia apertando as mãos. – Eu agora vejo o nosso estádio,tão bonito,e me lembro de tanta coisa: me lembro dos gols do André Catimba, do Renato, me lembro daquele Gre-Nal dos 4 a 0 em 1968. Dona Ema e o memorial serão transferidos da Azenha para a Arena.Mas nem todos os funcionários têm destino certo,embora o Grêmio já tenha sinalizado que pretende aproveitar a maioria deles na nova sede, no Humaitá – ou no centro de treinamentos em Eldorado do Sul, talvez na escolinha do clube no bairro Cristal.SílvioVargas de Oliveira, chefe da manutenção, tem 65 anos e trabalha há 40 no Olímpico,onde começou como segurança e depois foi porteiro.Ele diz: – Eu tento passar tranquilidade para todo mundo, mas a nossa mente não quer aceitar. As pessoas estão preocupadas, sim. Esse estádio, como vou explicar?, esse estádio é como alguém da família que está nos deixando. É bom esclarecer que ninguém – nem Vargas, nem dona Ema, nem torcedor nenhum – nega que a Arena será o mais espetacular
dos abrigos para quem gosta do Grêmio. Mas imagine, por exemplo, um gremista fanático que acorda todo dia olhando para aquele bandeirão imponente do Olímpico? Na terça-feira, Fábio Marques, um porteiro de 35 anos, foi ao estádio com a namorada Samuara despedir-se do vizinho preferido. Porque todo dia Fábio desce os morros da Glória, onde mora, sorrindo enquanto admira a casa do Grêmio. E dentro da própria casa, quando o preço alto do ingresso o impede de comparecer às partidas, ele consegue ouvir os fogos e a gritaria da torcida, além de enxergar a luz dos refletores que iluminam o time. – Dói ver o fim do Olímpico, cara. Dói mesmo. Mas agora até pretendo reservar um dinheiro e virar sócio. Porque a Arena vai lotar sempre,e eu preciso estar lá – Fábio prevê. É provável que o mais jovem visitante dessa última semana antes do último jogo da história do Olímpico fosse Davi Lucas Carvalho, um bebezinho de dois meses. – Viemos de Guaíba só para tirar fotos com ele. Quando ficar grandão, o Davi vai poder contar que esteve aqui – sorriu a mãe, Daniela Amador,21 anos. – Pena que ele nunca vai ver um jogo no Olímpico – lamentou o pai, Jonathan, para depois repensar: – Mas a Arena é bem mais perto de casa. O piá vai ser fanático. paulo.germano@zerohora.com.br
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
ETERNO
11 MAURO VIEIRA, BD, 11/11/2012
10 mil itens vão a leilão No próximo dia 11,o Grêmio vai lançar o projeto Meu Pedaço de Olímpico, uma série de leilões com cerca de 10 mil itens – entre quadros, placas, mesas, tapetes, pôsteres, bandeiras, luminárias – hoje espalhados pelo estádio. Qualquer torcedor poderá participar, por meio de um site ou nos eventos que ocorrerão no Olímpico. – Também colocaremos à venda, e aí não serão leilões, pedaços do gramado, azulejos e cadeiras do anel superior. Esse projeto vai se chamar Olímpico Eterno – diz o diretor executivo de Marketing do Grêmio,Paulo CésarVerardi.
Estádio funciona até março
Implosão será em maio de 2013 Oito torres residenciais,três prédios comerciais e um shopping center estão previstos para a área do Olímpico.A implosão do estádio deve ocorrer em maio,no máximo em junho de 2013.Diretor de Desenvolvimento da construtora OAS, Carlos Eduardo Barreto adianta que o empreendimento será construído em torno de um grande bulevar – e que o centro de compras será um pouco maior do que o Moinhos Shopping.Barreto diz: – Não vamos construir tudo ao mesmo tempo. As edificações devem começar por duas torres residenciais e uma comercial, com lançamento ao mercado até julho do ano que vem.
O clima de velório também se estendia para as imediações do Olímpico na última semana.É nas ruas adjacentes ao estádio que comerciantes se amontoam há anos mirando torcedores como público-alvo.Como o boteco Preliminar,tradicional ponto de encontro na esquina das ruas José de Alencar e Santa Cecília. – Minha vida é isso aqui: é o bar, é o Grêmio, é a torcida – lamentava o proprietário Edenilson Davi, o Faísca, que vem tentando sem sucesso levar o Preliminar para o entorno da Arena. A Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) tem evitado conceder alvarás antes que os empreendimentos previstos para a região da Arena se estabeleçam. Enquanto Faísca lastima, a gerente do Petiskão – na Avenida da Azenha, esquina com a Rua Afonso Pena –, Traicy de Souza, até comemora. Diz que o shopping e as torres previstas para substituir o estádio vão qualificar e ampliar o público. Ela prevê para logo dobrar o bar de tamanho: – Vamos fazer a frente do bar toda envidraçada.E isso seria impossível se o Olímpico permanecesse: na primeira briga, na primeira pedra que voasse,tudo se quebraria.
Cenas do penúltimo capítulo 1. A comunhão: André Lima, o Guerreiro Imortal, autor do gol de empate nos 2 a 1 sobre o São Paulo, dia 11 de novembro, se mistura à torcida 2. Nascido no Olímpico, criado na Arena: o futuro torcedor gremista 3. O gol da virada: Marcelo Moreno, de cabeça, sem chance para Rogério Ceni
MARCELO OLIVEIRA, BD, 11/11/2012
Nos bares, tristeza e esperança
FERNANDO GOMES, BD, 21/11/2012
O último grande evento programado para o Olímpico é o show da cantora Madonna, em 9 de dezembro. O Grêmio só deixará o estádio em definitivo em março. É quando estará pronto o centro de treinamentos da Arena.Até lá, o time treinará no gramado suplementar do Olímpico.
ZERO HORA DOMINGO,2 DE DEZEMBRO DE 2012
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FERNANDO GOMES
21.260 dias
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OLÍMPICO
Números monumentais
O Grêmio no Olímpico 1.763 jogos 1.156 vitórias 381 empates 226 derrotas
Com a colaboração do jornalista e pesquisador Laert Lopes, ZH apresenta estatísticas e curiosidades do Olímpico – sem contar, é claro, o Gre-Nal deste domingo
O goleador
Em 186 jogos, Alcindo marcou
129 gols
Jardel (40 gols em 41 jogos) tem a melhor média: 0,97 gol por jogo.
A maior goleada 10x0
Foi o placar da vitória gremista sobre o Pelotas, no dia 31 de julho de 1977, pelo Gauchão.
A invencibilidade 51 jogos
O Grêmio ficou sem perder no Olímpico de 4/10/2008 a 1º/4/2010, com 39 vitórias e 12 empates. A série foi quebrada pelo Pelotas, 2 a 1, de virada, no Gauchão.
O único WO 1°/8/1989
O Mixto, de Mato Grosso, teve problemas de logística e não conseguiu viajar a Porto Alegre para o segundo jogo do duelo pela Copa do Brasil. O Grêmio, que na ida fez 5 a 0, foi declarado vencedor por 1 a 0.
3 jogos no mesmo dia
A disputa da Copa do Brasil e do Brasileirão de 1994 apertou a agenda no Gauchão. Em 11/12/1994, o Grêmio escalou times mistos, e Felipão comandou só o jogo do meio – nos outros, a tarefa coube ao interino.
3.498 gols a favor 1.303 gols contra
14h – Grêmio 0x0 Aimoré 16h – Grêmio 4x3 Santa Cruz 18h – Grêmio 1x0 Brasil-Pel
218 adversários 64 eram times gaúchos 97 eram clubes de outros Estados 57 eram equipes estrangeiras
Gatos pingados
O menor público do Olímpico foi na partida Juventude 2x1 Portuguesa, dia 3/12/1997, pelo Brasileirão:
164 torcedores
Maior público 26/4/1981 Grêmio 0x1 Ponte Preta (semifinal do Brasileirão) 98.421 torcedores
O aniversário de Pelé O Rei do futebol comemorou no Olímpico seus
28 anos
Em 23/10/1968, o Santos veio ao estádio pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Mas o adversário não era o Grêmio, e sim o Inter – que estava construindo o BeiraRio. Foi uma das raras vezes em que azuis e vermelhos se misturaram nas arquibancadas, para ver Pelé em ação. O Grêmio até apagou os refletores e levou um bolo ao centro do gramado. O placar: Santos 3 a 1.
BANCO DE DADOS
O Olímpico festejou os 28 anos de Pelé, em 1968, numa rara união de gremistas e colorados
Venceu 65,57% dos jogos. Perdeu apenas 12,82%
Menor público 15/12/1994 Grêmio 2x2 Grêmio Bagé (Gauchão) 242 torcedores Os Gre-Nais 122 clássicos 41 vitórias do Grêmio 47 empates 34 vitórias do Inter 152 gols do Grêmio 132 gols do Inter